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Kamilla Galiza / 5º Período / APG Objetivos • Revisar a Anatomofisiologia do ouvido, atrelando ao equilíbrio • Identificar a etiologia e os FR das alterações do equilíbrio, relacionadas ao ouvido e a visão. • Analisar a fisiopatologia e as MC das AEOV • Discorrer sobre o DX e o TTO das AEOV Ouvido Anatomia O ouvido possui três partes principais: o ouvido externo, o ou- vido médio e o ouvido interno. Ouvido Externo: • Pavilhão auricular (orelha) – coleta e encaminha o som para dentro do canal auditivo • Canal auditivo (canal auditivo externo) – direciona o som para o ouvido Ouvido Médio: • Tímpano (membrana timpânica) – transforma sons em vibrações • Martelo, bigorna e estribo – esta cadeia de três peque- nos ossos (ossículos) transferem as vibrações para o ouvido interno Ouvido Interno • Ouvido interno (cóclea) – contém líquido e “células cili- adas” extremamente sensíveis. → Sistema ou aparelho vestibular – contém células que controlam o equilíbrio • Nervo auditivo – envia sinais da cóclea ao cérebro Fisiologia 1. A entrada de sons no canal auditivo faz com que a mem- brana timpânica se mova. 2. A membrana timpânica vibra com o som. 3. As vibrações sonoras se movem através dos ossículos para a cóclea. 4. Vibrações sonoras fazem o líquido na cóclea se mover 5. O movimento do fluído causa contração das células cilia- das. As células ciliadas criam sinais neurais que são captados pelo nervo auditivo. 6. O nervo auditivo envia sinais ao cérebro que interpretará como sons. Labirintopatias A labirintopatia pode ser considerada uma doença invisível. É preciso acreditar no sintoma queixado pelo paciente, porém existem sinais e exames que vão direcionar para o diagnós- tico. O labirinto está localizado na orelha interna e a região que se avalia é o labirinto posterior, responsável pelo equilí- brio, onde ficam o vestíbulo, o utrículo, o sáculo e os canais semicirculares (lateral, posterior e anterior). Já o labirinto an- terior, formado pela cóclea, é responsável pela audição. O nervo vestíbulo-coclear também se localiza nessa região. As otocônias estão localizadas no utrículo e no sáculo. São cristais de bicarbonato de cálcio que ficam em cima da má- cula. Existe um tipo de labirintopatia que é ocasionada pelo deslocamento desses cristais da mácula para os canais se- micirculares. O mais comum é entrar no canal posterior (pela própria anatomia). Alguns conceitos 1. Otoneurologia é o estudo da audição e do equilíbrio e a re- lação deles com o SNC. 2. Labirintopatia é qualquer afecção de causa não infecciosa que envolva o labirinto. 3. Labirintite é qualquer infecção do labirinto de 2 origem in- fecciosa. 4. Vestibulopatia se usa quando ainda não se sabe se o pro- blema é no labirinto ou se é central. O equilíbrio depende da integração de 3 componentes: sis- tema vestibular, visão e propriocepção. Logo, uma falha em qualquer um deles gera desequilíbrio de informação e por isso se tem esse sintoma, de uma informação errônea no cé- rebro. Tudo isso gera reflexos: vestíbulo-ocular e vestíbulo-es- pinhal. Vertigem x tontura • Vertigem: é um tipo de tontura rotatória. Pode ser obje- tiva quando o paciente sente que os objetos estão gi- rando ou subjetiva quando o paciente sente que ele próprio gira. • Tontura (não rotatória): é qualquer sensação errônea de movimento (desequilíbrio, sensação de flutuação, afundamento, sensação de cabeça oca, banzeiro, ma- reio, desvio de marcha, lateropulsão, sensação de queda, etc). • Oscilopsia: Quando se olha para um objeto e tem a sen- sação de que ele está tremendo • Cinetose: sensação desagradável ao realizar movi- mento não habitual do corpo. vertigem alterações auditivas Kamilla Galiza / 5º Período / APG Figura 1. Sintomas da Cinetose. vertigem A vertigem é um sintoma, sendo a sensação que o paciente tem de estar girando em torno do ambiente ou o ambiente estar girando em torno dele; o Mais raramente é descrita como uma sensação de movimento em báscula no plano