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Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Objetivos: 1. Definir a gastrite (etiologia, fatores de risco, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e diagnósticos diferenciais); 2. Descrever a semiologia do exame físico do abdome; 3. Conhecer o tratamento farmacológico e não-farmacológico para a gastrite (Conhecer o mecanismo de ação do IBP e do antiácido); 4. Relacionar a infecção da H. pylori com a gastrite. 5. Definir o tratamento da H. pylori. Termos desconhecidos: Espaço de Traube: O espaço de Traube é um espaço semilunar semiológico no qual há timpanicidade a percussão em situação de normalidade. Seus limites são medialmente a borda do lobo esquerdo do fígado, lateralmente a borda medial do baço e superiormente a borda inferior do coração. o. A delimitação imaginária do espaço inclui uma linha vertical a partir da 6ª junção costocondral e outra linha perpendicular a partir da 9ª costela na linha axilar anterior, ambas terminam no rebordo costal o quê forma um quadrilátero irregular. Um som de macicez nesta região pode por exemplo representar quadro de esplenomegalia. Folículos linfoides reativos: Achado que pode estar associado a presença de gastrite com a presença do H. Pylori. Definir a gastrite (etiologia, fatores de risco, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e diagnósticos diferenciais); 1. Histologia do estômago: As glândulas podem sem encontradas em todo o estômago e são comumente divididas em 3 tipos, variando a classificação conforme sua localização, assim, tem-se: glândulas gástricas (produtoras de ácido clorídrico, localizadas no fundo e no corpo), glândulas pilóricas (secretoras de muco, apresentando-se na região pilórica) e glândulas cárdicas (localizadas na cárdia do estômago). As glândulas gástricas são formadas por cerca de 5 células: células mucosas do colo, células-tronco (substituem células lesadas), células parietais (ou oxínticas, produzem fator intrínseco e secretam ácido clorídrico), células principais (ou zimogênicas, secretam pepsinogênio e lipase gástrica) e células enteroendócrinas (liberam gastrina). Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS H. Pylori → Bactéria Gram negativa; → Apresenta elevada mobilidade – forma helicoidal; → Fatores de risco para este agente: tabaco, superlotação doméstica, infecção de um membro familiar e um status socioeconômico reduzido; → Resposta predominante do tipo Th1; → Diagnostico por endoscopia digestiva alta, análise histológica e de culturas. Urease, sorologia e detecção fecal de antígenos; → Tratamento associação de um inibidor de bomba de prótons + 2 antibióticos; Gastrite é uma lesão benigna decorrente da quebra da barreira mucosa, acarretando alterações macro e microscópicas da mucosa gástrica, associadas a uma resposta inflamatória. A mucosa gástrica possui células que produzem ácidos e enzimas (que auxiliam na quebra do alimento e digestão) e muco (que protege a mucosa do ácido). O desequilíbrio entre as forças defensivas e agressivas da barreira mucosa é responsável pela formação das lesões. Quando a mucosa gástrica está inflamada, produz menos ácido, enzimas e muco. Gastrites podem ser classificadas de várias maneiras: → Pela gravidade da lesão da mucosa, como gastrite erosiva ou gastrite não erosiva → Pelo local de envolvimento (i. e., cárdia, corpo, antro). → Histologicamente como aguda ou crônica (de acordo com o tipo de célula inflamatória) Nenhum sistema de classificação se correlaciona perfeitamente com a fisiopatologia; existe um alto grau de sobreposição. Algumas formas da gastrite envolvem doenças ácido-pépticas e doenças por H. pylori. Além disso, o termo é genericamente aplicado a desconforto abdominal não específico (e em geral não diagnosticado) e gastroenterite. A gastrite aguda é caracterizada por infiltrado leucocitário polimorfonuclear da mucosa do antro e do corpo gástrico. Gastrite crônica implica em algum grau de atrofia (com perda da função da mucosa) ou metaplasia. Com frequência, envolve o antro (com subsequente perda de células G e diminuição da produção de gastroina) ou o corpo (com perda das glândulas oxínticas, provocando produção reduzida de ácido, pepsina e fator intrínseco). Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Etiologia: Gastrite é a inflamação da mucosa gástrica causada por vários quadros, como infecção (Helicobacter pylori), medicamentos ou intoxicantes (AINE e bebidas alcoólicas), estresse e fenômenos autoimunes (gastrite atrófica). Muitos casos são assintomáticos, mas algumas vezes pode ocorrer dispepsia e sangramento gastrintestinal. Quadro 5 - Classificação das gastrites baseada em sua etiologia pelo Consenso de Quioto Gastrite autoimune Gastrite infecciosa ▪ Gastrite induzida pelo Hp ▪ Gastrite por H. heilmannii ▪ Gastrite por enterococo ▪ Gastrite por micobactéria ▪ Gastrite sifilítica secundária Gastrite flegmonosa Gastrite viral ▪ Gastrite enteroviral ▪ Gastrite por citomegalovírus Gastrite fúngica ▪ Por mucormicose ▪ Por candidíase ▪ Histoplasmose Gastrite parasitária ▪ Por criptosporídeo ▪ Por S. stercoralis ▪ Anisaquíase gástrica Gastrite por causas externas ▪ Doença induzida ▪ Alcoólica ▪ Por irradiação ▪ Gastrite química ▪ Gastrite por refluxo duodenal ▪ Gastrite por outras causas externas Gastrite por causas específicas ▪ Linfocítica ▪ Doença de Ménétrier ▪ Gastrite alérgica ▪ Gastrite eosinofílica Gastrite por outras doenças ▪ Gastrite por sarcoidose ▪ Gastrite por vasculite ▪ Gastrite por doença de Crohn Fatores de risco: Dieta inapropriada, tabagismo, alcoolismo, medicamentos e ingestão de substâncias corrosivas, estresse por traumas, procedimentos cirúrgicos, septicemia, insuficiência hepática, irradiação do estômago e infecções sistêmicas e também o H+. ▪ infecção por Helicobacter pylori ▪ uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) ▪ uso de álcool/ingestão de produtos tóxicos ▪ cirurgia gástrica prévia Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Fisiopatologia: O estômago funciona como um reservatório para receber os alimentos ingeridos. Enzimas salivares iniciam a digestão durante a mastigação, no entanto, o suco gástrico representa, propriamente, a capacidade digestiva. As principais funções do suco gástrico são desempenhadas por fator intrínseco (FI), íons hidrogênio (H+), pepsina, muco e água, que são secretados por células distintas, presentes na mucosa gástrica. O FI é imprescindível para absorção de vitamina B12, e o ácido clorídrico, para a digestão de proteínas, tanto por ação direta sobre estas como na conversão do pepsinogênio em pepsina, que também desempenha função digestiva proteica para que, posteriormente, haja hidrólise desses elementos pelas enzimas pancreáticas. Acrescente-se à importância da produção ácida sua capacidade de reduzir microrganismos que possam progredir aos intestinos. Produtos de proteção à mucosa são secretados contra o efeito danoso do ácido e de enzimas. O muco tem ação lubrificante e hidrofóbica, por seu conteúdo de glicoproteínas de mucina; os oligossacarídeos proporcionam características estruturais viscoelásticas à superfície gástrica. Junto ao bicarbonato (HCO3-) produzido e com capacidade de neutralização ácida mantendo a superfície da mucosa com pH próximo de 7, esses produtos formam a barreira mucosa, responsável pela proteção da mucosa contra a ação do ácido e de enzimas. Diversos elementos secretados pela mucosa gástrica relacionam-se na regulação das funções secretoras e motoras do estômago, particularmente a gastrina, a histamina e as prostaglandinas. Por mecanismo de feedback da acidificação antral, há inibição da produção de gastrinade forma que condições de gastrite atrófica ocasionam sua elevação, assim como são verificados aumentos em pacientes com úlcera gástrica e carcinoma gástrico, porém com aumentos significativos em gastrinomas e, também, na anemia perniciosa. Fatores importantes para preservação da resistência da mucosa incluem fluxo sanguíneo, produção de muco, secreção de bicarbonato, capacidade de renovação celular e protetores químicos, como gastrina, prostaglandinas e fator de crescimento epidérmico, e estão particularmente envolvidos nas lesões agudas da mucosa gástrica (Quadro 1). Quadro 1 – secreção gástrica: Produto Local Funções Ácido clorídrico Células parietais Hidrolise, esterilização de alimentos Fator intrínseco Células parietais Absorção da vitamina B12 Pepsinogênio Células parietais Digestão de proteínas Muco, bicarbonato Células da superfície mucosa Proteção gástrica Fatores trefoil Células da superfície mucosa Proteção gástrica Histamina Células enterocromafins Regulação da secreção gástrica Peptídeo liberador de gastrina (GRP) Nervos Regulação da secreção gástrica Acetilcolina (Ach) Nervos Regulação da secreção gástrica Somatostatina Células D Regulação da secreção gástrica Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Dentre os mecanismos envolvidos em situações de inflamação da mucosa e ulcerogênese, dois são pertinentes de distinção: 1. Secreção ácida, em que fenômenos bioquímicos exatos da produção ácida não estão completamente elucidados, porém a reação de formação desenvolve-se, simplificadamente, como nas equações a seguir. Assim, o íon H+ é bombeado ativamente através do lúmen, enquanto o bicarbonato difunde-se à corrente sanguínea, proporcionando ao sangue venoso gástrico um pH maior que o do sangue arterial durante a fase de secreção gástrica, para posterior catalisação pela anidrase carbônica. Embora a inibição dessa enzima reduza a produção de ácido, sua capacidade não é suficiente para interrompê-la. A maior parte do dióxido de carbono (CO2) produzido provém do metabolismo do organismo humano e é utilizado para neutralização da hidroxila (OH-), entretanto, em condições de secreção aumentada, pode haver utilização de CO2 sanguíneo para controle de sua produção. Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Transporte ativo do íon hidrogênio (H+) através da membrana é catalisado por H+, K+, ATPase e H+, enviado ao lúmen por troca por K+. Na célula, há acúmulo de K+ por Na+, K+ e ATPase na membrana basolateral, fazendo o K+ acumulado se movimentar por gradiente eletroquímico, transpassando as duas membranas de forma a reciclar o K+ luminal por H+, K+, ATPase, responsável pelo bombeamento do H+ do citoplasma para canalículos secretores por troca por K+, com estequiometria de 1:1, sendo, portanto, neutra. 2. A diferença de potencial elétrico entre sangue e mucosa oxíntica não ativada é de -70 a -80 milivolts (mV), responsabilizando-se primariamente pela secreção de cloreto (Cl-), assim como nas células epiteliais superficiais e nas células parietais. Ao estímulo secretório ácido, essa diferença de potencial reduz-se a -30 ou -40 mV, em decorrência da movimentação de H+ (carga positiva) ao Cl- (carga negativa). Dessa forma, para que haja gradiente elétrico, não deve haver passagem de íons e ácido através da mucosa, consistindo, portanto, em função de barreira mucosa. Nas situações em que há quebra dessa barreira, como acontece com substâncias como aspirina, bile, álcool ou outros agressores, surge redução de diferença de potencial pela passagem de íons e alterações dos gradientes eletroquímicos. A secreção de ácido e pepsina tem importante participação fisiopatológica na ocorrência de úlcera duodenal. Pacientes com esse tipo de úlcera têm, em média, 2 bilhões de células parietais com capacidade de secreção ácida próxima de 40 mEq H+/hora, que é o dobro dos indivíduos sem úlcera, semelhante ao que ocorre com secreção de pepsina. Pacientes com úlcera duodenal e com gastrina sérica de jejum em níveis normais apresentam maior sensibilidade de sua resposta às refeições, sugerindo-se menor eficiência