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GESTÃO de OPERAÇÕES e LOGÍSTICA Leandro José Morilhas Lean d ro Jo sé M o rilh as G estão d e O peraçõ es e Lo gística GESTÃO de OPERAÇÕES e LOGÍSTICA Leandro José Morilhas Lean d ro Jo sé M o rilh as G estão d e O peraçõ es e Lo gística G estão d e O peraçõ es e Lo gística Lean d ro Jo sé M o rilh as Código Logístico 58671 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6495-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 4 9 5 3 Gestão de operações e logística IESDE BRASIL S/A 2019 Leandro José Morilhas Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: SFIO CRACHO/Halfpoint/Milos Muller/Ralf Gosch/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M849g Morilhas, Leandro José Gestão de operações e logística / Leandro José Morilhas. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2019. 158 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6495-3 1. Administração de material. 2. Controle de estoque. 3. Logística empresarial. I. Título. 19-58830 CDD: 658.787 CDU: 658.787 Leandro José Morilhas Doutor e mestre em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Especialista em Gestão de Empresas e Contabilidade pelas Faculdades Integradas Urubupungá (FIU). Graduado em Administração pelas Faculdades Integradas de Jales (Unijales). Fez cursos de extensão nas Universidades de Cambridge (Inglaterra), Lyon (França) e Harvard (EUA). É professor visitante da Escuela Superior de Administración y Negocios (Esan), de Lima, Peru, e avaliador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Possui ampla experiência na área de gestão educacional. É CEO e diretor de produtos e serviços em uma empresa de soluções educacionais. Já atuou como diretor-geral, coordenador de graduação e de pós-graduação, de pesquisa e de extensão e, atualmente, é professor de mestrado e de MBAs. É diretor-executivo e de afiliação da Associação Nacional de MBA (Anamba), ex-diretor do Principles for Responsible Management Education (PRME-Chapter Brazil), do Pnud-ONU, e membro do comitê organizador de eventos da European Foundation for Management Development (EFMD) para a América Latina. Desenvolve consultorias na área de gestão educacional para diversas empresas e pesquisas na área de administração com ênfase em gestão de operações, principalmente nas seguintes vertentes: logística e gestão da cadeia de suprimentos, desenvolvimento de produtos, processos e serviços, gestão ambiental e inovação tecnológica. Sumário Apresentação 7 1 Introdução à gestão de produção e operações 9 1.1 O que é gestão de produção e operações? 9 1.2 Qual é a importância da gestão de produção e operações para as empresas? 13 1.3 Conceitos iniciais 14 1.4 Administração da produção e suas contribuições para outras áreas da organização 16 2 Evolução histórica da gestão de produção e operações 25 2.1 A origem da gestão de produção e operações 25 2.2 Os grandes gurus da área 37 3 Estratégia de produção e operações 45 3.1 A função produção 45 3.2 O papel estratégico da função produção 47 3.3 Objetivos de desempenho da função produção 49 3.4 Foco x trade-offs em gestão de operações 55 3.5 Implementação da estratégia de operações 57 4 Gestão de serviços 67 4.1 Diferenças conceituais entre bens e serviços 67 4.2 Uma nova classificação para bens e serviços 69 4.3 O pacote de serviços 72 4.4 Operações de linha de frente 74 4.5 Operações de retaguarda 76 4.6 O modelo Servqual ou dos 5 gaps 79 5 Logística 85 5.1 Introdução à logística 85 5.2 Evolução histórica da logística 88 5.3 Fluxos logísticos 90 6 Redes de operações 101 6.1 Gestão integrada entre elos 101 6.2 Redes de suprimento: visão histórica, desenvolvimento e desafios 104 6.3 Tipos de produtos e de redes 109 6.4 Decisões de comprar ou fazer 110 6.5 Fluxos de materiais e efeito chicote 113 7 Previsão de demanda 117 7.1 O começo do processo produtivo: previsões em produção e operações 117 7.2 Características das previsões de demanda 118 7.3 Erros comuns em previsões de demanda 120 7.4 Processo de previsão de demandas 121 7.5 Métodos de previsão de demanda 124 8 Gestão de estoques 133 8.1 Função dos estoques 133 8.2 Tipos de demanda 137 8.3 Tipos de estoque 138 8.4 Modelos de gestão de estoques 139 