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Modelos de assistência técnica APRESENTAÇÃO A inovação no campo avança a passos largos atualmente, no entanto, o que se percebe ainda é a grande disparidade de utilização de tecnologias das propriedades brasileiras. Essa questão não apenas está relacionada à questão de disponibilidade dos recursos financeiros e do tamanho da propriedade, mas também à intensidade com que os produtores adotam as tecnologias. Adotar tecnologias e implantá-las nas propriedades por vezes não é apenas a solução para a inovação no campo. É fundamental que os produtores e os seus colaboradores saibam utilizá-las de forma a contribuir positivamente para a produção, e este trabalho precisa ser acompanhado de um assessoramento técnico, com a finalidade de dar continuidade ao processo de inovação no campo, buscando o sucesso na atividade. Nesta Unidade de Aprendizagem, você será capaz de analisar os atuais modelos de transferência de tecnologia, conhecer as diferentes formas de assistência técnica e demonstrar, nas atividades de assistência técnica e extensão rural, os fundamentos pedagógicos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar os modelos de transferência de tecnologia, Farming System Research, modelo Participativo e Agroecológico. • Desenvolver formas de assistência técnica, assessoria, interação e orientação técnica.• Demonstrar o uso dos fundamentos pedagógicos na prática da assistência técnica e extensão rural. • DESAFIO No contexto do agronegócio existem instituições federais e estaduais que atuam diretamente com a assessoria aos trabalhos rurais. De forma geral, essas instituições atuam na extensão rural e na assistência técnica de forma conjunta, levando o conhecimento aos produtores e prestando auxílio no desenvolvimento da propriedade rural. A assistência técnica tem papel fundamental no desempenho das atividades agropecuárias, principalmente tendo em vista os produtores com menor poder aquisitivo. O assessoramento técnico no campo pode propiciar o aumento da produtividade, aumentando a renda do trabalhador rural, e proporcionando uma melhoria na qualidade de vida da família. Com base nos conhecimentos sobre assistência técnica rural, descreva a seguir os elementos e os passos do seu projeto de gestão da propriedade rural para que se tenha êxito, com resultados que beneficiem o produtor rural. INFOGRÁFICO O trabalho de assistência técnica vai muito além de auxiliar no desenvolvimento das atividades de campo de um produtor rural, ele permite a melhoria das condições e da qualidade de vida do produtor rural. É, além de tudo, um trabalho social. E para que o desenvolvimento seja constante, é preciso que a assistência seja um trabalho de caráter contínuo, no qual o técnico busque o seu desenvolvimento para que, então, possa auxiliar no desenvolvimento das atividades no campo. Neste Infográfico, você verá as caraterísticas importantes a respeito de dois modelos de transferência de tecnologias para o meio rural. CONTEÚDO DO LIVRO A pedagogia emancipadora é libertadora, promove a autoconstrução e o autoconhecimento dos indivíduos. É essencial que você compreenda como essa metodologia didática atua nos serviços de extensão rural. O modelo Farming System Research (FSR) e o modelo Participativo e Agroecológico apresentam concepções participativas e proporcionam uma participação interativa do produtor rural. No capítulo Modelos de assistência técnica, da obra Assistência Técnica e Extensão Rural, você conhecerá modelos de transferência de tecnologia em serviços de extensão rural e também verá os tipos de práticas pedagógicas utilizadas nos serviços de extensão rural e sua contribuição no processo de desenvolvimento agrícola sustentável. Além disso, você entenderá a diversidade de elementos da atuação do profissional extensionista. Boa leitura. Assistência Técnica e Extensão Rural Eliziane Silva Vieira Modelos de assistência técnica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar os modelos de transferência de tecnologia farming system research e participativo e agroecológico. Desenvolver formas de assistência técnica, assessoria, interação e orientação técnica. Demonstrar o uso dos fundamentos pedagógicos na prática de as- sistência técnica e extensão rural. Introdução Neste capítulo, você conhecerá dois modelos de transferência de tec- nologia de forma participativa — farming system research e participativo e agroecológico — e como cada um atua na interação com o produtor rural. Além disso, também será abordada a atuação do extensionista nos serviços de assistência técnica e extensão rural (Ater). A evolução das práticas pedagógicas concomitantes à evolução dos serviços de extensão