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CASO 01 Em outubro de 2019, Paulo, contador, domiciliado em Belo Horizonte (MG), ao tentar realizar compra a prazo, foi surpreendido com a negativa de seu crédito, em virtude da inscrição do seu nome no cadastro de inadimplentes do SPC/SERASA, o que lhe causou (e vem lhe causando) extremo constrangimento. Ao consultar o sistema do SPC/SERASA, Paulo constatou duas negativações indevidas do seu nome, realizadas pelo Banco Hermes, instituição financeira com sede em São Paulo (SP), decorrentes do não pagamento das quantias de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e R$ 8.000,00 (oito mil reais), referentes a dois contratos de financiamentos supostamente celebrados por Paulo. Imediatamente, Paulo enviou sua documentação ao Banco Hermes e demonstrou que a assinatura constante dos dois contratos de financiamentos não eram dele. Em face da situação hipotética apresentada e levando-se em conta (i) o abalo moral sofrido por Paulo; (ii) que até o presente momento o Banco Hermes não adotou as medidas necessárias para retirar o nome de Paulo do cadastro de maus pagadores; e (iii) que Paulo está desempregado e não tem condição de arcar com os custos de um processo, redija, na qualidade de advogado(a) de Paulo, a petição inicial da ação judicial adequada ao caso, abordando todos os aspectos de direito material e processual pertinentes. Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___ Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte (MG). ou Ao Juízo da ___ Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte (MG). Paulo (nome completo), (nacionalidade), (estado civil), contador (profissão), inscrito no CPF sob o nº x, CI nº x, (endereço eletrônico), residente e domiciliado em Belo Horizonte (MG), na Rua x, nº x, Bairro x, CEP x, por meio de seu advogado que esta subscreve (cf. procuração anexa), inscrito na OAB sob o nº x, (endereço eletrônico), com endereço profissional na Rua x, nº. x, Bairro x, cidade x, CEP x, onde recebe intimações, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 319 e seguintes do Código de Processo Civil e, também, nos artigos 81 e seguintes do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº. 8078/90), propor a presente Ação Declaratória de Inexistência de Relação Jurídica c/c Indenização por Danos Morais e Pedido de Tutela de Urgência, pelo procedimento comum, em face de Banco Hermes (nome completo), instituição financeira inscrita no CNPJ sob o nº x, (endereço eletrônico), com endereço em São Paulo (SP), na Rua x, nº x, Bairro x, CEP x, pelos fatos e fundamentos adiante expostos: I – Fatos: • Narrar, em ordem cronológica e de forma objetiva, os acontecimentos (circunstâncias, conflito, violação do direito). Diante desse absurdo, outra alternativa não resta ao Autor, a não ser a propositura da presente demanda, visando não só a retirada do seu nome inscrito indevidamente no cadastro de maus pagadores, mas, também, a declaração de inexistência de relação jurídica com a Ré e a reparação do dano moral suportado, conforme exposto adiante. II – Fundamentos jurídicos: II.1 – Aplicação do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) Cumpre salientar, de início, que mesmo o Autor não tendo celebrado qualquer negócio jurídico com a Ré, desconhecendo os contratos de financiamentos que ensejaram a negativação do seu nome, aplicam-se, ao presente caso, as disposições do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90). Isto porque, a Ré é fornecedora de serviços e produtos e o Autor equipara-se a consumidor, uma vez que suportou prejuízos decorrentes da prática comercial abusiva perpetrada pela Ré. Segue o disposto no art. 17 do CDC: “Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.” Ressalta-se que o art. 6º, VIII, do CDC, estabelece expressamente que constitui direito básico do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, quando for verossímil a alegação ou quando ele for hipossuficiente. Mesmo que assim não fosse, o artigo 373, II, do CPC/15 impõe à Ré (pretensa credora) o ônus de comprovar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do Autor, especialmente nas hipóteses em que o pedido