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DESCRIÇÃO O envelhecimento e suas repercussões na família, na sociedade e no meio ambiente. PROPÓSITO Compreender o envelhecimento na sociedade atual, relacionando o papel do idoso na família e no ambiente, para promover a prevenção de incapacidades funcionais e a ação plena na atenção à saúde biopsicossocial do idoso. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a relação do idoso com o seu meio familiar, tendo como base os direitos humanos e as políticas de saúde do idoso MÓDULO 2 Identificar cuidados e autocuidados no envelhecimento e o papel do cuidador nessa rotina MÓDULO 3 Relacionar os desafios do envelhecimento e seus riscos atrelados ao ambiente de moradia com a identificação das possibilidades de melhoria para o bem-estar da pessoa idosa MÓDULO 4 Identificar as disfunções que acometem a independência do idoso, com atenção aos deficits da função muscular como causa de quedas INTRODUÇÃO Vamos refletir sobre o aumento da expectativa de vida em uma sociedade, como a nossa, que não se preparou para receber essa nova demanda. São vários os desafios do envelhecimento, para a família e a sociedade. São muitas as interferências para a independência do idoso e sua qualidade de vida. É necessário pensar ainda sobre o cuidado do idoso em seu ambiente doméstico e institucionalizado, pois as famílias, na melhor das intenções, procuram uma atividade que ocupe o tempo do idoso, sem questionar o sentido disso para ele. Veremos que o ambiente familiar representa um importante aspecto na vida do idoso, pois é nele que acontecem as interações, que se fundamentam os vínculos, que cada membro busca exercer o seu papel respeitando a individualidade do outro. E quando essa individualidade não é respeitada ou falta a família? Ou quando o idoso não quer morar com a família, mas necessita de cuidados? Traremos também essas questões, pois a família, a sociedade e o Estado terão que assumir essa responsabilidade. MÓDULO 1 Identificar a relação do idoso com o seu meio familiar, tendo como base os direitos humanos e as políticas de saúde do idoso RELAÇÕES FAMILIARES E ENVELHECIMENTO Foto: Shutterstock.com O idoso não pode estar só. Ele depende da família e da sociedade para seu amparo, não só físico, mas também emocional e social. Em países economicamente desenvolvidos, com o processo de envelhecimento caminhando de forma lenta, foi possível que a sociedade se organizasse de forma apropriada do ponto de vista social, político, econômico e familiar para lidar com o fenômeno. No Brasil, um país ainda em desenvolvimento, está sendo diferente. A velocidade com que se organiza o processo de envelhecimento causa dificuldade de adaptação em diversos segmentos da sociedade. Em decorrência disso, muitos conflitos se estabelecem, sejam de ordem familiar, econômica, política, previdenciária, social, de gênero ou de saúde. Aceitar a mudança dos papéis geracionais é o principal processo emocional de transição para um idoso. Normalmente, eles apoiam a chamada geração do meio, formada pelos filhos, genros e noras. Isso permite maior poder no papel de autoridade e traz a dificuldade — muitas vezes, até a recusa — em passar parte desse controle, pois, para isso, deverá aceitar a mudança de papéis. Esse processo gera conflitos e desestabiliza a organização familiar e pessoal. Muitos idosos têm dificuldade em solicitar ou aceitar suporte dos filhos, por exemplo, preferindo permanecer autônomos pelo maior tempo possível, mesmo quando a necessidade de assistência é evidente. ATENÇÃO Vale salientar que os idosos, por vezes, interpretam a oferta de ajuda como desnecessária, tentando preservar a autoestima e a autoeficácia. Porém, isso pode causar desprazer e conflitos nas relações com os filhos. NA VELHICE, A SAÚDE DAS RELAÇÕES FAMILIARES EXIGE A NEGOCIAÇÃO DOS PAPÉIS DAS DIVERSAS GERAÇÕES NA FAMÍLIA. A REALIDADE ATUAL DO IDOSO JOVEM Os idosos latino-americanos estão longe de ser um fardo econômico para suas famílias, pois as transferências econômicas que realizam para os familiares são maiores do que as que recebem. Além disso, o envelhecimento da população na América Latina beneficia a qualidade de vida das famílias, pois os idosos jovens são obrigados a ajudar as gerações mais velhas (muitas vezes, em razão de doença, incapacidade física e/ou deficits cognitivos dos pais) e também as mais novas, devido à instabilidade profissional e financeira dos filhos. Eles otimizam seu tempo e seus recursos para oferecer tudo o que for possível aos representantes de ambas as gerações (FREITAS; PY, 2018). Contudo, quando há necessidade de suporte para esses idosos e este não se realiza, eles podem sentir-se alienados e negligenciados. Verifica-se, atualmente, que a geração de filhos preza por independência e autonomia, e isso impacta negativamente no modo de vida de toda a família. Esse comportamento acaba por fazer com que os filhos não se tornem presentes na vida de seus pais idosos e, assim, o suporte social, que é necessário, não se demonstra adequado. Observamos, também, que, com o aumento da expectativa de vida e com a diminuição da disponibilidade de jovens para o cuidado, está aumentando o número de idosos que cuidam de outros idosos, por um período cada vez mais longo. Esse cuidar exige a realização de atividades diárias, dar assistência nas crises de saúde, oferecer conforto emocional, interagir com profissionais de saúde e lidar com conflitos familiares. Importante frisar que a escassez de ajuda e a privação de contatos sociais são fontes de risco ao bem- estar físico e psicológico dos cuidadores idosos. Já é evidenciado cientificamente que idosas cuidadoras têm mais doenças crônicas e, quando o grupo de cuidadores é de baixa renda familiar, associam-se, ainda, a depressão e a percepção de que o suporte social disponível era insuficiente, trazendo maior possibilidade de afastamento social. ENVELHECIMENTO ASSOCIADO À DOENÇA Quando o idoso adoece, a organização familiar é desafiada. As limitações funcionais podem afetar o equilíbrio da estrutura e a capacidade de assistência da família, além de ser um fator estressor. Idosos com incapacidade física e cognitiva, com problemas emocionais e sem renda suficiente para o próprio sustento são os que mais necessitam de cuidados de longa duração. Embora a família seja a principal instituição responsável pelo cuidado, questiona-se se consegue desempenhar essa tarefa de forma adequada. Uma parte significativa de idosos com dificuldades em atividades instrumentais de vida diária relatam não receber ajuda de outros membros da família, o que significa que suas necessidades básicas não são devidamente atendidas. Essas famílias não contam com programas regulares de apoio formal do governo ou da iniciativa privada sob a forma de atenção domiciliar, assistência ambulatorial e recursos financeiros. A principal fonte potencial de apoio dos homens é a cônjuge. No caso das mulheres, são os filhos. Foto: shutterstock.com Foto: shutterstock.com ATENÇÃO Vale salientar que idosos dependentes podem viver em arranjos familiares não clássicos, e os que vivem sozinhos ou em casa de parentes são mais vulneráveis à violência familiar e à residência institucional. Veja os fatores que influenciam a boa funcionalidade de famílias com idosos que requerem cuidados de longa duração e suas maiores dificuldades: Vantagens Desvantagens Relações afetivas consistentes, responsáveis e seguras. Desorganização emocional. Grande dedicação dos familiares ao idoso. Luto antecipado. Rede de suporte social informal composta por parentes, amigos, voluntários ou grupos religiosos. Sobrecarga do cuidador. Facilidade de acesso aos serviços de saúde e recursos comunitários para o acompanhamento regular do estado de saúde dos idosos. Falta de conhecimento sobre a doença. Capacidade adaptativa dos familiares diante da doença e organização da casa. Desajuste familiar, que se agrava com a doença, com a falta de colaboraçãoe distanciamento nos relacionamentos. Quadro: Fatores positivos e dificuldades que influenciam a boa funcionalidade de uma família com idosos. Elaborado por Jarcélen Ribeiro Quando os idosos não têm doenças nem dependência, a satisfação com a dinâmica familiar e o bom relacionamento entre os membros da família tornam-se mais saudáveis. As exceções, geralmente, incluem os idosos que moram sozinhos e que precisam recorrer a pessoas fora da família e ainda as famílias cujos membros são todos idosos. Os idosos saudáveis preocupam-se com a dependência, a doença e a solidão e têm opinião formada sobre as características da pessoa que gostariam que fosse sua cuidadora. ORGANIZAÇÃO TRIANGULAR DO CUIDADO DA PESSOA IDOSA A organização triangular é desenvolvida pelo idoso e seus familiares, pelo apoio da comunidade e pelo grupo de profissionais de saúde. Essa parceria é uma característica presente no tratamento das condições crônicas e se mostra eficaz no gerenciamento do cuidado do idoso. Foto: Shutterstock.com Somente alcançamos resultados positivos para as condições crônicas de saúde, quando idosos e suas famílias têm apoio da comunidade e das equipes de atenção à saúde. E, principalmente, quando são informados, motivados, capacitados e buscam trabalhar em parceria. A informação modifica comportamentos prejudiciais e mantém estilos de vida saudáveis. A adesão a tratamentos de longo prazo e a autogerência de suas condições crônicas também estão relacionadas à informação e ao conhecimento. Só assim, podemos vislumbrar a construção de possibilidades de prazer e felicidade, apesar dos limites da idade e da doença. É importante que os idosos sejam capacitados com habilidades comportamentais para administrar suas condições crônicas em casa de forma independente, como a organização e disponibilidade de medicamentos, equipamentos de saúde, instrumentos para automonitoramento e habilidades de autogerenciamento. Quando isso não ocorre, necessitamos de uma comunicação