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1 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 Morfofisiologia ESÔFAGO • Mucosa; ❖ Epitélio: pavimentoso estratificado não queratinizado, células de Langerhans (apresentadoras de antígenos); ❖ Lâmina própria: glândulas cárdicas esofágicas (produzem o muco que cobre o revestimento do esôfago), ocasionais nódulos linfóides; • Submucosa: tecido conjuntivo fibroelástico, contém glândulas esofágicas propriamente ditas que possuem 2 tipos de células secretórias – células mucosas e serosas que têm grânulos de secreção com proenzimas pepsinogênio e agente antimicrobiano lisozima. • Túnica muscular externa e adventícia: terço superior do esôfago possui essencialmente músculo esquelético, o médio, esquelético e liso, e o inferior liso. Possui também o plexo de Auerbach. ESTÔMAG O • Todas as regiões gástricas apresentam rugas, pregas da mucosa e submucosa, que desaparecem quando o estômago está distendido; • O revestimento epitelial invagina-se formando as fossetas gástricas que se aprofundam da cárdia para o piloro; • Cada fosseta possui glândulas gástricas situadas na lâmina própria; Região fúndica: ❖ Epitélio: Simples cilíndrico, composto por células de revestimento superficial produtoras de um muco visível espesso e têm íons bicarbonato que são capazes de manter o pH relativamente neutro próximo às células que revestem a superfície, protegendo-o da autodigestão; ❖ Lâmina própria: Tecido conjuntivo frouxo altamente vascularizado que possui rica população de plasmócitos, mastócitos, fibroblastos e ocasionais células musculares; Glândulas fúndicas: ❖ Células mucosas do colo: produzem muco solúvel que serve para lubrificar o conteúdo gástrico e secretam lisozimas (bactericida); ❖ Células regeneradoras (células-tronco): proliferam-se para substituir todas as células especializadas que revestem as glândulas fúndicas, as fossetas gástricas e a superfície luminal. Possuem alta taxa de proliferação, substituem as células a cada 5-7 dias; ❖ Células parietais (oxínticas): produzem o ácido hidroclorídrico (HCl) e o fator intrínseco gástrico (FIG); OBS.: FIG é necessário para absorção do vit B12 pelo íleo. A sua ausência leva a deficiência de B12 e a anemia perniciosa. • Células principais (ou zimogênicas): possuem grânulos de secreção contendo a proenzima pepsinogênio (assim como renina e lipase gástrica). A exocitose do pepsinogênio pelas células principais é induzida por estímulos principalmente nervosos do nervo vago, mas também hormonal, pela secretina; • Células do SNED: células enteroendócrinas que secretam substâncias semelhantes a hormônios com função endócrina, parácrina e neurócrina. Região cárdica: possuem fossetas gástricas mais raras e as glândulas cárdicas só não possuem a células principais (pepsinogênio); Histofisiologia do estômago: as glândulas gástricas produzem 2-3L de suco gástrico por dia composto por: água; HCl e FIG; pepsinogênio, renina e lipase gástrica; muco visível e muco solúvel. Uma pequena parte dos produtos é absorvida no estômago. Aqui se forma o quimo. Esvaziamento do conteúdo gástrico: no estômago vazio, o piloro está sempre aberto, mas durante a peristalse, o esfíncter pilórico é fechado. A frequência na qual o estômago libera o quimo para o duodeno depende da acidez, do conteúdo calórico e gorduroso e da osmolaridade do quimo. Receptores no duodeno fecham o piloro assim que o quimo chega. ▪ Fatores que facilitam o esvaziamento gástrico: grau de distensão e a ação da gastrina (estimula o relaxamento do esfíncter pilórico). Síndrome dispéptica 2 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 ▪ Fatores que inibem o esvaziamento: distensão do duodeno, excesso de gordura, proteínas ou carboidratos e o aumento da osmolaridade e acidez excessiva do quimo no duodeno. Liberam a colecistoquinina que estimula a liberação de peptídeo inibidor gástrico, que também inibe as contrações gástricas. Produção do HCL O HCl quebra o alimento, transforma pepsinogênio na molécula ativa de pepsina e deixa o pH ácido, ótimo para a ação da pepsina. Fases da secreção: • Fase cefálica: secreção causada por estímulo psicológico é induzida por impulsos parassimpáticos trazidos pelo nervo vago, causando a liberação de acetilcolina. • Fase gástrica: resulta da presença de certos alimentos, da distensão da sua parede (gastrina, histamina, acetilcolina). • Fase intestinal: resulta da presença de alimento no ID (gastrina). Mecanismo: 1. Anidrase carbônica: transforma água e dióxido de carbono em ácido carbônico (H2O + CO2 → H2Co3), que se dissocia em H+ e bicarbonato (H2Co3 → H+ e HCo3) dentro da parietal; 2. H+, K+-ATPase: bombeia o H+ de dentro para fora da célula enquanto joga K+ no sentido contrário. 