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1 - Direito do Consumidor - introdução.

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CESUFOZ/FAFIG 
Direito do Consumidor – Professora Cristina Delgado 
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INTRODUÇÃO AO DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
Abordagem histórica: Egito (competição entre fabricantes de tintas corporais), India (Código de 
Hamurabi, edificações), Idade Média (corporações de ofício, artefatos de guerra), Estados Unidos 
(1872, Lei de Sherman, 1891, new york consumers league, primeiro órgão de defesa do consumidor, 
fundado por Josephine Lowell). 
John Kennedy (15/03/1962): emite mensagem ao Congresso Americano, onde reconhecia, em 
síntese, que “consumidores somos todos nós”, na medida em que a todo o momento praticamos 
inúmeras relações de consumo. Kennedy afirmava que os consumidores seriam o maior grupo da 
economia, afetando e sendo afetado por quase todas as decisões econômicas, fossem públicas ou 
privadas. Todavia, seria o único grupo importante da economia não eficazmente organizado, cujos 
clamores quase nunca seriam ouvidos. Na mensagem ao Congresso, conclamava o Estado a voltar 
suas atenções a esse grupo e, ainda, listou uma série de direitos fundamentais dos consumidores, a 
saber: 1 – Direito à saúde e à segurança; 2 – Direito à informação; 3 – Direito à escolha; 4 – Direito a 
ser ouvido. 
 
Características gerais do Direito do Consumidor: 
 Transversalidade. 
 Tutela consumidores em seus interesses individuais e coletivos. 
 Direito social típico das sociedades capitalistas industrializadas (dos EUA para a Europa), 
onde os riscos do progresso devem ser compensados (Antonio Benjamin). 
 ONU: estabeleceu diretrizes em 1985 e consolidou-o como Direito humano de nova geração; 
Direito social e econômico; Direito de igualdade material do mais fraco, do leigo. 
 
 
 Mandamento, valor constitucional (art. 48, ADCT)1 
Constituição Federal 1988 
(ótica sistemática, hierarquia Direito fundamental (art. 5º, XXXII)2 
superior e de ordem pública) 
 Princípio da ordem social e econômica (art. 170, V)3 
 
Código de Defesa Consumidor: Lei nº 8.078/1990. Art. 1° O presente código estabelece normas de 
proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social (...). 
 
 Razione personae: fornecedor e consumidor. 
Campo de aplicação do CDC 
(conceito relacional) Razione materiae: relações contratuais e extracontratuais 
 
DEFINIÇÃO DE FORNECEDOR 
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem 
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, 
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou 
prestação de serviços. 
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, 
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das 
relações de caráter trabalhista. 
 
1 Art. 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, 
elaborará código de defesa do consumidor. 
2 Art. 5º, XXXII. O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. (Promover significa assegurar 
afirmativamente). 
3 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) V - defesa do consumidor. 
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Direito do Consumidor – Professora Cristina Delgado 
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DEFINIÇÃO DE CONSUMIDOR 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como 
destinatário final. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, 
que haja intervindo nas relações de consumo. 
Finalismo aprofundado: Teoria que se consolida com a entrada em vigor do Código Civil de 2002 e 
com forte atuação do Superior Tribunal de Justiça. Utilizada para permitir que uma pessoa jurídica 
que adquire insumo (que não é ato de consumo), defenda-se em juízo com as vantagens do CDC, 
caso consiga provar que está em situação de vulnerabilidade análoga a de um consumidor. 
 
Espécies de vulnerabilidades 
 
Vulnerabilidade técnica: existe quando o comprador não possui conhecimentos específicos sobre o 
objeto ou serviço que está adquirindo. É presumida para pessoas físicas e não profissionais. 
Já para profissionais é excepcional (requer prova in concreto). 
 
Vulnerabilidade jurídica (ou científica): é a falta de conhecimentos jurídicos específicos, bem como 
de contabilidade ou de economia. Tem especial aplicação nos contratos de adesão. 
 
Vulnerabilidade fática (ou socioeconômica): o ponto de concentração é a condição do fornecedor, 
por conta do seu poder econômico, monopólio ou essencialidade do serviço. 
 
Vulnerabilidade informacional: merece especial atenção num mundo de consumo visual, rápido e 
de risco, onde os fornecedores podem prejudicar os clientes com informação a menos, mais ou a 
menos. Por vezes há informação abundante, manipulada, controlada e até desnecessária. Ao 
mesmo tempo, o déficit informacional do consumidor está cada vez mais profundo. 
 
HIPERVULNERÁVEIS: crianças, jovens, idosos, doentes e portadores de necessidades especiais. 
Interessam especialmente ao Estado Social. 
 
CONSUMIDORES EQUIPARADOS: 
a) Coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo 
(artigo 2º, parágrafo único). Ex.: passageiros de ônibus. 
b) Todas as vítimas dos fatos do serviço (art. 17). Ex.: vítimas de acidente aéreo atingidas em terra. 
c) Todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas comerciais de oferta, de contratos de 
adesão, publicidade, cobrança de dívidas, bancos de dados, sempre que vulneráveis in concreto. (art. 29). 
 
DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR (art. 6º): 
1. proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de 
produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos. 
2. educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a 
liberdade de escolha e a igualdade nas contratações. 
3. informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta 
de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre 
os riscos que apresentem. 
4. proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, 
bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. 
5. modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua 
revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. 
6. efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. 
7. acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos 
patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, 
administrativa e técnica aos necessitados. 
8. facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no 
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, 
segundo as regras ordinárias de experiências. 
9. adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

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