de supressão do ácido à produção de gastrina, podendo tal efeito estar relacionado ao aumento de células parietais por ação trófica da gastrina. Uma significativa compreensão da fisiopatologia da inflamação crônica da mucosa gástrica e das úlceras gástrica e duodenal está relacionada à infecção pelo Helicobacter pylori, a qual está presente em aproximadamente 80% das úlceras duodenais e em praticamente 100% das úlceras gástricas não relacionadas aos anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) ou ao ácido acetilsalicílico. O H. pylori é uma bactéria Gram-negativa caracterizada por sua grande atividade de urease, responsável pela transformação de ureia em amônia, que neutraliza o ácido gástrico e permite sua colonização na mucosa do estômago. Da mesma forma, a produção de amônia responsabiliza-se pela citotoxicidade com dano epitelial direto e também pelo aumento da permeabilidade da mucosa, caracterizando a quebra da barreira gástrica. Fatores de ativação de plaquetas (PAF) e citocinas com capacidade de dano à mucosa são também produzidas pelo H. pylori. Na fisiopatologia da úlcera duodenal, há produção aumentada de ácido pelo H. pylori que, quando comparada aos indivíduos normais, demonstra aumento de: secreção ácida basal; peptídeo de liberação da gastrina (GRP); liberação máxima de ácido em resposta à gastrina; aumento da relação entre secreção basal de ácido e secreção máxima estimulada pela gastrina; e aumento do índice de secreção máxima pelo GRP. Nesses eventos, a ação do H. pylori é reforçada pela condição de que, ao ser erradicado, há normalização das alterações mencionadas, exceto o aumento de resposta secretória ácida após estímulo com gastrina. Sugere-se que o aumento da secreção ácida e da resposta da gastrina ao GRP em pessoas infectadas pelo H. pylori esteja relacionado à diminuição da inibição da liberação de gastrina e da secreção das células parietais por ação da somatostatina. Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Quadro clínico: Em geral, a gastrite é descrita como assintomática e silenciosa. Entretanto, podem surgir alguns sintomas inespecíficos, como dor em epigástrio que pode irradiar para tórax ou outras regiões abdominais, pirose, náuseas e vômitos. Dessa forma, o maior significado clínico da gastrite crônica por H. pylori é o risco de aparecimento de úlcera péptica e carcinoma gástrico. Gastrites agudas Diversas condições ou agentes infecciosos podem ocasionar alterações inflamatórias agudas da mucosa gástrica, comprometendo áreas esparsas ou difusas, como acontece em situações distintas como uso de anti-inflamatórios ou em situações de hipoperfusão do estômago. As gastrites agudas frequentemente são subdivididas como erosivas, com variantes superficiais a hemorrágicas, e não erosivas, principalmente nas ocasionadas por agentes infecciosos. Em virtude da falta de correlação entre sintomas característicos e a inflamação microscópica, muitas vezes, seu diagnóstico é efetuado durante procedimento endoscópico realizado em busca de outras patologias. A queixa mais comum é o desconforto na região epigástrica, embora sejam relatados sintomas como náusea, vômito, perda de apetite e, em condições com maior gravidade, sangramentos ou dor abdominal aguda, decorrente da necrose das paredes gástricas ou gastrites flegmonosas. Portanto, para o diagnóstico da inflamação aguda da mucosa, são necessárias informações precisas e a confirmação pelos achados histológicos de biópsias. Gastrites agudas podem ser causadas por inúmeros agressores, como medicamentos (principalmente anti-inflamatórios e ácidoacetilsalicílico), álcool, infecções (bacterianas, virais, fúngicas), hipoperfusão gástrica (choque hipovolêmico), radiação ou traumas mecânicos. Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Embora as gastrites agudas frequentemente tenham resolução espontânea, intercorrências como sangramento e desidratação por vômitos podem até mesmo ocasionar risco de morte, seja por insuficiência renal aguda ou gastrites flegmonosas, que alcançam índices de mortalidade próximos a 65%, mesmo quando esses pacientes recebem tratamento. Aspectos endoscópicos sugestivos incluem nodularidade da mucosa, espessamento de pregas, erosões com edema da mucosa e, do ponto de vista topográfico, predomínio na grande curvatura do estômago. A determinação etiológica da gastrite aguda realiza-se por anamnese adequada e exame histológico com técnicas de coloração apropriadas para as devidas suspeitas. Por exemplo, nas infecções pelo H. plyori, as mais frequentes causadoras de gastrites agudas, os métodos de coloração permitem sensibilidade e especificidade superiores a 90%. Gastrites hemorrágicas frequentemente demonstram erosão do epitélio, edema e hemorragia, com escassez de células inflamatórias, enquanto gastrites induzidas por quimioterapia apresentam-se com alterações epiteliais, redução de células mitóticas e pleomorfismo nuclear. Situações de inflamação por radiação, em período inicial, demonstram fragmentação dos núcleos das células agredidas (cariorrexe), eosinofilia no epitélio gástrico e, com sua progressão, edema, congestão e espessamento colagênico na submucosa. Com diagnósticos mais frequentes atualmente, a gastrite eosinofílica caracteriza-se pela abundância do infiltrado eosinofílico tanto na parede gástrica quanto intraepitelial. O princípio básico da terapêutica das gastrites agudas permanece sendo a retirada do fator causal, como descontinuação de medicamento causador ou expansão de volume nas situações de hipovolemia. Nas situações em que o agente causal é o H. pylori, enfatizando-se não ser diagnóstico comum nas gastrites agudas, a terapêutica apropriada para sua erradicação é a mais indicada, uma vez que sua persistência pode conduzir a patologias crônicas. Gastrites crônicas Por vários anos, as gastrites crônicas foram classificadas como superficial