3. Proteínas carreadoras: bombeiam K+ e Cl- para fora da célula, onde o Cl- vai se associar ao H+ e formar HCl. 4. K+ é ativamente levado para dentro da célula. Sua alta concentração intracelular força o K+ a sair da célula por canais iônicos, isso faz com que K+ fique constantemente recirculando. Prostaglandinas não só protegem as células de revestimento, mas também aumentam a circulação local, especialmente quando a barreia epitelial está comprometida. Inibição da liberação do ácido clorídrico: somatostatina, prostaglandinas e GIP, além da urogastrona (duodeno). Definição • É um conjunto de sintomas localizados na porção superior do abdome; • Sensação de distensão abdominal, saciedade precoce, plenitude pós-prandial, epigastralgia em queimação, desconforto abdominal, eructação, náuseas e vômitos; • A dispepsia é uma dor epigástrica predominante com duração de pelo menos 1 mês, que pode estar associada a qualquer outro sintoma do TGI superior. Epidemiologia • 25% a 30% da população mundial apresenta sintomas dispépticos; • Fatores de risco: sexo feminino, idade crescente (pequeno declínio com a idade - USP), diminuição do grau de urbanização, infecção por H. pylori, uso de AINEs, baixo nível educacional e ser casado; • Curiosamente, fumar é apenas levemente associado à dispepsia e álcool e café não estão associados; • Grande impacto na qualidade de vida e na economia pessoal e social. Etiologia Pode ser causada tanto por transtornos orgânicos como por alterações funcionais. Mais da metade dos pacientes têm dispepsia funcional, sem causa orgânica. A outra metade tem como principais causas a DRGE, a Doença ulcerosa péptica e neoplasias. As causas orgânicas são divididas em pépticas, não- pépticas, biliopancreáticas e sistêmicas: ❖ DUP (Doença Ulcerosa Péptica): cerca de 10% dos pacientes com dispepsia. Principais fatores para DUP são a H. pylori (90% - duodeno, 70% - estômago) e AINEs (principalmente se: história prévia de úlcera, > 75 anos, uso prolongado e associado à corticoterapia ou anticoagulante orais...). ❖ DRGE (Doença do Refluxo Gastroesofágico): 20% dos pacientes tinham DRGE sem alteração endoscópica e 20% tinham esofagite de refluxo, assim o diagnóstico diferencial difícil. Os sintomas clássicos de DRGE são regurgitação e pirose e atípicos são tosse crônica, otite e laringite de repetição. 3 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 ❖ Intolerância alimentar: a ingestão de alimentos de uma maneira geral pode desencadear sintomas dispépticos devido à hipersensibilidade gástrica e intestinal, esvaziamento gástrico acelerado ou retardado, secreção aumentada/sensível de peptídeos gastrintestinais, dentre outros. ❖ Neoplasias gástricas e esofágicas: risco associado à dispepsia muito baixo. Incidência de neoplasias de estômago: cirurgias prévias, H. pylori, história familiar. De esôfago: homens, tabagismo e etilismo. Sinais e sintomas: > 55 anos, vômitos frequentes,sangramentos gastrintestinais, anemia ferropriva, disfagia, emagrecimento não explicável e massa abdominais palpáveis. 95% das neoplasias se tornam sintomáticas quando avançadas. ❖ Doenças gastrintestinais não pépticas: sintomas dispépticos são comuns em infecções, afecções inflamatórias e infiltrativas. A distinção entre gastroparesia idiopática e dispepsia funcional não está muito bem definida. ❖ Doença do sistema biliopancreático: colelitíase é fácil de distinguir da dispepsia. Já afecções pancreáticas podem se confundir já que têm sintomas em comum, porém há sintomas que não estão presentes na dispepsia: dor mais intensa e frequentemente acompanhada de anorexia, perda de peso rápida, icterícia, dentre outros. ❖ Doença sistêmica e medicamentos: insuficiência coronariana, DM, insuficiência renal, doença da tireoide, adrenal e paratireoide. AINEs, AAS, corticoides e ATBs. ❖ Dispepsia funcional: 11-24%. A fisiopatologia ainda não está clara. Mais comum em mulheres, tabagistas, etilistas, usuários de AAS e história prévia de gastroenterites agudas. Dispepsia funcional Roma IV: 1 ou mais de sensação incômoda de plenitude pós-prandial, saciedade precoce, dor epigástrica e queimação epigástrica inexplicáveis pela avaliação clínica e sem doença orgânica diagnosticada por EDA. Estes devem existir por pelo menos 3 meses ininterruptos e terem iniciado há pelo menos 6 meses. Pode ser dividida em síndrome pós-prandial (induzida por refeição) e síndrome da dor epigástrica (pode ocorrer em jejum e melhorar com refeição). Dispepsia não investigada: o paciente não é submetido a exames que comprovem alterações orgânicas; Dispepsia investigada: foram pesquisadas doenças orgânicas, nos casos que não houveram achados foram classificados como dispepsia funcional. Fisiopatologia Alterações na motilidade gastrintestinais: A plenitude pós-prandial, náuseas e vômitos parecem ser mais frequentes nos pacientes com o esvaziamento retardado do estômago. Já a alteração na acomodação gástrica está presente em 40% dos dispépticos, é controlada pelo reflexo vago-vagal e é desencadeado pela ingesta de alimento e distensão da parede gástrica. Hipersensibilidade visceral: um dos principais mecanismos fisiopatológicos da dispepsia, estando presente em 50% dos