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Clínica Médica Thalita Albuquerque – Medicina 7ºP Protocolo de Sepse Importância Tem altíssima morbimortalidade e acontece com frequência na prática. Um estudo feito no Brasil, com mais de 300 UTI’s elegíveis, mostraram que a letalidade da sepse chega a 55,7%. A cada segundo uma pessoa morre de sepse no mundo. Letalidade alta Dificuldade de diagnóstico - local de trabalho é precário (coleta e resultado de exames- hemocultura, falta de medicamentos); Desconhecimento do público leigo - Existem doenças que a população em geral conhece os sinais (IAM- dor no peito que irradia para o braço; AVC- paralisia de face, etc.), mas quando se trata da sepse, os sinais de confusão mental, taquicardia e hipotensão não são reconhecidos como possíveis sinais de sepse e muitas vezes o leigo não leva pra o hospital o mais rápido possível, perdendo a hora de ouro para tratar a sepse. Desconhecimento dos profissionais de saúde - Muitos desconhecem o que é sepse, a importância do tratamento precoce, de solicitar o pacote, de coletar as culturas, de reconhecer que um paciente taquicárdico, taquipneico e com febre pode estar séptico, que precisa investigar. Muitas vezes a equipe de enfermagem anota os dados da triagem, como febre e taquicardia, e o médico acaba tratando apenas a febre. Acesso inadequado - Acesso inadequado aos recursos; Limitação de recursos - Falta frasco de cultura, de antibiótico; Processos inadequados - Sepse é uma doença negligenciada - É uma doença que é tempo-dependente, como AVC e IAM, e tem uma mortalidade altíssima, entretanto não é dada a devida importância; BAIXA PERCEPÇÃO A sepse é uma doença tempo-dependente, ou seja, quanto mais demora de tratar, maior a morbimortalidade desse paciente. Se há demora em iniciar o antibiótico, a cada hora há risco do paciente piorar, dele precisar de droga vasoativa, de ir pra ventilação mecânica, de evoluir com injúria renal dialítica, de ir pra uma unidade de tratamento intensivo. Então existem riscos de sequelas pra esse paciente, que mesmo que melhore as funções, a morbidade é grande (demora de alta, pode ter escaras, pode ficar dependente de oxigênio, etc.). Reconhecer e tratar rapidamente; A janela de tempo (∆t) para iniciar o tratamento da sepse é de 1h. a chance de o paciente evoluir para mortalidade após essa hora é grande. A sepse é difícil de ser reconhecida, porém fácil de ser tratada. Quando está no início, é difícil de ser reconhecida, mas é mais fácil de ser tratada. Quando evolui, ela se torna mais perceptível, porém é mais difícil de ser tratada. O paciente que chega séptico ele vai diretamente para a sala vermelha, é aberto o protocolo de sepse e inicia-se o tratamento. SEPSE É EMERGÊNCIA!!! Definições Sepse: antigamente existiam os termos SIRS (síndrome da resposta inflamatória sistêmica), sepse, sepse grave e choque séptico. Porém, eles foram suspensos e hoje só se diz sepse e choque séptico. Resumindo: temos sepse quando a resposta do organismo frente ao agressor é amplificada determinando a disfunção de órgãos e sistemas. Ou seja, você tem um quadro infeccioso, por exemplo, uma pneumonia, uma amigdalite, uma erisipela, uma ITU, pielonefrite, enfim, um foco infeccioso bem definido, e esse foco infeccioso tá gerando uma resposta exagerada do organismo, levando a disfunção ou disfunções orgânicas. Ex. paciente tem uma pneumonia, você fez os critérios do CURB, PORT ou PSI, o paciente pode ser tratado em casa. A partir do momento que o paciente tem uma pneumonia e uma ou mais disfunção orgânica a mais (neurológica, respiratória, hemodinâmica, renal, hepática, hematológica), ele não tem só uma pneumonia, tem uma sepse de foco pulmonar. Pode ser um foco dentário, etc. ➢ Quando suspeitar de sepse? Clínica Médica Thalita Albuquerque – Medicina 7ºP SIRS: usa esses quatro critérios quando há suspeita de sepse: 2 critérios + um possível foco infeccioso; Então ainda utiliza o SIRS para se pensar em um quadro de sepse. OBSERVAR VALORES NO QUADRO Quanto à temperatura, o paciente pode apresentar hipotermia e hipertermia; Taquicardia; Taquipneia; Glóbulos brancos: podem estar aumentados ou diminuídos; ou apresentar mais de 10% de leucócitos jovens; Dois ou mais desses critérios com a presença de um foco infeccioso, aumenta a suspeita de sepse. O SIRS deixou de ser usado porque era muito sensível, paciente grande queimado, por exemplo, ou em processo de REMIT, pode apresentar esses critérios, sem que seja de fato, um quadro de sepse. Apesar do qSOFA ser mais recente, ele utiliza critérios que podem diagnosticar um paciente em um quadro mais avançado de sepse. Neste caso, recomenda-se usar tanto o SIRS, quanto o qSOFA, de forma que os dois utilizados juntos, tem maior chance de diagnosticar um paciente com sepse. Disfunções Orgânicas Neurológica: Paciente confuso, letárgico, que comumente não é assim; Pulmonar: Paciente taquipneico tem disfunção pulmonar, então é possível avaliar apenas clinicamente (FR e SpO2), não necessitando obrigatoriamente da relação PO2/FiO2; Hepático: paciente pode apresentar icterícia, mas nem sempre o aumento de bilirrubina é tão significativo a ponto de causar icterícia (acima de 2,5), portanto esse aumento de bilirrubina é visto dosando a quantidade através do exame (inclusive é um dos exames pedidos no pacote da sepse); A oligúria nem sempre é possível de ser notada, é também através da dosagem de creatinina que avalia disfunção renal; De acordo o que o paciente for apresentando, ele pontua no escore SOFA; Nem sempre é preciso de exames, muitas vezes o quadro é claro e o diagnóstico de sepse é feito clinicamente, principalmente quando determinado o foco infeccioso (se pulmonar, etc.); Tratamento da Sepse Clínica Médica Thalita Albuquerque – Medicina 7ºP Pacote de 1h - Abrir o pacote Sepse 1. Dosagem do lactato: se estiver >2, deve-se dosar novamente mais tarde para ver se não está ocorrendo o cleareance de lactato (se o lactato está caindo); 2. Fazer a hemocultura antes de iniciar o antibiótico. 2 amostras de hemocultura em sítios periféricos diferentes; Se for suspeita de endocardite o protocolo é coletar 3 amostras; 3. Administrar antibióticos de largo espectro; direcionado para aquele foco infeccioso, se pneumonia comunitária, beta-lactâmicos + macrolídeos, se pielonefrite, ceftriaxona, ou seja, antibiótico bem direcionado para o foco infeccioso; 4. Começar rapidamente a administração de cristaloides, paciente hipotenso e com lactato > 4; o ideal seria fazer um ecocardiograma a beira leito, para saber se o paciente suporta líquido, mas como nem sempre é uma realidade, a dosagem recomendada é de 30mL/kg, nas primeiras 3h. Soro fisiológico ou ringer lactato; o ringer lactato é mais recomendado. 5. Aplicar vasopressores se o paciente permanecer hipotenso após ressuscitação volêmica, mantendo uma meta de pressão arterial média de 65mmHg; a melhor droga para isso é a noradrenalina. A segunda droga a ser usada, caso não haja resposta, é a vasopressina, só entra se a noradrenalina estiver em uma dose maior que 0,25mcg/kg/min. Caso ainda não haja resposta, deve-se avaliar se o paciente tem disfunção miocárdica (ecocardiograma, cianose de extremidades, enchimento capilar alargado, saturação venosa central baixa, etc.), nesses casos a dobutamina pode ser associada. Outra medicação importante em um quadro de choque séptico é a hidrocortisona; os pacientes quando estão com doses acima de 0,25 a 0,5mcg/kg/min de noradrenalina, além de associar a vasopressina, deve-se associar a hidrocortisona. A hidrocortisona não vai melhorar o quadro nem diminuir