Gabarito 153 Apresentação A gestão de operações é uma área instigante que tem mudado muito nas últimas décadas em três principais sentidos: ela se tornou mais estratégica, ampliou seu escopo de atuação e, mais recentemente, expandiu seu horizonte de preocupações. Mas o que isso quer dizer? Dizemos que a área se tornou mais estratégica porque, a cada dia, fica mais explícita sua contribuição ao desempenho competitivo das organizações. Já quando afirmamos que a área teve seu escopo de atuação ampliado, queremos dizer que passou de exclusivamente fabril para incluir também a gestão dos mais importantes serviços – não só de empresas tradicionalmente consideradas prestadoras de serviços como também de hospitais, companhias aéreas e de parcelas crescentes de serviços que as empresas manufatureiras têm oferecido aos seus clientes como forma de se diferenciarem da concorrência. Além disso, a gestão de operações estendeu seu horizonte de preocupações porque partiu da gestão de unidades operacionais (fábricas individuais e unidades individuais de prestação de serviços) para a gestão de redes de unidades operacionais interativas, as chamadas redes de suprimentos. Nesta obra, você encontrará boas discussões relacionadas a essas três mudanças de modo aprofundado, além de uma visão introdutória dessa importante área da administração, sua evolução histórica e ainda noções de previsão de demanda e de gestão de estoques. Este é, portanto, um livro para ser utilizado por estudantes e gestores, que fornece os principais conceitos e dados técnicos atrelados a contextos atualizados, assim como elucida o impacto da gestão de operações na vida das pessoas, na tecnologia e nos produtos, transitando sempre na fronteira entre o rigor conceitual e a aplicabilidade prática. Bons estudos! 1 Introdução à gestão de produção e operações Este capítulo objetiva tratar dos fundamentos da gestão de produção e operações, descrevendo seus principais conceitos, sua importância para a competitividade das organizações e as principais áreas que interagem com ela na empresa. Os temas foram estruturados numa sequência lógica de aprendizado e são abordados de maneira clara e concisa, com o apoio de exemplos e ilustrações. Além disso, os assuntos tratados neste capítulo servem como importante base para consolidar os conhecimentos a serem desenvolvidos nos próximos capítulos. 1.1 O que é gestão de produção e operações? A partir do final da Segunda Guerra Mundial (principalmente nos períodos posteriores à década de 1950), pode ser observado um aumento nos níveis competitivos entre as empresas, que se verifica fundamentalmente pelos movimentos de globalização e pela integração de economias ao redor do globo. Esse aumento fez surgir a necessidade de desenvolvimento de modelos inovadores de gestão nas organizações, devido ao novo cenário caracterizado por mudanças constantes. Em relação à competição, podem ser citados como exemplos os diversos aspectos que têm influenciado o gerenciamento de uma organização, tais como: a transformação de uma concorrência local ou regional em global, a disputa por mercados cada vez mais escassos, o avanço das tecnologias de informação e de comunicação, a complexidade dos sistemas econômicos, o aumento da exigência do consumidor, o ciclo de vida cadavez menor de produtos e serviços, entre outros. Nesse contexto, os sistemas que envolvem os processos de produção e operações constituem importante função da gestão das organizações, pois eles representam o papel de intermediação entre a transformação de produtos e serviços e a sua consequente disponibilização (entrega) ao consumidor. Considerando, então, que eles constituem o elo responsável pela entrega do produto ou serviço ao consumidor final, a principal função relacionada ao seu gerenciamento consiste em desenvolver mecanismos de operação colaborativa que possam otimizar esse processo de produção e distribuição. Toda organização, quer vise ela lucro ou não, tem dentro de si uma função de operações, pois gera algum “pacote de valor” para seus clientes, que inclui algum composto de produtos e serviços, mesmo que, dentro da organização, a função de operações não tenha esse nome. Os “clientes” podem ser internos – outros setores