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Direito Processual Civil	
Profª. Michelle Catta Preta 
EXECUÇÃO
5) Princípios da Execução:
Princípio da autonomia da execução
Princípio do título
Princípios específicos ou setoriais da execução
Princípio da patrimonialidade
Princípio da disponibilidade da execução
Princípio da máxima utilidade da execução
Princípio do menor sacrifício do executado (Princípio da menor onerosidade)
Incidência na execução dos princípios gerais do processo civil
Princípio do contraditório
Execução equilibrada (balanceamento dos princípios)
Princípio da autonomia da execução: antes de 2005, a execução, tanto de título judicial quanto extrajudicial era sempre um processo autônomo. Com as alterações, apenas a segunda continua implicando a constituição de um novo processo (com as ressalvas da execução de sentença arbitral, penal condenatória e estrangeira). 
O cumprimento de sentença não implica mais processo autônomo, mas uma fase subsequente. Nem por isso perdeu autonomia, porquanto a fase executiva não se confunde com a cognitiva. A autonomia persiste, se não com um processo novo, ao menos com o desencadeamento de uma nova fase processual.
Princípio do título: O princípio da nulla executio sine titulo estabelece que toda execução é fundamentada em um título executivo judicial ou extrajudicial. O título, pode-se dizer, é condição necessária e suficiente para a existência regular do processo executivo. Não se fundando em título executivo, nula será a execução. Entretanto, não basta a mera existência do título. É preciso mais que isso, daí a exigência de que este deve demonstrar obrigação líquida, certa e exigível.
Princípio da patrimonialidade: O princípio da patrimonialidade impõe que a execução somente recaia sobre os bens do devedor. Nesse sentido, o art. 789 do CPC dispõe que “o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”. Dessa premissa, conclui-se que não havendo pagamento das dívidas, não será possível ocorrer a prisão civil do devedor, exceto na hipótese de devedor de pensão alimentícia.
A doutrina costuma chamar o princípio da patrimonialidade de princípio da realidade, ou seja, toda execução é real e não pessoal, devendo incidir, em regra, sobre o patrimônio do executado, e não imediatamente sobre sua pessoa.
Princípio da disponibilidade da execução: A finalidade da execução é a satisfação do credor (art. 797, CPC). Pelo princípio da disponibilidade, o credor terá a faculdade de dispor sobre a execução como um todo ou de apenas alguns atos executivos. Isso porque ele não é obrigado a executar seu título, nem se encontra impelido a continuar com a execução forçada.
É consabido, nesses termos, que a instauração do processo de execução ou de uma fase executiva necessita, em regra, de requerimento do credor. Desse pressuposto deriva a ideia de que os atos executivos estão ao dispor do exequente, ou seja, o credor pode desistir de alguns atos executivos ou de todos eles, se lhe convier, não tendo que se sujeitar necessariamente ao executado. Essa é a inteligência do art. 775 do CPC: “O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva”.
O parágrafo único do referido dispositivo prevê que, após a desistência da execução, se observará o seguinte: serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre questões processuais, pagando o exequente as custas processuais e os honorários advocatícios (inciso I); nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante ou do embargante (inciso II).
Princípio da máxima utilidade da execução: a execução deve redundar em proveito do credor, no resultado mais próximo que se teria caso não tivesse havido a transgressão de seu direito. Essa orientação, porém, não é mais do que o desdobramento do princípio da máxima utilidade da atuação jurisdicional, sintetizada na célebre afirmação de que o processo deve dar a quem tem direito tudo aquilo e exatamente aquilo a que tem direito, inerente à garantia da inafastabilidade da adequada tutela jurisdicional (art. 5º, XXXV, CF/88).
Esse princípio, entretanto, assume especial importância na execução, na medida em que, nesta, a atuação da sanção e a satisfação do credor só são concretamente atingidos mediante obtenção de resultados materiais, fisicamente tangíveis: só se estará dando a quem tem direito tudo aquilo e exatamente aquilo que lhe cabe quando se consegue, mediante meios executivos, modificar a realidade, fazendo surgir situação concreta similar, quando não idêntica, à que se teria com a observância espontânea das normas.
A imposição da máxima utilidade funciona como diretriz genérica para todos os passos e momentos da execução, exigindo-se celeridade e rigor na prática de seus atos.
