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Faculdade Intercultural da Amazônia Curso Técnico emTrasações Imobiliárias David Salomão Pinto Castanho Bizarro Redação Dissertativa A importância do banco, governo e família para o mercado imobiliário Belém/PA 2021 David Salomão Pinto Castanho Bizarro Matrícula nº 20211136, Turma TEC-TTI04 Redação Dissertativa A importância do banco, governo e família para o mercado imobiliário Redação Dissertativa acerca do tema proposto, prova de avaliação de tipo teórica, apresentada como requisito de atividade referente à disciplina de Economia e Mercado do Curso Técnico em Transações Imobiliárias da Faculdade Intercultural da Amazônia, Campus de Belém/PA. Professora: Natasha Barros de Moraes Belém/PA 2021 Sumário 1. Introdução 3 2. Desenvolvimento 4 3. Conclusões 17 Referências 22 3 1. Introdução O objetivo deste trabalho envolveu um resgate da historicidade de acontecimentos voltados ao mercado imobiliário em Belém relacionado com o desenvolvimento económico e urbano, tanto nos aspetos de políticas governamentais favorecendo todas as classes para suprimir o défice habitacional, especialmente classes de baixa renda, e como as circunstâncias de mercado imobiliário produziram mudanças na região envolvendo atividades capitalistas com interesses de migração de capitais de outros setores econômicos. Elucida-se a transferência da responsabilidade de execução de políticas públicas do governo para o setor privado em conjunto com município de Belém e o estado do Pará. As políticas públicas de expansão urbana com a instalação de conjuntos habitacionais na Augusto Montenegro, como exemplo que, em princípio de baixa renda antes do século XXI, e que hoje se tornaram áreas elitizadas, dispondo atualmente de infraestrutura, serviços, equipamentos urbanos e mobilidade de domicílio/trabalho. Apresentam-se observações da evolução da construção como a verticalização em Belém e seus impactos no surgimento de grandes lojas, condomínios, Shopping Centers, e serviços comerciais elitizados no centro da cidade, contribuindo para a valorização dos imóveis no entorno de sua vizinhança. Exploram-se ainda as tentativas concedidas à população de baixa renda como elemento importante no processo de controle do défice habitacional, considerando os inúmeros programas governamentais para melhoria de suas condições de habitabilidade, infraestrutura e demais elementos urbanos que indiretamente contribuíram para a valorização do capital imóvel de todas as classes sociais pela melhoria dos entornos de vizinhança. Também serão apresentados outros elementos favoráveis para o cenário imobiliário, proporcionados tanto pelo governo, instituições financeiras e associações de áreas direta e indireta relacionadas com a imobiliária, ocasionalmente através de estudos orientadores. 4 2. Desenvolvimento Segundo (Breda, 2017) na sociedade capitalista a conceituação de “mercado imobiliário” compreende “toda transação que envolva um bem imóvel, referindo-se à propriedade da terra e às edificações incorporadas”. Esclarecendo ainda o autor que a produção do espaço é o processo de valorização do capital, estando as determinações gerais do modo de produção capitalista embutidas em seu interior. Nesse contexto de produção do espaço o “imobiliário” considera-se como parte do capital em geral, como processo de trabalho voltado à produção de mercadorias, nas quais o valor de troca predomina sobre o valor de uso, como produção de valor e valorização, portanto, produção de mais-valia (excedente). Esse excedente ou valor produzido se distribui globalmente entre os agentes que produzem o espaço em diversas formas de valor, fundamentalmente em lucro, salário, juros ou renda. Os processos imobiliários que transformam e modificam a região metropolitana de Belém expõem essa dinâmica na produção de unidades residenciais (condomínios, loteamentos, conjuntos habitacionais, verticais ou horizontais, fechados ou não) modificando a morfologia da periferias metropolitana e intraurbana. A financeirização das relações e a expansão da fronteira urbano-imobiliária como mecanismo para outro modo metropolitano se propaga no modo de vida da metrópole e com a mobilidade urbana pelos veículos rodoviários e outros traçados urbanísticos, produzindo novos símbolos de urbanização e outros critérios de classes e tendências sociais. As necessidades habitacionais da região metropolitana de Belém foram e ainda são uma realidade, não entram nas especulações ou bolhas imobiliárias, conceitualmente isso pode ser verificado no comportamento preponderante dos consumidores na aquisição em função de quantidades e preços. Pela lógica, podem usar-se as Leis da Oferta e da Demanda, acompanhar a evolução e prospectar uma previsão a partir de determinados períodos de historicidade do mercado imobiliário, observando existirem fatores comerciais e sociais que devem ser considerados na equação, por exemplo: o estímulo pelo preço ao consumidor conjugado com as necessidades e desejos das famílias, a perspetiva da empresa no ritmo das vendas conjugada com o poder de 5 compra do consumidor, a disponibilidade de produtos imobiliários substitutos por outros concorrentes, outras alternativas como locação ou autoconstrução, a capacidade técnica da construtora ou incorporadora produzir mercadorias específicas com determinado nível de tecnológica desejada, etc. Não obstante, deve ressaltar-se a existência de estudos com informações que identificam oportunidades de mercado para novos empreendimentos em função do atendimento a diferentes faixas de clientes, nomeadamente: os Censos Imobiliários periódicos para Belém e Ananindeua publicado pela SINDUSCON-PA (exclusivo para associados); o estudo encomendado pela Caixa Econômica Federal (CEF) sobre Demanda Habitacional estudos (publicação não atualizada); os estudos realizados pelo IPEA sobre governança na região metropolitana de Belém; entre outros disponíveis. Seguindo esse prisma, de acordo com os resultados do Censo Imobiliário de Belém e Ananindeua do primeiro semestre de 2021 pela ADEMI-PA e pelo SINDUSCON-PA, que em comunicação pública do presidente deste último esclareceu o estado atual do mercado imobiliário, fazendo pontuar alguns