da empresa, por exemplo –, ou clientes externos – usuários, externos à organização, dos bens e serviços produzidos, por exemplo –. (CORRÊA; CORRÊA, 2004, p. 24) Vídeo Gestão de operações e logística10 Praticamente todos os produtos e serviços que consumimos atualmente são derivados de processos gerenciados pelas organizações e que resultam na utilização de diversos recursos, como as pessoas, a tecnologia, os materiais, a informação, o dinheiro, entre outros. O uso adequado e na medida certa desses recursos muitas vezes é fator fundamental para que a organização possa transformá-los em bens e serviços necessários ao nosso dia a dia. O Quadro 1, a seguir, retrata alguns dos mais comuns tipos de produtos e serviços consumidos atualmente. Quadro 1 – Tipos mais comuns de produtos e serviços Produtos Serviços Alimentos Restaurantes e lanchonetes Produtos eletrônicos (smartphones, tablets, computadores etc.) Sistemas de telefonia e sistemas disponibilizados na nuvem (cloud) Remédios e aparelhos de diagnóstico médico Hospitais e planos de saúde Livros, cadernos, canetas e lápis Colégios e faculdades Tesouras, secadores de cabelo, pentes e lâminas de barbear Cabeleireiros e salões de beleza Fonte: Elaborado pelo autor. Assim, pode-se entender que a gestão de produção e operações consiste no processo de gerenciamento da transformação de recursos em produtos e serviços que serão comprados e utilizados por todos nós. Ao mesmo tempo, esse processo de transformação precisa ser adequadamente conduzido, já que o uso dos recursos deve ser realizado da maneira mais eficiente possível, resultando no maior número de produtos e serviços a serem oferecidos. A gestão de produção e operações, ao mesmo tempo, também pode ser observada sob os três principais níveis relacionados ao processo de tomada de decisão organizacional: estratégico, tático-funcional e operacional. O planejamento e as tomadas de decisão que lhes são inerentes podem ser classificados em três grandes níveis, segundo a abrangência que terão dentro da empresa, afetando fatias maiores ou menores da companhia (MOREIRA, 2008, p. 7). A Figura 1, a seguir, ilustra a estrutura piramidal que descreve os três níveis de decisão na organização, sob a ótica da gestão de produção e operações. Cada um dos níveis apresentados na Figura 1 será explicado de maneira detalhada nas seções a seguir. Figura 1 – Níveis da organização (tomadas de decisão) Estratégico Tático-funcional Operacional Fonte: Elaborada pelo autor. Introdução à gestão de produção e operações 11 1.1.1 Nível estratégico O nível estratégico da organização é aquele em que as decisões são tomadas dentro de um macroambiente e definidas, muitas vezes, em um cenário de longo prazo. Esse nível será o responsável pela determinação dos rumos a serem seguidos pela empresa. Como exemplo dessas decisões, podemos citar a instalação de uma nova fábrica, de um novo armazém ou de novas unidades comerciais. São determinações que envolvem a análise do cenário econômico de longo prazo e exigem o exercício de extrapolação do mercado no futuro. A Figura 2, a seguir, exemplifica alguns desses tipos de decisões. Figura 2 – Decisões estratégicas relacionadas à gestão de produção e operações (produtos e serviços) Implementação de uma nova montadora de automóveis. Abertura de novas lojas. Nível de atendimento esperado nas operações de um terminal de passageiros (rodoviário, trens e metrô). Estabelecimento da localização de novo centro de distribuição de produtos. Investimentos em novas linhas de produtos. Operações em portos e em aeroportos. Fonte: Elaborada pelo autor. Portanto, a gestão estratégica de produção e operações envolve o processo de tomada de decisões com os maiores aportes financeiros, que são os mais difíceis de ser revertidos no curto prazo. Ela pressupõe um diagnóstico sobre o cenário futuro de demanda, em que as análises sejam cuidadosamente elaboradas para que esse tipo de decisão seja o mais adequado possível. 