Princípio da menor onerosidade: Vem estabelecido no art. 805 do CPC: “Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado”.
Esse princípio não autoriza que o executado escolha sobre quais bens a penhora deva recair, nem permite que se exima da obrigação. A escolha do bem penhorável é do credor, e o devedor não pode exigir a substituição senão por dinheiro.
Pode haver dois modos equivalentes para alcançar o resultado almejado pelo credor. Em casos assim, há de prevalecer o menos gravoso ao devedor. Ex: pode ser que ele tenha dois bens imóveis próximos, de igual valor e liquidez, cada qual suficiente para garantia do débito. Não há razão para que o credor exija que a penhora recaia sobre um deles. Só porque o devedor o utiliza para alguma finalidade. Ainda que a execução seja feita em benefício do credor, não se pode usá-la para impor ao devedor desnecessários incômodos, humilhações ou ofensas.
O juiz deve conduzir o processo em busca da satisfação do credor, sem ônus desnecessários ao devedor, cabendo a este quando invocar o art. 805, indicar outros meios eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados.
Princípio do contraditório: O contraditório não é um princípio específico da execução, mas do processo em geral. Chegou a existir controvérsia sobre sua incidência na execução civil, e havia quem sustentasse que, como o executado não oferece resposta no bojo da execução, mas por meio da ação autônoma de embargos, esse princípio estaria ausente.
Ainda que com mitigações, que se justificam pela natureza da execução, o contraditório há de estar presente. O executado deve ser citado (quando a execução for fundada em título extrajudicial) e intimado de todos os atos do processo, tendo oportunidade de manifestar-se, por meio de advogado. Quando há cálculos de liquidação, penhora e avaliação de bens, ou qualquer outro incidente processual, ele terá oportunidade de manifestar-se.
O executado ainda poderá apresentar defesa no bojo da execução, como as exceções e objeções de pré-executividade ou a impugnação, no cumprimento de sentença.
O art. 5º, LV, CF/88, assegura o contraditório a todos os procedimentos jurisdicionais e administrativos. Como a execução civil tem natureza jurisdicional, ele há de ser observado.
Execução equilibrada: A execução deve ser equilibrada, de modo que deve buscar atingir o resultado esperado, qual seja, a satisfação do crédito, concretizando o comando normativo obrigacional previsto no título executivo (CPC, 797, 2ª parte). Entretanto, esta busca por resultados não pode ser feita sem critérios. Deve-se buscar a menor onerosidade para o devedor, isto é, a execução se faz no interesse do credor, (princípio do resultado) mas é mitigado pelo princípio da menor onerosidade/gravosidade ao executado (CPC, 805), ou seja, quando houver mais de uma forma de executar os bens do devedor, deve-se optar pela menos gravosa. É a ideia da eficiência versus ampla defesa. Deve haver a busca do equilíbrio entre a satisfação docrédito e o respeito aos direitos do devedor.
O artigo 797, CPC, prescreve que realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados, exceto no caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal. Em situações normais (de solvência do devedor), a execução corre no interesse do exequente. Em situações anormais, como o caso de insolvência, incide regra especial de concurso de credores (todos os credores são colocados em situação de igualdade, uma vez que não há bens para a satisfação de todos os créditos)
O artigo 805, CPC, enaltece que “Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado”. A execução é de iniciativa e no interesse do credor, mas se por várias formas de execução ele escolher a mais gravosa/onerosa para o devedor, deve o juiz agir de ofício para evitar o excesso. Repare que deve haver mais de um meio idôneo para a satisfação do crédito, ou seja, tem que haver uma possibilidade de escolha entre o credor e o juiz que determina a medida. Acrescente-se que o juiz for aplicar medidas menos gravosas ao devedor, deve tomar cuidado para não “esvaziar” a eficácia da medida. Deve o magistrado adotar medidas igualmente idôneas para a satisfação do crédito.
6) Responsabilidade Patrimonial (Arts. 789 a 796, CPC)
(i) órgão judicial: confere ao órgão judicial função executiva (poder-dever de agredir o patrimônio do devedor para satisfazer o direito do credor).
O título executivo estabelece as três posições subjetivas fundamentais na execução:
(ii) credor: confere ao credor o poder (ação) de exigir a realização de tais medidas constritivas pelo órgão judicial.