problemas no mercado locais, conforme citação: “É importante registrar o aumento do volume de negócios do mercado imobiliário, através do aumento de vendas de unidades nos mais variados padrões, sejam eles econômico, médio ou alto padrão, mas que, lamentavelmente, não está sendo acompanhado de acordo com o número de lançamentos.” “Isso ocorre devido à instabilidade mundial causada pela crise gerada em decorrência da pandemia da Covid-19, mas fundamentalmente o que mais nos atinge - e isso freia significativamente novos lançamentos e, consequentemente, novos empregos - são os aumentos excessivos dos materiais de construção. Isso gera um ambiente de extrema insegurança, em que não há como precificar diante de um cenário instável como está e, certamente, diminui o potencial de crescimento do setor imobiliário, o que compromete a geração de emprego.” “Se nos segmentos de médio e alto padrão já há uma redução no ritmo, imagine no de baixa renda, em que não existe espaço para aumentar o preço dos imóveis, uma vez que a receita desse público não aumentou na mesma proporção. Então, posso afirmar que os aumentos dos materiais de construção subiram significativamente o custo de produção dos imóveis e tirou a oportunidade de milhares de pessoas que poderiam estar realizando o sonho da casa própria”. Corroborando com essa publicação, a Secretaria Municipal de Habitação de Belém (SEHAB) noticiou no final do primeiro semestre de 2021 que existiam mais de 150 mil famílias cadastradas nos programas de moradia “Minha Casa Minha Vida” (MCMV) e “Viver Belém”, estando grande parte dessas famílias aguardando há mais de 10 anos por unidades habitacionais sem qualquer perspectiva de êxito. Com base nesses registros a SEHAB coloca 6 uma estatística dedéfice habitacional de quase 100 mil habitações sociais para 2021 apontando um crescimento de quase 30% em relação a 2010 que estava em 70 mil, conforme estudo desenvolvido à época pela Companhia Estadual de Habitação (COHAB/PA) em conjunto com o Ministério das cidades (MCid) atualmente o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Em contramão, observa-se que a maior oferta de imóveis nem sempre se relaciona com a demanda do défice habitacional, tratando-se apenas de expansão comercial do mercado imobiliário, e por não estarem direcionadas na demanda de necessidade o período de ritmo de venda se caracteriza numa forma exclusiva para o consumidor específico que busca investimentos no setor imobiliário como forma de transferência de capitais de outros setores, isto é, migração de capitais para o circuito imobiliário1. Essa produção situa-se dentro de uma cadeia produtiva que cresceu em importância como campo para acumulação de capital, essa tendência típica capitalista se justifica pelo imobiliário comportar um circuito próprio de capital que desempenha o papel de um segundo setor que absorve os choques em caso de depressão econômica, isto é, enquanto o circuito principal a parte da mais-valia formada e realizada na produção industrial decresce, o segundo circuito suplanta o principal e aumenta a parte da mais-valia formada e realizada pela especulação e pela construção imobiliária. Essa característica se torna nítida quando a produção do espaço construído às crises capitalistas, inicialmente como possibilidade de medida contratendencial, mas que posteriormente aparece de contradições entre a produção social do espaço e a sua apropriação privada. O entendimento de que essa articulação aumenta sua importância no processo global da produção capitalista é o suficiente para situar que a produção do espaço é como produção de valor e valorização do capital, apontando formas de acumulação privada que afirmam uma nova complexidade de agentes com poder econômico. Na retrospetiva de ações da política habitacional na região metropolitana de Belém, desde a década de 60 que procede uma intensa expansão de mancha urbana, assumindo destaque 1 Situa a urbanização como possibilidade de fuga para a superacumulação do capital em geral, como exemplo, um estudo apresentado no XVI ENANPUR foi relatado um caso da produção habitacional no Pará facilitando a migração de capitais das indústrias mineradoras para o circuito imobiliário. https://pt.wikipedia.org/wiki/Minist%C3%A9rio_do_Desenvolvimento_Regional https://pt.wikipedia.org/wiki/Minist%C3%A9rio_do_Desenvolvimento_Regional 7 com início da construção de conjuntos habitacionais, alguns realizados pela COHAB/PA, por meio do Banco Nacional de Habitação (BNH) e do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), até ao fechamento do BNH em 1986 quando a política habitacional é deixado de lado. Nesse período importa ressaltar que devido à grande participação da iniciativa privada, várias centenas de conjuntos habitacionais foram construídos, atendendo diferentes demandas que variaram de acordo com o poder aquisito, indo das famílias de renda mais baixa às de renda média e alta, ressalvando que existiram unidades habitacionais produzidas não conseguiam ser comercializadas até 1994 por conta do preço incompatível com o público-alvo. Alguns conjuntos habitacionais nessa década se dispersaram ao longo da Avenida Augusto Montenegro, devido à política do governo “custo zero” à construção de habitações, em que se buscavam terrenos baratos para viabilizar e baixar o valor dos empreendimentos populares, nesse período grande maioria foram realizados pelo Programa de Cooperativas Habitacionais (COOPHAB), Plano Empresário Popular (PEP), Plano de Ação Imediata para Habitação (PAIH). Esses conjuntos habitacionais por intermédio da ação do estado constituíam uma forma necessária para o processo de acumulação no circuito imobiliário secundário, dilatando a malha urbana enquanto forma especial servindo à coerção nas relações do lugar urbano. Enquanto a população deslocada terminava alocada em conjunto habitacional na extensão de Icoaraci, da Marambaia, de Satélite, etc., em locais não urbanizados que à época era difícil acesso e distante do centro, fomentava-se uma forma segregação na forma de ocupação e de estruturação urbana distante sem infraestrutura, viabilizando o interesse do investidor com capital econômico em colocar essa classe baixa distante do centro de Belém ou