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1 POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO NA INFÂNCIA 1 Sumário POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO NA INFÂNCIA ................................... 3 Introdução ........................................................................................................ 3 Conceito e objetivos da intervenção ................................................................ 4 Operacionalização da intervenção precoce ..................................................... 6 Sinalização ................................................................................................... 6 Formas de intervenção: intervenção familiar sistémico- ecológica .................. 8 ............................................................................................................... 10 Abordagem psicodinâmica ............................................................................ 11 Terapia Infantil ............................................................................................... 13 Qual a sua importância? ............................................................................ 14 Como funciona e quais as particularidades desse tratamento? ................. 15 Quando fazê-la?......................................................................................... 17 Benefícios da terapia infantil ...................................................................... 18 Métodos podem ser utilizados.................................................................... 20 Ludoterapia............................................................................................. 20 Brincadeiras de faz de conta .................................................................. 21 Desenvolvimento intelectual....................................................................... 23 Desenvolvimento físico .............................................................................. 24 Desenvolvimento social ............................................................................. 25 Desenvolvimento emocional ...................................................................... 25 Como acontece o desenvolvimento emocional na infância? .................. 26 Musicoterapia ............................................................................................. 27 Abordagem cognitivo-comportamental .......................................................... 28 Conclusão ...................................................................................................... 29 Referência ..................................................................................................... 31 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO NA INFÂNCIA Introdução O presente trabalho visa debruçar-se sobre a intervenção junto da criança e da sua família, e as suas formas de atuação. A intervenção precoce, trata-se de um serviço prestado por um conjunto de técnicos (de formação diferenciada) que visa uma intervenção de natureza socioeducativa e terapêutica junto de crianças (dos 0 aos 6 anos) cujo desenvolvimento se encontra comprometido, ou em risco de o ser. Esta intervenção com crianças, parte do princípio que quanto mais cedo se fizer a detecção de caso, mais fac ilmente se evitará a cristalização ou o agravamento dos problemas da criança, da estrutura familiar e da comunidade. A intervenção precoce dá assim atenção não só à criança, mas também aos vários contextos de socialização e de educação, como a família, o jardim de infância e/ou outros. De facto, uma intervenção precoce não se centra na criança como um ser individual, mas sim como fazendo parte de um sistema onde se insere, pelo que uma intervenção a este nível se centra sobretudo na família. O processo em torno da intervenção precoce, inicia-se pela sinalização do caso, que pode ser detectado pelos pais, educadores, ou outros, e que resulta posteriormente na intervenção, podendo ser desenvolvida através de uma intervenção familiar sistémica-ecológica, da terapia psicodinâmica, da terapia cognitiva-comportamental, e da intervenção em rede transdisciplinar . 4 Conceito e objetivos da intervenção O conceito de intervenção foi precedido pelo conceito de estimulação precoce, que se centrava unicamente sobre a necessidade de estimular a criança, colocando em ação as suas capacidades motoras e sensoriais, de forma a obter maior qualidade nesses domínios (Franco, 2007). Atualmente, o conceito de intervenção precoce é mais amplo e dimensional, e pode ser definido como o conjunto das intervenções dirigidas às crianças, até aos 6 anos, com problemas de desenvolvimento ou em risco de os virem a apresentar, às suas famílias e contextos (Correia & Serrano, 1998, cit. in Franco, 2007). Recentemente, Dunst e Bruder (2002, cit. in Pimentel, 2004), referem que a intervenção precoce é o conjunto de serviços, apoios e recursos que são indispensáveis para responder, quer às necessidades específicas de cada criança, quer às necessidades das suas famílias, no que respeita à promoção do desenvolvimento da criança. Assim, a intervenção precoce inclui todo o tipo de atividades, oportunidades e procedimentos destinados a promover o desenvolvimento e aprendizagem da criança, assim como o conjunto de oportunidades para que as famílias possam promover esse mesmo desenvolvimento e aprendizagem. A intervenção precoce pode também ser definida como uma medida de apoio integrado centrada na criança e na família, mediante ações de natureza preventiva e habilitaria, designadamente do âmbito da educação, saúde e ação social, que permite 5 assegurar condições facilitadoras do desenvolvimento da criança com deficiência ou em risco de atraso grave de desenvolvimento, potenciar as interações familiares como suporte da sua progressiva capacitação e autonomia face à problemática da deficiência (Diário da República, 1999). Estas definições envolvem três conceitos fundamentais de prevenção: Prevenção primária (evitar que as dificuldades ocorram). Prevenção secundária (melhorar as dificuldades das crianças com vista à sua eliminação). Prevenção terciária (melhorar e não permitir o agravamento das dificuldades das crianças com