(iii) devedor: em correspondência às duas primeiras posições, submete o devedor à responsabilidade executiva ou patrimonial.
Responsabilidade patrimonial consiste na situação de sujeição à atuação da sanção. É a situação em que se encontra o devedor de não poder impedir que a sanção seja realizada mediante a agressão direta ao seu patrimônio. Traduz-se na destinação dos bens do devedor a satisfazer o direito do credor.
A responsabilidade patrimonial tem sua diretriz geral insculpida no art. 789, CPC:
“O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”.
Trata-se do princípio da realidade da execução, expressão com a qual se procura destacar que a execução civil recai precipuamente sobre o patrimônio do executado, e não sobre sua pessoa (mas há exceções: pense-se, por ex., na remoção, com uso de força, do devedor de bem imóvel objeto de execução).
(i) bens não sujeitos à execução: há bens do devedor que não respondem por suas obrigações.
Exceções
(ii) responsabilidade patrimonial de terceiros: há bens de terceiros que por elas respondem.
*Obs: Por razões de ordem política, social ou humanitária, a lei exclui da responsabilidade patrimonial alguns bens específicos do executado. 
Bens não sujeitos à execução
O art. 833, CPC, traz o rol de tais bens:Art. 833. São impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução (Obs: os frutos e rendimentos desses bens poderão ser penhorados, à falta de outros bens – Art. 834, CPC).
II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; 
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º ; (impenhorabilidade dos ganhos de natureza alimentar)
V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado;
VI - o seguro de vida;
VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas;
VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família;
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos;
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei;
XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra.
§ 1º A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive àquela contraída para sua aquisição. (Ex: não se pode opor a eventual impenhorabilidade de um imóvel que sirva de residência de família ao pagamento de débitos condominiais relativos ao próprio imóvel)
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8º , e no art. 529, § 3º . (STJ e outros tribunais: têm admitido penhora de salário abaixo de 50 salários mínimos, preservando a dignidade do devedor e sua família)
§ 3º Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentes a pessoa física ou a empresa individual produtora rural, exceto quando tais bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia a negócio jurídico ou quando respondam por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou previdenciária.
Lei 8.009/90 – trata da impenhorabilidade do bem de família. Essa lei passou a considerar impenhorável o imóvel residencial da família ou entidade familiar, por dívidas de qualquer natureza, civil, comercial, fiscal ou previdenciária, salvo as exceções do art. 3º da lei.
Responsabilidade patrimonial de terceiros
O responsável primário é o devedor, que responde com seus bens pelo cumprimento da obrigação. Mas a lei processual estende a responsabilidade, em certos casos, a terceiros, quando o devedor não tiver bens, ou eles não forem suficientes para a satisfação do credor. A execução pode atingir bens desses responsáveis, que serão penhorados em benefício do credor.
O art. 790, CPC, traz o rol desses terceiros:
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória; 
II - do sócio, nos termos da lei;
III - do devedor, ainda que em poder de terceiros; 
IV - do cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua meação respondem pela dívida;
V - alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução;
VI - cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em ação autônoma, de fraude contra credores;
VII - do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica.
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória: hipótese de alienação da coisa litigiosa.
Se no curso do processo que versa sobre direito real ou obrigação reipersecutória, o devedor aliena a coisa a um terceiro, a sentença estende os seus efeitos a ele, nos termos do art. 109, §3º.
Ainda que ela seja dada entre as partes originárias, o adquirente ou cessionário do bem responderá, sendoobrigado a cumprir o que ficou determinado.
A alienação de coisa litigiosa é ineficaz perante o credor; feita no curso de ação fundada em direito real ou pretensão reipersecutória, desde que a pendência da ação tenha sido averbada no respectivo registro público, configura fraude à execução, nos termos do art. 792, I, do CPC.
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
II - do sócio, nos termos da lei: 
Esse dispositivo é aplicável: (i) aos sócios normalmente solidários (ex: sociedades em nome coletivo); (ii) nas sociedades irregulares ou de fato; (iii) aos sócios com responsabilidade subsidiária. Nos dois primeiros casos, os sócio é também devedor, devendo figurar no polo passivo da demanda de execução; na terceira hipótese, sua condição normalmente será de terceiro responsável.