oportuna entre profissionais de saúde, família e comunidade, acerca de questões específicas do idoso e de seu tratamento. Foto: shutterstock.com O funcionamento dessa organização do cuidado acontece quando os idosos e suas famílias verificam a ausência de contradições ou redundâncias no tratamento e se revelam confiantes, apropriados e apoiados para administrar os problemas crônicos. Está relacionado, portanto, ao que se denomina atenção integrada. Isso é o ideal! A investigação, por parte da equipe de suporte ao idoso, precisará definir as condições de saúde, a categorização da pessoa idosa quanto ao nível de cuidados necessários e à direção para a tomada de decisões. Essa avaliação deverá incluir informações sobre: Estado de saúde Estado funcional Estado cognitivo Suporte disponível Ambiente Capacidade funcional, doenças existentes, medicações, estado de saúde percebido Plano de assistência necessária para a execução das atividades básicas e instrumentais de vida diária Memória e capacidade de tomar decisões Família, amigos, vizinhos Barreiras na manutenção da independência ou riscos de segurança Quadro: Informações necessárias para investigação do estado geral em que se encontra o idoso. Elaborado por Elaine Barreto RESUMINDO Avaliam-se os riscos, as vulnerabilidades e as potencialidades, de acordo com a capacidade da equipe de profissionais, da família, do idoso e dos amigos. É importante buscar, ainda, velhas e novas atividades de lazer e de trabalho que agradem o idoso. POSTURA FRENTE AO ENVELHECIMENTO A própria forma como se entende e sente a ideia do envelhecimento deve ser usada como tema de discussão nas reuniões da equipe de profissionais. Se a equipe se mostrar como membro dominante em relação ao idoso, ficará mais difícil buscar potencialidades nele. Concorda? SAIBA MAIS Não podemos esquecer também que a nossa cultura, desde sempre, tende a dar valor mais às perdas de predicados do padrão de beleza e juventude, negligenciando as possibilidades de uma velhice mais rica. A SAÚDE E A DIMENSÃO CULTURAL SÃO DOIS MOVIMENTOS INTRÍNSECOS E ESSENCIAIS PARA O SUCESSO DE QUALQUER POLÍTICA DE SAÚDE PARA A PESSOA IDOSA, FAMÍLIA E SOCIEDADE. Os movimentos sociais engajados com a temática do idoso devem ser valorizados e estimulados, pois permitem que eles possam se manter mais ativos, participantes e coprodutores de soluções para os seus problemas. Grupos de apoio aos idosos sempre são bem-vindos e essenciais para uma saúde biopsicossocial. FAMÍLIA E O ENVELHECIMENTO A especialista Fátima Figueiredo falará sobre contexto do idoso nas relações familiares. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. I. A VELOCIDADE COM QUE SE ORGANIZA O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO CAUSA UMA DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO NOS DIVERSOS SEGMENTOS DA SOCIEDADE, MAS O BRASIL SE ORGANIZOU DE FORMA APROPRIADA DO PONTO DE VISTA SOCIAL, POLÍTICO, ECONÔMICO E FAMILIAR PARA LIDAR COM O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL. PORQUE II. EM PAÍSES ECONOMICAMENTE DESENVOLVIDOS, COM O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO CAMINHANDO DE FORMA LENTA, FOI POSSÍVEL QUE A SOCIEDADE SE ORGANIZASSE DE FORMA APROPRIADA DO PONTO DE VISTA SOCIAL, POLÍTICO, ECONÔMICO E FAMILIAR PARA LIDAR COM O FENÔMENO. ANALISANDO AS AFIRMAÇÕES ACIMA, CONCLUI-SE QUE: A) A afirmação I é verdadeira, e a II é falsa. B) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II não justifica a primeira. C) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II justifica a primeira. D) A afirmação I é falsa, e a II é verdadeira. E) As afirmações I e II são falsas. 2. NO BRASIL, UM PAÍS AINDA EM DESENVOLVIMENTO, A VELOCIDADE COM QUE SE ORGANIZA O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO CAUSA UMA DIFICULDADE NA ADAPTAÇÃO NOS DIVERSOS SEGMENTOS DA SOCIEDADE. EM DECORRÊNCIA DISSO, MUITOS CONFLITOS SE ESTABELECEM, SEJAM ELES DE ORDEM FAMILIAR, ECONÔMICA, POLÍTICA, PREVIDENCIÁRIA, SOCIAL, GÊNERO OU DE SAÚDE. VEJA AS AFIRMATIVAS ABAIXO: I. NÃO HÁ DIFICULDADE E RECUSA EM PASSAR PARTE DO CONTROLE DOS IDOSOS NAS FAMÍLIAS, POIS O IDOSO ACEITA A MUDANÇA DE PAPÉIS QUE O ENVELHECIMENTO TRAZ. II. MUITOS IDOSOS TÊM DIFICULDADE EM SOLICITAR OU ACEITAR SUPORTE DOS FILHOS, OCASIONANDO CONFLITOS E DESESTABILIZANDO A ORGANIZAÇÃO FAMILIAR E PESSOAL. III. MUITOS IDOSOS TEM DIFICULDADE EM SOLICITAR OU ACEITAR SUPORTE DOS FILHOS, PREFERINDO PERMANECER AUTÔNOMOS PELO MAIOR TEMPO POSSÍVEL. PODE-SE AFIRMAR QUE: A) Somente a II está correta. B) Somente a III está correta. C) II e III estão corretas, somente. D) I e II estão corretas, somente. E) I, II e III estão corretas. GABARITO 1. I. A velocidade com que se organiza o processo de envelhecimento causa uma dificuldade na adaptação nos diversos segmentos da sociedade, mas o Brasil se organizou de forma apropriada do ponto de vista social, político, econômico e familiar para lidar com o envelhecimento populacional. PORQUE II. Em países economicamente desenvolvidos, com o processo de envelhecimento caminhando de forma lenta, foi possível que a sociedade se organizasse de forma apropriada do ponto de vista social, político, econômico e familiar para lidar com o fenômeno. Analisando as afirmações acima, conclui-se que: A alternativa "D " está correta. A população brasileira está envelhecendo e a velocidade com que se organiza o processo de envelhecimento causa uma dificuldade na adaptação nos diversos segmentos da sociedade no Brasil, do ponto de vista social, político, econômico e familiar para lidar com o envelhecimento populacional. 2. No Brasil, um país ainda em desenvolvimento, a velocidade com que se organiza o processo de envelhecimento causa uma dificuldade na adaptação nos diversos segmentos da sociedade. Em decorrência disso, muitos conflitos se estabelecem, sejam eles de ordem familiar, econômica, política, previdenciária, social, gênero ou de saúde. Veja as afirmativas abaixo: I. Não há dificuldade e recusa em passar parte do controle dos idosos nas famílias, pois o idoso aceita a mudança depapéis que o envelhecimento traz. II. Muitos idosos têm dificuldade em solicitar ou aceitar suporte dos filhos, ocasionando conflitos e desestabilizando a organização familiar e pessoal. III. Muitos idosos tem dificuldade em solicitar ou aceitar suporte dos filhos, preferindo permanecer autônomos pelo maior tempo possível. Pode-se afirmar que: A alternativa "C " está correta. A população brasileira está envelhecendo, e há uma dificuldade e, muitas vezes, recusa em passar parte do controle, pois para isso o idoso deverá aceitar a mudança de papéis, ocasionando conflitos e desestabilizando a organização familiar e pessoal. Muitos idosos têm dificuldade em solicitar ou aceitar suporte dos filhos, preferindo permanecer autônomos pelo maior tempo possível, mesmo quando a necessidade de assistência é evidente. Vale salientar que os idosos, por vezes, interpretam a oferta de ajuda como desnecessária, tentando preservar a autoestima e a autoeficácia, mas por outro lado, pode causar desprazer e conflitos nas relações com os filhos. MÓDULO 2 Identificar cuidados e autocuidados no envelhecimento e o papel do cuidador nessa rotina CONCEITOS DE CUIDADO E AUTOCUIDADO E O CUIDADOR DE IDOSOS O cuidado com o idoso é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público. Cabe a esses segmentos: [...] ASSEGURAR AO IDOSO, COM ABSOLUTA PRIORIDADE, A EFETIVAÇÃO DO DIREITO À VIDA, À SAÚDE, À ALIMENTAÇÃO, À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE, AO LAZER, AO TRABALHO, À CIDADANIA, À LIBERDADE, À DIGNIDADE, AO RESPEITO E À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA. (BRASIL, 2003, p. 1) DE ACORDO COM O ESTATUTO DO IDOSO, A FAMÍLIA, DEVIDO À PROXIMIDADE E AOS LAÇOS FRATERNAIS, TEM PAPEL FUNDAMENTAL NO BEM- ESTAR FÍSICO E PSICOLÓGICO DO IDOSO. As linhas de cuidado são modelos matriciais que integram ações de promoção, vigilância, prevenção e assistência, em resposta às necessidades de condições e/ou grupos específicos. Vamos aos conceitos básicos de cuidado e autocuidado: CUIDADO é a ação de cuidar (preservar, guardar, conservar, apoiar, tomar conta). O cuidado implica ajudar os outros, tentar promover o seu bem-estar e evitar que sofram de algum mal. AUTOCUIDADO é o ato de dar atenção a nós mesmos. Comumente, está orientado a nossa própria saúde. Hábitos saudáveis precisam ser realizados por ação própria, como um conjunto de regras dedicadas ao bem- estar físico e psicológico. A tabela de medidas recomendadas são conhecidas por todos nós: alimentação saudável, exercício moderado, evitar álcool e tabaco, administrar o estresse e favorecer o pensamento positivo. Nesse sentido, o cuidar do outro concebe a essência da cidadania, do desprendimento, da doação e do amor. Já o autocuidado ou cuidar de si representa a essência da existência humana. PROFISSIONAIS CUIDADORES Há diversos serviços e diferentes profissionais envolvidos no cuidado de um idoso. Eles devem organizar modos de comunicação para além das referências e contrarreferências, trocando e produzindo os saberes necessários a cada idoso. A administração do cuidado da pessoa idosa ou em processo de envelhecimento: Permite a identificação das demandas e serviços necessários para atendê-la. Requer um planejamento que envolve idosos, familiares e cuidadores. Requer uma coordenação desse processo, com comunicação eficiente entre todos os envolvidos, alcançando o cuidado integrado. Foto: Shutterstock.com O desenvolvimento desse cuidado deverá guiar os idosos na complexa rede de serviços assistenciais, permitindo, por meio de decisão conjunta, as opções mais apropriadas para cada caso. TUDO QUE EXISTE E VIVE PRECISA SER CUIDADO PARA CONTINUAR EXISTINDO. UMA PLANTA, UMA CRIANÇA, UM IDOSO, O PLANETA TERRA. TUDO O QUE VIVE PRECISA SER ALIMENTADO. ASSIM, O CUIDADO, A ESSÊNCIA DA VIDA HUMANA, PRECISA SER CONTINUAMENTE ALIMENTADO. O CUIDADO VIVE DO AMOR, DA