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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6597-4 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 9 7 4 Código Logístico 59241 DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS E INOVAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA FABIANO CAXITO Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública Fabiano Caxito IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C377d Caxito, Fabiano Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública / Fabiano Caxito. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 124 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6597-4 1. Administração pública - Brasil. I. Título. 20-62762 CDD: 351.0981 CDU: 351(81) Fabiano Caxito Mestre em Administração pela Universidade Nove de Julho (Uninove). MBA em Recursos Humanos pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Administração Financeira pela Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). Atuou nas áreas de recrutamento e seleção e de treinamento e desenvolvimento em diversas empresas de distribuição e venda de bebidas. Foi coordenador de cursos de pós-graduação lato sensu em Logística das Operações Comerciais e em Negócios Internacionais. Também foi professor dos cursos de Marketing, Logística e Recursos Humanos. Atualmente, é professor da Fundação Instituto de Administração (FIA/USP) e influenciador digital. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 A evolução da administração pública 9 1.1 O que é administração pública? 9 1.2 A visão clássica da gestão pública 12 1.3 A gestão pública na Idade Moderna 14 1.4 Administração pública no Brasil Colônia 20 1.5 Formação do Estado Nacional: o Brasil Império 21 1.6 Brasil República e as mudanças na administração pública 23 1.7 Governos democráticos pós-ditadura e administração pública no Brasil 29 2 Gestão das políticas públicas no Brasil contemporâneo 38 2.1 Bases e organização da administração pública 38 2.2 Planejamento e implementação das políticas públicas 41 2.3 Controle e avaliação das políticas públicas 45 3 Gestão da inovação na administração pública contemporânea 53 3.1 A inovação na gestão das empresas 53 3.2 Processo de inovação no setor público 58 3.3 Mudança organizacional e seu impacto nas organizações 66 3.4 Redes e inovação em serviços públicos 71 4 A relação entre mercado e gestão pública 78 4.1 Mercado e gestão das políticas públicas 78 4.2 Parcerias público-privadas 86 4.3 Empreendedorismo e serviço público 91 5 Desafios voltados ao crescimento e ao desenvolvimento econômico 99 5.1 Desenvolvimento econômico: processo histórico 99 5.2 O papel das políticas públicas no desenvolvimento econômico do país 106 5.3 A inovação e o desenvolvimento econômico nacional 111 6 Gabarito 120 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Nas últimas décadas, um novo desafio se faz cada vez mais presente para os governos e gestores públicos: como a administração pública pode incorporar novas tecnologias de informação e comunicações? Nesse contexto, inovação, empreendedorismo e a busca pela melhoria constante na administração pública se tornam temas importantes para o gestor público, que precisa não só conhecer e entender esses conceitos, como estar preparado para colocá-los em prática no seu cotidiano profissional. Esse é o desafio contemporâneo que se coloca e se discute neste livro, não com o objetivo de apresentar respostas definitivas, mas, sim, levantar questionamentos e dar exemplos para que você, leitor, reflita sobre esses temas de modo crítico. No primeiro capítulo, é apresentado um breve histórico do papel do Estado e da função da administração pública, tanto no mundo, quanto, mais especificamente, no Brasil. Entender a história é fundamental para que se possa compreender algumas das peculiaridades da máquina pública brasileira. Muitas das mazelas e dos pontos positivos que podemos identificar em nossa gestão pública têm origens que podem ser rastreadas na história de nosso país. No segundo capítulo, aborda-se as políticas públicas, instrumento fundamental para que as estratégias públicas sejam colocadas em prática, de modo que os objetivos econômicos e sociais do Estado sejam alcançados. A partir do terceiro capítulo, o foco se direciona aos grandes desafios que os dias atuais apresentam para a administração pública. São discutidos conceitos ligados à inovação tecnológica, tanto nas empresas privadas como nas públicas, com exemplos práticos de como criar um ambiente propício à inovação e à geração de ideias. No quarto capítulo, é introduzido na discussão o conceito de mercado e a relação entre a iniciativa privada e a administração pública no desenvolvimento da infraestrutura do país. Dentro desse conceito, no capítulo, também são abordadas as parcerias público-privadas, com exemplos reais de como esse instrumento pode trazer resultados positivos para toda a sociedade. Discute-se, também, o empreendedorismo e o intraempreeendedorismo na administração pública, não com o objetivo de descobrir se é possível APRESENTAÇÃO empreender dentro da rígida estrutura hierárquica e burocrática da máquina pública, mas, sim, com o foco em mostrar exemplos que provam que o empreendedorismo do funcionalismo público é fundamental para o desenvolvimento da administração pública. Por fim, no quinto capítulo, o tema de discussão é o desenvolvimento econômico e como os fatores discutidos nos capítulos anteriores – tais como a inovação, o empreendedorismo, o papel do Estado na economia e as parcerias público-privadas – estão intrinsecamente relacionados na busca pelo desenvolvimento econômico e social do país. Ao fim do conteúdo, o que se pretende é preparar os gestores públicos para que tenham a condição de identificar novas tendências e mudanças que impactem a gestão pública, pois as inovações serão cada vez mais constantes e presentes no futuro. Bons estudos! A evolução da administração pública 9 1 A evolução da administração pública A administração pública faz parte dos temas mais discutidos no nosso cotidiano, afinal, a mídia repercute diariamente cada decisão ou ação tomada por gestores públicos e políticos eleitos para os cargos executivos nas esferas federal, estadual e municipal. Temas como orçamento público, saúde, educação, segurança, inves- timentos, infraestrutura e economia estão todos relacionados à gestão pública. Por outro lado, a administração pública é um dos temas menos compreendidos pela população e, até mes- mo, pelos políticos. Para que possamos aprofundar nossos estudos sobre o tema, precisamos, primeiro, entender cada um dos termos que o com- põem. Cabe alertar, entretanto, que não é objetivo deste capítulo analisar ou avaliar cada um dos modelos administrativos ou fatos históricos aqui narrados. O foco está em conhecer a evolução da- quilo que é entendido como administração pública paraentender a estruturação atual adotada em nosso país. 1.1 O que é administração pública? Vídeo Para entender o que é administração, podemos fazer um pequeno teste. Em uma sala de aula, em uma biblioteca ou em sua casa, tente identificar que objetos à sua volta não foram produzidos, modificados ou aperfeiçoados pelo homem. A fim de satisfazer nossas necessidades e desejos cotidianos, usa- mos produtos desenvolvidos e fabricados pelo conhecimento e pela tecnologia humana. Para que esses produtos, e até mesmo serviços, 10 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública sejam produzidos, é preciso organizar diversos fatores, chamados de recursos. Eles podem ser divididos em três tipos: Terra, metais, elementos químicos, petróleo, plantas etc. Trabalho desenvolvido pelas pessoas (em geral, chamado de mão de obra) que envolve conhecimento, criatividade, tecnologia, relacionamentos, liderança etc. Capital necessário para desenvolver as atividades necessárias à transformação de matérias-primas em produtos ou serviços e envolve dinheiro, equipamentos, investimentos etc. Recursos humanos Recursos financeiros Recursos naturais Vejamos um exemplo bem simples: imagine que uma pessoa deseja vender um produto, como água de coco. O primeiro recurso que preci- sará é natural; ela precisa encontrar coqueiros em estágio de produção dos frutos. Esse recurso pode ser obtido de duas formas: plantar co- queiros, o que demandará um segundo recurso natural (terras para o plantio); ou explorar coqueiros já plantados e produzir. Para a colheita do coco e a extração da água, será preciso utilizar um segundo recurso: a mão de obra. Por mais simples que a atividade possa parecer, é necessário certo conhecimento técnico para extrair a água de coco sem desperdícios. Os recursos humanos utilizados envol- vem tanto o trabalho manual quanto a tecnologia. Essa mão de obra precisará ser remunerada, assim como os custos de colheita, extração da água, compra de embalagens, envase e trans- porte até o mercado consumidor. Entram aí os recursos financeiros. A palavra tecnologia nos remete a máquinas, equipamentos e computadores, mas o termo é mais amplo. Segundo Trevisan (2015), tecnologia é: “1 Conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas relativos à arte, indústria, educação etc. [...] 