mobilizada para locais dispersos como as baixadas. Relativamente às ações na área habitacional social decorrentes do prosseguimento dessa iniciativa, durante o período de 1995 até 2001, quando ocorre a criação da Secretaria de Política Urbana (SEPURB), a qual propõe um conjunto de programas visando a municipalização da política habitacional em conjunto com o Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (extinto em 2019), tendo como órgão executor a CEF, existindo inclusive registros2 de órgãos públicos no Estado do Pará responsáveis pelas ações na área habitacional, 2 Mais informações relacionadas com a localização e outros detalhes dos Conjuntos Habitacionais podem ser encontrados na Coleção Habitare - Habitação Social nas Metrópoles Brasileiras - Uma avaliação das políticas habitacionais em Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo no final do século XX. 8 os dois principais agentes a COHAB/PA, a SEHAB de Belém, envolvendo os programas “Pró-Moradia”, “Pró-Credi”, “Habitar-Brasil”, Programa de Arrendamento Residencial “PAR”. No entanto, essa produção de habitações e infraestruturas urbanas foram suspensas pela mudança de paradigma adotada no eixo principal do governo na política habitacional, somente com interesse na produção de moradias com ênfase ao conceito de consumo capital imobiliário, privilegiando soluções de mercado em detrimento de política sociais. Em observação estritamente empírica, constata-se que acompanhando essa década de opções realizadas pelo poder público sob possível influência obscura do mercado imobiliário surgiu o início da construção através da verticalização a partir da Avenida Presidente Vargas, prosseguindo para os bairros centrais como Batista Campos, Nazaré, Umarizal, etc., promovendo o aumento da densidade habitacional em determinadas zonas da cidade, devendo ser observado que esses bairros possuíam infraestrutura disponível fruto do planejamento urbano decorrente de instrumento urbanístico prévio que propiciava ao interesse coletivo à finalidade socioeconómica reservados para o centro de cidade. Por exemplo, a partir das mudanças realizadas na época ao alinhamento da Avenida Presidente Vargas resultou um importante corredor econômico-financeiro, com a instalação de hotéis, órgãos públicos como Correios (ECT), Instituto Nacional de Assistência Médica e Providência Social (INAMPS), cinema e teatro, múltiplos estabelecimentos comerciais, agências de transportes, etc. que pela proximidade valorizaram toda a avenida devido à configuração urbana. Posteriormente, devido ao aumento dos preços nos terrenos localizados nos bairros centrais e com a evolução da engenharia geotécnica para fundações profundas em terrenos mais instáveis que o processo de verticalização possibilitou-se em terrenos localizados em cotas altimétricas mais baixas, assim a verticalização ampliou-se para os bairros da Pedreira, do Marco e do Reduto que dispondo de avenidas largas teriam facilidade de acesso ao centro da cidade e alguns equipamentos urbanos instalados. Ressalte-se que não somente existiram centenas de empreendimentos imobiliários sob o regime condominial no centro de Belém pelas construtoras e incorporadoras, inclusive empresas com capitais listados nas Bolsas de Valores, como também uma estratégia de ações para valorização da envolvente através da cooperação com grupos de outros ramos econômicos como as grandes superfícies comerciais, por exemplo: a Mesbla (B. Campos), a Visão (B. Campos, Campina),Multicorp Shopping Centers LTDA (Shopping Pátio Belém), a Americanas (Av. Pres. Vargas, etc.), o Líder (B, Campos, Humaitá, etc.), a Yamada (B. Campos, Shopping Pátio Belém, Nazaré, etc.), para 9 que instalassem filiais próximas. As razões são simples, observando que à época a população tinha interesse em locais teoricamente com mais segurança, calçadas para passeio público e iluminação pública, disponibilidade de vários serviços (farmácias, supermercados, etc.), porque isso evitava deslocamentos às infraestruturas urbanas. Ao mesmo tempo surgiram os condomínios fechados na Rodovia BR-010/316 (Lago Azul e City Park na década de 60) e na Avenida Mário Covas (GreenGarden e Cypress Garden na década de 80), construídos na área de expansão destinados às classes de média e alta renda, e cuja projeção arquitetónica seguiu a concepção das cidades jardins decorrente do movimento urbanista “Ebenezer Howard”, no entanto, possuindo concepções arquitetônicas urbanas como equipamentos de lazer e consumo diferenciados. Ressalte-se o condomínio Lago Azul como chamariz ao crescimento desses condomínios fechados, esse pioneirismo na região metropolitana de Belém revelou-se pela concepção com influência de modelo nos condomínios GreenVille e Exclusive construídos na Avenida Augusto Montenegro na década de 90 pela construtora Vila del Rey seguindo o padrão e a logística empresa AlphaVille. Nas décadas seguintes o surgimento de capital disponível e alterações relevantes na legislação de Belém como o coeficiente de área construída dos prédios de 3.5 para 4.2 sem aumento do valor de outorga onerosa provocaram uma verticalização que se expande pelos bairros, influenciada pelo marketing imobiliário, igualmente os muitos condomínios fechados nos formatos horizontal e vertical ao longo da Avenida Augusto Montenegro fechando a fronteira urbano-imobiliária para o pequeno capital local especialmente para os empresários individuais com pouca atuação no núcleo da região. Uma nova geografia acompanhou toda a cidade com investimentos públicos e privados, mais shoppings, condomínios, equipamentos públicos para saúde, educação, segurança pública, etc., transformando a cidade num verdadeiro “canteiro de obras”, entre alguns empreendimentos relevantes pode-se destacar: o Portal da Amazônia inaugurado em 2012; o Parque “Porto Futuro” inaugurado em 2020; o Shopping Boulevard inaugurado em 2010; o Shopping Bosque Grão-Pará inaugurado em 2013; o Shopping Metrópole inaugurado em 2017. Entre outras mudanças nos últimos anos, a Avenida Augusto Montenegro passou a integrar-se numa das principais artérias da cidade junto com outras como a Avenida Independência, Mário Covas e Centenário, local que as corretoras de imóveis vêm chamando de “Nova Belém”. 