TERNURA, DA CARÍCIA E DA CONVIVÊNCIA. (BOFF, 1999, p. 199) AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL A avaliação multidimensional do idoso é um processo utilizado para investigar componentes de funcionalidade e incapacidade. Tem a possibilidade de indicar a avaliação e a organização das linhas de cuidado baseadas na independência e autonomia, relacionando os sistemas funcionais principais: Foto: Shutterstock.com COGNIÇÃO Capacidade mental de compreender e resolver os problemas do cotidiano. Foto: Shutterstock.com HUMOR Motivação necessária para atividades e participação social. Foto: Shutterstock.com MOBILIDADE Capacidade individual de deslocamento e de manipulação do meio em que o indivíduo está inserido. Foto: Shutterstock.com COMUNICAÇÃO Capacidade de estabelecer um relacionamento produtivo com o meio, que depende da visão, audição, fala, voz e motricidade orofacial. DICA É necessário acompanhar os idosos com maiores riscos (patologias e incapacidades funcionais), conhecendo e identificando as doenças, ficar atento às queixas e aos comportamentos, monitorar o seu dia a dia e direcioná-los nos afazeres. Logo, cuidar, acima de tudo, é se responsabilizar por eles. A avaliação multidimensional e o estabelecimento de planos de cuidados para as pessoas idosas contribuem para o diagnóstico precoce do processo de fragilização da pessoa idosa, com possibilidades da identificação de riscos e de estabelecimento da melhor estratégia assistencial. É fundamental para o idoso um sistema de gerenciamento de cuidados, incluindo contato telefônico, baseado nos planos de cuidados e dos riscos identificados, integrados à atenção básica, à atenção domiciliar, ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), à rede hospitalar e às várias modalidades assistenciais disponíveis, que contribuam, com orientações e direcionamento, para a melhor alternativa assistencial. As diretrizes para a gestão do cuidado às pessoas idosas orientam para a importância de avaliar necessidades, olhar para as múltiplas dimensões, utilizar instrumentos de rastreio, identificar serviços disponíveis, planejar cuidados, elaborar projetos terapêuticos singulares, transversalizar e compartilhar saberes, decisões e cuidados, produzir autonomia do sujeito e cuidar do cuidador. As redes de atenção e a gestão do cuidado cooperam com o avanço de uma política de atenção integral e integrada à saúde do idoso, aumentando e facilitando o acesso a todos os níveis de atenção, com estrutura física adequada, insumos e pessoal qualificado. Preservar e/ou recuperar a autonomia e a independência funcional das pessoas idosas deve ser a meta em todos os níveis de atenção, respeitando suas histórias, garantindo direitos, indicando caminhos e promovendo a possibilidade de uma ampla rede de cuidados, com dignidade, em uma sociedade justa e solidária, em que envelhecer seja de fato um triunfo para a sociedade brasileira (FREITAS; PY, 2018). ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA (AVD) X ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA (AIVD) Ao pensar em autonomia e independência funcional, diferenciamos as atividades de vida diária (AVD) das atividades instrumentais de vida diária (AIVD). Ambas representam as habilidades que as pessoas, geralmente, precisam ter para viver como adultos independentes. ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA (AVD) São tarefas básicas de autocuidado, parecidas com as habilidades que aprendemos na infância. Podemos citar como exemplo locomover-se e transferir-se da cama para cadeira de rodas, alimentar-se, fazer uso do banheiro, escolher sua roupa, arrumar-se e cuidar da higiene pessoal etc. Essas atividades são, geralmente, mencionadas por profissionais de geriatria e gerontologia. ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA (AIVD) São mais complexas e necessárias para se viver de maneira independente. Essas atividades são aprendidas durante a adolescência. Incluem gerenciar as finanças, lidar com transporte (dirigir ou utilizar o transporte público), fazer compras, preparar suas refeições, fazer usos de meios de comunicação, gerenciar medicações e manter as tarefas domésticase da casa. Foto: Shutterstock.com Para todas essas atividades, temos que ter saúde física funcional, psicológica e social. Isso está relacionado à autonomia, ou seja, à capacidade de decisão, de comando; e de independência, como a capacidade de realizar algo com seus próprios meios. ATENÇÃO O que se busca para um idoso é manter ou obter a autonomia e o máximo de independência possível e, em última análise, a melhora da qualidade de vida. Isso só pode ser conseguido com um bom desempenho físico, psíquico (cognitivo e afetivo) e social (FREITAS e PY, 2018). Focando na saúde e independência física funcional, níveis moderados de força são necessários para um número surpreendente de atividades de vida diária e instrumentais. Levantar-se de uma cadeira, caminhar, subir escadas, ir ao mercado e trazer suas compras para casa requer força e resistência muscular, além de movimentos nas articulações e ossos sadios. Um dos primeiros sinais da velhice é a menor capacidade de trabalho, que afeta a capacidade laboral, a adaptabilidade ao ambiente e a atividade motora. Exercícios mantidos ao longo dos anos podem prevenir os comprometimentos musculares que são observados com a idade. Exercícios aeróbicos melhoram a capacidade funcional e reduzem o risco de desenvolver o diabetes tipo 2 e a hipertensão na velhice, por exemplo. Já os exercícios de resistência aumentam a massa muscular no idoso de ambos os sexos, prevenindo, ou até mesmo revertendo, um quadro de síndrome de fragilidade física – síndrome da imobilidade – presente nos mais longevos. SAIBA MAIS E quando o idoso adoece, fica acamado e necessita de cuidados? A vigilância à saúde das pessoas acamadas ou com limitações físicas que necessitam de cuidados especiais procura promover melhor qualidade de vida do cuidador e da pessoa cuidada. E já vimos que é fundamental, após uma avaliação multidimensional, com identificação das demandas, os responsáveis se sentarem, dialogarem, e planejarem os cuidados com esse idoso. Foto: shutterstock.com CUIDADOR IDEAL As orientações divulgadas no Guia Prático do Cuidador têm como meta explanar, de modo simples e ilustrativo, os assuntos mais comuns do cuidado em domicílio, auxiliar o cuidador e a pessoa cuidada, favorecer a inclusão da família, da equipe de saúde e da comunidade nos cuidados. O cuidador ideal é aquele que observa com atenção e identifica o que a pessoa pode fazer sozinha, avalia as condições e auxilia a pessoa a fazer as atividades. Cuidar não é somente fazer pelo outro, mas auxiliar o outro quando ele precisa, favorecendo sua autonomia, mesmo em pequenas tarefas. Isso requer paciência e tempo! TAREFAS QUE FAZEM PARTE DA ROTINA DO CUIDADOR Atuar como ligação entre a pessoa cuidada, a família e a equipe de saúde. Ouvir com atenção e ser solidário com a pessoa cuidada. Auxiliar nos cuidados de higiene. Estimular e auxiliar na alimentação. Incentivar e auxiliar na locomoção e atividades físicas, tais como caminhar, pegar sol e praticar exercícios físicos. Incentivar atividades de lazer e ocupacionais. Realizar mudanças de posição na cama e na cadeira e massagens de conforto. Administrar as medicações, conforme a prescrição. Informar à equipe de saúde sobre mudanças no estado de saúde da pessoa cuidada. Ficar atento a situações que melhorem a qualidade de vida e a recuperação da saúde funcional do idoso. COMO AGIR EM SITUAÇÕES ESPECIAIS? Engasgo — Tente primeiro retirar com o dedo o pedaço de alimento. Caso não consiga, coloque a pessoa em pé, abrace-a pelas costas e aperte com seus braços a boca do estômago dela. Queda e suspeita de fratura — Procure não movimentar a pessoa cuidada e chame o serviço de emergência (Samu/192), o mais rápido possível. Medicamentos — Mantenha-os sempre na caixa original para facilitar o controle de validade. Planeje-se para não precisar dar medicamentos nos horários em que a pessoa dorme, pois atrapalha a qualidade do sono. Falta de sono — Quando há problemas para dormir, evite ofertar café depois das 18h e líquidos à noite. Intestino — Para favorecer o funcionamento intestinal, deite a pessoa em supino, segure os membros inferiores, dobrando e esticando-os. Piso da casa — Preferencialmente, antiderrapante e não deve ser encerado. Elimine tapetes, capachos, tacos e fios soltos. Roupas — Dê preferência a roupas com fechamento em velcro, elástico ou abertas na frente, e sapatos com solado de borracha. Segurança — Adote barras de apoio na parede do chuveiro e ao lado do vaso e nas paredes da casa. SUGESTÕES DE EXERCÍCIOS PARA REALIZAR COM OS IDOSOS Movimente cada um dos dedos dos pés para cima, para baixo e para os lados com movimentos de rotação. Movimente o pé para cima, para baixo e para os lados em movimentos circulares. Dobre e estenda uma das pernas e repita o movimento com a outra perna. Com os pés da pessoa apoiados na cama e os joelhos dobrados, faça movimentos para separar e unir os joelhos. Levante e abaixe os braços da pessoa, depois abra e feche. Peça à pessoa cuidada que encha as bochechas de ar e depois murche a bochecha para dentro, a seguir, peça que ela coloque a língua para fora e movimente de um lado para o outro e feche os olhos com força fazendo caretas. Foto: Shutterstock.com O movimento orientado previne contraturas musculares e bloqueios articulares, favorecendo a prevenção de úlceras de decúbito que trazem muitas consequências para a qualidade de vida desse idoso. AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL A especialista Fátima Figueiredo abordará os componentes da avaliação multidimensional do idoso. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CUIDAR É SEMPRE FAZER PELO OUTRO, AUXILIAR EM TUDO O QUE O OUTRO PRECISA, FAVORECENDO A DEPENDÊNCIA DA PESSOA CUIDADA, ATÉ MESMO EM PEQUENAS TAREFAS. PORQUE II. O CUIDADOR IDEAL É AQUELE QUE OBSERVA COM ATENÇÃO E IDENTIFICA TUDO O QUE A PESSOA PODE NECESSITAR, SEM LEVAR EM CONSIDERAÇÃO A AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DA PESSOA PARA PODER FAZER AS ATIVIDADES. ANALISANDO AS AFIRMAÇÕES ACIMA, CONCLUI-SE QUE: A) A afirmação I é verdadeira, e a II é falsa. B) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II não justifica a primeira. C) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II justifica a primeira. D) A afirmação I é falsa, e a II é verdadeira. E) As afirmações I e II são falsas. 2. AO PENSAR EM AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL, DIFERENCIAMOS AS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA (AVD) DAS ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA (AIVD) E AMBAS REPRESENTAM AS HABILIDADES QUE AS PESSOAS GERALMENTE PRECISAM TER PARA VIVER COMO ADULTOS INDEPENDENTES. ENTENDEM-SE ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA (AIVD) COMO: A) Tarefas básicas de autocuidado, parecidas com as habilidades que aprendemos na infância. B) Tarefas como o ato de locomover-se e transferir-se da cama para cadeira de rodas, alimentar-se, fazer uso do banheiro. C) Tarefas simples, como o ato de escolher sua roupa, arrumar-se e cuidar da higiene pessoal, dentre outras atividades. D) Atividades mais complexas e necessárias para se viver de maneira independente, como gerenciar as finanças e fazer compras. E) Tarefas simples como rolar na cama e ter a possibilidade de acender um abajur e se levantar à noite. GABARITO 1. Cuidar é sempre fazer pelo outro, auxiliar em tudo o que o outro precisa, favorecendo a dependência da pessoa cuidada, até mesmo em pequenas tarefas. PORQUE II. O cuidador ideal é aquele que observa com atenção e identifica tudo o que a pessoa pode necessitar, sem levar em consideração a avaliação das condições da pessoa para poder fazer as atividades. Analisando as afirmações acima, conclui-se que: A alternativa "E " está correta. O cuidador ideal é aquele que observa com atenção e identifica o que a pessoa pode fazer sozinha, avalia as condições e auxilia a pessoa a fazer as atividades. Cuidar não é somente fazer pelo outro, mas auxiliar o outro quando ele precisa, favorecendo a autonomia da pessoa cuidada, mesmo em pequenas tarefas. Isso requerpaciência e tempo! 2. Ao pensar em autonomia e independência funcional, diferenciamos as atividades de vida diária (AVD) das atividades instrumentais de vida diária (AIVD) e ambas representam as habilidades que as pessoas geralmente precisam ter para viver como adultos independentes. Entendem-se atividades instrumentais de vida diária (AIVD) como: A alternativa "D " está correta. Atividades instrumentais de vida diária (AIVD) são atividades mais complexas e necessárias para se viver de maneira independente. Essas atividades são aprendidas durante a adolescência. Incluem gerenciar as finanças, lidar com transporte (dirigir ou utilizar o transporte público), fazer compras, preparar suas refeições, fazer usos de meios de comunicação, gerenciar medicações e manter as tarefas domésticas. MÓDULO 3 Relacionar os desafios do envelhecimento e seus riscos atrelados ao ambiente de moradia com a identificação das possibilidades de melhoria para o bem-estar da pessoa idosa MUDANÇAS SOCIOCULTURAIS NO CONTEXTO DO ENVELHECIMENTO E O AUMENTO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DE IDOSOS Existe um período de transição entre velhos modelos de envelhecimento e a construção de novas possibilidades, do ponto de vista individual, que leva o indivíduo a se perceber como tendo uma idade diferente da idade real, que desvirtua, entre outros aspectos, o seu nível de funcionamento e estilo de vida atual e, principalmente, sua maior expectativa de vida. DICA Lembre-se de que transições do curso de vida não ocorrem de forma única e uniforme e o indicador da idade cronológica para compreensão do envelhecimento torna-se a cada momento mais complexo, uma vez que a perspectiva de vida é aumentada e leva os indivíduos a uma percepção mais particular. Quando a família ou a comunidade não apoiam o idoso, encontrar estratégias para o envelhecimento saudável é fundamental. Logo, a avaliação das relações sociais se faz cada vez mais necessária, para promover a atenção integral à pessoa idosa. É necessário pensar nos novos paradigmas sociais, buscando maneiras para favorecer o atendimento adequado e a manutenção do suporte social aos idosos, tendo em vista o aumento da população de idosos nos próximos anos frente a redes de suporte sociais escassas e que não conseguem atender a todas as demandas necessárias dessa população. Achar novas possibilidades de recursos adaptáveis às mudanças observadas entre as pessoas idosas e suas famílias faz parte desse cuidado. A institucionalização e a moradia compartilhada, por exemplo, são opções que não devem ser afastadas. VOCÊ SABIA Aproximadamente, 7 milhões de idosos estavam institucionalizados em 1995 nos EUA. O custo da fragilidade é de aproximadamente US$54 bilhões ao ano. Em 2013, 14 milhões de adultos não eram capazes de conduzir suas atividades diárias de forma independente. E NO BRASIL? Um país pensado como o “eterno jovem” está com problemas para lidar com os cabelos brancos de seus habitantes. Ficar vivo por mais tempo é uma excelente notícia, mas virou um desafio para os brasileiros — e uma bomba relógio de efeitos incontáveis para o órgão de assistência social. Na parte baixa da pirâmide, em que estão as pessoas mais pobres, começa a ser percebido o aumento no número de idosos desamparados. Conforme aponta a Revista ISTOÉ, os albergues públicos necessitam de vagas para pessoas de mais de 60 anos — parte da população que não para de crescer, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social. Entre os mais idosos, o problema é a ausência de poupança e planejamento. Um estudo recém-concluído pelo Banco Mundial sinaliza que os brasileiros de todas as idades são pouco precavidos. Eles parecem preocupados demais com seus problemas no presente e não se preparam para o envelhecimento. Apenas 11% declaram fazer economia e prevenir o futuro, contra uma média global de 21%. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2012 e 2017, a população de velhos no Brasil saltou 19,5%, de 25,4 milhões para mais de 30,2 milhões de pessoas. Nesse período, o número de homens e mulheres com 60 anos ou mais nos albergues públicos cresceu 33%, de 45,8 mil para 60,8 mil. Se considerarmos os alojamentos privados, a soma eleva-se para 100 mil. O ABANDONO FAMILIAR CRESCE MAIS ACELERADO DO QUE A EXPECTATIVA DE VIDA. O BRASIL NECESSITA DE UM PROJETO PARA RESOLVER OS CUIDADOS DEMORADOS E O AMPARO JUNTO AO ENVELHECIMENTO. INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS (ILPIS) Com o avançar da idade, há maior probabilidade de problemas de saúde, dependência na realização das atividades da vida diária, assim como isolamento e solidão. Estima-se que 46,2% dos idosos independentes adentram em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) por sua própria decisão, seguindo-se por parte da família com 30,1%. As ILPIs tiveram sua origem em tempos antigos, ligadas a obras de caridade de cunho religioso. Tais estabelecimentos, por sua vez, ofereciam serviços voluntários às pessoas desamparadas, em situação de pobreza, de todas as idades, carentes de atenção à saúde e de abrigo, e que conviviam com a inexistência de políticas públicas específicas. Incide daí a conexão da ILPI a uma imagem negativa, reforçada pelos cuidados de baixa qualidade e ao sentimento de solidão e abandono relatado pelos moradores. Foto: shutterstock.com As ILPIs ainda carregam a imagem negativa de uma figura assistencialista e, portanto, seus moradores podem internalizar essa imagem. Todavia, há um movimento gradual contrário a isso. Logo, a construção de um idoso institucionalizado na ILPI precisa alcançar significados que se articulem de forma concreta e positiva, desmistificando a caricatura de desprotegido. SAIBA MAIS Nota-se um aumento expressivo da demanda por essas instituições no Brasil. Diversos fatores contribuem para esse cenário, como as mudanças estruturais das famílias quanto às modificações dos papéis desempenhados pelos seus membros e a diminuição do seu tamanho e das distintas organizações familiares. Houve também alteração no perfil de idosos institucionalizados nos últimos anos. A demanda mudou de pobres e desprovidos de família para idosos com incapacidade e dependência física ou cognitiva, doenças crônicas não transmissíveis e sem acesso a serviços de saúde da rede particular ou convênios médicos. Observa-se, assim, que a internação em uma ILPI pode corresponder a causas de ordem individual, social, econômica, de saúde, ou uma combinação de várias ordens. É válido destacar ainda que há uma preocupação com os prejuízos que a institucionalização pode acarretar aos idosos, como a segregação, o tratamento igualitário e simultâneo para todos os residentes e um estado acentuado de controle. Ficar com a família, então, seria a melhor opção? A construção do afeto, a ajuda mútua e a compreensão, sem dúvida, são aspectos importantes para uma convivência forte e agradável entre o idoso e família. Entretanto, se a convivência entre ambos apresentar desordens, podem ocorrer discórdias e desgastes no relacionamento. A coabitação simultânea de várias gerações de uma mesma família é composta por diferentes visões de mundo e de valores dos quais podem brotar conflitos. Além disso, estar presente junto à família não representa proteção, pois o descuido e os maus-tratos físicos, psicológicos, emocionais e morais da família contra o idoso não constituem um fato desconhecido. Pode-se pensar que o sentido de família para o idoso é apenas de um lugar de proteção, aconchego e segurança, mas não é. Quando a família sai de cena por desordens ou ausência, o idoso busca, então, adaptar-se a uma nova realidade. Muitas vezes, ele procura