2 Conhecimento técnico e científico e suas aplicações a um campo particular”. Saiba mais A evolução da administração pública 11 O investimento necessário para desenvolver a atividade será remunera- do pela venda do produto com uma determinada margem de lucro, que possibilitará que a empresa continue a realizar suas atividades. Para que essa empresa seja bem- -sucedida, o gestor deverá tomar uma série de decisões sobre como obter as matérias-primas, qual mão de obra contratar, qual mercado consumidor atender, a que preço o produto deverá ser vendido, além de diversas outras decisões para que o objetivo da empresa – ser lucrativa – seja alcançado. Podemos observar como um produ- to relativamente simples envolve a cor- reta utilização dos recursos disponíveis, a tomada de decisão e o estabelecimen- to de objetivos. Segundo Maximiano (2015), administração é o processo de tomar decisões sobre objetivos e recur- sos. A relação entre essas variáveis pode ser mais bem entendida na Figura 1. Entendidos os conceitos mais básicos da administração, é preciso agora entender a segunda parte do termo. A palavra pública aqui é usa- da no sentido daquilo que é relativo ao bem comum da população de um país. De acordo com Fioravanti (2013, p. 9, grifos do original): Público e Privado não são outra coisa senão as duas dimensões fundamentais da democracia, ambas necessárias para a própria vida da democracia. Por um lado, a liberdade dos privados e o princípio da livre autodeterminação dos indivíduos, por outro, a força e a autoridade da res publica. Essa dualidade entre o público e o privado é ponto de discussão desde as mais antigas sociedades. Para que possamos entender as bases da administração pública atual, faz-se necessário compreen- der como o conceito daquilo que é considerado público evoluiu no decorrer do desenvolvimento da civilização humana, conforme veremos nas próximas seções. Recursos Pessoas Informação e conhecimento Espaço Objetivos Resultados Decisões Planejamento Organização Execução e direção Figura 1 Relação entre as variáveis na administração Fonte: Adaptada de Maximiano, 2015. 12 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública 1.2 A visão clássica da gestão pública Vídeo À medida que a civilização humana evoluiu de pequenos grupos nômades para assentamentos que, posteriormente, transformaram-se em cidades, surgiu a necessidade de organizar o cotidiano das relações entre os seus membros. Um dos primeiros pensadores a discutir a im- portância da administração pública foi Platão (429 a.C. – 347 a.C.). Platão (2019) discutiu no livro A República, escrito por volta de 380 a.C., os princípios básicos da coisa pública. Usando o modelo da dialética, tendo como personagem principal o filósofo Sócrates, que faz perguntas direcionadas a seus interlocutores com o objetivo de en- contrar a verdade, Platão discute os limites entre o público e o privado, entre a busca pelo bem comum e a satisfação dos interesses pessoais dos membros de uma sociedade. A obra, dividida em dez capítulos (ou livros), aborda três temas principais: a justiça, a constituição da cidade e a governança da cidade. O filósofo inicia a discussão com a busca pela definição do que é justiça, conceito fundamental para entender o papel da administração do Estado. Nos dois primeiros livros de A República, Sócrates discute com diversos interlocutores, na tentativa de definir o conceito, pois acredita que, para se praticar a justiça, é preciso primeiro compreendê-la. Várias são as definições de justiça apresentadas a Sócrates. Para Céfalo, a justiça é dizer a verdade e restituir o que é do outro. Já Polemarco define justiça como o ato de dar benefícios aos amigos e prejuízos aos inimigos. Trasímaco diz que a justiça é o que é vantajoso para o mais forte e cita o governo como o mais forte. É interessante notar que essas visões de justiça ainda são atuais. Já Glauco usa o mito do Anel de Giges para discutir que as pessoas tanto sofrem com as injustiças quanto se beneficiam pela prática da injustiça e corrupção, mostrando que quem tem a oportunidade se cor- rompe e pratica injustiças em benefício próprio. A partir dessas discussões, Sócrates afirma que a justiça é preferível às injustiças e que é papel do governo criar uma ordenação para que a justiça seja possível. O filósofo define justiça como sendo o equilíbrio e a harmonia entre as partes da cidade. dialética: no platonismo, processo de diálogo, ou seja, debate entre interlocutores comprometidos com a busca da verdade, por meio do qual a alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias. Glossário No vídeo O que você faria com o Anel de Giges?, publicado pelo canal Humanamente, o professor Rafael Gargano fala sobre um dos trechos mais importantes da obra A República, de Platão, em que, na voz de Sócrates, Platão discute o que é a justiça. O vídeo foca o ponto da discussão, quando Glauco propõe a Sócrates refletir sobre o mito do Anel de Giges. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=p2bu- XYXFrYM. Acesso em: 17 fev. 2020. Vídeo A evolução da administração pública 13 Em A República, Sócrates idealiza uma cidade, à qual dá o nome de Kallipolis (cidade bela, em grego). A cidade deve ser constituída a partir de uma hierarquização de pessoas, governadas pelo rei-filósofo, fi- gura que reúne experiência de vida e sabedoria e que tem o dever de garantir a justiça nas relações entre os cidadãos. A segunda camada da hierarquia da cidade seria formada pelos magistrados, que fariam a gestão do cotidiano. Os magistrados se- riamescolhidos entres aqueles cidadãos com maior conhecimento e com uma intensa formação, que os prepararia para ocupar os devidos cargos. A esse tipo de governo, Sócrates atribui o nome de sofocracia (do grego sophrós – sábio – e kratia – poder). O papel da gestão da coisa pública foi objeto de discussões de filó- sofos durante todo o desenvolvimento da sociedade humana. Assim como Platão, Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) também desenvolveu tex- tos e estudos sobre o tema, em especial em seu livro Política. O tema da política e a gestão do Estado voltaram a ser foco de estu- dos durante a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. Entre aqueles que abordaram o papel do Estado, podemos destacar alguns autores que são fundamentais para entendermos como a gestão públi- ca atual se organiza. Alguns livros atravessam séculos, pela qualidade de seu texto e pela sua importância histórica, mas, muitas vezes, as ideias ali registradas ficam ultrapassadas, datadas. Pode- mos dizer isso até mesmo de clássicos como O Capital, de Karl Marx, ou Riqueza das Nações, de Adam Smith. Mas O Príncipe, de Maquiavel, continua atual, tanto na fi- losofia e na política quanto na gestão empresarial. Cada um de seus capítulos é uma aula de como liderar e gerenciar, seja uma equipe, uma empresa, um país ou um principado. Do ponto de vista filosófico, Maquiavel (2010) derru- ba a ideia de que nossas ações devem sempre levar em consideração a moralidade vigente. Para ele, a ação po- lítica e as atitudes do líder não devem ser subordinadas às questões éticas. Em sua filosofia, detém-se apenas ao exame dos fatos concretos, que podem ser facilmente observados no jogo político. De certa forma, ele usa o Figura 2 Platão, filósofo e matemá- tico do período clássico da Grécia Antiga. A evolução da administração pública 13 método científico da observação da cena política para criar sua teoria de como deve ser o Estado. Para ele, a estabilidade política não pode ser obstruída por qualquer questão de ordem ética. Maximiano (2015) afirma que Maquiavel analisa o poder e o com- portamento dos líderes de uma forma que pode ser relacionada tanto a líderes políticos quanto a líderes empresariais. O artigo Um Príncipe entre Gerentes, de autoria de Fabiano Caxito e Roni Chittoni, mostra como as ideias de Maquiavel continuam atuais e presentes no cotidiano político e econômico. Acesso em: 17 fev. 2020. https://www.linkedin.com/pulse/um-pr%C3%ADncipe-entre-os-gerentes-fabiano-caxito Artigo Outros filósofos, tais como Francis Bacon (1561-1626) e René Descartes (1596-1650) também abordaram a política e a gestão pública em seus estudos. Entre esses diversos filósofos, Thomas Hobbes (1588- 1679) foi o que mais se debruçou sobre o tema, como veremos na próxima seção, que trata da gestão pública na Idade Moderna. 1.3 A gestão pública na Idade Moderna Vídeo A Idade Moderna foi marcada por grandes mudanças na orga- nização econômica e política mundial. As discussões sobre o papel do Estado, a concentração de poder nas monarquias e a crescente importância da nascente burguesia criaram as condições para que diversos filósofos passassem a estudar profundamente a estrutura do Estado e o papel do governo. 