rural e os desafios da construção de uma pedagogia emancipadora também serão pontos discutidos, assim como a impor- tância da substituição de práticas metodológicas verticais para práticas dialéticas no serviço de extensão rural. Transferência de tecnologias A transferência de tecnologia agrícola pode ser descrita como um processo de transmissão de inovações, desenvolvidas por pesquisadores, através de extensionistas que as levam aos produtores rurais. A implementação de novas tecnologias, no entanto, atingia apenas produtores rurais capitalizados, não sendo viável para produtores rurais de baixo poder aquisitivo. Isso ocorria devido ao investimento público voltado à pesquisa não ser direcionado aos pequenos produtores, que encontravam barreiras institucionais e administrati- vas. Mesmo com a interação sendo facilitada pelo extensionista, os pequenos produtores não eram benefi ciados efetivamente, principalmente devido ao tipo de abordagem utilizada na mediação (GILBERT; NORMAN; WINCH, 1980). Diferentes abordagens considerando cenários distintos foram desenvol- vidas nas últimas décadas. Metodologias participativas ganharam espaço na medida em que a preocupação com uma agricultura mais sustentável se torna um dos objetivos da pesquisa e extensão (FRANCIS; HILDEBRAND, 1989). A participação do produtor rural na pesquisa, no desenvolvimento e nos processos de transferência de tecnologias agrícolas permite a criação de tecnologias apropriadas, que se encaixam prontamente nas condições sociais, culturais e ambientais dos agricultores. Como exemplos de abordagens de transferência de tecnologia que vão na contramão da abordagem convencional (unilateral ou difusionista), podemos citar dois: farming system research e o modelo participativo e agroecológico. A farming system research é uma abordagem participativa com foco ho- lístico e interdisciplinar. Essa abordagem considera os objetivos do produtor rural, sua situação econômica e os recursos da unidade agrícola para criar o plano de trabalho. É criado um vínculo entre o pequeno produtor, as agências de fomento e as instituições de pesquisa, onde a comunicação entre as partes é estabelecida. A farming system research visa a aumentar a produtividade do sistema agrícola considerando diferentes objetivos, restrições e potenciais existentes. O aumento da produtividade é possível através do uso de tecnologias expressivas e políticas públicas que contribuam para a melhoria da qualidade de vida do produtor rural, de suas famílias e da comunidade rural como um todo (GILBERT; NORMAN; WINCH, 1980). A farming system research foi uma abordagem bem-sucedida, mas apenas em circunstâncias muito específicas. O sucesso era alcançado quando a aborda- gem era utilizada para ambientes homogêneos, em grandes unidades agrícolas com estabilidade econômica. Quando usada em ambientes heterogêneos, onde fatores sociais e culturais influenciavam as práticas agrícolas utilizadas, a abordagem era inadequada (DARNHOFER; GIBBON; DEDIEU, 2012). Resumidamente, a farming system research possui três características principais: utiliza opensamento sistêmico; confia na interdisciplinaridade; baseia-se em uma abordagem articulatória. Modelos de assistência técnica2 A execução das três características em um único projeto de pesquisa pode ser considerado um grande desafio, conceitual e prático. Em diferentes cenários, isso pode não ser viável e nem eficaz. Para torná-las mais eficientes, pode-se focar em determinado aspecto relevante do projeto analisado. Essa abordagem tem menor protagonismo do produtor rural, mas serve de instrumento para aumentar o nível de participação do produtor rural em grupos organizados. Já a abordagem participativa e agroecológica atua através do diálogo par- ticipativo na transmissão do conhecimento baseado nas relações entre os diferentes agentes, estimulando a participação ativa do produtor rural no planejamento e nos testes de novas tecnologias agrícolas. Essa prática reduz o uso de programas definidos sem a participação do produtor rural, onde as novas tecnologias são pesquisadas e um pacote tecnológico é desenvolvido antes que o produtor rural possa opinar (LESSA, 2000). O desenvolvimento sustentável não é alcançado quando as tecnologias são simplesmente transferidas de forma unilateral. É necessário definir de forma participativa (pesquisador, extensionista e produtor rural) o padrão de tecnologia que deve ser adotado, estabelecendo as condições locais (social, cultura e ambiental) e o nível de sustentabilidade que se deseja alcançar para, a partir deste ponto, iniciar o processo de transição e implantação de tecnologias adequadas à realidade observada (CAPORAL, 1991). Esse processo é baseado na