Além disso, mesmo nas sociedades em que a responsabilidade do sócio seja limitada, poderá este responder por dívidas sociais, quando o juiz aplicar a “desconsideração da personalidade jurídica” (art. 50, CC e 790, VII, CPC). Por este mecanismo, investe-se diretamente contra o patrimônio dos sócios, quando concretamente comprovado que a sociedade estava sendo usada por eles como mero instrumento para prejudicar terceiros, funcionando apenas como “barreira”, “anteparo”, na prática de atos juridicamente censuráveis. A desconsideração da personalidade jurídica se dá através de um procedimento específico, assegurando-se ao sócio (na desconsideração normal) ou à sociedade (na desconsideração inversa) o exercício do pleno contraditório (art. 133 e ss. c/c art. 795, §4º, CPC);
Em todos esses casos, o sócio poderá se valer do benefício previsto no art. 795, §1º - “o direito de exigir que primeiro sejam excutidos os bens da sociedade” – cabendo-lhe, então, “nomear quantos bens da sociedade situados na mesma comarca, livres e desembargados, bastem para pagar o débito (§2º). Pagando a dívida da sociedade, o sócio poderá executá-la nos autos do mesmo processo (art. 795, §3º, CPC).
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
III - do devedor, ainda que em poder de terceiros; não se trata de responsabilidade patrimonial atribuída a terceiro, mas de responsabilidade primária do próprio devedor, cujos bens ficam sujeitos à execução estando em seu poder ou em poder de terceiros
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
IV - do cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua meação respondem pela dívida;
Há casos em que o débito é contraído por ambos os cônjuges ou companheiros, quando, então, ambos serão devedores e terão responsabilidade primária pelo pagamento da dívida. Há outros em que foi contraída só por um, caso em que surgirá a dúvida sobre a possibilidade de, na execução, serem atingidos os bens próprios ou da meação do outro.
A regra é que um cônjuge ou companheiro só tem responsabilidade pelas dívidas contraídas pelo outro se elas tiverem revertido em proveito do casal ou da família.
Mas há presunção, seja qual for o regime de bens, de que a dívida de um dos cônjuges ou companheiros reverte em proveito do outro, salvo quando decorrente de atos ilícitos. Essa presunção é relativa e pode ser afastada se o cônjuge ou companheiro que não contraiu a dívida comprovar que não se beneficiou.
Se a penhora recair sobre a meação, ou sobre os bens particulares do cônjuge que não contraiu a dívida, caberá a este, por meio de embargos de terceiro, postular a sua liberação, com o ônus de comprovar que a dívida não o beneficiou.
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
V - alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução; 
As alienações de bem em fraude à execução são ineficazes perante o credor, que pode postular que continue sujeito à execução, ainda que em mão do adquirente ou cessionário.
Há que se fazer uma distinção: nos exemplos anteriores, o cônjuge ou o sócio, no caso de desconsideração da personalidade jurídica, tornavam-se corresponsáveis pela dívida , ainda que não a tivessem contraído.
No caso da fraude à execução, o adquirente ou cessionário não responderá pela dívida, mas o bem a ele transferido ficará sujeito à execução. O bem poderá ser constrito apesar de ter sido alienado para terceiro. Se o seu valor for maior do que o débito, o que exceder será restituído a ele; e se for menor, o terceiro não responderá pelo saldo, já que a sua responsabilidade limita-se ao bem.
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
VI - cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em ação autônoma, de fraude contra credores;
A fraude contra credores não pode ser reconhecida incidenter tantum, no curso de processo pendente, nem no bojo de embargos de terceiro (Súmula 195 do STJ).
A fraude contra credores pressupõe a ação pauliana, cuja natureza não é desconstitutiva, já que não desfará a alienação, mas declaratória de ineficácia.
Controverte-se se, no polo passivo da ação pauliana, devem figurar, em litisconsórcio necessário, o alienante e o adquirente, ou se basta que figure o adquirente. Parece-nos que não há necessidade do litisconsórcio, que só se justificaria se a ação pauliana tivesse por fim desconstituir a alienação. Como ela só a declara ineficaz perante o credor, trazendo prejuízo unicamente para o adquirente, somente este deverá figurar no polo passivo da ação.
Mesmo que procedente a pauliana, como há apenas a declaração de ineficácia, o bem alienado não responderá pela execução, se o devedor pagar a dívida, ou se ela for extinta por outra forma.