ou atrófica. Em 1989, durante o 9º Congresso Mundial de Gastroenterologia, propôs-se uma nova classificação para gastrites crônicas, denominada Classificação de Sydney, que se baseava em condições de flexibilidade em suas determinações, reconhecendo o H. pylori como principal fator causal9-11. Desde seu início, entretanto, surgiram divergências consubstanciadas por sua multifatoriedade e lacunas no conhecimento de características biológicas. A recomendação do sistema Sydney foi que o diagnóstico de gastrite deveria incluir informações concernentes a etiologia, histopatologia e seus aspectos endoscópicos (Figura 1). Entretanto, um dos robustos argumentos contrários à classificação foi o fato de que, embora a participação do H. pylori na inflamação crônica seja inquestionável em muitas de suas causas, não se trataria de agente etiológico único. Ainda, do ponto de vista histopatológico, discordou-se de atribuições de correlação entre os achados dos exames histológico e endoscópico nas gastrites denominadas não específicas11. Entidades inflamatórias bem definidas e adequadamente reconhecidas, como tuberculose, sarcoidose, gastrite eosinofílica, gastrite linfocítica e gastrite por refluxo, foram chamadas formas específicas de gastrites. Gastrites atróficas foram subdivididas em dois tipos: Associada à anemia perniciosa, limitada à mucosa oxíntica e relacionada a maior risco de neoplasia gástrica originada na mucosa metaplásica corpórea, com denominações de atrofia gástrica, atrofia de corpo, gastrite atrófica difusa, gastrite atrófica difusa de corpo (GDC), tipo A ou gastrite autoimune Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Figura 1 - Sistema Sydney. Graduação de intensidade: ausente, leve, moderada e grave Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Quadro 2 – classificação morfológica das gastrites crônicas Não atrófica Superficial (GS) Antral difusa (GAD) Atrófica Difusa de corpo (GDC) Multifocal (GAM) Gastrite atrófica multifocal ou tipo B, cuja caracterização não deveria ter anemia perniciosa simultaneamente e ser denominada como forma pura. Nessa forma, demonstrou-se, em estudo com 1.500 espécimes de autópsias, lesões focais de metaplasia acompanhadas por infiltrado inflamatório crônico, predominantemente nas porções média e distal da pequena curvatura, próximo à incisura angular. A dificuldade de classificação na forma atrófica ocorre em situações nas quais ambos os processos inflamatórios são concomitantes, em vista de condições de progressão, sendo, dessa forma, progressão dinâmica da atrofia. Há, também, argumentos contra o sistema Sydney quanto à consideração de que a inflamação de camadas da superfície seriam gastrites superficiais que se tornariam atróficas à medida que alcançassem camadas mais profundas da própria mucosa. Com tais considerações, buscou-se uma nova classificação que se baseasse em evidências de diferentes tipos de gastrites atróficas, gastrites crônicas de antro associadas a úlceras gástricas e duodenais, além da eventual coexistência das gastrites atróficas difusas de corpo e as multifocais. Assim, em 1994, 22 patologistas de diferentes países reuniram-se em Houston, Estados Unidos, para elaboração de consenso, enfatizando a diferença entre gastrites atróficas e não atróficas, divididas em três grupos, como: agudas, crônicas e especiais (Quadro 3). Quadro 3 – classificação de Houston Agudas Crônicas Não atróficas ▪ H. pylori ▪ Outros fatores Atróficas ▪ Autoimune ▪ Fatores ambientais ▪ Multifocal Especiais ▪ Químicas: bile, AINE ▪ Por irradiação Linfocíticas ▪ Idiopática, autoimune, drogas ▪ H. pylori, gluten Granulomatosa não infecciosa ▪ Doença de Crohn ▪ Sarcoidose Eosinofílica ▪ Alergia alimentar ▪ Outras drogas Infecciosas ▪ Bactérias (não H. pylori) ▪ Vírus ▪ Fungos e parasitas Recentemente, no Consenso Global de Quioto de 2015, proposições de classificação das gastrites e duodenites, bem como distinção entre dispepsia causada pelo H. pylori e dispepsia funcional, foram formuladas em 23 questões, avaliadas pelo método de Delphi com nível predefinido de 80%, para determinação diagnóstica apropriada para gastrites e recomendação de quem, quando e como tratar gastrite causada pelo H. pylori. Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Ressaltou-se que, embora frequentemente utilizada para descrever sintomas dispépticos, as gastrites referem-se a modificações estruturais e inflamatórias da mucosa que, na maioria das vezes, não ocasionam sintomas aos pacientes. Embora componentes inflamatórios estejam associados a doenças como úlcera péptica, câncer gástrico e anemia perniciosa, sua origem permanece pouco esclarecida, mesmo com reconhecimento do H. pylori como agente causal de gastrite, colaborando para a compreensão de sua patogenia e prognóstico. O H. pylori é, universalmente, a causa mais comum de gastrite crônica, predispondo a dano progressivo à mucosa e a patologias como úlcera duodenal, úlcera gástrica, adenocarcinoma gástrico e linfomas tipo MALT. Curso da infecção pelo H. pylori Diagnóstico: Uma boa anamnese e exame físico são importantes no diagnóstico de gastrites, bem como o exame histológico da mucosa, que é mandatório, nesse caso. Assim, é importante a realização de endoscopia com biópsia para a diferenciação de outras afecções gástricas. Além disso, podeser realizado teste para presença de Helicobacter pylori com anticorpos no soro, teste de antígeno nas fezes e teste respiratório com ureia marcada com carbono-13. Diagnósticos diferenciais: ▪ Úlcera péptica (UP) ▪ Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) ▪ Dispepsia não ulcerosa Descrever a semiologia do exame físico do abdome; A cavidade abdominal é dividida por quatro planos: dois horizontais e dois verticais, delimitando as seguintes regiões: ▪ Hipocôndrio direito (HCD): fígado, vesícula biliar, rim direito; ▪ Epigástrio: lobo esquerdo