necessidades educativas especiais já adquiridas), para que assim, melhorias na pessoa e no meio ambiente possam conduzir a uma melhoria simultânea da qualidade de vida (Bairrão, 2006). Como já foi referido, o objetivo lato da intervenção precoce é a melhoria da qualidade de vida da criança e da família. Contudo, os grandes objetivos na base de uma intervenção precoce são: Criar as condições facilitadoras do bom desenvolvimento e que permitam eliminar ou diminuir o risco. Facilitar a integração da criançano meio familiar, escolar e social e a sua autonomia pessoal, através da redução dos efeitos de uma deficiência ou déficit. Reforçar as boas relações e competências familiares através da promoção de uma boa base emocional de suporte; e introduzir mecanismos de compensação e de eliminação de barreiras (Franco, 2007). Ao falar de intervenção precoce a um nível familiar, fala-se inevitavelmente de parentalidade e da importância dos papéis dos pais a desempenhar na vida da criança, que muitas vezes, têm que ser ensinados e treinados de forma a que os papéis desempenhados pelos pais, promovam um desenvolvimento saudável à criança. Desta forma, podemos sistematizar as funções a desempenhar pelos pais em cinco parâmetros (Cruz, 2005). 6 A primeira função dos pais consiste em suprimir e satisfazer as necessidades mais básicas da criança, de sobrevivência e saúde. A segunda função relaciona-se com o disponibilizar à criança um mundo físico organizado e previsível, com espaços e objetos que possibilitem a existência de rotinas. A terceira função base dos pais é dar resposta às necessidades de compreensão cognitiva das realidades extrafamiliares (os pais como intérpretes do mundo exterior face à criança). A quarta função prende-se com o satisfazer das necessidades de afeto, confiança e segurança (construção de relações de vinculação). E por último, a quinta função que se relaciona com o satisfazer as necessidades de interação da criança e a sua integração na comunidade. Para além destas funções, os pais têm ainda, segundo Parker e Buriel (1998, cit. in Cruz, 2005), outros papéis muito importantes, tais como, o de serem parceiros de interação nas mais diversas atividades quotidianas; assumirem ainda um papel mais didático de instrutores diretos na resolução de problemas em contextos sociais, e por fim, um terceiro papel de preparação de disponibilização de oportunidades de estímulos e aprendizagens em contextos não familiares. Operacionalização da intervenção precoce Sinalização “Intervir precocemente é estar atento a múltiplos fatores que potencialmente podem gerar alterações no desenvolvimento, é prestar atenção aos sinais de alerta, às angústias e apelos trazidos pelos pais, educadores e outros técnicos de forma a minorar e colmatar as situações quotidianas. ” (Correia, Álvares & Abel, 2003, cit. in Gomes, 2008). A intervenção precoce é um processo que passa por várias fases. A primeira etapa deste trabalho, diz assim respeito à identificação, ou seja, à observação dos primeiros sinais ou sintomas que sugerem que o desenvolvimento de uma criança pode estar em risco ou a progredir de uma forma atípica. A maior parte das vezes a 7 sinalização em intervenção precoce é feita pelos próprios pais que recorrem a serviços de saúde para tentar perceber “o que se passa com o seu filho”. Normalmente são os pais que decidem consultar um profissional, contudo, muitas vezes, estes acabam por desvalorizar o problema e decidem não pedir ajuda, ou pedem já tardiamente. Outras vezes são os próprios profissionais de saúde que detectam a necessidade de uma intervenção com determinada criança ao nível psicológico, e normalmente não só com a criança, mas também com os seus pais. Para que a sinalização de um caso seja feita de forma eficaz é necessário conhecer o desenvolvimento básico e normal de uma criança nos seus primeiros meses/anos de vida. Muitas vezes, os pais não possuem este conhecimento e não percebem a necessidade de contatar ou pedir ajuda a profissionais, por isso, os educadores de infância (ou técnicos que trabalhem e lidem com crianças) têm a função de perceber indicadores de risco no desenvolvimento de um bebé/criança. Segundo Xavier e Ferreira (1999, cit. in Gomes, 2008), falar de risco no desenvolvimento de uma criança, implica considerar que o bem-estar da criança é posto em causa tendo em conta fatores adversos de ordem biológica e/ou ambiental que podem interferir no decurso do desenvolvimento antes ou depois do nascimento. Desta forma percebemos que uma criança em risco de desenvolvimento, não é só aquela que apresenta sintomas ou traços de “anormalidade”, mas todas aquelas que possam estar expostas a fatores biológicos ou ambientais sugestivos (Gomes, 2008). Existem ainda os casos em que é feito um diagnóstico precoce das dificuldades desenvolvimentais da criança ainda durante a gravidez, e por isso, nesses casos a intervenção começa de imediato com os futuros pais. Neste tipo de casos a intervenção precoce tende a ter ótimos resultados. Sabe-se que o primeiro ano de vida de um bebé é um período particularmente sensível no qual as experiências do mundo exterior têm um efeito crucial sobre o desenvolvimento da criança, dada a sua grande plasticidade (Gomes, 2008). Assim, quanto mais cedo for feita uma sinalização de uma criança com dificuldades no desenvolvimento ou em risco destas, mais eficaz se poderá tornar uma posterior intervenção com a criança e os seus pais. 8 Formas de intervenção: intervenção familiar sistémico- ecológica A Equipa de Intervenção Direta, depois de sinalizados os casos faz uma primeira abordagem de avaliação das necessidades e dificuldades da família e da criança (diagnóstico), realiza um levantamento exaustivo dos recursos, elabora o PAFI (Plano de Apoio Familiar Individualizado) e a partir daqui pode iniciar a sua intervenção, definindo logo de início com os pais, os objetivos os quais se propõem chegar (Teixeira, 2005) é uma exigência dos programas de intervenção (Lampreia, 2007). Uma terapia familiar é sistémica, na medida em que utiliza as diferentes partes do sistema em que está a ocorrer o problema. Assim, em vez de depender da experiência e do ponto de vista de uma pessoa para contextualizar e resolver os problemas, a