O reconhecimento da fraude à execução prescinde de ação declaratória e pode ser feita incidentalmente, no bojo da própria execução, quando o juiz verificar que o devedor está insolvente e que alienou bens após a citação (a citação no processo de execução, caso esteja fundada em título extrajudicial; ou na fase de conhecimento, na hipótese do cumprimento de sentença). O juiz reconhecerá a fraude por simples decisão interlocutória, na qual determinará a constrição do bem alienado, que se encontra em poder do adquirente.
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
VII - do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica.
Determinada em incidente próprio (art. 133 e ss., CPC) a desconsideração da personalidade jurídica, o juiz estenderá a responsabilidade patrimonial ao sócio (ou à empresa, no caso de desconsideração inversa), o que tornará os bens dele sujeitos à execução. Caso o sócio os aliene, haverá fraude à execução a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar (art. 792, §3º, CPC).
7) Fraude Contra Credores e Fraude à Execução:
(i) Fraude contra credores: consiste em ato de disposição de bens orientado pela vontade e consciência de prejudicar credores, na medida em que provoca a insolvência do disponente, diminuindo seu patrimônio de forma a impedir a satisfação do crédito (arts. 158 a 165, CC).
Objetivo: o eventus damni, caracterizado pela insolvência do disponente devedor
Requisitos
Subjetivo: o consilium fraudis, que é a intenção fraudulenta, a fraude bilateral (tanto do disponente devedor quando do adquirente).
Ação Pauliana
 instrumento a ser utilizado pelos prejudicados, a fim de combater os efeitos da fraude contra credores (arts. 158 a 165, especialmente o art. 161, CC), processável pelo procedimento comum do processo de conhecimento e com natureza constitutiva: sua eficácia desconstitui a eficácia do ato fraudulento.
Obs: a fraude contra credores – diferentemente da fraude à execução – não pode ser conhecida e declarada de modo meramente incidental, no bojo da execução ou de embargos de terceiro. 
 Principal efeito da ação pauliana
 permitir que a execução recaia sobre bens fraudulentamente alienados, apesar de estes se encontrarem no patrimônio do terceiro adquirente. 
Obs: para parte da doutrina, com a procedência da ação pauliana haveria a anulação do negócio como um todo; outros sustentamque o negócio continuará existindo, apenas deixando de ser eficaz perante o processo executivo do credor que promoveu a ação (tal como acontece na fraude à execução). Essa segunda orientação parece ser a mais correta: a fraude contra credor não invalida o negócio jurídico de alienação ou oneração do bem, mas implica sua ineficácia em face do credor fraudado. Em que pese os art, 158 e ss, do CC e 790, VI, do CPC aludirem a “anulação”, o art. 165 do CC deixa claro que a procedência da ação pauliana resulta na desconsideração do ato fraudulento exclusivamente em relação aos credores fraudados.
(ii) Fraude à execução: consiste em ato de ainda maior gravidade: acarreta dano aos credores e atenta contra o eficaz desenvolvimento da atividade jurisdicional.
Por isso, recebe resposta ainda mais enérgica da ordem jurídica. Seu ataque dispensa manejo de ação especificamente destinada ao desfazimento dos efeitos prejudiciais da alienação ou oneração. A lei simplesmente nega eficácia ao ato, perante a execução fraudada (art. 792, §1º). Verificada – no curso da execução – a fraude, os bens que dela foram objeto poderão ser desde logo atingidos pela constrição executiva, independentemente de demanda e processos específicos para desconstituir a eficácia do ato fraudulento. Nisso há essencial diferença em relação à fraude contra credores, em que o bem alienado só será submetido à execução contra o disponente devedor quando for bem-sucedida a ação pauliana.
Obs: A fraude à execução está, inclusive, tipificada como crime (art. 179, CP).
I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver;
II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do art. 828 ;Pressupostos - Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução:
III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a fraude;
IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência;
V - nos demais casos expressos em lei.
· A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente (Art. 792, §1º).
· No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem (Art. 792, §2º).
· Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar (Art. 792, §3º).
· Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias (Art. 792, §4º).
