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Laura R. T6 1 FPM VI Doenças da Tireoide HIPOTIREOIDISMO É estado clínico decorrente da produção insuficiente dos hormônios tireoidianos TIREOIDE: modula o metabolismo de quase todos os tecidos do organismo, desempenhando um papel crítico no desenvolvimento e no crescimento da criança O hipotireoidismo tem um amplo espectro de apresentações clínicas, desde formas transitórias e subclínicas, até manifestações graves O hipotireoidismo é considerado primário quando ocorre por alteração na própria tireoide, e central, por deficiência na produção de hormônio tireoestimulante (TSH), pela hipófise, ou de hormônio liberador de tireotrofina (TRH), pelo hipotálamo. O hipotireoidismo também pode ser congênito ou adquirido, dependendo da idade de apresentação e da etiologia Na faixa etária pediátrica, as causas mais comuns de hipotireoidismo em regiões sem deficiência de iodo na dieta são o hipotireoidismo congênito e a tireoidite de Hashimoto HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO É a principal causa evitável de deficiência mental Como o prognóstico intelectual está intimamente relacionado ao início precoce do tratamento, a realização de exame de triagem neonatal é fundamental, uma vez que os recém-nascidos podem ser assintomáticos ou apresentar sintomas pouco expressivos A principal causa de HC é a disgenesia tireoidiana (65%), um defeito no desenvolvimento da tireoide, manifestando-se como ectopia, atireose (ausência da tireoide) ou hipoplasia Os demais casos (35%) apresentam glândula tópica, podendo estar aumentada de volume, com produção hormonal insuficiente causada por defeito genético ou fatores externos Principais causas de hipotireoidismo congênito: o Disgenesia tireoidiana (ectopia, atireose, hipoplasia) o Disormonogênese (defeito genético) Transitório: o Uso de medicamentos antitireoidianos pela mãe o Passagem transplacentária de anticorpos maternos que bloqueiam o receptor de TSH o Deficiência de iodo (em regiões onde o sal não é iodado) o Exposição materna ou neonatal ao excesso de iodo (antissépticos ou contrastes iodados, alta ingestão materna de iodo) O HC CENTRAL geralmente é por defeito no desenvolvimento hipotalâmico-hipofisário o Geralmente está associado a outras deficiências hormonais Laura R. T6 2 BBPM VI QUADRO CLÍNICO No período neonatal, pode varia de ausência completa de sintomas, assim como sintomas como hipotonia, icterícia prolongada, hérnia umbilical, macroglossia, constipação, pele fria e seca, livedo reticular, sonolência, choro rouco, dificuldade de mamar, hipotermia, fontanelas amplas, bradicardia e, eventualmente, presença de bócio Nos lactentes, outras manifestações são atraso no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) e diminuição do ritmo de crescimento Em crianças maiores, se o diagnóstico não foi realizado anteriormente, ocorre retardo mental, fácies característica (cretinismo) e baixa estatura A prevalência de malformações congênitas é maior em indivíduos com HC, principalmente defeitos cardíacos (3- 11%) e renais No HC sindrômico, podem estar presentes surdez, sinais neurológicos, doenças pulmonares, cardiopatias, fenda palatina e malformações renais A presença de sinais como micropênis, criptorquidia, hipoglicemia, icterícia prolongada e falência de crescimento sem explicação sugere hipotireoidismo central DIAGNÓSTICO A observação clínica isolada é limitada para garantir um diagnóstico precoce A realização da TRIAGEM NEONATAL para hipotireoidismo congênito é obrigatória no Brasil para todos os recém-nascidos Como o HC central não é detectado pela dosagem de TSH na triagem neonatal e há casos de HC primário com teste falso-negativo (elevação tardia do TSH), na suspeita clínica de hipotireoidismo deve-se fazer dosagem sérica de TSH e T4 livre, mesmo com triagem neonatal normal O recém-nascido com triagem neonatal alterada deve ser encaminhado imediatamente para um centro de referência Na avaliação, devem ser realizados TSH e T4 livre séricos, sendo indicado tratamento conforme os resultados Nos casos leves, com TSH acima do limite superior de referência do método laboratorial utilizado até 20 mU/L e T4 livre normal, os dados atuais não são suficientes para determinar se o tratamento é benéfico Nesses casos, um exame de imagem da tireoide alterado pode indicar a necessidade de tratamento Muitos optam por iniciar o tratamento para evitar qualquer risco potencial ao desenvolvimento neurológico Laura R. T6 3 BBPM VI A investigação etiológica pode ser realizada na primeira avaliação, desde que não atrase o início do tratamento, podendo ser estabelecida