casos. Causada por redução do limiar de percepção de estímulos viscerais. Gerada por substâncias químicas, por exemplo. Fatores genéticos: parentes de primeiro grau, história positiva para má digestão. H. pylori: A dispepsia funcional tem maior incidência em pacientes com história de gastroenterites infecciosas agudas, provavelmente devido a persistência de uma leve inflamação com presença de CD8 e macrófagos. Ela é uma bactéria gram-negativa que tem uma grande afinidade pelas células da mucosa gástrica e a infecção crônica desse microrganismo leva a inibição das células D (produzem somatostatina). Se não tem somatostatina para reduzir a secreção de ácido clorídrico, o paciente começa a fazer um quadro de hipergastrinemia, o que provoca hipercloridria e isso desestrutura o aparato de proteção do estômago e do duodeno que pode culminar em ulcerações. OBS.: Há a tendência mundial em tratar o H. pylori em pacientes com dispepsia funcional. Fatores psicossociais: Há clara associação entre fatores psicossociais e dispepsia funcional, principalmente transtornos de ansiedade, depressivos 4 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 e somatoformes. Nesses pacientes os sintomas dispépticos são mais intensos. Traumas e estresses podem causar alterações irreversíveis no sistema de resposta ao estresse gerando, dessa maneira, disfunção no sistema nervoso autonômico, especificamente redução do tônus vagal e alteração na via aferente da dor com consequências na percepção dos estímulos pelo SNC e na modulação dessas informações. Mas ainda não há garantia de que esses transtornos tenham papel real na fisiopatologia da dispepsia funcional. Diagnóstico Anamnese e exame físico • O diagnóstico de dispepsia funcional depende de dados da história clínica do paciente. Presença de sintomas na região gastroduodenal na ausência de qualquer doença orgânica, sistêmica ou metabólica que expliquem o quadro; • Pesquisar uso de medicamentos que possam causar os sintomas, suspende-los se possível, caso não, instituir terapia antissecretória; • Pesquisar sinais de alarme para dispepsia: Dispepsia de início recente em indivíduos com Idade acima de 55 anos; História familiar de câncer gastrointestinal superior; Perda de peso não intencional; Sangramento gastrointestinal; Disfagia progressiva; Odinofagia; Anemia ferropriva sem causa definida; Vômitos persistentes; Massa abdominal palpável ou linfadenopatia; Icterícia. • Pesquisar indícios de distúrbios psicológicos que indicaria terapia específica que auxiliaria no tratamento da dispepsia; • O exame físico geralmente é normal; • Mucosas hipocoradas e massas abdominais podem ser indício de doença orgânica; • Perguntar sobre história familiar e social do paciente. Exames laboratoriais • Solicitados se alteração no exame físico sugestiva de causa orgânica e se sinais de alarme; • Hemograma completo, eletrólitos, avaliação hepática e estudos de função tireoidiana devem ser considerados. Nível de amilase, exame de fezes para ovos e parasitas e teste de gravidez são solicitados quando necessário. • De acordo com os dados epidemiológicos do paciente, está indicado exame parasitológico ou uso empírico de antiparasitários. EDA • Deve ser solicitada nos casos de suspeita de doenças orgânicas; • Está indicada para pacientes < 40 anos que apresentam sinais de alarme e/ou sintomas refratários à terapia empírica inicial independentemente da idade; • Nos EUA é recomendada a investigação, na ausência de sinais de alarme, a partir dos 55 anos. Já no Brasil tem sido indicada em idade mais precoce, > 40 anos; • Biópsias do estômago devem ser feitas para pesquisar H. pylori e, em caso de teste positivo, os pacientes devem receber tratamento para erradicação; • Se EDA normal, pode ser dispepsia funcional ou DRGE não erosiva. OBS.: paciente < 40 anos, sem sinais de alarme, é indicado não realizar EDA e tratar empiricamente com IBPs por 4-6 semanas ou testar e tratar H.pylori ou na impossibilidade de testar, tratar empiricamente. OBS.: Se dentro de 1 ano: (1) paciente voltar com sintomas que não melhoraram ou que retornaram, aplicar a outra opção de tratamento (IBPs) e vice- versa; (2) paciente voltar dizendo que, apesar da troca, não melhorou ou que os sintomas voltaram, deve-se indicar uma EDA. Se depois de 1 ano: começar como se nunca tivesse tratado. Pesquisa de H.pylori • O terceiro consenso brasileiro sobre H. pylori indica pesquisa e tratamento da bactéria em todos os indivíduos com dispepsia funcional; • Também em pacientes com lesões pré-neoplásicas, linfoma MALT, câncer gástrico (com abordagem 5 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 prévia ou até planejamento cirúrgico), histórico familiar de câncer gástrico em parente de primeiro grau, púrpura trombocitopênica imune, ferropenia inexplicada e deficiência de vitamina B12. • No Brasil, a pesquisa seria a conduta preferível; • Teste respiratório com ureia marcada: universalmente considerado padrão-ouro para