10 Observar que grande quantidade de empreendimentos residenciais e comerciais na região de Belém decorreu principalmente de três motivos: a) substituição de moradias precárias ou espontâneas pela presença de conteúdo socioeconômico mais favorável estimulado através do incentivos do governo; b) entrada de grandes empresas regidas por grupos financeiros com capital na bolsa de valores; c) dinâmicas espaciais que se pautam com o surgimento de outra subcentralidade na região metropolitana de Belém. Nesse período importante destacar que outras intervenções de política habitacional social na regiões metrópoles somente surgiram em decorrência da aprovação do Projeto-Lei nº 5788/90 que enfrentou ao longo de 11 anos de tramitação inúmeras dificuldades por conflitos de interesses de alguns parlamentares, destacando-se a movimentação ativa por parte do Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) através de lobby político para que fosse aprovado e sancionado como Lei nº 10.257/2001 que estabelece diretrizes da política urbana com princípios de planejamento participativo e a função social da propriedade. Nessa decorrência de mudança legislativa foi criado o Ministério das Cidades (atualmente Ministério de Desenvolvimento Regional) cujas funções era elaborar, acompanhar e avaliar os instrumentos necessários para a implementação da Política Nacional de Habitação (PNH), decorrendo uma ampliação da visão e integração de valores e questões sociais no desenvolvimento urbano das cidades. Nesse âmbito ocorreu a criação de uma agenda de programas na forma de pacotes de investimento que conciliavam o crescimento econômico e desenvolvimento urbano, entre eles uma proposta para atuação denominada “urbanização e integração de assentamentos precários”, incluídos loteamentos populares e conjuntos habitacionais degradados. A partir de 2007 o governo lança o Programa Aceleração do Crescimento (PAC) que se destinava a financiar a infraestrutura urbana (aeroportos, ferrovias, rodovias, portos e toda a infraestrutura de geração e distribuição de energia) e a infraestrutura social (água, esgoto, drenagem, destino de lixo, recursos hídricos e pavimentação). Os investimentos estavam focados no crescimento da economia e da renda da população, além da geração de empregos e da manutenção da estabilidade macroeconômica. Durante a primeira fase procedeu-se à modalidade de Urbanização de Assentamentos Precários (PAC-UAP) o que possibilitou projetos de urbanização para a consolidação e infraestrutura, no entanto, em 2009 com o lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) o governo produz uma nova 11 inflexão, retomando uma visão empresarial da política habitacional, numa segunda fase em 2011 ocorre a migração de parte da produção vinculada a projetos do PAC para o programa MCMV como forma de agilizar a execução. Essa mudança em perspectiva pragmática de incentivo à economia, através de uma produção habitacional pela iniciativa privada, fragilizou a consolidação de uma estrutura de financiamento voltada para a execução de projetos de urbanização das áreas precárias como as favelas brasileiras. Esses investimentos na região metropolitana de Belém acompanhariam o quesito da infraestrutura social e urbana, no entanto, em caracterização minuciosa acerca das operações do “PAC”3 de urbanização pode verificar-se que os contratos objetivaram na sua maioria uma urbanização integral, estando apenas dois de provisão habitacional (Residencial Liberdade e Residencial Jardim das Garças). Os demais contratos que envolviam infraestrutura urbana, produção e melhorias de unidades habitacionais, trabalho social e regularização fundiária, eventualmente incluindo a construção de equipamentos comunitários. No casos da urbanização parcial (Bacia da Estrada Nova e Vila da Barca) os investimentos da PAC envolviam apenas mais uma camada de outros investimentos que já haviam sido realizados previamente (reportados acima). Há ainda o caso do contrato do Portal da Amazônia, cuja obra de infraestrutura urbana complementaria a obra de urbanização do Portal. No entanto, é possível verificar pelo acompanhamento dos vinte e quatro contratos firmados apenas três foram concluídos, e ainda acontecendo normalmente numa averiguação em 2019 apenas quatro contratos, sendo três de urbanização integral e outro de urbanização parcial. No mesmo período de averiguação quinze encontravam-se paralisados, e dois atrasados correspondendo às duas etapas de provisão habitacional para os Conjuntos Liberdade e Riacho Doce, ambos localizados no Bairro de Guamá. Fazendo uma análise dos efeitos dessas políticas do Banco Nacional de Habitação (BNH) e do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), tendo como parâmetro a lógica locacional dos conjuntos habitacionais com recorte espacial na região de Belém, evidencia-se a localização periférica dos conjuntos destinados aos estratos de menor renda destacando um processo nítido de segregação que tem marcado a produção do espaço urbano nessas políticas habitacionais. Mapeando os conjuntos habitacionais segundo as diferentes três faixas de 3 Mais informações relacionadas com a localização e outros detalhes dos Conjuntos Habitacionais podem ser encontradosno estudo apresentado no XVIII ENANPUR relatando uma análise do PAC em Baixadas de Belém. 