Prévia do material em texto
1 Deficiência Intelectual e Ludicidade Juliana Cristina Castilho1 RESUMO Atualmente, o ensino obrigatório no Brasil compreende desde os 4 anos aos 17 anos, portanto, inclui a pré-escola para atender ao direito constitucional que é o ensino para todos. Grande parte da vida das crianças é vivenciada dentro da escola. A obrigatoriedade de alfabetização é a partir do ensino fundamental. Neste contexto, surge o brincar como grande aliado da pré-escola e de parte do ensino fundamental, contribuindo para o seu desenvolvimento cognitivo e psicossocial. O objetivo geral dessa pesquisa é investigar as contribuições. As atividades lúdicas, quando bem conduzidas, favorecem o processo de desenvolvimento infantil e prepara a criança para o processo de ensino/aprendizagem e para o seu desenvolvimento integral. A cidadania é conquistada com o nascimento do indivíduo, mas é alicerçada nos bancos escolares, apreendendo o conhecimento que vai possibilitar a profissionalização e uma preparação de uma vida digna com qualidade e plena de bem-estar. O brincar contribui para o equilíbrio emocional e integração social da criança. Palavras-chave: Brincar. Criança. Lúdico. Pré-escola. 1 INTRODUÇÃO Esse artigo trata das problemáticas no processo de inclusão de alunos com Síndrome de Down em turmas regulares por meio das artes. A experiência das escolas brasileiras é razoavelmente recente e herda erros de um período em que foram formadas salas especiais e mesmo escolas especiais que isolavam as crianças portadoras de necessidades especiais. A interação pedagógica inclusiva deve ser orientada de acordo com as políticas públicas de inclusão das crianças inspiradas na Declaração de Salamanca de 1994 que estabeleceu a necessidade de inserir as pessoas com necessidades especiais em classes regulares de ensino. É natural que haja expectativas das famílias em conceberem crianças normais e quando acontece de conceberem uma criança portadora de necessidades especiais precisam trabalhar com a ideia de refazerem os seus planos de vida e procurarem adaptar-se o mais rápido possível, superando o luto causado pelo primeiro impacto. Nessa pesquisa são utilizados exemplos e teorias referentes a crianças portadoras de necessidades especiais para procurar compreender a dinâmica entre a escola para a inclusão globalizante da criança ou adolescente na comunidade escolar com o trabalho de equipes multidisciplinares e dos profissionais especializados na 1 Pós-graduanda do Curso de Educação Especial Inclusiva com Ênfase em deficiências Múltiplas e Intelectual pelo IEMAR- Instituto Educacional Maris. E-mail: castilhojuliana15@gmail.com. 2 área de educação especial. A ideia principal é mostrar a importância do lúdico na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo, motor e intelectual da criança para que o professor entenda que ele continua sendo uma figura muito importante na educação infantil como mediador, orientador e estimulador da criança. Entendemos que as atividades lúdicas conduzidas por profissionais especializados na área de educação infantil no decorrer do Jardim III, que antecede sua entrada no ensino fundamental podem ser essenciais para o seu desenvolvimento integral. Diante das novas propostas pedagógicas que sugerem construção do conhecimento, este trabalho tem por finalidade tratar de um tema tão importante para a educação infantil, qual seja, a ludicidade como processo de aprendizagem. A ludicidade oportuniza as crianças em adquirir um melhor desempenho da aprendizagem. E por meio dos jogos e das brincadeiras, exige uma grande colaboração no desenvolvimento do ser humano, influenciando e estimulando a vida infantil, principalmente os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais. Portanto, a partir do brincar, desenvolve-se a facilidade do conhecimento do mundo social, cultural, pessoal e consequentemente a vida saudável, física e mental. De fato, que os jogos e as brincadeiras fazem parte do universo infantil, onde o faz de conta se misturam com a realidade. A visão de ludicidade não deve ser evidenciada apenas como diversão, mas sim classificada de suma importância na construção da aprendizagem. O lúdico na educação é um tema bastante explorado, mas sua utilização na prática ainda fica aquém do ideal. Pensadores como Piaget e Vygotsky defenderam sua utilização desde a mais tenra infância de modo a propiciar um desenvolvimento cognitivo e uma apreensão da cultura e do conhecimento de modo espontâneo e motivador. Esta é uma