1.1.2 Nível tático-funcional O nível tático-funcional da gestão de produção e operações envolve as decisões de médio prazo diretamente relacionadas às atividades e às operações das diversas áreas da organização. Por exemplo, as decisões de fábrica são aplicadas ao planejamento agregado (que será posteriormente tratado neste livro) e aos processos de alocação dos principais recursos relativos à manufatura ou à prestação de serviços. A Figura 3, a seguir, mostra algumas dessas decisões tático-funcionais. IE SD E BR AS IL S /A Gestão de operações e logística12 Figura 3 – Decisões tático-funcionais relacionadas à gestão de produção e operações (produtos e serviços) Projeto de produção Nível do preparo do pessoal que irá trabalhar na manufatura Qualidade no atendimento dos serviços Planejamento da produção Layout da planta fabril Operações e fluxos dos processos Fonte: Elaborada pelo autor. As decisões tático-funcionais se referem ao estabelecimento de atividades a serem operacionalizadas no médio prazo e envolvem aportes financeiros significativos. Elas estão relacionadas ao nível gerencial das organizações, muitas vezes representado pelas áreas funcionais da produção e das operações, como manufatura, logística, compras, estoques, entre outras. 1.1.3 Nível operacional O nível operacional da gestão de produção e operações envolve as atividades relacionadas à operação dos processos. Ele ocorre sempre em períodos curtos de tempo e normalmente utiliza menores recursos financeiros do que os níveis apresentados anteriormente. Nesse nível, localizam-se as decisões relacionadas ao adequado funcionamento dos processos, e suas atividades são tratadas de maneira detalhada e com elevado grau de especificação. A Figura 4, a seguir, exemplifica algumas dessas decisões. Figura 4 – Decisões operacionais relacionadas à gestão de produção e operações (produtos e serviços) Número de máquinas para a fábrica Pessoal necessário no chão de fábrica Programação da produção Número de operações do serviço analisado Alocação de processos à atividade Análise dos tempos dos processos Fonte: Elaborada pelo autor. Agora que já esclarecemos o que são os níveis estratégico, tático-funcional e operacional, vejamos por que é tão relevante compreender e aplicar esses conceitos no gerenciamento das organizações. Introdução à gestão de produção e operações 13 1.2 Qual é a importância da gestão de produção e operações para as empresas? Como consumidores de produtos e serviços, normalmente optamos por aqueles que atendem às nossas necessidades. Para fazer essa opção, realizamos a análise de diversos fatores, como qualidade, durabilidade, tecnologia, aparência, preço, rapidez, entre outros. Produtos como smartphones, móveis, panelas, geladeiras, televisores etc. são exemplos em que esses fatores são considerados. Ao mesmo tempo, ao consumirmos serviços como os de hospitais, de uma oficina mecânica de automóveis e de um restaurante, por exemplo,fatores como a rapidez, a confiabilidade e a qualidade também são observados. Assim, para que as organizações consigam oferecer aos clientes produtos e serviços competitivos é necessário que estes sejam desenvolvidos por meio de processos bem elaborados e eficientemente concebidos. Em outras palavras, a análise e o desenvolvimento de operações estruturadas são fundamentais para que as empresas consigam atingir níveis elevados de competitividade, com produtos e serviços adequados aos seus clientes. Essas evidências constituem a principal importância da gestão de produção e operações: estabelecer mecanismos que organizem e estruturem os processos e as atividades organizacionais, visando à elaboração de produtos e serviços necessários ao consumidor. Dessa maneira, a função que envolve a gestão de produção e operações para as empresas é de fundamental importância para que elas possam ser competitivas no mercado. Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009), a função da produção, ao lado das funções de marketing e de desenvolvimento de produtos e serviços, são as funções centrais de qualquer organização. Além disso, ainda de acordo com os autores, outras funções de apoio também são importantes, como a gestão financeira e de pessoal. A Figura 5 ilustra as principais funções da organização e o posicionamento central da área de produção e operações. Figura 5 – Principais funções da organização Marketing/Desenvolvimento de produto e serviço/Produção e operações Funções de apoio Funções centrais Finanças Pessoal/RH Fonte: Adaptada de Slack, Chambers e Johnston, 2009, p. 5. É importante lembrar que as empresas, de acordo com suas particularidades, podem considerar diferentes tipos de funções e, até mesmo, nominá-las de maneira distinta. No entanto, as funções centrais são fundamentalmente encontradas na maioria das organizações, estando normalmente presentes em todos os tipos de negócio. Vídeo Gestão de operações e logística14 Outro detalhe importante que deve ser considerado refere-se ao processo de integração entre essas funções (tanto as centrais como as de apoio) no desenvolvimento das atividades da organização. De fato, uma visão sistêmica (visão integrada das funções e suas correlações) faz-se presente no processo de gestão da empresa, pois será responsável pela determinação adequada das ações e da priorização de passos e etapas a serem seguidos. A maneira correta de estruturar as ações consiste na principal importância da função da gestão de produção e operações para as empresas, uma vez que permite a elaboração e a organização de atividades que visam à produção dos produtos e serviços que os clientes desejam. 1.3 Conceitos iniciais Neste tópico, serão apresentados alguns dos principais conceitos relacionados à gestão de produção e operações, os quais serão relevantes para fundamentar o melhor entendimento dos assuntos tratados neste livro. 1.3.1 Produção A produção consiste no processo de transformação de produtos, matérias-primas, informação e outros recursos materiais, humanos e financeiros em novos bens e produtos destinados ao cliente. 1.3.2 Operações As operações são as atividades que envolvem o processo de prestação de um serviço. Elas são compostas pelas ações orientadas por etapas e passos a serem seguidos e que, de maneira integrada, proporcionam o serviço esperado pelo cliente. 1.3.3 Inputs Os inputs são considerados as entradas (insumos) num processo de produção ou de operações. Eles podem ser as matérias-primas, os produtos, os componentes, a infraestrutura, as pessoas, a informação, a tecnologia, os recursos financeiros ou de mercado, o feedback, entre outros. 1.3.4 Processamento O processamento consiste no processo de transformação dos recursos de entrada nos produtos ou serviços esperados pelo cliente. Essa etapa do processo de produção e operações é a responsável pela alteração das características dos insumos, transformando-os em novos produtos ou serviços que servem ao consumo final ou que podem ser parte (novos insumos) de outros processos de transformação. 1.3.5 Outputs Os outputs consistem nas saídas do sistema de processamento. São normalmente associados aos resultados do processo de transformação e denominados produtos ou serviços (quando têm Vídeo Introdução à gestão de produção e operações 15 o consumidor como destino final) ou componentes e materiais (quando destinados a compor o processo de transformação de outros produtos e serviços). O sistema de produção e operações pode ser mais bem entendido por meio da ilustração apresentada na Figura 6, a seguir. Figura 6 – Sistema do processo de produção Recursos transformados Input/Insumos Recursos de transformação Input/Insumos Materiais Informação Consumidores Instalações Pessoal Processo de Transformação Influências e restrições Subsistema de controle Bens ou serviçosINPUT OUTPUT Ambiente Ambiente Fonte: Adaptada de Slack, Chambers e Johnston, 2009, p. 9. A Figura 6 mostra o sistema de produção, com as entradas, o processamento e as saídas. Além disso, ela mostra o processo de feedback (ou retroalimentação) que vai apoiar as atividades de controle e avaliação do sistema. Esse processo de retorno possibilita a realimentação do sistema e é muito importante para que o próprio sistema faça os ajustes e as alterações que forem necessários. 1.3.6 Bens O conceito de bem é atribuído normalmente aos produtos físicos e tangíveis que são destinados para o uso, como um produto final ou um componente. São exemplos de bens os produtos que apresentam materialidade, que podem ser “tocados”. Eles podem ser classificados como públicos ou particulares, móveis ou imóveis, consumíveis ou não consumíveis, divisíveis ou indivisíveis, comercializáveis ou não comercializáveis, entre outros. 