12 financiamento estabelecidas no âmbito do BNH e MCMV, ambos dividiram as famílias de renda mais baixa às de renda média alta, podendo constatar-se que as acessibilidades no tocante à localização dos conjuntos são diretamente proporcionais ao poder de compra dos mutuários, ou seja, enquanto os conjuntos destinados aos segmentos de menor renda têm-se concentrado em áreas mais periféricas ocupando precariamente essas áreas, os conjuntos destinados às faixas superiores têm sido construídos em subespaços mais integrados à mancha urbana ao longo das principais vias de circulação. Portanto, essa segmentação dos locais de moradia tem-se repetido ao longo das políticas habitacionais, desenhando um processo nítido de segregação social, e contraditoriamente à materialização dessas políticas cada novo empreendimento habitacional mesmo em áreas afastadas provoca certa elevação do preço do solo no seu entorno, impactando de forma a inviabilizar a produção de novos conjuntos destinados aos segmentos de menor renda, contribuindo para agravar ainda mais o quadro do défice habitacional nas famílias de baixa renda. Essa circunstância de aumento do preço podem ser melhor entendida quando colocado num sistema de avaliação da dimensão urbana o nível de bem-estar usufruído pelos cidadãos promovido através das condições colectivas, tais como, o ambiente construído, a vizinhança próxima, os equipamentos de serviços urbanos e outros serviços prestados pelo governo, relacionados às escalas de habitação. Essa avaliação por critérios fornece um Índice de Bem- Estar Urbano (I-BEU) e sua utilização teve início pelo projeto do observatório das metrópoles do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia (INCT), e se baseia na consideração de cinco dimensões “mobilidade urbana, condições ambientais urbanas, condições habitacionais, infraestrutura urbana e atendimento de serviços coletivos urbanos: a) mobilidade urbana é o 1º indicador de qualidade e corresponde ao tempo necessário para o trajeto de deslocamento entre o domicílio de residência e o local de trabalho diariamente; b) condições ambientas urbanas é o 2º indicador para arborização, potencial para acumulo de detritos ou esgoto de qualquer espécie no entorno do domicílio; c) condições habitacionais é o 3º indicador para o aglomerado subnormal, densidade domiciliar e morador/banheiro, qualidade de acabamento nas fachadas e espécie dos domicílios; d) serviços coletivos urbanos é o 4º indicador para atendimento adequado de esgoto público, de água potável, de energia elétrica e coleta adequada de lixo - resíduos; e) infraestrutura urbana é o 5º indicador para iluminação pública, pavimentação, espaço de pedestres, bueiro ou sumidouro de águas, rampa para cadeirantes e logradouros públicos. Essas condições se relacionam com as necessidades da sociedade e quaisquer alterações positivas que valorizem o espaço urbano em geral, mesmo que pequenas, 13 impactam nas condições do nível socioeconómico da população e consequentemente produzem impactos na pontuação do mercado imobiliário no entorno da vizinhança afetada pela decorrência dessas melhorias. Como exemplo dessa ocorrência de valorização décadas atrás em bairros de Fátima, Pedreira, Telégrafo e Sacramenta através de obra pública de interesse coletivo aponta-se o projeto da macrodrenagem da Bacia do Una, empreendimento realizado pelo estado e município com finalidade de recuperar as baixadas pela execução de obras de drenagem pluvial para solucionar problemas graves de inundações para as pessoas de baixa renda. Quanto aos resultados apesar de pouco importantes nos bairros em questão para afirmar uma mudança do perfil socioeconômico, numa análise geral existiram investimentos através da verticalização disponibilizando capital para o mercado imobiliário, acompanhado de uma significativa redução do número de assentamentos precários e aglomerados subnormais ao mesmo tempo que o número de construções de casas se tornou mais predominante. Outro exemplo de investimento na região de Belém é o BRT, o qual se aguarda com esperança o funcionamento definitivo por ser uma ajuda para o transporte público e um grande aliado na mobilidade da população na região metropolitana entre domicílio e trabalho, tendo começado a operar em 2019 com 20 km de extensão e 33 estações, o governo assinou um contrato em Setembro de 2021 para retomada dos serviços junto da empresa responsável pelo projeto com previsão de conclusão em 2022. Enfim, seguindo as últimas notícias o governo em 14/11/2021 anunciou a disponibilidade de orçamento público para a realização de mais investimentos públicos de interesse coletivo como a instalação de Pronto Socorro na Avenida Augusto Montenegro e do Hospital da Mulher, entre outros, que afetam diretamente o entorno da vizinhança pela decorrência dessas melhorias urbanas. Entende-se que caso os critérios de avaliação mercadológica estejam de encontro aos mesmos elementos definidos nos índices de Bem-Estar Urbano, pode-se identificar uma contrariedade histórica para os primeiros conjuntos habitacionais instalados próximo das década de 80 e 90 para classes de baixa renda na Avenida Augusto Montenegro, tendo em vista que atualmente algumas unidades habitacionais inicialmente segregadas socialmente usufruem da mesma localização com proximidade a infraestrutura de serviços e equipamentos urbanos, facilidade na mobilidade com transporte público, circunstâncias boas no entorno da 14 vizinhança que contribuíram para a valorização do capital imobiliário sem necessidade de investimentos, com ressalva da perda de valor pela baixa qualidade da mercadoria. Essas situações demonstram existir uma hipótese de produção da habitação sob dominância financeira e com subsídio público, não só pela indicativos de persistência do Estado na concessão de benesses ao setor privado da construção, mas também a mobilização de recursos públicos a favor da acumulação financeira via produção do espaço. Por exemplo, através do anúncio do programa MCMV, mesmo antes das obras se iniciarem, o setor da construção liderou à época uma alta na Bolsa de Valores4, com destaque para as empresas voltadas ao mercado de capitais, bem como boa parte dos primeiros empreendimentos foram utilizados estoque de terras de empresas em áreas periféricas que de outro modo ficariam sem destinação. Portanto, essa relação não foi exclusiva do setor imobiliário com o Estado para produção de habitação social, mas também uma influência de grande peso por uma fração específica de capital do circuito exercida pelas construtoras e incorporadoras de capital aberto. Lembrando que historicamente o Estado sempre foi fundamental na trajetória para estabelecer um novo arranjo de agentes na produção do estado urbano, as políticas e programas habitacionais estiveram sempre vinculados a incentivos à construção civil e à incorporação imobiliária; cuja maior importância teve início na década de 60 com o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional de Habitação (BNH). Em passado recente permaneceu um ambiente de segurança jurídica e financeira oferecida pelo Estado às ações das