diagnóstico e controle de tratamento de H. pylori, com sensibilidade e especificidade maiores que 95%. o paciente ingere uma solução de ureia marcada com isótopos de carbono (C13 e C14). Sob ação da urease do H. pylori, a ureia é convertida em amônia e bicarbonato, o qual é convertido em CO2 (com o C marcado), sendo este último prontamente absorvido para a circulação e eliminado na exalação.O paciente então expira em um recipiente onde a presença de carbono marcado pode ser detectada por cintilação ou espectrografia; • Sorologia: o ELISA para detectar a presença de IgG anti-H pylori tem baixa sensibilidade e especificidade comparado aos demais métodos não invasivos, não sendo mais indicado de rotina para o diagnóstico de infecção ativa; • Teste de antígeno fecal: indicado se o respiratório não estiver disponível, é o método não invasivo de escolha para diagnóstico e controle de tratamento; • EDA: deve ser coletada, no mínimo, uma amostra de antro e uma amostra de corpo, que serão submetidas ao teste rápido da urease ou exame histopatológico (geralmente duas a três biópsias coradas pelo método de Gimenez, carbolfucsina ou imunohistoquímica são suficientes para o diagnóstico). Outros exames • Cintilografia gástrica e manometria gastroduodenal: reservadas para pacientes com vômitos frequentes sugerindo alteração da motilidade; • pHmetria esofágica ambulatorial: diagnóstico de DRGE atípica. Entretanto, melhor tratar com IBP empírico; • Eletrografia e estudo baritado; • USG abdominal e TC: não devem ser realizados de rotina, indicadas para sintomas ou exames laboratoriais que sugerem doença biliopancreática (p. ex.: icterícia) ou em casos de sintomas atípicos. Dispepsia do tipo ulcerosa • As queixas de dor epigástrica assemelham-se às da úlcera péptica, muitas vezes com periodicidade e melhora com a ingestão de substâncias alcalinas; • A dor localiza-se no epigástrio e pode irradiar-se para outros locais, mas, geralmente, não é de forte intensidade; • A dor pode acordar o paciente à noite e melhora ou piora com a ingestão de alimentos. Dispepsia do tipo dismotilidade • Predominam sinais sugestivos de alteração de motilidade, como plenitude epigástrica, empachamento, saciedade precoce, náuseas (principalmente matinais) e vômitos. • A dor é de menor intensidade e referida frequentemente como desconforto ou sensação de peso abdominal. Dispepsia do tipo inespecífica • Manifestações vagas, com características de sintomas digestivos altos, como eructação ou aerofagia, mas que mantêm relação com a alimentação. • Em alguns casos, sintomas semelhantes aos da úlcera péptica superpõem-se aos que sugerem alterações motoras, sem claro predomínio de um ou outro grupo de manifestações. 6 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 Tratamento Dieta • Evitar refeições gordurosas; • Refeições mais frequentes e em menores quantidade; • Evitar alimentos que desencadeiam sintomas; • Atentar-se para intolerância ao leite e a outros alimentos. Antissecretores ▪ Inibidores de bomba de prótons (IBPs): os -prazol (Omeprazol, Pantoprazol, Lansoprazol, entre outros). São primeira escolha para reduzir a acidez estomacal. Eles atuam se ligando à bomba H+/K+ ATPase impedindo o seu funcionamento. Os IBPs vão interromper a última etapa para produção de HCl, que é a liberação de íons H+ no lúmen da glândula. Combatem a doença. Efeitos adversos: demência (pela possível redução de B12 quando mais de 2 anos de tratamento), absorção incompleta do carbonato de cálcio (pH elevado), redução da eficácia do Clopidogrel (inibição da proteína CIP2C19 que faz parte do mecanismo de ação do clop); ▪ Bloqueadores de H2: -tidina (Cimetidina, Nizatidina, Ranitidina, Famotidina). Bloqueiam competitivamente e seletivamente os receptores H2, de modo que eles não recebem o estímulo da histamina. Efeitos adversos: cefaleia e tonturas, diarreia, dores musculares, confusão e alucinação; ▪ Antiácidos: principais exemplos: Hidróxido de Alumínio, Hidróxido de Magnésio e Bicarbonato de Sódio. São bases fracas que reagem com o HCl e o neutralizam, geram alívio rápido dos sintomas, mas que também se mantém por pouco tempo: se ele for administrado em jejum, seu efeito dura entre 10 a 20 minutos, agora se for utilizado mais ou menos 1 hora após a refeição, pode se manter atuante por 2 a 3 horas. Efeitos colaterais: constipação, diarreia, comprometimento renal. Recomendações • Para pacientes H. pylori negativo, pacientes com sintomas persistentes após erradicação ou nos locais onde a prevalência da bactéria for baixa (< 5%), os lBPs devem ser considerados; • Se houver falha na supressão ácida após duas a quatro semanas, é razoável a terapia step-up com troca da classe da droga ou aumento da dose; • Em pacientes que respondem à terapia inicial, é recomendado que o tratamento seja interrompido após quatro a oito semanas e, se houver recorrência dos sintomas, outro curso do mesmo tratamento está justificado; • Nos pacientes com provável dispepsia