terapia familiar numa intervenção precoce inclui não só a criança sinalizada, mas também os seus pais, irmãos e quando se justifica, os avós, tios, primos, etc. (Pereira, 2007). Em certos casos, as terapias necessitam de recorrer a outros sistemas dos quais a criança identificada faz parte, como por exemplo o jardim de infância, de forma a identificar todos os fatores que possam estar na base do problema em causa. Em consultas de Psicologia Infantil, a família aparece com os seus problemas, geralmente, apresentados como centrados num só elemento da família, normalmente associados a preocupações com o desenvolvimento do seu filho. A sua inquietação pode prender-se com aspetos comportamentais, de desempenho escolar, de relacionamentos interpessoais, com a família, sendo normalmente os pais a identificarem os problemas e a fazerem as suas próprias atribuições (Sá, 2003). Quando um terapeuta decide intervir numa dada família com um dado problema, a primeira coisa que faz é situar a família no ponto do ciclo vital em que está sendo este ciclo constituído pelos momentos mais 9 significativos da vida familiar, no qual existem zonas de particular instabilidade. Estes momentos, correspondentes a mudanças na organização familiar, por si só, são geradores de desequilíbrios momentâneos a que a família tem de dar resposta, de forma a atingir uma nova organização estável (Sampaio & Gameiro, 1985, cit. in Lampreia, 2007). Grande parte de um programa de intervenção precoce é levada a cabo em casa pelos próprios pais e deve ocorrer diariamente. Contudo, além dos pais terem uma grande influência no programa de intervenção precoce, o próprio programa pode afetar o ciclo de vida familiar, podendo causar stress no seu seio. Segundo Guralnick (2000, cit. in Lampreia, 2007) os quatro principais agentes de stress que podem afetar a família numa intervenção são, em primeiro lugar, a grande quantidade de informação sobre o processo de diagnóstico, os problemas de saúde, as recomendações e atividadesterapêuticas, e em segundo lugar, todo o processo de diagnóstico e avaliação, visto que muitas vezes, implica mudanças nas rotinas diárias, gastos financeiros, entre outros. Estas intervenções que pressupõem um envolvimento familiar, nem sempre ocorreram desta forma, em que se dá um enfoque à família no seu todo. No início (por volta dos anos 50), nas intervenções precoces, os pais desempenhavam um papel mais passivo, a responsabilidade dos programas era atribuída quase inteiramente aos profissionais, que desenhavam e implementavam os programas num centro educacional ou em casa. A abordagem centrada na família (McWilliam, Winton & Crais, 2003) teve, assim, a sua origem nas perspectivas de Bronfenbrenner (1975) e de Hobbs et al, (1984) sobre sistemas ecológicos e sociais. Esta nova abordagem que tem em conta o envolvimento parental na intervenção surge assim por volta dos anos 70, trazendo consigo alguns princípios. Num primeiro princípio, a família pode ser vista que demonstra atraso no desenvolvimento, tendo as intervenções o objetivo de diminuir o impacto destes riscos no desenvolvimento futuro da criança. A abordagem centrada na família vê, agora, além da criança, toda a família como alvo de intervenção, em que o mal-estar de um membro da família irá afetar os outros membros. Um segundo princípio desta abordagem é reconhecer os pontos fortes das crianças e da família (McWilliam, et al., 2003), em que se deve identificar 10 e reconhecer estes pontos fortes. Outro princípio é o de dar resposta às prioridades identificadas pela família, ou seja, identificar aquilo que os pais consideram ser mais importante para o seu filho, e para tal, o profissional tem que fornece uma estrutura que permita um à vontade para a família comunicar e partilhar informações. Em quarto lugar, é necessário, segundo esta abordagem, individualizar a prestação de serviços (McWilliam, et al., 2003), uma vez que cada família é única, sendo essencial conceber um plano individual de serviços. Um quinto princípio, centra-se em dar resposta às prioridades, em constante mudança, das famílias, sendo que estas prioridades não são estáticas, e por isso, as estratégias de intervenção devem ser adequadas a cada etapa da vida de uma família. O último princípio desta abordagem centrada na família, fala em apoiar os valores e o modo de vida de cada família, sendo que estas possuem as suas próprias rotinas diárias, a forma como cada família se adapta aos filhos com necessidades, e às suas próprias necessidades, difere muito. Desta forma percebemos que uma abordagem centrada na família não tem o objetivo de perturbar as rotinas familiares, mas sim ajudar a família a atingir um equilíbrio (McWilliam, et al., 2003). Uma terapia familiar pode seguir vários modelos de intervenção adequados a cada família, cada caso ou problema apresentado. Assim, a intervenção pode seguir uma abordagem psicodinâmica, em que o principal objetivo é ajudar os elementos da família a conseguir uma compreensão de si próprios e da forma como interagem entre si, dando ênfase às necessidades e problemas dos elementos individuais. Pode ainda seguir uma abordagem transacional, uma abordagem estrutural, uma abordagem estratégica ou uma abordagem comportamentalista. 11 Abordagem psicodinâmica Cada vez mais a experiência clínica tem demonstrado que os acontecimentos e as percepções que ocorrem durante o período da gravidez, trabalho de parto e nascimento exercem uma forte influência, favorável ou desfavorável, nas relações entre os membros da nova família, afetando os sentimentos da mãe e do pai em relação ao novo elemento da família, sentimentos, esses, que podem durar toda uma vida (Gomes-Pedro, et al., 2005). Quando ocorre o nascimento de uma criança portadora de algum tipo de patologia, ou seja, um bebé com necessidades especiais, este virá, por sua vez, confirmar as fantasias dos seus pais, sobre a sua capacidade de gerarem, ou não, um filho perfeito. E por isso, nestas situações, em que a família não está preparada para receber uma criança que irá exigir uma grande disponibilidade psicológica, e não só, coloca-se a necessidade da existência de um apoio externo à família, tanto por parte da comunidade que a envolve, como por parte de