Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Lorena de Souza Galão1 Eliene Nery Santana Enes2 RESUMO Discute-se neste artigo a educação inclusiva e a formação de professores. Busca-se apresentar concepções da educação especial na perspectiva da educação inclusiva e discutir sobre a formação de professores. Para alcançar os objetivos, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, apoiando-se em autores que discutem a temática. Com este trabalho, espera-se ampliar as reflexões e conhecimentos sobre a perspectiva da educação inclusiva. Palavras-chave: Educação; Educação Inclusiva; Formação de professores 1 INTRODUÇÃO Na atualidade, a educação tem passado por transformações nos processos de inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais. As instituições escolares têm buscado mudanças de paradigmas, adequação de currículos, práticas pedagógicas e do espaço arquitetônico, na direção de uma educação inclusiva. Nesse contexto, na busca de compreensão dos princípios da educação inclusiva, levantam- se as seguintes questões: o que é educação inclusiva? Por que educação inclusiva? Como fazer a educação inclusiva? A partir dessas perguntas, o objetivo deste artigo é mostrar concepções da educação especial na perspectiva da educação inclusiva e discutir sobre a formação de professores. Para alcançar esses objetivos, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, especialmente através de artigos da base Scielo, publicações da Secretaria de Educação Especial e Diversidade (SECADI), publicações da Superintendência Regional de Ensino, além de documentos da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Destacam-se ainda alguns autores que sustentam este estudo: Mantoan (2006) e Glat (2009). 1 Graduanda em Pedagogia (licenciatura) pela Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE. E-mail: lorenasouzag1@hotmail.com. 2 Profa. Ms. do Curso de Pedagogia da Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE. E-mail: eliene.nery@yahoo.com.br. mailto:lorenasouzag1@hotmail.com mailto:eliene.nery@yahoo.com.br 2 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Ainda que o objetivo aqui não seja esgotar sobre o assunto, é importante que sejam apresentadas as compreensões que foram adotadas. Assim, a educação especial é considerada neste trabalho como uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. (BRASIL, 2008). Nessa mesma direção, o movimento mundial pela educação inclusiva diz respeito a um movimento desencadeado em defesa dos diretos de todos de participarem ativamente em todos os segmentos educacionais, sem nenhuma discriminação. Constitui também um paradigma educacional fundamentado na concepção dos direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis. A opção por esse tipo de educação não significa negar as dificuldades dos estudantes. Ao contrário, significa preparar as instituições escolares e os professores para receberem todos os alunos, independentemente de haver necessidades especiais ou não. Com a inclusão, as diferenças não são vistas como problemas, mas como um aspecto de diversidade. Dessa forma, trata-se de um tipo de educação que não segrega os alunos com necessidades especiais diante dos outros estudantes. Diferentemente, como sugere o termo, refere-se a uma ação inclusiva. Para explicitar melhor as ideias aqui defendidas, a seguir, na Figura 1, será apresentada uma representação do movimento e das mudanças de concepções no processo de inclusão de pessoas com deficiência. O primeiro quadro mostra as pessoas com deficiência fora do grupo social, configurando a exclusão. O segundo, por outro lado, mostra duas divisões sociais, em que o grupo de pessoas com necessidades especiais é separado do outro, configurando a segregação. O terceiro quadro apresenta a junção do grupo especial com os outros sujeitos, mas de forma parcial. Essa parte pode ser identificada como integração. Por fim, no quarto quadro, no qual o grupo social é totalmente incluído na sociedade, ocorre efetivamente a inclusão. 