as ILPIs e, ali, busca a acolhida e o suporte no seu dia a dia durante o envelhecimento. Assim, a própria instituição passa a ser a família desse idoso, ainda que a reintegração com outro idoso e com a ILPI ocasione uma expressiva complexidade, se levarmos em conta a particularidade de cadaum (BENTES et al., 2012). Foto: Shutterstock.com Os prejuízos, as perdas e os declínios são inevitáveis e trazem desafios de adaptação para o idoso institucionalizado nas ILPIs. Longe dos hábitos diários, ele sente-se confuso no tempo e no espaço. Entretanto, esse fato pode também ocorrer em sua residência, na presença de sua família. MORADIAS COMPARTILHADAS – COHOUSING Contrapondo-se às ILPIs, há a cohousing: moradias compartilhadas, também chamadas de co-lares. Nada melhor do que habitar em um local de copropriedade com os amigos de toda a vida, certo? Recentemente, vive-se essa tendência como uma forma de administração colaborativa, desde a construção das moradias. Amigos ou conhecidos resolvem compartilhar ambientes parecidos a condomínios, conservando uma residência com espaços independentes, mas partilhando áreas com serviços comuns, dentre eles espaços de recreação, jardins, serviços de saúde ou até mesmo uma cozinha comum para duas ou mais residências. Essa nova forma de habitação permite que pessoas idosas possam organizar espaços compartilhados e neles ter serviços diversos, como locais para atendimentos fisioterapêuticos, piscina terapêutica, serviços médicos ou áreas para esporte adaptadas as suas necessidades. Como se fosse uma vila, um povoado com todos os serviços voltados a dar suporte aos moradores. SAIBA MAIS Isso já existe em alguns países do mundo, não só para idosos, mas também para outros grupos que tenham necessidades específicas. Como, por exemplo, pessoas com Mal de Parkinson ou Alzheimer que conseguem dividir serviços em áreas associadas ao seu lar que, de outra forma, exigiriam deslocamento até um centro de saúde. Pode-se afirmar que é uma solução conveniente para idosos, que se mostram cada dia mais independentes e, por vezes, não querem residir com filhos. Quando você reside na sua própria casa e seus vizinhos são seus amigos, há a possibilidade de compartilhar os valores e objetivos de vida e, ainda, como vimos, criar alguns lugares de convivência de propriedade colaborativa, relacionados à alimentação em grupo, atividades sociais e terapêuticas. Além disso, deve haver a preocupação de que todas as residências de cohousing atendam a requisitos de um ambiente tradicional para idosos: banheiros geriátricos, móveis sem quinas, botões de emergência em todos os quartos, entre outras coisas. Foto: shutterstock.com Os idosos que escolhem pelo cohousing podem também ter acesso a casas ou edifícios que possibilitem maior comodidade e favoreçam economia em suas atividades diárias, acolhendo hábitos ou necessidades de um grupo específico. Espera-se, assim, que os indivíduos possam envelhecer de forma mais ativa, favorecendo sua saúde, dividindo sua moradia, mas conservando sua independência em um ambiente que lhe provê privacidade. Foto: shutterstock.com CRECHES PARA IDOSOS Há, atualmente, estadias em casas de idosos para passar uma temporada ou somente para aproveitar o dia: opção em que o idoso pode desfrutar de todas as atividades realizadas, da alimentação e do contato com outras pessoas, mesmo sem ser um morador. É chamada de creche para idosos. Essas creches ainda não foram suficientemente difundidas, apesar de existirem há alguns anos. Contudo, devem virar uma das opções mais populares no futuro, considerando o seu potencial para mudar a vida de muitas famílias, principalmente para aquelas que optam em não perder o contato diário com o indivíduo, como pode ocorrer nas ILPIs. ATENÇÃO As creches para idosos, já presentes no Brasil, aliás, não devem ser confundidas com ILPIs, embora apresentem semelhanças. Algumas ILPIs, inclusive, oferecem o serviço para o idoso que não mora no local, mas é abrigado durante a manhã, à tarde ou durante todo o dia, geralmente, no horário que a família não consegue dar o apoio que ele precisa. A pessoa idosa é favorecida de muitas formas com esse serviço. A primeira vantagem é a convivência com outras pessoas; fato que colabora para a saúde biopsicossocial e favorece a qualidade de vida, um dos pontos mais comprometidos pelo envelhecimento. Essa relação acontece nas variadas atividades, como salas de leituras, trabalhos manuais, oficinas de culinária, artesanato, jogos pedagógicos, pinturas etc. É um local onde podem ainda praticar exercícios físicos, acompanhados por profissionais, dentro de uma equipe multidisciplinar que se preocupa com as atividades, alimentação e remédios. O conceito está relacionado ao acolhimento do idoso e seu bem-estar, oferecendo um período em um ambiente leve e funcional. Lembre-se de que está comprovado que atividades físicas ou de estímulo ao raciocínio são básicas para o envelhecimento saudável, assim como se manter aberto a novas experiências. ESTRATÉGIAS PARA PREVENÇÃO DE DOENÇAS E PROMOÇÃO DA SAÚDE Seja na própria casa, na casa de sua família, em ILPIs, nas creches ou em cohousing, vimos que há necessidade da criação de estratégias de prevenção de doenças e promoção da saúde, alcançando um processo saudável e ativo de envelhecimento e melhora na qualidade de vida da população idosa. Vamos conhecer essas estratégias? ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL PARA PESSOAS IDOSAS A alimentação saudável contribui para a melhora da qualidade de vida e para o envelhecimento bem- sucedido e pode ser definida como aquela que: Fornece quantidades adequadas de nutrientes (carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais). É rica em frutas e verduras e moderada em gorduras, sal e açúcar. Proporciona boa hidratação. Apresenta fracionamento entre quatro e seis refeições diárias. Foto: shutterstock.com As recomendações para uma adequada alimentação são apontadas pela pirâmide alimentar adaptada à população idosa (americana), em que se destaca a importância de refeições equilibradas, considerando as necessidades nutricionais dessa faixa etária. Os grupos alimentares que compõem essa pirâmide alimentar são assim apresentados: No segundo nível da base da pirâmide, temos a ingestão de líquidos saudáveis como a água. Distribuídos verticalmente, no corpo da pirâmide alimentar, estão cereais, pães, tubérculos, raízes, hortaliças, frutas, leguminosas, leite, derivados, carnes, ovos, açúcares, doces, gorduras e óleos. No topo da pirâmide de alimentos, representado por uma bandeira que destaca o consumo de cálcio, de vitamina B12 e de vitamina D, estão as vitaminas e sais minerais. Foto: shutterstock.com PRÁTICA CORPORAL E ATIVIDADE FÍSICA A inatividade física entre os idosos é uma realidade. O costume de vida atual propicia mais tempo dedicado a atividades sedentárias, como assistir à TV, por exemplo. Contudo, a falta de atividade física é um dos fatores de risco mais relevantes para doenças crônicas em idosos, agregada a uma dieta inadequada, fumo e álcool. A promoção de “estilos de vida saudáveis” é vista pelo sistema de saúde como uma estratégia. Nesse processo, alguns aspectos facilitam a inclusão da atividade física, como o apoio de amigos e familiares, ter companhia ou uma ocupação, e, ainda, a existência de alguns programas específicos. Foto: shutterstock.com TRABALHO EM GRUPO COM PESSOAS IDOSAS Um grupo é constituído a partir de interesses e temas em comum, possibilitando a discussão das situações vivenciadas no dia a dia e a descoberta de potencialidades, trabalhando vulnerabilidades e, consequentemente, elevando a autoestima dos idosos. O trabalho em grupos permite o aumento do vínculo entre equipe e idoso, sendo um espaço complementar de consulta individual, com troca de informações, oferecimento de orientação e de educação em saúde. Foto: shutterstock.com MORADIA PARA IDOSOS A especialista Fátima Figueiredo abordará os benefícios nas moradias de idosos como ILPIs, creches e co-housing. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS (ILPIS) SÃO DEFINIDAS PELA AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA) COMO ESPAÇOS RESIDENCIAIS PARA MORADIA COLETIVA DE PESSOASCOM 60 ANOS OU MAIS, COM OU SEM SUPORTE FAMILIAR. SOBRE ISSO, ANALISE AS AFIRMATIVAS ABAIXO: I. AS ILPIS PODEM SER GOVERNAMENTAIS OU NÃO, DEVENDO, POR MEIO DOS SERVIÇOS PRESTADOS, ZELAR PELA LIBERDADE, DIGNIDADE E CIDADANIA DOS SEUS RESIDENTES. II. AS ILPIS TIVERAM SUA ORIGEM EM TEMPOS ANTIGOS, LIGADAS A OBRAS DE CARIDADE DE CUNHO RELIGIOSO E PRESTAVAM SERVIÇOS VOLUNTÁRIOS ÀS PESSOAS DESAMPARADAS, EM SITUAÇÃO DE POBREZA, DE TODAS AS IDADES, NECESSITADAS DE ATENÇÃO À SAÚDE E DE ABRIGO, EMBORA CONVIVESSEM COM A EXISTÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS ESPECÍFICAS. III. AS ILPIS TIVERAM SUA ORIGEM EM TEMPOS ANTIGOS, LIGADAS A OBRAS DE CARIDADE DE CUNHO RELIGIOSO E PRESTAVAM SERVIÇOS VOLUNTÁRIOS ÀS PESSOAS DESAMPARADAS, SENDO DAÍ A VINCULAÇÃO DA ILPI A UMA IMAGEM NEGATIVA, REFORÇADA PELOS CUIDADOS DE BAIXA QUALIDADE E AO SENTIMENTO DE SOLIDÃO E ABANDONO RELATADO PELOS RESIDENTES. PODE-SE AFIRMAR QUE: A) Somente a II está correta. B) Somente a III está correta. C) II e III estão corretas, somente. D) I e II estão corretas, somente. E) I, II e III estão corretas. 2. I. A CONSTRUÇÃO DO AFETO, A AJUDA MÚTUA E A COMPREENSÃO SÃO ASPECTOS IMPORTANTES PARA UMA CONVIVÊNCIA FORTE E AGRADÁVEL ENTRE O IDOSO E FAMÍLIA. ENTRETANTO, SE A CONVIVÊNCIA ENTRE AMBOS APRESENTAR DESORDENS, PODEM OCORRER DISCÓRDIAS E DESGASTES NO RELACIONAMENTO. POQUE II. A COABITAÇÃO SIMULTÂNEA DE VÁRIAS GERAÇÕES DE UMA MESMA FAMÍLIA É COMPOSTA POR DIFERENTES VISÕES DE MUNDO E VALORES DOS QUAIS PODEM BROTAR CONFLITOS. ANALISANDO AS AFIRMAÇÕES ACIMA, CONCLUI-SE QUE: A) A afirmação I é verdadeira, e a II é falsa. B) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II não justifica a primeira. C) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II justifica a primeira. D) A afirmação I é falsa, e a II é verdadeira. E) As afirmações I e II são falsas. GABARITO 1. Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) são definidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como espaços residenciais para moradia coletiva de pessoas com 60 anos ou mais, com ou sem suporte familiar. Sobre isso, analise as afirmativas abaixo: I. As ILPIs podem ser governamentais ou não, devendo, por meio dos serviços prestados, zelar pela liberdade, dignidade e cidadania dos seus residentes. II. As ILPIs tiveram sua origem em tempos antigos, ligadas a obras de caridade de cunho religioso e prestavam serviços voluntários às pessoas desamparadas, em situação de pobreza, de todas as idades, necessitadas de atenção à saúde e de abrigo, embora convivessem com a existência de políticas públicas específicas. III. As ILPIs tiveram sua origem em tempos antigos, ligadas a obras de caridade de cunho religioso e prestavam serviços voluntários às pessoas desamparadas, sendo daí a vinculação da ILPI a uma imagem negativa, reforçada pelos cuidados de baixa qualidade e ao sentimento de solidão e abandono relatado pelos residentes. Pode-se afirmar que: A alternativa "E " está correta. Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) podem ser governamentais ou não, devendo, por meio dos serviços prestados, zelar pela liberdade, dignidade e cidadania dos seus residentes. Tiveram sua origem em tempos antigos, ligadas a obras de caridade de cunho religioso. Tais instituições, por sua vez, prestavam serviços voluntários às pessoas desamparadas, em situação de pobreza, de todas as idades, necessitadas de atenção à saúde e de abrigo, e que conviviam com a inexistência de políticas públicas específicas. Advém daí a vinculação da ILPI a uma imagem negativa, reforçada pelos cuidados de baixa qualidade e ao sentimento de solidão e abandono relatado pelos residentes. 2. I. A construção do afeto, a ajuda mútua e a compreensão são aspectos importantes para uma convivência forte e agradável entre o idoso e família. Entretanto, se a convivência entre ambos apresentar desordens, podem ocorrer discórdias e desgastes no relacionamento. POQUE II. A coabitação simultânea de várias gerações de uma mesma família é composta por diferentes visões de mundo e valores dos quais podem brotar conflitos. Analisando as afirmações acima, conclui-se que: A alternativa "C " está correta. A convivência do idoso com a família necessita ser embasada no afeto, na ajuda mútua e na compreensão. Caso contrário, gerarão discórdias e desgastes no relacionamento, pois o convívio de várias gerações em uma mesma família se caracteriza por diferentes costumes e valores, podendo gerar conflitos. MÓDULO 4 Identificar as disfunções que acometem a independência do idoso, com atenção aos deficits da função muscular como causa de quedas QUEDAS E AMBIENTES DE RISCO A conceituação de queda pode ser entendida como uma insuficiência súbita do controle postural, com uma falta de capacidade para corrigir o deslocamento do corpo, durante seu movimento no espaço. Na verdade, uma mudança de posição inesperada, não intencional, que faz com que o indivíduo permaneça em um nível inferior em relação à posição inicial. Foto: Shutterstock.com Comprometer o equilíbrio e cair na postura bípede ou estando em locomoção se torna cada vez mais um alerta para a segurança e saúde dos idosos, principalmente para aqueles com mais idade. Marca, portanto, o início de um importante declínio de determinada função ou um sintoma de nova patologia. A queda ou a lesão decorrente dela pode ter efeito devastador na independência do idoso e em sua qualidade de vida. Lesões musculoesqueléticas (sendo a mais grave a fratura do fêmur proximal), o medo de nova queda e a diminuição geral das atividades da vida diária podem ser consequências desastrosas das quedas. Quando um idoso é hospitalizado após uma queda com quadro de fratura de colo de fêmur, muitas das vezes, não resiste e falece. Além disso, a institucionalização e o isolamento social também podem levá-lo ao óbito. A queda, portanto, pode ser considerada um grande problema para as pessoas idosas dadas as suas consequências – injúria, incapacidade, institucionalização e morte –, que são resultado da combinação de alta incidência com alta suscetibilidade a lesões. Conforme a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG, cerca de 30% das pessoas idosas caem a cada ano, e essa taxa aumenta para 40% entre os idosos com mais de 80 anos e 50% entre os que residem em ILPIs. Além disso, a hospitalização por fratura de quadril e fêmur, que é extremamente cara, aumenta aproximadamente 9% a cada ano. Cerca de 50% das pessoas que caem e fraturam os quadris nunca mais serão caminhantes funcionais. As mulheres tendem a cair mais do que os homens até os 75 anos de idade, porém, os homens que caem apresentam maior índice de mortalidade. A partir dessa idade, as frequências de quedas se igualam para homens e mulheres. Dos que caem, cerca de 2,5% requerem hospitalização e, desses, apenas metade sobreviverá após um ano. Na velhice, o trofismo muscular está relacionado com a força, e esta, por sua vez, se relaciona com a aptidão funcional do indivíduo. A sarcopenia, que pode se desenvolver por décadas, lentamente diminui a capacidade física funcional, comprometendo as atividades da vida diária e de relacionamento. Aumenta o risco de quedas, levando, possivelmente, a um estado de dependência cada vez maior (ROSSI, 2008). EXEMPLO Foto: Shutterstock.com Vamos imaginar que o Sr. Antonio caiu da própria altura, fraturou o colo do fêmur e foi internado. Teve alta hospitalar e retornou para sua casa, sendo cuidado por sua filha. Foto: Shutterstock.com Após uma semana, retornou para o hospital com quadro de infecção respiratória em decorrência de ficar acamado sem mobilidade. Depois de mais uma semana, Sr. Antonio morreu e o diagnóstico que o levou ao óbito foi pneumonia ou septicemia. Porém, na verdade, Sr. Antonio faleceu, porque caiu e fraturou o colo do fêmur. Causa das quedas A causa das quedas pode ser dividida em duas categorias: I) O estímulo que resulta na perda de equilíbrio,como tontura, desmaio, vertigem, superfície irregular, fraqueza ou distúrbios de equilíbrio e marcha, alteração postural e hipotensão ortostática, lesão no Sistema Nervoso Central (SNC), síncope e redução da visão. II) A incapacidade do idoso de corrigir uma perda de equilíbrio repentina, resultado da diminuição do tempo de reação, da integração do SNC, da força e da perda da mobilidade articular (comprometimentos do sistema neuromuscular devido ao envelhecimento). Esses fatores que operam tanto no estímulo que causa a queda quanto na capacidade reativa para evitá-la, estão relacionados ao sistema neuromuscular, ao sistema visual, ao sistema cardiovascular, da cognição, e, ainda, ao uso de medicamentos e aspectos do ambiente, propriamente dito. FATORES INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS O risco de cair, como vimos, aumenta significativamente com a idade e com o nível de fragilidade. Agora, analisaremos os fatores de risco para uma queda, que podem ser intrínsecos (relacionados ao indivíduo) e/ou extrínsecos (relacionados ao ambiente). I) Fatores intrínsecos Relacionados às alterações fisiológicas do avançar da idade, da presença de doenças, de aspectos psicológicos e de reações adversas de medicações em uso. Podem ser citados como exemplos: Idade acima de 80 anos Sexo feminino Imobilidade Quedas precedentes Equilíbrio diminuído Marcha lenta e com passos curtos Baixa aptidão física Fraqueza muscular de membros inferiores (MMII) e membros superiores (MMSS) Hipotensão postural Alterações cognitivas Doença de Parkinson Uso de sedativos, hipnóticos e ansiolíticos Polifarmácia (uso de quatro ou mais medicamentos) Sintomas depressivos Foto: Shutterstock.com As patologias neuromusculares que produzem padrões de marcha anormais são a principal causa e estão normalmente combinadas com artrites, resultando em movimentos restritos do pescoço e movimentos limitados do quadril, todos aumentando o risco de queda. Mesmo quando a patologia neuromuscular não é evidente, os músculos responsáveis pelas reações posturais coordenadas enfraquecem com a idade e ficam mais lentos. Outra causa muito comum está ligada ao tropeço, que ocorre quando a altura do passo é reduzida durante a fase de oscilação da marcha; além da marcha mais lenta, relacionada à perda de equilíbrio. Segundo a World Health Organization (2004), os fatores de risco intrínsecos para quedas são: História de quedas Idade e gênero Morar só Etnias (caucasianos frequentemente caem mais) Uso de medicamentos Condições de saúde (doenças circulatórias, doença pulmonar obstrutiva crônica, depressão, artrite, incontinência) Deterioração na mobilidade e na marcha Sedentarismo Medo de cair Deficiência nutricional Deterioração cognitiva Danos visuais Problemas nos pés II) Fatores extrínsecos Os fatores extrínsecos estão relacionados à conduta e atividades dos idosos e ao meio ambiente. Locais inseguros, com pouca iluminação, mal planejados com barreiras arquitetônicas representam fundamentais fatores de risco para quedas. A maior parte das quedas acidentais acontece dentro de casa ou próximo a ela, comumente durante a execução de atividades cotidianas como caminhar, mudar de posição, ir ao banheiro e tomar banho. Aproximadamente, 10% acontecem em escadas, sendo que descê-las constitui maior risco do que as subir. A INFLUÊNCIA DOS FATORES AMBIENTAIS NO RISCO DE QUEDAS ESTÁ ASSOCIADA AO ESTADO FUNCIONAL E MOBILIDADE DA PESSOA IDOSA. QUANTO MAIS FRÁGIL, MAIS SUSCETÍVEL. Mudanças posturais e barreiras ambientais, que não são problemas para os mais saudáveis, transformam-se em séria ameaça à segurança e mobilidade daqueles idosos com disfunções em equilíbrio e marcha. Os riscos domésticos mais comuns que devem ser objeto de atenção das equipes