horizontal, movimento ascendente e descendente ou ilusão de rotação horária ou anti-horária no plano frontal. • Na maioria das vezes a vertigem decorre de lesão ou disfunção do aparelho vestibular ou da porção vestibu- lar do VIII nervo craniano (n. vestibulococlear); • É comum em todas as idades e na população em geral; • Muitas vezes a queixa de tontura como sinônimo de ver- tigem, diagnosticada como labirintite, é usada erronea- mente. A labirintite não é a causa mais frequente de ver- tigem; o A labirintite pressupõe um componente infla- matório no aparelho vestibular; • Labirintite bacteriana: sinais flogísticos na orelha média, sinais toxêmicos e comprometimento do estado geral; • Labirintite viral: infecção viral do nervo vestibular le- vando a um quadro vertiginoso auto-limitado. Avaliação clínica • A maioria dos pacientes com vertigem queixam-se de ton- tura; • Tontura pode se referir a várias coisas (rodopio, rotação, desmaio, escurecimento visual, irrealidade, instabilidade, desbalanço, desorientação, flutuações); • Deve-se esclarecer o que o paciente entende por tontura; Síncope • Perda breve da consciência devido a isquemia global cere- bral transitória por diminuição do débito cardíaco; • Alguns tipos comuns de síncope: - Crises vasovagais (maior parte das síncopes): precedida por fraqueza, palidez, sudorese, sensação de desmaio imi- nente e não rotatória. Acompanhada de queda da pressão arterial e precipitada por stress emocional, visões de sangue ou odores; - Hipotensão ortostática: por anemia secundária a hemorra- gia, arritmias cardíacas; - Síncope aos esforços: estenose mitral ou aórtica. Desequilíbrio • Manifesta apenas durante a marcha, cessando quando o paciente está parado, sentado ou deitado; • Etiologias: neuropatia periférica, mielopatia, espasticidade, rigidez parkinsoniana, ataxia cerebelar; • Déficit sensorial múltiplo: desequilíbrio + déficits sensitivo- sensoriais (alterações visuais, auditivas, diminuição de sensi- bilidade). Comum nos idosos. Sensações cefálicas variadas • Série de sintomas vagos descritos como sensação de ca- beça vazia; • Provocados por hiperventilação, hipoglicemia, depressão, ansiedade e esquizofrenia. Vertigem • Ilusão de movimento, geralmente rotatório; • Pode ser acompanhada de náuseas, vômitos, tinnitus e hi- poacusia; • Sensação do paciente estar girando em torno dos objetos ou vice versa (vertigem objetiva) ou sensação de a cabeça estar girando (vertigem subjetiva); • Reconhecida a queixa de tontura como vertigem deve se esclarecer se é uma vertigem periférica ou central. Vertigem periférica • Lesão no labirinto e/ou nervo vestibular até sua entrada no núcleo vestibular; • Pode ter tinnitus (zumbido) e hipoacusia; • Corpo pende para o lado da lesão durante a queda, mas não chega a comprometer a marcha; • Pode haver prostração, sudorese, palidez e perda breve da consciência; • Nistagmo: - Horizontal, rotatório ou misto; - Fatigável (diminui com o tempo); - Desaparece ao se fixar o olhar; - Não há mudança de direção do movimento; - Componente lento aponta para o lado da lesão. Vertigem central • Lesão no núcleo vestibular ou demais projeções superiores; • Não há hipoacusia ou tinnitus; • Pode estar associada a sintomas neurológicos: ataxia, disar- tria, diplopia, perda de consciência, déficits focais sensitivos ou motores ou dos nervos cranianos; - Manobra índex-índex: desvio do índex no sentido oposto ao componente rápido do nistagmo; - Avaliar pares cranianos e função cerebelar (disdiadococi- nesia, dismetria e tremor intencional) – alterações sugerem vertigem central. • Marcha comprometida; - Zigue-zague; - Aumenta ao fechar os olhos (sinal de Romberg +) → paci- ente pode cair. • Pode haver persistência do sinal por mais de três semanas; • Muda a direção dos abalos; •Nistagmo de direção diferente em cada olho (atáxico); • Abalos em qualquer direção que não a horizontal. Manobra de Nylen-Bárány • Manobra para provocar nistagmo; • Coloca o paciente sentado na maca com a cabeça voltada para o lado