profissionais que a possam ajudar a ultrapassar com sucesso esta nova fase. A característica do ser humano que sofre é a permanente necessidade do outro (Kislanov, 2005). Neste contexto, o dever de um psicólogo numa equipa que apoie a família será o de destacar as relações entre a criança e os pais. Num setting psicanalítico, um psicólogo pode desde logo analisar os sintomas que com o desenvolvimento da criança se podem vir a agravar, daí a vantagem de ser desde logo, precocemente, acompanhados por um profissional que possa levar os pais à compreensão de tudo o que poderá vir a acontecer, e como deverão proceder, de forma a que o bebé se desenvolva (nos seus vários níveis de desenvolvimento) da melhor forma possível. O método psicanalítico privilegia a escuta, a observação, a continência emocional do profissional diante da transferência e contratransferência, instrumentos que favorecem a aproximação à realidade psíquica e o acontecimento do pensamento (Kislanov, 2005). As terapias psicodinâmicas, normalmente enquadram-se sobretudo em famílias numa fase muito precoce, em que o filho ainda é bebé, e por isso, 12 normalmente estas têm como objetivo principal observar a interação mãe-bebé e com outros membros da família, sobretudo o pai, permitindo que os pais falem sobre o seu bebé, sobre si mesmos e sobre as suas próprias famílias. Neste âmbito, o psicólogo irá procurar saber a história do bebé, desde o relacionamento com os seus pais, com os seus avós, até a sua concepção, nascimento e desenvolvimento até à etapa do ciclo de vida em que se encontra. Assim, um psicanalista procura ter acesso às diferentes representações do bebé imaginário, fantasmático, cultural e real que os pais têm do seu filho. Uma intervenção terapêutica ao nível psicológico, muitas vezes, ainda durante a gravidez, foca-se sobretudo na mãe e nos aspetos psicológicos que a envolvem. Numa intervenção psicanalítica, normalmente, coloca-se fundamentalmente a questão de o adulto se organizar a si mesmo e à sua capacidade de amar e ser amado numa relação total (Ferreira, 2002). Assim, o papel de um terapeuta psicanalítico será o de perceber o bloqueio relacional, encontrar o conflito sob as defesas, identificando- se ao interlocutor pela capacidade intuitiva e projetiva, mas diferindo dele pela capacidade do Eu e pela capacidade de perceber o outro através de si mesmo (Ferreira, 2002). Muitas vezes, o papel do psicólogo é tentar chegar às memórias que os pais portam consigo da sua própria infância, da forma como os seus próprios pais desempenharam o seu papel de pais. Neste âmbito de acompanhar e apoiar famílias e bebés através de psicoterapias, Anauate e Amiralian (2007) consideram que o incentivo da criança à comunicação, por meio da interação, deve ser proporcionado desde cedo. Esta interação inicia-se desde logo, quando se estabelece o contato do olhar entre a criança e os seus pais. Assim, ao olhar o bebé, a mãe conversa com ele, estimulando a comunicação e dando a esta a devida importância (Anauate & Amiralian, 2007). Quando, por qualquer razão, os pais deixam de ter interesse em comunicar com o seu bebé, por exemplo, quando o bebé nasce com uma deficiência e há um contraste muito grande entre o filho esperado e o filho real, o papel dos psicólogos será o de ensinar a manter um relacionamento contínuo com o seu filho. No entanto, este relacionamento deve proporcionar espaço para que a criança se desenvolva de forma autónoma, mas, por outro lado, sentindo-se segura, sendo importante instruir os pais, nosentido de permitirem que a criança seja ela mesma e não lhe tentem impor o seu eu. Tal como refere Winnicott (1993, cit. in Anauate & Amiralian, 2007) 13 deve existir um meio envolvente suficientemente bom que permita alcançar autonomamente as suas satisfações, mas também as ansiedades e conflitos apropriados. Neste tipo de psicoterapias dinâmicas, o trabalho com as crianças centra-se sobretudo na análise de desenhos elaborados por estas, sendo este o modo preferencial de comunicação das crianças em certas idades. Estes desenhos infantis provem de um espaço intrapsíquico, possuindo um significado e representando uma ponte comunicativa entre o inconsciente dinâmico e a vida consciente (Ferreira, 2002). Terapia Infantil A Terapia Infantil é uma área da psicoterapia voltada especialmente para o atendimento de crianças. Geralmente, os profissionais utilizam recursos lúdicos para observar o comportamento dos pacientes e trabalhar as dificuldades mais evidentes. As atividades lúdicas são essenciais a esse processo de diagnóstico, visto que algumas questões subjetivas relacionadas a angústias ou tristezas, sem causa aparente, podem ser percebidas por meio desse método. Comumente, a criança não tem o discernimento do que sente para falar espontaneamente durante o atendimento. Assim, essas brincadeiras possibilitam a interação com o profissional, de modo que ele encontre caminhos para aliviar o sofrimento e ajudá-la. 14 Nesse sentido, a terapia infantil é utilizada para identificar os conflitos que estão gerando dor e desconforto. Essa situação afeta o bem-estar não só dos pequenos, como também dos pais ou responsáveis quando não conseguem encontrar uma saída para o problema. Por meio desses jogos lúdicos, o terapeuta consegue abordar o mundo infantil, considerar as necessidades particulares e os caracteres especiais de cada criança. O maior referencial é o sofrimento da criança, e o objetivo a ser alcançado é auxiliá- la na busca de caminhos para sentir-se melhor. Qual a sua importância? Os seres humanos aprendem tudo o que sabem ao longo da vida. Esse aprendizado evolui conforme as experiências adquiridas ou de acordo com o que vai sendo demonstrado durante essa jornada. Isso ajuda a entender por que as crianças, muitas vezes, ainda não se desenvolveram o bastante para aprender a nomear seus sentimentos. Elas não entendem o que significa aquela sensação dentro do peito, pois não sabem diferenciar tristeza de angústia. Por isso, mediante situações novas ou difíceis, muitas crianças se fecham, e começam a se comportar de maneira estranha ou diferente. Nessas circunstâncias, os pais ou responsáveis precisam de muita habilidade para perceber que a criança necessita de