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PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PÚBLICO E GESTÃO ORÇAMENTÁRIA Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Mara Luiza Gonçalves Freitas CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. F866p Freitas, Mara Luiza Gonçalves Planejamento e orçamento público e gestão orçamentária. / Mara Luiza Gonçalves Freitas. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 194 p.; il. ISBN 978-85-7141-294-1 1.Finanças públicas – Brasil. 2.Brasil – Política econômica – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 336.81 Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................05 CAPÍTULO 1 Fundamentos e Origens Históricas do Orçamento Público .....................................................................07 CAPÍTULO 2 Técnicas Orçamentárias e Receitas e Despesas .....................51 CAPÍTULO 3 O Orçamento Público no Brasil.............................................. 117 APRESENTAÇÃO Querido aluno, a qualidade do gasto público, um dos temas mais relevantes para Estados Nacionais e Subnacionais, nasce no orçamento. Ferramenta inserida em 1217 pelo Rei João Sem Terra, o orçamento público configura-se como mecanismo essencial para as fases de planejamento, execução e controle, necessários não apenas para a averiguação formal da implantação de políticas públicas, a eficiência, a eficácia e a efetividade dos gastos e a sua atualização, via uso de ferramentas de controle (interno e externo), permitindo aos gestores públicos a focalização das necessidades da sociedade sob sua responsabilidade. Mais do que saber fazer, trata-se de um compromisso nacional com a responsabilidade minimalista de alocação de cada centavo, buscando seu máximo desempenho, com vistas à entrega do máximo de benefícios aos cidadãos, sem que isso signifique aumento da dívida pública ou obtenção de déficits orçamentários incautos. Com 5.570 municípios, 27 Estados e o Distrito Federal, uma população que já superou a casa dos 209 milhões de habitantes, uma arrecadação tributária anual que ultrapassa, em média, a casa dos R$ 3 trilhões e um conjunto de atribuições atribuídas ao Estado, por força de lei, cabe, a cada um dos gestores públicos envolvidos preocuparem-se ostensivamente como cada centavo arrecadado será aplicado. Esse cuidado presta-se a evitar-se o desperdício, mas também, fomentar a prevenção da corrupção, já que o produto do orçamento público são os relatórios de auditoria externa e a prestação de contas à sociedade, que fomentam os Portais da Transparência. Dada a importância da matéria para a administração pública, o presente material didático foi preparado com extremo rigor, para que sua formação na temática Planejamento, Orçamento Público e Gestão Orçamentária seja a mais sólida possível. Para tal, como verá ao longo desse livro-texto, além dos textos redigidos diligentemente, leituras imprescindíveis de materiais técnicos são indicadas, além de vídeos e outros materiais complementares, necessários à sua lapidação intelectual. Esse preparo lhe oferecerá os diferenciais que viabilizarão uma ação experiencial mais consistente e assertiva em seu atual trabalho ou em oportunidades vindouras nas quais seus conhecimentos técnicos sejam demandados. Para facilitar sua aprendizagem, esse livro de estudos foi organizado em três capítulos. No primeiro capítulo, intitulamos “Fundamentos e origens históricas do Orçamento Público”, apresentamos a você os conceitos mais correntes sobre o orçamento público, além da evolução histórica e as funções do orçamento no contexto da atividade de Estado. No segundo capítulo dedicado às Técnicas Orçamentárias e Receitas e Despesas Públicas, abordam-se as características das técnicas orçamentárias mais utilizadas e sobre as técnicas consideradas de fronteira, bem como apresenta-se conceitualmente as receitas e as despesas públicas, seguindo a padronização adotada no Brasil. Por último, o capítulo III, que aborda o tema O Orçamento Público no Brasil. Um último motivo para se estudar o planejamento governamental e o orçamento público com afinco (e mais, com paixão) é a clareza de que com R$ 0,80 de investimento per capita de recurso público é possível salvar a vida de um brasileiro numa fila de hospital, com valores entre R$ 0,36 e R$ 0,70 investidos em merenda escolar pode-se mitigar a evasão escolar de uma criança, evitando que essa seja submetida ao trabalho infantil e à permanência no círculo vicioso da pobreza, e com valor médio de R$ 50,00 de investimento per capita, é possível manter-se um policial e evitar-se um crime, como por exemplo, um assassinato. Mostra principalmente que a mera ideia de desperdício de dinheiro público é inadmissível e tão absurda, como a corrupção, porque esse recurso bem aplicado, salva vidas, muda histórias, torna a nossa sociedade melhor. O tema, portanto, é para quem busca, com seu labor, consolidar um país melhor, através das melhores e mais responsáveis práticas de administração pública em todas as esferas e poderes. Orçamento público é um tema para apaixonados pelo Brasil e que tem a ciência que é na ponta da caneta, sem perder a ternura da visão sobre o humano (beneficiário do esforço), é que as coisas se resolvem. Estude para ser o melhor na temática e faça a diferença, com esse compromisso de salvar os recursos escassos da administração pública, fazendo de cada centavo, um espaço de promoção de milagres, de revoluções de bem-estar na vida de cada cidadão no seu Município, no seu Estado ou no seu País. É com esse desejo, é com essa perspectiva, que concebi obra que compõem os recursos didáticos que lhe é oferecido pela Uniasselvi. Bons estudos e sucesso! Voe alto e vá além, transformando vidas, através da administração pública de excelência. Um grande abraço, Profa. Mara Luiza Gonçalves Freitas CAPÍTULO 1 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Reconhecer diversos conceitos sobre o Orçamento Público inscritos na literatura. Discernir as funções orçamentárias de Estado. Conhecer as origens históricas do Orçamento Público. 8 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária 9 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO As ferramentas de planejamento estatal são importantes mecanismos para a promoção do desenvolvimento sustentável dos Estados Nacionais e Subnacionais. Precipuamente, tais instrumentos, além de articularem intenções dos agentes públicos, fomentam a racionalização da alocação e o controle do erário público, viabilizando um ciclo virtuoso da administração pública. Assim, convidamos você, aluno do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da UNIASSELVI, a imergir no universo do Orçamento Público. Neste capítulo, versaremos sobre os fundamentos e origens históricas do Orçamento Público, que será desdobrado em três seções. Na primeira, discorre- se sobre o Conceito de Orçamento Público, a partir de uma visita a diversas contribuições da academia em torno do tema. Na segunda, apresenta-se a interlocução entre o Orçamento Público e asFunções de Estado, em que será possível conhecer o papel do orçamento governamental na dinâmica da geração da equidade em Estados Nacionais e Subnacionais. Por último, na terceira seção, aborda-se as Origens Históricas do Orçamento Público, que permitirá o reconhecimento da evolução do processo orçamentário. Ele foi delineado de forma que você, nosso aluno, possa ao fi nal desse primeiro capítulo, atingir três objetivos: (i) Reconhecer diversos conceitos sobre o Orçamento Público inscritos na literatura; (ii) Discernir as funções orçamentárias de Estado; (iii) Conhecer as origens históricas do Orçamento Público. Para tal, além de um texto interativo e recomendações de leituras complementares, você encontrará uma bateria de exercícios e um desafi o no fórum de nosso ambiente virtual. A ideia, portanto, é auxiliá-lo a tornar-se um profi ssional de alto nível, num tema de crucial relevância para a gestão pública, seja aqui, em quaisquer de nossos entes federados, ou no exterior. Antes de seguirmos para a primeira seção, vale a pena apresentar um breve glossário dos termos que utilizaremos ao longo deste capítulo e nos demais: • Agentes públicos: são os representantes eleitos ou que estão inseridos nos Poderes Legislativo e Executivo. • Ente: diz respeito aos entes federativos que compõem a República Federativa do Brasil, no caso, a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, conforme prevê o artigo 18 da Constituição Federal do Brasil de 1988. Pode, ainda, referir-se à representação institucional de distritos, territórios de países estrangeiros. • Estados Nacionais: sinônimo para país, refere-se ao espaço territorial soberano, regido por um Governo e Constituição. 10 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária • Estados Subnacionais: sinônimo de Estados e Municípios, refere-se ao espaço territorial, também soberano, inserido dentro do Estado Nacional, ao qual está sujeito e alinhado por força de lei. Vamos à primeira seção? 