1.3.1 Política e gestão pública em Thomas Hobbes O conceito de política de Thomas Hobbes parte da ideia inicial de que o ser humano é antissocial. O filósofo afirma que todos os seres humanos são dotados de iguais potencialidades; assim, é direito de cada pessoa tudo aquilo que ela conseguir obter utilizando essas com- petências, como bens, riquezas, poder ou reconhecimento. Entretanto, quando mais de uma pessoa se interessa pela mes- ma coisa, ou quer obter algo que pertence a outro e que é im- possível de ser possuído por ambos simultaneamente, surge a Figura 3 Retrato de Thomas Hobbes, por John Michael Wright 14 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública FONTE: WRIGHT, J. M. Thomas Hobbes. c. 1669-1670. Óleo sobre tela, color., 66 x 54,6 cm. National Portrait Gallery, Londres. A evolução da administração pública 15 discórdia. Hobbes (2014) lista três causas da discórdia entre os mem- bros de uma sociedade: a competição, a desconfiança e a glória. Exata- mente por essa natureza humana é que surgiu a necessidade de uma forma de organização que impõe normas e regras e organiza a vida em sociedade. Essa organização é o Estado. Em suas duas obras principais, Do cidadão, de 1642, e, em especial, O Leviatã, de 1651, Hobbes se debruça sobre o conceito de contrato social. Para o filósofo, o contrato social é um consenso implícito entre todos os membros de uma sociedade, que garantiu a transição da humanidade daquilo que ele chama de estado de natureza – ou seja, o homem em seu estado natural – para o estado social, uma condição na qual os seres hu- manos aceitam regras e limites para viver em sociedade (HOBBES, 2014). Hobbes acreditava que o homem, no estado de natureza, era livre para exercer sua verdadeira vontade. Mas, para o filósofo, o ser hu- mano é essencialmente egoísta e mal, assim, sem o contrato social, a humanidade seria destruída em guerras e lutas. De certa forma, sua vi- são refletia os acontecimentos políticos e sociais da Inglaterra na época em que vivia, na qual os absolutistas que apoiavam o rei estavam em guerra contra os parlamentares, que defendiam uma nova forma de governo democrático. O mundo assistia ao início do modelo capitalista e ao impacto do crescimento da importância da classe burguesa na estrutura da sociedade. Defensor do absolutismo e do poder soberano do rei, Hobbes acreditava que a centralização do poder é a única forma de garantir a convivência em sociedade. Assim, o contrato social que garante a vida em sociedade deveria basear-se na decisão dos membros do grupo em renunciar a seus direitos e transferir essa responsabilida- de para o soberano. O contrato social, ou seja, a aceitação de normas e regras que pos- sibilitam a convivência em grupos sociais, justificaria o surgimento de um governo que teria o objetivo de acabar com as guerras e controlar os conflitos humanos, sendo o poder do governante atribuído pelos cidadãos. Hobbes dá o nome de Leviatã a essa autoridade política. Em sua obra Do Cidadão, Hobbes (2014) se opõe às ideias políticas de Aristóteles, que acreditava no ser humano como um animal social, que buscava a cooperação constante com outros humanos para garantir sua sobrevivência. Essa ideia era frontalmente oposta à de Hobbes, para quem o homem só conseguiria sobreviver em sociedade com o controle e a direção de um poder central. Hobbes defendia que esse poder deve- ria ser absoluto e ilimitado. Assim, enquanto Aristóteles defende a ideia da democracia e do poder centralizado nos mais sábios, Hobbes defen- de o absolutismo e a centralização do poder na figura do rei. 1.3.2 John Locke e o contrato social Os filósofos conhecidos como contratualistas defendiam que, para o ser humano poder viver em sociedade, uma espécie de contrato social deveria ser acordado entre os cidadãos e o Estado. Para esses filósofos, no início, o ser humano vivia em estado natural, isto é, em uma condição em que não havia nenhuma organização política. A necessidade de se proteger dos perigos da natureza fez com que os seres humanos se unissem em grupos. Para garantir a segurança de todos, surgiu um ente maior e imparcial: o Estado. Para conviver em sociedade, o ser humano aceita abrir mão de alguns aspectos de sua liberdade e se submete às normas que regem a relação entre cada cidadão e o Estado, que tem o papel de defender seus partici- pantes, garantindo o bem comum, além de criar e garantir as condições para que cada cidadão se desenvolva. Entre os filósofos contratualistas, o de maior destaque é John Locke. Para ele, se o homem fosse deixado no estado natural, haveria uma guerra permanente entre as pessoas, o que im- pediria o desenvolvimento da sociedade.Assim, os seres hu- manos passaram a constituir grupos, vilas, aldeias e cidades, nos quais havia uma sociedade política organizada e central, que governava os rumos do grupo. Apesar de as ideias de Hobbes e Locke serem semelhan- tes, os autores chegam a conclusões diferentes sobre como o cidadão deve participar e influenciar a vida política e a admi- nistração da sociedade. Para Hobbes, o poder do governante é absoluto, os cida- dãos devem confiar no governante e não têm o direito de questionar suas decisões. Já para Locke (2018), Lançado em 2016, Zootopia – Essa cidade é o bicho mostra certa com- paração entre o antes e o depois do contrato social e os seus efeitos para as sociedades, de acordo com o pensamento de Hobbes e sua obra O Leviatã. Direção: Byron Howard; Rich Moore. EUA: Walt Disney, 2016. Filme FONTE: KNELLER, G. Portrait of John Locke. 1697. Óleo sobre tela, color., 76 x 64 cm. Museu Hermitage, São Petersburgo. Figura 4 Retrato de John Locke, por Godfrey Kneller 16 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública os cidadãos consentem que os governantes centralizem o poder com o objetivo de administrar as relações da sociedade e, uma vez dota- dos desse poder, devem garantir os direitos individuais, entre eles, o direito à justiça e à propriedade privada. Para ele, esses eram di- reitos naturais dos cidadãos e cada pessoa os recebeu de Deus e já os possui mesmo na condição do estado natural. Assim, na visão de Locke, a relação entre o governo e os cidadãos é de confiança e consentimento. Além disso, se o governante não garantir os direitos dos cidadãos, deve ser questionado e confrontado. As ideias de Locke são revolucionárias, em especial em um momen- to em que o poder dos governantes era absoluto e baseado na ideia de que o poder dos reis era divino. Para Locke (2018), o direito natural de cada cidadão estava acima do poder do rei que, portanto, não deveria ser absoluto. Defendia, também, a divisão entre o Poder Executivo e Legislativo, base dos modelos políticos democráticos atuais. 1.3.3 Rousseau e o contrato social Junto a Hobbes e Locke, Jean-Jacques Rousseau é um dos principais filósofos para se entender as bases da gestão pública e do papel do Estado em nossa vida, pois, em sua obra Do Contrato Social, de 1762, também discute os motivos que levam o ser humano a renunciar a sua liberdade para viver em sociedade. Para ele, a relação entre o governante e o povo é uma relação senhor-escravo, já que a vontade do soberano será sempre mais importante do que a vontade dos demais cidadãos (ROUSSEAU, 2013). Assim, em sua visão, o contrato social é fundamental para que os direitos e os bens de cada pessoa sejam preserva- dos. Segundo Rousseau (2013), cada um de nós coloca sua pessoa e sua potência sob a direção suprema da vontade geral. Portanto, o contrato social, na visão do filósofo, não significa que cada cidadão renuncia a seus direitos naturais. Na verdade, ocorre o inverso: o contrato social é uma forma de garantir que os direitos de cada um sejam respeitados, e o papel do Estado é garantir esses direitos individuais. Rousseau faz uma diferença entre a vontade geral, a vontade par- ticular e a vontade de todos. Figura 5 Jean-Jacques Rousseau, retrato por Maurice Quentin de La Tour FONTE: LA TOUR, M. Q. de. Portrait of Jean-Jacques Rousseau. 17--. Pastel sobre papel, color., 45 x 35,5 cm. Musée Antoine Lecuyer, Saint-Quentin. A evolução da administração pública 17 O filósofo explica que a vontade geral é representada pelo Estado, a unidade que representa os cidadãos e tem o papel de preservar os di- reitos destes. Assim, para Rousseau, ela só pode existir na república. A vontade particular é o interesse de cada um dos cidadãos, que buscam seu benefício próprio, o que muitas vezes pode se chocar com a estabi- lidade e os interesses da sociedade como um todo. Da mesma forma, a vontade de todos, que o filósofo explica ser a soma das vontades indi- viduais, nem sempre representa aquilo que é melhor para a sociedade. É papel do governo garantir que a vontade geral seja respeitada, pois é ela que garante a preservação dos direitos naturais de cada cidadão. Do ponto de vista do filósofo, o conceito de república abarca todo e qualquer tipo de governo no qual o Estado é regido por leis que devem ser seguidas pelo governante. Assim, mesmo uma monarquia pode ser uma república se o poder do monarca estiver controlado pela legis- lação. Mas Rousseau (2013) defende que, apesar de as leis serem a representação da vontade geral da população, o povo não está prepa- rado para criá-las. Esse papel caberia aos legisladores, que devem criar as leis de acordo com a vontade do povo. Para que as leis sejam cumpridas e o equilíbrio social se mantenha, punições severas devem existir para todos aqueles que, ao descumprir a lei, ameacem a estabilidade política do Estado. 1.3.4 Adam Smith e a mão invisível do mercado Durante os séculos XVIII e XIX, diversos filósofos se debruçaram sobre a função do Estado, do poder do monarca e da vontade do povo. Esse momento marca uma intensa mudança na forma como a sociedade se organiza, com o crescimento cada vez maior da importância da burguesia e o surgimento da indus- trialização e do capitalismo como principal modelo econômico, o que acelerou o fim dos Estados. Um dos principais autores desse período, cujas ideias moldaram o modelo econômico do capita- lismo e repercutem até hoje, é Adam Smith, que criou a visão conhecida como escola clássica da economia em sua principal obra, A riqueza das Nações, publicada em 1776. FONTE: THE MUIR portrait. c. 1800. Óleo sobre tela, color., 77,9 x 64,5 cm. Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo. Figura 6 Adam Smith, retrato de autoria desconhecida 18 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública A evolução da administração pública 19 Para Smith (2009), cada pessoa em uma sociedade trabalha para buscar seu próprio sustento e a obtenção de suas vontades, mas a soma do que cada pessoa produz é maior do que aquilo que precisa para viver. Assim, o trabalho individual acaba por promover o interesse público geral. Com base nessa ideia, Smith criou o conceito da mão invisível do mercado, que comanda as relações entre cada um dos mem- bros da sociedade. Mesmo que cada um esteja buscando apenas seu próprio interesse, acaba por contribuir para o interesse da sociedade. Outro conceito fundamental de Smith é o de que a riqueza das nações surge a partir da divisão do trabalho e da especialização de cada pessoa em uma determinada tarefa, fundamental para o funcionamento da sociedade como um todo. Essa ideia é a base dos trabalhos de autores fundamentais para o surgimento da administração como uma ciência. Já os estudos de tempos e movimentos – desenvolvidos por Frederick Winslow Taylor, Frank e Lilian Gilbreth, que analisam os ganhos de produtividade com a divisão do trabalho e a racionalização das atividades – são fundamentais para o surgimento da Escola da Administração Científica. O economista britânico David Ricardo (2018) também estudou a relação entre riqueza e poder, tendo como foco a distribuição da ri- queza a longo prazo. Para ele, como o crescimento da população se acelera cada vez mais, haveria uma escassez de terras produtivas. Esse fenômeno diminuiria a renda dos proprietários e do Estado, que deveria, então, buscar novas formas de crescimento. Ricardo defende que o trabalho deveria ser visto como uma mercadoria e, como tal, teria um valor de mercado de acordo com sua qualidade. O crescimento acelerado das indústrias e, consequentemente, da quantidade de pessoas que migraram do campo para as cidades em busca de um trabalho fez com que alguns filósofos passassem a estudar essas novas relações de poder e organização da sociedade. Karl Marx e Friedrich Engels (2008) lançam O Manifesto do Partido Comunista (1848), no qual defendem que a história foi marcadapela luta de classes, sendo essa a real origem econômica dos Estados, sejam eles absolutistas ou republicanos. Os autores afirmam que a dominação econômica do homem pelo homem é a real fonte de poder político, sendo que a classe dominadora explora o trabalho da classe dominada, gerando riqueza apenas para si, e não para a sociedade como um todo. Autor de A riqueza das Nações, Adam Smith é um dos mais influentes filósofos liberais. No vídeo A vida de Adam Smith, publicado pelo canal Academia Liberalismo Econômico, Tyler Cowen nos apresenta uma breve biografia do pensador. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=6AGHki- 6JP0k. Acesso em: 17 fev. 2020. Vídeo 20 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública 1.4 Administração pública no Brasil Colônia Vídeo A vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, acontece durante o intenso período de mudanças políticas e econômicas que marcaram os séculos XVII e XVIII na Europa, com a diminuição do poder da monarquia e, a partir da Revolução Francesa, pelo fim das monar- quias absolutistas. Com a ascensão de Napoleão Bonaparte ao trono, a França pas- sou a dominar grande parte de Europa, com exceção da Inglaterra e de Portugal. Como forma de retaliação ao poderio inglês, Napoleão de- cretou, em 1806, um bloqueio continental, proibindo que os países do continente realizassem transações comerciais com os ingleses. Aliado comercial histórico dos ingleses, Portugal não aceitou o bloqueio determinado pelo general francês, o que levou Napoleão a ordenar a invasão de Portugal em 1807. Para isso, negociou com a Espanha o Tratado de Fontainebleau, por meio do qual a França atravessaria o território espanhol para invadir Portugal. De acordo com o tratado, após a invasão, a Espanha se apoderaria de uma parte do território português. Ainda no ano de 1807, a família real portuguesa foge da Europa em direção ao Brasil, que passa a ser a sede da Monarquia Portuguesa (MEIRELLES, 2015). No período anterior à chegada da família real ao Brasil, já havia uma estrutura de administração pública, responsável pela gestão da Colônia. Prado Jr. (2011) explica que a organização dessa es- trutura de administração não seguia os padrões que conhecemos hoje, com esferas separadas em municípios, estados e federação. Na Colônia, a administração pública era formada por uma só es- trutura que abarcava toda a gestão de relação do indivíduo com o governo, com várias instâncias e jurisdições. Para o autor, essa falta de organização clara da gestão pública fazia com que houvesse um caos legislativo, com funções que não existiam em alguns lugares e competências e responsabilidades que eram atribuídas a mais de um servidor, sem a clareza sobre quem era responsável pela atividade. Mesmo a hierarquia do fun- cionalismo público não era clara. Prado Jr. (2011) destaca que a administração era marcada pelo excesso de centralização e pela A evolução da administração pública 21 falta de diferenciação de funções entre os agentes públicos. Des- taca também a quantidade de normas e leis, o que levava a uma grande demora nos processos e excesso de burocracia. Como as decisões eram centralizadas em Portugal, o poder das autoridades e dos magistrados da Colônia era esvaziado, somado à dificuldade de comunicação, que fazia com que uma decisão levasse meses para ser implementada. Além disso, a estrutura da administra- ção pública da Colônia não era distribuída e organizada de modo igua- litário em todo o país e havia também a falta de clareza sobre quem efetivamente exercia o poder em cada uma das regiões, o que fazia com que a gestão pública fosse ineficaz. Realizada pelas jornalistas Sandra Moreyra e Mônica Sanches, da Globo News, a série de 12 documentários 1808, a Corte no Brasil abrange o período joanino, desde a vinda da Corte ao Brasil até seu retorno a Portugal. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=OU- X-zSyaMIc&list=PLyP1ks9va- qhiO1lMqCt89xkLgF-x1BDil Acesso em: 17 fev. 2020. Documentário 1.5 Formação do Estado Nacional: o Brasil Império Vídeo A falta de organização e a pouca clareza sobre a hierarquia dos ór- gãos públicos estimulavam o favorecimento das pessoas ligadas aos agentes públicos, em troca de benefícios e recompensas financeiras e políticas, origem da corrupção e do clientelismo presentes até hoje em algumas esferas da gestão pública. Dessa forma, durante os séculos nos quais ainda eram apenas uma Colônia, as estruturas públicas fo- ram gradativamente sendo organizadas, com a criação de processos e normas que deram origem a um modelo burocrático, de certa forma, ainda presente nos dias atuais. Com a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, a estrutura da admi- nistração pública sofreu uma grande mudança (MEIRELLES, 2015). Nos navios, que trouxeram cerca de 15 mil pessoas da corte, estavam tam- bém os documentos, instrumentos e símbolos que permitiriam que a gestão, tanto da metrópole quanto da Colônia, fosse realizada a partir do Rio de Janeiro. Para instalar essa máquina administrativa, o primeiro passo era de- finir os locais físicos nos quais cada instituição seria alocada. Casas dos prepostos, nobres, fidalgos e comerciantes ricos foram transformadas em sedes das repartições públicas. Na maior parte dos casos, essas edificações passaram a ser tanto a sede da repartição quanto a resi- dência do agente público. 22 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública Meirelles (2015) lista algumas das instituições que foram importa- das da metrópole, entre elas: o Desembargo do Paço; o Conselho de Fazenda e a Junta de Comércio. Já outras repartições administrativas foram criadas para atender às necessidades de transformar a Colônia na sede do reino, tais como: Academia de Marinha; Artilharia e Forti- ficações; Arquivo Militar; Tipografia Régia; Fábrica de Pólvora; Jardim Botânico; Biblioteca Nacional; Academia de Belas Artes e Banco do Brasil. Muitas dessas instituições existem até hoje e foram fundamen- tais para a criação do Estado brasileiro. Também tiveram grande im- pacto na economia do país, na vida social e cultural e lançaram as bases do modelo político administrativo. Após a declaração da Independência do Brasil, a Constituição de 1824 determinou o Estado Nacional como um governo unitário e cen- tralizado, com o território do país dividido em províncias, cada uma delas dirigida por um presidente escolhido pelo imperador (COSTA, 2008). Além do presidente, cada província contava com um conselho geral constituído por membros eleitos e foi também constituída uma Câmara Nacional, com representantes de cada província. Segundo Costa (2008), a gestão do novo país foi dividida em qua- tro poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador. Os três primeiros ainda são presentes na organização política do país, en- quanto o poder moderador era exercido pelo imperador, apoiado por dois órgãos: um de caráter consultivo, o Conselho de Estado, e outro de caráter executivo, formado pelos ministros de Estado. O Poder Legislativo foi criado em um formato muito seme- lhante ao que ainda existe em nosso ordenamento político: uma Assembleia Geral, dividida em duas casas – a Câmara dos Deputados e o Senado do Império. Já o Poder Judiciário ainda apresentava uma estrutura simplificada, se comparada ao que hoje existe: nos municípios, havia os juízes de direito e os juízes de paz, que tinham o papel de realizar conciliações prévias a qualquer processo. Nas capitais das províncias e na capital do Império, o Supremo Tribunal de Justiça dava a palavra final so- bre as questões jurídicas. Esse modelo só sofreria uma mudança significativa após Pedro I abdicar o trono. Como seu filho Pedro II ainda era uma criança de cinco anos, o governo brasileiro entrou em um momento de crise. Figura 7 Capa da Constituição Federal de 1824 Arquivo Nacional do Brasil A evolução da administração pública 23 No ano de 1832, uma reforma da Constituição criou as AssembleiasLegislativas em cada uma das províncias, o que representou o início de um processo de descentralização da gestão pública. Outras mudanças importantes incorporadas nessa reforma foram a criação do Poder Legislativo provincial e, principalmente, a divisão de rendas entre o governo central e os governos provinciais. Em 1847, com a criação do cargo de presidente do conselho de minis- tros, o país passou a ser governado, em sentido prático, por um primeiro- -ministro. O imperador continuou sendo a figura máxima do governo, mas exercia apenas o poder moderador. Esse modelo trouxe maior esta- bilidade ao Império, que sobreviveu ainda por quase meio século. O fim do período imperial foi acelerado por algumas questões po- líticas e outras econômicas. Assim, em 15 de novembro de 1889, foi proclamado fim do governo imperial e a instauração da república como forma de governo do Brasil. 1.6 Brasil República e as mudanças na administração pública Vídeo Apesar da mudança na forma de governo, o cotidiano da gestão pública brasileira pouco mudou nesse período. A economia do país era baseada na agricultura, marcada pela monocultura e pelos grandes la- tifúndios, tendo a cana-de–açúcar como principal cultura, que foi sendo gradativamente suplantada pela cafeicultura como produto de expor- tação. Essa mudança fez com que o poder político migrasse das elites cariocas, ligadas ao governo imperial, para os cafeicultores paulistas, deslocando a capital financeira do país para a cidade de São Paulo. Do ponto de vista da organização política, a Constituição de 1891 instituiu a república como forma de governo, baseada no federalismo. Ficou mais clara, também, a divisão dos poderes: foi criado o regime presidencialista, sendo o presidente o representante do Poder Executivo. O Poder Legislativo pouco mudou: continuou contando com duas casas – a Câmara dos Deputados e o Senado –; a diferença é que os representantes passaram a ser eleitos e os mandatos passaram a ter uma duração preestabelecida. O Poder Judiciário teve sua autonomia aumentada, mas sofreu poucas alterações em sua estrutura. 24 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública A principal mudança no modelo de gestão pública, com a instauração da República, aconteceu nas províncias. Elas fo- ram transformadas em estados com governadores eleitos. No modelo federalista, os estados passaram a ter maior au- tonomia, tanto política quando econômica, pois passaram a manter grande parte da arrecadação de impostos. Apesar do grande avanço político que esse modelo representou, na prá- tica, os estados continuaram a ser comandados pelos grandes proprietários de terra, que usavam seu poder para garantir a eleição de seus protegidos, usando o artifício do voto de ca- bresto, ou seja, obrigavam seus empregados e agregados a votarem nos candidatos escolhidos por eles. Assim, passaram a controlar as eleições e concentrar o poder dos governos es- taduais e, consequentemente, do governo federal. No cotidiano da gestão pública, não ocorreram grandes mudanças. A burocracia, o clientelismo e as estruturas das re- partições públicas continuaram a ser presentes na relação da população com o Poder Público. Esse período de cerca de 40 anos, conhecido como República Velha, entrou em crise com as mudanças sociais e econômicas pelas quais o país passou: o surgimento da industrialização, que acelerou a urbanização, em especial, o crescimento das grandes cidades – com destaque para São Paulo. A nova elite industrial, formada por empreendedores sem ligação política com os latifundiários, trouxe conflitos de interesses que tinham impacto político tanto nos estados quanto no governo federal. O pacto político entre os diversos estados, que garantia uma al- ternância de poder, foi quebrado pela derrota de Getúlio Vargas na disputa eleitoral contra o paulista Júlio Prestes. Como o último presi- dente, Washington Luís, também era um representante do estado de São Paulo, rompeu-se o pacto – conhecido como política do café com leite –, o que criou as condições políticas para a Revolução de 1930. A evolução da administração pública no Brasil passou por grandes mudanças e saltos no século XX. Esse momento da história da admi- nistração pode ser dividido em alguns períodos, marcados por mudan- ças nos conceitos que norteiam o papel da máquina administrativa. Figura 8 Capa da Constituição Federal de 1891 Arquivo Nacional do Brasil A evolução da administração pública 25 1.6.1 Estado Administrativo (1930-1945) A partir da Revolução de 1930, a administração pública passa por um novo período de centralização do poder no governo federal, em contra- partida à maior autonomia dos estados, observada na República Velha. O foco central das mudanças foi buscar desenvolver padrões técnicos para nortear o trabalho dos órgãos da administração federal. Apesar de a administração pública passar a ser objeto de estudo por parte dos meios acadêmicos, não se pode dizer que havia uma teoria administrati- va que embasasse as mudanças implementadas (COSTA, 2008). A centralização administrativa no governo federal fez com que muitas estruturas duplicadas e pouco eficientes fossem organizadas de modo mais racional. Um marco importante para a gestão pública foi a criação, em 1937, do Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), que tinha como objetivo buscar uma maior racionalização da gestão pú- blica, criando processos, normatizando as estruturas e implementando novos controles administrativos e orçamentários. Em cada estado, foram criadas filiais do departamento, que es- tavam subordinadas ao Dasp federal. Essas unidades estaduais tinham o papel de acompanhar as contas públicas e as ações admi- nistrativas dos prefeitos e do governador. Apesar de as medidas implantadas terem mudado o panorama da gestão pública do país, a burocracia e o clientelismo continuaram mar- cantes. Como ponto positivo, esse período trouxe uma maior profis- sionalização dos quadros do funcionalismo público, o que permitiu um aumento da eficiência e da produtividade. É possível observar, nesse momento da administração pública, a utilização dos conceitos de gestão desenvolvidos por Taylor, com a busca pela racionalização e divisão das tarefas, bem como pela espe- cialização. Foram também implantados os conceitos de planejamen- to, organização, direção e controle, conhecidos como o ciclo PDCA (plan, do, check, act) da gestão, além das atividades ligadas ao con- trole orçamentário e à criação de relatórios de acompanhamento. 1.6.2 Estado para o desenvolvimento (1946-1964) O segundo momento das mudanças da administração pública no século XX tem início com o fim do primeiro governo Vargas, em 1945. O projeto de modernização da administração pública, que marcou a A Revolução de 1930 foi um movimento armado, liderado pelos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba, que resultou em um golpe de Estado, levando Getúlio Vargas ao poder e dando início à chamada Era Vargas. Saiba mais 26 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública Era Vargas, foi abandonado. Entre os anos de 1945 e 1951, a adminis- tração pública passou por um momento de estagnação, em que as reformas foram abandonadas e o funcionalismo público apenas deu continuidade aos processos. Segundo Costa (2008), a partir de 1951, com o retorno de Vargas à presidência – dessa vez pelo voto direto –, ocorreu um movimento de retorno a alguns dos conceitos que haviam sido implantados no decor- rer da década de 1930. Muitas repartições públicas e departamentos foram reagrupados e o papel de cada ministério passou a ser mais in- dependente das decisões políticas tomadas pela presidência. A descen- tralização dos processos de gestão foi acelerada, com o objetivo de dar mais rapidez e eficiência à máquina pública. Com a eleição de Juscelino Kubitschek (JK), a administração pública entrou novamente em um período de transformações. Com seu perfil desenvolvimentista, JK definiuobjetivos de crescimento para o país em setores chave da economia, como energia, transporte, indústria pesa- da e alimentação, com destaque para o incentivo à indústria automo- bilística. O lema do seu governo – “50 anos em cinco” – demonstrava a ênfase no desenvolvimento econômico. Kubitschek buscou organizar a gestão pública de modo a incenti- var o planejamento e a execução de grandes obras. Com esse objetivo, conforme aponta Costa (2008), criou algumas instituições de adminis- tração direta, sendo considerada a Comissão de Estudos e Projetos Administrativos (Cepa) a mais importante. A comissão foi responsável por desenvolver o projeto de um pla- nejamento do desenvolvimento nacional, organizando as informações sobre o orçamento da federação e dos estados, e coordenar os esfor- ços dos diversos ministérios para que o projeto de desenvolvimento nacional fosse colocado em prática. Outra importante instituição criada por JK foi a Comissão de Simplificação Burocrática (Cosb), que tinha a função de modernizar os processos de gestão pública no país. Durante todo o período, a máquina pública cresceu de maneira acen- tuada, tanto com o objetivo de melhorar o atendimento da população, por meio dos serviços públicos, quanto como reflexo da criação de diversas instituições, repartições e empresas públicas para atender às demandas da administração pública. Essas novas instituições de administração des- centralizadas tinham maior autonomia, gerencial e política, se compara- No vídeo A história do surgimento de Brasília, publicado pelo canal Governo do Brasil, você pode ver a história de Brasília, com imagens do Arquivo Público do Distrito Federal. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=qRj- qdX9HlYs. Acesso em: 17 fev. 2020. Vídeo A evolução da administração pública 27 das aos órgãos de administração direta, que sofriam com normas rígidas e controles legais, além de sofrerem com a burocracia e o clientelismo, marcas seculares da gestão pública brasileira. 1.6.3 Regime militar e administração pública no Brasil Do ponto de vista político, o regime militar significou uma grande mudança para o Brasil. Não se pretende aqui discutir as questões polí- ticas desse momento, mas os impactos desse período político sobre a administração pública. Do ponto de vista da gestão administrativa, a primeira fase do go- verno militar representou uma continuidade das mudanças iniciadas por JK. O Decreto-Lei n. 200 (BRASIL, 1967) teve como princípios básicos alguns conceitos já existentes nos planos de Kubitschek. O decreto se constituía como uma lei orgânica com o objetivo de ordenar a adminis- tração pública, que deveria se guiar pelos seguintes princípios: Princípios da administração pública Planejamento Coordenação Descentralização Delegação de competência Controle 1 2 3 4 5 O referido decreto também dividia a administração pública em duas: a administração direta, formada pelos ministérios e órgãos li- gados e subordinados à presidência da República, passou por um pro- cesso de reagrupamento, no qual os departamentos administrativos, repartições e divisões foram organizados em 16 ministérios, divididos 28 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública entre ministérios políticos, econômicos, sociais, militares e de plane- jamento; e a administração indireta e descentralizada, que cresceu nos anos do governo militar com a criação de empresas públicas e em- presas de economia mista e o fortalecimento das fundações públicas e autarquias. Na gestão pública, o foco do decreto-lei estava no sistema de mérito e em um novo plano de classificação de cargos, com o redesenho das estruturas auxiliares, tais como as áreas de pessoal, órgãos de controle do orçamento, institutos de estatística, órgãos de administração finan- ceira, contabilidade e auditoria. Muitas das reformas básicas da administração pública foram implan- tadas durante esse período, como uma reforma tributária, organização do sistema bancário e do sistema de ensino superior e, sobretudo, uma pro- funda reforma da administração pública. Um dos reflexos da reforma tri- butária foi a simplificação dos impostos. Porém, ela também concentrou os recursos advindos dos impostos na administração federal, diminuindo brutalmente a independência financeira de estados e municípios, que pas- saram a depender dos repasses do governo central. A reforma administrativa implantada pelo governo militar conso- lidou o modelo de administração desenvolvimentista iniciado por JK, mas também possibilitou o aumento da intervenção do Estado na eco- nomia e na sociedade brasileira, característica das ditaduras. Tanto a administração direta quanto a indireta cresceram de modo consistente durante o período militar, mas com resultados diversos nas duas esfe- ras administrativas. Enquanto na administração indireta as empresas estatais buscavam o desenvolvimento de novos modelos de gestão, mais alinhados às modernas práticas do setor privado, na administra- ção direta, o Estado ficou ainda mais pesado, burocrático, regido por rígidas regras e ainda marcado pela ineficiência e pelo clientelismo. A partir da segunda metade da década de 1970, a ditadura militar entrou em um momento de crise política, que teve um impacto negati- vo na administração pública. No final dessa década e início da década seguinte, foram lançados dois programas com o objetivo de moderni- zar a gestão pública: o programa de desburocratização e o programa de desestatização. Ambos foram criados para aumentar a eficiência e a eficácia na administração pública. A evolução da administração pública 29 O programa de desburocratização buscava diminuir processos des- necessários e melhorar o serviço prestado ao cidadão, tendo um cará- ter social e político. Entre as ações propostas pelo programa, estavam o enxugamento da máquina pública, a eliminação de órgãos desneces- sários e o alinhamento com as demais instituições da administração direta e indireta (COSTA, 2008). Já o Programa Nacional de Desestatização visava diminuir a par- ticipação do Estado na economia e o fortalecimento da iniciativa privada. O princípio básico a nortear a atuação do Estado é que seu papel é suplementar, encorajando e apoiando o setor privado, e a empresa privada tem o papel de organizar e explorar as ativida- des econômicas. De acordo com o programa, o governo brasileiro deveria privatizar as empresas estatais sempre que o controle pú- blico não fosse necessário ou que não houvesse uma justificativa para a participação pública na empresa. Dentro do escopo do programa de desestatização, a privatização não deveria enfraquecer as empresas mantidas sob controle público, sejam as empresas ligadas à segurança nacional ou aquelas mantidas para criar condições econômicas e tecnológicas fundamentais para o desenvolvimento do setor privado. De certa forma, o programa de de- sestatização foi uma forma de o governo reconhecer o excesso de in- tervenção da administração pública na economia, buscando orientar a economia brasileira para cumprir a Constituição do país, que definia o Brasil como uma economia de mercado. 1.7 Governos democráticos pós-ditadura e administração pública no Brasil Vídeo O governo militar teve fim em 1985, com a eleição de José Sarney. O novo governo recebeu uma máquina administrativa centralizada e burocrática. Durante as duas décadas de governo, grande parte dos funcionários públicos ingressaram sem concurso público ou processos seletivos, sendo escolhidos de maneira fisiológica e clientelista. O qua- dro de funcionários públicos era inchado, as práticas administrativas defasadas e os processos rígidos e burocráticos. A seguir, veremos um pouco mais sobre cada um dos governos democráticos brasileiros. 30 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública 1.7.1 Governo Sarney O novo governo enfrentou o desafio de reanimar a economia, impactada por uma grave crise e altas taxas de desemprego e de inflação. A estruturaadministrativa mal dimensionada agravava ain- da mais esse quadro. Marcelino (2003) aponta que o governo preci- sou reverter rapidamente essa situação, buscando diminuir e tornar mais ágil o aparelho administrativo. Uma das primeiras ações do novo governo foi a criação da Secretaria de Administração Pública da Presidência da República (Sedap), que, além de gerenciar as atividades da administração pública, também tinha como objetivo modernizá-la e dar continuidade ao processo de desburocratização. O Sedap substituiu o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp) que já existia desde 1937. O governo focou também no desenvolvimento dos quadros de servidores públicos, com a criação da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e o Centro de Desenvolvimento da Administração Pública (Cedam). O governo Sarney instituiu uma comissão de estudos, com o obje- tivo de redefinir o papel do Estado e racionalizar os processos admi- nistrativos e de gestão. A comissão funcionou a partir de 1985, sendo que, em 1986, teve seus trabalhos suspensos durante a implantação do Plano Cruzado, que objetivava a estabilidade da moeda e a diminuição das taxas de inflação. Ainda em 1986, o governo lançou um grande pro- grama de reformas administrativas, que buscava não só melhorar os serviços públicos como também diminuir os gastos públicos. Porém, na prática, a maior parte das medidas propostas não foram implantadas de modo a trazer uma mudança significativa na máquina pública. Foi a partir da Constituição de 1988 que as mudanças da adminis- tração pública se tornaram mais profundas. A Constituição diminuía a autonomia do poder Executivo na gestão pública, transferindo algumas dessas atribuições para o Congresso. Também, determinava a descen- tralização de recursos orçamentários, possibilitando uma maior auto- nomia aos estados e municípios. Por outro lado, a Carta de 1988 acabou por trazer alguns retrocessos na gestão pública, em especial na administração indireta. As empresas estatais e de economia mista, apesar de também registrarem casos de ineficiência, de corrupção e de burocracia, representavam um grande A evolução da administração pública 31 avanço para a gestão pública, pois contavam com estruturas menos inchadas e processos mais modernos. A Constituição equiparou os me- canismos de controle e os processos das empresas e instituições da administração indireta àqueles utilizados na administração direta, com a implantação do regime jurídico único (RJU). Na prática, isso significou que milhares de empregados das empresas estatais, cujos contratos de trabalho eram regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), passassem a ser considerados funcionários públicos estatutários, com direitos de estabilidade e benefícios equiparados aos funcionários da administração direta. O impacto dessa mudança é sentido até os dias atuais na previdência dos servidores públicos, pois esses funcionários passaram a ter direito a aposentadorias integrais, sem ter contribuído para isso durante grande parte de sua vida profissional. A implantação do RJU também criou as condições para que os gas- tos com salários e benefícios da folha de pagamentos do funcionalismo público crescesse de maneira descontrolada nas últimas décadas, o que impacta o equilíbrio das contas públicas, tanto do governo federal quanto dos estados e municípios. 