A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente (Art. 792, §1º): não se põe como requisito da fraude à execução a intenção de prejudicar credores (o consilium fraudis). Basta a transferência ou oneração: (i) do bem objeto da ação real ou reipersecutória; (ii) do bem objeto da constrição judicial; ou ainda (iii) de bens que esvaziem o patrimônio do alienante de modo tal que não lhe restem outros suficientes para responder pela demanda pendente. Além disso, em todas essas hipóteses, para que haja a fraude à execução, não é preciso que já esteja em curso a execução: é suficiente que esteja pendente ação de conhecimento.
Obs: Embora seja desnecessária a intenção fraudulenta, há clara orientação na jurisprudência (especialmente do STJ) no sentido de reputar imprescindível a ciência, pelo adquirente, da demanda fundada em direito real ou capaz de reduzir o devedor à insolvência (veja-se Súmula 375 do STJ: O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente). Ainda de acordo com esse entendimento, quando levada a registro público a pendência da demanda (Ex: lei 6015/73, art. 167, I, 21), estabelece-se presunção absoluta de sua ciência pelo adquirente. Falhando o credor proceder a tal registro, será seu o ônus de provar que o adquirente sabia da existência da ação. A lei 13.097/2015, relativamente aos bens imóveis, reafirmou essa orientação em seu art. 54. Por um lado, prevê a “ineficácia” da penhora (ou da ação reipersecutória, ou da demanda capaz de levar à insolvência etc.), quando não levada a registro público – conforme o caput e incisos do artigo. Desses dispositivos, se isoladamente considerados, talvez até se pudesse extrair uma norma distinta daquela que até então vigorou – vale dizer, uma regra que impediria, mesmo, qualquer alegação de fraude, se não tivesse havido o registro da demanda ou penhora. Mas o par. único do art. 54 desautoriza essa conclusão: as “situações jurídicas” que não tiverem sido levadas a registro, apenas “não poderão ser opostas (...) ao terceiro de boa-fé”. Ou seja, provando-se a má-fé do adquirente (que estará demonstrada uma vez comprovado que ele sabia da existência da demanda, da penhora etc.), será possível a configuração da fraude, a despeito de não ter havido antes o registro da demanda ou penhora.
Aquisição de bem não sujeito a registro: No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem (Art. 792, §2º).
Obs: É nesse contexto que se inserem os arts. 799, IX, e 828, caput, do CPC. Incumbe ao exequente averbar a pendência da execução nos registros de bens penhoráveis do devedor ou de terceiro responsável (registro imobiliário, registro de veículos etc.). Depois de penhorados na execução bens em valor suficiente para cobrir a dívida, devem ser canceladas as averbações relativas aos bens que não foram penhorados (art. 828, §§2º e 3º). Havendo a averbação da litispendência executiva no registro do bem, o terceiro que o adquirir depois disso não poderá alegar ignorância da existência da execução contra o alienante. Há uma presunção absoluta de ciência da demanda, propiciada pelo registro público. Portanto, esse requisito para a configuração da fraude à execução estará caracterizado, cabendo apenas verificar a presença dos demais. É nesse sentido que se deve interpretar o art. 828, §4º (“Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens efetuada após a averbação”).
Desconsideração da personalidade jurídica: Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar (Art. 792, §3º).
Obs: A regra visou a assegurar ao terceiro, que adquire o bem de um sujeito atingido pela desconsideração, que só poderia ser considerada em fraude à execução a aquisição feita depois de o sujeito atingido pela desconsideração já estar citado na demanda de desconsideração (principal ou incidental), pois, antes disso, o terceiro não teria como objetivamente conhecer a demanda.
A disposição do art. 792, §3º, em sua literalidade, é adequada para o caso em que a desconsideração é “invertida” – isso é, quando, mediante a desconsideração da personalidade, se penetra na esfera jurídica de uma sociedade para responsabilizá-la por atos de seu sócio (parte originária do processo). Para esse caso, mesmo se interpretando literalmente, o dispositivo é razoável: poderão ser considerados em fraude à execução os atos de alienação praticados pela sociedade a partir do momento em que ela foi citada quanto ao pedido de desconsideração. 