3 Figura 1 – Exclusão vs. Inclusão Fonte: http://blog.isocial.com.br/inclusao-social/ Com base nas imagens acima, é possível compreender que há fases de falsas inclusões, sendo elas a integração e a segregação, que são completamente distintas da inclusão. Na inclusão, as pessoas com necessidades especiais interagem em sociedade de forma igualitária. Quanto às falsas inclusões, devem ser consideradas as ações que visam a socialização e a integração de indivíduos em sociedade somente em situações em que estão em grupos de especiais ou em ambientes físicos que são próprios somente para eles. Essas metodologias utilizadas, na verdade, acabam por excluir esses indivíduos de forma mascarada. Nesse contexto, conforme a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – 2008, devem ser considerados como princípios da Educação Inclusiva: • Um direito humano (significa combater a exclusão social); • Implica em aumentar a participação de todos no processo educacional; • Significa respeitar e celebrar a diversidade. 4 Mantoan (2006) apresenta a concepção do conceito de integração na rede regular ensino como “uma concepção de inserção parcial, porque o sistema prevê serviços educacionais especiais” (p. 18). Nessa perspectiva, a integração consiste em levar os alunos com deficiências para dentro das escolas públicas. Todavia, as metodologias geralmente utilizadas impedem que esses sujeitos tenham livre acesso no ambiente escolar. Nesse sistema, o objetivo é inserir esses alunos, mas através de salas de aulas especificas e professores distintos, o que resulta em um atendimento e tratamento especial discriminatório e sem valor. A proposta de inclusão vai em sentido contrário ao da integração. A inclusão deve ser efetivada de forma a serem oferecidas propostas que possam ser iguais para todos. Assim sendo, as ações educativas devem alcançar também, de forma igualitária, aqueles que, por algum motivo, se sentem excluídos, não sendo destinadas somente a pessoas portadoras de necessidades especiais. Ainda segundo a autora, “A inclusão questiona não somente as políticas e a organização da educação especial e da regular, mas também o próprio conceito de integração. Ela é incompatível com a integração, já que prevê a inserção escolar de forma radical, completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, devem frequentar as salas de aula do ensino regular.” (MANTOAN, 2006, p. 19). Apesar do avanço nessas reflexões, ainda hoje a sociedade vivencia um processo de construção e passagem do movimento de integração em direção à inclusão. A implementação de ações inclusivas no ambiente de ensino mostra que as propostas pedagógicas que eram aplicadas com intencionalidades de segregação precisam ser extintas. Em direção oposta a isso, deve-se ter um sistema regular de ensino interessado pela melhoria na qualidade de ensino, contribuindo para que os alunos desenvolvam suas aptidões, sem receios. Contudo, a efetivação de uma educação inclusiva e de processos sociais inclusivos não é uma tarefa fácil. No âmbito nacional, o movimento pela inclusão ganhou força com a Declaração de Salamanca, fruto da Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, em 1994. O documento tem grande importância social, no qual são tratados princípios, política e práticas relacionadas às necessidades especiais. Essa Declaração, defende que nenhuma criança deve ser separada das outras pela razão de apresentar alguma espécie de deficiência.Conforme destaque do autor, o referido documento proclama que as pessoas com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas comuns, que deverão integrá-las numa pedagogia capaz de 5 atender a essas necessidades (Mantoan, 2006). Ainda na Declaração de Salamanca, alguns preceitos são destacados: [...] todas as escolas deveriam acomodar todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Deveriam incluir todas as crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos em desvantagem ou marginalizadas. As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que têm deficiências graves (UNESCO, 1994). A Declaração defende o princípio de que as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, condições intelectuais, etc., ou seja, defende o princípio da diversidade. Nesse sentido, essa nova maneira de pensar a educação reflete sobre a educação especial e traz influências sobre os sistemas de ensino na reorganização de suas propostas pedagógicas, segundo o princípio da “educação para todos”. Por assim ser, a educação inclusiva é entendida neste artigo como um movimento no sentido de eliminar barreiras, criar processos e caminhos para acessibilidade, construir suas práticas por caminhos diferentes, novos códigos de linguagem e saberes singulares. Desse modo, com base nas discussões aqui apresentadas, como também caminhando na direção dos princípios inclusivos e do ensino para todos, espera-se trazer contribuições diversas para a