2 CONCEITO DE ORÇAMENTO PÚBLICO A ideia de orçamento está diretamente associada a um ambiente organizacional. Assim, antes de dissertar sobre o conceito de orçamento público, é importante a compreensão sobre a formação de um Estado Nacional. De modo geral, para que exista um, é necessário que existam três requisitos: um povo, um território geográfi co e um governo soberano. Facilitaremos sua compreensão com o detalhamento teórico do processo de estabelecimento de um Estado. Para que exista um povo, faz-se necessário que exista um conjunto de costumes e expressões culturais homogêneos e historicamente construídos, face à transmissão realizada, na maioria das vezes, por história oral, dos indivíduos mais velhos para os mais jovens. Essa homogeneidade de costumes e expressões transmitidas geração após geração, comumente, cria condições sufi cientes para o estabelecimento de relações de poder e, muitas vezes, de estruturas hierárquicas, consolidando lideranças. A ideia de território surge quando esse grupo, liderado, escolhe um espaço geográfi co para se estabelecer. Esse território passa a sintetizar, de forma geral, a institucionalização das características antropológicas, sociológicas e culturais do povo e, por conseguinte, passa a demandar do estabelecimento de aparatos normativos, mecanismos de defesa e de tributação. Nesse contexto, uma noção de governo surge, formando fi nalmente o Estado Nacional. O orçamento público surge da necessidade do Estado em garantir uma racionalidade do processo de gestão dos recursos arrecadados principalmente de fontes tributárias. Embora nem todo Estado preocupa-se em dar retorno à sua sociedade, pois esse retorno é uma premissa inscrita no texto constitucional, o orçamento público, é uma parte relevante das Finanças Públicas. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão defi ne orçamento público como [...] um instrumento de planejamento governamental em que constam as despesas da administração pública O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão defi ne orçamento público como [...] um instrumento de planejamento governamental em que constam as despesas da administração pública para um ano, em equilíbrio para a arrecadação das receitas previstas. (BRASIL, 2015). Noblat (2014) defi ne o orçamento público como um instrumento de gestão, que se presta à organização dos recursos fi nanceiros do Estado. Já para Premchand (1983, p. 34), “[...] o orçamento é um intrincado e complexo processo, contendo muitas peças que se comportam como num quebra- cabeças” 11 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 para um ano, em equilíbrio para a arrecadação das receitas previstas (BRASIL, 2015). Noblat (2014) defi ne o orçamento público como um instrumento de gestão, que se presta à organização dos recursos fi nanceiros do Estado. Já para Premchand (1983, p. 34), “[...] o orçamento é um intrincado e complexo processo, contendo muitas peças que se comportam como num quebra-cabeças” (tradução nossa). Tais peças, conforme explica o autor, nem sempre podem ser organizadas em razão da severidade da interface no instrumento. Tal severidade é melhor compreendida pelo princípio do equilíbrio orçamentário, sobre o qual discorreremos nos capítulos vindouros. O orçamento, ainda na visão de Premchand (1983), pode ser como um mecanismo de legislative accontability, um dos princípios de governança na Administração em voga na atualidade, como uma ferramenta diretamente associada ao processo de planejamento e administração da Res Pública e, portanto, um instrumento essencial para a promoção de políticas públicas. Rabin (1992), ao discutir as bases teóricas sobre o orçamento público, demonstra que as discussões conceituais, sobre o orçamento, estão associadas aos estudos da sociedade, visto que o papel do orçamento é distribuir o recurso pecuniário público. A autora ressalta que, sob essa égide, o orçamento pode ser compreendido sob a perspectiva dos regimes econômicos (capitalista ou socialista, por exemplo) ou de governo (democracia ou autoritarismo), formas de governo (presidencialismo, parlamentarismo ou monarquia), tamanho do Estado Nacional (Estados Unidos versus o Uruguai), tamanho do orçamento, dinâmica do setor público, funções da administração pública, forma de alocação dos recursos orçamentários e a respectiva geração de benefícios. Essa diversidade de perspectivas, ainda de acordo com Rabin, corrobora para incompletude do arcabouço teórico que fomente a matéria. Rubin (1992) trata a orçamento como um mecanismo para o exercício de poder. O autor aborda três escolas teóricas para conceituar esse exercício de poder: a neomarxista, a public choice e a openness of taxation, conforme é possível observar no Quadro 1. Rabin (1992), ao discutir as bases teóricas sobre o orçamento público, demonstra que as discussões conceituais, sobre o orçamento, estão associadas aos estudos da sociedade, visto que o papel do orçamento é distribuir o recurso pecuniário público. Rubin (1992) trata a orçamento como um mecanismo para o exercício de poder. QUADRO 1 – ESCOLAS TEÓRICAS DO ORÇAMENTO Escola Premissa Neomarxismo Argumenta que os interesses das classes dominantes prevalecem sobre o orçamento e as escolhas de alocação dos recursos. Public Choice Funda-se na análise do relacionamento democrático entre o cidadão pagador de impostos e o Estado, responsável pelos gastos. Openness of Taxation Acredita que escopos do governo e do gasto podem ser controlados, desde que os cidadãos saibam, claramente, como são gastos os impostos que pagam. FONTE: Rubin (1992, p. 3-6) 12 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária No caso da visão neomarxista, face à restrição de recursos, classes dominantes inseridas nas estruturas tomadoras de decisão defi nem os níveis de benefícios e de aplicações de recursosdesejados, o que torna a classe não- dominante totalmente dependente. Nesse caso, verifi ca-se uma sofi sticação da ideia de mais valia, presente no discurso marxista, onde a classe operária vende o seu tempo à classe burguesa por um valor menor do que realmente vale. Nessa venda, esta obtém o lucro. Aplicando esse conceito no âmbito do Estado, verifi ca- se que a relação custo-benefício que pode ser obtida pelo cidadão, nesse caso, contribuinte, pode ser desequilibrada em virtude de interesses de grupos de poder. Por exemplo, pode-se tomar o segmento da educação como parâmetro de referência. Na ótica neomarxista, o grupo dominante opta por investimento em infraestrutura em detrimento do investimento em educação. Em decorrência, passa-se a aceitar como indicador uma taxa de analfabetismo ou de evasão escolar. Não há lucro social expresso, mas sim a designação de erário público para um ou mais projetos específi cos, que nem sempre são aqueles prioritários para a classe dominada. Na perspectiva do Public Choice, verifi ca-se o relacionamento democrático do cidadão que paga impostos com o Estado. Nesse caso, observa-se um alinhamento com um modelo de administração pública gerencial, onde o Estado atua como um representante legítimo dos interesses do cidadão, comumente ouvido por aquele para tomadas de decisão acerca da alocação do orçamento. Para tal, instrumentos participativos, como consultas públicas para verifi cação dos interesses da sociedade, práticas de orçamento participativo e adoção de mecanismos de disclosure e de accountability, tornam-se correntes na administração pública. O cidadão, então, passa a ter papel de protagonista desde a concepção orçamentária até sua execução (onde efetivamente tem- se a aplicação dos recursos) e o controle (onde verifi ca-se o cumprimento dos objetivos orçamentários e realiza-se a prestação de contas à sociedade). Por último, tem-se a abordagem do Oppenness of Taxation, assentada na ideia de que os escopos do governo e do gasto podem ser controlados, desde que o cidadão saiba como os impostos são destinados e gastos. Essa escola, ainda em consolidação, demonstra que o sistema orçamentário deve ser capaz de fomentar a rastreabilidade dos tributos. Renzio e Wehner (2017), em The Impacts of Fiscal Openness, exploram o relacionamento entre a transparência e a participação cidadã, como mecanismos essenciais para a implantação de uma política fi scal aberta. Para os autores, a política fi scal é cíclica e a sua abertura, através de processos de transparência, viabiliza maior clareza na dinâmica dos gastos eleitorais, na mitigação da corrupção e na alocação de recursos. Trata- se de um estudo seminal de uma escola em construção, que propõe a seguinte agenda de pesquisa: 13 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 • desagregação ampla das medidas do orçamento e da transparência para se apurar quais as divulgações estão relacionadas aos resultados requeridos para o êxito de uma política fi scal aberta; • rastreamento das causas que conduzem à conexão de intervenções da abertura fi scal no processo de desenvolvimento humano; • avaliação da efi cácia relativa de modelos de intervenções alternativas, na consolidação de meios de promoção da transparência como parte do escopo da política fi scal aberta; • exame do relacionamento entre a transparência e a participação do cidadão na política fi scal aberta; • análise e esclarecimento das condições contextuais que suportam intervenções particulares ou pontuais na promoção da transparência e, por conseguinte, da política fi scal aberta. De modo geral, as escolas teóricas do orçamento têm como escopo a origem e o destino dos recursos, sendo que a forma de aplicação e a participação cidadã trata-se de vertentes que se alinham com os modelos de administração pública. Como se sabe, são três os modelos teóricos: o patrimonialista, o burocrático e o gerencialista. Grosso modo, o modelo patrimonialista é aquele no qual os agentes públicos consideram o erário e o patrimônio público como sua propriedade. É um modelo comum em ambientes estatais oligárquicos, em que os limites entre o público e o privado são perdidos em detrimento da preservação de interesses de grupos de poder, sustentados pelos tributos provenientes de todas as classes sociais. É nesse ambiente que disfunções gerenciais, como a corrupção, o nepotismo e o clientelismo, encontram vazão e meio de sobrevivência. No caso brasileiro, de acordo com Bresser-Pereira (2000), as origens do patrimonialismo são portuguesas. A transferência cultural ocorreu ao longo processo de colonização e foi aprofundado durante o período imperial, através do que se pode chamar de benchmarking do modelo de administração pública portuguesa. Já no caso do modelo burocrático, de infl uência weberiana, este ampara-se na ideia da gestão do Estado com enfoque na burocracia. Em outras palavras, a administração pública estabelece claramente os limites entre o que é público e o que é privado, a partir da racionalização dos processos e relações entre os 14 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária agentes públicos e cidadãos. Para tal, além da seleção de profi ssionais através de concursos públicos, valoriza a meritocracia, o exercício da autoridade formal, procedimentos formalizados. No contexto brasileiro, esse modelo tem ingresso durante a gestão de Getúlio Vargas, na década de 1930. Esse ingresso é denominado de primeira reforma administrativa do Estado. No caso do modelo gerencialista, enfatiza-se a efi ciência do Estado, com enfoque na gestão de qualidade e de resultados. Esse modelo ascendeu na década de 1970, durante a gestão de Margareth Thatcher na Inglaterra e ganhou adeptos ao redor do mundo. Ele valoriza o uso de melhores práticas da iniciativa privada, como a qualidade do atendimento, a adoção de ferramentas de marketing e gerenciamento de pessoas, o estabelecimento de programas de acompanhamento da qualidade e, principalmente, gestão racional dos recursos públicos, com enfoque na qualidade do gasto. Pauta-se ainda, pela redução do tamanho do Estado. No Brasil, esse modelo foi introduzido durante a primeira gestão de Fernando Henrique Cardoso, em 1996, o que foi denominado de segunda reforma do Estado. A depender do modelo de Estado, a relação com o orçamento e o erário público ganha contornos diferentes. No caso do patrimonialismo, o enfoque orçamentário é relacionado ao atendimento dos interesses do donatário do poder ou de uma pequena aristocracia: o que importa é o fi nanciamento de padrões de uma classe social em detrimento de outra. Um bom exemplo, neste caso, é o do Rei Luís XVI, que redundou na Revolução Francesa. Para manter uma vida de luxo e festas, este monarca dilapidou o erário público, provocando inclusive um processo de endividamento da França, enquanto o povo francês imergia na miséria. No caso brasileiro, a organização do orçamento público nasce durante o reinado de D. João VI. Como se sabe, um pouco antes da chegada de Napoleão Bonaparte à Península Ibérica, a aristocracia portuguesa, apoiada pelos ingleses (a quem devia grandes quantias), lançou-se além-mar e mudou-se para a capital de sua principal colônia, o Brasil, em 1808. Ao longo de sua permanência, D. João VI recriou o Erário Régio e fundou o Conselho de Fazenda, através do Alvará de 28 de abril de 1808 (Figura 1). O principal objetivo do Erário Régio e do Conselho de Fazenda era cuidar de todos os negócios de Sua Majestade e acompanhar as despesas. Nesse período, não havia exatamente um orçamento público, mas sim um regime de caixa de Estado. Não à toa, a estrutura do Conselho de Fazenda contava com um expressivo corpo de escrivão e de guarda-livros, necessários para a escrituração das contas e gerenciamento dos contratos de interesse do Rei. 15 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo1 FIGURA 1 – IMAGEM DE UM TRECHO DO ALVARÁ DE 28 DE ABRIL DE 1808, QUE RECRIA O ERÁRIO RÉGIO E O CONSELHO DE FAZENDA, DURANTE O REINADO DE D. JOÃO VI NO BRASIL FONTE: Arquivo Público Nacional (2018) 16 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária Já na perspectiva burocrática, observa-se uma relação voltada à ampla presença do Estado, tanto no ramo empresarial como na promoção de direitos sociais. O orçamento nesse caso passa a ser um instrumento imprescindível de gestão do erário público, visando à sustentação de um Estado promotor do bem-estar. Esse modelo, que foi adotado durante o primeiro mandato de Getúlio Vargas no Brasil, teve sua origem nas Constituições de Weimar (1917) e do México (1919), o que inspirou a adoção de aparatos normativos em diversos países para o desenvolvimento de seus processos orçamentários, assentados na relação entre os Poderes Executivo e Legislativo. No caso brasileiro, a criação de uma cultura orçamentária deu seus primeiros passos com a criação em 1936 do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), que teve como principais revoluções a implantação do sistema de concursos públicos, a criação de uma escola de administração pública (Fundação Getulio Vargas), voltada à qualifi cação dos gestores públicos, e a implantação do orçamento público e do Balanço de Pagamentos. No caso da administração gerencial, o processo orçamentário também se assenta na construção de leis, mas com enfoque em organização de grupos de trabalho ou comissões. Esse processo foi mais intenso nos Estados Unidos, que já em 1919, após défi cits anuais sucessivos de suas contas públicas, implantou a Comissão de Economia e Efi ciência, cujo objetivo era o estudo das Finanças Públicas. Continuando o processo de sofi sticação da prática orçamentária, em 1921 foi sancionada a Lei de Orçamento e Contabilidade, em 1940, instalada a Comissão Hoover, responsável pela implantação do orçamento por desempenho e em 1950, criou-se o Sistema de Planejamento, Programação e Orçamento. Em razão do alinhamento geopolítico, a cultura orçamentária estadunidense infl uenciou o desenvolvimento da cultura orçamentária brasileira, que tem seu primeiro marco com a sanção da Lei n° 4.320/1964, seguida do Decreto-Lei n° 200/1967, que instituem uma reforma substancial na gestão e na contabilidade pública. Contudo, somente em 1988, por ocasião da promulgação da Constituição Federal, é que o processo orçamentário brasileiro assume os contornos atuais, com a adoção do modelo de orçamento programa, mais alinhado com a ideia de um Estado voltado para resultados. Como é possível observar, o conceito e o processo orçamentário associam- se ao projeto de sociedade, razão pela qual o processo orçamentário tem total relação com o interesse político, o modelo de administração pública e o objetivo de alocação do erário. Evidentemente o modelo de orçamento também molda o padrão de tributação, o aparato normativo e a forma como o Estado pretende oferecer retornos à sociedade. Esses aspectos serão tratados na seção a seguir. Mas antes de você dar continuidade aos estudos dos temas abordados nesse capítulo, o(a) convidamos a realizar uma pausa e executar a atividade proposta a seguir. 17 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 Atividade de Estudo: 1) Leia com atenção o caso abaixo: O Pequeno Príncipe tem um planeta onde seus três únicos contribuintes são a raposinha, a rosa e uma comunidade de baobás. O príncipe está interessado em viajar pelas galáxias e não tem dado muita atenção às demandas do seu povo, que, no caso, deseja água, vento e alimento em quantidades necessárias, para manter seus padrões de bem-estar. A raposa responde pelo equilíbrio de mercado, já que devora as pragas que atacam a rosa, necessária para o embelezamento do ambiente e produção de óleo essencial perfumado, produto de exportação do planeta, e os baobás, pela geração de sombra, manutenção do clima e preservação de água, tudo essencial para o mercado interno. Todos os três são consumidores de água, que, em razão das características econômicas do planeta, era isenta de impostos, garantindo um custo- país satisfatório, a ponto de, embora pequeno, ser o mais competitivo das galáxias no segmento óleos essenciais perfumados extraídos de pétalas de rosas. Para atender seu interesse, o Pequeno Príncipe sobretaxou a chuva, informando que ela somente cairia se todos pagassem ao governo uma taxa de 40% sobre cada gota que atingisse o solo. Afi nal, o príncipe precisava viajar. Houve protestos de toda a sociedade, mas que em razão da sede, foi obrigada a pagar a carga tributária e o planeta, em menos de três meses de sobretaxação, perdeu seu mercado galáctico e entrou em recessão. O caso proposto refl ete um modelo de administração pública e uma visão teórica sobre o orçamento público. Assinale a seguir a alternativa que contempla corretamente as duas perspectivas: a) ( ) O caso demonstra um modelo de administração pública patrimonialista, cujo escopo orçamentário é fundamentado na lógica teórica neomarxista. b) ( ) O caso demonstra um modelo de administração pública gerencial, cujo escopo orçamentário é fundamentado na lógica teórica da public choice. c) ( ) O caso demonstra um modelo de administração pública burocrática, cujo escopo orçamentário é fundamentado na lógica teórica da Oppeness of Taxation. 18 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária d) ( ) O caso demonstra um modelo de administração pública burocrática, cujo escopo orçamentário é fundamentado na lógica teórica da neomarxista. e) ( ) O caso demonstra um modelo de administração pública patrimonialista, cujo escopo orçamentário é fundamentado na lógica teórica da Oppeness of Taxation. 2) Relacione os conceitos da coluna A com os autores da coluna B e na sequência, assinale a alternativa que contém a resposta CORRETA: COLUNA A 1. Trata o orçamento como um instrumento de planejamento governamental, onde constam as despesas da administração pública para um ano, em equilíbrio para a arrecadação das receitas previstas. 2. Trata o orçamento como um intrincado e complexo processo, contendo muitas peças que se comportam como num quebra- cabeças. 3. Considera que o papel do orçamento é distribuir o recurso pecuniário público. 