de saúde estão representados no quadro a seguir. Presença de tapetes pequenos e capachos em superfícies lisas Carpetes soltos ou com dobras Bordas de tapetes (principalmente, dobradas) Pisos escorregadios (encerados, por exemplo) Cordas, cordões e fios no chão (elétricos ou não) Ambientes desorganizados com móveis fora do lugar, móveis baixos ou objetos deixados no chão (sapatos, roupas, brinquedos etc.) Móveis instáveis ou deslizantes Degraus da escada com altura ou largura irregular Degraus sem sinalização de término Escadas com piso muito desenhado (dificultando a visualização de cada degrau) Uso de chinelos, sapatos desamarrados ou mal ajustados ou com solado escorregadio Roupas compridas, arrastando pelo chão Má iluminação Cadeira, camas e vaso sanitários muito baixos Cadeiras sem braços Animais, entulho e lixo em locais inapropriados Objetos estocados em lugares de difícil acesso (precisa-se subir em cadeira ou banco para alcançá-los) Escadas com iluminação frontal Quadro: Riscos domésticos para quedas. Extraído de BRASIL. Ministério da Saúde. ENVELHECIMENTO E SAÚDE DA PESSOA IDOSA. Cadernos de Atenção Básica, n. 19. Brasília: 2006. Pág. 68. CONSEQUÊNCIAS DAS QUEDAS E ESTRATÉGIAS PARA PREVENI-LAS Deve-se levar em conta fatores que agravam a ocorrência de lesão na queda, pois, quando ela é associada à fragilidade óssea caracterizada pela osteopenia/osteoporose, pode aumentar a probabilidade de o idoso sofrer algum tipo de fratura. APESAR DE A FRATURA DO QUADRIL OCORRER EM SOMENTE 1% DAS QUEDAS, ELA É RESPONSÁVEL POR GRANDE PARTE DA INCAPACIDADE, DAS MORTES E DOS CUSTOS MÉDICOS RELACIONADOS AOS TRATAMENTOS NO IDOSO. Além da densidade mineral óssea reduzida (osteoporose), pode-se relacionar outros fatores à fratura, como: ausência de reflexos de proteção, desnutrição, resistência e rigidez da superfície sobre a qual se cai e dificuldade para levantar após a queda. SAIBA MAIS É importante trazer uma reflexão sobre fragilidade, pois ela não possui uma definição consensual. Constitui- se como uma síndrome multidimensional, que envolve uma interação complexa dos fatores biológicos, psicológicos e sociais no curso de vida individual. Essa relação culmina com um estado de maior vulnerabilidade, associado ao maior risco de ocorrência de desfechos clínicos desfavoráveis – declínio funcional, quedas, hospitalização, institucionalização e morte. As quedas e suas consequências são um problema de saúde pública e com grande impacto social. Estão presentes em todos os países em que ocorre expressivo envelhecimento populacional. Podem resultar em lesões grandes ou pequenas, ansiedades psicológicas e diminuições da atividade física. Logo, trata-se de uma catástrofe para o idoso, pois o medo de cair e o abandono da atividade física aumentarão a possibilidade de queda. O perigo de institucionalização precoce e o prejuízo na independência também são efeitos decorrentes das quedas e merecem atenção especial na população idosa. Pesquisas mostram que, após uma queda, o risco de institucionalização dos idosos aumenta. AVALIAÇÃO DO IDOSO E DO AMBIENTE Como estratégia para prevenir a queda, é necessário organizar uma boa avaliação do idoso e seu espaço. Essa avaliação visa: Identificar a causa que levou a queda e tratá-la. Reconhecer fatores de risco para prevenir futuros eventos, implementando intervenções adequadas. A instabilidade postural e quedas são importantes marcadores de diminuição de capacidade funcional e fragilidade em pessoas idosas e, por essa razão, equilíbrio e marcha precisam ser continuamente avaliados. A referência da ocorrência de queda, como vimos, sempre deve ser valorizada. A moradia da pessoa idosa pode favorecer o risco de quedas e devem ser verificados na avaliação: Presença de escadas Ausência de distinção e sinalizadores de degraus e corrimãos Iluminação imprópria Tapetes soltos Obstáculos no chão e no local de circulação ATENÇÃO Os indivíduos que têm histórico de quedas (portanto, com alto risco de sofrer outra queda) compartilham características especiais. Provavelmente, são adultos que dão mais passos para girar 360º e não podem levantar-se de uma cadeira sem auxílio. Rotineiramente,usam vários medicamentos, com alta prevalência de antidepressivos. Também é mais provável que sejam mulheres. Eles têm históricos de acidentes anteriores. Podem estar moderadamente dementes, passar por situações de vertigem, ter a sensação de posição e marcha comprometida e estar moderadamente afetados em suas Atividades de Vida Diária. Os indivíduos que têm uma ou mais dessas características possuem risco mais alto de queda (SPIRDUSO, 2005). Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006), algumas atribuições valem ser disseminadas. Os agentes comunitários de saúde, por exemplo, devem ter a atenção voltada para as pessoas idosas na área de sua atuação, mantendo o cadastro atualizado, identificando e encaminhando o idoso frágil à Unidade Básica de Saúde (UBS). Em suas visitas domiciliares às pessoas idosas, conforme planejamento assistencial, devem priorizar aos indivíduos frágeis ou em processo de fragilização. Além disso, é importante buscarem a integração entre a equipe de saúde e a população ligada à UBS, mantendo a equipe informada, principalmente, a respeito dos idosos frágeis. Em contato permanente com as famílias, precisa também avaliar as condições de risco de quedas observáveis no domicílio. A avaliação dos riscos de queda abrange, ainda, aspectos biológicos, físico-funcionais, cognitivos e psicossociais. Portanto, devem ser investigados dados relacionados: Ao contexto e estrutura das quedas. Às qualidades clínicas da pessoa idosa, considerando doenças crônicas e agudas presentes. À medicação usada (prescritas e por automedicação). O quadro a seguir faz uma síntese dos dados clínicos e diagnósticos prováveis mais comumente associados a quedas. Imagem: Cadernos de Atenção Básica, n. 19. Brasília: 2006. Pág. 70. Quadro. Dados clínicos e diagnóstico de causas que podem levar a quedas. Extraído de BRASIL. Ministério da Saúde. ENVELHECIMENTO E SAÚDE DA PESSOA IDOSA. Cadernos de Atenção Básica, n. 19. Brasília: 2006. Pág. 70. ESTRATÉGIAS PARA PREVENÇÃO DE QUEDAS Algumas estratégias podem ser tomadas para diminuir as quedas e suas consequências junto às pessoas idosas: Educação e orientação para o autocuidado. Uso de dispositivos de órteses auxiliando à marcha (quando necessário), como bengalas, andadores e cadeiras de rodas. Verificação criteriosa de medicamentos em uso, evitando-se, por exemplo, as que podem ocasionar hipotensão postural. Veja como deve ser feita a adequação do ambiente, seja residência ou local público (BRASIL, 2006): Arrumar gêneros alimentícios e outros objetos habituais em locais de fácil acesso, evitando-se o uso de escadas e banquinhos. Reorganizar o espaço interno na residência, com a aceitação da pessoa idosa e da família. Instalar iluminação adequada, sinalizador de degraus e corrimãos bilaterais para apoio nas escadas, assim como remover tapetes no seu início e fim. Instalar pisos antiderrapantes e barras de apoio nos banheiros com orientação para o banho sentado na presença da instabilidade postural (não trancar o banheiro). DICAS PARA EVITAR QUEDAS 1- Use sapatos leves, confortáveis, antiderrapantes, sem saltos, com solados de borracha e ajustados ao tamanho do pé. 2- Use bolsas com alças transpassadas ao corpo para dividir o peso melhor. Deixe as mãos livres para se apoiar. 3- Verifique se a ponta de borracha da bengala está desgastada. Troque se for necessário. 4- Faça exames de rotina regularmente. Cuide da visão e da pressão arterial. 5- Meça a densidade óssea. Quedas têm consequências maiores em ossos fracos. 6- Pratique atividades físicas 7- Elimine móveis e passagens com quinas vivas. 8- Não deixe fios cruzando cômodos da casa. 9- Cuidado com animais domésticos. Acostume-os a habitar apenas um espaço da casa. 10- No banheiro, retire prateleiras de vidro e superfícies cortantes e troque o piso por um antiderrapante 11- No caso de queda, vire-se para o lado não machucado, fique em posição confortável e movimente- se o mínimo possível. 12- Peça socorro médico. CASA IDEAL PARA IDOSOS A casa dos idosos, para não ser cenário de quedas, tem direito a atenção especial em sua organização estrutural. Para se estabelecer um ambiente seguro para pessoas idosas, não são necessários gastos exorbitantes ou mudanças radicais no domínio da família. Sutis alterações podem ser bastante úteis, de acordo com o Projeto Casa Segura, desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. CASA IDEAL PARA IDOSOS As quedas dos idosos podem ser evitadas com atenção redobrada à casa e ações cotidianas. Deixando a casa segura - Dicas gerais Tiras antiderrapantes no chão podem evitar escorregões dentro da área do banho. Banheiros devem ganhar barras de apoio para o banho e o uso do vaso sanitário. A casa deve ser organizada de tal forma que haja espaço suficiente para uma mobilidade sem muitos desvios. Elimine ou adeque obstáculos em relevo que possam existir entre os cômodos. Não suba em cadeiras ou escadas para alcançar armários altos. Escadas devem ter degraus de tamanho adequado e dispor de corrimãos dos dois lados. Instalar tiras antiderrapantes nas bordas dos degraus é uma opção para evitar escorregões. Os espaços de passagem da casa, como corredores, Qualquer líquido derramado no chão da casa deve ser limpo imediatamente para evitar escorregões. devem ficar livres de objetos e móveis. Instale interruptores próximos a cama. Isso evita que o percurso até o banheiro ou a porta, por exemplo, sejam realizados no escuro. Objetos usados no banho devem estar em local de fácil acesso. Atenção à iluminação da casa e ao posicionamento dos interruptores. Fios e extensões devem ficar fora da área de passagem. Deixe os objetos do dia a dia em locais mais acessíveis. Adeque a altura da cama para que os atos de deitar e levantar sejam de fácil realização. Evite deixar objetos no chão do quarto e da casa, pois eles podem causar quedas. Sofás e cadeiras muito baixos devem ser evitados. Tapetes podem ser escorregadios, por isso devem ser substituídos por exemplares antiderrapantes. MUDANÇAS SIMPLES 1- Alimentação adequada é essencial para manter a saúde dos idosos, como o consumo de cálcio. 