em outro momento Ela se baseia na análise da ultrassonografia (US) e/ou cintilografia da tireoide e na dosagem sérica de tireoglobulina A radiografia de joelhos pode ser realizada para avaliar a gravidade do hipotireoidismo intrauterino Mães com doença de Graves, em uso de medicação antitireoidiana, podem amamentar o recém-nascido, que deve ser acompanhado clinicamente e, eventualmente, com dosagens séricas de TSH e T4 livre TRATAMENTO Deve ser iniciado o quanto antes, preferencialmente nos primeiros 10 dias de vida O tratamento é realizado com levotiroxina na dose inicial de 10-15 mcg/kg/dia via oral, 1x ao dia LEVOTIROXINA 10-15 mcg/kg/dia VO 1x ao dia Esse medicamento não deve ser manipulado e, preferencialmente, não deve ser genérico Se houver cardiopatia congênita com risco de insuficiência cardíaca, a dose inicial deve ser reduzida pela metade Em lactentes e crianças, a levotiroxina pode ser administrada junto com os alimentos, evitando-se proteína de soja e fibra vegetal, sempre no mesmo horário e da mesma forma Para bebês e crianças menores, o comprimido pode ser macerado, dissolvido em água ou leite e oferecido com colher O controle laboratorial com dosagens séricas de TSH e T4 livre deve ser realizado após 1-2 semanas do início do tratamento e a cada 2 semanas até normalização do TSH O objetivo é a normalização dos níveis de TSH, que devem estar dentro da faixa de normalidade Na presença de bócio, recomenda-se realizar US periodicamente, e a cada 2-3 anos Os pacientes com diagnóstico tardio, evoluindo com atraso no DNPM, devem ser encaminhados para tratamento e acompanhamento com equipe multidisciplinar Em recém-nascidos com hipotireoidismo central, o tratamento com levotiroxina somente deve ser iniciado após evidências de função adrenal intacta; se insuficiência adrenal central coexistente, a reposição com glicocorticoide deve ser iniciada antes do tratamento com levotiroxina HIPOTIREOIDISMO ADQUIRIDO O hipotireoidismo adquirido primário pode desenvolver- se em qualquer idade, e seu início é insidioso A causa mais frequente em regiões não carentes de iodo é a tireoidite de Hashimoto, uma doença autoimune desencadeada por anticorpos antiperoxidase (anti-TPO) e antititeoglobulina (anti-Tg) É mais frequente no sexo feminino e em indivíduos com antecedentes familiares de doença tireoidiana É mais comum em crianças com outras doenças autoimunes, como diabetes melitus tipo 1, vitiligo, doença celíaca e síndromes genéticas (p. ex, síndromes de down, turnês) Nesses casos, a função tireoidiana deve ser avaliada periodicamente HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO É definido por um nível de TSH acima do valor de referência para o método e níveis normais de T4 livre Grau 1, ou leve, quando o valor de TSH está entre o limite superior da referência e < 10 mU/L Grau 2, quando TSH > ou = 10 mU/L Crianças com obesidade têm prevalência maior de hipotireoidismo subclínico Nesse caso, a elevação de TSH parece ser mediada pelos altos níveisde leptina e ser reversível com a perda de peso QUADRO CLÍNICO O quadro clínico do hipotireoidismo adquirido está relacionado à intensidade da falta dos hormônios tireoidianos e ao tempo de evolução da doença Muitas criança e adolescentes podem ser assintomáticos ao diagnóstico O bócio geralmente está presente e pode ser o primeiro sinal da doença As manifestações mais comuns são baixa velocidade de crescimento, cansaço, queda no rendimento escolar, constipação, pele seca, cabelo e unhas quebradiços, bradicardia, edema, atraso puberal, ciclos menstruais irregulares Mais raramente, meninas com hipotireoidismo grave podem apresentar puberdade precoce (síndrome de Van Wyk-Grumbach) CAUSAS DE HIPOTIREOIDISMO ADQUIRIDO Tireoidite de Hashimoto Deficiência de iodo (rara em regiões onde há iodação do sal) Tireodectomia ou radioiodoterapia Laura R. T6 4 BBPM VI Exposição à radiação (principalmente radioterapia da região cervical e em áreas próximas) Secundário a medicamentos: glicocorticoides, amiodarona, fórmula infantil à base de soja, antiácidos, furosemiada, fenitoína, fenobarbital, carbamazepina) DIAGNÓSTICO O diagnóstico é laboratorial, com dosagens de TSH e T4 livre A presença de anticorpos anti-TPO e/ou anti-Tg confirma o diagnóstico de tireoiodite de Hashimoto A US de tireoide pode auxiliar na investigação etiológica. Na tireoidite de Hashimoto, a glândula apresenta tipicamente textura heterogênea e aumento de volume A ressonância magnética da região hipotálamo-hipofisária deve ser realizada nos casos de hipotireoidismo central TRATAMENTO O tratamento do hipotireoidismo consiste na reposição com levotiroxina