4. Trata o orçamento como um mecanismo para o exercício de poder. 5. Considera o orçamento como um instrumento de gestão, que se presta à organização dos recursos fi nanceiros do Estado. COLUNA B a) ( ) Rubin. b) ( ) Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão c) ( ) Rabin. d) ( ) Noblat. e) ( ) Premchard. A sequência correta é: a) ( ) 1 – 2 – 3 – 4 - 5. b) ( ) 1 – 3 – 4 – 2 - 5. c) ( ) 2 – 1 – 3 – 5 - 4. d) ( ) 3 – 2 – 4 – 5 - 1. e) ( ) 4 – 1 – 3 – 5 - 2. 19 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 Acesse o site do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e baixe o Manual Técnico de Orçamento de 2019. Organize sua rotina, para a leitura obrigatória desse manual, como quesito imprescindível para o êxito do seu programa de pós-graduação em Contabilidade Pública. Você pode realizar o download através do link: <http://www.cjf. jus.br/cjf/unidades/orcamento-e-fi nancas-na-justica-federal-1/manuais/ manual-tecnico-de-orcamento-mto-2016>. 3 ORÇAMENTO PÚBLICO E FUNÇÕES DE ESTADO O orçamento público é uma ferramenta imprescindível para a administração pública, pois dá forma ao projeto de governo e às políticas públicas de interesse de um determinado Estado Nacional. Então, antes de compreendermos quais são as funções do Estado, é importante observar-se que o projeto de governo, que se ampara na ideologia política de um partido, é determinante para o estabelecimento de políticas públicas, que viabilizarão a aplicação do erário público nas áreas estratégicas selecionadaspelos agentes públicos empoderados pela sociedade (considerando aqui o ambiente democrático, em que o cidadão exerce seu direito ao voto). Logo, uma das premissas importantes para a compreensão do papel do orçamento público é entender que as suas funções estatais podem variar de acordo com a dinâmica ideológica partidária. Mas quais são as funções orçamentárias no âmbito do Estado, independentemente da visão ideológica dos partidos políticos? De acordo com Giacomoni (2010), as chamadas funções orçamentárias desenvolvidas por um Estado Nacional ou por um Estado Subnacional são as três seguintes: (i) a função alocativa; (ii) a função distributiva e; (iii) a função estabilizadora. Essas três funções foram propostas, de acordo com o autor, por Richard Musgrave (1974), um dos principais expoentes das Finanças Públicas. Vamos conhecer cada uma? De acordo com Giacomoni (2010), as chamadas funções orçamentárias desenvolvidas por um Estado Nacional ou por um Estado Subnacional são as três seguintes: (i) a função alocativa; (ii) a função distributiva e; (iii) a função estabilizadora. 20 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária 3.1 A FunçÃo AlocatiVa O principal papel dessa função é alocar recursos em áreas menos competitivas ou em que não existe a presença da iniciativa privada, cabendo, neste caso, ao Estado, atuar, conforme explica Musgrave e Musgrave (1974) apud Giacomoni (2010, p. 23), na supressão de pelo menos duas situações típicas: “os investimentos na infraestrutura econômica e a provisão de bens públicos e bens meritórios”. A presença do Estado, em setores competitivos, está totalmente associada ao modelo de administração pública, excetuando-se aqui o modelo patrimonialista, face à ausência de limites entre o patrimônio pessoal e estatal. Os modelos burocráticos e gerencialistas projetam, respectivamente, as ideias de Estado de Bem-Estar e a de Estado Mínimo, nas quais a função alocativa assume desempenhos diferentes. No caso do Estado de Bem-Estar, comumente associado à lógica burocrática, a alocação dos recursos é realizada com o enfoque na promoção da presença do Estado nos setores de infraestrutura (rodovias, portos, aeroportos para civis e industriais), serviços públicos de todas as naturezas (educação, saúde, produção de medicamentos e de alimentos) e serviços meritórios (treinamento de atletas de alto desempenho). Pode-se ainda incluir aparatos normativos que garantam conquistas sociais (previdência, direitos trabalhistas, serviços públicos gratuitos e benefícios de transferência de renda). Em linhas gerais, o Estado de Bem-Estar atua tanto nas atividades-fi m (defesa, segurança pública e fi scalização) quanto nas atividades-meio (telecomunicações, universidades e escolas, sistema de saúde, outros serviços públicos em geral). A ideia nessa perspectiva é que o cidadão encontre tudo o que for necessário para sua sobrevivência. Já no caso do Estado Mínimo, a lógica de alocação concentra-se apenas nas atividades-fi m, neste caso, como exposto, nas áreas de defesa, segurança pública e fi scalização. O intuito aqui é garantir a soberania do território e política, bem como a capacidade de arrecadação tributária e cumprimento de leis, como as sanitárias, por exemplo. Atividades-meio comumente ou são privatizadas ou concedidas ou transformadas em fundações, pois nesse contexto, totalmente alinhado com uma lógica gerencial da administração pública, acredita-se que a iniciativa privada é mais efi ciente. Em contrapartida à redução do seu tamanho, o Estado passa alocar recursos em agências reguladoras, que permitem o acompanhamento das atividades-meio. A presença do Estado, em setores competitivos, está totalmente associada ao modelo de administração pública, excetuando- se aqui o modelo patrimonialista, face à ausência de limites entre o patrimônio pessoal e estatal. Os modelos burocráticos e gerencialistas projetam, respectivamente, as ideias de Estado de Bem-Estar e a de Estado Mínimo, nas quais a função alocativa assume desempenhos diferentes. 21 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 Observa-se que, nessas duas relações, a visão econômica sobre efi ciência coordena o modelo de administração pública do Estado e infl uencia no seu tamanho. Para fi car claro, antes de discutirmos a próxima função do orçamento, a função alocativa, de acordo com Giacomoni (2010, p. 23), “diz respeito à atividade estatal na alocação de recursos [justifi cada] naqueles casos em que não houver a necessária efi ciência por parte do mecanismo de ação privada” (interpolação nossa). A seguir, discorreremos sobre a função distributiva. 3.2 A FunçÃo DistributiVa Talvez seja uma das funções orçamentárias mais importantes, pois ela viabiliza a promoção da equidade, através da distribuição de renda. Essa distribuição de renda ocorre através de políticas públicas, que, a partir da análise das realidades regionais, viabiliza a maior ou a menor aplicação de recursos para a promoção ou de pessoas ou de segmentos econômicos estratégicos: [a] função pública de promover ajustamentos na distribuição de renda justifi ca-se, pois, como correção às falhas do mercado. Para tanto, deve-se fugir da idealização de Pareto: a melhoria da posição de certas pessoas é feita a expensas de outras. O problema é fundamentalmente de política e de fi losofi a social, cabendo à sociedade defi nir o que considera como níveis justos na distribuição da renda e da riqueza (GIACOMONI, 2010, p. 25). O Ideal de Pareto é um conceito econômico criado pelo italiano Vilfredo Frederico Damaso Pareto em 1867, também conhecido como Lei de Efi ciência de Pareto. Ele diz que o equilíbrio ótimo ocorre quando uma situação X para de ganhar em detrimento da situação Y. Em outras palavras, na lógica econômica, o Ideal de Pareto diz que quando há uma alocação de recurso em um contexto, outro contexto perde tal recurso. Em razão disso, o ideal paretiano não pode ser considerado quando se aborda a função distributiva do orçamento, pois a perspectiva nunca é de perda, mas sim de promoção. Um dado país, como no caso do Brasil, a China e a Índia, que possuem condições continentais, possui disparidades regionais em termos de desenvolvimento. Assim sendo, após análise dos objetivos estratégicos de cada Estado, os Poderes Executivo e Legislativo desenvolvem políticas públicas que serão contempladas em seus orçamentos. Por exemplo, vamos considerar que esses três países observem que parte da população não tem acesso nem a água potável e nem a banheiros. Nesse caso, observando as carências de cada região, estabelecem-se projetos de investimento em infraestrutura, com respectiva alocação de recursos por região. O mesmo pode acontecer quando se trata de investimentos em educação e tecnologia. 22 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária Evidentemente que tal distribuição de recursos depende do modelo de administração pública e o interesse do Estado. Tomando o caso chinês, verifi ca-se que o Partido Comunista, que governa aquele país desde 1919 (Revolução Cultural Chinesa), optou em selecionar, como forma de imprimir ao mundo a pujança chinesa, a criação de cidades ícones de excelência no país. Nessas cidades, os moradores têm acesso a escolas e serviços, que não são oferecidos aos demais chineses que residem fora das ilhas de prosperidade. No caso brasileiro, pode-se tomar como referência de distribuição de recursos, o programa Bolsa-Família, que tecnicamente inclui uma parcela da população brasileira dentro da linha de consumo. Morgado (2011) externa que a função distributiva tem como enfoque a equidade e a justiça social, tornando-se um mecanismo essencial para o governo atingir resultados sociais. Esse processo inclusive pode avançar sobre a questão tributária. Um dos exemplos típicos nesse sentido é o imposto de renda progressivo:quem tem mais paga mais e quem tem menos paga menos. Isso posto, apresentaremos a seguir a função estabilizadora do orçamento. Evidentemente que tal distribuição de recursos depende do modelo de administração pública e o interesse do Estado. 