auxílio. Assim, a busca pela ajuda profissional é importante para direcionar condutas mais adequadas ao enfrentamento do problema. Muitas crianças podem necessitar de ajuda, mas não conseguem se expressar ou explicar o que estão sentindo. Tendo isso em vista, esse tipo de terapia utiliza metodologias específicas para identificação diagnóstica da problemática infantil. Porém, o acompanhamento dos pais também é importante para auxiliar o tratamento do filho. Por meio da terapia familiar é possível promover o ajuste necessário à harmonia do lar. Logo, o envolvimento dos pais nesse processo psicoterapêutico é um dos pontos essenciais para a reversão dos diferentes problemas familiares. Nesses encontros, os pais ou responsáveis aprendem formas alternativas de auxiliar o filho, 15 além de entender melhor como os pequenos absorvem o que ocorre no contexto familiar. Essa metodologia surge, então, como uma aliada importante à escolha de condutas que façam a criança se sentir mais acolhida. Por meio dessa intervenção é possível promover maior autonomia para que o infante aprenda a lidar com as mudanças e oscilações que surgem na vida. Portanto, a terapia infantil possibilita estabelecer uma relação genuína com a criança e orientar a conduta dos pais quanto ao enfrentamento desse problema. Inicia-se, então, um processo de mudança comportamental com vistas à promoção da saúde emocional e ao fortalecimento dos laços familiares. Como funciona e quais as particularidades desse tratamento? A infância é uma fase marcada por transformações e crescimentos, tanto no âmbito físico quanto no emocional. No entanto, nesse período podem surgir alterações comportamentais que exigem muita compreensão e habilidade para lidar com elas. Nesse contexto, entender como funciona a terapia infantil é imprescindível para que os pais, avós, professores ou demais responsáveis pela criança procurem um tratamento adequado. Algumas questões exigem atenção especial e intervenção imediata a fim de evitar que o quadro se agrave. O tratamento psicoterápico infantil começa com uma entrevista com os pais ou responsáveis. Nessa conversa inicial é feita uma anamnese minuciosa a fim de coletar dados sobre o histórico da criança. Compreender a dinâmica familiar e a apresentação das principais queixas é o ponto de partida para direcionar condutas mais acertadas. Aspectos do planejamento familiar quanto à gravidez, nascimento e o desenvolvimento da criança são investigados detalhadamente. 16 Os profissionais também procuram saber sobre a relação entre os integrantes da família e se houve algum motivo em especial para a mudança no comportamento da criança. Informações sobre a queda no desenvolvimento escolar e questões ligadas ao aprendizado são fatores bem relevantes para direcionar a intervenção terapêutica. Após a coleta das informações iniciam-se as sessões de consultas de terapia infantil. Dependendo da gravidade do caso, poderá ser preciso iniciar o tratamento com uma conversa individual com a criança, antes de proceder à terapia com os pais ou a consulta familiar. Vale destacar que o tratamento não tem um tempo determinado de duração, muito embora já se perceba mudanças positivas após as primeiras sessões. Por isso, é necessário ter paciência para que a criança consiga interagir com o terapeuta a fim de que os procedimentos atendam às expectativas de todos os envolvidos. Ainda que a criança não fale o que está sentindo ou quais são os dilemas que mais a incomodam, por meio das informações coletadas na primeira entrevista, o profissional poderá vislumbrar diferentes possibilidades de intervenção. Igualmente importantes são as observações da comunicação não verbal, olhares, gestos, lágrimas, sorrisos, ou mesmo o próprio silêncio, são fundamentais à percepção dos fatores que mais influenciam o comportamento da criança. Com bastante tato e delicadeza, o terapeuta conseguirá, aos poucos, dar nome aos sentimentos da criança e explicar para ela as melhores formas de enfrentar o que tanto a incomoda. No decorrer das consultas, serão criadas possibilidades múltiplas que facilitarão o processo do seu desenvolvimento. Para que esse processo terapêutico tenha melhores resultados, o envolvimento da família e a colaboração da escola são fundamentais. Eles receberão orientações para aprenderem algumas formas de lidar com a questão. Esse trabalho conjunto visa auxiliar a criança na superação dos problemas que ela vivencia. 17 Como a criança passa bastante tempo em casa com a família e na escola, a colaboração dos pais e professores influencia bastante os resultados. Essa parceria é extremamente importante para que o trabalho do terapeuta, mesmo fora da sessão, siga uma sequência positiva. Quando fazê-la? São diversos os motivos que levam os pais ou responsáveis a procurar ajuda para as crianças por meio do tratamento psicoterapêutico. No entanto, os mais comuns são: Dificuldade de relacionamento com outras crianças; Inconsistência com os membros da família; Constantes reclamaçõesdos professores; Dificuldade em manter a concentração; Baixo rendimento escolar; Traumas de infância; Isolamento social; Timidez excessiva; Agressividade; Hiperatividade; Depressão. 18 A maior parte desses sintomas pode estar relacionado à dificuldade em lidar com certas situações. A mudança de escola, a separação dos pais, a morte de um ente querido ou até mesmo de um animal de estimação são fatores de influência. Outro aspecto que não pode deixar de ser considerado é a mudança no estilo de vida devido aos problemas que reduzem a condição financeira dos pais. As crianças percebem quando há crise conjugal ou quaisquer outras questões que afetam o relacionamento dos pais. Tais situações acentuam o medo e a insegurança dos infantes, o que colabora para aumentar os sintomas relacionados às crises emocionais. Nesse contexto, a psicoterapia infantil contribui para que a criança consiga lidar com essas adversidades de modo mais tranquilo e menos doloroso. Se o diagnóstico e a abordagem inicial exigem habilidade do profissional, o tratamento requer paciência. Tanto do terapeuta como dos familiares ou responsáveis. Convém salientar que uma intervenção terapêutica infantil se diferencia bastante dos tratamentos convencionais. Exige-se bem