construção de novos conhecimentos que viabilizem o desenvolvimento de alternativas tecnológicas capazes de propiciar a sustentabilidade da produção agrícola, favorecendo a preservação ambiental, reduzindo os custos produti- vos, aumentando a renda do produtor rural e produzindo alimentos livre de contaminantes. No ano de 2006, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Em- brapa) lançou o Marco Referencial da Agroecologia, trabalho que reuniu os temas agroecológicos prioritários, desenvolvidos por participantes internos e externos à instituição. De acordo com este documento, a realização de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação agrícola pode acontecer através de diferentes estratégias metodológicas (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 2006). Veja a seguir. Ensaios sistêmicos — visa a gerar conhecimento com foco na agroeco- logia e em tecnologias, com os quais objetiva-se dar suporte à pesquisa participativa e que permitam relações interdisciplinares. Ensaios de síntese — caracteriza-se como uma etapa da implemen- tação de programas de pesquisa, desenvolvimento e inovação, com foco sistêmico e interdisciplinar, onde são detectados os problemas 3Modelos de assistência técnica tecnológicos e as informações geradas na pesquisa são sintetizadas para posteriormente serem validadas nas unidades agrícolas. Indicadores de sustentabilidade — são um instrumento de avaliação, facilitador de adaptações de decisões de manejo para a promoção de práticas de agricultura sustentável. Sistematização e avaliação de experiências agroecológicas — visa a identificar e sistematizar experiências e outros processos anteriormente utilizados com êxito no campo da agroecologia e que não possuam sustentação científica. Redes de referência — visa a estudar os pontos de carência e determinar meios adequados e eficazes para implementação de tecnologias compa- tíveis com as necessidades dos agricultores e dentro das possibilidades de seus sistemas produtivos. Pesquisa participativa — o produtor rural conhece suas próprias de- mandas e, portanto, deve contribuir na definição da pauta de ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação a ele direcionados. Os técnicos e pesquisadores também participam, com o mesmo protagonismo. A transferência de tecnologia agrícola baseada na compreensão dos pro- cessos geradores de conhecimento e inovação tecnológica tem o potencial de suprimir processos difusionistas, eliminando a necessidade de tecnologias preconcebidas, evitando a perda de autonomia e a exclusão social do produtor rural em sistemas produtivos agroecológicos. Acesse o link a seguir e leia mais sobre sistemas agroecológicos (FEIDEN; BORSATO, 2011). https://qrgo.page.link/SEhWB Atendimento técnico rural Os serviços de Ater desempenham um papel importante no desenvolvimento da agricultura sustentável. Nos últimos anos o cenário de atuação da extensão rural se modifi cou, tornando-se mais diversifi cado com a introdução de dife- Modelos de assistência técnica4 rentes serviços consultivos (setor privado, organizações não governamentais, cooperativas e associações). Os profissionais que atuam realizando a interação entre o produtor rural e os centros de pesquisa e fomento são habilitados para atuarem na prestação de serviços de assistência e consultoria técnica, orientando diretamente produtores sobre a produção agrícola. Além disso, o extensionista deve compreender a realidade social e ambiental do produtor rural e de sua família, para poder criar estratégias e práticas coerentes com a realidade observada. Esse processo demanda atenção e tempo por parte do profissional, que deve proporcionar a integração entre os conhecimentos local e técnico através de metodologias participativas e dialógicas. O extensionista deve ser capaz de atender a demandas de nível individual e organizacional. Em nível individual, deve apresentar o domínio de conheci- mentos técnicos (produção vegetal, animal e agroindustrial) e competências para gerir os processos sociais. Já em nível organizacional o profissional deve dominar, além dos conhecimentos de nível individual, conhecimentos de gestão em áreas de recursos humanos e financeiros, administrativos e jurídicos. Além disso, a capacidade de interação, aprendizagem e comunicação são ferramentas importantes no desenvolvimento dos serviços de extensão. Dentre as suas qualificações, estes profissionais são capazes de execu- tar projetos agrícolas em diferentes etapas; planejar atividades verificando viabilidade econômica e infraestrutura; promover a organização, extensão e capacitação rural; fiscalizar a produção agrícola e desenvolver tecnologias adaptadas à mesma. A extensão rural, antes focada na produção e produtividade, agora tem um olhar sobre o produtor rural, sua realidade social e cultura. O extensionista deve trabalhar novas competências técnicas que viabilizem nova perspectiva emancipadora, onde o produtor rural também é agente de construção de co- nhecimento. Nesse ponto, o extensionista deixa de prestar assistência técnica e passa a prestar orientações técnicas. A diferença entre os dois métodos consiste na natureza difusionista da assistência técnica, enquanto a orientação técnica segue padrões participativos (MIRANDA, 2008). A assistência técnica foca em promover intervenções no sistema produtivo, ignorando os aspectos ambientais e a interação com o produtor rural na pro- dução de conhecimentos. Já a orientação técnica foca em promover mudanças técnicas, sociais e ambientais, integrando o produtor rural e capacitando-o para a tomada de decisão. A orientação técnica pode ser entendida também como assessoria técnica, por demandar um processo duradouro e contínuo. A orientação ou assessoria técnica proporcionam uma interação horizontal 5Modelos de assistência técnica entre extensionista e produtor rural, estreitando a relação de confiabilidade e aprimorando a dinâmica de trabalho (MIRANDA, 2008). Práticas educacionais de assistência técnica e extensão rural A ação extensionista é, essencialmente, uma ação pedagógica, educativa. Prá- ticas educacionais são baseadas em duas vertentes de educação: a do educando como objeto a ser moldado pelo professor (concepção tradicional e técnico burocrática), e a do educando como sujeito em processo de autoconstrução(concepção liberal e dialética). As concepções tradicional e técnico burocrática utilizam modelos individu- alistas e heteronômicos. A concepção liberal, embora preconize a autonomia, também é centrada no indivíduo. O foco no individualismo origina relações sociais verticais que, consequentemente, geram opressão e alienação. As três concepções atuam como neutras, considerando a educação um processo de desenvolvimento individual, ignorando políticas pedagógicas emancipadoras. Na concepção dialética, o educando é agente do processo transformador. Essa concepção busca a construção coletiva do conhecimento comprometido com a transformação da realidade. Demonstra a direção do conhecimento atra- vés do uso de metodologias democráticas, diálogo e reflexão crítica (BRASIL, 2010). Podemos descrever resumidamente, no Quadro 1, as características das concepções educacionais. Fonte: Adaptado de Brasil (2010). Concepção Fundamento Tradicional Aluno: objeto a ser moldado, fabricado, disciplinado. Técnico-burocrática Aluno: sujeito a ser tornado produtivo e adaptado à sociedade. Liberal Educando: a desenvolver suas potencialidades individuais para autodeterminação e autorrealização. Dialética Educando: sujeito do conhecimento construído na relação com o outro e comprometido com a transformação da realidade. Quadro 1. Características das diferentes concepções educacionais Modelos de assistência técnica6 A construção da Pedagogia de Ater é orientada baseada em quatro fun- damentos teóricos: Construtivismo (Piaget) — a teoria parte da premissa de que o conhe- cimento não é dado, nada está pronto, mas se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais. Sócio interacionismo (Vygotsky) — a teoria é baseada em entender o ser humano como imerso num contexto histórico que se desenvolve por processos de transformação. Constituição do sujeito (Castoriadis) — a educação é como um fazer social, por meio do qual a sociedade forma o indivíduo e o cidadão, fazendo a ligação entre o individual e o coletivo. O sujeito é uma criação social, que se realiza para além das escolas, no cotidiano de todas as manifestações sociais. Educação emancipadora (Paulo Freire) — a educação é um processo de emancipação e transformação do mundo, em que o papel do educador não é o de convencer o educando, mas sim de construir junto. Vygotsky, Castoriadis e Freire utilizam a metodologia dialética para fun- damentar o processo educacional, onde o educando é situado como agente estimulador do processo de autoconstrução. Cada autor oferece uma contri- buição importante para os fundamentos pedagógicos da Ater, principalmente em relação ao processo de aprendizagem dos adultos. Após anos de mudanças institucionais e metodológicas, a Ater sofreu mudanças na relação extensionista-agricultor, que até então ocorria vertical- mente, estabelecendo uma nova relação democrática e emancipadora. Nesse sentido, a mudança nas práticas dos extensionistas exigia a incorporação de concepções pedagógicas emancipadoras. O desenvolvimento da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural foi baseado em diretrizes metodológicas que se aproximam da pedagogia emancipadora. Esse novo modelo de prática pedagógica serve como instru- mento estratégico para transformar antigas práticas, que não condizem com a atualidade e com as necessidades da agricultura familiar, em novas posturas profissionais para atender aos objetivos estabelecidos na Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. O processo educativo deve se basear numa metodologia pedagógica dialética e transformadora, de senso crítico, opondo-se às metodologias impositivas, de transferência de conhecimento de forma unilateral (BRASIL, 2010). 7Modelos de assistência técnica A problematização e os desafios para a construção de uma Ater de peda- gogia emancipadora apontam para a necessidade de considerar cada um dos elementos listados a seguir. O contexto cultural do agricultor. As condições objetivas e subjetivas do agricultor. O saber popular como ponto de partida. O planejamento participativo. As possibilidades de trabalho em grupo com os agricultores familiares. A autonomia do agricultor como estratégia de empoderamento. A perspectiva da educação popular. A educação ambiental. O respeito e a valorização da diversidade. A promoção da inclusão social. A defesa dos direitos humanos e sociais. A participação política em espaços de democracia participativa. A formação continuada dos agentes de desenvolvimento rural. A prática pedagógica emancipadora de Ater requer aceitar o novo, a reflexão crítica sobre a prática, o respeito aos saberes, cultura e tradições dos produtores rurais, e o comprometimento político com a construção de um novo modelo de desenvolvimento rural. A construção de um projeto político pedagógico para a extensão rural deve ser baseada na construção de novos princípios, fundamentados em fontes teóricas coerentes com a perspectiva crítica, dialética e transformadora. A pedagogia emancipadora da Ater deve ser construída baseada nos pro- cedimentos metodológicos apresentados a seguir. O acolhimento. A definição dos princípios de convivência. A utilização de linguagens lúdicas e da tradição popular. A leitura do mundo. A problematização. O aprofundamento teórico. A construção do conhecimento A avaliação. A dimensão individual e a dimensão coletiva do processo de aprendizagem. O trabalho pedagógico na perspectiva dos círculos de cultura. Modelos de assistência técnica8 O registro e a sistematização. Para cada um destes procedimentos há uma variedade de possibilidades de desenvolvimento das práticas pedagógicas (BRASIL, 2010). Considerando a prática pedagógica emancipadora já discutida, o trabalho do extensionista deve valorizar o conhecimento prévio do produtor rural para desenvolver a reconstrução do conhecimento através de novas perspectivas. É necessário que o extensionista use de práticas educativas e, a partir delas, medeie, numa perspectiva dialética, uma autoconstrução de conhecimento pelo produtor rural. A ação do extensionista é de grande importância para o sucesso da pro- dução agrícola, assim como para o crescimento e a promoção de um produtor rural autônomo, que se torna capaz de avaliar e decidir sobre o seu processo produtivo. Leia mais sobre educação e comunicação na extensão rural em Extensão ou Comuni- cação?, de Paulo Freire (1975). BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Fundamentos teóricos, orientações e procedimentos metodológicos para a construção de uma pedagogia de ATER. Brasília, DF: MDA: SAF, 2010. Disponível em: http://www.emater.pr.gov.br/arquivos/File/Biblio- teca_Virtual/Publicacoes_Tecnicas/Metodologia/Fundamentos_pedagogia_ATER. pdf. Acesso em: 30 out. 2019. CAPORAL, F. R. A extensão rural e os limites à prática dos extensionistas do serviço público. 1991. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) — Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1991. Disponível em: http://www.emater.tche.br/site/arquivos_pdf/ teses/Dis_Francisco_Caporal.pdf. Acesso em: 30 out. 2019. DARNHOFER, I.; GIBBON, D.; DEDIEU, B. (ed.). Farming systems research into the 21st Century: the new dynamic. Netherlands: Springer, 2012. 9Modelos de assistência técnica EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Marco referencial em agroecologia. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2006. Disponível em: https://www. alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/107364/4/Marcoreferencial.pdf. Acesso em: 30 out. 2019. FEIDEN, A.; BORSATO, A. V. Como eu começo a mudar para sistemas agroecológicos? Corumbá, MS: Embrapa Pantanal, 2011. Disponível em: https://qrgo.page.link/SEhWB. Acesso em: 30 out. 2019. FRANCIS, C.; HILDEBRAND, P. E. Farming systems research: extension and the concepts of sustainability.Agronomy & Horticulture: Faculty Publications, Lincoln, n. 558, p. 1–9, 1989. Disponível em: https://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=15 58&context=agronomyfacpub. Acesso em: 30 out. 2019. FREIRE, P. Extensão ou comunicação? 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975. GILBERT, E. H.; NORMAN, D. W.; WINCH, F. E. Farming systems research: a critical appraisal. MSU Rural Development Papers, Michigan, n. 6, 1980. Disponível em: http://agris.fao.org/ agris-search/search.do?recordID=US8136639. Acesso em: 30 out. 2019. LESSA, A. S. N. Agroecologia, participação social e desenvolvimento sustentável. Revista de Políticas Publicas, São Luís, v. 4, n. 1.2., p. 51–70, 2000. Disponível em: http://www. periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/3694/1704. Acesso em: 30 out. 2019. MIRANDA, J. R. da S. A assessoria técnica, social e ambiental à Reforma Agrária (ATES): a Copserviços no sudeste do Pará. 2008. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) — Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2008. Disponível em: http://reformaagra- riaemdados.org.br/sites/default/files/2008%20Jaime%20Rodrigo%20da%20Silva%20 Miranda.pdf. Acesso em: 30 out. 2019. Modelos de assistência técnica10 DICA DO PROFESSOR Além das instituições federais voltadas aos trabalhos de assistência técnica e extensão rural, principalmente a EMBRAPA, existem instituições estaduais que apresentam importante papel no que diz respeito ao desenvolvimento das atividades rurais nas regiões em que atuam, e contribuem para a melhoria da qualidade de vida do produtor e da sua família. Nesse sentido, vale ressaltar que essas instituições trabalham tanto com a pesquisa quanto com a extensão dos conhecimentos relacionados ao setor rural. É fundamental conhecer o trabalho das instituições estaduais e a sua importância para as regiões em que estão inseridas, e conhecer também as atividades em que atuam. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Os extensionistas têm como papel fundamental levar ao conhecimento dos produtores rurais as novas tecnologias, metodologias e pesquisas com foco no desenvolvimento rural, dando a eles a possibilidade de optar pela adesão ou não desses novos conhecimentos. Com base na transferência de conhecimentos para os produtores rurais, assinale a alternativa correta: A) À medida que foram sendo desenvolvidas novas formas de transferência de tecnologia, as metodologias participativas foram perdendo espaço. B) A participação do produtor no processo de desenvolvimento de tecnologias auxilia na criação de tecnologias que sejam adequadas à sua realidade. C) A abordagem Farming System Research atua com o diálogo participativo na transmissão de conhecimento com foco na relação entre os diferentes agentes. D) Duas metodologias que têm sido utilizadas e que seguem a mesma linha da abordagem convencional são: Farming System Research e o modelo Participativo e Agroecológico. E) A abordagem Participativa e Agroecológica apresenta três características principais: pensamento sistêmico, interdisciplinaridade e abordagem articulatória. 2) Com o intuito de reunir os temas principais relacionados à agroecologia, a EMBRAPA lançou no ano de 2006 o Marco Referencial da Agroecologia. Além do já citado, trata-se também de diferentes estratégias metodológicas. A respeito desse assunto, analise as afirmativas a seguir: I - Utilizando a metodologia de redes de referência, um grupo de extensionistas busca desenvolver tecnologias para a horticultura de uma comunidade rural, com foco na implementação de tecnologias que estejam de acordo com as necessidades dos produtores rurais. II - Conhecendo as suas próprias necessidades na produção, um grupo de produtores de morango decidiu se unir para demonstrar aos extensionistas da região pontos que poderiam ser melhorados com a introdução de tecnologias, o que pode ser caracterizado como ensaios de síntese. III - Extensionistas e produtores rurais de pimentão resolveram realizar reuniões semanais com o intuito de buscar soluções para uma praga que tem devastado a produção. Esse tipo de metodologia pode ser caracterizado como pesquisa participativa. Assinale a alternativa correta: A) I e II estão corretas. B) Somente a I está correta. C) II e III estão corretas. D) I e III estão corretas. E) Somente a II está correta. 3) Os fundamentos pedagógicos são aspectos essenciais às práticas extensionistas, uma vez que é preciso conhecer e utilizar-se da pedagogia para realizar a transferência de conhecimento para os produtores rurais. Com base nas práticas educacionais de assistência técnica e extensão rural, assinale a alternativa correta: A) Na concepção educacional dialética, o educando é aquele que tem um conhecimento construído e está comprometido com a transformação da realidade. B) A concepção educacional liberal é aquela em que o educando é considerado o objetivo a ser moldado e disciplinado. C) Na concepção educacional técnico-burocrática, o aluno é incentivado a desenvolver as suas potencialidades de forma individual. D) Na concepção educacional tradicional, o aluno é incentivado a se tornar produtivo e se adaptar à sociedade. E) Na concepção educacional liberal, o educando é aquele que tem um conhecimento construído e está comprometido com a transformação da realidade. Os fundamentos pedagógicos dentro da assistência técnica e extensão rural são fundamentais para o desenvolvimento de estratégias adequadas aos produtores rurais. No que diz respeito aos fundamentos pedagógicos, são considerados quatro e foram desenvolvidos por diferentes autores. A respeito do assunto em questão, verifique se são falsas ou verdadeiras as afirmativas a seguir: I - No fundamento da Constituição do sujeito, de Castoriadis, o sujeito é considerado 4) uma criação social, na qual a educação forma o indivíduo e o cidadão, realizando a ligação entre o individual e o coletivo. II - No fundamento da Educação emancipadora de Paulo Freire, a educação é considerada como um processo de transformação do mundo e de emancipação, no qual o papel do educador é o de construir junto com o educando. III - No fundamento do Sociointeracionismo de Piaget, parte-se da ideia de que o conhecimento pode ser construído, e está em constante desenvolvimento, e se constitui de forma individual no ser. VI - No fundamento do Construtivismo de Vygotsky, parte-se da premissa de que é necessário entender o ser humano, excluindo-se o seu contexto histórico, e que ele se desenvolve por meio de transformações individuais. Assinale a alternativa que traz a sequência correta de cima para baixo: A) V – V – F – V. B) V – F – V – F. C) F – V – F – V. D) V – F – V – V. E) V – V – F – F. 5) Baseada em diretrizes metodológicas que tomam como base a pedagogia emancipadora, a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural é um importante documento e deve ser tomado como base para o desenvolvimento de projetos que visam ao avanço das atividades no campo. Nesse contexto, alguns elementos devem ser considerados. Assinale a alternativa que contempla elementos que devem ser levados em consideração na problematização e nos desafios para a construção da ATER: A) A construção de um planejamento participativo; buscar a promoção da inclusão social; e utilizar o saber popular como ponto de partida. B) Utilizar os saberes individuais; apropriar-se da educação ambiental; e evitar a autonomia do produtor para o empoderamento. C) Considerar apenas as condições objetivas do produtor; realizar trabalhos individuais; e respeitar e valorizar a diversidade. D) Buscar a promoção da inclusão social; realizar formação continuada para os agentes de ATER; e desconsiderar o saber popular. E) Considerar o contexto cultural do produtor; evitar trabalhos em grupo com os agricultores; e utilizar o planejamento participativo. NA PRÁTICA O desenvolvimento dotrabalho de assistência técnica para acompanhamento das propriedades pode ser primordial para a continuidade de determinadas produções em algumas regiões. O papel do técnico é auxiliar no desenvolvimento das atividades e permitir que os seus conhecimentos possam trazer benefícios à produção. Vale ressaltar que as estratégias a serem adotadas como forma de acompanhamento das propriedades devem estar de acordo com a realidade dessas e permitir o seu desenvolvimento. Por isso, é fundamental que o técnico extensionista realize um diagnóstico adequado e busque a metodologia que melhor apresentará benefícios aos produtores. Na Prática, você verá um exemplo de como a assistência técnica pode realizar um bom trabalho junto aos produtores e favorecê-los. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Assistência técnica ajuda pequenos agricultores a gerar mais lucros Neste vídeo, você verá um exemplo da importância da assistência técnica para pequenos produtores rurais. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Programa de assistência técnica e gerencial auxilia produtores rurais da região Neste vídeo, você poderá observar um trabalho de assistência técnica na prática. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Como levar assistência técnica e tecnologias de agropecuária de baixo carbono ao produtor rural Neste texto, você lerá uma notícia que aborda como levar assistência técnica e tecnologias de agropecuária de baixo carbono ao produtor rural. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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