3.3 A FunçÃo EstabiliZadora O orçamento público tem, dentre as suas funções, a estabilização das principais variáveis macroeconômicas que compõem a política fi scal, no caso a manutenção do nível de emprego e a estabilidade nos níveis de preço: [...] em termos macroeconômicos, a política fi scal por meio do Orçamento Público visa promover ajustes para que a economia atinja adequado nível de estabilidade. Essa função estabilizadora é importante com vistas a um alto nível de emprego, um grau razoável de estabilidade nos preços, equilíbrio no balanço de pagamentos e uma aceitável taxa de crescimento econômico (MORGADO, 2011, p.11). Como mecanismo que viabiliza a execução de políticas públicas, defi nidas por agentes públicos inseridos nos poderes executivo e legislativo, o orçamento público traz, em si, a possibilidade de um Estado Nacional ou Subnacional atuar em campos estratégicos para a sua sociedade. Por exemplo, quando a variável macroeconômica de geração de empregos é promovida, cria-se um ciclo virtuoso para a economia nacional, já que as famílias passam a ter condições de consumir bens de primeira necessidade e bens de maior valor agregado. Evidentemente que, ante ao crescimento da demanda, o Estado Nacional ou Subnacional, através de uma política tributária ou de subsídios, pode intervir na estabilização de preços, de forma a evitar que o êxito obtido pela valorização da primeira variável macroeconômica sucumba ante a infl ação. Em outra vertente, os Estados Nacional e o Subnacional podem promover setores econômicos que gerem excedentes para 23 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 a exportação, estimulando sua competitividade. Assim, o Balanço de Pagamentos tem condições de tornar-se superavitário. Essa variável, em conjunto com as outras duas, infl uencia diretamente no estabelecimento de taxas de crescimento virtuosas. O atendimento dessas quatro variáveis macroeconômicas fomenta o que Matias-Pereira (2010, p.128-131) defi ne como “atividade fi nanceira do Estado”, estruturada sobre “[...] quatro áreas afi ns: receita pública (obter), despesa pública (despender), orçamento público (gerir) e crédito público (criar)”. Verifi ca-se que as variáveis e as áreas estão totalmente associadas, para o atendimento precípuo de um dos objetivos do Estado, que é salvaguardar os interesses da sua necessidade. Sem que haja um olhar sobre a função estabilizadora, as fontes de recursos, receitas públicas fi cam comprometidas. Havendo baixo volume de arrecadação, a despesa pública pode conduzir o Estado Nacional a défi cits públicos e a cenários recessivos, o que torna o orçamento público uma ferramenta gerencial proforma. Desse modo, o Estado pode tornar-se dependente de fontes de crédito público, como aqueles provenientes de títulos no mercado internacional ou empréstimos junto a bancos de fomento internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros. Expostas as três funções orçamentárias, cabe a apresentação de um quadro síntese dos conceitos. QUADRO 2 – SÍNTESE DAS FUNÇÕES ORÇAMENTÁRIAS Funções Orçamentárias Conceito Exemplo Alocativa Função orçamentária responsável pela alocação de recursos em áreas menos competitivas ou sem ausência da iniciativa privada. Política de fomento à exploração do Petróleo na Era Vargas. Distributiva Função orçamentária responsável pela distribuição de recursos públicos, com enfoque à promoção da equidade e redução de desigualdades regionais. Programa Bolsa-Família e o Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), que garante o pagamento do piso nacional a qualquer professor da educação básica. Estabilizadora Função orçamentária que viabiliza a estabilização das variáveis macroeconômicas (geração de empregos, estabilização dos preços, equilíbrio do balanço de pagamentos e promoção do crescimento econômico). Controle da taxa de juros pelo Comitê de Política Monetária. FONTE: A autora 24 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária Note que para efeito da organização da proposta orçamentária, o atendimento das três funções é imprescindível, embora, como já dito, a forma de atendimento dependa do programa de governo e o modelo de administração pública adotado por cada Estado Nacional e Subnacional. Evidentemente que, dado esses dois aspectos, o orçamento público assumirá contornos específi cos. Por fi m, encerrando a seção, o(a) convidamos a realizar a bateria de exercícios de fi xação a seguir. Antes de executar o exercício proposto, leia com atenção as duas notícias indicadas, acessando os respectivos endereços na internet. A leitura delas é imprescindível para a solução dessa atividade, ok? • Conheça o Fundeb: <http://portal.mec.gov.br/fundeB> • Piso Nacional do Magistério vai a R$ 2.455. Você acha bom? <https://novaescola.org.br/conteudo/9425/piso-nacional-do- magisterio-sera-de-r245535-em-2018> Agora que você já se inteirou do assunto, vamos ao caso proposto. Atividade de Estudo: Considere que você exerce a função de Secretário de Educação do Município de Pessoinha, uma região pouco desenvolvida de Futurulândia, país com baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O seu partido, durante a campanha, prometeu acabar com o analfabetismo e valorizar a educação, mas quando assumiu o cargo, você acabou descobrindo que a Prefeitura Municipal estava sem caixa para realizar quaisquer tipos de investimentos no fomento da educação. Contudo, a população que elegeu o prefeito que o conduziu ao cargo, espera que você, como Secretário Municipal, resolva as mazelas de uma das áreas que ela, a população, entende como prioritária. Os indicadores que foram entregues a você foram os seguintes: 25 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 QUADRO A – MAPA DE INDICADORES DE EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PESSOINHA – EXTRATO DA CONTROLADORIA INTERNA DO MUNÍCIPIO. População total 152.000 habitantes População em idade escolar 25.000 habitantes De 6 -10 anos 12.000 habitantes De 10 – 12 anos 5.000 habitantes De 12 – 14 anos 3.000 habitantes De 14 – 17 anos 5.000 habitantes Percentual de escolas públicas de ensino fundamental no município 100% Percentual de escolas privadas de ensino fundamental no município 0% Número de professores da educação básica 1 professor para cada 65 alunos Número de professores, ideal, para atendimento da educação básica, de acordo com a legislação 1 professor para cada 25 alunos Taxa de analfabetismo do município 69% da população Taxa de evasão escolar (provocada pelo trabalho infantil) 72% da população escolar, de 6 a 17 anos Custo per capita da evasão escolar R$ 4.850,00 Custo per capita de aluno em educação integral R$ 3.850,00 Bolsa-auxílio para retenção de alunos R$ 150,00/mês Número de alunos em educação integral no município 0 Número de alunos que recebem bolsa-auxílio 0 Salário base dos professores da educação básica (40 horas aula, efetivo) R$ 985,00 Salário base dos professores da educação básica (40 horas aula, efetivo) obrigatório, de acordo com a legislação R$ 2.455,00 Investimento per capita por aluno/ano R$ 2.850,00 Número de bibliotecas no município 0 Custo total para uma biblioteca pronta, com acervo de 18.000 volumes R$ 255.000,00 Quantidade de bibliotecas ideal uma para cada 10.000 habitantes Número de laboratórios de informática no município 0 Quantidade de laboratórios ideal um para cada 25 alunos Custo total de um laboratório de informática com 30 computadores R$ 25.000,00 Número de salas de aula disponíveis, considerando a relação atual de professores por quantidadede alunos. 387 salas de aula 26 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária Custo total de uma sala de aula pronta para 25 alunos R$ 13.000,00 Transporte escolar disponível no município 0 Tamanho da frota recomendada para o município 20 ônibus Custo de um ônibus escolar completo, para 44 estudantes sentados R$ 195.000,00 Salário dos motoristas de ônibus escolares R$ 1.904,00 Seguro de cada ônibus R$ 5.000,00 Manutenção anual de cada ônibus R$ 2.250,00 Quantidade de quilômetros a serem rodados por cada ônibus 23.000 km Combustível para abastecimento R$ 4,55/litro Merenda escolar per capita R$ 4,50 Número de refeições por dia Café da manhã Lanche Almoço Lanche da tarde Folha de pagamento anual de merendeiras, seguranças, serviços gerais e pessoal administrativo R$ 22.585.000,00 Receita Corrente Líquida total do Município R$ 585.000.000,00 Destinação percentual de recursos à educação 25% FONTE: A autora 1) Observando as informações disponibilizadas, elabore a projeção do orçamento da educação do município de Pessoinha, preenchendo os campos em branco com as informações requeridas: QUADRO B – PROJEÇÃO DE ORÇAMENTO – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE PESSOINHA Défi cit total de professores para a educação básica no município Folha de pagamento total considerando o piso nacional (13 salários + 1/3 de férias + 11% de Previdência Municipal) Número de bibliotecas necessárias para o município Investimento em construção de bibliotecas 27 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 Número de laboratórios de informática necessários para o município Investimento em construção de laboratórios Número de salas de aula necessárias para atender o quantitativo ideal de alunos Investimento em construção de salas de aula Taxa de redução de evasão escolar Economia com a redução da evasão escolar em relação a população total de alunos Investimento total na estratégia de retenção de alunos com educação integral Investimento total na estratégia de retenção de alunos com bolsa-auxílio Investimento total em transporte escolar Seguro total em transporte escolar Manutenção total em transporte escolar Combustível para a frota Folha de pagamento total dos motoristas (13 salários + 