1.7.2 Governo Collor A eleição do primeiro presidente civil pelo voto direto, após quase 30 anos desde a implantação do governo militar, foi marcada pela dis- cussão sobre a máquina pública e os exageros dos gastos com o funcio- nalismo público. O slogan do candidato eleito Fernando Collor durante a campanha eleitoral fazia referência direta a essa realidade. O candi- dato ficou conhecido como “o caçador de marajás”, termo usado para identificar os funcionários públicos que recebiam salários gigantescos, aproveitando as brechas da lei e os diversos dispositivos e benefícios que regiam a remuneração dos agentes públicos. Apesar da grande expectativa gerada durante a campanha, o país foi tomado de surpresa no dia da posse do novo presidente. No primeiro dia de governo, Collor mudou o nome da moeda, con- gelou a poupança e as contas bancárias de milhões de pessoas e empresas e editou dezenas de medidas provisórias e decretos. Muitas das medidas implantadas pelo presidente são discutidas na justiça até o presente momento. 32 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública Além das mudanças econômicas, Collor também extinguiu diversos órgãos da gestão pública e demitiu milhares de funcionários da máquina pública. A grande mudança que o governo tentou implementar foi uma nova visão do papel do Estado na economia. Em seu breve governo, Collor interveio de maneira muito mais intensa na economia do que seus prede- cessores. Porém, não conseguiu redefinir o papel do Estado e o tamanho ideal do governo, temas que foram fundamentais para a sua eleição. O governo Collor foi abreviado pelo processo de impeachment, que derrubou o presidente cerca de dois anos depois de sua posse. Para a máquina pública, os reflexos foram gigantescos. Diversas áreas do serviço público foram desestruturadas, em especial, os aparelhos de promoção da cultura e os programas sociais. Torres (2004) aponta que os servidores públicos foram atacados durante a campanha política: passaram a ser vistos como responsáveis por grande parte dos proble- mas econômicos do país. Após o impeachment, Collor foi substituído por seu vice, Itamar Franco, cujo governo foi marcado por poucas mudanças administra- tivas. Franco reestruturou alguns ministérios e deu continuidade a alguns programas de gestão. 1.7.3 Governo Fernando Henrique Cardoso A reforma administrativa mais profunda de toda a história da administração pública foi implantada no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). O novo governo instituiu o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (Mare), responsável pela reforma gerencial implantada em 1995. Segundo Bresser-Pereira (2008), a reforma gerencial foi tanto estrutural quanto de gestão. Dentro do escopo geral da reforma estavam embutidas mudanças como desobstrução do Legislativo, reforma tributária, descentralização da administração pública, além de buscar objetivos sociais como a reforma agrária, a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a reforma da educação. O objetivo maior do Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado (PDRAE) implantado pelo governo era implantar as bases de uma “administração gerencial” e tinha como proposta um ajustamento fiscal, reformas econômicas e da previdência social. O plano também criou novos instrumentos de política social, aumentando e melhorando o alcance dos serviços sociais. Por último, também buscava melhorar a eficiência das políticas públicas. Segundo o plano, o governo brasi- A evolução da administração pública 33 leiro tinha legitimidade democrática e apoio da sociedade, mas tinha problemas para implantar as políticas públicas que planejava por se encontrar preso a uma máquina pública rígida e ineficiente. Assim, a reforma proposta redefiniu o papel do Estado, que passou a ser o promotor e o regulador do desenvolvimento econômico, e não mais o responsável único e direto pelo crescimento do país. Um Estado menos executor e prestador de serviços não devia ser o dono de em- presas e não devia interferir diretamente na economia; assim, os pla- nos de desestatização e desburocratização ganharam ainda mais força. Já no papel de regulador e coordenador, o plano defendia a descentra- lização vertical, redistribuindo o poder do governo federal para as esferas estadual e municipal, além da criação de agências e órgãos reguladores para gerenciar as concessões e a atuação das empresas privatizadas. O plano buscava colocar em prática uma mudança radical da ges- tão pública, substituindo a burocracia rígida e ineficiente, com foco na manutenção da própria máquina, por uma administraçãopública ge- rencial, flexível e eficiente, com foco no atendimento da população e na promoção da cidadania. Essa mudança ocorreria em três planos: na reforma da Constituição e das leis; na nova visão da administração pública; e na gestão cotidiana na qual se concretiza a reforma. 1.7.4 Governo petista: as eras Lula e Dilma A eleição de Luís Inácio Lula da Silva em 2002 marcou uma gran- de mudança na visão do papel do Estado na economia e na ges- tão administrativa da máquina pública. Durante todo o governo de Fernando Henrique Cardoso, o Partido dos Trabalhadores (PT) se posicionou de forma contrária aos programas de privatização das empresas públicas e contra a menor interferência do Estado na economia. Assim, nos primeiros anos do governo Lula, é possível identificar uma série de decisões e ações que buscavam reverter as políticas adotadas durante o governo FHC. Na gestão de pessoas no funcionalismo público, o governo Lula re- verteu a política de diminuição do quadro de funcionários. Iniciou-se um processo de recomposição do quadro do funcionalismo, com a criação de cargos e vagas, bem como uma recomposição salarial com a promes- sa de gratificação pelo desempenho. Somente no primeiro mandato de Lula, cerca de 100 mil novos servidores públicos foram contratados. 34 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública Apesar do número elevado, Cardoso Jr. e Nogueira (2011) acreditam que essas contratações apenas recompuseram o quadro de servidores registrado na metade da década de 1990. Além de oferecer aumentos salariais e gratificações, o governo Lula também diminuiu a diferença entre os níveis salariais do funcionalismo. Durante o processo de planejamento das reformas administrativas e do Plano Plurianual 2003-2007, o novo governo procurou ouvir a po- pulação, realizando reuniões em todos os estados da federação. De certa forma, colocou em prática as promessas de campanha de criar um modelo democrático e participativo de gestão. A postura era opos- ta à adotada pelo governo Collor, que culpava o funcionalismo público pelos problemas do país. Segundo Gomes et al. (2008), o governo não se posicionou contra seus funcionários públicos, mas sim ao lado deles. Mas nem todas as reformas adotadas pelo governo anterior foram abandonadas. O governo Lula também deu continuidade a algumas das reformas implantadas pelo governo FHC, tal como a previdência dos servidores públicos. Lula também buscou racionalizar a complexa legislação relativa ao funcionalismo e ao serviço público do país. Mais de 1.500 leis relativas à gestão das carreiras, contratos e modelos de remuneração foram con- centradas em oito leis, reduzindo a burocracia e deixando mais claro o papel do funcionalismo público. A década de 2000 foi marcada também pela acelerada informatiza- ção da gestão, tanto das empresas quanto da administração pública. A tecnologia possibilitou o aumento da eficiência, maior rapidez na prestação de serviços e maior clareza e transparência sobre os núme- ros e dados do governo. O processo de modernização da administração pública implemen- tado pelo governo Lula não ocorreu apenas na esfera nacional. Os es- tados também receberem recursos do Programa Nacional de Apoio à Modernização da Gestão e do Planejamento dos Estados e do Distrito Federal (PNAGE) para implantar ações de gestão e de controle do gasto público. Também foi criado o Programa Nacional da Gestão Pública e Desburocratização (GesPública) para combater a burocracia por meio da capacitação dos servidores. No segundo mandato de Lula, a partir de 2007, o governo buscou limitar os gastos públicos com a folha de pagamentos, o