incorporadoras sem dúvida envolvendo o crédito com debêntures do FGTS, cuja forma de financiamento se encarou como uma possibilidade de ampliação dos debêntures simples voltados exclusivamente aos projetos enquadrados no MCMV. Entende-se que o Estado contribuiu com o papel de multiplicação de crédito às incorporadoras como forma de arrecadação, em período de crise e com muita dificuldade de inspirar confiança aos investidores privados. Entre vantagens, ao contrário das dúvidas que o mercado de capitais usualmente impõe nas escaladas especulativas, esses debêntures adquiridos pelo FGTS colocaram a responsabilidade dos riscos de prejuízo na produção na Caixa Econômica Federal (CEF), a então gestora do fundo, instituição supostamenteconsiderada uma agência financeira 4 Mais informações relacionadas aos efeitos na Bolsa de Valores e outros detalhes podem ser encontrados no estudo realizado pela USP “Produção Imobiliário sob Dominância do Capital Financeiro” relatando uma análise de tendências e contradições dos programas governamentais. 15 de vocação social, porém mantendo paradigmas de banco comercial que naturalmente busca o equilíbrio financeiro e retorno de capital aplicado. Desta forma obviamente que o Estado influi indiretamente para resolver a questão “o quê” para produzir pelo instrumento de controle crédito, tendo o crédito subsidiado a finalidade de estimular atividades econômicas. Um exemplo é a participação do órgão deliberativo no Sistema Financeiro Nacional (SFN) representado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) enquanto instituição do sistema financeiro com função de estabelecer as diretrizes da política macroeconômica (monetária, cambial e creditícia), regular as condições de funcionamento e de fiscalização das instituições financeiras, que em conjunto com o Banco Central como responsável entre diversas funções aquela como executor dessas políticas, as quais influenciam na ligação entre os agentes deficitários da economia que necessitam de recursos emprestados e os agentes superavitários que dispõem dos recursos para emprestar. Sem dúvida que o fortalecimento do ramo imobiliário uma década atrás esteve relacionado com o crescimento da renda, consequentemente com o poder aquisito dos trabalhadores com carteira assinada, que em conjunto com medidas do governo federal contribuíram para o setor através de incentivos disseminados em programas para média a baixa renda como Minha Casa Minha Vida (MCMV), ou mesmo para renda superior com oferta de juros mais baixos no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) para os imóveis usados abaixo de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reis), mais tarde até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais), este financiamento para quem usava recurso do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), medidas que acabaram estimulando mesmo que artificialmente o mercado imobiliário (Garcia et all., 2014). Recentemente a CEF anunciou outros incentivos para o crédito imobiliários aos clientes disponibilizando as menores taxas do mercado e ainda com o financiamento até 90% do valor de avaliação do imóvel deixando uma entrada no mínimo com 10% do valor da casa, as medidas anteriores de financiamento de imóvel envolviam 50% em 2015, depois 70% em 2016 como máximo em imóveis usados. Somando esses incentivos com o acirramento da concorrência entre instituições bancárias, as opções de financiamento para o consumidor na forma efetiva ao crédito imobiliária multiplicaram, exigindo uma boa pesquisa às condições oferecidas em diferentes bancos 16 como pré-requisito para bom negócio. Desde o passado antigo que os bancos têm procedimentos de análise de risco e oferecerem condições e taxas diferenciadas de acordo com o perfil ou cadastro de cada pessoa, por exemplo, o comprometimento de 10% de renda com a prestação implica menos risco e pode obter custo melhor que um consumidor que gastará 30% da renda ou que têm muitos dependentes por acrescenta maior risco ao banco. Essa experiência tem tomado a iniciativa do cidadão informado, deste uma década atrás, por exemplo, em passado recente a aquisição de imóvel de R$ 100.000 (cem mil) sairia mais barata no banco Itaú (privado), e na faixa de R$ 200.000 (duzentos mil) no Banco do Brasil (BB), observando que taxa de juro menor não significa necessariamente financiamento mais barato, e nem existe banco mais vantajoso para pedir empréstimo como a CEF que apesar de diretrizes com objetivos sociais, bem como responder por grande parte do crédito imobiliário nem sempre terá as melhores condições para o mutuário. A maior importância está no Custo Efetivo de Financiamento (CET) que teve sua divulgação obrigatória pelo Banco Central (BCB) através Resolução, esta taxa representa o total que o consumidor paga pelo empréstimo incluindo os juros, os seguros e as taxas administrativas. Igualmente, a linha de amortização será importante, por exemplo: financiando R$ 100.000 (cem mil) num prazo longo de 30 anos com uma taxa de juros de 11% ao ano, o custo total da operação será de R$ 165.391 pelo sistema de amortização crescente (SACRE) e R$ 171.034 pelo sistema de amortização Price. Outrossim, num passado recente para estimular a concorrência entre instituições bancárias o Banco Central autorizou os bancos a fecharem contratos imobiliários indexados ao IPCA no lugar da taxa referencial, decorrente da sequência de cortes na taxa básica e redução dos custos de financiamento da casa própria, deixando como aberta a opção da portabilidade do crédito imobiliário. Em geral, os efeitos vantajosos para o cidadão no financiamento envolviam a redução do valor das parcelas (parcelas iniciais menores) e melhoria nas condições do empréstimo. Essa situação ocorreu na consequência histórica do comportamento recorrente com a inadimplência das famílias nos financiamentos, cujas unidades foram tomadas pela Caixa Econômica Federal (CEF) através da garantia da alienação fiduciária e gerando excesso de estoque na carteira de fundos de tijolo para leilão, ocorrência relacionada com aumento da inflação expressa pelo IPCA enquanto o incremento na renda dos trabalhadores não seguiu o crescimento dos preços, deteriorado assim os orçamentos domésticos e gerando consequentemente impactos no financiamento imobiliário. 