compreensão dessa temática. A educação inclusiva, na verdade, não diz respeito somente às pessoas com deficiência, mas também a todas as pessoas que enfrentam qualquer tipo de barreira: seja de acesso à escolarização ou de acesso ao currículo, que levam ao fracasso escolar e à exclusão social. Para Carvalho (2005), a educação inclusiva não significa oferecer educação igual para todos, mas, antes e acima de tudo, oferecer a cada um, de acordo com seus interesses e necessidades, a educação que lhe é adequada. Para a autora, a palavra de ordem é a equidade, o que significa educar de acordo com as diferenças individuais, sem que qualquer manifestação de dificuldades se traduza em impedimento à aprendizagem. Ainscow (2004) assinala que a inclusão escolar pressupõe três elementos básicos, sendo eles: a presença, a participação e a construção do conhecimento. O elemento da presença está relacionado à socialização, visando a inserção dos 6 indivíduos nos espaços educativos e em todos os demais espaços públicos. Busca- se também a sua participação, que só será concretizada a partir de ações efetivas voltadas para a plena inserção desses sujeitos nas atividades escolares. E, por fim, a construção de conhecimento, que de nada valerá as demais se o sujeito não desenvolver e, por si só, estabelecer relações de saber. Atualmente, no Brasil, temos Legislações muito avançadas no que se refere à garantia dos direitos das pessoas com necessidades educacionais especiais, entre as quais devem ser destacadas: a Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei nº 9394/1996; a Lei da Pessoa Portadora de Deficiência, Lei nº 7853/1989; a Lei nº 10098/2000, sobre a acessibilidade; a Lei da Língua Brasileira de Sinais – Libras, Lei nº 10.436/2002; a Lei da inclusão, Lei nº 13.146/2015; e a Lei do Autismo, Lei nº 12.764/2012. Destaca-se ainda a proposição da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva - 2008, que traz ampla discussão e reflete um grande avanço dos marcos legais e educacionais. A referida política aponta como objetivos da educação especial: • transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior; • atendimento educacional especializado; • continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; • formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar; • participação da família e da comunidade; • acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; • articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. Outro ponto forte da Política é a indicação do atendimento educacional especializado, que tem como função 7 Identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela (BRASIL, 2008). Ao longo de todo o processo de escolarização, esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum: nos atendimentos aos alunos com deficiência (visual, auditiva, deficiência neuromotora), transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2008). As Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva - 2008 ainda trazem: a) O acesso à educação na infância, com prioridade nas atividades lúdicas, buscando promover todo potencial de desenvolvimento das crianças. Em crianças com idade inferior a três anos, o atendimento educacional acontece por meio de serviços de estimulação precoce em interface com os serviços de saúde e assistência social; b) Na modalidade jovens e adultos e educação profissional, o atendimento vem com ação de ampliar o leque de novas possibilidades educacionais, com formação para o mundo do trabalho; c) A interface com a educação indígena, grupos quilombola e do campo deve assegurar que os recursos, serviços e atendimento sejam assegurados; d) Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio do acesso, permanência e participação dos alunos; e) Para o ingresso dos alunos surdos, a educação bilíngue deve ser assegurada (Língua Brasileira de Sinais – Libras como primeira língua e a Língua Portuguesa como segunda língua), como também os serviços de tradutor e intérprete. Os serviços específicos do sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobilidade, da tecnologia assistiva também estão integrados na proposta da educação especial. As Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva apontam que a avaliação deve ser mediante o aprendizado já ad- quirido pelos alunos, validando suas ações frente ao seu desenvolvimento no decorrer 8 do processo educacional. Nesse processo, levam-se em consideração as caracterís- ticas de cada aluno. Um dos desafios na implementação de práticas na direção inclusiva é a formação de professores. Nota-se a necessidade de quebra de paradigmas e o exercício de uma nova cultura de “educação para todos”. Dito isso, será feita, a seguir, uma breve discussão sobre a formação de professores para a educação inclusiva. 