que pode pa- A evolução da administração pública 35 recer um contrassenso em relação ao aumento salarial e ao tamanho do quadro de funcionários públicos realizados no primeiro manda- to. Pressionado pelo peso da folha de pagamentos no orçamento do governo, o que dificultava o investimento em desenvolvimento e em ações sociais, o governo modificou a estrutura de remuneração dos servidores e buscou implantar processos de avaliação de desempenho, buscando ligar a remuneração ao desempenho individual do servidor. Esse modelo de gestão de pessoas, comum em empresas privadas, era ainda pouco usado na administração pública. Segundo Bresser-Pereira (2000), essa postura, conhecida como gerencialismo, é uma característi- ca da administração pública gerencial, assim como a profissionalização dos servidores e a diminuição da burocracia. O modelo gerencialista busca melhorar o serviço público e diminuir os custos do funcionalismo. Em seu segundo mandato, Lula também buscou continuar o processo de modernização do Estado ao propor uma nova Lei Orgânica com o objetivo de atualizar as normas da administração pública, servindo de parâmetro das diretrizes gerais a serem seguidas pela União, estados e municípios. A modernização também envolveu a integração entre o planejamento, a gestão do orçamento e o acompanhamento dos resultados obtidos. A busca pela participação pública, tanto no planejamento quan- to no acompanhamento do desempenho e da produtividade, conti- nuou a ser um ponto importante para a gestão pública. O governo incentivou a participação e o controle social e buscou oferecer trans- parência sobre seus números. Do ponto de vista da administração pública, o governo Dilma Rousseff representou uma continuidade das mudanças implementadas pelo governo Lula. A questão da modernização e informatização dos dados e informações sobre a gestão ficou ainda mais evidente, com ações voltadas ao desenvolvimento de softwares específicos para a gestão pública. Assim, o processo de modernização da administração pública passou a ser um dos focos de divulgação da área de comunicação do governo, mostrando que buscava se adequar às novas ferramentas e aos canais de comunicação, melhorando a qualidade do serviço público e oferecendo maior clareza sobre os dados do governo. Esse foco na digitalização e nos investimentos em sistemas também pode ser observado no curto segundo governo de Dilma. O foco estava em diminuir a quantidade de papéis e processos manuais, usando sistemas e a 36 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública internet para dar organização e celeridade aos processos públicos, tornan- do o ambiente de negócios mais claro e facilitando a vida do cidadão. A preocupação com a desburocratização já estava presente no governo Lula e também foi alvo de ações do governo Dilma. Procurou-se, por meio da desburocratização, reorganizar a máquina administrativa, diminuir os gastos públicos e ter maior controle sobre como os recursos públicos eram investidos. Também se buscou investir em ferramentas e processos de governança para oferecer mais transparência sobre as ações do gover- no e controle da administração pública por parte da população. Os governos democráticos pós-ditadura foram marcados pela bus- ca da modernização dos processos administrativos e a incorporação de novas tecnologias que dão suporte à gestão. Por ocasião do fechamen- to desta obra e pelo pouco tempo de governo, não serão analisados os governos Temer e Bolsonaro. Contudo, é possível verificar que a alter- nância de poder entre grupos políticos com visões diferentes sobre o papel do estado trouxe também mudanças na estrutura da administra- ção pública, tanto em termos de tamanho quanto em relação à interfe- rência das políticas públicas na economia do país. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar a história da administração pública no Brasil, é possível identificar diversas características e estruturas que ainda se fazem pre- sentes atualmente. Algumas dessas características são hoje alvos de críti- cas, como o clientelismo e a corrupção, mas estão enraizadas na máquina pública do Estado. Os governos democráticos das últimas décadas têm realizado esforços na direção de modernizar a estrutura e processos de gestão, além de investir no desenvolvimento dos quadros do funcionalis- mo público,na busca pela melhoria dos serviços prestados ao cidadão. ATIVIDADES 1. Explique o conceito do nepotismo, característica marcante da administração pública durante o período de formação do Estado brasileiro. 2. Explique as funções do rei-filósofo e dos magistrados no conceito da Kallipolis (cidade bela) proposto por Sócrates no livro A República. 3. Explique o conceito do clientelismo, que surgiu durante o período de formação do Estado brasileiro. A evolução da administração pública 37 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 27 mar. 1967. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/del0200.htm. Acesso em: 17 fev. 2020. BRESSER-PEREIRA, L. C. A Reforma Gerencial do Estado de 1995. Revista Brasileira de Administração Pública. Rio de Janeiro, v. 34, n. 4, p. 7-26, 2000. BRESSER-PEREIRA, L. C. Os primeiros passos da reforma gerencial do estado de 1995. Revista Brasileira de Direito Público. Brasília, v. 23, p. 145-186, 2008. CARDOSO JR., J. C.; NOGUEIRA, R. 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Isso ocorre porque a administração pública está relaciona- da ao modelo de Estado adotado pelo país. As definições sobre como serão os níveis de atuação do Estado sobre a economia são a base dos parâmetros a serem seguidos pela máquina da administração pública. 2.1 Bases e organização da administração pública Vídeo Para que possamos entender como se estrutura a administração públi- ca no Brasil, precisamos, primeiramente, diferenciar o papel do Estado e do governo e como essas duas figuras interagem no cotidiano da sociedade. Para Passaes et al (2013), o conceito de Estado remonta ao surgimen- to das polis gregas e das primeiras civitas romanas, mas a sua concepção atual surge a partir do século XVI. Nesse conceito moderno, o Estado está ligado tanto a uma definição territorial quanto a uma cultural e política. Segundo Silva et al. (2017, p. 26), o que marca a definição do Estado é o seu território, bem como o seu povo. Para os autores, “o Estado se apresenta como uma unidade básica social com território definido e com uma nação constituída pela coletividade que habita determinada locali- Gestão das políticas públicas no Brasil contemporâneo 39 dade, genericamente entendida como um povo. Atualmente, a principal forma de organização política dá-se por meio do Estado Moderno”. Para comandar essa unidade territorial e cultural, é necessário escolher ou nomear um grupo de indivíduos que tenham o papel de controlar as atividades e as relações entre as instituições e as pessoas. Esse grupo deve ter como base de suas decisões e ações uma legisla- ção alicerçada em valores e crenças que sejam reconhecidos e aceitos pelos membros do Estado, mesmo que, para isso, se faça necessário o uso da força. Além desse papel interno, relacionado aos membros que o constituem, o Estado também tem o papel de representar os anseios e valores de seu povo frente aos demais Estados e povos, defendendo sua unidade econômica, cultural e territorial. O Estado brasileiro é governado com a divisão em três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Essa divisão em poderes é obser- vada em quase todos os países democráticos na atualidade, e a ideia da separação do Estado em três poderes remonta às discussões de Aristóteles sobre a cidade ideal. Segundo o filósofo, o poder não deveria estar concentrado em um só indivíduo e, por isso, sugere a divisão do Estado em três par- tes: a assembleia dos cidadãos, que, na versão moderna de Estado, é representada pela Câmara e pelo Senado; o verdadeiro sobera- no, representado, no Estado atual, pelo presidente; e a magistratu- ra, hoje representada pelo Poder Judiciário. Assim, o governo é composto por um grupo de indivíduos elei- tos, que assumem posições nas quais têm alto poder de decisão sobre os rumos da sociedade. Porém, essas decisões são contraba- lanceadas pelo sistema de freios, pelos contrapesos dos três pode- res, pela atuação política, pelas estratégias dos partidos políticos, pelos interesses de grupos econômicos e, também, pelas ideolo- gias que cada um desses grupos representa. Para que o papel do Estado seja colocado em prática pelo governo que está no poder em um determinado período, é necessário que ele conte com uma estrutura composta por órgãos, serviços, instituições e pessoas que prestarão os serviços públicos. A essa estrutura dá-se o nome de administração pública, que é o foco de nosso estudo. O tamanho e a orga- nização dessa estrutura são determinados pela visão que esse grupo tem sobre qual deve ser o papel do Estado no cotidiano da população. No vídeo O que são os Três Poderes, publicado pelo canal Política Sem Mistérios, Milton Monti explica, de maneira didática e divertida, quais são esses poderes e a importância que cada um deles possui. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=E7EjZg- cp1bM. Acesso em: 17 fev. 2020. Vídeo 40 Desafios contemporâneos e inovação na gestão pública Analisando os governos da democracia brasileira após o período de governo militar, é possível
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