mais do que identificar um sintoma, conduzir a criança ao pediatra, fazer exames laboratoriais, tomar a medicação e esperar o resultado. O tempo do tratamento pode variar de acordo com o nível do problema em questão. Logo, não é possível estabelecer um prazo para resolver o caso. A função da terapia infantil é apoiar a criança e ajudá-la a compreender o que se passa com ela. Além disso, o terapeuta tem como missão auxiliar os pais a trabalharem melhor a capacidade de serem pais daquela criança. Benefícios da terapia infantil 19 As crianças pequenas, principalmente quando estão nos primeiros anos escolares, sofrem muito quando não conseguem boa interação com os pais, colegas da escola e professores. Na maioria das vezes, elas ficam inseguras e não conseguem expressar seus próprios sentimentos. Existe um medo muito grande da rejeição e, com isso, os pequenos se infiltram em seu mundo, cobrem-se com um “manto protetor” e dificultam as relações. Eles não conseguem interagir com outras crianças, não confiam nos adultos e tendem a fugir de conversas com pais ou professores. Nessa conjectura, a terapia infantil torna-se um caminho seguro para aprender a lidar com uma criança que apresenta problemas como medo e insegurança. Representa, pois, maiores possibilidades de uma intervenção mais eficiente e capaz de promover o bem-estar e a harmonia na vida na criança. Logo, os benefícios da terapia infantil são incontáveis: para as crianças porque aprendem a enfrentar os sentimentos de outra forma, e para os pais porque conseguem compreender esse momento difícil e abraçar o filho em prol da restauração da confiança dele. Além desses, há outras vantagens que justificam a busca pela ajuda profissional. Veja quais são: Aumenta o rendimento escolar; Eleva o poder de concentração; Promove a integração social da criança; Desenvolve o potencial criativo da criança; Incentiva a interação com as outras crianças; Propicia o amadurecimento psicológico e o poder mental; Reduz o excesso de tecnologia, o qual afeta a saúde mental de crianças; Aumenta a capacidade de desenvolvimento de habilidades emocionais; Influencia a construção de um relacionamento melhor com os pais e professores; Ajuda a criança a compreender que na vida pode acontecer coisas que não queremos. 20 Métodos podem ser utilizados Há diversas formas de ajudar as famílias que enfrentam esse tipo de problema. Basta escolher a opção mais adequada e buscar ajuda. Entretanto, a intervenção pela terapia infantil é realizada basicamente por meio de atividades lúdicas: brincadeiras que a criança utilizará para expressar seus sentimentos. Em outras palavras, o trabalho lúdico é a forma segura pela qual o paciente infantil consegue expor seu mundo interno. As intervenções podem ocorrer de diversas formas. No entanto, as mais indicadas são: Ludoterapia A palavra ludoterapia origina-se na palavra inglesa “play-therapy”, e pode ser literalmente traduzida por “terapia pelo brincar”. Essa técnica é amplamente utilizada na clínica infantil por profissionais da Psicologia no tratamento de transtornos emocionais ou de problemas comportamentais. Baseada em recursos lúdicos como jogos, diversos brinquedos e também pelas brincadeiras de faz de conta, essa alternativa permite que a criança desfrute de momentos de alegria e de interação. Enquanto a criança brinca, o profissional observa as reações dela com o intuito de perceber um pouco da subjetividade e dos sentimentos que ela ainda não consegue explicar. 21 Por si só, o brinquedo auxilia a criança em seu desenvolvimento físico, mental, afetivo e social. Por meio das atividades lúdicas, a criança formula variados conceitos e consegue relacionar ideias. Nesses momentos de lazer, o infante estabelece relações lógicas, aprende novas formas de comunicação, desenvolve a expressão oral e corporal, diminui a agressividade, reforça habilidades sociais e interage socialmente. Assim, a ludoterapia possibilita a construção de variadas representações psicológicas. Vygotsky aponta que, para as crianças, os objetos adquirem um sentido muito especial durante o brincar: de forma quase imperceptível, uma criança substitui os objetos por outros que acha mais interessante e lhe dão mais sentido. A produção de sentido possibilita que a criança consiga se organizar enquanto ser social. Mais do que isso: o brincar da criança favorece a construção subjetiva dos sinais e dos significados relativos às relações humanas. Portanto, a técnica da ludoterapia pode ser considerada como um espaço de construção de significados e sentidos. Esse tratamento assegura bons resultados para a prevenção da saúde mental e física, além de melhorar o desenvolvimento da criança. Brincadeiras de faz de conta 22 A brincadeira é uma atividade movida pela imaginação, porém, consciente e que se desenvolve conforme o crescimento e o desenvolvimento infantil. Ao brincar, os infantes começam a compreender e visualizar o objeto, não da forma que ele é, mas como ela gostaria que fosse. Isso significa que, nas brincadeiras, os objetos perdem suas reais características e passam a ter o significado que lhe conferem. Assim, o brincar é uma situação imaginária criada pela criança. O objetivo é suprir necessidades que vão mudando conforme a idade. Logo, no mundo do faz de conta, a imaginação é composta a partir de elementos retirados da realidade. Resultam, pois, de experiências coletivas e de práticas sociais compartilhadas na experiência do ser com o mundo externo. Nas brincadeiras de faz de conta estão presentes tanto a função lúdica como a educativa. Mesmo que sejam modificadas, ainda promovem aprendizagem de conceitos e dão diferentes significados à relação da criança com o mundo ao seu redor. Desse modo, a brincadeira de faz de conta é uma técnica importantíssima para auxiliar o psicólogo a compreender o processo de desenvolvimento da criança. Por meio dela, o psicólogo consegue trabalhar aspectos ligados à comunicação, à afetividade e à socialização da criança. Listamos alguns benefícios proporcionados pela brincadeira do faz de conta. Confira quais são e entenda porquê essa prática é importante como auxílio terapêutico. Acompanhe! 