17 3. Conclusão Em resumo, a quantidade de recursos públicos destinados às famílias de qualquer renda para adquirirem uma moradia através da lógica de mercado e legitimado pelo discurso do défice habitacional, marcos regulatórios como estatuto da cidade voltados à produção imobiliária privada, bem como estratégias de produção e controle de próprias incorporadoras e construtoras, acabaram transformando até a parcela da população de baixa renda excluída do mercado habitacional numa oportunidade de impulsionar o processo de acumulação de capitais. Nos casos dos incentivos para famílias de baixa a média renda, os mecanismos incluíram subsídios, redução de taxas de juros, aumento do volume de créditos, ampliação de prazos de financiamento, e diminuição de valores de entrada, buscando ampliar a demanda solvável por imóveis residenciais voltados às faixas de baixa a média renda, e corroborar com a ampliação no mercado da noção de habitação social na demanda habitacional. Em passado recente permaneceu um ambiente de segurança jurídica e financeira oferecida pelo Estado às ações das incorporadoras sem dúvida envolvendo o crédito com debêntures do FGTS, cuja forma de financiamento se encarou como uma possibilidade de ampliação dos debêntures simples voltados exclusivamente aos projetos enquadrados no MCMV. Entende-se que o Estado contribuiu com o papel de multiplicação de crédito às incorporadoras como forma de arrecadação. Também sem dúvida que o fortalecimento do ramo imobiliário uma década atrás esteve relacionado com o crescimento da renda, consequentemente com o poder aquisito dos trabalhadores com carteira assinada, que em conjunto com medidas do governo federal contribuíram para o setor através de incentivos disseminados em programas para média a baixa renda como Minha Casa Minha Vida (MCMV), ou mesmo para renda superior com oferta de juros mais baixos no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) para os imóveis usados abaixo de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reis), mais tarde até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais), medidas que acabaram estimulando mesmo que artificialmente o mercado imobiliário (Garcia et all., 2014). Com efeito, se por um lado, elementos relacionados ao papel do Estado permitiram a entrada de uma faixa da população historicamente fora da demanda do mercado imobiliário, por outro, faltava discorrer atrativos econômicos para construtores e incorporadoras passarema priorizar este segmento econômico como estratégia de expansão da produção voltado às famílias de renda baixa a média. Em primeira vista, o lucro absoluto é menor por unidade 18 devido ao menor custo de produção e ao menor preço de venda, no entanto, a margem de lucro resultante do investimento global pode ser relativamente maior quando cumpridos certos atributos que interligam e influenciam direta e indiretamente na formação do preço final da mercadoria imobiliária, quais sejam: a) aceleração dos processos produtivos e de circulação de produto (velocidade de venda), logo, diminuição do período de rotação do capital; b) baixo custo de projeto e reprodutibilidade (padronização) dos produtos, diminuindo o custo de produção por unidade, e quanto menor a faixa de renda menor a sua diversificação; b) realização de grande quantidade de lançamentos imobiliários simultâneos, vínculo da produção imobiliária entre a ligação o capital financeiro e a capacidade operacional da empresa (por exemplo: utilização de concreto autodensável e sistemas construtivos focados na alvenaria estrutural, mecanização da produção e da aplicação da argamassa de revestimento). Esta circunstância técnica apesar de interessante para a produção de capital imobiliário pelas construtoras e incorporadoras, atualmente devido ao aumento da inflação demonstrado pela taxa SELIC, tanto os materiais de construção têm sofrido aumentos excessivos tal como apontado pelo SINDUSCON e demonstrado pela taxa IPCA-e, como também a renda familiar do público-alvo não acompanhou a inflação expressa pelo IPCA, deixando os orçamentos domésticos prejudicados e potencializando para ocorrências de distratos ou inadimplências, bem como agravando o défice habitacional e inviabilizando negócios pela necessidade de aumento do preços dos imóveis de incomportáveis atualmente para as famílias de baixa renda. Por outro lado, se segmentos de alto padrão apresentam uma redução no ritmo de aquisição de capital imobiliário conforme SINDUSCON, entende-se que a maior oferta de imóveis não se relaciona com a demanda do défice habitacional, envolvendo contradições entre a produção social do espaço e a apropriação privada, procedimento de apenas de expansão comercial do mercado imobiliário, e por não estarem direcionadas na demanda de necessidade o período de ritmo de venda se caracteriza numa forma exclusiva para o consumidor específico que busca investimentos no setor imobiliário como forma de transferência de capitais de outros setores, isto é, migração de capitais para o circuito imobiliário. Fazendo uma análise dos efeitos dessas políticas do Banco Nacional de Habitação (BNH) e do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), tendo como parâmetro a lógica locacional dos conjuntos habitacionais com recorte espacial na região de Belém, evidencia-se a localização periférica dos conjuntos destinados aos estratos de menor renda destacando um 19 processo nítido de segregação que tem marcado a produção do espaço urbano nessas políticas habitacionais. Mapeando os conjuntos habitacionais segundo as diferentes três faixas de financiamento estabelecidas no âmbito do BNH e MCMV, ambos dividiram as famílias de renda mais baixa às de renda média alta, podendo constatar-se que as acessibilidades no tocante à localização dos conjuntos são diretamente proporcionais ao poder de compra dos mutuários, ou seja, enquanto os conjuntos destinados aos segmentos de menor renda têm-se concentrado em áreas mais periféricas ocupando precariamente essas áreas, os conjuntos destinados às faixas superiores têm sido construídos em subespaços mais integrados à mancha urbana ao longo das principais