inicial se baseia na inexistência de relação jurídica, por ser inviável ao demandante produzir prova negativa. Requer-se, portanto, desde já, a inversão do ônus da prova, para que seja determinado que a Ré comprove a existência e a validade dos instrumentos supostamente celebrados com o Autor, inclusive a autenticidade das assinaturas apostas nos mesmos. II.2 – Responsabilidade Objetiva da Ré Por se aplicar as disposições da lei consumerista ao presente caso, a Ré responde, independentemente da verificação de culpa, pelos danos causados em virtude da indevida inscrição do nome do Autor no cadastro de maus pagadores, dada a responsabilidade objetiva prevista no artigo 14 do CDC. Nesse sentido é o entendimento do Eg. TJMG: “AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO - CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE TELEFONIA - FRAUDE - INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME DA VÍTIMA NOS BANCOS DE DADOS DE RESTRIÇÃO DO CRÉDITO - DANO MORAL CONFIGURADO - QUANTUM - CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO: - A inscrição do nome de devedor no rol de inadimplentes, pela fornecedora de produtos e/ou serviços, sem se averiguar a regularidade da documentação apresentada no ato da contratação ou a veracidade das informações prestadas, é apta a caracterizar o fato do serviço/produto disciplinado pelo artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor. Nesse caso, a responsabilidade do fornecedor do serviço é objetiva, só sendo afastada se e quando demonstrar que, tendo prestado o serviço, o defeito inexistiu, ou, então, que foi do consumidor ou de terceiro a culpa exclusiva. - Em ação de indenização por danos morais, decorrentes de indevida inscrição de nome no cadastro dos inadimplentes, não se exige a comprovação dos danos morais, que surgem automaticamente, tão logo se dê a negativação indevida. - O 'quantum' indenizatório por dano moral não deve ser a causa de enriquecimento ilícito nem ser tão diminuto em seu valor que perca o sentido de punição.” (GN) (TJMG - Apelação Cível 1.0079.13.031237-8/001, Relator(a): Des.(a) Domingos Coelho, 12ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/09/2018, publicação da súmula em 25/09/2018) Ademais, não se pode olvidar o teor da Súmula 479 do STJ, a qual assentou que “as instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.” Diante disso, independentemente de culpa, a Ré deve ser responsabilizada pela inscrição indevida do nome do Autor no cadastro de inadimplentes. II.3 – Dano moral presumido (in re ipsa) Em relação ao dano moral suportado pelo Autor, o col. STJ consolidou o entendimento de que “a própria inclusão ou manutenção equivocada configura o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado à própria existência do fato ilícito, cujos resultados são presumidos” (Ag 1.379.761). Portanto, a inscrição e manutenção do nome do Autor em cadastro desabonador ao crédito, por dívida inexistente, constitui causa de dano moral puro, o qual não depende de reflexos patrimoniais nem da prova dos incômodos sofridos. Destaca-se que o Autor sempre honrou tempestivamente com os seus compromissos financeiros e o seu nome nunca foi mantido em cadastros restritivos de crédito, razão pela qual a inscrição indevida realizada pela Ré causou (e vem causando) infortúnio jamais experimentado, alterando, significativamente, a rotina do Autor. Assim, restando configurado o dano moral suportado pelo Autor em razão da inscrição indevida do seu nome no cadastro de inadimplentes e das inúmeras cobranças abusivas realizadas pela Ré, a condenação desta última ao ressarcimento do dano é medida que se impõe. II.4 – Quantum indenizatório Em relação à fixação do quantum indenizatório, mister se faz a observância de alguns critérios, a saber. O Autor é pessoa idônea e de ilibada reputação. A Ré é empresaintegrante do grupo econômico “Hermes”, instituição financeira de capital aberto que registrou lucro líquido de mais de 8 (oito) bilhões de reais em 2018. Portanto, deveria, no mínimo, agir com cautela ao firmar seus contratos e negativar o nome de pessoas íntegras. A conduta da Ré afetou (e vem afetando) a personalidade, a honra, a