23 Desenvolvimento intelectual Desenvolvimento Intelectual são processos que desenvolvem no indivíduo a capacidade para desenvolver. Essa capacidade vai se formando na criança, àmedida que ela observa, distingue, generaliza e tirar conclusões. Vários fatores determinam o desenvolvimento intelectual da criança, entre eles: a potencialidade, a motivação, a interação com o meio ambiente, atendendo às tendências naturais, físicas e fisiológicas (ARANHA, 2002, p. 44). A arte de brincar de faz de conta influencia o desenvolvimento de habilidades como resolução de problemas, troca de ideias sobre negociação, criatividade, organização e planejamento. Estimula, ainda, a retenção de tradições, de costumes familiares, aplicação de alguns conhecimentos práticos e até de problemas de matemática! 24 Desenvolvimento físico Desenvolvimento físico e psicológico das crianças começa desde a fecundação, passando pela primeira infância, adolescência, juventude e segue por toda a vida. No entanto, conforme ressalta a Sociedade Brasileira de Pediatria, é nos três primeiros anos de vida que o cérebro evolui com maior intensidade. Por isso, o estímulo precoce traz fortes impactos e são fatores decisivos na transição da criança para a vida adulta, em relação à progressão de suas habilidades de aprendizagem cognitivas, afetivas e psicomotoras. Essa prática estimula o trabalho dos músculos e melhora os movimentos de coordenação motora. Auxilia também na coordenação espacial e no aspecto geral das funções fisiológicas da criança. 25 Desenvolvimento social Brincar de faz de conta estimula a imaginação e a memória da criança. Incentiva a integração com outras crianças, o que é essencial para a melhor compreensão dos papéis sociais e da visão do seu lugar na família e no mundo ao seu redor. Outro aspecto importante é a cooperação mútua, o controle da impulsividade e a possibilidade de reconhecer os pontos fortes do outro e entender, desde cedo, que todos têm suas limitações. Desenvolvimento emocional 26 O desenvolvimento emocional na infância direciona as nossas vidas, afetando os rumos que tomaremos e as escolhas que faremos. Essa etapa tão primordial começa ainda nos primeiros dias de vida. Como acontece o desenvolvimento emocional na infância? É durante a primeira infância que são formadas três importantes funções cerebrais: Flexibilidade cognitiva; Memória de trabalho; Controle inibitório. Acontecimentos durante a infância influenciam diretamente as atitudes e escolhas das pessoas quando adultas. E quando falamos de infância, estamos falando, principalmente, dos 3 primeiros anos de vida. Durante esse período, a atividade cerebral é intensa e o desenvolvimento emocional também. Portanto, tudo o que acontece durante essa fase reflete no futuro e permanece ao longo dos anos. O desenvolvimento emocional se reflete na forma que nos comportamos diante de situações diversas no ambiente social. Já nos primeiros meses de vida, a criança apresenta características próprias, vindas do componente genético. Essas características podem levá-la a ter uma interação positiva ou negativa com o meio. Esse comportamento pode ser moldado pelos cuidadores. Muitos pesquisadores vêm trabalhando com a ideia de temperamento precoce para entender como acontece o desenvolvimento emocional infantil. O estado emocional infantil pode ser dividido em duas dimensões: reatividade e autorregulação. A reatividade está relacionada à forma com a qual a criança reage a uma situação de frustração, com intensidades diferentes. Já a autorregulação diz respeito a como ela se corrige, dando mais atenção ao controle motor. Já no primeiro ano de vida ocorre o desenvolvimento dessas duas dimensões da personalidade emocional infantil e permanece durante a fase pré-escolar e escolar. 27 Promove o aumento da autoestima, reduz atitudes egocêntricas e desenvolve maior da sensação de segurança e de proteção. Também influencia o desenvolvimento da autonomia e o reconhecimento da necessidade de buscar seus objetivos mais importantes. Musicoterapia O tratamento da Musicoterapia para a melhor qualidade de vida iniciou-se durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi utilizada na reabilitação dos soldados que sofreram traumas nos combates. Durante suas internações hospitalares foram constatadas melhoras com o uso desse método terapêutico. Segundo a Musicoterapeuta da Unidade Integrativa Santa Mônica, Ludmila Poyares, “A Musicoterapia utiliza elementos musicais como harmonia, melodia, ruído, ritmo e pausa. Para a Musicoterapia, a música é um recurso como ação e de produção humana, o qual possibilita a mobilização e fortalecimentos do Eu, por meio de laços sociais e familiares”. O musicoterapeuta promoverá, por intermédio das ações musicais, e de forma livre, algumas expressões sonoras. Elas podem ser corporais ou com a utilização dos instrumentos musicais. Tais medidas objetivam a restauração e a manutenção da saúde infantil de forma integral. Durante as sessões de musicoterapia sucedem mudanças de comportamento e do rompimento da barreira de incomunicabilidade. Isso concorre para uma transformação e aceitação da criança em seu mundo, e com a sua forma de se comunicar consigo e com os outros. 28 Por essa metodologia, é possível evocar os aspectos físicos, emocionais, intelectuais, estéticos ou espirituais do pequeno ser. Desse modo, consegue-se promover a sua autonomia e as habilidades necessárias para uma vida funcional e social compatível com o equilíbrio nas emoções, tão importantes nessa fase da vida. Abordagem cognitivo-comportamental Um dos principais objetivos de uma intervenção precoce é aumentar o potencial intelectual da criança com ganhos aos níveis locomotor, pessoal/social, linguagem, cognição (Teixeira, 2005), para que tal aconteça, muitas vezes, é necessário intervir diretamente e ir além dos contatos realizados com os profissionais dentro da instituição. É importante modificar comportamentos, ensinar como se deve agir perante determinados acontecimentos, tentando sempre perceber que processos cognitivos têm de ser modificados para que os comportamentos sejam adaptados às situações. Os modelos cognitivo-comportamentais inserem-se sobretudo numa visão interacionista do mundo e revelam ter uma grande influência nas práticas com crianças com necessidades especiais (Pimentel, 2005). Uma