3 OS PROFESSORES E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA A educação inclusiva é um desafio para a educação, na prática da qual há ainda pouco preparo para a atuação na área e profissionais pouco informados, tornando difícil o desenvolvimento de uma prática pedagógica sensível às necessidades do aluno com necessidades especiais. Assim, o desafio atual posto para os cursos de formação de professores é o de produzir conhecimentos que permitam a compreensão de situações complexas de ensino, para que os profissionais possam desempenhar de modo efetivo e satisfatório o seu papel de ensinar e aprender para adiversidade (GLAT, 2009). Valle e Guedes (2003) destacam pontos importantes para formação de professores na direção inclusiva: a) partir da ideia de que “todos os alunos podem aprender”, valorizando as potencialidades de aprendizagem de cada um; b) reafirmar que a aprendizagem é um processo individual, ocorrendo de maneira ativa em cada pessoa, de tal maneira que é o aluno que controla o seu processo de aprendizagem, sempre partindo do que sabe e influenciado por sua história pessoal e social; c) desenvolver a autoestima como uma das condições de aprendizagem, uma vez que o sentimento de pertencer a um grupo social, sentindo-se útil e valorizado, possibilita o agir e o crescer com o outro; d) estimular a autonomia dos alunos mediante a construção de sua aprendizagem; e) avaliar permanentemente as aprendizagens; f) avaliar o progresso de cada aluno segundo seu ritmo, do ponto de vista da evolução de suas competências ao resolver problemas de toda ordem e na participação da vida social; g) desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas de ensino mútuo, pois toda pedagogia diferenciada exige cooperação ativa dos alunos e dos seus pais, diminuindo a discriminação entre eles; h) envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho, despertando o desejo de aprender e propondo tarefas cognitivas de maneira lúdica e interessante, a partir das quais deveria ser desenvolvido no educando a capacidade de auto-avaliação; i) inserir-se no universo cultural dos alunos (VALLE e GUEDES, 2003, p. 52-53). Em síntese, pode-se afirmar que o professor deve valorizar a diversidade e ser capaz de construir estratégias de ensino, bem como estar apto para adaptar 9 atividades e conteúdos curriculares para a prática educativa. A realidade evidenciada por uma pesquisa recente, em âmbito nacional, mostrou que os professores, de maneira geral, não estão preparados para receber em sua sala de aula alunos especiais. Segundo Mantoan (2006), uma das principais barreiras para que se coloque em prática ações inclusivas diz respeito às escolas tradicionais, que não estão aptas para receber alunos especiais. Além disso, suas estruturas não oferecem condições adequadas para o bom desenvolvimento dos sujeitos com necessidades especiais. Em nossos projetos de transformação das escolas verificamos que há uma minoria de professores, diretores, especialistas e pais que já têm claro que a inclusão total é possível. [...]. Há, infelizmente, os que tentam e ainda não conseguem se libertar de preconceitos e de hábitos enraizados, que não permitem fazer uma releitura de suas ações (MANTOAN, 2006, p. 31-32). Um outro obstáculo, também refletido pela autora, é o déficit na formação profissional, que, em sua grande maioria, tem em suas práticas pedagógicas apenas aprendizagens acerca do ensino básico. As propostas de formação, em sua maior parte, estão voltadas para a ideia de um educador que dita conhecimento para os alunos e sobre os alunos. Com base nesses argumentos, destacando-se o papel da formação no preparo dos profissionais da educação, podem ser percebidos os motivos principais pelos quais os professores se posicionam com insegurança e receios ao receberem um aluno com necessidades educacionais especiais. Nesse cenário, há educadores que, com o objetivo de resolverem problemas relacionados à inclusão, buscam grupos e profissionais especializados. Contudo, é importante frisar que, devido ao fato de educadores esperarem respostas, técnicas e ações prontas, muitos acabam por distorcer a formação profissional de ambos os educadores e do que vem a ser a proposta da inclusão escolar. Destacam-se aqui as palavras de Mantoan (2006, p. 55), que aponta que “ensinar, na perspectiva inclusiva, significa ressignificar o papel do professor, da escola, da educação e de práticas pedagógicas, que são usuais no contexto excludente do nosso ensino, em todos os seus níveis [...]”