1/3 de férias + 11% de Previdência Municipal) Merenda escolar prevista Orçamento municipal ideal para a educação FONTE: A autora FONTE: A autora 2) Realizada projeção orçamentária, realize a distribuição das despesas ao longo de quatro anos: QUADRO C – DISTRIBUIÇÃO PROJETADA DOS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE PESSOINHA Ano/ Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Receita anual prevista para a educação Rateio das despesas anuais da educação Saldo 28 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária 3) Redimensione o orçamento municipal da educação, adequando seus gastos em relação à receita anual disponível. QUADRO D – ORÇAMENTO EQUILIBRADO – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE PESSOINHA Número de professores que serão contratados Folha de pagamento total considerando o piso nacional (13 salários + 1/3 de férias + 11% de Previdência Municipal) – R$ Número de bibliotecas que serão construídas Investimento em construção de bibliotecas – R$ Número de laboratórios que serão construídos Investimento em construção de laboratórios – R$ Número de salas de aula que serão construídas Investimento em construção de salas de aula Taxa de redução de evasão escolar Investimento total na estratégia de retenção de alunos com educação integral Investimento total na estratégia de retenção de alunos com bolsa-auxílio Número de ônibus de transporte escolar que serão adquiridos. Investimento total em transporte escolar Seguro total em transporte escolar Manutenção total em transporte escolar Combustível para a frota Folha de pagamento total dos motoristas (13 salários + 1/3 de férias + 11% de Previdência Municipal) Folha de pagamento anual de merendeiras, seguranças, serviços gerais e pessoal administrativo Merenda escolar prevista FONTE: A autora 29 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 FONTE: A autora 4) Realize a distribuição das despesas, ao longo de quatro anos, equiparando os valores de receitas e despesas (equilíbrio orçamentário): QUADRO E – DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE PESSOINHA Ano Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Receita anual prevista para a educação Rateio das despesas anuais da educação Atividade de Estudo: Finalizada a construção da previsão de orçamento do município de Pessoinha para a área de educação, responda as questões propostas a seguir, com base no que estudamos ao longo da segunda seção e no caso. 1) Em relação ao FUNDEB e ao piso nacional para os professores do ensino fundamental, é possível realizar-se as seguintes assertivas: I- Trata-se de exemplos da função distributiva do orçamento público. II- Trata-se de exemplos da função alocativa do orçamento público. III- Trata-se de exemplos da função estabilizadora do orçamento público. A alternativa que contém a resposta CORRETA é: a) ( ) Somente I está correta. b) ( ) Somente II está correta. c) ( ) Somente III está correta. d) ( ) Somente I e II estão corretas. e) ( ) Todas as alternativas estão corretas. 30 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária 2) Em relação ao município de Pessoinha, o orçamento destinado à educação: I- Assume a função estabilizadora, visto que os recursos mitigam e estabilizam as elevadas taxas de evasão escolar municipal. II- Assume a função distributiva, já que garante o atendimento do piso nacional aos professores efetivos. III- Assume a função alocativa, já que o município é o único fornecedor de serviços educacionais. IV- Assume a função distributiva, visto que institui o bolsa-auxílio aos alunos, para evitar o trabalho infantil e a evasão escolar. V- Assume a função alocativa, com o reajuste salarial dos professores e a construção de bibliotecas e laboratórios de informática. A alternativa que contém a resposta CORRETA é: a) ( ) Somente I está correta. b) ( ) Somente II e III estão corretas. c) ( ) Somente II, III e IV estão corretas. d) ( ) Somente I, II, III e V estão corretas. e) ( ) Somente II, III, IV e V estão corretas. 3) Utilize as funções do orçamento inscritas na coluna A para preencher a coluna B: COLUNA A a) Função alocativa. b) Função distributiva. c) Função estabilizadora. COLUNA B 1) ( ) Défi cit de professores na rede municipal de ensino. 2) ( ) Construção de salas de aula. 3) ( ) Construção de laboratórios de informática. 4) ( ) Construção de bibliotecas. 5) ( ) Bolsa-auxílio para alunos. 6) ( ) Redução da taxa de evasão escolar. 7) ( ) Pagamento do piso nacional. 8) ( ) Mitigação da taxa de analfabetismo. 31 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 4) Considerando que você é o Secretário de Educação de Pessoinha, elabore uma exposição de motivos de até 90 linhas, explicando os cortes orçamentários que, em razão do teto de receita disponível, você foi obrigado a fazer. Utilize como apoio o Manual de Redação da Presidência da República, para adequar sua linguagem ao padrão exigido pela Administração Pública. Enderece essa correspondência à população da cidade. 4 ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO O reconhecimento da história do orçamento público está intimamente relacionado à história do Estado. A palavra Estado origina-se do latim status, signifi ca condição, posição, ordem e envolve a associação de pelo menos três elementos essenciais constitutivos: povo, território e soberania, os quais são sofi sticados pelo desenvolvimento de cultura e aparato normativo, que criam contornos próprios para cada Estado Nacional. Acerca dele, existem diversas interpretações para o surgimento da estrutura institucional,conforme expõe Fachin (2000, p. 323), que se amparam em quatro perspectivas: “[...] a teoria de origem familiar (patriarcal e matriarcal), a teoria de origem patrimonial e a teoria da força”. A família, de acordo com o autor, dentro da visão teórica que atribui ao Estado o desenvolvimento do núcleo familiar, é o elemento chave para o surgimento do chamado Estado Nacional. Trata-se de uma lógica aristotélica. Aristóteles (apud FACHIN, 2000, p. 323-324) explica que: [...] quando várias famílias se unem, constituem a primeira sociedade, que é a aldeia. Quando várias aldeias se unem numa mesma comunidade, grande o bastante para ser autossufi ciente, confi gura-se a cidade, ou Estado – que nasce para assegurar o viver e depois de formado, é capaz de assegurar o viver bem. Portanto, a cidade-Estado é uma forma natural de associação, assim como o eram as associações primitivas das quais ela se originou. O autor expõe, nesse sentido, que o ser humano, ao ser um animal político, precisa viver em sociedade. E o Estado, além de congregar a sociedade civil, oferta os limites legais que mitigam a animosidade. Fachin (2000, p. 323), que se amparam em quatro perspectivas: “[...] a teoria de origem familiar (patriarcal e matriarcal), a teoria de origem patrimonial e a teoria da força”. 32 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária No caso da origem patrimonial, ainda de acordo com Fachin (2000), a ideia de Estado não é apenas a congregação social, mas sim o estabelecimento de uma dinâmica que viabilize a preservação do patrimônio. Ampara-se para tal no pensamento de John Locke, que confere à perspectiva teórica, uma visão economicista. Porém, ao citar Karl Marx e Friedrich Engels, insere na discussão a questão do Estado quanto elemento de solidifi cação de divisão de classes sociais: uma dominante e outra dominada. Desse modo, o Estado, além de responder pela defesa da propriedade, defende os interesses de um grupo social específi co. Faltava apenas uma coisa: uma instituição que não só assegurasse as novas riquezas individuais contra as tradições comunistas da constituição gentílica; que não só consagrasse a propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fi zesse dessa consagração santifi cadora o objetivo mais elevado da comunidade humana, mas também imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade às novas formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras – a acumulação, portanto, cada vez mais acelerada das riquezas: uma instituição que, em uma palavra, não só perpetuasse a nascente divisão da sociedade de classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar a não-possuidora e o domínio da primeira sobre a segunda. E essa instituição nasceu. Inventou-se o Estado. (ENGELS apud FACHIN, 2000, p. 327). Por último, tem-se a teoria da força, que se ampara no uso da violência para a consolidação do Estado. A lógica nesse sentido é que, em sendo o homem um ser natural (HOBBES apud FACHIN, 2000), existe uma predisposição à violência, já que as regras institucionalizadas são o único meio de conduzir o homem a um comportamento civilizado, sem resquícios de animosidades. Todavia, a violência pode imperar no caso de guerras ou conquistas de territórios, no intuito de ampliação de território ou construção de modelos de Estado hegemônicos. Tais concepções podem ser observadas no pensamento hobbesiano e rousseauneano, expressas na refl exão realizada por Fachin (2000) e evidenciadas a seguir: A natureza deu a cada um direito a tudo, isso quer dizer que, num estado puramente natural, ou seja, antes que os homens se comprometessem por meio das convenções ou obrigações, era lícito fazer o que cada um quisesse, e contra quem julgasse cabível e portanto, possuir, usar e desfrutar tudo o que quisesse ou pudesse obter (HOBBES apud FACHIN, 2000, p. 328). A origem das grandes e duradouras sociedades não provém da boa vontade recíproca que os homens tivessem uns para com os outros, mas do medo recíproco que uns tinham dos outros (ROSSEAU apud FACHIN, 2000, p. 328). 