terapia familiar comportamental centra-se, assim, num extremo oposto ao da psicanálise (vista anteriormente), em que os terapeutas comportamentalistas aplicam diretamente princípios da teoria da aprendizagem nas suas práticas com as famílias, baseados nas teorias behavioristas e funcionalistas de Watson e Carr, respetivamente (Pimentel, 2005). Esta abordagem comportamentalista contextualiza as mudanças na família em termos de condicionamento clássico, condicionamento operante, modelagem e mudança cognitiva, avaliando a família de forma a determinar as circunstâncias e os processos cognitivos que possam estar a controlar os comportamentos problemáticos. Através da análise comportamental é desenvolvido um plano que venha alterar as contingências e/ou cognições inerentes aos comportamentos desadaptados, muitas vezes, através da intervenção direta na família. A aplicação do modelo comportamental permite a conceptualização de uma hierarquia de aprendizagem em cinco fases - aquisição, fluência, manutenção, generalização e adaptação - válidas 29 nos vários domínios do desenvolvimento, devendo as técnicas e estratégias de intervenção ser ajustadas à fase de aprendizagem em que a criança se encontra. Os processos utilizados para estabelecer e transferir o controlo de estímulos têm sido utilizados para desenvolver estratégias instrutivas, precisando os técnicos assegurar- se que o comportamento desejado ocorre na presença do estímulo, para que possa ser adequadamente reforçado. Segundo Dunst e Trivette,(1994, cit. in Pimentel, 2005), uma intervenção que forneça uma ajuda eficaz à família, é aquela que é capaz de capacitar indivíduos ou grupos (ex. uma família) para se tornarem mais competentes para resolver problemas, fazer face às necessidades ou atingir os seus objetivos, através da promoção da aquisição de competências que apoiem e fortaleçam o funcionamento numa forma que permita um maior sentido de controlo do indivíduo ou do grupo relativamente ao seu desenvolvimento. Conclusão Uma das tarefas primárias da infância é a formação de relações de vinculação com figuras prestadoras de cuidados significativas. A teoria e os estudos empíricos da vinculação indicam que variações na qualidade dos cuidados resultam em diferentes padrões comportamentais na criança, em regulação emocional e em expectativas que possuem efeitos no funcionamento individual a longo prazo. Esta premissa central da teoria da vinculação remete-nos para a necessidade humana de contato físico e garantia emocional na infância. Dada a universalidade desta necessidade e as suas implicações para a sobrevivência, não é surpreendente que as crianças se vinculem àqueles que cuidam deles. Todavia, uma vez que as diferenças individuais observadas na vinculação são descritas em termos de variações de padronização do comportamento, descritores quantitativos comumente utilizados (e.g., vinculado, não vinculado, muito ou pouco vinculado) possuem pouco significado, não sendo úteis para explicar os relacionamentos precoces 30 As terapias comportamentais dão às crianças a oportunidade de se envolverem em atividades, tais como jogos de descoberta e resolução de problemas, dando a possibilidade de desenvolverem e aumentarem as suas competência e independência. Para além disso, este tipo de abordagem com crianças com necessidades educativas especiais envolvem um programa individualizado que assegura e monitoriza os seus progressos nas várias áreas, sendo essencial uma avaliação dos serviços implementados, de forma a perceber se estes são eficazes, adequados às necessidades e estilos da criança e se estão de acordo com as prioridades dos pais (Pimentel, 2005). Assim, esta prestação de serviços, na prática, transpõe o plano de intervenção para uma ação diária, em que, por exemplo, numa parte do dia os pais se comprometem a trabalhar uma capacidade específica da criança (McWilliam, et al., 2003). A formação de pais pode ser então definida como o processo de fornecer aos pais conhecimentos específicos e estratégias para ajudar a promover o desenvolvimento da criança (Coutinho, 2004). A este nível, o papel do profissional é fundamental uma vez, que muitas vezes, é essencial reeducar os pais a lidar com a criança. Desta forma, estas terapias permitem aos pais observarem as mudanças, tanto na criança como na sua relação com estas, vendo a progressão que vai sendo feita ao longo de todo o trabalho. Existe sempre uma cooperação entre os profissionais e a família na medida em que há resolução de problemas em conjunto. Com a ajuda de um profissional/psicólogo, os pais vão aumentando o seu nível de confiança para tomarem decisões e assumirem um papel mais ativo no desenvolvimento da criança (McWilliam, et al., 2003). Contudo, a relação de ajuda por parte do profissional à família não se deve prolongar no tempo, visto que os pais têm de perceber que o papel é seu e não dos profissionais, ganhando, desta forma, autonomia. As experiências providenciadas pelos pais em casa, as experiências do jardim de infância e de outros contextos da vida comunitária são fundamentais para o desenvolvimento de competências desejadas (Pimentel, 2005). 31 Referência Alarcão, M., M. (2000). (Des)equilíbrios familiares. Coimbra: Quarteto Editora. Anauate, C. & Amiralian, M. (2007). A importância da intervenção precoce com pais de bebés que nascem com alguma deficiência. Educar, Curitiba, 30: 197-210. Brazelton, T. (2000). Tornar-se família: o crescimento da vinculação, antes e depois do nascimento. Lisboa: Terramar. Coutinho, M. (2004). Apoio à família e formação parental. Análise Psicológica, 1 (XXII): 55-64. Cramer, B. (1989). Profissão: Bebé. Calmann-Lévy: Círculo de Leitores. Cruz, O. (2005). Parentalidade. Coimbra: Quarteto Editora. Diário da República (1999). Despacho Conjunto 891/99, Orientações reguladoras da intervenção precoce para crianças com deficiência ou em risco de atraso grave de desenvolvimento e suas famílias. 19/10/1999. p. 15.566-15.568. Diogo Miguel Cordeiro Soares, Mariana Marques Esteves Ribeiro, Miquelina Fátima Lopes Caleiro, Miriam Mourinho Lima, Soraia Inês da Conceição Luz Ferreira, T. (2002). Em defesa da criança: teoria psicanalítica da infância. 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