funcional que se mantêm sintomáticos, apesar das condutas preconizadas, é necessário prosseguir a investigação e tentar tratamentos alternativos, a depender do caso. Antibióticos ▪ Amoxicilina: penicilina, agem em bactérias gram- negativas, mas também positivas. Efeitos colaterais: hipersensibilidade, diarreia, nefrite, toxicidade neurológica e hematológica; ▪ Claritromicina: macrolídeo. Efeitos adversos: desconforto epigástrico, icterícia colestática, ototoxidade; ▪ Metronidazol e tinidazol: efeitos adversos: náuseas, desconforto epigástrico, cólicas abdominais, propensão a infecção fúngica na boca; ▪ Tetraciclina: gram-positivo e negativo. Efeitos adversos: desconforto gastrointestinal, deposição de cálcio, hepatotoxicidade, fototoxicidade, problemas vestibulares; ▪ Levofloxacina: fluoquinolona. Efeitos adversos: náuseas, cefaleia, vertigem e tontura, fotoxicidade. Esquema de tratamento da H.pylori ▪ Entrar com ATB e redutor da secreção gástrica. ▪ O tratamento de primeira linha para esses pacientes deve ser composto por 3 fármacos: ❖ 14 dias: Amoxicilina (alérgicos: levofloxacina) 1g, 12/12h; Claritromicina 500mg, 12/12h; IBP, 12/12h; Ou ❖ 10-14 dias: Metronidazol; Tetraciclina; Subcitrato de Bismuto; IBP; Ou ❖ 14 dias: Metronidazol/Tinidazol; Claritromicina; Amoxicilina; IBP. ▪ Retratamento: 10-14 dias com Amoxicilina, Levofloxacina, IBP OU 10-14 dias com 7 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 Metronidazol, Tetraciclina, Subcitrato de Bismuto, IBP. Procinéticos • No Brasil, os agentes procinéticos (metodopramina, domperidona e bromoprida) são usados comumente na dispepsia funcional, principalmente desconforto pós-prandial; • Possui efeitos colaterais graves; Antidepressivos Alguns estudos mostraram benefício de doses baixas de antidepressivos tricíclicos (amitriptilina e imipramina) e inibidores de recaptação da serotonina (Ruoxetina). AINES • Os sintomas mais comuns associados a esses fármacos são gastrintestinais, incluindo anorexia, náuseas, dispepsia, dor abdominal e diarreia, podendo estar relacionados com a indução de úlceras gástricas ou intestinais, que ocorrem em 15-30% dos usuários regulares. • O risco de complicação é maior nos infectados por H. pylori, consumo excessivo de álcool ou presença de outros fatores de risco para lesão de mucosa, incluindo o uso concomitante de glicocorticoides. • Todos os inibidores seletivos da COX-2 são menos propensos a induzir úlceras gástricas endoscopicamente visualizadas do que as doses igualmente eficazes de AINEs (COX-1e 2). • As prostaglandinas PGI2 e PGE2 são responsáveis por inibir a secreção de ácido pelo estômago, intensificar o fluxo sanguíneo da mucosa e promover a secreção de muco citoprotetor no intestino. Assim, a inibição da COX-1 que reduz a PGI2 e PGE2, pode tomar o estômago mais suscetível a lesão e ocorrer com a administração oral, parenteral ou transdérmica de ácido acetilsalicílico ou AINEs. • Há alguma evidência de que a COX-2 também contribui para a formação constitutiva dessas prostaglandinas no epitéliogástrico humano; produtos da COX-2 certamente contribuem para o fechamento de úlceras em roedores. Isso pode refletir em parte um comprometimento da angiogênese pelos inibidores. Assim, a sua inibição pode também gerar doença gástrica quando junto com o COX-1. • Outro mecanismo pelo qual os AINEs ou o AAS podem causar ulceração é a irritação local pelo contato entre o fármaco administrado por via oral e a mucosa gástrica. A irritação local permite a difusão retrógrada do ácido para o interior da mucosa e induz lesão tecidual. • A coadministração do análogo de PGE1, misoprostol, ou de IBP, pode ser benéfica na prevenção da ulceração gástrica e duodenal. A inibição combinada da lipo-oxigenase (LOX) e da COX pode ser uma estratégia útil. 8 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 Introdução • Ocorre quando o refluxo de conteúdos estomacais no esôfago provoca sintomas complicados ou que incomodam; • Definida como pelo menos um episódio de pirose ou regurgitação de ácido semanal; • Prevalência entre 10% e 20% no mundo ocidental; • Fatores de risco: obesidade, possivelmente, avanço da idade e histórico familiar positivo; Fisiopatologia • O esôfago é protegido pela barreira antirrefluxo na junção gastroesofágica, pelos mecanismos de liberação esofágica e pelos fatores defensivos epiteliais; • Há um aumento de pressão durante a inspiração e quando a pressão intra-abdominal aumenta no EEI; • O refluxo fisiológico ocorre principalmente quando o EEI relaxa temporariamente na ausência de deglutição devido ao reflexo mediado vagalmente que é estimulado pela distensão gástrica.; • Em pacientes com DRGE, o relaxamento temporário do EEI ou da pressão do EEI em descanso pode resultar em regurgitação, principalmente quando a pressão intra- abdominal aumenta; • Hérnia de hiato: resulta da dissociação do esfíncter externo (diafragma) do esfíncter interno (esôfago), o que gera uma maior predisposição