integridade psíquica, o bem-estar íntimo e as virtudes do Autor, causando-lhe um sentimento de revolta, frustração e humilhação. O Autor, ao ter seu crédito negado sofreu enorme constrangimento, sobretudo pela pecha de mau pagador que lhe foi imputada perante terceiros. Em virtude das circunstâncias do caso concreto, o quantum indenizatório, visando à reparação do dano moral suportado pelo Autor, não deve ser fixado em quantia inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a fim de ressarcir o prejuízo efetivamente causado e, também, de coibir e prevenir que a Ré insista na prática de ilícitos semelhantes. III – Tutela de Urgência Nos termos do art. 300, do CPC, a tutela de urgência será concedida pelo juiz quando houver comprovação de elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil da prestação jurisdicional. No caso em comento estão presentes os requisitos ensejadores da concessão da liminar ora pleiteada, como se vê a seguir. Em relação à probabilidade do direito xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx No que tange ao perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx E mais, o deferimento da liminar pleiteada em nada prejudica a parte Ré, dada a sua manifesta reversibilidade. Diante do exposto, requer-se a concessão da medida liminar, inaudita altera parte, para excluir o nome do Autor do cadastro de devedores do SPC/SERASA, reestabelecendo seu crédito na praça, bem como sua reputação ilibada como consumidor. Cumulativamente, deferida a tutela de urgência, requer-se seja arbitrada multa diária pelo descumprimento da ordem de exclusão do nome do Autor nos cadastros dos órgãos restritivos de crédito. IV – Gratuidade da Justiça O Autor encontra-se desempregado, não possuindo condições financeiras para arcar com as custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo do seu sustento e de sua família. Nesse sentido, junta-se declaração de hipossuficiência (cf. doc. anexo), cópia da Carteira de Trabalho do Autor (cf. doc. anexo) e certidão de nascimento dos filhos (cf. doc. anexo). Por tais razões, requer-se os benefícios da Justiça Gratuita, assegurados pela Lei nº. 1060/50, Art. 5º, LXXIV da CF/88 e Art. 98 e seguintes do CPC/15. V – Pedidos: Por todo o exposto, requer-se: a) seja deferido, inaudita altera parte, o pedido de tutela de urgência, determinando-se a exclusão do nome do Autor do cadastro de devedores do SPC/SERASA, sob pena da Ré ser condenada a pagar multa diária a ser fixada por este douto juízo; b) seja a Ré intimada para o imediato cumprimento da tutela de urgência; c) seja a Ré impedida de realizar novas negativações do nome do Autor até o julgamento final da lide; d) sejam deferidos os benefícios da justiça gratuita, nos termos da Lei nº. 1060/50, Art. 5º, LXXIV da CF/88 e Art. 98 e seguintes do CPC/15; e) seja a Ré citada, para que compareça à audiência de conciliação a ser designada, nos termos do art. 334, CPC/15, uma vez que o Autor tem interesse na autocomposição; f) sejam aplicadas as disposições do Código de Defesa do Consumidor ao presente caso; g) seja determinada a inversão do ônus da prova, na forma do artigo 6º, VIII, do CDC (e, também, do artigo 373, II, do CPC/15), ficando a cargo da Ré comprovar a existência e a validade dos instrumentos supostamente celebrados com o Autor, inclusive a autenticidade das assinaturas apostas nos mesmos; h) seja julgada procedente a presente ação e, consequentemente, seja declarada a inexistência de relação jurídica e de qualquer débito entre Autor e Ré; i) seja condenada a Ré ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), devidamente atualizados nos termos das Súmulas 54 e 362 do STJ; j) seja confirmada a tutela de urgência, eventualmente deferida; k) seja a Ré condenada ao pagamento das despesas, custas processuais e honorários advocatícios nos termos do art. 85, §2º, do CPC. Pretende-se provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, principalmente prova documental, testemunhal, pericial e depoimento pessoal da Ré. Dá-se à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). P. deferimento. (Local, data) Nome do Advogado (número da OAB)
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