. O exercício sugerido pela autora, que visa a transformação no trabalho educacional especial através dos educadores da rede regular de ensino, é a troca de vivências, com participação de toda a equipe gestora e educacional. Trata-se não 10 apenas da participação da instituição, mas, de uma forma coletiva, das demais escolas. É importante a troca de pensamentos, experiências e situações corriqueiras do dia-a-dia, sejam elas positivas ou negativas. São de grande validade as trocas de informações que tratem de situações reais, nas quais há sentimentos de pessoas reais que estão inseridas em um contexto social que envolve todos. Como se observa, “a proposta incentiva os professores a interagir regularmente com seus colegas, a estudar juntos e a colaborar com seus pares na busca dos caminhos pedagógicos da inclusão.” (MANTOAN, 2006, p. 56). Além do objetivo de coletividade da equipe gestora ao desenvolver o momento de troca, as ações de aprendizagem não se darão mais com o auxílio de formações especializadas. Ao contrário, as ações serão feitas a partir das próprias vivências dos profissionais, com base em suas relações de conhecimento, além de suas indagações frente aos novos desafios. Diante das demandas envolvidas, nota-se a necessidade da participação de profissionais especialistas dentro da rede regular de ensino. Também é legível aprovar o uso de equipamentos, recursos e instrumentos, como o uso do sistema Braille, rampas e apoios para a locomoção de deficientes físicos, entre outros objetos que são necessários para valorizar a presença desses alunos. Entretanto, não é aceitável o uso de métodos distintos para pessoas especiais, de modo a qualificar o ensino como especial. Sejam quais forem as limitações do aluno, adaptar currículos, facilitar tarefas e diminuir o alcance dos objetos educacionais concorrem para que rebaixemos o nível de nossas expectativas com relação a potencialidade desse, para enfrentar uma tarefa mais complexa, diferente. (MANTOAN, 2006, p. 34). Para poder transformar a educação básica em uma educação inclusiva total na rede regular de ensino, é preciso romper paradigmas, quebrar barreiras e valorizar os sujeitos em suas diferenças. A educação inclusiva “[...] não diz respeito apenas à inserção de alunos com deficiência, mas é condição para se reverter a situação vergonhosa da escola brasileira, marcada pelo fracasso e pela evasão de parte significativa de alunos.” (MANTOAN, 2006, p. 37). Quanto à capacitação, os professores têm diversas opções para a sua formação, entre as quais: habilitação em Pedagogia, cursos de Pós-graduação lato sensu e a Formação Continuada. Na realidade, as alternativas descritas acima não 11 são as que trarão, necessariamente, todos os resultados. Deve-se considerar ainda que suas propostas ofertadas não vão de encontro a uma educação aberta, mas com alguma restrição para a participação dos interessados. Se ofertada uma educação única para todos, na qual os sujeitos fossem submetidos à mesma oportunidade de aprendizagem, a junção da Educação Especial e Educação Inclusiva surtiria efeito. Por outro lado, a formação continuada contribuiria através da proposta de trabalho em equipe, em que os professores e profissionais da educação, em coletivo, debateriam sobre seus anseios e garantiriam tempo para a proposição e compreensão de ações de valorização de seus alunos na forma pedagógica. “[...] o que se almeja acima de tudo é saber se os professores e demais integrantes das unidades escolares progridem pedagogicamente, atualizando a maneira de ensinar, a partir de novas concepções e práticas educacionais; se as escolas estão se transformando; se os alunos estão sendo respeitados nas suas possibilidades de avançar autonomamente ao construir conhecimentos; se esses conhecimentos e outros são produzidos coletivamente nas salas de aula em clima solidário e com responsabilidade; se as relações entre crianças,pais, professores e toda a comunidade escolar se estreitaram em laços de cooperação e dialogo, frutos de um exercício diário de compartilhamento de deveres, problemas, sucessos.” (MANTOAN, 2006, p. 59). O objetivo da educação inclusiva é o acesso e a qualidade na educação para todos aqueles que se sintam excluídos na escola. Nesse processo, a função da escola e do professor é receber e acolher esses indivíduos, com o objetivo de transformar a sua realidade de conhecimento. É dessa forma que esses sujeitos poderão progredir, de forma independente, com os seus objetivos de vida, alcançando posteriormente, de forma mais ampla, mudanças na sociedade. 