Mas, em face da desconsideração tradicional, o dispositivo tem redação extremamente defeituosa. Na desconsideração tradicional, costuma-se dizer que a personalidade que se pretendedesconsiderar é a do sujeito que já é parte no processo desde o início (a sociedade é parte do processo desde o início e se desconsidera sua sociedade para atingir-se o patrimônio do sócio). No entanto, seria ofensivo às garantias processuais reputar que nesse caso a citação da sociedade seria o marco para a fraude à execução relativamente aos bens do sujeito atingido pela desconsideração, pois tal termo retroagiria a um momento em que o sócio atingido pela desconsideração ainda não era parte de processo nenhum; não respondia por dívida alguma – e assim por diante: como terceiros que contratassem com ele naquele momento poderiam saber que no futuro ele seria atingido por uma desconsideração?
A regra precisa ser interpretada em conformidade com a CF. Um caminho para tanto reside em reconhecer que, quando há desconsideração da personalidade jurídica, mesmo em sua modalidade tradicional (em que o sócio responde pelas dívidas da sociedade, como se essa não existisse), sempre as duas esferas de personalidade são rompidas. Sempre se sai de uma esfera de personalidade para entrar-se na outra. Rompe-se uma delas ao sair e a outra ao entrar. Nesse sentido, mesmo na desconsideração tradicional, não há exagero em afirmar que a personalidade autônoma do sócio também é desconsiderada (e não apenas a da sociedade): ambas são tratadas como uma coisa só; ambas são desconsideradas. Logo, pode-se assim reconhecer que o art. 792, §3º, está a referir-se sempre à citação daquele que será atingido pela desconsideração (o sócio, na desconsideração tradicional; a sociedade, na desconsideração “invertida”).
Contraditório e ampla defesa: Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias (Art. 792, §4º).
Obs: Antes do CPC/15, já se reconhecia serem os embargos de terceiro o remédio adequado para o adquirente do bem combater a decretação de fraude à execução já emitida ou eminente. Mas o código atual deu um passo além em prol das garantias do acesso à justiça, devido processo legal, contraditório e ampla defesa. Determinou que, sempre que o juiz reputar haver elementos que indiquem a possibilidade de decretação da fraude à execução, ele deverá antes intimar o terceiro adquirente, para lhe dar a oportunidade de opor embargos de terceiro em 15 dias (art. 792, §4º). 
Opostos tais embargos nesse prazo, na medida em que os argumentos do embargante sejam plausíveis, o juiz poderá sustar a prática de medidas constritivas sobre o bem discutido (art. 678). Por outro lado, a não oposição dos embargos de terceiro no prazo de 15 dias não implica a decadência do direito de seu ajuizamento posterior. Os prazos para ajuizamento de embargos de terceiro estão estabelecidos no art. 675 – e são mais amplos do que esse a que alude o art. 792, §4º. Tal prazo de 15 dias concerne apenas ao período em que o juiz deve aguardar, antes de decretar a fraude à execução. Não opostos os embargos nesse prazo, o juiz desde logo decretará a fraude – sem prejuízo de adquirente obter depois, em futuros embargos de terceiro, o reconhecimento de que tal decretação foi indevida.
	
	Fraude contra credores
	Fraude à execução
	Título executivo judicial (execução imediata)
	Antes da citação no processo de conhecimento
	Após a citação no processo de conhecimento
	Título executivo extrajudicial (execução autônoma)
	Antes da citação no processo da execução
	Após a citação no processo de execução.
Diferenças 
	Fraude contra credores
	Fraude à execução
	Instituto de direito material
	Instituto de direito processual
	Defeito do negócio jurídico
	Ato atentatório à dignidade da justiça
	Dívida já existente, contudo não há a ação (de conhecimento, no caso de título executivo judicial ou de execução, no caso de título executivo extrajudicial) em andamento.
	O credor já demandou o devedor, e este já foi citado (para ação de conhecimento ou execução, dependendo do caso).
	Ineficácia contra o credor, a qual deve ser reconhecida em ação própria: ação pauliana
	A ineficácia contra o credor é reconhecida nos próprios autos
Semelhanças
	Fraude contra credores
	Fraude à execução
	Gera a ineficácia do negócio jurídico fraudulento, conquanto exija ação pauliana.
	Gera a ineficácia do negócio jurídico fraudulento, que pode ser reconhecida na própria execução. 
	Depende de comprovação de má-fé do adquirente.
	Também exige prova de má-fé do adquirente (Súmula 375 do STJ), que só será presumida se a penhora, a admissão da ação (art. 828), a hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originária do processo em que foi arguida a fraude ou ainda a pendência do processo nas ações reais ou reipersecutórias for averbada.

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