pesquisa sobre o brincar na educação infantil, na formação cognitiva da criança, que se inicia desde a mais tenra idade, mas pode ser conduzida de modo privilegiado desde a mais tenra idade. O brincar na educação infantil é uma questão bastante discutida pela academia e pelas instituições escolares e conduz as crianças para o caminho da cidadania, que demonstra ser um item essencial nas sociedades contemporâneas, que têm que garantir o direito à educação para todos. O professor de artes, no âmbito das APAEs, extrapola o simples fazer manual, implementando propostas que atendam às necessidades especiais do aluno com 3 deficiência intelectual. Motivou-nos ao desenvolvimento deste tema de pesquisa a atual realidade no ambiente da sociedade de profunda preocupação com a inclusão de pessoas com necessidades especiais. Como problema de pesquisa, elegemos a seguinte questão: de que modo as brincadeiras e jogos podem contribuir para a inclusão de pessoas com deficiência intelectual? O objetivo geral dessa pesquisa é investigar as contribuições da ludicidade na inclusão escolar de pessoas com deficiência intelectual. Com relação aos objetivos específicos, temos os seguintes: pesquisar sobre a inclusão social dos deficientes intelectuais na sociedade. 2 INTEGRAÇÃO DE ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN NO CIEP Millen Neto; Silva (2008) apresentam o processo de inclusão educacional de três alunos com Síndrome de Down no CIEP – Centro Integrado de Educação Pública. Quanto às características e à integração e inclusão dos alunos portadores de Síndrome de Down, que são todos do sexo masculino e têm baixa estatura, os autores esclarecem: O Aluno 1 tem 16 anos de idade e estava acima do peso; muito afetivo e apresenta sexualidade aflorada, onde a feminilidade é acentuada por seus traços comportamentais, justificada pela “convivência familiar na qual esse garoto está submetido, pois ele foi criado no meio das irmãs sem a presença de uma figura masculina, uma vez que o pai viaja muito e nem sempre está presente”. Por imitação, o aluno teria adquirido traços feminilizados ao observar as irmãs maquiando-se e provando roupas femininas e, supostamente, naturalizou esses comportamentos como sendo universais (MILLEN NETO; SILVA, 2008, p. 5). As observações etnográficas e conversas dos pesquisadores com os professores explicitaram a classe especial funciona sem uma ampla proposta de inclusão educacional que possibilite aos alunos portadores de necessidades especiais aceder a um processo globalizante de educação completa e interação com toda a comunidade escolar. Sassaki (apud Millen Neto; Silva (2008) refere-se a esse tipo de classe especial como segregadora por gerar uma pseudo inclusão, porque na verdade é local de isolamento das crianças especiais para evitar seu convívio com os demais estudantes. O Aluno 2 tem 17 anos e estava acima do peso; agressivo e muito pouco 4 afetivo; prefere isolar-se e sua sexualidade é bastante aflorada. O professor de Educação Física notou melhoras no comportamento quanto à sexualidade, pois já não abaixava as calças na presença de uma mulher que julgava bonita e bem apresentável e masturbava-se em público. Houve uma formação intensiva para explicar-lhe que a masturbação em área pública era um comportamento não aceitável (MILLEN NETO; SILVA, 2008, p. 8). Quanto à capacidade deaprendizagem, apresenta habilidade ao escrever seu nome de forma grosseira; tem coordenação motora fina razoável, sendo capaz de copiar desenhos de livros de histórias, mantendo contornos e cores correspondentes aos originais. Nas aulas de Educação Física ele é sempre participativo e consegue se destacar nos exercícios de habilidade, tais como quicar a bola de basquete entre os cones e na corrida. Mas ficou perceptível que ele falta a muitas aulas. Outro ponto que se fez notar, ao observarmos o Aluno 2, foi uma grande vontade de estar incluso na classe regular, como as demais crianças da escola. (MILLEN NETO; SILVA, 2008, p. 8) O Aluno 3 tem 17 anos e é mais magro que os alunos 1 e 2. Cursa a classe regular de 4ª série do Ensino Fundamental. Seu comportamento ilustra uma formação familiar diferenciada, com a presença constante dos pais e preocupados com um desenvolvimento educacional pleno de valores éticos e sociais; destaca-se na cidade como um rapaz muito querido, amável e carismático, que participa ativamente de todas as aulas, inclusive em Educação Física; interage com os colegas de turma e da escola por meio de brincadeiras e recebe muito