vias de circulação. Portanto, essa segmentação dos locais de moradia tem-se repetido ao longo das políticas habitacionais, desenhando um processo nítido de segregação social, e contraditoriamente à materialização dessas políticas cada novo empreendimento habitacional mesmo em áreas afastadas provoca certa elevação do preço do solo no seu entorno, impactando de forma a inviabilizar a produção de novos conjuntos destinados aos segmentos de menor renda, contribuindo para agravar ainda mais o quadro do défice habitacional nas famílias de baixa renda. Em observação estritamente empírica, constata-se que acompanhando o período anterior ao século XX as opções realizadas pelo poder público sob possível influência obscura do mercado imobiliário surgiram com o início da construção através da verticalização a partir da Avenida Presidente Vargas, prosseguindo para os bairros centrais como Batista Campos, Nazaré, Umarizal, etc., promovendo o aumento da densidade habitacional em determinadas zonas da cidade, devendo ser observado que esses bairros possuíam infraestrutura disponível fruto do planejamento urbano decorrente de instrumento urbanístico prévio que propiciava ao interesse coletivo à finalidade socioeconómica reservados para o centro de cidade. Por exemplo, a partir das mudanças realizadas na época ao alinhamento da Avenida Presidente Vargas resultou um importante corredor econômico-financeiro, com a instalação de hotéis, órgãos públicos como Correios, Instituto Nacional de Assistência Médica e Providência Social, cinema e teatro, múltiplos estabelecimentos comerciais, agências de transportes, etc. que pela proximidade valorizaram toda a avenida devido à configuração urbana. Relativamente à valorização do capital imobiliário, pode-se identificar uma contrariedade histórica para os primeiros conjuntos habitacionais instalados próximo das década de 80 e 90 para classes de baixa renda na Avenida Augusto Montenegro, caso os critérios de avaliação mercadológica estejam de encontro aos mesmos elementos definidos nos índices de Bem- 20 Estar Urbano, haja vista que atualmente algumas unidades habitacionais inicialmente segregadas socialmente usufruem atualmente da mesma localização com proximidade a infraestrutura de serviços e equipamentos urbanos, facilidade na mobilidade com transporte público, circunstâncias boas no entorno da vizinhança que contribuíram para a valorização do capital imobiliário sem necessidade de investimentos, com ressalva da perda de valor pela baixa qualidade da mercadoria, mas enquadrando-se em local de perfil socioeconômico alto. Um outro exemplo da ocorrência de valorização do capital imobiliário por investimento público décadas atrás ocorreu nas bairros de Fátima, Pedreira, Telégrafo e Sacramenta com o projeto da macrodrenagem da Bacia do Una, empreendimento realizado com finalidade de recuperar as baixadas pela execução de obras de drenagem pluvial para solucionar problemas graves de inundações para as pessoas de baixa renda. Quanto aos resultados apesar de pouco importantes nos bairros em questão para afirmar uma mudança do perfil socioeconômico, numa análise geral existiram investimentos através da verticalização disponibilizando capital para o mercado imobiliário, acompanhado de uma significativa redução do número de assentamentos precários e aglomerados subnormais ao mesmo tempo que o número de construções de casas se tornou mais predominante. Outro exemplo de investimento na região de Belém que poderá contribuir para o aumento da valorização do capital imobiliário será o BRT, o qual se aguarda com esperança o funcionamento definitivo por ser uma ajuda para o transporte público e um grande aliado na mobilidade da população na região metropolitana entre domicílio e trabalho, atualmente o governo assinou um contrato em Setembro de 2021 para retomada dos serviços junto da empresa responsável pelo projeto com previsão de conclusão em 2022. Apesar da Caixa Económica Federal ter anunciado incentivos para o crédito imobiliários aos clientes disponibilizando as menores taxas do mercado e ainda com o financiamento até 90% do valor de avaliação do imóvel deixando uma entrada no mínimo com 10% do valor da casa, o acirramento da concorrência entre instituições bancárias, as opções de financiamento para oconsumidor na forma efetiva ao crédito imobiliária multiplicaram, exigindo uma boa pesquisa às condições oferecidas em diferentes bancos como pré-requisito para bom negócio. Por exemplo, em passado recente a aquisição de imóvel de R$ 100.000 (cem mil) sairia mais barata no banco Itaú (privado), e na faixa de R$ 200.000 (duzentos mil) no Banco do Brasil (BB), observando que taxa de juro menor não significa necessariamente financiamento mais 21 barato, e nem existe banco mais vantajoso para pedir empréstimo como a CEF que apesar de diretrizes com objetivos sociais, bem como responder por grande parte do crédito imobiliário nem sempre terá as melhores condições para o mutuário. A maior importância está no Custo Efetivo de Financiamento (CET) que teve sua divulgação obrigatória pelo Banco Central (BCB) através Resolução, esta taxa representa o total que o consumidor paga pelo empréstimo incluindo os juros, os seguros e as taxas administrativas. Igualmente, a linha de amortização será importante, por exemplo: financiando R$ 100.000 (cem mil) num prazo longo de 30 anos com uma taxa de juros de 11% ao ano, o custo total da operação será de R$ 165.391 pelo sistema de amortização crescente (SACRE) e R$ 171.034 pelo sistema de amortização Price. 22 Referências De Moraes, Natasha Barros. Economia e Mercado. Curso Técnico em Transações Imobiliárias. FIAMA - Faculdade Intercultural da Amazônia, Belém/PA, 2020. Cardoso, Adauto Lúcio. Habitação Social nas Metrópoles Brasileiras: Uma Avaliação das políticas habitacionais em Belém, Belo Horizonte Porte Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo no final do século XX. Coleção Habitare, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Porto Alegre, 2007. Kitabayashi, Rosana Tie. Estratégia competitiva do varejo supermercadista da região metropolitana de Belém: 1990 a 2004. Dissertação de Mestrado em Economia. 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