4 CONCLUSÃO Diante da exposição acima, conclui-se que a educação inclusiva já evoluiu bastante no decorrer dos últimos anos, como também é possível perceber que suas propostas são de grande valia para a promoção da qualidade educacional dos alunos com necessidades educacionais especiais. Trata-se de uma tarefa difícil, sendo um desafio para gestores e para o sistema de ensino em geral. Sabe-se que romper barreiras, para receber o novo, não é fácil. Também é preciso levar em conta que é necessário o suporte de uma escola bem estruturada e 12 preparada com profissionais capacitados e prontos para ajudar nesse processo. A educação especial na perspectiva da educação inclusiva busca oferecer uma educação para todos os alunos em sala de aula, devendo ser oferecida por professores da rede regular de ensino. Este artigo, no qual o objetivo foi tratar da educação inclusiva, não descartou os sujeitos envolvidos, até mesmo no que se refere à escrita deste texto. Nesse percurso de estudo, muitas crenças e equívocos foram revelados, evidenciando como alguns entendimentos perpassam o imaginário das pessoas, inclusive do pesquisador, naquilo que se refere à inclusão social. Em suma, os autores tomados por base exemplificam de forma bem clara que a educação inclusiva é para todos, abrangendo todos os que se sentem excluídos. Então, a partir disso, pode-se compreender que as crianças, jovens e adultos que são deficientes não estão sozinhos e que a educação precisa ser ensinada de forma igual para todos, sem nenhum tipo de segregação ou educação exclusiva. Ensinar é marcar um encontro com o outro e a inclusão escolar provoca, basicamente, uma mudança de atitude diante do outro, esse que não é mais um indivíduo qualquer, com o qual topamos simplesmente na nossa existência e/ou com o qual convivemos um certo tempo de nossas vidas. Mas é alguém que é essencial para a nossa constituição como pessoa e como profissional, que nos mostra os nossos limites e nos faz ir além. Cumprir o dever de incluir todas as crianças na escola supõe, portanto, considerações que extrapolam a simples inovação educacional e que implicam o reconhecimento de que o outro é sempre e implacavelmente diferente, pois a diferença é o que existe, a igualdade é inventada e a valorização das diferenças impulsiona o progresso educacional.” (STOBAUS e MOSQUERA, 2004 p. 28). REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SECADI, 2008. BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em 21 nov. 2017. 13 BRASIL. Planalto Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência. Brasília: Planalto, 1989. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_<03/leis/L7853.htm>. Acesso em 21 nov. 2017. BRASIL. Planalto. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. PLANALTO. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm>. Acesso em 21 nov. 2017. BRASIL. Planalto. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Brasília: Planalto, 2002. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 21 nov. 2017. BRASIL. Planalto. Lei nº 12.764, 27 de dezembro de 2012. Brasília: Planalto, 2012. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm>. Acesso em: 21 nov. 2017. BRASIL. Planalto. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Brasília: Planalto, 2015. Dis- ponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 21 nov. 2017. GLAT, Rosana. Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. 2. ed. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: o que é? por quê? como fazer?. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2006. STOBAUS, Claus Dieter; MOSQUERA, Juan José Mouriño (Orgs). Educação Especial: em direção à Educação Inclusiva. Porto Alegre: Edipucrs, 2004. VALE, M. H. F.; GUEDES, T. R. Habilidades e competências do professor frente à inclusão. In: NUNES SOBRINHO, F. de P. (Org.). Inclusão educacional: pesquisa e interfaces. Rio de Janeiro: Livre Expressão, 2003. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7853.htm
Compartilhar