à DRGE, por diminuir a pressão do EEI e aumentar sua abertura. Além disso, de acumular conteúdo na parte herniada; • Obesidade: resulta em aumento da pressão intra- gástrica, além de predispor à herniação; • O aumento da gravidade da esofagite gerada na DRGE pode predispor a disfunção peristáltica; • O conteúdo que reflui danifica as junções intercelulares, aumentam a permeabilidade intracelular e dilatam os espaços intercelulares, podendo gerar dano celular; • Além dos efeitos nocivos do ácido, pepsina e bile refluídos, ainda estimulam as células epiteliais esofágicas a secretarem quimiocinas que atraem as células inflamatórias para o esôfago e, assim, danificam a mucosa esofágica. Manifestações clínicas • Sintomas clássicos: pirose e regurgitação acídica: Sintomas atípicos: dor torácica, disfagia e odinofagia; • Manifestações extraesofágicas: tosse, laringite, asma e erosões dentárias, acompanhados de sinais e sintomas clássicos de DRGE; • Complicações locais: erosões ou ulcerações do esôfago e fibrose com constrição, metaplasia colunar (esôfago de Barrett) ou adenocarcinoma esofágico. • 2/3 dos pacientes com DRGE não apresentam danos esofágicos na endoscopia. Diagnóstico • Quando a DRGE se apresenta com sinais e sintomas típicos que respondem à terapia antissecretora, nenhuma avaliação diagnóstica é necessária; • EDA: é necessária em indivíduos que não conseguem responder à terapia ou que têm sinais e sintomas alarmantes, como disfagia, perda de peso, anemia, sangramento gastrointestinal ou pirose persistente; • Biópsia: crucial para complicações locais e ajuda na exclusão de condições que imitam a DRGE; • Manometria esofágica: útil para excluir acalasia em pacientes com sintomas sugestivos; • pHmetria e impedância: pode ser realizado enquanto os pacientes não estiverem em terapia para detectar o refluxo ácido e não ácido patológico, bem como para correlacionar os episódios do refluxo com sintomas atípicas, principalmente em pacientes com endoscopia normal; • Radiografia com bário: não tem papel na avaliação diagnóstica. Tratamento • A inibição de secreção de ácido gástrico é a base do tratamento agudo da DRGE; • Os IBP são superiores aos antagonistas receptores de histamina (H2) tanto para a cicatrização da esofagite quanto para o controle dos sintomas; • IBP: única dose diária é adequada. Normalmente é necessária terapia de manutenção a longo prazo (dose mínima necessária para o paciente ficar bem); • Antagonistas receptores de H2: podem ser usados para terapia de manutenção, bem como para alívio a curto prazo. Opção para os intolerantes a IBP. Possuem efeitos colaterais significativos; • Cirurgia: opção para pacientes com esofagite documentada e para os intolerantes aos IBP ou que não apresentam resposta a este tipo de tratamento. Complicações: disfagia, lesão do nervo vago, síndrome de retenção gasosa e diarreia. Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) 9 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 Introdução • Solução de continuidade na mucosa do estômago ou duodeno com diâmetro maior ou igual a 0,5 cm, elas podem surgir em outro local, além da região gastroduodenal; • Caiu vertiginosamente a sua incidência, isso devido a diminuição de H. pylori e pelo aumento do uso de IBPs; • Houve também uma redução do número de casos de complicações; • Fatores de risco: H. pylori, AINEs, tabagismo. Mais comum em homens; • Úlceras duodenais: são mais comuns, 6-15 % da população ocidental. É mais comum em jovens, entre 20- 50 anos; • Úlceras gástricas: Mais comum em indivíduos mais velhos, com pico na 6ª década de vida; • Muitos pacientes são assintomáticos. Fisiopatologia Para haver úlcera péptica não precisa haver aumento da secreção ácida (hipercloridria) se existir outro fator, como H. pylori ou AINEs. Porém, a presença do ácido é um pré- requisito; CONTROLE DA SECREÇÃO ÁCIDA ▪ Enquanto o pH alcalino intraluminal estimula a secreção de gastrina e a acidez inibe sua secreção. Sendo assim, na presença de hipocloridria, por medicamento ou por doença, vai haver aumento de gastrina; ▪ Somatostatina: sintetizadas pelas células D no antro. Sua liberação se dá em resposta ao HCl. Reduz a acidez pela ação direta nas parietais e ação indireta reduzindo a secreção de gastrina (células G) e de histamina (células ECL). O H. pylori leva a destruição das células D, o que gera hipergastrinemia e hipercloridria. AS DEFESAS DA MU COSA ▪ Muco: constantemente produzido, degradado pela pepsina, aumenta com a distensão gástrica e produção de prostaglandinas e reduz com AINEs e N-acetilcisteína; ▪ Bicarbonato: pode neutralizar o HCl, a maior parte fica entre a mucosa e a camada de muco, deixando essa região com pH em torno de 7, justamente para proteger a mucosa; ▪ Renovação celular: rápida renovação, substituindo células comprometidas e evitando a progressão da lesão; ▪ Fluxo sanguíneo da mucosa: nutre o epitélio regenerador e remove o ácido que poderia fluir através da mucosa; ▪ Prostaglandinas: estimulam as ações supracitadas. Geradas a partir do ácido araquidônico mediante a ação da COX. A COX 2 é a isoforma presente na inflação, a ação benéfica dos AINEs no processo inflamatório se deve a inibição desta; ▪ Óxido nítrico: ação semelhante às das prostaglandinas. Efeito citoprotetor. O PAPEL DA H. PYLORI ▪ Coloniza apenas as células produtoras de muco da mucosa gástrica, principalmente do antro; ▪ A urease é a principal enzima presente na bactéria. Isso faz o meio ao seu redor se tornar alcalino, neutralizando a acidez do lúmen ao transformar ureia em bicarbonato e amônia (extremamente tóxica às células); ▪ 95% dos pacientes com úlcera duodenal e 70-80% dos pacientes com úlcera gástrica têm H. pylori. H. PYLORI E CLORIDRIA • Úlceraduodenal: A H. pylori infecta cronicamente células D da mucosa antral inibindo a produção de samatostatina, que causa hipergastrinemia e hipercloridemia. Então, o duodeno passa a receber mais HCl, o que gera uma metaplasia gástrica que propicia a colonização duodenal. Além disso, a bactéria inibe a secreção de bicarbonato pela mucosa duodenal. Úlcera gástrica: ▪ Tipo I: úlcera da pequena curvatura (55-60%). Normo ou hipocloridria e gastrite atrófica de corpo gástrico por HP; ▪ Tipo II: úlcera do corpo gástrico associada à úlcera duodenal. Associada a hipercloridria; ▪ Tipo III: úlcera pré-pilórica; ▪ Tipo IV: úlcera da pequena curvatura, parte alta, próximo à junção gastroesofágica. Rara e associada a normocloridria. AINE • Responsável por 5-10% das úlceras duodenais e 20-30% das úlceras gástricas; • Ao inibir a formação de prostaglandinas pela mucosa, reduzem praticamente todas as defesas contra a a secreção ácida; Doença Ulcerosa Péptica 10 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 • Até a AAS em doses antiplaquetárias é capaz de causar DUP e suas complicações; • Após 2 semanas de uso de AINEs, 5% dos pacientes desenvolvem ulcerações gastroduodenais e, após 1 mês, 10% terá a doença; • Maior risco em: > 60 anos, história prévia de úlceras pépticas, glicocorticoides, AAS em baixas doses, altas doses, comorbidades importantes (IRC e cirrose...). OU TRAS CONDIÇÕES • Tabaco: fator de risco, cicatrização mais lenta, maior recorrência, prejuízo à resposta terapêutica e maior incidência de complicações; • Fator genético: mais frequente em quem tem tipo sanguíneo O; • Forte associação com: doença pulmonar crônica, insuficiência renal crônica, cirrose, nefrolitíase, deficiência de alfa 1 antitripsina e mastocitose sistêmica, dentre outros; • Outros: drogas ilícitas, medicamentos, quimio e radioterapia. Manifestações • Dor abdominal epigástrica, em queimação, ocorre 2-3 horas após a alimentação e à noite; • É aliviada por antiácidos ou pelo alimento; • Tipicamente irradia para o dorso, é o sintoma mais característico da duodenal; • Acorda o paciente à noite por causa da dor; • Na gástrica os sintomas costumam ser desencadeados por alimento e alguns perdem peso; • A síndrome dispéptica representa a síndrome clínica da DUP gástrica e duodenal. Corresponde a 20-30% dos pacientes com úlcera; • 40% das úlceras estão em pacientes assintomáticos. ▪ OBS.: A maioria das úlceras que perfura são de parede anterior do bulbo duodenal e as que sangram são de parede posterior (artéria gastroduodenal). ▪ OBS.: úlceras penetrantes ou terebrantes são úlceras que perfuram e são contidas ou “tamponadas” por órgão adjacentes. Diagnóstico • Requer exame complementar: EDA padrão-ouro; • Exame baritado ou Seriografia Esôfago-Estômago- Duodeno é uma alternativa com baixa acurácia. Só indicada quando não se tem a EDA; • As gástricas devem ser sempre investigadas para câncer e se visualizada úlcera péptica no estômago, amostras de material devem ser retirada para biópsia. Isso não é necessário para úlcera de duodeno. Tratamento Medidas gerais: a única recomendação importante quanto à dieta é evitar as comidas que exacerbem os sintomas. TRATAMENTO FARMACOLÓG ICO • Antissecretores de primeira linha: ❖ IBPs: 4-8 semanas de tratamento. A secreção ácida retorna totalmente ao normal somente após 7-14 dias da suspensão da medicação; ❖ Bloqueadores de H2: geralmente prescritos por 4-8 semanas. • Drogas de segunda linha: ❖ Antiácidos: Neutralizam diretamente o pH reduzido do estômago. Usados para alívio dos sintomas. ❖ Sucralfato: funciona como protetor da base da bomba. TRATAMENTO CIRÚRGICO • Indicações: intratabilidade clínica (incomum) e presença de complicações (hemorragia, perfuração e obstrução); • Intratabilidade clínica: não cicatrização da úlcera após cerca de 8-12 semanas de tratamento, ou sua recidiva após o término da terapia. • Descartar úlceras refratárias: erradicação do H. pylori seja confirmada e o uso de AINEs afastado. Em úlceras gástricas, descartar malignidade, com biópsias endoscópicas repetidas. Além disso, é importante a solicitação de gastrina sérica em jejum ou o teste de estimulação da secretina, para excluirmos o diagnóstico de síndrome de Zollinger-Ellison (gastrinoma). 