a ser pesquisado; • Depois o paciente é posto em decúbito com a cabeça ligei- ramente inclinada para baixo; • Ocorre nistagmo; Kamilla Galiza / 5º Período / APG • Na vertigem periférica ele tem um período de latência de alguns segundos antes de surgir e é menos intenso ao se re- petir. Dura menos que 1 minuto (esgotável) e pode desenca- dear vertigem. • Na vertigem central ele dura mais que 1 minuto, não tem pe- ríodo de latência, se repete com a mesma intensidade a cada teste (inesgotável), vertigem leve ou sem vertigem (nesse caso ele pode ser considerado central). Causas periféricas Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) • Causa mais frequente de vertigem; • Episódios breves, duram poucos segundos; • Desencadeados por mudanças na posição da cabeça (vi- rar-se na cama, olhar para cima, deitar ou levantar, curvar- se); • Não associados a zumbidos ou surdez; • Ataques intensos podem levar a sensação persistente de desequilíbrio, podendo durar horas e provocar quedas; • Se dá pelo desprendimento de otólitos do utrículo que flu- tuam nos canais semicirculares (principalmente o posterior) provocando aceleração anormal da endolinfa e deflecção anormal da cúpula quando o paciente faz movimentos rápi- dos com a cabeça; • Pode ser devido a traumas, infecções virais, alterações is- quêmicas degenerativas, e sem causa específica (mais co- mum); • Autolimitada (geralmente), resolvendo-se em semanas ou meses; • Pode apresentar recorrência ou cronificação em idosos; • Diagnóstico: história clínica e teste de Nylen- Bárány. Vertigem Postural Fóbica (VPF) • Segunda causa mais comum de vertigem; • Combinação de sintomas subjetivos: Vertigem oscilatória, instabilidade postural, desequilíbrio, que ocorrem em ataques breves; • Desencadeados por situações específicas (locais movimen- tados, medo de sair de casa ou cair, ansiedade, depressão, pânico, agorafobia); - Associação com sintomas psiquiátricos. Tratamento: Antidepressivos, benzodiazepínicos e psicotera- pia. Doença de Méniere • Episódios recorrentes e intensos de vertigem, acompanha- dos de hipoacusia, tinnitus, prostração, náuseas e vômitos; • Duração variável (minutos a horas); • Tríade: hipoacusia flutuante, tinnitus e vertigem recorrente que quando idiopática (sem razão aparente) é a doença de Meniere; • Sintomas são precedidos de pressão no ouvido, zumbido progressivo ou piora na audição; • Ocorre deteriorização progressiva da audição com o passar do tempo; • Pode haver aparecimento concomitante de sintomas ansi- osos (déficit auditivo progressivo e crises repetidas de verti- gem); • Provocada por um aumento no volume circulante de endo- linfa dentro do labirinto membranoso por desequilíbrio entre síntese e reabsorção; • Idiopática, mas pode ser secundária a doença de Paget, sí- filis ou trauma; • 30 – 60 anos; • Unilateral (maioria) ou bilateral. Vertigem medicamentosa • Aminoglicosídeos, anticonvulsivantes (fenobarbital, fenito- ína, carbamazepina), furosemida, antidepressivos, anti-hiper- tensivos, quimioterápicos, metais pesados; • Episódios logo após ou durante a exposição ao agente; • A retirada da droga costuma resolver, mas a lesão pode ser irreversível em alguns casos. Labirintite bacteriana • Extensão de processo infeccioso prévio no ouvido médio, meninges ou mastóide; • Vertigem, náuseas, vômitos, hipoacusia importante, cefaléia, dor local, hipertermia, secreção purulenta, quadro tóxico-in- feccioso grave. Falência vestibular súbita • Também chamada de neuronite vestibular; • Infecção viral do nervo vestibular; • Perda da função de um dos labirintos levando a vertigem súbita e persistente, prostração intensa, náuseas e vômitos; • Mais comum ocorrer um episódio único; • Costuma piorar com movimentos da cabeça (paciente fica imóvel); • Não costuma estar associada a zumbidos ou surdez; • História prévia de infecção respiratória alta aguda; • Melhora em dias ou semanas; • Outras causas: trauma craniano, neuropatia diabética, obs- trução da artéria terminal labiríntica, encefalite