via oral, 1 vez ao dia, sempre o mesmo horário e da mesma forma Os controles laboratoriais para ajuste da dose de levotiroxina devem ser realizados após 4-6 semanas do início do tratamento e de cada mudança de dose No hipotireoidismo central, o tratamento com levotiroxina somente deve ser iniciado após avaliação adrenal Em crianças, o hipotireoidismo subclínico geralmente resolve espontaneamente ou persiste em progressão para hipotireoidismo evidente HIPERTIREOIDISMO Tireotoxicose é o estado clínico decorrente do excesso de hormônios tireoidianos circulantes O termo HIPERTIREOIDISMO é usado quando a causa desse excesso é a hiperfunção da tireoide A DOENÇA DE GRAVES é a principal causa de hipertireoidismo e caracteriza-se pela tríade: bócio difuso, exoftalmia e hipertireoidismo o É a condição autoimune com presença de anticorpo estimulador do receptor de TSH (TRAb), que desencadeia a produção excessiva de hormônio tireoidiano HIPERTIREOIDISMO NEONATAL AUTOIMUNE É causado pela passagem transplacentária de TRAb Geralmente é transitório e ocorre em 1-10% dos recém- nascidos de mães com doença de Graves Nos casos de doença materna não tratada ou mal controlada, os fetos podem apresentar bócio, retardo de crescimento intrauterino, oligodrâmnio, nascimento prematuro e até morte CAUSAS DE TIREOTOXICOSE EM CRIANÇAS Doenças de Graves Hipertireoidismo neonatal autoimune por passagem de anticorpos maternos (TRAb) pela placenta Mutações ativadoras congênitas do gene do receptor de TSH Nódulos tireoidianos autônomos Tireoidite subaguda ou fase tireotóxica da tireoidite de Hashimoto QUADRO CLÍNICO Laura R. T6 5 BBPM VI As crianças podem apresentar mudanças de comportamento, agitação, dificuldade de concentração e queda no rendimento escolar, fadiga, sudorese excessiva, irritabilidade, labilidade emocional, nervosismo, palpitações, tremores, insônia, aumento do apetite, emagrecimento e diarreia Na doença de Graves, o bócio geralmente está presente, mas as alterações oftálmicas são mais brandas que nos adultos, sendo mais rara na exoftalmia verdadeira No período neonatal são taquicardia, hiperexcitabilidade, baixo ganho ponderal com apetite normal ou aumentado, bócio, olhar fixo com ou sem retração palpebral e exoftalmia, fontanela anterior pequena, esplenomegalia e/ou hepatomegalia DIAGNÓSTICO O diagnóstico é laboratorial, com dosagens séricas de TSH e hormônios tireoidianos O TSH é suprimido (nas afecções primárias da tireoide) e os níveis de T4 livre e T3 são aumentados No hipertireoidismo leve, o T4 livre pode estar normal e apenas o T3 elevado O hipertireoidismo subclínico é definido por um TSH suprimido com níveis normais de T4 livre e T3 O TRAb está aumentado na doença de Graves Para os RNs de mães com doença de Graves, recomenda- se a determinação de TRAb no sangue do cordão umbilical A US de tireoide com doppler na doença de Graves apresenta, tipicamente, um aumento difuso da glândula com hipervascularização A cintilografia de tireoide está indicada na presença de nódulo de tireoide com TSH suprimido TRATAMENTO O tratamento de primeira linha da doença de Graves é medicamentoso, com drogas antitireoidianas (DAT) O propiltiouracil é contraindicado em crianças pelo elevado risco de hepatotoxicidade O metimazol é o medicamento de escolha, na dose de 0,2- 0,8 mg/kg/dia METIMAZOL 0,2-0,8 mg/kg/dia Doses menores devem ser preferidas inicialmente Exames de controle (TSH, T4L e T3) devem ser realizados em 2-6 semanas e, após estabilização, a cada 2-3 meses O TSH costuma ficar suprimido nos primeiros meses, não devendo ser parâmetro para aumento da dose Antes de iniciar o tratamento, recomenda-se fazer coleta de hemograma completo e transaminases: agranulocitose, hepatite e vasculite O tratamento definitivo, com radioiodo ou tireoidectomia, deve ser considerado quando ocorrem efeitos colaterais graves com uso de DAT A radioiodoterapia pode ser indicada em crianças pequenas (< 5anos) A tireoidectomia pode ser indicada em crianças pequenas (< 5 anos) que precisem de um tratamento definitivo, para bócios muito volumosos, nodulares ou compressivos Esses tratamentos levam, na maioria das vezes, ao hipotireoidismo O tratamento do hipertireoidismo neonatal autoimune é medicamentoso, com metimazol 0,5-1 mg/kg/dia, 2-3x ao dia TTO hipertireoidismo neonatal autoimune METIMAZOL 0,5-1 mg/kg/dia, 2-3x ao dia O controle laboratorial deve ser realizado semanalmente até a estabilização, depois a cada 2 semanas O tratamento pode ser suspenso quando TRAb não for mais detectável O aleitamento materno pode ser mantido pelas mães em uso de DAT
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