11 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 Introdução • É o termo utilizado para indicar a presença de infiltrado inflamatório leucocitário na mucosa do estômago, que pode ou não estar associado a alterações endoscópicas. • Hoje sabemos que a dispepsia e a gastrite não têm relação, já que a maioria das gastrites são assintomáticas e a maioria dos pacientes dispépticos sem úlcera não têm gastrite. • O enantema da mucosa gástrica na endoscopia NÃO deve inferir o diagnóstico de gastrite, pois este também não guarda relação com os achados histopatológicos. Hoje classificamos a gastrite baseado em tempo de instalação (aguda ou crônica), histopatologia (superficial, atrófica ou gastropatia) e etiologia (por H.pylori por exemplo). Gastrite por H.pylori • Ele é um bacilo Gram negativo que se adere a mucosa gástrica, sobrevivendo no meio graças a uréase (alcaliniza o ambiente). Ele não é um germe invasivo, mas possui fatores de virulência que estimulam a inflamação tecidual. É a infecção crônica mais comum do mundo, geralmente adquirida na infância, porém sua prevalência tem caído, principalmente em países desenvolvidos. • Após a aquisição da bactéria o paciente desenvolve uma pangastrite aguda superficial que pode ser totalmente assintomática ou se apresentar como dispepsia (dor epigástrica, náuseas e vômitos). Neste momento a histopatologia revela gastrite neutrofílica. O quadro evolui com resolução espontânea após alguns dias/semanas porém, na maioria das vezes a bactéria não desaparece. A partir daí, 3 evoluções linfocíticas são possíveis: ❖ Gastrite crônica leve: mais comum, assintomática e sem repercussões clínicas futuras. ❖ Gastrite antral crônica: associada a hipercloridria e a úlcera péptica (principalmente a duodenal). O H.pylori danifica de forma seletiva as células D do antro, secretoras de somatostatina, suprimindo o feedback negativo do hormônio para produção de HCl. Assim ocorre a hipercloridria, estimulando a secreção ácida do corpo e antro. ❖ Pangastrite crônica grave: (atrófica) menos frequente. Há destruição e atrofia das glândulas oxínticas do corpo e fundo, gerando hipocloridria, sendo mais associada com úlceras gástricas, metaplasia intestinal e a hiperestimulação do tecido linfoide, aumentando as chances de o paciente desenvolver linfoma. Gastrite Atrófica Autoimune Envolve predominantemente a mucosa do corpo e fundo gástrico. Frequentemente associada com outras doenças autoimunes como a tireoidite de Hashimoto e a doença de Graves. Autoanticorpos presentes: anticélula parietal e antifator intrínseco. Ausência de B12. Principal fator de risco para adenocarcinoma gástrico. Gastropatia erosiva/hemorrágica Existem 3 condições que se associam com esse tipo de lesão: ▪ Gastropatia por AINEs: aguda ou crônica, podendo cursar com sintomas dispépticos e sangramento digestivo alto (hematêmese e melena). O uso de AINEs está associado a petéquias, erosões e úlceras na mucosa gástrica sem que haja inflamação típica. Geralmente as lesões são superficiais e não causam sangramento, mas quando causam podem chegar a levar à anemia ferropriva. Eventualmente as erosões evoluem para úlceras. Fisiopatologia: os fármacos inibem a formação de prostaglandinas pelas células gástricas, prejudicando a proteção contra o HCL. Tratamento: suspender AINEs e iniciar IBP + erradicação H.pylori. ▪ Lesão aguda da mucosa gástrica: (LAMG)ocorre no curso de uma doença grave, frequentemente nos pacientes de CTI. O mecanismo ainda não é totalmente conhecido, mas há participação fundamental de isquemia da mucosa. ▪ Gastropatia alcoólica: hemorragias subepiteliais puntiformes, com aspecto endoscópio de “sangue sob envoltório plástico” associada a edema de mucosa. Não costumam causar sangramento importante, logo sangramentos graves indicam a procura de outras condições. O papel do álcool ainda não é conhecido. Gastropatia por refluxo biliar É a antiga gastrite alcalina. É uma complicação da cirurgia de antrectomia. Formas raras de gastrite ▪ Gastrite flegnomosa: processo infeccioso purulento que envolve a parede do estômago, relacionada com estafilococos e estreptococos. Deve ser considerada quando o paciente desenvolve dor aguda na região superior do abdome associada a febre e sinais de peritonite (líquido Gastrite 12 Beatriz Machado de Almeida Tutoria – Síndrome Dispéptica – Caso 2 ascético purulento e amilase normal). Hemorragia alta digestiva também pode surgir na evolução da doença. A laparotomia é tanto o diagnóstico como tratamento. O curso clínico é fulminante, não respondendo bem ao tratamento. ▪ Doença de Ménetriér: (gastropatia hipertrófica gigante) doença de etiologia desconhecido que se caracteriza por um intenso e tortuoso aumento das pregas da mucosa gástrica, fazendo-as semelhante às circunvoluções cerebrais. Predominante em homens. Caracterizada por espessamento da mucosa com proliferação
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