33 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 Esse modelo pode ser observado na leitura da biografi a de Alexandre, o Grande, ou ainda, no processo de expansão do Império Romano, no modelo de colonização europeia infl igido contra a Ásia, África e América. No caso brasileiro, pode-se citar a conquista do território do Acre e a Guerra do Paraguai. Todos esses exemplos demonstram o uso da força com enfoque na expansão dos interesses do Estado. Mas como a Teoria de Estado ajuda a compreender as origens do Orçamento Público? Leia o conteúdo produzido pela Revista Exame, intitulado 300 Bilhões de Dólares em Ouro estão embaixo de Londres, acessando o endereço indicado: <https://exame.abril.com.br/economia/300-bilhoes- de-dolares-em-ouro-estao-embaixo-de-londres/>. Ainda que a conversação tenha ocorrido de forma superfi cial, é notório observar que, em quaisquer dos modelos aqui elencados, existe uma fi gura essencial que é o Tesouro, espaço abstrato que acumula os recursos provenientes principalmente dos impostos. Todo Estado possui um Tesouro. Em linhas gerais, o Tesouro é uma conta corrente ou um caixa-forte onde Estado guarda os recursos necessários para a sua sobrevivência. Para melhor ilustrar, leia com atenção essa notícia publicada pela Revista Exame, versando sobre a reserva de ouro da Inglaterra. Todo Estado, de forma compulsória, arrecada impostos e a depender do modelo de Estado (voltado ao bem-estar ou gerencial), modelo de administração pública (patrimonialista, burocrática e gerencial) e perspectiva teórica do seu surgimento (familiar, patrimonialista ou força), pode ainda desenvolver atividades empresariais, com enfoque no aumento do bolo de receitas necessárias para o fi nanciamento das despesas e políticas públicas de interesse dos gestores e ou da sociedade. O orçamento público, nesse contexto, pode ser considerado um produto natural do desenvolvimento do próprio Estado, com vistas a racionalizar a aplicação dos recursos públicos disponíveis. 34 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária Diversos autores atribuem o surgimento do Orçamento Público ao Rei João Sem Terra, que, em 1217, após severa pressão dos barões feudais ingleses, publicou a Magna Carta, que, em seu artigo 12, previa um elegante modelo de gestão dos recursos públicos, articulado com o respeito à propriedade e à redução do poder do rei em despender o erário: 12 – Nenhuma “ajuda” ou “tributo de isenção militar” (2) será estabelecida em nosso reino sem o consentimento geral, a não ser para o resgate de nossa pessoa, para fazer cavaleiro nosso fi lho primogênito, e para casar nossa fi lha primogênita. Para estes propósitos, somente poderá ser estabelecida uma ajuda razoável. De igual maneiro se procederá quanto às ajudas da cidade de Londres. (INGLATERRA, 1215 ). Contudo, se observarmos a história antiga, a preocupação com a relação arrecadação e gasto esteve presente ao longo de toda a história das grandes civilizações antigas: “dá a César o que é de César”, é uma boa expressão para indicar que o cidadão romano, contemporâneo dos primórdios do cristianismo, deveria pagar o imposto ao Estado. Não à toa, a fi gura do cobrador de impostos e dos escribas são comuns em impérios, como o mesopotâmico, o hindu, o egípcio e o romano. No campo das leis, além da produzida por Moisés, existem o Código de Hamurabi e o Código de Manu, que expressam a cultura tributária. [...] o texto mais antigo encontrado e que retrata a cobrança de tributos na antiguidade é uma placa de 2.350 a.C., em escrita cuneiforme, que descreve as reformas empreendidas pelo rei Urukagina na cidade-estado de Lagash, localizada na antiga Suméria, entre os rios Tigre e Eufrates. O documento relata a cobrança de impostos extorsivos e leis repressivas, exploraçãode funcionários corruptos e confi sco de bens para o rei. (FERREIRA, 2015, s.p.) O mesmo pode-se observar em impérios como os chineses. Uma das obras que ressaltam a importância dos impostos para esses últimos é o Arte da Guerra, escrito pelo general chinês Sun Tzu em 500 a.C. Nela, além de apresentar inúmeras refl exões sobre estratégias militares, o general ressalta a relevância dos impostos para a manutenção do Estado e das guerras. Os chineses, inventores do ábaco, possuíam escribas que respondiam pela elaboração de controles sistematizados do tesouro imperial. 12 – Nenhuma “ajuda” ou “tributo de isenção militar” (2) será estabelecida em nosso reino sem o consentimento geral, a não ser para o resgate de nossa pessoa, para fazer cavaleiro nosso fi lho primogênito, e para casar nossa fi lha primogênita. Para estes propósitos, somente poderá ser estabelecida uma ajuda razoável. De igual maneiro se procederá quanto às ajudas da cidade de Londres. (INGLATERRA, 1215 ). [...] o texto mais antigo encontrado e que retrata a cobrança de tributos na antiguidade é uma placa de 2.350 a.C., em escrita cuneiforme, que descreve as reformas empreendidas pelo rei Urukagina na cidade- estado de Lagash, localizada na antiga Suméria, entre os rios Tigre e Eufrates. O documento relata a cobrança de impostos extorsivos e leis repressivas, exploração de funcionários corruptos e confi sco de bens para o rei. (FERREIRA, 2015, s.p.) 35 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 Voltando à Inglaterra do Rei João Sem Terra, depois de publicar a Magna Carta em 1217, que o deixava atrelado ao Common Counsel, verifi ca-se que o modelo inglês, ao longo do tempo, evoluiu. De acordo com Pires e Mota (2006), em 1689, com a publicação da Bill of Rights, os ingleses deixaram de ser obrigados a pagar impostos, sem que, para tal, houvesse uma sanção realizada pelo parlamento. Giacomoni (2010) explica que a Bill of Rights foi crucial para a história do orçamento e das fi nanças públicas, por se tratar da primeira lei a separar as fi nanças do Estado das fi nanças da coroa. Esse aparato normativo propulsionou também o início do controle interno. Contudo, por assentar-se somente nas receitas, tornou necessária a evolução do processo. Ainda de acordo com Pires e Mota (2006) e Giacomoni (2010), publicou-se em 1706, através da Resolução n° 66 da Câmara dos Comuns, legislação que responsabilizava o Poder Executivo a acompanhar as fi nanças governamentais e o Poder Legislativo em providenciar aparatos normativos sobre despesas e exercer o controle externo. Em 1787, foi instituída a Lei do Fundo Consolidado, considerado um marco para a consolidação da prática orçamentária dentro da administração pública, por se constituir num fundo destinado a receber receitas e despesas, com o devido registro (o que, para os autores, confi gura-se como a primeira mostra efetiva de contabilidade pública no contexto do Estado Moderno). Somente em 1822, o poder executivo inglês, através de seu primeiro-ministro, passa a elaborar o orçamento antes de encaminhá-lo para análise no parlamento. Pires e Mota (2006) explicam que, no caso francês, o marco introdutório para o surgimento da cultura orçamentária é a Revolução Francesa, que estabelecia como critério para a cobrança de impostos a sanção de lei desenvolvida pelo parlamento. No caso dos Estados Unidos, por sua vez, de acordo com Giacomoni (2010), o marco relevante, além do próprio processo de independência do país, que se assentava sobre a taxação do chá, foi a criação de uma Comissão de Meios e Recursos em 1802, pela Câmara de Representantes, que tinha como objetivo o controle das fi nanças públicas como uma resposta aos défi cits sucessivos. A evolução desse modelo, que sofreu vários ajustes até o início do século XX, deu-se por meio da criação da Comissão de Economia e Efi ciência em 1910. Essa comissão, por dois anos consecutivos, avaliou a contabilidade, a incorporação de práticas gerenciais da iniciativa privada pela administração pública, orçamento e recursos humanos. Em 1912, o presidente do país, chefe do Poder Executivo, encaminhou pela primeira vez, para apreciação do parlamento, o primeiro orçamento. 36 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária Com a expertise de eventos militares de grande vulto, como a Primeira e a Segunda Guerras, o processo de busca de mecanismos para ampliar a performance gerencial dos recursos se sofi sticou. Em 1912, publicou-se a Lei de Orçamento e Contabilidade e entre 1913 e 1915, realizaram-se os primeiros testes sobre o Orçamento por Desempenho. Em 1948, a Marinha apresentou o primeiro orçamento organizado por programas, conduzindo, anos mais tarde, a Comissão Hoover a propor o Sistema de Planejamento, Programação e Orçamento (PPBS – Planning, Programming and Budgeting System). Em 1970, foi proposta a implantação do Orçamento Base-Zero, fundada na experiência do Texas. Em 1974 foi aprovada a Lei de Orçamento e Retenção de Recursos e em 1993, a Lei de Desempenho e Resultados do Governo. Atualmente, os Estados Unidos discutem a implantação do Orçamento Baseado em Atividades (GIACOMONI, 2010, p. 54-62). O processo orçamentário estadunidense foi o que mais infl uenciou os países latino-americanos, incluindo o Brasil. Mantidas as proporções das infl uências dos países colonizadores, Espanha e Portugal, a grande maioria dos países utiliza padrões provenientes dos Estados Unidos da América. Na Argentina, o orçamento público foi instituído através do artigo nono do ato de 25 de maio de 1810, que estabeleceu a Primeira Junta de Governo, para tratar de diversos assuntos relacionados ao Estado, incluindo-se a administração do erário público. O primeiro orçamento governamental argentino foi elaborado em 1822. O processo orçamentário consistia em acompanhar os ingressos e as saídas de recursos. Contudo, esse acompanhamento mostrou-se inefi ciente, já que o país passou a acumular