a mortalidade do choque séptico, mas estudos mostram que ela diminui a necessidade do vasopressor. O paciente nesse quadro tem uma insuficiência de adrenal, por isso também se associa a hidrocortisona. A dose é 200mg/dia (50mg de 6 em 6h ou coloca no soropara correr na bomba de infusão em 24h); ➢ Exames laboratoriais- KIT SEPSE Hemograma: leucograma e plaquetometria; uma leucocitose, uma leucopenia, um desvio a esquerda ou plaquetopenia, fortalece a hipótese de sepse. Creatinina: avaliar a função renal; Bilirrubinas: avaliar disfunção hepática; Gasometria: avaliar a disfunção respiratória: relação FO2/PO2; RNI também é um exame para ver disfunção hepática, apesar de não entrar no SOFA; TGO e TGP: enzimas que vão avaliar lesão hepática; (há muitos casos de hepatite isquêmica pela sepse); PCR: avaliar o grau de inflamação do paciente, favorece o diagnóstico de infecção; Na, K e ureia ajudam na avaliação da disfunção renal; E não esquecer as duas amostras de hemocultura; e 3 na suspeita de endocardite; De acordo a suspeita do foco da sepse, deve-se marcar (à direita), se de foco urinário, caso apresente sintomas urinários, sempre pedir a cultura; Em caso de foco pulmonar, raio-X, ou TC; Frascos de Hemocultura; O antibiótico inicialmente é de uso empírico, pois só depois de 72h a 96h que a hemocultura sai; A antibioticoterapia é feita de acordo o sítio infeccioso e de acordo as recomendações do SCIH do hospital; No primeiro dia faz-se dose cheia do antibiótico: Clínica Médica Thalita Albuquerque – Medicina 7ºP Ex.: iniciar cefepima para o paciente, no primeiro dia faz a dose cheia de cefepima que é 1g de 8h em 8h; (não considera a função renal); A partir do 2º ou 3º dia, ajusta a dose de acordo a função renal do paciente; Ex.: 1g de 12h em 12h ou 500mg de 12h em 12h; de cefepima; Idealmente, mas não obrigatoriamente, o antibiótico deve ser iniciado após a coleta da cultura; em caso de falta de frasco de hemocultura, de demora de coleta, a prioridade é iniciar o antibiótico, pois este deve ser iniciado dentro de 1h; Descalonar o antibiótico é trocar de acordo o resultado da hemocultura; ➢ Controle do foco infeccioso Esses quadros necessitam ser resolvidos, pois só o antibiótico não será eficaz para a resolução do quadro; Amigdalite com abscesso (cirurgião de cabeça e pescoço para drenar abscesso), colecistite, pielonefrite, cateter venoso central com sinais flogísticos, pielonefrite com obstrução (tem que passar cateter duplo J); sonda vesical de demora também pode ser um foco. Peritonite fecal, úlcera de decúbito (escara), fasceíte necrotizante; Desbidramento/ amputação; A obstrução pode levar a infecção, a resolução do quadro é a passagem do cateter duplo J; Para iniciar a antibioticoterapia: ver qual que é o foco infeccioso, se o paciente é comunitário ou hospitalar (se há algum fator de risco para germes multirresistentes). Fatores de risco para germes multirresistentes ➢ Uso de antibióticos nos últimos 90 dias; ➢ Internação hospitalar nos últimos 90 dias; ➢ Imunossuprimidos (pacientes oncohematológicos ou que fazem uso de imunossupressores); ➢ Tratamento Quimioterápico; ➢ Insuficiência Renal Crônica em hemodiálise; ➢ Institucionalizados oriundos de presídios ou asilos; ➢ Presença de dispositivos invasivos; ➢ Quadro resumindo: quando pensar em sepse: Clínica Médica Thalita Albuquerque – Medicina 7ºP Atualização: as novas recomendações são de iniciar o antibiótico na 1ª hora se paciente chocado; Caso o paciente tem alta suspeita, com foco infeccioso claro, preenchendo todos os critérios: iniciar antibiótico; Se paciente não chocado e a sepse não é provável, somente é possível, estabilizar o paciente, pedir os exames do pacote sepse e se for sepse, só tratar após a confirmação;
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