2- Ao realizar atividades físicas, o idoso fortalece a musculatura, favorece o equilíbrio e previne quedas, assim como maiores repercussões físicas ao cair. 3- Utilize sapatos com solados de material antiderrapante. 4- Evite roupas e roupões muito longos, há risco de pisar no tecido e se desequilibrar. 5- Utilize calçados que fiquem bem presos nos pés e que se adequem a forma dos pés. 6- Não ande só de meias. 7- Atenção à ingestão de medicamentos que podem comprometer o equilíbrio. 8- Exames constantes para acompanhar a saúde são importantes para os idosos. Um exemplo é acompanhar os casos de osteoporose, comuns à fase da vida. Casa ideal para idosos. Disponível em preveniracidentesemidosos.blogspot.com.br PROGRAMA DE EXERCÍCIOS A prática de exercícios físicos também tem se mostrado muito eficiente na prevenção de quedas. Logo, deverá ser organizado um programa de exercícios como estratégia para evitá-las. A menor capacidade de trabalho muscular é um dos primeiros sinais da velhice, afetando em última instância a capacidade laboral, a atividade motora e a adaptabilidade ao ambiente. Os exercícios melhoram a função muscular, desenvolvem o equilíbrio, a flexibilidade, a coordenação motora e a propriocepção, reduzindo a frequência de quedas e contribuindo para a manutenção da independência e da melhor qualidade de vida para os idosos. Vários benefícios são citados com a prática do exercício físico: Fortalecimento dos músculos das pernas e costas Aumento dos reflexos e reações posturais Melhora da marcha Aumento da flexibilidade Manutenção do peso corporal Diminuição do risco de doenças cardiovasculares Redução do risco da hipotensão postural Diminuição da necessidade de medicamentos Melhora do sono e redução da insônia Aumentoda autoconfiança nas capacidades físicas Imagem: shutterstock.com VALE SALIENTAR QUE, ASSOCIADA AOS EXERCÍCIOS, A INGESTÃO DE NÍVEIS ADEQUADOS DE CÁLCIO E VITAMINA D TEM SURTIDO MUITO EFEITO NA DIMINUIÇÃO DA OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS. Todos esses cuidados possibilitarão à prevenção das quedas. Contudo, a conscientização dos idosos é fundamental nesse processo e deve ser realizada por meio de orientações sistemáticas, com o intuito de torná-los mais atentos e cautelosos em relação às quedas. A corresponsabilidade dos idosos garante o autocuidado associado às várias intervenções sobre seu estilo de vida e representam a chave-mestra da atuação geriátrica-gerontológica. PREVENÇÃO DE QUEDAS – FATORES EXTRÍNSECOS A especialista Fátima Figueiredo abordará os cuidados com as moradias para idosos na prevenção das quedas – os fatores de risco extrínsecos relacionados ao ambiente. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. INDEPENDENTEMENTE DA IDADE, TODAS AS PESSOAS CORREM O RISCO DE CAIR. PORÉM, PARA A PESSOA IDOSA, UMA QUEDA PODE REPRESENTAR UM PROBLEMA GRAVE, LEVANDO INCLUSIVE A LIMITAÇÕES FUNCIONAIS QUE ANTES NÃO EXISTIAM. ASSIM, UM IDOSO QUE ERA ATIVO PASSA A DEPENDER DE CUIDADOS DE OUTRAS PESSOAS. ENTRE AS CONSEQUÊNCIAS DAS QUEDAS, A FRATURA DE FÊMUR É UMA DAS MAIS GRAVES NAS PESSOAS COM 60 ANOS OU MAIS. QUAL DAS OPÇÕES ABAIXO NÃO APONTA UMA CAUSA COMUM DE QUEDAS DOS IDOSOS? A) Ambiente inapropriado e fraqueza/distúrbios de equilíbrio e marcha B) Tontura/vertigem e alteração postural/hipotensão ortostática C) Lesão no SNC e síncope D) Redução da visão E) Hipertrofia dos músculos dos membros inferiores 2. O EQUILÍBRIO É RESULTADO DA INTERAÇÃO HARMÔNICA DE DIVERSOS SISTEMAS DO CORPO HUMANO: VESTIBULAR, VISUAL, SOMATOSSENSORIAL E MUSCULOESQUELÉTICO. CADA SISTEMA POSSUI COMPONENTES QUE, COM O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO, PODEM SOFRER PERDAS FUNCIONAIS QUE DIFICULTAM O FUNCIONAMENTO E A EXECUÇÃO DA RESPOSTA MOTORA RESPONSÁVEL PELA MANUTENÇÃO DO CONTROLE DA POSTURA E DO EQUILÍBRIO CORPORAL, O QUE, POR SUA VEZ, PODE GERAR PREJUÍZOS FUNCIONAIS PARA O IDOSO EM DECORRÊNCIA DE QUEDAS E AUMENTAR OS NÍVEIS DE MORBIDADE E MORTALIDADE NESSA POPULAÇÃO, COMO CONSEQUÊNCIA DE UMA FRATURA. NESTES CASOS PODEMOS ASSINALAR VÁRIAS CAUSAS PARA AS QUEDAS, QUE SE DIVIDEM EM INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS. PODEMOS AFIRMAR QUE SÃO CAUSAS INTRÍNSECAS AS SEGUINTES ALTERNATIVAS: I. IDOSOS COM MAIS DE 80 ANOS E EQUILÍBRIO DIMINUÍDO. II. MARCHA LENTA, COM PASSOS CURTOS. III. AMBIENTES INSEGUROS E MAL ILUMINADOS, MAL PLANEJADOS E MAL CONSTRUÍDOS, COM BARREIRAS ARQUITETÔNICAS. IV. BAIXA APTIDÃO FÍSICA. A) Somente as afirmativas I, II e IV estão corretas. B) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas. C) Somente as afirmativas I e IV estão corretas. D) As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. E) As afirmativas III e IV estão corretas. GABARITO 1. Independentemente da idade, todas as pessoas correm o risco de cair. Porém, para a pessoa idosa, uma queda pode representar um problema grave, levando inclusive a limitações funcionais que antes não existiam. Assim, um idoso que era ativo passa a depender de cuidados de outras pessoas. Entre as consequências das quedas, a fratura de fêmur é uma das mais graves nas pessoas com 60 anos ou mais. Qual das opções abaixo não aponta uma causa comum de quedas dos idosos? A alternativa "E " está correta. A ocorrência de uma queda pode ser apenas um acidente, entretanto, também pode indicar problemas relacionados à saúde do idoso, além de poder causar consequências muito negativas, como redução das funções, necessidade de hospitalização ou de institucionalização. A causa muito comum é o deficit de força, mas a hipertrofia muscular aponta um músculo com bom nível de força. 2. O equilíbrio é resultado da interação harmônica de diversos sistemas do corpo humano: vestibular, visual, somatossensorial e musculoesquelético. Cada sistema possui componentes que, com o processo de envelhecimento, podem sofrer perdas funcionais que dificultam o funcionamento e a execução da resposta motora responsável pela manutenção do controle da postura e do equilíbrio corporal, o que, por sua vez, pode gerar prejuízos funcionais para o idoso em decorrência de quedas e aumentar os níveis de morbidade e mortalidade nessa população, como consequência de uma fratura. Nestes casos podemos assinalar várias causas para as quedas, que se dividem em intrínsecas e extrínsecas. Podemos afirmar que são causas intrínsecas as seguintes alternativas: I. Idosos com mais de 80 anos e equilíbrio diminuído. II. Marcha lenta, com passos curtos. III. Ambientes inseguros e mal iluminados, mal planejados e mal construídos, com barreiras arquitetônicas. IV. Baixa aptidão física. A alternativa "A " está correta. As causas que provocam as quedas são múltiplas e podem ser agrupadas em fatores intrínsecos e extrínsecos. Entre os primeiros, encontram-se as alterações fisiológicas pelas quais o idoso passa, condições patológicas e efeitos adversos de medicações; ou uso concomitante de medicamentos. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos, com base em estudos científicos, a figura do idoso e suas relações familiares, apresentando e discutindo seus direitos. Compreender o indivíduo, seu envelhecimento e papel na sociedade, relacionando cuidado e autocuidado, possibilitou discutir a presença e o papel do cuidador de idosos, profissão presente em nosso país. Essas reflexões permitiram enxergar o envelhecimento populacional no Brasil e as repercussões que o declínio funcional e o tipo de suporte e cuidado do idoso no ambiente de moradia trazem na qualidade de vida dessas pessoas. Vimos também que o profissional de saúde deve se fazer presente no processo de envelhecimento, avaliando as disfunções que acometem a independência do idoso, valorizando a manutenção da função e o cuidado com o ambiente para a identificação de fatores de prevenção de quedas, assunto que não pode estar ausente junto à gerontologia. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BENTES, A. C. O.; PEDROSO, J. S.; MACIEL, C. A. B. O idoso nas instituições de longa permanência: uma revisão bibliográfica. Aletheia n. 38-39. Canoas, 2012. BRASIL. Casa civil. Estatuto do Idoso. Lei nº10.741, de 1º de outubro de 2003. Consultado na internet em: 14 abr. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. BOFF, L. Saber Cuidar Ética do humano - compaixão pela terra. Rio de Janeiro: VOZES, 1999. FREITAS, E. V.; PY, L. Tratado de geriatria e gerontologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Consultado na internet em: 14 abr. 2021. NÚMERO de idosos cresce 18% em 5 anos e ultrapassa 30 milhões em 2017. Agência IBGE Notícias, 26 abr. 2018. Consultado na internet em: 28 abr. 2021. O abandono dos idosos no Brasil. Revista ISTOÉ, 2018. Consultado na internet em: 28 abr. 2021. ROSSI, E. Envelhecimento do sistema osteoarticular. Einstein, 2008. SPIRDUSO, W. Dimensões Físicas do Envelhecimento. Barueri: Manole, 2005. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO. What are the main risk factors for falls amongst older people and what are the most effective interventions to prevent these falls? 2004. Consultado na internet em: 14 abr. 2021. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo: Busque o Guia prático do Cuidador, publicado em 2008 pelo Ministério da Saúde. Não deixe de visitar a página do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) José Ermírio de Moraes, da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo. Acesse ainda o Portal do Envelhecimento e leia a matéria O idoso e a família nos dias de hoje. CONTEUDISTA Fátima Figueiredo da Conceição CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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