afeto de toda a comunidade escolar. Nas aulas de matemática e português, a sua capacidade de memorização é muito boa, ele faz os mesmos exercícios e deveres que as professoras passam para seus colegas de turma, e também é avaliado de igual forma. As professoras comentam seu comportamento e elogiam. Sua professora de Educação Física se derrete em elogios, pois ele se destaca nas aulas participando de todas as atividades. (MILLEN NETO; SILVA, 2008, p. 9) Os alunos apresentam características distintas e níveis de integração diferentes, que os autores atribuem à formação familiar de cada um que os torna ou agressivos, ou afetivos ou afáveis conforme a presença ou ausência da figura masculina e do acompanhamento dos pais no processo de socialização dos portadores de Síndrome de Down. Apenas um desses alunos frequenta uma classe regular, porque os outros dois encontravam-se em sala especial “a fim de preservar suas identidades para observarmos seus comportamentos e suas características sem comprometer suas integridades”, conforme justificam Millen Neto; Silva (2008, p. 3). 5 A Declaração de Salamanca foi o resultado da deliberação de um documento confeccionado por 88 representantes de governos, juntamente com representantes de 25 organizações internacionais que se reuniram em assembleia em Salamanca, na Espanha, no período compreendido entre 7 e 10 de junho de 1994. Os participantes daquela assembleia renovaram seu compromisso para com a extensão da educação a todos, sem distinção, ao reconhecerem a “necessidade e urgência do providenciamento de educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino” e enfatizaram a criação de uma “Estrutura de Ação em Educação Especial, em que, pelo espírito de cujas provisões e recomendações governo e organizações sejam guiados”. (DECLARAÇÃO, 1994, p. 1) Segundo Lima (2006) compreende que a inclusão explicitada pela Declaração de Salamanca propôs o agrupamento de sujeitos de procedências diversificadas para compor um universo multifacetado no sistema educacional de indivíduos que possuem condições pessoais, socioeconômicas, políticas e culturais diferentes, defendendo “a necessidade de mudanças estruturais no contexto escolar que aí está para receber esses alunos (surdos, cegos, superdotados, hidrocefálicos, dentre outros)”. Kassar (apud TEZZARI, 2009) apresenta um breve relato sobre a evolução da preocupação no Brasil quanto à educação especial que iniciou-se ao final século XIX, quando foram inauguradas instituições públicas em Salvador e no Rio de Janeiro. Ao início do século XX, começam a surgir “as escolas privadas de atendimento, como o Instituto Pestalozzi no Rio Grande do Sul, criado em 1926. Em 1954 é fundada, no estado do Rio de Janeiro, a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais- Apae, também com a caracterização de entidade particular assistencial”. No entanto, o cuidado para com as pessoas portadoras de necessidades especiais se intensifica a partir da década de 1960, quando o Governo Federal foi despertado para a formação educacional do deficiente mental. A LDB – Lei de Diretrizes e Bases do Ministério da Educação demonstrou a preocupação do poder público com problemas relacionados à aprendizagem em geral e com a educação especial propriamente dita, que ainda era concebida apartada da educação em geral, como um departamento estanque. Mas esta lei marcou o pioneirismo em utilizar expressamente a denominação educação especial, segundo Tezzari (2009). Rodrigues (2006) entende que com o decorrer dos tempos e a consolidação da 6 sociedade burguesa, tendo em vista o capital adquirido/acumulado, houve a transformação da sociedade por meio de um estado não interventor, mas garantidor de seus interesses. No final do século XVIII, surge o Liberalismo que pregou a liberdade do indivíduo, a liberdade do trabalhador diante de suas oportunidades na vida, tendo, por conseguinte, o Estado representante do público e guardião do privado. Não obstante, Marx discordou dessa suposta liberdade, vez que ela contribuiu para maior exploração do trabalhador pelos donos dos meios de produção. No Estado Liberal, a livre concorrência dos mercados foi marcada pela não intervenção estatal na economia, sendo o Estado somente garantidor das condições materiais para os capitalistas garantidor da ordem e poder político, todavia controlador da classe operária. No âmbito da Educação Especial, a LDB nº 4.024/61 regulamentou “as políticas e propostas educacionais para os portadores de deficiências, organizando as ‘funções’ entre os serviços públicos e privados, assim como as formas de atendimento”. A LDB de 1961 estabeleceu, ligeiramente, o perfil de ensino que temos atualmente: com o atendimento do deficiente se possível na educação regular e por outro lado um apoio financeiro às instituições particulares que eram classificadas como eficientes por atenderem aos critérios requeridos pelos Conselhos Estaduais de Educação. (SILVA; CASTRO; CASTELO BRANCO, 2006) O Artigo 9º da Lei nº 5.692/71 destaca o cuidado com a caracterização do estudante que requer educação especial, pois a lei estabelece como “alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”. Em 1973 é criado o CENESP – Centro Nacional de Educação Especial devido à influência das entidades privadas. (KASSAR, 1998) Os reflexos dessa política de atendimento aos portadores de necessidades especiais pelas instituições privadas ficaram tácitos nos dados levantados pelo IBGE com o Censo Demográfico de 1981, que mostrou que apenas 17,1% dos estudantes com necessidades especiais frequentavam unidades públicas (municipal, estadual ou federal), enquanto a maioria absoluta – 82,9% – frequentava a administração particular; os dados de 1988 demonstraram uma leve mudança nas proporções das populações: “21,78% de alunos pela administração do Estado, e 78,21% pela administração particular”. (KASSAR, 1998, p. 24) 7 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A nossa reflexão sobre as condições do ensino fundamental e a importância do brincar na Educação Infantil na faixa etária dos 3 aos 4 anos de idade como verdadeira ferramenta para o desenvolvimento cognitivo e emocional dos educandos nas séries iniciais que dão o alicerce para o seu crescimento como cidadão coloca o professor como grande responsável pela inserção desses pequenos cidadãos no contexto educacional e humano. A vida social é a base para o desenvolvimento das potencialidades da criança, que é um ser sociável, mas na escola ela terá influências, teorias e práticas que lhesafetarão no sentido de motivá-la à socialização. A criança está em amplo desenvolvimento psíquico Na passagem do século XVII para o XVIII, a criança passou a ser vista de maneira diferente, pois a partir dessa época, o jogo passou a ganhar importância no desenvolvimento da criança, juntamente com a preocupação para preservar a moralidade infantil. A partir daí os jogos que formam, que desenvolvem e que são julgados bons passaram a ser incentivados em detrimento dos jogos maus. Já ao final do século XIX, o jogo desperta o interesse dos especialistas no desenvolvimento infantil e, assim, surgiram as teorias de grandes psicólogos, psicanalistas e pedagogos, que buscaram compreender a importância do lúdico no processo de ensino-aprendizagem. Por meio da brincadeira, a criança passa a dominar a utilização de objetos, de sons, que vai montando o seu acervo cognitivo, social e cultural. REFERÊNCIAS DECLARAÇÃO de Salamanca. Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. 1994. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 7 Abr. 2022. KASSAR, Mônica de Carvalho Magalhães. Liberalismo, neoliberalismo e educação especial: algumas implicações. Cad. CEDES, Campinas, v. 19, n. 46, set. 1998. p. 16- 28. LIMA, Maria do Socorro Correia. Algumas considerações sobre o ensino de Português para surdos na escola inclusiva. Revista Letra Magna. Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura – Ano 03- n.05 - 2º Semestre de 2006. p. 1-14. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar : o que é? por quê? como fazer? 8 São. Paulo: Moderna, 2003. (Coleção cotidiano escolar). MILLEN NETO, Alvaro Rego; SILVA, T.J. Cardoso da. Os Alunos com Síndrome de Down. Revista Pensar a Prática. v. 11, n. 2. 2008. p. 1-10. RODRIGUES, Mirelli Bonfim. Responsabilidade Social Privada: Questão Estratégica ou Interesse Social? Monografia TCC, Centro Universitário de Lins – UNILINS – Curso de Serviço Social. Lins – SP. 2006. SILVA, A. F.; CASTRO, A. L. B.; CASTELO BRANCO, M. C. M. A inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais: deficiência física. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2006. 67 p. TEZZARI, Carmen Lúcia. Educação especial e ação docente: da medicina à educação. 2009. 240 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós- Graduação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, 2009. 1 INTRODUÇÃO 2 INTEGRAÇÃO DE ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN NO CIEP 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS