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Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UFSC 2021 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Expediente Ficha Técnica Ficha Catalográfica GOVERNO FEDERAL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) Departamento de Promoção da Saúde (DEPROS) Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN) REVISÃO TÉCNICA GERAL Gisele Ane Bortolini ELABORAÇÃO TÉCNICA GERAL Ana Carolina Feldenheimer da Silva ELABORAÇÃO DE TEXTO Alessandra Silva Dias de Oliveira Alessandra da Rocha Pinheiro Mulder Ana Carolina Feldenheimer da Silva Ana Maria Cavalcante de Lima Ariene Silva do Carmo Cristiane Marques Seixas Gabriela Vasconcellos de Barros Vianna Paula dos Santos Leffa COLABORAÇÃO Ana Maria Spaniol, Daniela Schneid Schuh, Eduardo Augusto Fernandes Nilson, Elisa Mendonça, Fabio Fortunato Brasil de Carvalho, Fabíola Suano, Janini Selva Ginani, Jonas Augusto Cardoso da Silveira, Luisete Moraes Bandeira, Márcia Regina Vitolo, Maria Edna de Melo, Mariana Pôrto Zambon, Mariana Russo Voydeville, Maria da Guia de Oliveira, Maria Paula de Albuquerque, Marilia Barreto Pessoa Lima, Milena Serenini, Myrian Coelho Cunha da Cruz, Paloma Abelin Saldanha Marinho, Paula Fabricio Sandreschi, Priscila Carvalho, Rafaella da Costa Santin de Andrade, Renara Guedes Araújo, Sara Araújo da Silva , Sofia Wolker Manta. ORGANIZAÇÃO DO CONTEÚDO PARA O CURSO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor: Ubaldo Cesar Balthazar Vice-Reitora: Cátia Regina Silva de Carvalho Pinto Pró-Reitor de Pós-Graduação: Cristiane Derani Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos Centro de Ciências da Saúde Diretor: Celso Spada Vice-Diretor: Fabrício de Souza Neves Departamento de Saúde Pública Chefe do Departamento: Rodrigo Otávio Moretti-Pires Subchefe do Departamento: Sheila Rubia Lindner SUBCOORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO Sheila Rubia Lindner COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DO CURSO Elza Berger Salema Coelho Thays Berger Conceição Dalvan Antônio de Campos REVISÃO E ADAPTAÇÃO DO CONTEÚDO Deise Warmling TRILHA DE APRENDIZAGEM Carolina Abreu Henn de Araújo EQUIPE EXECUTIVA Gabriel Donadio Costa Gisélida Garcia da Silva Vieira Eurizon Oliveira Neto Zeno Carlos Tesser Junior ASSESSORIA PEDAGÓGICA Márcia Regina Luz IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO Pedro Paulo Delpino Bernardes DIAGRAMAÇÃO/ ESQUEMÁTICOS/ INFOGRÁFICOS Alessandra Bosco Nicole Alessandra Geller FICHA CATALOGRÁFICA Rosiane Maria DESENVOLVEDOR WEB Paulo Alexsander Godoi Lefol Jean Marcos da Silva ESQUEMÁTICOS/ INFOGRÁFICOS WEB Nicole Alessandra Geller Naiane Cristina Salvi ELABORAÇÃO QUESTÕES Soraya Medeiros Falqueiro FONTE PARA FOTOS E ILUSTRAÇÕES Adobe Stock, Rawpixel Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Sumário APRESENTAÇÃO DO CURSO 5 OBESIDADE: MAGNITUDE, PRINCIPAIS CAUSAS E REPERCUSSÕES EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 8 1.1 Principais causas da obesidade 11 1.2 Repercussões da obesidade 12 DIAGNÓSTICO DO SOBREPESO E DA OBESIDADE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 21 2.1 Classificação do estado nutricional de acordo com o IMC por idade 23 2.2 Crescimento e maturação sexual na adolescência 29 ORGANIZANDO O CUIDADO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM OBESIDADE NA APS 32 3.1 Fluxo de organização do cuidado de crianças e adolescentes com obesidade 34 3.2 Identificação das crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade 36 3.3 Abordagem inicial e acolhimento para o cuidado 37 3.4 Avaliação inicial e estratificação de risco de crianças e adolescentes com obesidade 40 ORIENTAÇÕES PARA ABORDAGEM DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO E COMORBIDADES OU OBESIDADE 48 4.1 Orientações para a abordagem a partir do estado nutricional e comorbidades 50 4.2 Estigma e discriminação no cuidado de crianças e adolescentes com obesidade 54 4.3 Pais e cuidadores no cuidado de crianças e adolescentes com obesidade 56 4.4 Quando encaminhar a criança ou o adolescente com obesidade para a atenção especializada? 58 CUIDADO MULTICOMPONENTE: AVALIAÇÃO, RECOMENDAÇÕES E COMO COLOCAR EM PRÁTICA 61 5.1 Alimentação 63 5.1.1 Classificação dos alimentos segundo o Guia Alimentar 64 5.1.2 Avaliação e recomendações para alimentação no cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade 68 5.2 Atividade física 88 5.2.1 Recomendações para a prática de atividade física no cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade 88 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde 5.2.2 Avaliação e estabelecimento de metas para prática de atividade física da criança e do adolescente 91 5.2.3 Recomendações para a inclusão de atividade física no dia a dia de crianças maiores e adolescentes 96 5.3 Comportamento sedentário 99 5.3.1 Recomendações para redução do comportamento sedentário no cuidado de crianças e adolescentes com obesidade 100 5.3.2 Avaliação do comportamento sedentário da criança e do adolescente 101 5.3.3 Recomendações para o estímulo de brincadeiras e redução do tempo de tela em crianças e adolescentes 103 5.4. Sono 105 5.4.1 Recomendações para o sono no cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade 105 5.4.2 Recomendações para hábitos saudáveis relacionados ao sono 107 5.5 Saúde mental 109 5.5.1. Saúde mental de crianças e adolescentes com obesidade 109 5.5.2 Identificação de transtornos mentais em crianças e adolescentes com obesidade 112 5.5.3 Abordagem para a promoção e proteção da saúde mental de crianças e adolescentes com obesidade 114 5.6 Avaliação e monitoramento do cuidado multicomponente 117 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS PARA AUXILIAR NA MUDANÇADE COMPORTAMENTO 119 6.1 Educação alimentar e nutricional 121 6.2 Entrevista motivacional 123 6.3 Terapia cognitivo-comportamental 125 ENCERRAMENTO DO CURSO 129 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 130 4 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Apresentação do Curso Apresentação do Curso Olá, Seja bem-vindo ao Curso “Cuida- do da criança e do adolescente com sobrepeso e obesidade na Atenção Primária à Saúde”. Este curso foi construído a partir do conteúdo do “Instrutivo para o Cuidado da crian- ça e do adolescente com sobrepeso e obesidade no âmbito da APS”, pu- blicado em 2021 pelo Ministério da Saúde. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Atenção Primária à Saúde (APS) deve ser porta de entrada para acolhimento e cuidado individual e coletivo para crianças e adolescen- tes, sendo um espaço para as ações de promoção da saúde e prevenção de sobrepeso e obesidade, realizando avaliação contínua e sistemática do perfil nutricional de crianças e adoles- centes e garantindo a atenção integral àqueles identificados com sobrepeso e obesidade. O cuidado da obesidade se inicia na prevenção dos casos e na promoção da alimentação adequada e saudável desde a gestação até o fim da vida. A APS tem um papel funda- mental tanto na prevenção como no cuidado dos casos já existentes no território. Esse curso é destinado a apoiar as equipes de saúde a ofertar o cuidado para crianças e adolescentes que já foram diagnosticados com sobrepeso 5 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Apresentação do Curso e obesidade segundo o Índice de Mas- sa Corporal (IMC) por idade. Sempre é importante lembrar que as recomen- dações para uma alimentação saudá- vel, aliadas à uma vida mais ativa, cui- dados com o sono e a saúde mental devem ser ofertadas a todas às crian- ças e adolescentes que frequentam as unidades de saúde, juntamente com o monitoramentodo crescimento e de- senvolvimento, independente do esta- do nutricional. Para apoiar profissionais de saúde e equipes de APS no planejamento das intervenções para cuidado adequado de crianças e adolescentes com ex- cesso de peso (que compreende o so- brepeso e a obesidade) e garantia do seu pleno crescimento e desenvolvi- mento, serão apresentadas a partir de agora as orientações para diagnóstico da situação e formas práticas de cui- dado das condições de alimentação, atividade física, comportamento se- dentário, sono e saúde mental. E, para apoiar em todas as intervenções, des- crevemos as principais estratégias comportamentais que podem ser utili- zadas pelos profissionais de saúde no cuidado da criança e do adolescente com obesidade. Desejamos a você um excelente curso! 6 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Objetivos de aprendizagem do curso Ao final deste curso, você deverá ser capaz de: • Ofertar o cuidado à crianças e adolescentes com sobre- peso e obesidade no âmbito da Atenção Primária à Saúde. Carga horária de estudo recomendada Para estudar e apreender todas as informações e concei- tos abordados, bem como trilhar todo o processo ativo de aprendizagem, estabelecemos uma carga horária de 30 ho- ras para este curso. 7 UN 1 Obesidade: magnitude, principais causas e repercussões em crianças e adolescentes Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a obesida- de como condição crônica multifatorial caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, acarretando preju- ízos à saúde (WHO, 2020). A prevalência de obesidade tem aumentado de maneira epidêmica entre crianças e adoles- centes nas últimas quatro décadas e, atualmente, represen- ta um grande problema de saúde pública no mundo. Globalmente, cerca de 40 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos apresentam sobrepeso ou obesidade. No Brasil, o excesso de peso também tem aumentado em todas as faixas etárias nas últimas décadas. Ao anali- sar a tendência temporal do excesso de peso entre os anos 9 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 de 1989, 1996 e 2006, foi observado que houve um aumento de 160% na prevalência de crianças menores de 5 anos com excesso de peso, com um aumento médio de 9,4% ao ano (SIL- VEIRA et al, 2013). A partir de dados de 2006, a Pesquisa Nacional de Demo- grafia e Saúde/2006 (BRASIL, 2009) mostrou uma prevalência de excesso de peso em menores de cinco anos igual a 7,3%. No grupo de crianças com idade entre 5 e 9 anos, a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008/2009 (IBGE, 2010) identificou que, aproxi- madamente, uma em cada três crian- ças apresentava excesso de peso. Essa mesma pesquisa evidenciou que, nos 34 anos decorridos de 1974- 1975 a 2008-2009, houve incremen- to significativo das prevalências de obesidade de 2,9% para 16,6% entre meninos, e de 1,8% para 11,8% entre meninas de 5 a 9 anos de idade. En- tre adolescentes, a prevalência de ex- cesso de peso aumentou em seis ve- zes no sexo masculino (de 3,7% para 21,7%) e em quase três vezes no sexo feminino (de 7,6% para 19,4%). 1 Dessas, apresentavam obesidade: 7,4% dos menores de 5 anos 15,9% dos entre 5 e 9 anos 15,9% dos menores de 5 anos 31,8% das crianças entre 5 e 9 anos Em 2020, das crianças acompa- nhadas na Atenção Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde, tinham excesso de peso Entre adolescentes, a prevalência de excesso de peso aumentou: 6X mais de 3,7% para 21,7% 3X mais de 7,6% para 19,4% 10 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 31,9% tinham excesso de peso Quanto aos adolescentes acompanhados na APS 12,0% tinham obesidade Genéticos Individuais Comportamentais Ambientais Familiar Comunitário Escolar Social e político Atuam em múltiplos contextos Os genes apresentam papel relevante na obesidade, em especial na infância. Crianças com ambos os pais com obe- sidade, apresentam cerca de dez vezes mais chances de de- senvolverem obesidade quando comparadas à crianças com pais que apresentam peso adequado (WHITAKER, 2010). A base genética dessa associação refere-se a atuação do hipotálamo sobre o controle do apetite e o acúmulo de gor- dura. Os fatores genéticos podem levar a um aumento no risco de obesidade em crianças, por meio do que chamamos de epigenética. Considerando todas as crianças brasileiras menores de dez anos, estima-se que 6,4 milhões tinham excesso de peso e 3,1 milhões tinham obesidade. Ao considerar todos os adolescentes brasileiros, estimou-se que 11,0 milhões ti- nham excesso de peso e 4,1 milhões tinham obesidade. 1.1 Principais causas da obesidade A obesidade entre crianças e adolescentes é resultado de uma série complexa de fatores: 11 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 Acompanhe no infográfico a seguir alguns fatores comportamentais e in- dividuais relacionados à obesidade (DEAL et al.,2020). Dentre os fatores ambientais, cha- mamos de ambiente obesogênico aquele promotor ou facilitador de es- colhas alimentares não saudáveis e de comportamentos sedentários, os quais dificultam a adoção e manuten- ção de hábitos alimentares saudáveis e a prática regular de atividade física. Fatores individuais e comportamentais associados à obesidade 1 2 3 A ausência ou curta duração do aleitamento materno; O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados densamente calóricos, ricos em gorduras, açúcares e sódio; A inatividade física, aumento do comportamento sedentá- rio e sono inadequado; O problema se associa às políticas sociais e econômicas nas áreas de Sabe-se que o principal elemento para o aumento da prevalência da obesidade nas populações é o am- biente cada vez mais obesogênico, e não as mutações genéticas. agricultura, transporte, planejamento urbano, meio ambiente, processamen- to, distribuição e comercialização de alimentos e não apenas ao comporta- mento das crianças, de adolescentes e de seus pais e responsáveis. Para o cuidado da obesidade, além do apoio aos indivíduos por meio de abordagens educativas/comporta- mentais, é fundamental a adoção de políticas intersetoriais para reverter a natureza obesogênica dos locais onde as crianças, os adolescentes e suas fa- mílias vivem (SWINBURN et al., 2019). 1.2 Repercussões da obesidade A obesidade é um problema grave, 12 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 que ocasiona repercussões deletérias importantes à vida de crianças, ado- lescentes, jovens e adultos e sobre- carrega o SUS com altos custos rela- cionados ao tratamento do agravo e de suas complicações. A obesidade infantil está associada a uma maior chance de morte prema- tura, manutenção da obesidade e in- capacidade na idade adulta. Mas, além de aumentar os riscos futuros, crianças e adolescentes com obesidade podem apresentar dificul- dades respiratórias, aumento do ris- co de fraturas e outros agravos ósteo articulares, hipertensão arterial sis- têmica, marcadores precoces de do- enças cardiovasculares, resistência à insulina, câncer e efeitos psicológicos, como baixa autoestima, isolamento social e transtornos alimentares, den- tre outros (WHO, 2020). Deste modo, as repercussões da obesidade acontecem em toda a fase de crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente e podem per- manecer a curto, médio e longo prazo. As principais consequências da obe- sidade em crianças e adolescentes ao longo da vida são de diversas ordens, englobando fatores psicológicos e bio- lógicos. Conheçaa seguir alguns des- tes fatores. 13 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 Consequências da obesidade em crianças e adolescentes ao longo da vida: Psicológico • Transtorno de déficit de atenção • Isolamento social • Bullying • Baixa autoestima • Autoimagem negativa • Transtornos alimentares Pulmonar • Asma • Apneia obstrutiva do sono Neurológico • Disfunção cognitiva • Desempenho escolar reduzido • Pseudotumor cerebral Cardiovascular • Hipertensão arterial • Hipertrofia ventricular esquerda • Diminuição da contratilidade cardíaca Dislipidemia • Aterosclerose prematura, doenças isquêmicas do coração • Fibrilação atrial • Insuficiência cardíaca Pulmonar • Asma • Apneia obstrutiva do sono Neurológico • Disfunção cognitiva • Desempenho escolar reduzido • Pseudotumor cerebral Cardiovascular • Hipertensão arterial • Hipertrofia ventricular esquerda • Diminuição da contratilidade cardíaca Dislipidemia • Aterosclerose prematura, doenças isquêmicas do coração • Fibrilação atrial • Insuficiência cardíaca Pulmonar • Asma • Apneia obstrutiva do sono Neurológico • Disfunção cognitiva • Desempenho escolar reduzido • Pseudotumor cerebral Cardiovascular • Hipertensão arterial • Hipertrofia ventricular esquerda • Diminuição da contratilidade cardíaca Dislipidemia • Aterosclerose prematura, doenças isquêmicas do coração • Fibrilação atrial • Insuficiência cardíaca Reprodutivo • Síndrome do ovário policístico • Infertilidade Musculoesquelético • Epifisiólise da cabeça do fêmur • Doença de Blount • Pé chato • Fraturas dos membros inferiores • Doença articular degenerativa/artrite • Gota Gastrointestinal • Doença hepática gordurosa não alcoólica • Cálculos biliares • Refluxo gastroesofágico • Constipação intestinal • Síndrome das eliminações Reprodutivo • Síndrome do ovário policístico • Infertilidade Musculoesquelético • Epifisiólise da cabeça do fêmur • Doença de Blount • Pé chato • Fraturas dos membros inferiores • Doença articular degenerativa/artrite • Gota Gastrointestinal • Doença hepática gordurosa não alcoólica • Cálculos biliares • Refluxo gastroesofágico • Constipação intestinal • Síndrome das eliminações Reprodutivo • Síndrome do ovário policístico • Infertilidade Musculoesquelético • Epifisiólise da cabeça do fêmur • Doença de Blount • Pé chato • Fraturas dos membros inferiores • Doença articular degenerativa/artrite • Gota Gastrointestinal • Doença hepática gordurosa não alcoólica • Cálculos biliares • Refluxo gastroesofágico • Constipação intestinal • Síndrome das eliminações Pele • Estrias • Acanthosis nigricans • Furunculose • Infecção por maceração • Dermatite atópica Endócrina • Pubarca precoce (antecipação da puberdade) • Resistência à insulina • Diabetes mellitus tipo 2 • Ginecomastia (meninos) Câncer • Meningioma, tireóide, mama (pós-menopausa), esôfago, fígado, vesícula biliar, pâncreas, rim, útero, ovário, mieloma múltiplo e colorretal Pele • Estrias • Acanthosis nigricans • Furunculose • Infecção por maceração • Dermatite atópica Endócrina • Pubarca precoce (antecipação da puberdade) • Resistência à insulina • Diabetes mellitus tipo 2 • Ginecomastia (meninos) Câncer • Meningioma, tireóide, mama (pós-menopausa), esôfago, fígado, vesícula biliar, pâncreas, rim, útero, ovário, mieloma múltiplo e colorretal 14 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 Renal • Doença renal crônica • Urolitíase Considerando os múltiplos efeitos do sobrepeso e obesidade sobre as crianças e adolescentes, que inclusive podem se estender ao longo da vida, é fundamental que os profissionais de saúde estejam atentos à identifica- ção e abordagem do excesso de peso, para que possam atuar na prevenção das suas consequências. Conforme estamos estudando, o sobrepeso e a obesidade são de ori- gem multifatorial e complexa, exigindo das equipes de saúde intervenções que disponham de uma abordagem multi- profissional e intersetorial. O excesso de peso, sobrepeso e obe- sidade, em crianças e adolescentes é mediado por fatores que podem ser di- vididos em distais, mediais e proximais. Acompanhe no infográfico a seguir. Pele • Estrias • Acanthosis nigricans • Furunculose • Infecção por maceração • Dermatite atópica Endócrina • Pubarca precoce (antecipação da puberdade) • Resistência à insulina • Diabetes mellitus tipo 2 • Ginecomastia (meninos) Câncer • Meningioma, tireóide, mama (pós-menopausa), esôfago, fígado, vesícula biliar, pâncreas, rim, útero, ovário, mieloma múltiplo e colorretal 15 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 DISTAIS: Político/ Estrutural Guias alimentares Rotulagem dos alimentos Melhoria do perfil dos alimentos ultraprocessados (AUP) Regulação da publicidade AUP Políticas tributárias sobre AUP Restição de vendas de AUP nas escolas Materiais de apoio para as equipes de saúde Diretrizes e programas do Ministério da Saúde Restrição do uso de agrotóxicos Políticas públicas Saúde Lazer Educação Cultura Abastecimento Políticas de proteção à maternidade/paternidade (licen- ça, horário especial reduzido para pais de < de 2 anos) Economia Habitação Urbanismo Transportes Esportes MEDIAIS: Ambiente (escola, serviço de saúde, pares etc) Transporte Poluição Espaços públicos de lazer e para prática de atividade física (AF) Influencia por pares Violência Alimentos Condições Socioeconômicas Cultura Publicidade e mídias Atenção à saúde PROXIMAIS: Família/ Moradia/ Escola Carga genética Práticas alimentares Atividade física Comportamento sedentário Sono Saúde mental Antecedentes perinatais Escola Violência 16 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 Carga Genética Antecedentes Perinatais Gestação - ganho de peso materno; Tipo de parto; Prematuridade; Déficit de crescimento Práticas Alimentares Aleitamento materno; Introdução alimentar; Qualidade; Quantida- de (excesso de calo- rias); Variedade/mo- notonia alimentar; Consumo de AUP; Comportamento alimentar; Local de refeição; Estratégias de alimentação infan- til (restrição/recom- pensa) Atividade Física Domínio da atividade (AF) (lazer, deslocamento, programada); Intensidade da AF (leve, moderada, vigorosa); Tempo de AF Comportamento Sedentário Tempo de atividades sedentária (AS); Tipo de AS (telas) Escola Educação Alimenta e Nutricional na escola; Tempo de permanência na escola; Currículo; Prática de atividade física; Cantina escolar; Cardápio da alimentação escolar; Saúde na escola Saúde Mental Transtorno Mental Comum - estresse, ansiedade, depressão; Automutilação; Gênero; Insatisfação corpo- ral; Dificuldade na capaci- dade de gerenciar proces- sos de cognição/comporta- mento; Consumo de álcool Violência Entre parceiros (pais ou responsáveis); Contra a criança/ adolescente; Bullyng entre pares; Entre parceiros íntimos (no namoro) Sono Horas de sono; Qualidade do sono; Condições físicas do local de dormir PROXIMAIS MICROSSISTEMA: Família/Moradia/EscolaNo conjunto de fatores proximais, no microssistema, são contemplados os aspectos genéticos e antecedentes pe- rinatais, bem como o comportamento alimentar, a prática de atividade física e o comportamento sedentário, fatores re- lacionados à saúde mental e sono, bem como o fomento da alimentação saudá- vel e atividade física na escola, além da exposição à violência, seja ela presen- ciada ou sofrida no âmbito doméstico ou mesmo externa, como no caso do bullyng. Conheça os fatores proximais no infográfico a seguir. 17 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepesoe Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 Nos fatores mediais, que pertencem ao mesossistema, estão incluídas as condições socioeconômicas da família, os aspectos culturais, a disponibilidade e acesso aos alimentos, os cuidados com a alimentação da infância desde o nascimento, a disponibilidade de ser- viços de atenção à saúde com ações voltadas para o excesso de peso, além da influência das mídias e ambiente em que vivem, conforme a figura ao lado. Carga Genética Socioeconômico Renda Familiar; Escolaridade dos pais; Vizinhança/local de moradia urbano x rural; Condição de trabalho dos pais Cultura Valorização da criança gordinha; Valores familiares e da comunidade; Cultura body positive Alimentos Disponibilidade; Acesso aos alimen- tos; Preço; Oferta Transporte Poluição Espaços públicos de lazer e para prática de AF (presença de espaços, estrutura física adequada, segurança) MEDIAIS MESOSSISTEMA: Ambiente (Escola /Serviço de saúde, pares...) Influência por pares Publicidade e mídias Propaganda; Internet; Televisão; Escola; Eventos culturais Violência Na comunidade Acompanhamentos dos cuidados na infância Aleitamento materno; Alimentação complementar; Acompanhamento do crescimento e desenvolvimen- to; Afecções comuns da infância Atenção à saúde Serviço de saúde sensível à obesi- dade; Vigilância alimentar e nutri- cional; Ações de cuidado (preven- ção, promoção, atenção e reabili- tação com foco na obesidade) 18 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 Dentre os fatores distais, situados no exossistema, destacam-se políti- cas, programas e ações públicas que tenham como objetivo promover am- bientes saudáveis, por meio do incen- tivo à alimentação adequada e saudá- vel e à prática de atividade física. Tais iniciativas estão relacionadas à regu- lação da publicidade abusiva, contro- le de agrotóxicos e demais aditivos alimentares e à venda de alimentos ultraprocessados, além das políticas sociais estruturantes e intersetoriais que envolvem educação, lazer, abas- tecimento, transportes e a economia, de acordo com a figura ao lado. Interlocução entre políticas para o enfrentamento do excesso de peso Guias alimentares Rotulagem dos alimentos Melhoria do perfil dos AUP, rotulagem frontal Regulação da publicidade de AUP Políticas tributárias sobre AUP, incentivo fiscal para alimentos saudáveis Restrição de venda de AUP nas escolas Restrição do uso de agrotóxicos Políticas de proteção à maternidade/paternidade (licença, horário especial reduzido para pais de <2 anos) Materiais de apoio para as equipes de saúde Diretrizes e programas do Ministério da Saúde Política de saúde Política de lazer Política educacional Política de cultura Política de abastecimento Política econômica Política habitacional Política de urbanismo Política de esportes Política de transportes DISTAL EXOSSISTEMA: Político/Estrutural Agora que você já conheceu os principais aspectos sobre a magnitude, causas e repercussões do excesso de peso para a saúde das crianças e adolescentes. 19 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 1 Considerando a relevância e mag- nitude do sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes, foi publicado o Instrutivo para o Cuidado da crian- ça e do adolescente com sobrepeso e obesidade no âmbito da APS. O ma- terial é destinado a apoiar e qualificar o trabalho desenvolvido pelas equi- pes de saúde na oferta do cuidado para crianças e adolescentes que fo- ramdiagnosticados com sobrepeso e obesidade segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) por idade. Apresen- ta recomendações de cuidado para crianças e adolescentes baseadas em cinco grandes estratégias focadas na alimentação saudável, aliada a uma vida mais ativa à redução do tempo em atividades sedentárias, aos cui- dados com o sono e à saúde mental. As recomendações aqui apresentadas podem beneficiar todas as crianças e os adolescentes que frequentam as unidades de saúde, assim como o monitoramento do crescimento e de- senvolvimento, independentemente do estado nutricional. Para conhecer o instrutivo, acesse o link: https://aps.saude.gov.br/bi- blioteca/visualizar/MjA1OA== Vamos estudar a seguir, como deve ser feito o diagnóstico do excesso de peso nesta faixa etária. 20 https://aps.saude.gov.br/biblioteca/visualizar/MjA1OA== https://aps.saude.gov.br/biblioteca/visualizar/MjA1OA== UN 2 Diagnóstico do sobrepeso e da obesidade em crianças e adolescentes UN 2UN 2 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde O acompanhamento do estado nutricional de crianças e adolescentes é fundamental tanto para o diagnóstico como para a prevenção do sobrepeso e obesidade. As medidas do perímetro cefálico (até dois anos) as cur- vas de crescimento e de ganho de peso, disponíveis nas ca- dernetas da criança e do adolescente, são os instrumentos que devem ser utilizados para a classificação do estado nu- tricional e do acompanhamento da evolução tanto do peso como da altura e o imc-para-idade. Perímetro Cefálico Peso/Altura Caderneta da criança e do adolescente No acompanhamento longitudinal nas atividades de rotina do cuidado da saúde é importante dar atenção não só à mudan- 22 UN 2UN 2 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Acesse as versões atuais da Cader- neta de Saúde da Criança nos links: Meninos https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/caderneta_crianca_ menino_2ed.pdf Meninas https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/caderneta_crianca_ menina_2ed.pdf ça da classificação do estado nutricio- nal, mas também à velocidade do ganho de peso/IMC (elevação/inclinação da curva) mesmo antes de atingir a classi- ficação de sobrepeso ou obesidade. 2.1 Classificação do estado nutricional de acordo com o IMC por idade O diagnóstico de obesidade na in- fância pode ser realizado utilizando as medidas de peso, altura, data de nas- cimento e sexo. A partir desses dados, calcula-se o IMC (peso/altura²) e, em seguida, realiza-se a classificação do estado nutricional da criança ou adoles- cente, de acordo com a idade e o sexo. No Brasil, a classificação é realiza- da segundo as Curvas de Crescimento Para o acompanhando do cresci- mento de crianças e adolescentes nas curvas, é importante compreender como funcionam os gráficos: da OMS, publicadas em 2006 e 2007, e que estão disponíveis na caderneta da criança e do adolescente. • A linha verde corresponde a um pa- drão ou escore Z igual a 0. A curva de crescimento de uma criança que está crescendo adequadamente ten- de a seguir um traçado paralelo à li- nha verde, acima ou abaixo dela, que pode estar situado entre as linhas la- ranjas (desvio de 1 escore Z) ou en- tre as linhas vermelhas (desvio de 2 escore Z). • Qualquer mudança rápida que desvie a curva da criança para cima ou para baixo, ou então um traçado horizon- tal, devem ser investigados. • Os traçados que se desviam muito e que cruzam uma linha dos escore Z podem indicar risco para a saúde da criança. 23 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menino_2ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menino_2ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menino_2ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menina_2ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menina_2ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menina_2ed.pdf UN 2UN 2 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Para visualizar as linhas que representam os escores-z, observe o gráfico de acompanhamento do crescimento de meninas, de IMC para Idadede 5 a 10 anos. A depender da classificação do IMC por idade, tem-se a avaliação do estado nu- tricional da criança e do adolescente. É importante salientar que os pon- tos de corte utilizados para adultos (sobrepeso: 25 kg/m² e obesidade: 30 kg/m²) não devem ser aplicados para crianças e adolescentes. Para se avaliar o estado nutricional de crianças e adolescentes utiliza-se um pa- drão ou população de referência. O estado nutricional é classificado a partir de uma comparação entre o indivíduo avaliado e a referência e o escore-Z ou percentil são formas de expressar, de modo padroniza- do, a posição relativa de uma observação no interior de uma distribuição. Obesidade grave > escore-z +3 | Obesidade > escore-z +2 e ≤ escore-z +3 | Sobrepeso > escore-z +1 e ≤ escore-z +2 | Eutrofia ≥ escore-z -2 e ≤ escore-z +1 | Magreza ≥ escore-z -3 e < escore-z -2 | Magreza acentuada < escore-z -3 24 UN 2UN 2 Escore Percentil Classificação do estado nutricional 0-5 anos incompletos 5-20 anos incompletos > +1 e ≤ +2 > Percentil 85 e ≤ Percentil 97 Risco de sobrepeso Sobrepeso > +2 e ≤ +3 > Percentil 97 e ≤ Percentil 99,9 Sobrepeso Obesidade > +3 > Percentil 99,9 Obesidade Obesidade grave Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde O percentil é a posição do indivíduo avaliado quando com- parado com a população de referência que foi organizada do menor para o maior valor e dividida em 100 partes iguais. Os percentis variam de zero a 100, sendo o percentil 50 o ponto médio da distribuição. O escore-Z situa o indivíduo baseado no ponto médio (me- diana da população). Ele indica o quanto aquele indivíduo está distante da maioria. Diferente do percentil, o escore-Z se inicia com valores negativos (-5, -4, -3) até chegar ao zero que representa a mediana da população (percentil 50). Tanto para o percentil como para o escore-Z a padronização se dá pelo centro que é expresso pelo zero – no caso do escore-Z – ou como 50, no caso do percentil. Escore-Z e percentil são estimado- res intercambiáveis e uma vez obtido um se pode calcular o outro. É importante fazer o acompanhamento do estado nutricio- nal a partir das curvas de IMC para idade presente nas cader- netas da criança e do adolescente. Na caderneta, para o diag- nóstico do estado nutricional, é necessário marcar o valor de IMC (eixo y) e a idade (eixo x), cruzar os valores e fazer a inter- pretação do estado nutricional. A marcação no gráfico ajuda a mostrar para o indivíduo onde ele está alocado e como vem sendo a trajetória do seu estado nutricional. Em menores de 5 anos, a classificação com peso acima do adequado contem- pla as categorias de risco de sobrepeso até obesidade e para as crianças com idade entre 5 e 10 anos e adolescentes (na adolescência também é classificada a obesidade grave). 25 UN 2UN 2 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde 5 anos 16,9 18,9 21,3 16,6 18,3 20,2 5 anos e 6 meses 16,9 19 21,7 16,7 18,4 20,4 6 anos 17 19,2 22,1 16,8 18,5 20,7 6 anos e 6 meses 17,1 19,5 22,7 16,9 18,7 21,1 7 anos 17,3 19,8 23,3 17 19 21,6 7 anos e 6 meses 17,5 20,1 24 17,2 19,3 22,1 8 anos 17,7 20,6 24,8 17,4 19,7 22,8 8 anos e 6 meses 18 21 25,6 17,7 20,1 23,5 9 anos 18,3 21,5 26,5 17,9 20,5 24,3 9 anos e 6 meses 18,7 22 27,5 18,2 20,9 25,1 10 anos 19 22,6 28,4 18,5 21,4 26,1 10 anos e 6 meses 19,4 23,1 29,3 18,8 21,9 27 11 anos 19,9 23,7 30,2 19,2 22,5 28 11 anos e 6 meses 20,3 24,3 31,1 19,5 23 29 Idade Meninas Meninos >+1 escore Z >+2 escore Z >+3 escore Z >+1 escore Z >+2 escore Z >+3 escore Z > Percentil 85 > Percentil 97 > Percentil 99,9 > Percentil 85 > Percentil 97 > Percentil 99,9 26 UN 2UN 2 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Idade Meninas Meninos >+1 escore Z >+2 escore Z >+3 escore Z >+1 escore Z >+2 escore Z >+3 escore Z > Percentil 85 > Percentil 97 > Percentil 99,9 > Percentil 85 > Percentil 97 > Percentil 99,9 12 anos 20,8 25 31,9 19,9 23,6 30 12 anos e 6 meses 21,3 25,6 32,7 20,4 24,2 30,9 13 anos 21,8 26,2 33,4 20,8 24,8 31,7 13 anos e 6 meses 22,3 26,8 34,1 21,3 25,3 32,4 14 anos 22,7 27,3 34,7 21,8 25,9 33,1 14 anos e 6 meses 23,1 27,8 35,1 22,2 26,5 33,6 15 anos 23,5 28,2 35,5 22,7 27 34,1 15 anos e 6 meses 23,8 28,6 35,8 23,1 27,4 34,5 16 anos 24,1 28,9 36,1 23,5 27,9 34,8 16 anos e 6 meses 24,3 29,1 36,2 23,9 28,3 35 17 anos 24,5 29,3 36,3 24,3 28,6 35,2 17 anos e 6 meses 24,6 29,4 36,3 24,6 29 35,3 18 anos 24,8 29,5 36,3 24,9 29,2 35,4 18 anos e 6 meses 24,9 29,6 36,2 25,2 29,5 35,5 27 UN 2UN 2 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Após estudarmos sobre a definição e funcionalidade do percentil e escore Z na avaliação nutricional de crianças e ado- lescentes, bem como apresentamos as tabelas para ambos os sexos, indicando os valores de IMC para as faixas de es- core Z e percentil que indicam excesso de peso, vamos conhecer como utilizar as tabelas. Acompanhe a seguir. 1. Calcule o IMC da criança ou adoles- cente (IMC=Peso (kg)/altura2 (metros) 2. A idade está apresentada em anos inteiros e o ponto médio entre os anos (5 anos e 6 meses). Calcule a idade – por exemplo, uma criança com 7 anos e 3 meses – considerar 7 anos, uma criança com 7 anos e 8 me- ses – considerar 7,5 meses – sempre “arredondar” para baixo. 3. Identifique o sexo da criança: fe- minino ou masculino. 4. Com os dados de sexo, idade e IMC identifique a classificação do es- tado nutricional da criança ou ado- lescente – uma menina, de 5 anos e 6 meses com IMC= 20,3kg/m2 tem o IMC classificado entre +2 e +3 escores Z, sendo classificada com obesidade. Um menino, com 14 anos e com IMC= 34,1 kg/m2 tem o IMC classificado acima de +3 escores Z, sendo classifi- cado como com obesidade grave. Recomenda-se que esta tabela es- teja disponível nas salas de atendi- mento para facilitar o diagnóstico. É muito importante que todas as infor- mações de peso e altura registradas no prontuário e na caderneta de saúde da criança e do adolescente. O crescimento linear (altura) acon- tece durante a infância e a adolescên- cia. Meninos e meninas crescem em velocidade e tempos diferentes e, em ambos os sexos, o pico de crescimento ocorre na adolescência (WHO, 2006). E, em ambos os sexos, o pico de crescimento ocorre na adolescência. (WHO, 2003) Meninas e meninos crescem em velocidade e tempos diferentes. 28 UN 2UN 2 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde 2.2 Crescimento e maturação sexual na adolescência A adolescência é marcada pela fase de maturação sexual e, em ambos os sexos haverá o desenvolvimento das características sexuais secundárias. Nas meninas a puberdade inicia-se com a telarca (surgimento do broto mamário), seguida pela pubarca (sur- gimento dos pelos púbicos) e, após cerca de 2 anos, ocorre a menarca. Nos meninos o primeiro sinal de puberdade é o aumento do volume testicular, se- guido pela pubarca e aumento penia- no. A ocorrência de pubarca precoce isolada está associada com excesso de peso em crianças e não comprome- te a estatura final, não havendo neces- sidade de tratamento (ROSENFIELD, LIPTON e DRUM, 2009; LI et al, 2017). O monitoramento do crescimento e a avaliação das fases de maturação sexual (estágios de Tanner), para ado- lescentes, devem ser considerados no cuidado da obesidade. A maturação sexual está diretamente relacionada ao crescimento linear do adolescente (WHO, 2006) e saber qual o estágio de maturação o/a adolescente se encon- tra permite uma intervenção mais efe- tiva na questão do ganho de peso. Na fase que precede o estirão pu- bertário ocorre o fenômeno de reple- ção, em que indivíduos de ambos os sexos têm maior velocidadede ganho de peso como forma de guardar ener- gia para ser usada na fase de intenso crescimento pubertário. Essa repleção deve ser acompanhada e avaliada com base nas curvas de crescimento a fim de garantir o ganho de peso suficiente para o estirão e evitar o ganho de peso excessivo. Crianças e adolescentes com obesidade tendem a antecipar o 29 UN 2UN 2 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Na publicação “Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na Atenção Básica”, também se encontram os es- tágios de maturação sexual e outros documentos sobre o tema. Acesse: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/pu- blicacoes/proteger_cuidar_adoles- centes_atencao_basica.pdf. É importante que a avaliação dos in- dicadores antropométricos entre ado- lescentes seja contextualizada com o estágio de maturação sexual que o ado- lescente se encontra. O estadiamento da maturação sexual é feito pela avalia- ção das mamas e dos pelos púbicos no sexo feminino, e do tamanho dos testí- culos e pelos púbicos no sexo masculi- no. As mamas e os genitais masculinos são avaliados quanto ao tamanho, forma e características; e os pelos púbicos por suas características, quantidade e distri- buição. O estágio 1 corresponde sempre à fase infantil, impúbere, e o estágio 5 à fase pós-puberal, a adulta. Portanto, são os estágios 2, 3 e 4 que caracterizam o período puberal. O estirão puberal dura cerca de 3 a 4 anos e representa ga- nho de aproximadamente 20% da esta- tura e 50% do peso adulto do indivíduo (CHIPKEVITCH, 2001). É importante que você, profissional de saúde, saiba usar a ferramenta de monitoramento do cresci- mento e a avaliação das fases de matu- ração sexual para que melhore a eficácia crescimento linear, sendo mais altos que seus pares, o que é acompanhado pela maturação da idade óssea (SHA- LITIN e KIESS, 2017). Durante a maturação sexual na adolescência há um pico no cresci- mento, que se estabiliza e ao final deste processo os/as adolescentes atingem a sua altura final. 30 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf UN 2UN 2 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde e a confiabilidade da autoavaliação. Para a avaliação dos estágios de Tanner pelo profissional de saúde, re- comenda-se: • Local adequado para atendimento aonde garanta-se privacidade, a fim de evitar o constrangimento do indi- víduo avaliado. • Outra estratégia pode ser a autoa- valiação (quando o adolescente, por meio de lâminas, se compara aos de- senhos ou fotos apresentadas). Além disso, é essencial esclarecer ao adolescente sobre como o exame ocor- rerá e garantir-lhe o direito de decidir ter ou não um responsável junto a ele (FA- RIA et al, 2013). Para os adolescentes que se encontram no estágio final de ma- turação sexual deve-se intervir de forma a estabilizar o ganho de peso e garantir perda progressiva do peso em excesso. Em meninas, atenção deve ser feita aos casos de antecipação da menarca pois nes- te período, é possível que a ado- lescente tenha alcançado cerca de 95,5% da estatura final (CASTILHO; BARRAS FILHO, 2000). Para as crianças e adolescentes que não passaram pelo estirão do crescimento e que não apresentam obesidade grave, deve-se garantir manutenção do crescimento pleno e redução da velocidade do ganho de peso excessivo. Assim, aproveitando a oportunidade do estirão e do cresci- mento linear, em grande parte dos ca- sos a curva da evolução do IMC-para- -idade deve reduzir a sua inclinação, em direção à faixa de normalidade. Metas para o cuidado Lembrando que, identificando-se a necessidade de cuidado como peso e outros comportamentos alimentares, o planejamento e acom- panhamento do crescimento deve ser realizado por um nutricionista ou equipe multiprofissional qualificada para esta ação. 31 UN 3 Organizando o cuidado de crianças e adolescentes com obesidade na APS UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde 40 sobrepeso e obesidade segundo o IMC por idade. processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS. 40 40 processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS. Esse material é destinado a apoiar as equipes de saúde a ofertar o cuidado para crianças e adolescentes que já foram diagnosticados com sobrepeso e obesidade segundo o IMC por idade. processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS. Esse material é destinado a apoiar as equipes de saúde a ofertar o cuidado para crianças e adolescentes que já foram diagnosticados com sobrepeso e obesidade segundo o IMC por idade. processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS. Até os 2 anos Em função do rápido crescimento e desenvolvimento, princi- palmente no primeiro ano de vida, deve-se investir em ações de prevenção da obesidade infantil (amamentar até 2 anos ou mais, oferecendo somente o leite materno aaté 6 meses e oferecer uma alimentação complementar saudável, priorizando alimentos in natura e minimamente processados, além do leite materno, a partir dos 6 meses) pois esta fase se caracteriza pela formação dos hábitos alimentares do indivíduo. A APS tem como um dos seus atributos o cuidado longitudinal e integral da saúde de todos os indivíduos sob sua responsabilida- de. Ela se configura como a porta de entrada no sistema de saúde. A prevenção da obesidade é o primeiro ponto a se destacar no cuidado de crianças e adolescentes. Os hábitos alimentares sau- dáveis devem ser incentivados desde o nascimento, com a pro- moção do aleitamento materno e introdução alimentar adequada. 33 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde O cuidado de crianças e adolescentes com obesidade deve levar em conside- ração a humanização, o acolhimento e a escuta ativa destes indivíduos e suas fa- mílias. As estratégias de cuidado devem levar em conta a subjetividade de cada caso e se organizar em atividades indi- viduais, coletivas, no território e na co- munidade, focando na reabilitação mas também nas ações de promoção da saú- de e prevenção de sobrepeso e obesida- de realizando avaliação contínua e sis- temática do perfil alimentar e nutricional de crianças e adolescentes e garantindo a atenção integral àqueles identificados com sobrepeso e obesidade. Para tanto é imperativo que as ações de vigilância alimentar e nutricional es- tejam em curso, com a correta mensu- ração e interpretação dos dados a fim de se atuar de maneira precoce e oportuna. 3.1 Fluxo de organização do cuidado de crianças e adolescentes com obesidade Em todas as etapas da organização e cuidado de crianças e adolescen- tes com sobrepeso e obesidade, é imprescindível que profissionais de saúde se posicionem de maneira não preconceituosa e não reproduzam es- tigmas em torno do excesso de peso. A seguir, apresentamos o fluxograma que orienta a organização do processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS. Essa unidade é destinada a apoiar as equipes de saúde podem ofertar o cui- dado para crianças e adolescentes que já foram diagnosticados com sobrepeso e obesidade segundo o IMC por idade. sobrepeso e obesidade segundo o IMC por idade. processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e Esse material é destinado a apoiar as equipes de saúde a ofertar o cuidado para crianças e adolescentes que já foram diagnosticadoscom processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e Figura 1: Fluxograma de organização do processo de cuidado de crianças e adolescentes com Após os 2 anos A velocidade de crescimento dimi- nui e por meio do monitoramento nutricional percebe-se com maior fidedignidade as tendências da curva de crescimento da criança, podemos falar de atenção e cuida- do da obesidade. 34 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde sobrepeso e obesidade na APS. 41 Figura 1: Fluxograma de organização do processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS. 41 Figura 1: Fluxograma de organização do processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS. 41 Figura 1: Fluxograma de organização do processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS. 41 Figura 1: Fluxograma de organização do processo de cuidado de crianças e adolescentes com 41 Figura 1: Fluxograma de organização do processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS. sobrepeso e obesidade na APS. Cumpriu as metas? 1ª consulta com Equipe APS • Avaliação antropométrica (peso e altura); • Avaliação componentes - alimentação, atividade física, comportamento sedentário, sono, saúde mental, histórico familiar e presença de comorbidades; • Práticas parentais/familiares; • Sensibilização do usuário e de sua família; • Avaliação da motivação para mudanças de comportamentos; • Avaliar rotinas e ambientes frequentados pela criança/ado- lescente. Estratificação do risco de acordo com IMC- -para-idade e presen- ça de comorbidades. Acompanhamento das mudanças com- pormentais para além da perda de peso Pactuação de metas durante o processo de cuidado Reforço positivo e pactuações de novas. Reforço positivo, avaliação dos pontos não alcançados, repactuação das metas anteriores ou escolha de novas metas. Intervenção multi componente: pactuar metas de alimentação saudável, atividade física, sono, comporta- mento sedentário e saúde mental. Uso de estratégias comportamentais e envolvimento de pais e cuidadores. Acompanhamento na rotina da unidade - recomendação de alimentação ade- quada, atividade física, comportamento sedentário e boas práticas de sono. NÃO SIM SIM Abordagem inicial acolhimento para o cuidado. Identificação das possibilidades de cuidado e estabele- cimento de metas. Fluxograma de organização do processo de cuidado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS Mensuração do peso e altura e classificação do estado nutricional - Adequado? Avaliação de peso e altura (Vigilância Alimentar e Nutricio- nal) de crianças e adolescentes • Rotina dos serviços de saúde • Busca das famílias por atendi- mento • Ações coordenadas nas escolas • Campanhas no território • outras atividades NÃO 35 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Agora que já conhecemos o fluxogra- ma de organização do processo de cui- dado de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade na APS, vamos nos aprofundar na identificação, abor- dagem, avaliação inicial e estratificação de risco de crianças e adolescentes com obesidade. 3.2 Identificação das crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade Para a atenção à criança e adolescen- te com sobrepeso e obesidade é neces- sária uma contínua ação de Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN) para iden- tificação dos casos, estratificação de ris- co e organização da oferta de cuidado. A identificação da criança ou adolescente com excesso de peso pode ser feita em todas as oportunidades em que ela for à Unidade Básica de Saúde (UBS), nas consultas programadas de acompanha- mento do crescimento e desenvolvimen- to, durante o acompanhamento das con- dicionalidades de saúde do Programa Bolsa Família (PBF) e até na busca ativa feita pela Equipe Saúde da Família (ESF). A escola também é um espaço im- portante para identificar as crianças e adolescentes com obesidade. Alguns programas desenvolvidos em parceria entre saúde e educação, já preveem o monitoramento do peso, altura e os há- bitos alimentares dos escolares, que, ao serem diagnosticados com excesso de peso, devem ser encaminhados para a APS. Formas mais leves de excesso de peso (sobrepeso) têm melhor evolução para a normalização do estado nutricio- nal quando a intervenção se inicia em tempo oportuno, o que reforça a neces- 36 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde sidade do acompanhamento do estado nutricional em todas as oportunidades. A adequada aferição das medidas aliada ao preenchimento correto das informações (idade, peso, altura e IMC) na Caderneta da Criança (0 a 10 anos de idade) e do Adolescente (10 a 19 anos) e nos sistemas de informações da APS (e-SUS APS e módulo do SISVAN), além do monitoramento desse crescimento ao longo do tempo, é uma oportunidade para prevenir e controlar o problema. Profissionais de saúde, pais e res- ponsáveis por crianças e adolescentes devem ficar atentos à curva de cresci- mento e hábitos de vida para procurar atendimento caso seja observado al- gum desvio que sinalize ganho de peso excessivo ou comportamento não saudável ao longo do tempo e iniciar o quanto antes o cuidado qualificado para identificação das causas e rever- são do ganho excessivo de peso e do comportamento em tempo oportuno. 3.3 Abordagem inicial e acolhimento para o cuidado O acolhimento é um ponto impor- tante na organização do cuidado de crianças e adolescentes com sobrepe- so e obesidade. Durante o acolhimento é necessária a utilização do aconse- lhamento, habilidades de comunica- ção e a criação e manutenção do vín- culo entre os profissionais da equipe e a criança ou adolescente e sua família, de modo a garantir que o cuidado seja humanizado, sem a criação de estig- mas, preconceitos e culpabilização do indivíduo e da família. Reconhecer a necessidade de trabalhar esses aspec- tos é um importante ponto de partida no tratamento do excesso de peso. 37 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Para a garantia do acolhimento é importante refletir: • Como a equipe de saúde reconhece e faz a aborda- gem inicial dos indivíduos que estão com sobrepeso e obesidade (crianças, adolescentes e adultos)? • Como a avaliação contínua do estado nutricional pode resultar no cuidado precoce e oportuno para evitar o ganho de peso excessivo? • A equipe inclui no seu processo de trabalho o cuidado voltado às crianças e adolescentes identificadas com sobrepeso e obesidade? • As Cadernetas de Saúde estão disponíveis para os usuá- rios e são utilizadas no acompanhamento das condições de saúde, nutrição, crescimento e desenvolvimento? • Os profissionais sabem usar as curvas de crescimen- to e desenvolvimento e prever o surgimento ou agra- vamento de situações como o excesso de peso? As Cadernetas da Criança e do Adolescente estão dispo- níveis no site do Ministério da Saúde. Nelas você encontra as curvas de crescimento que apoiam a vigilância nutricio- nal e proporcionam a identificação oportuna do ganho de peso excessivo quando são preenchidas de forma correta e frequente. O preenchimento dos pontos do gráfico de IMC para idade devem ser feitos com o acompanhamento das crianças e adolescentes, explicando a trajetória do estado nutricional. Além das curvas de crescimento as cadernetas apresen- tam uma série de informações, entre elas as de alimentação adequada e saudável de acordo com cada fase do curso da vida.Crianças (a partir da alfabetização) e adolescentes de- vem ser estimulados a ler e conhecer o conteúdo das ca- dernetas e demais materiais informativos distribuídos pelasunidades de saúde para que, desde cedo, as práticas de au- tocuidado se tornem cotidianas. 38 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde A formação e o fortalecimento do vínculo entre a criança, adolescente e sua família e a equipe de saúde é um processo contínuo e são fatores im- portantes para a garantia do retorno à unidade de saúde e prosseguimen- to do processo de cuidado. Entender fatores facilitadores e obstáculos da presença do usuário na unidade pode fortalecer o vínculo e aumentar a ade- são ao tratamento proposto. Crianças dependem de adultos para frequentar as atividades, não podendo ser atendidos sozinhos. Os adolescentes a partir dos 12 anos, tem direito de ser atendido sozinho, e caso queira pode ser atendido desacompa- nhado de seus pais ou responsáveis. Abaixo de 12 anos, não deve ser nega- do atendimento caso ele esteja sozi- nho, mas é importante que os profis- sionais busquem formas de envolver a família. As informações dadas duran- te suas consultas devem ser mantidas em sigilo e só poderão ser reveladas se o adolescente concordar ou sem- pre que houver danos a sua saúde ou a terceiros. A distância entre a casa e a unidade de saúde, o tempo de deslocamento, a necessidade de uso de transporte para acessar a unidade são fatores cruciais para que o usuário continue acom- panhando as ações propostas pelas equipes de saúde. Horários alternati- vos podem ser pensados para que os Para apoiar os profissionais de saú- de na vigilância alimentar e nutricio- nal, conheça o Marco de Referência e os Protocolos do SISVAN (http:// aps.saude.gov.br/ape/vigilanciaali- mentar). Para saber mais sobre o estado nu- tricional e consumo alimentar de crianças e adolescente acompa- nhados pelo SISVAN acesse os rela- tórios públicos: http://sisaps.saude.gov.br/sisvan/ relatoriopublico/index 39 http://aps.saude.gov.br/ape/vigilanciaalimentar http://aps.saude.gov.br/ape/vigilanciaalimentar http://aps.saude.gov.br/ape/vigilanciaalimentar http://sisaps.saude.gov.br/sisvan/relatoriopublico/index http://sisaps.saude.gov.br/sisvan/relatoriopublico/index UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde responsáveis possam garantir a ida das crianças às unidades, por exemplo. Pensando no acolhimento e na hu- manização do cuidado é importante avaliar como a criança ou o adoles- cente chegou ao serviço ou à consulta para tratamento da obesidade, se foi encaminhado por outros profissionais e se têm ciência do motivo e necessi- dade do cuidado. 3.4 Avaliação inicial e estratificação de risco de crianças e adolescentes com obesidade A primeira consulta deve ser mais longa, feita com tempo suficiente para que todas as avaliações sejam Distúrbios genéticos • Deficiência no Receptor de melanocortina tipo 4 • Deficiência de leptina • Deficiência de receptor de leptina • Deficiência de proopiome- lanocortina • Pró-hormônio convertase 1 realizadas e de forma que também possibilite investigar a época de iní- cio de ganho de peso excessivo ou do comportamento não saudável e como se evoluiu ao longo do tempo e como a procura pelo serviço de saúde é compreendida pela criança ou ado- lescente. Deste modo, a história clínica de- talhada, aliada aos exames físicos e bioquímicos, é de grande importância para se diferenciar causas primárias do problema, se por exemplo, a obe- sidade é causada por excesso de ca- lorias ou outros comportamentos e se está relacionada à outras causas secundárias, como: doenças gené- ticas, endócrinas, lesões do sistema nervoso central ou ainda causas ia- trogênicas. Para conhecer mais sobre as cau- sas secundárias de obesidade na in- fância e adolescência, acompanhe o infográfico a seguir: 40 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde A seguir, listamos as informações necessárias para uma avaliação ini- cial completa do diagnóstico de obe- sidade na criança ou adolescente: Neurológicas • Lesões cerebrais • Tumor cerebral • Malformações cerebrais Causas hipotalâmicas • Tumor • Após cirurgia cerebral/ra- diação (craniofaringioma) • Síndrome de ROHHAD/RO- ADNET Endócrinas • Hipotiroidismo • Excesso de glicocorticóide (síndrome de Cushing) • Deficiência no hormônio de crescimento • Pseudo-hipoparatireoidismo Síndromes • Prader-Willi • Bardet-Biedl • Cohen • Alström • Albright hereditary • Osteodystrophy • Beckwith-Wiedemann • Carpenter Psicológicas • Depressão • Distúrbios alimentares (transtorno de compulsão alimentar periódica, bulimia) Induzidas pelo uso de medicamento • Antidepressivos tricíclicos • Glicocorticóides • Medicamentos antipsicóticos • Medicamentos antiepilépticos • Sulfonilureas 41 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde No exame físico, avaliar os pontos a seguir: • Avaliar a frequência cardíaca e pressão arterial (com instrumentos adequados à idade) • Observar sinais como manchas es- curas na pele, com textura grossa e A história familiar deve incluir informações sobre obesidade, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, dislipidemia nos parentes de 1º grau. Quando possível montar o genograma da família. Tratamentos e intervenções realizados previamente para o manejo do peso. Investigar transtornos alimentares (anorexia, bulimia). Hábitos alimentares da família. Prematuridade; História do Aleitamento Materno e a introdução da Alimentação Comple- mentar Saudável. Possíveis distúrbios do sono, como dificuldade respiratória, associados a déficit de atenção e sonolência durante o dia podem ser sinais de apneia do sono, representando uma comorbidade do excesso de peso. Questões de saúde mental como sintomas depressivos, ansiedade e baixa autoestima estão presentes em indivíduos com obesidade e influenciam no processo de cuidado. Avaliar desenvolvimento neurológico. Interação social com outras crianças/ adolescentes da mesma idade e o desejo, por exemplo, de não ir à escola. Uso prévio de medicamentos que podem ter como efeito adverso o aumento do peso (antidepressivos tricíclicos, glicocorticóides, medica- mentos antipsicóticos, medicamentos antiepilépticos, sulfonilureas). 42 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde incluem os hábitos alimentares, a prá- tica regular de atividade física, com- portamento sedentário, padrão de sono, saúde mental e a influência do ambiente sobre as condições de vida da criança ou adolescente. O cuidado a partir desse conjunto de componen- tes é denominado cuidado multicom- ponente. Com base nestas informações, é feita a estratificação do risco de acor- do com a classificação do IMC e pre- sença de comorbidades conforme descrito no infográfico a seguir: avelulada (acantose nigricans), si- nais de automutilação ou de violên- cia, como hematomas e traumas. • Observar se há estrias violáceas, acne e outros sinais que possam sugerir hipercortisolismo. • Nas adolescentes com sobrepe- so ou obesidade, investigar sinais de hiperandrogenismo, como acne e hirsutismo (aumento de pelos na mulher em locais normalmen- te desprovidos de pelos) , além de alterações do ciclo menstrual, que podem sugerir a síndrome dos ová- rios policísticos. • Em adolescentes, a avaliação do desenvolvimento genital é funda- mental e pode relacionado à altera- ções no crescimento linear (estatu- ra) e alterações no ganho de peso (déficit ou excesso), caso não ocor- ra pode-se investigar o hipotireoi- dismo, hipogonadismo e desen- volvimento mental com síndromes genéticas. Os exames bioquímicos recomen- dados para rastreio de comorbida- des nas crianças e adolescentes com obesidade devem incluir dosagens de glicemia de jejum, colesterol totale frações, triglicérides, e enzimas hepá- ticas (SBP, 2012). A avaliação dos componentes comportamentais e de estilo de vida 43 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Criança ou adolescente com peso adequado Orientações para abordagem Acompanhamento do crescimento (peso e estatura) e IMC-para-idade. Avaliação dos hábitos de alimentação, atividade física, com- portamento sedentário, sono e aspectos da saúde mental. Orientações de alimentação adequada e saudável, ati- vidade física, comportamento sedentário, sono, saúde mental e as influências ambientais na formação dos hábitos de vida das crianças e adolescentes. Criança ou adolescente com sobrepeso Orientações para abordagem Acompanhamento do crescimento (peso e estatura) e IMC-para-idade. Orientações de alimentação adequada e saudável, ati- vidade física, comportamento sedentário, sono, saúde mental e as influências ambientais na formação dos hábitos de vida das crianças e adolescentes. Orientações de alimentação adequada e saudável, ativida- de física, comportamento sedentário, sono e saúde mental. Intervenções focadas na mudança do comportamento (pactuação de metas). Manter o acompanhamento e inserção nas atividades coletivas ofertadas pela unidade de saúde. Realizar exames para rastreio de comorbidades, como aferição da pressão arterial e exames bioquímicos de gli- cemia de jejum, perfil lipídico e marcadores hepáticos. 44 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Criança ou adolescente com sobrepeso e com comor- bidade ou com obesidade e sem comorbidades Orientações para abordagem A maior parte das crianças e adolescentes com obe- sidade estão neste grupo. Acompanhamento do crescimento (peso e estatura) e IMC-para-idade. Realizar exames para rastreio de comorbidades, como aferição da pressão arterial e exames bioquímicos de glicemia de jejum, perfil lipídico e marcadores hepáticos. Avaliação dos hábitos de alimentação, atividade físi- ca, comportamento sedentário, sono e aspectos da saúde mental. Orientações de alimentação adequada e saudável, atividade física, comportamento sedentário, sono, saúde mental e as influências ambientais na forma- ção dos hábitos de vida das crianças e adolescentes. Intervenções focadas na mudança do comportamento (pactuação de metas). Organizar o cuidado com consultas individuais e in- serção nas atividades coletivas ofertadas pela unida- de de saúde. Criança ou adolescente com obesidade e presença de comorbidades - OU - Criança ou adolescente com obesi- dade grave independente da presença de comorbidades Orientações para abordagem Acompanhamento do crescimento (peso e estatura) e IMC-para-idade. Realizar exames para rastreio de comorbidades, como aferição da pressão arterial e exames bioquímicos de glicemia de jejum, perfil lipídico e marcadores hepáticos. Avaliação dos hábitos de alimentação, atividade física, comportamento sedentário, sono e aspectos da saúde mental. Orientações de alimentação adequada e saudável, atividade física, comportamento sedentário, sono, 45 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde saúde mental e as influências ambientais na formação dos hábitos de vida das crianças e adolescentes. Intervenções focadas na mu- dança do comportamento (pactuação de metas). Organizar o cuidado com con- sultas individuais e inserção nas atividades coletivas oferta- das pela unidade de saúde. Construção de Projeto Tera- pêutico Singular para a organi- zação do cuidado. Avaliar a necessidade e possi- bilidade de encaminhamento para especialistas. Por fim, é importante que se ava- lie as percepções e motivações da criança/adolescente e seus pais/cui- dadores para as mudanças compor- tamentais necessárias a serem pro- gramadas nas ações e metas de cada indivíduo. A motivação para adesão a um modo de vida saudável, principal- mente para mudanças de longo prazo, é um grande desafio. Algumas estra- tégias, como a entrevista motivacio- nal, por exemplo, podem auxiliar neste processo. Conforme o Fluxograma de Cuida- do, para as crianças e adolescentes identificados com sobrepeso e que não apresentem comorbidades (alterações glicêmicas, da pressão arterial e do perfil lipídico), deve-se manter monito- ramento contínuo do crescimento na Caderneta de Saúde e devem ser feitas orientações alimentares e de atividade física, comportamento sedentário, sono e saúde mental, conforme as necessi- dades observadas durante a anamnese feita na primeira consulta. As crianças e adolescentes com diagnóstico de sobrepeso e comorbida- des ou com obesidade (independente da presença de comorbidades) devem ser encaminhados para um cuidado multi- disciplinar adequado, integral e longitu- dinal, por meio de abordagens individu- ais, coletivas e transversais. 46 UN 3 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde Crianças e adolescentes têm o di- reito de viver em ambientes protegidos que proporcionem e estimulem hábitos e comportamentos saudáveis. Como exemplo de ambientes protegidos e saudáveis podemos citar: ambien- tes livres da publicidade, propagan- da e venda de alimentos não saudá- veis; ambientes propícios e seguros à prática de atividade física; espaços protegidos para o brincar e explorar o ambiente; acesso à água potável nas escolas e; oferta de alimentação esco- lar de qualidade, entre outros. As equi- pes de saúde devem estar atentas ao ambiente nos quais as crianças e ado- lescentes vivem, avaliar locais de risco e proteção a fim de orientar e propor alternativas factíveis às condições de vida das crianças, adolescentes e suas famílias. A atenção à criança e ao adoles- cente com excesso de peso demanda a atuação da equipe multiprofissional, com abordagem integral, longitudinal e multicomponente. As intervenções devem estar centradas na mudança de comportamento em relação à ali- mentação, atividade física, compor- tamento sedentário e sono. Vamos aprofundar os conhecimentos sobre as orientações para abordagem de crianças e adolescentes com excesso de peso e comorbidades ou obesidade no capítulo a seguir. 47 UN 4 Orientações para abordagem de crianças e adolescentes com excesso de peso e comorbidades ou obesidade Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 4UN 4 Nesta unidade vamos nos aprofundar na abordagem indi- vidual ou coletiva de crianças e adolescentes com sobrepe- so e obesidade, sob a perspectiva do cuidado longitudinal. Estudaremos também sobre a importância do profissio- nal de saúde conhecer mais sobre o estigma, a culpabiliza- ção e discriminação de pessoas com excesso de peso, no sentido de evitar qualquer comportamento que enfatize tais aspectos. Para a abordagem de crianças e adolescentes com obe- sidade, é fundamental que os pais e/ ou responsáveis sejam envolvidos para a adesão às mudanças comportamentais e de estilo de vida, fortalecendo o processo de cuidado. Por fim, vamos conhecer em quais situações o encaminhamen- to de crianças e adolescentes com obesidade para a aten- ção especializada deve ocorrer. 49 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 4UN 4 4.1 Orientações para a abordagem a partir do estado nutricional e comorbidades As ações de prevenção são funda- mentais para o enfrentamento da pro- blemática do excesso de peso. Desta forma, crianças ou adolescente com peso adequado também devem rece- ber abordagem para manutenção do estado nutricional adequado. Veja a seguir as principais orientações para abordagemdeste grupo: Considerando as orientações para abordagem citadas acima, para a implemen- tação dessas ações nas unidades de saúde, a primeira ação que deve ser realizada nas unidades de saúde é um mapeamento dos recursos da unidade para dar res- posta à demanda do cuidado. • Acompanhamento do crescimento (peso e estatura) e IMC-para-idade. • Avaliação dos hábitos de alimentação, atividade física, comportamento sedentário, sono e aspectos da saúde mental. • Orientações de alimentação adequada e saudável, atividade física, comportamento sedentário, sono, saúde mental e as influências am- bientais na formação dos hábitos de vida das crianças e adolescentes. 50 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 4UN 4 Neste momento é importante saber: • Além do diagnóstico individual, a unidade analisa o diagnóstico cole- tivo de vigilância alimentar e nutri- cional? • Existe mapeamento do ambiente alimentar da comunidade? O diag- nóstico coletivo do estado nutri- cional e o mapeamento do ambien- te alimentar são discutidos com a equipe? E com a comunidade? • Quais as atividades a unidade já oferece para crianças e adoles- centes e se há grupo operativos para essa faixa etária? Se sim, quais temáticas abordam? Há no território ou na Rede de Atenção à Saúde um serviço especializado que possa dar suporte aos casos mais graves? • Além da equipe de Atenção Primá- ria há suporte de equipe multipro- fissional ou outros profissionais para ampliar as possibilidades de cuidado? • A Unidade tem a Estratégia Ama- menta e Alimenta Brasil imple- mentada e ações conjuntas com as escolas como o Programa Saú- de na Escola? • A equipe de saúde sabe quan- tas crianças e adolescentes com obesidade existem no território? • Qual micro área concentra a maior parte dessas crianças e adolescentes? Como é o am- biente alimentar no território? • Qual tipo de alimentação tem sido oferecida pela escola? • A equipe de saúde conta com pro- fissional de educação física? • Quais atividades são oferecidas pela equipe de saúde ou pela se- cretaria de esportes no territó- rio? Onde as atividades aconte- cem? Em quais horários? Quais opções podem ser oferecidas para as famílias, dentro desse contexto? 51 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 4UN 4 Esse levantamento ajudará tanto na pronta oferta de cuidado para os usuários que estão com obesidade como na organização de novas ativi- dades para ampliar e qualificar a ação ofertada para crianças e adolescentes com obesidade. A abordagem individual pode ser realizada pelo médico, enfermeiro, nutricionista, psicólogo e profissional de educação física, de acordo com a disponibilidade local destes profissio- nais. A abordagem transversal inclui a alimentação adequada e saudável, a prática de atividade física, Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), apoio psicossocial e demais atividades intersetoriais para complementar o cuidado. Elas devem ser longitudinais e acompanhar todo o processo de cuidado, considerando também o calendário mínimo de con- sultas da criança e do adolescente para monitoramento do seu cresci- mento e desenvolvimento. O acompanhamento deve ser a lon- go prazo e a frequência e o tempo de acompanhamento devem ser adap- tados à situação e necessidade da criança ou adolescente. Quanto mais frequente o acompanhamento, melhor será a adesão e o resultado. Além da periodicidade dos encontros, é impor- tante fortalecer o vínculo e pensar em outras estratégias de abordagem que não a atividade presencial nas unida- des de saúde para encurtar o interva- lo entre as consultas (como ligações, mensagens de texto, grupos de whatt- sapp, teleatendimento, grupos em re- des sociais, etc). Nas figuras à seguir temos boxes com proposta de organização da pe- riodicidade das atividades de acompa- nhamento organizado em 24 meses. 52 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 4UN 4 MÊS 1 Consulta inicial de avaliação e acolhimento – levanta- mento geral de informações. Avaliação do estado nutricional (peso e altura), classificação do estado nutricional. Avaliação do consumo alimentar, atividade física regular, comportamento sedentário e sono. Investigação de questões de saúde mental. Definição e pactuação de metas com a criança ou adolescente e seus res- ponsáveis. MÊS 2 / 3 / 5 / 6 / 8 / 10 / 15/ 18 / 20 / 24 Consulta individual ou atividade coletiva. Avaliação do peso e altura. Comparação com as medidas anteriores. Retomada das orientações e pactuações realizadas na consulta anterior (avaliação da adesão). Reforço positivo – independente da adesão Conforme a aderência às recomendações e pactuações, se: Sim – avança. MÊS 12 Consulta individual e avaliação do peso e altura do estado nutricional e comparação com as medidas anteriores. Revaliação do consumo alimentar, ativida- de física regular, comportamento sedentá- rio e sono. Reavaliação de questões de saúde mental. Retomada das orientações e pactuações realizadas na consulta anterior (avaliação da adesão). Reforço positivo – independente da adesão. Conforme a aderência as recomendações e pactuações, se: Sim – avança. Não – retoma, avalia, reforça ou rever a estratégia. Ao final de 24 meses avaliar globalmen- te todas as atividades realizadas e avaliação da alta ou reencaminhamento. Não – retoma, avalia, refor- ça ou rever a estratégia. 53 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 4UN 4 4.2 Estigma e discriminação no cuidado de crianças e adolescentes com obesidade No processo de cuidado, devem ser considerados os determinantes e condicionantes do sobrepeso e da obesidade, sem culpabilização, estig- matização e discriminação da pessoa ou sua família. Como já foi falado an- teriormente, há múltiplos determinan- tes para a obesidade, e ao contrário do que algumas pessoas pensam, não é um agravo que depende meramente da força de vontade do indivíduo no processo de cuidado. O estigma é um atributo negativo ou que deprecia um indivíduo, tornando-o diferente ou inferior pelo entendimen- to de outros de que ele possuiu alguma questão ou inferioridade. Na obesidade o estigma está muito presente, desde os primeiros anos de vida e pode afetar as pessoas que vivem com obesidade de diferentes maneiras. As repercussões negativas para a pessoa que sofre o estigma vão desde o sofrimento men- tal, apartamento social, dificuldade por buscar o cuidado nas unidades de saú- de, evasão escolar, entre outros. Rubino e colaboradores (2020) publicaram uma declaração conjun- ta de consenso internacional para acabar com o estigma da obesidade e apontam para o estigma pratica- do pelas famílias, nos locais de tra- balho, escolas e serviços de saúde. Os tipos de estigma estão descritos a seguir e devem ser compreendidos e superados no cuidado de crianças e adolescentes com obesidade: O estigma de peso Refere-se a atribuição de caracterís- ticas negativas e estereótipos de manei- ra automática, feitas de maneira incons- ciente, sem percepção de quem o faz. 54 Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde UN 4UN 4 Os estereótipos baseados no peso Incluem generalizações que indi- víduos com sobrepeso ou obesidade são preguiçosos, glutões, sem força de vontade e autodisciplina, incompeten- tes, desmotivados para melhorar sua saúde, agem em desacordo com o tra- tamento médico, e são pessoalmente culpados por seu excesso de peso. A discriminação de peso Refere-se a formas evidentes de pre- conceito e tratamento injusto (compor- tamentos tendenciosos) para com in- divíduos com sobrepeso ou obesidade baseados no peso corporal. A internalização
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