do fígado, piloro, duodeno, cólon transverso e cabeça e corpo do pâncreas; Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS ▪ Hipocôndrio esquerdo: baço, estômago, rim esquerdo, cauda do pâncreas; ▪ Flanco direito (ou região lateral): cólon ascendente, rim direito e jejuno; ▪ Mesogástrio (ou região umbilical): duodeno, jejuno, íleo, aorta abdominal, mesentério, linfonodos; ▪ Flanco esquerdo (ou região lateral): cólon descendente, jejuno, íleo; ▪ Fossa ilíaca direita (ou região inguinal): ceco, apêndice, ovário e tuba uterina direita; ▪ Hipogástrio: bexiga, útero, ureter; ▪ Fossa ilíaca esquerda (ou região inguinal): cólon sigmoide, ovário e tuba esquerda. A cavidade abdominal também pode ser divida em quatro quadrantes. A partir do plano mediano (vertical), seguindo o trajeto da linha alba e o plano transumbilical (horizontal) entre L3 e L4. A partir do exame físico minucioso e história clínica do paciente, é possível estabelecer suspeitas diagnósticas. Isso a depender da região acometida. Abaixo veremos passo a passo como realizar o exame físico do abdome. OBS: diferente do sistema cardiovascular e respiratório, a ausculta deve ser o primeiro elemento a ser avaliado após a inspeção. A explicação é que a palpação ou percussão do abdome pode alterar os movimentos peristálticos. Inspeção na semiologia abdominal Deve ser realizada com o paciente em decúbito dorsal com pernas estendidas. São observadas, forma, volume e alterações cutâneas do abdome. ▪ Forma: avaliar se há presença de assimetria, como pode ocorrer na hepatoesplenomegalia, hérnias de parede abdominal, neoplasias e obstruções. Globoso (panículo adiposo ou líquido ascítico), escavado (emagrecimento ou síndrome consuptiva), pendular (gravidez). Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS ▪ Abaulamentos: presença de massas abdominais, como neoplasias ou hérnia da parede abdominal. ▪ Retrações (depressões): bridas pós-cirúrgicas, caquexia. ▪ Circulação colateral: pode ser visível em caso de obstrução do sistema venoso porta (cabeça de medusa) ou veia cava. ▪ Ondas peristálticas: em geral não são observadas em indivíduos normais, mas pode estar presente quadros obstrutivos. ▪ Lesões cutâneas: sinal de Cullen e sinal de Turner, presentes na pancreatite aguda Ausculta abdominal Deve ser realizada nos quatro quadrantes de forma superficial para avaliar os ruídos hidroaéreos. Para avaliar alterações do fluxo aórtico (sopros ou aneurismas), aprofunda-se o estetoscópio ao longo do trajeto da aorta. Principais alterações a serem pesquisadas na ausculta: ▪ Presença de ruídos hidroaéreos (descrever intensidade ++++/IV); ▪ Peristaltismo de luta: obstrução; Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS ▪ Íleo paralítico: silêncio abdominal; ▪ Sopros: sugerem aneurismas e compressões arteriais. Palpação abdominal Palpação superficial: Avaliar sensibilidade, integridade anatômica e grau de distensão da parede abdominal. Os pacientes com dor abdominal devem ser solicitados a localizá-la. Só então inicia-se a palpação da área mais distante da região dolorosa, deixando esta por último. Deve ser feita com uma mão a 45 graus ou duas mãos superpostas. Pontos dolorosos: ▪ Epigástrico: sensível na úlcera péptica em atividade; ▪ Cístico: situa-se no ângulo formado pelo rebordo costal direito com a borda externa do músculo reto abdominal. Na interseção da linha hemi clavicular com o rebordo costal direito. Deve ser palpado em busca do Sinal de Murphy que pode estar presente na colecistite aguda. ▪ McBurney: união do terço externo com dois terços internos da linha que une a espinha ilíaca ântero-superior à cicatriz umbilical. Dor nessa região sugere apendicite aguda. O Sinal de Blumberg, dor a descompressão, pode ser pesquisado na palpação profunda. Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Palpação profunda Tem como objetivo palpar órgãos abdominais em busca de visceromegalias e tumorações. ▪ Palpação do fígado: o método mais utilizado na prática é o de Lemos Torres. Em que o examinador com a mão esquerda na região lombar direita do paciente. Tenta evidenciar o fígado para frente e com a mão direita espalmada sobre a parede anterior. Tenta palpar a borda hepática anterior durante a inspiração profunda. Deve ser avaliado a borda hepática, se tem borda fina ou romba; regularidade da superfície, sensibilidade, consistência, presença de nodulações. ▪ Palpação do baço: normalmente não é palpável, exceto quando atinge duas ou três vezes seu tamanho normal. Para palpá-lo, o examinador posiciona-se à direita do paciente e com a mão direita em garra tenta sentir o polo esplênico inferior durante a inspiração profunda próximo ao rebordo costal esquerdo. Percussão na semiologia abdominal A partir da percussão é possível identificar presença de ar livre, líquidos e massas intra-abdominais. A técnica é digito-digital, em que o examinador posiciona uma das mãos sobre o abdome e percute com o dedo indicador. ▪ Som normal: maciço (baço e fígado), timpânico (vísceras ocas); ▪ Percussão normal: macicez hepática no hipocôndrio direito; timpanismo no espaço de Traube, timpanismo nas demais regiões. ▪ Massas abdominais sólidas ou líquidas (ascite) são maciços. ▪ Timpanismo generalizado pode indicar obstrução Algumas manobras são fundamentais para avaliar o paciente com suspeita de ascite, que é o acúmulo de líquido na cavidade peritoneal. Essa avaliação baseia-se justamente na percussão como veremos nas duas principais manobras abaixo: Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS ▪ Macicez móvel: ocorre em casos de ascite de médio volume. Quando o paciente está em decúbito dorsal o líquido acumula-se na região lateral do abdome, revelando timpanismo na região anterior, quando o paciente posiciona-se em decúbito lateral, o líquido desloca-se para o mesmo lado, onde fica maciço e a região acima fica timpânica. ▪ Semi-círculo de Skoda: com o paciente em decúbito dorsal percute-se a regiçao periumbilical do meio para as extremidades. Em casos de ascite, observa-se alteração do timpanismo. ▪ Sinal de Giordano: punho-percussão das lojas renais. Se o paciente sentir dor, é positivo e pode indicar pielonefrite aguda. ▪ Sinal de Jobert: percussão do hipocôndrio direito com detecção de timpanismo. É indicativo de pneumoperitôneo (ar na cavidade abdominal). ▪ Sinal de Corvoisier-Terrier: vesícula biliar palpável. Pode ser indicativo de neoplasia Descrição de exame do abdome normal: ABDOME: plano, sem lesões de pele, cicatrizes, circulação colateral, retrações ou abaulamentos. Peristalse não identificável à inspeção. Ruídos hidroaéreos presentes nos quatros quadrantes (+/IV). Ausência de timpanismo difuso e macicez em flancos. Traube livre. Fígado e baço não palpáveis. Abdome indolor à palpação profunda e superficial. Conhecer o tratamento farmacológico e não-farmacológico para a gastrite (Conhecer o mecanismo de ação do IBP e do antiácido); Não farmacológico: mudanças de hábitos de vida, mudança na dieta Farmacológico: medicamentos que busquem reduzira acidez do estomago. Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS ▪ Antiácidos o Hidróxido de magnésio, o Trissilicato de magnésio, o Hidróxido de alumínio; o Carbonato de cálcio, o Bicarbonato de sódio. ▪ Anti-secretoras de ácido gástrico o Anti-histamínicos H2 ▪ Cimetidina ▪ Ranitidina ▪ Famotidina o Antimuscarinicos ▪ Pirenzepina ▪ Telenzepina o IBPs ▪ Omeprazol, panto- , lanzo-, rabe- esome o Antidepressivos tricíclicos ▪ Agentes protetores da mucosa o Sucralfato ou sulfato de alumínio de sacarose o Bismuto coloidal - Pode estimular produção de muco e PGE2 ▪ Carbenoxolona o Análogo das prostaglandinas ▪ Misoprostol Mecanismo de ação do IBP: ▪ Omeprazol, panto- , lanzo-, rabe- esome No lúmen estomacal a liberação de ácido clorídrico é feita através da enzima H+/K+-ATPase (bomba de prótons), que fica localizada nos canalículos das células parietais. Para que essa enzima seja ativada, depende de três estímulos principais: histamina, gastrina e acetilcolina. O mecanismo de ação dos inibidores da bomba de prótons acontece por meio da inibição da enzima H+/K+-ATPase, fazendo com que ocorra o bloqueio da secreção ácida do estômago, impedindo a troca de H+ e K+, já que a produção ácida ocorre por meio dessa troca. Assim, aumentam o pH do suco gástrico, sendo assim se diferenciam no tratamento de doenças gástricas justamente por inibir o último passo da produção de ácido clorídrico. Ademais, para que ocorra a inibição da enzima H+/K+-ATPase, esse fármaco funde-se com o receptor da enzima por meio de uma ligação covalente com os resíduos de cisteína, fazendo com que a bomba de prótons não se regenere, assim a produção de ácido será garantida somente após a síntese de uma nova enzima. Por cerca de 24 a 48 horas essa inibição irreversível atua com ação localizada. ▪ Eficaz por via oral; ▪ Rápida absorção; ▪ Biodisponibilidade 60-80%; ▪ Início de efeito em 1h, pico em 2h; ▪ BIOTRANSFORMAÇÃO hepática. Há polimorfismo genético (CYP2C19) = metabolizadores lentos e rápidos; ▪ Meia vida de poucas horas no plasma, duração mais longa em razão da fixação covalente à enzima H+/K+-ATPase; ▪ Inibem a secreção tanto em jejum como também estimulada por uma refeição; ▪ Inibem 90 a 98% da secreção de ácido em 24hrs; ▪ Efeitos adversos mais comuns: náuseas, tonteira, constipação, prurido, diarreia, dor abdominal e cefaleia. Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Mecanismo de ação dos antiácidos: ▪ Hidróxido de magnésio, ▪ Trissilicato de magnésio, ▪ Hidróxido de alumínio; ▪ Carbonato de cálcio, ▪ Bicarbonato de sódio. Aumento da secreção de bicarbonato e muco, aumento da produção e liberação de prostaglandinas e manutenção da microcirculação. Quando o poder de neutralização ácida é suficiente (pH>4), tanto a liberação de pepsina quanto a de gastrina é reduzida ▪ Neutralizam o HCl → aumentam pH → inibem a atividade da pepsina (no pH 5). ▪ Adsorvem a pepsina Efeitos colaterais: constipação, diarreia. Relacionar a infecção da H. pylori com a gastrite; O H. pylori é uma bactéria espiralada, Gram -, em forma de bastonete, com 3-5 mm de comprimento e 0,5 a 1 mm de largura. Possui potente atividade ureásica, sugerindo a presença dessa enzima pré-formada. Admite-se que o ser humano é o único reservatório natural da bactéria, mas estudos apontam achados de colônias em gatos domésticos. O H. pylori é adaptado para colonizar apenas a mucosa gástrica, sendo raramente observado em áreas de metaplasia intestinal. Quando é observado em outros sítios, como esôfago e duodeno, está localizado nas áreas de metaplasia gástrica ou em áreas de mucosa gástrica ectópica. Em crianças e adultos, normalmente localiza- se na mucosa antral, mas pode estar presente no corpo e na cárdia. Ao chegar ao estômago, a bactéria hidrolisa a ureia, por meio da urease, produzindo amônia e CO2. A amônia funciona como um tampão para os íons de Hidrogênio, criando um ambiente com pH ótimo para a sua sobrevivência. Com a ajuda dos flagelos, que lhe proporcionam uma locomoção helicoidal, a bactéria penetra na barreira mucosa, atinge as proximidades do epitélio gástrico e adere-se às células epiteliais, por meio das adesinas. Então, localiza-se no muco, em contato direto com as células epiteliais ou mesmo dentro dos espaços intracelulares (onde há alta concentração de substâncias nutritivas, pH alto e baixo nível de O2, o que favorece sua reprodução e sua atividade. Quanto à epidemiologia o H. pylori tem distribuição universal, apresentando prevalência global superior a 50%. Nos países em desenvolvimento, observam-se taxas mais altas de prevalência e a contaminação ocorre em idades mais precoces, pois as condições de saneamento básico precário são favoráveis a disseminação da bactéria. São também fatores de risco para as altas taxas de infecção pelo H. pylori a baixa condição socioeconômica, falta de higiene, situações de promiscuidade e famílias populosas vivendo na mesma casa. A incidência e a prevalência variam muito dentro e entre os países. No Brasil, estima-se que a prevalência seja a seguinte: 6 a 8 anos: 30%, 10 a 19 anos: 78%, adultos: 82%. Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Figura 7- Mecanismos de patogenicidade do H. pylori. A ingestão do H. pylori e a subsequente colonização gástrica podem induzir a inflamação da mucosa do estômago e diferentes lesões orgânicas, tais como, gastrite crônica, úlcera péptica e câncer gástrico. Os fatores determinantes da evolução incluem os relacionados ao hospedeiro, ao ambiente, aos mecanismos de virulência da bactéria e a intensidade e o local da inflamação. O H. pylori induz, tanto em adultos quanto em crianças infectadas, a produção de um infiltrado neutrofílico agudo, seguido de gastrite crônica, geralmente assintomática, sem úlceras, a qual permanece presente na duração da infecção. A infecção aguda pode causar dor epigástrica, náusea, vômitos, halitose e cefaleia. Como consequência precoce da infecção aguda ocorre aumento da secreção ácida gástrica, seguida de acloridria em aproximadamente 1 semana e que pode durar 6 semanas ou mais. A diminuição da secreção ácida gástrica parece estar relacionada ao tempo e ao grau de inflamação da mucosa gástrica. Infecção crônica: Alguns estudos mostram que a infecção aguda por H. pylori em crianças tendem a desaparecer espontaneamente, o que oposto ao que costuma ocorrer nos adultos. A gastrite crônica é diagnosticada com maior frequência que a aguda. A localização da lesão tem predomínio na região antral, o que acarreta maior risco de úlcera péptica duodenal. Um menor número de pacientes pode desenvolver gastrite atrófica com metaplasia intestinal, o que representa risco posterior de desenvolvimento de úlcera e adenocarcinomas gástricos. Diversos trabalhos mostram uma prevalência muito variada de gastrite atrófica (4 a 72%), dependendo da metodologia utilizada e da população avaliada. Gastrite crônica assintomática não é indicação para erradicação da bactéria para a maioria dos consensos, mas a gastrite atrófica é considerada indicação relativa. Diagnóstico: A Endoscopia Digestiva Alta (EDA) com biópsia para estudo histopatológico é indicada para avaliação da criança com suspeita de doença péptica gastroduodenal e possibilita tanto a pesquisa de H. pylori como o diagnóstico de doenças gastroduodenais. A pesquisa de H. pylori pelo estudo histopatológico é um método de alta sensibilidade e especificidade. A bactéria pode ser evidenciada Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS pela coloração hematoxilina-eosina, mas nos casos de baixa densidade bacteriana a coloração Giemsa modificada ou a imuno-histoquímicasão mais indicadas. A EDA com biópsia e avaliação histopatológica tem sido considerada, por muitos autores, como o padrão-ouro para a pesquisa do H. pylori, apesar da desvantagem do alto custo e da necessidade de sedação ou anestesia geral. Como a distribuição do H. pylori não ocorre de maneira homogênea na mucosa, recomenda-se a retirada de pelo menos 4 fragmentos: 2 do corpo e 2 do antro. As amostras do antro, local onde a bactéria geralmente é encontrada em maior densidade e frequência, devem ser retiradas da região pré-pilórica, 2 a 3 cm do piloro (uma na grande e outra na pequena curvatura). Para evitar resultados falso-negativos, recomenda-se realizar o teste para pesquisa de H. pylori no mínimo 2 semanas após a interrupção do tratamento com inibidores da bomba de próton (IBP) e 4 semanas após a interrupção dos antibióticos ou tratamento para erradicação do H. pylori. As figuras 8-9 e 10 demonstram a lesão macroscópica e os achados do microrganismo no exame histopatológico. Cultura: A cultura do material da biópsia gástrica, possibilita o diagnóstico da infecção, o estudo da sensibilidade da bactéria aos antimicrobianos, a escolha correta das medicações a serem utilizadas e a presença de fatores de virulência. Além disso, tem também a vantagem de permitir a realização do antibiograma, útil principalmente nos casos de fracasso terapêutico. A sensibilidade deste método varia de 77 a 100%. Para se obter o sucesso no isolamento da bactéria, deve-se avaliar pelo menos 2 fragmentos (1 de corpo e 1 de antro). A desvantagem deste teste é seu alto custo, portanto, deve ser reservado aos grupos de pesquisa e na suspeita de resistência às drogas. Teste da urease: A urease pré-formada pelo H. pylori encontra-se presente no material da biópsia gástrica e hidrolisa a ureia contida no reativo, produzindo amônia e alcalinizando o meio. A alcalinização é percebida por um indicador de pH, que altera a cor da solução de amarelo para cor- de-rosa ou vermelho. O teste é considerado positivo no caso de o gel tornar-se vermelho na leitura realizada 24 horas após o exame, porém, mudanças de cor mais tardias podem resultar falso- Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS positivos. A eficácia do teste depende do número de tecidos testados, dos sítios das biópsias, da carga bacteriana, da presença de sangramento e do uso prévio de antibióticos ou IBP. Novas técnicas diagnósticas: A EDA com magnificação apresenta boa sensibilidade e especificidade; a EDA com luz branca e autofluorescência é utilizada para identificar áreas da mucosa gástrica normal (como na gastrite atrófica), auxiliando na escolha do local a ser biopsiado. A Espectroscopia infravermelha de Raman, que é uma técnica vibracional espectroscópica, quando adaptada à endoscopia, detectou a presença de H. pylori com sensibilidade e especificidade em torno de 80%. Definir o tratamento da H. pylori. Ao início, foram utilizados como padrão esquemas de tratamentos de 7 dias com utilização de inibidor de bomba de prótons (IBP) em suas dosagens plenas, 2 vezes/dia, amoxicilina 1 g a cada 12 horas e claritromicina 500 mg a cada 12 horas. Pacientes que relatavam alergia a penicilina tinham substituição da amoxicilina pelo metronidazol, e naqueles com resistência à claritromicina, ou mesmo alérgicos à penicilina, a proposta terapêutica era utilização de tetraciclina, metronidazol, sal de bismuto e IBP em regimes de 10 dias. Com o tempo, o índice de resistência a alguns desses medicamentos, particularmente metronidazol e claritromicina, ultrapassaram taxas que permitiam sua utilização (Tabela 1) Tabela 1 – índices de resistência do H. pylori a antimicrobianos nos últimos 15 anos Metronidazol 20 a 40% Claritromicina 1 a 8 % → 16 a 24% Tetraciclina < 1% Amoxicilina 1 a 3% A gastrite por H. pylori é uma doença infecciosa, independentemente de sintomas e/ou complicações (evidência 1B, grau de recomendação A). Estratégia de teste e tratamento é adequada para dispepsia não investigada, na dependência de prevalência regional da infecção e considerações sobre custo-benefício (evidência alta; grau de recomendação forte). As taxas de resistência do H. pylori aos antimicrobianos estão aumentando na maioria dos países do mundo (evidência moderada; grau de recomendação forte). Assim, foram propostas terapêuticas baseadas em percentuais de resistência aos antimicrobianos comumente utilizados (Figura 3), com decisões de que qualquer esquema terapêutico deve ser de 14 dias, com número necessário para tratar (NNT) variando de 3 a 12, visto que os tratamentos anteriormente recomendados (de 7 a 10 dias) apresentavam insucesso de até 50% na erradicação, enquanto 14 dias de utilização dos esquemas permitiriam índices de erradicação próximos a 95%. Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Figura 3 – algoritmo para tratamento de primeira linha Figura 4 – algoritmo para tratamento de segunda linha Casos sem sucesso na terapêutica inicial deveriam ser submetidos a tratamentos distintos, denominados de segunda linha, e com substituições relacionadas ao tratamento anterior (Figura 4). Na mesma época, consenso realizado em Toronto relacionado ao tratamento da infecção por H. pylori em adultos manteve a proposta de tratamento pelo período de 14 dias com as denominadas opções recomendadas e restritas, primeira linha e alternativas para insucesso do tratamento anteriormente realizado (Quadros 6 e 7) Recomendação Esquemas Definição Primeira linha Opção recomendada Quádruplo com bismuto IBP + bismuto + metronidazol + tetraciclina Opção recomendada Quádruplo concomitante sem bismuto IBP + amoxicilina + metronidazol + claritromicina Opção restrita* Tripla com IBP IBP + amoxicilina + claritromicina IBP + metronidazol + claritromicina IBP + amoxicilina seguida por IBP + metronidazol + claritromicina Não recomendado Triplo com levofloxacino IBP + amoxicilina + levofloxacino Não recomendado Quádruplo sem bismuto, sequencial IBP + amoxicilina seguida por IBP + metronidazol + claritromicina Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | P5 Mt2 Pr1 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS Indicações de tratamento conforme consensos e diretrizes: Consenso Brasileiro: Úlcera duodenal: ativa ou cicatrizada Linfoma MALT de baixo grau Pós-cirurgia para câncer gástrico avançado, em pacientes submetidos a gastrectomia parcial Gastrite com histologia intensa Outras situações: ▪ Pacientes de risco para úlcera/complicações que utilizam anti-inflamatórios não esteroides. ▪ Pacientes com história prévia de úlcera ou hemorragia digestiva alta que deverão usar AINE inibidores específicos ou não da COX2. ▪ Indivíduos de risco para câncer gástrico Referencias: A gastroenterologia no século XXI – manual do residente da federação brasileira de gastroenterologia Tratado de gastroenterologia da graduação à pós-graduação – 2ª edição, 2016. Schlioma Zaterka, Jaime Natan Eisig. Semiologia Médica – Celmo Celeno Porto – 7ª Edição. 2013. Editora Guanabara Koogan. https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/816 https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/gastrite-e-%C3%BAlcera- p%C3%A9ptica/gastrite https://farmacoclinica.uff.br/wp-content/uploads/sites/237/2020/08/10-Farmacologia-do-aparelho- digest%C3%B3rio-2.2-Doen%C3%A7a-%C3%A1cido-peptica.pdf https://www.scielo.br/j/abcd/a/Zt8N6kYWnPfCHbJf6DzZzyc/?lang=pt#:~:text=Ao%20todo%2C%20 os%20fatores%20etiol%C3%B3gicos,sist%C3%AAmicas%20e%20tamb%C3%A9m%20o%20H. https://www.sanarmed.com/resumo-dos-inibidores-da-bomba-de-protons-ligas https://www.igastroped.com.br/gastrites/ https://hepatogastro.com.br/quais-os-sintomas-e-o-tratamento-da-gastrite/ https://www.sanarmed.com/resumo-gastrite-cronicahttps://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/816 https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/gastrite-e-%C3%BAlcera-p%C3%A9ptica/gastrite https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/gastrite-e-%C3%BAlcera-p%C3%A9ptica/gastrite https://farmacoclinica.uff.br/wp-content/uploads/sites/237/2020/08/10-Farmacologia-do-aparelho-digest%C3%B3rio-2.2-Doen%C3%A7a-%C3%A1cido-peptica.pdf https://farmacoclinica.uff.br/wp-content/uploads/sites/237/2020/08/10-Farmacologia-do-aparelho-digest%C3%B3rio-2.2-Doen%C3%A7a-%C3%A1cido-peptica.pdf https://www.scielo.br/j/abcd/a/Zt8N6kYWnPfCHbJf6DzZzyc/?lang=pt#:~:text=Ao%20todo%2C%20os%20fatores%20etiol%C3%B3gicos,sist%C3%AAmicas%20e%20tamb%C3%A9m%20o%20H https://www.scielo.br/j/abcd/a/Zt8N6kYWnPfCHbJf6DzZzyc/?lang=pt#:~:text=Ao%20todo%2C%20os%20fatores%20etiol%C3%B3gicos,sist%C3%AAmicas%20e%20tamb%C3%A9m%20o%20H https://www.sanarmed.com/resumo-dos-inibidores-da-bomba-de-protons-ligas https://www.igastroped.com.br/gastrites/ https://hepatogastro.com.br/quais-os-sintomas-e-o-tratamento-da-gastrite/ https://www.sanarmed.com/resumo-gastrite-cronica
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