do tronco ce- rebral. Vertigem por trauma craniano • Concussão do labirinto; • Desaparecimento dos sintomas em dias ou em semanas mas pode se cronificar como uma vertigem posicional episó- dica. Neurinoma do acústico e tumor de ângulo pontocerebelar • O neurinoma do acústico surge (maioria das vezes) na por- ção vestibular do VIII par e se manifesta como hipoacusia e/ou tinnitus unilateral. Com a progressão surgem a vertigem e nistagmo. Pode comprometer o V e VII pares levando a Kamilla Galiza / 5º Período / APG hipoestesia da hemiface, diminuição do reflexo corneano e paralisia facial homolateral; • Se ocorrer também ataxia ipsilateral dos membros como consequência de acometimento cerebelar, recebe o nome de tumor de ângulo pontocerebelar. Causas centrais • Isquemia vertebrobasilar e aura da enxaqueca basilar são as mais comuns; • AVC isquêmicos ou hemorrágicos do cerebelo ou tronco: o Podem ter vertigem, mas costuma estar associada a outros sintomas de déficit neurológico. • Infarto cerebelar: o Vertigem e perda severa do equilíbrio po- dem ser as únicas manifestações iniciais. • Compressão da artéria vertebral • Neoplasias: o Predominam sintomas deficitários e irritativos, além de hipertensão intracraniana (cefaléia, diminuição da acuidade visual, vômitos – em jato ou não). • Esclerose múltipla (EM) • Epilepsia vestibular Causas fisiológicas • Cinetose • Vertigem das alturas: o Sensação subjetiva de instabilidade postural, associada a medo de queda e alterações vegetati- vas. • Posições da cabeça não habituais: Ex: indivíduo estende exa- geradamente o pescoço para trocar lâmpadas. Tratamento • Etiológico, reabilitação vestibular e sintomático; • Fundamental o diagnóstico correto da vertigem e o reco- nhecimento da causa subjacente; • Frisar ao paciente que na maioria das veze sé um problema benigno e auto limitado. Tratamento não-farmacológico • Quadros agudos: - Repouso: idosos principalmente, para evitar quedas. • Vômitos: - Alimentação leve. • Doença de Méniere: Dieta hipossódica (1-2g de sal por dia). • Reabilitação vestibular: - Exercícios individualizados; - Uso concomitante de medicamentos sintomáticos pode di- minuir sua eficácia, atrasando o processo de compensação; - Vertigem postural, cinetose, vertigens crônicas, déficit sen- sorial múltiplo em idosos. • VPPB - Manobra de Epley: - Pode ser feita no consultório; - Objetivo: reposicionar os otólitos do canal semicircular pos- terior de volta para o utrículo; - Paciente inicialmente sentado com a cabeça voltada pra direita num ângulo de 45°, depois coloca-o na posição de de- cúbito com a mesma posição da cabeça (45° direita), depois coloca-o com a cabeça para a esquerda com o mesmo ân- gulo, depois em decúbito lateral esquerdo com o mesmo ân- gulo e cabeça voltada para esquerda e por último o paciente é colocado sentado. Ele fica em cada posição por 30s; - Não há evidências sobre os resultados dessa manobra a longo prazo. • Cinetose: - Orientar o paciente a tentar ampliar o campo de visão, olhando para o horizonte. • Vertigem das alturas: Evitar situações desencadeantes. • Quadros vertiginosos crônicos ou recorrentes: Psicoterapia em casos de ansiedade e insegurança. Tratamento farmacológico • Deve ser usado com parcimônia (poupar) e por breve perí- odo de tempo, pois interfere na compensação natural do SNC, devendo ser retirado gradualmente em poucos dias; • Quadros vertiginosos que duram mais que alguns dias são sugestivos de dano vestibular permanente, devendo-se inter- romper as medicações para favorecera compensação do SNC; • Se não houver melhora: associar medicações de classes di- ferentes; • Uso abusivo pode agravar os sintomas; • Na VPPB é desnecessário pois as crises duram por curto tempo; • Cinetose: Dimenidrato 50 mg, 30 minutos antes da viagem. Referencias PIGNATARI, Shirley Shizue Nagata (Org.); ANSELMO-LIMA, Wilma Terezinha (Org.). Tratado de otorrinolaringologia. 3a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
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