défi cits públicos sucessivos. O modelo sofreu sua primeira modifi cação nos anos 1960, quando o país, em sua primeira reforma administrativa, adotou o modelo de Orçamento Programa. Já nos anos 1980, o país inicia o desenvolvimento do seu sistema de orçamento, El Sistema Presupuestario en La Administración Nacional de La República Argentina. Ele foi sancionado através da Lei n° 24.156, de 30 de setembro de 1992, intitulada Ley de Administración Financiera y de los Sistemas de Control del Sector Público Nacional. O interessante do sistema orçamentário é que ele foi consolidado sob a perspectiva da Teoria dos Sistemas (ARGENTINA, 2018). No Peru, os primeiros ensaios sobre a adoção do processo orçamentário aconteceram na década de 1840, sendo que o primeiro orçamento público foi aprovado em 1848, valendo para os exercícios de 1848 e 1849. Em 1893, o Congresso Peruano aprovou o modelo de especialidade dos gastos, que foi complementado com o princípio da unidade orçamentária (unifi cação dos orçamentos de todos os poderes), em 1922. No ano de 1962, o Congresso aprovou a adoção do modelo de Orçamento por Programas, numa tentativa evidente de combater os défi cits fi scais também sucessivos. Com o sucesso da ação, o governo 37 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 peruano, com apoio de seu Congresso adotou em 1982, o sistema de Orçamento Base Zero. Após sofrer com forte e longo processo infl acionário, o país retornou ao modelo de Orçamento por Programas em 1996, mesmo ano em que sancionou sua Ley General del Sistema Nacional de Presupuesto. (TAPIA, 2014). Na Colômbia, o processo de consolidação orçamentária tem relação, a princípio, com o desenvolvimento orçamentário da Coroa Espanhola. Nesse sentido, de acordo com Torres (2014), os primeiros registros de processos orçamentários na Espanha são de 1340. Esse processo maisrudimentar, que previa a relação entre os ingressos e os gastos públicos, somente foi modifi cado quando o país já havia conquistado sua independência, em 1810, quando adotou, pela primeira vez, um aparato legal voltado ao processo orçamentário e gestão de suas fi nanças públicas. Em 1928, o país aprovou o seu primeiro sistema orçamentário através da sanção da Lei no 134, de 18 de julho. No mesmo ano, um novo sistema orçamentário começa a ser delineado, em razão da interferência estadunidense – A Missão Americana, liderada por Edwin Kemmerer. Tal missão permitiu ao país que acompanhasse a tendência dos Estados Unidos da América em criar departamentos de orçamento, em nível governamental, em seus Estados. Já em 1950, com a experiência acumulada, o país adotou o sistema de orçamento integrado, o que favoreceu a melhor distribuição de recursos no território nacional e a reestruturação do seu sistema tributário. O processo orçamentário colombiano ainda mantém seu processo evolutivo, visto que, ainda, o país adota o padrão de orçamento tradicional, mantida a inovação do planejamento territorial (por cada um dos estados, que naquele país são denominados de Departamentos). O enfoque é o atendimento do princípio do equilíbrio orçamentário, acompanhando-se os ingressos e os gastos públicos. O último marco nesse sentido foi a sanção da Lei no 819, que estabelece normas de natureza orçamentária e de responsabilidade e transparência fi scal. No Uruguai, o processo orçamentário segue a mesma perspectiva, com o diferencial de que em 1950, seu modelo orçamentário, conforme explica Alonzo (2011), passou a ser infl uenciado pelo movimento conduzido pela CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, que desenvolveu metodologia de processo orçamentário para países da região. O modelo uruguaio utiliza o orçamento por programa, nos termos da sua constituição de 1967, com o diferencial que seu planejamento estratégico é quinquenal, alinhado com o padrão de reeleições presidenciais do país. O Uruguai, seguindo os modelos de orçamento participativo que inicialmente foi implantado em Porto Alegre (RS), tornou-se um dos casos bem-sucedidos da metodologia, pós adoção desse modelo em sua capital, Montevidéu (GOLDFRANK, 2006). 38 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária De modo geral, o que se observa é que os processos orçamentários, além de associarem-se ao momento político de cada país (perspectiva que jamais deve ser desconsiderada quando se lida com o assunto), leva em consideração o desempenho das fi nanças públicas e o alinhamento às experiências de gestão pública bem-sucedidas. No caso brasileiro, cuja evolução discorreremos em capítulo à parte, verifi car-se-á que o processo segue a mesma lógica. O contexto brasileiro será discutido no terceiro capítulo desse material de estudo, ok? Agora que já conhecemos um pouco sobre as origens do orçamento público, realize as atividades propostas e leia com atenção as considerações fi nais. Atividade de Estudo: Acerca do texto e do conteúdo abordado, leia com atenção as afi rmativas e assinale a alternativa CORRETA: 1) O modelo de orçamento que nasceu com a sanção de uma constituição, que reduzia o poder do rei e transferia parte das decisões para um conselho de nobres, é de origem: a) ( ) brasileira. b) ( ) francesa. c) ( ) estadunidense. d) ( ) inglesa. e) ( ) italiana. 2) O modelo de orçamento que evoluiu a partir da identifi cação de défi cits públicos sucessivos e fomentou a criação de vários aparatos normativos aprovados pelo Congresso e de comissões de estudos das fi nanças públicas é de origem: a) ( ) brasileira. b) ( ) francesa. c) ( ) estadunidense. d) ( ) inglesa. e) ( ) italiana. 39 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 3) O modelo de orçamento que surgiu de uma revolta nacional contra abusos da monarquia infl igidos por gastos ilimitados das Finanças Públicas em detrimento do bem-estar do seu povo é de origem: a) ( ) brasileira. b) ( ) francesa. c) ( ) estadunidense. d) ( ) inglesa. e) ( ) italiana. 4) O primeiro registro acerca do orçamento público na história é: a) ( ) O Código de Manu. b) ( ) O Código de Hamurabi. c) ( ) Os hieróglifos egípcios nas Pirâmides. d) ( ) O livro do Deuteronômio escrito por Moisés. e) ( ) Uma placa de escrita cuneiforme de 2.350 a.C., do reinado de Urukagina. 5) A visão de Estado onde a organização primária do tesouro real cunhada num livro de estratégia militar é de origem: a) ( ) inglesa. b) ( ) italiana. c) ( ) espanhola. d) ( ) portuguesa. e) ( ) chinesa. 6) Desenvolveu seu processo orçamentário a partir da década de 1960, sob a infl uência das contribuições da CEPAL. a) ( ) Inglaterra. b) ( ) Brasil. c) ( ) Uruguai. d) ( ) Argentina. e) ( ) Venezuela. 7) Adotou o orçamento integrado, após missão estadunidense. a) ( ) Colômbia. b) ( ) Brasil. c) ( ) Uruguai. d) ( ) Argentina. e) ( ) Venezuela. 40 PlaneJamento e Orçamento Público e GestÃo Orçamentária 8) Adotou o orçamento zero, seguindo uma tendência estadunidense, mas retornou, face ao processo infl acionário vivido no país, ao modelo de orçamento por programa. a) ( ) Colômbia. b) ( ) Brasil. c) ( ) Uruguai. d) ( ) Argentina. e) ( ) Peru. Atividade de Estudo: Um dos aspectos fundamentais para o delineamento de orçamentos governamentais são os programas de governo, estabelecidos a partir da linha ideológica dos partidos políticos. Trata- se de um padrão corrente em democracias. Esses programas fundados na lógica partidária, elegem prioridades. Tais projetos, ao serem eleitos, passam a infl uenciar as tomadas de decisão dos Poderes Executivo e Legislativo. Nesse sentido, para que você possa resolver o caso a ser proposto, leia primeiramente o PDRAE – Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado e na sequência, o caso hipotético proposto. O Léo vai lhe mostrar o site para obtenção do PDRAE, ok? O site é este aqui, pessoal! <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-oficiais/ catalogo/fhc/plano-diretor-da-reforma-do-aparelho-do-estado-1995.pdf> 41 FUNDAMENTOS E ORIGENS HISTÓRICAS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Capítulo 1 COM A CORDA NO PESCOÇO: O CASO DA PREFEITURA DE PETITINHO Petitinho é uma daquelas cidadezinhas brasileiras bem pequenininhas. Tem apenas 4.000 habitantes e está situada no interior de Minas Gerais, na região do Vale do Jequitinhonha. Quando a seca não é extrema, tem como principal pauta econômica a produção de mel. Seu produto é excepcional, pois graças às fl oradas ímpares de sua fl ora, uma área de transição de cerrado e caatinga, e a temperatura média anual elevada, o seu mel tem sido disputado pelo mercado da União Europeia. A própolis é vermelha, que no comparado com a própolis verde, é um suprassumo também altamente demandado pela indústria de cosméticos dos países desenvolvidos. Petitinho exporta esse produto para o Japão. O problema de Petitinho é que 30% da população está vinculada à cadeia produtiva do mel e 60% no serviço público. Os outros 10% da população atua no setor de comércio e serviços muito pouco desenvolvido. Em suma, a pauta de arrecadação da prefeitura depende da participação dos impostos sobre a exportação, repasses proporcionais do ICMS, IPVA e ITR, fundos de participação constitucionais, além da paca arrecadação de ISSQN, taxas e contribuições municipais. A Receita Corrente total de Petitinho é de R$ 190.000.000,00. A Prefeitura de Petitinho possui sob sua responsabilidade a Feira Municipal, principal local de encontro da cidade. Junto à Feira, existe ainda a Rodoviária do Município e uma praça, onde há um parquinho e uma academia a céu aberto, para que as crianças e as demais pessoas da cidade possam realizar suas atividades de lazer. Petitinho ainda possui quatro escolas
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