1.3.7 Serviços Constituem os resultados (outputs) de um processo, os quais não são físicos, ou melhor, são intangíveis. Eles são muitas vezes associados a um processo de entrega de algo de valor que necessita ser percebido pelo cliente, não necessariamente podendo ser “tocado”. Um corte de cabelo, uma regulagem no veículo, um atendimento médico e a limpeza de um local são exemplos de serviços. Em relação às diferenças entre bens ou produtos e serviços, muitos autores estabelecem, atualmente, uma nova abordagem, na qual a análise conjunta de produto/serviço deve ser Gestão de operações e logística16 considerada pelas empresas. Muitas vezes, um produto necessita estar integrado a um serviço para que seja reconhecido pelo cliente como importante e, consequentemente, seja comprado. Nesse sentido, qual seria o negócio de uma empresa que comercializa um serviço de streaming? Ela vende um serviço tecnológico que envolve a integração de diversos produtos (filmes, séries e documentários, por exemplo) com um serviço de assinatura mensal. Ela também oferece pacotes (que envolvem o número de acessos e máquinas, a qualidade de sinal HD ou não, entre outros) que podem ser escolhidos pelo cliente de acordo com a conveniência. Assim, o cliente decide qual o nível de produto/serviço é mais adequado para ele e qual preço está disposto a pagar (percepção de valor recebido). Outro exemplo seria uma concessionária de veículos, pois além de ela vender o produto (carro), também deve oferecer a assistência técnica, a disponibilidade de peças de manutenção, os acessórios, as informações para a adequada condução etc. Verificando os exemplos apresentados, observa-se que estabelecer a fronteira entre produto e serviço já não é mais tão simples. Produtos e serviços, atualmente, devem ser partes de um mesmo pacote de valor competitivo a ser oferecido pelas empresas. Daí a relevância de a área de produção e operações estar intimamente ligada às atividades das organizações. 1.4 Administração da produção e suas contribuições para outras áreas da organização As atividades que envolvem o gerenciamento de uma empresa dependem fundamentalmente dos processos de integraçãoentre os seus diversos departamentos e as suas áreas. Com a área de produção e operações não é diferente, pois ela é a responsável pela estruturação do sistema de transformação de insumos (entradas ou inputs) em resultados (saídas ou outputs). Em outras palavras, pode-se afirmar que a área de produção e operações praticamente está ligada a todas as outras áreas da organização, pois é responsável pela geração dos produtos/serviços ofertados pela empresa. A Figura 7, a seguir, ilustra essas relações. Figura 7 – Integração da área de produção e operações às outras áreas da empresa Produção e operações Marketing VendasLogística FinançasCompras Fonte: Elaborada pelo autor. Observa-se que é muito importante que a área de produção e operações consiga relacionar suas atividades e integrá-las às demais áreas, pois, assim, a organização poderá efetivamente desenvolver produtos e serviços competitivos e adequados aos clientes. Vídeo Introdução à gestão de produção e operações 17 Praticamente em todas as áreas da empresa as atividades que envolvem a análise de processos transformadores estão presentes e devem ser consideradas na gestão do mercado (marketing e vendas), gestão financeira, de compras e logística. Os tópicos a seguir detalham a relação entre a área de produção e operações com essas outras áreas principais da empresa. 1.4.1 Marketing e vendas Para sobreviver, a empresa necessita que seus produtos e serviços sejam comprados pelos clientes. Uma eficiente ação de marketing e de vendas é necessária, pois ela é a responsável por possibilitar que os clientes conheçam os produtos/serviços ofertados e tenham acesso a eles, garantindo que sejam disponibilizados em quantidade suficiente e a preços adequados. No entanto, para que os produtos e serviços possam ser divulgados e disponibilizados pelas áreas de marketing e vendas eles precisam, antes, ser fabricados (produtos) ou operacionalizados (serviços) na quantidade, na qualidade e no momento corretos. E essa função cabe à área de produção e operações, pois ela é que vai analisar e gerenciar as principais atividades que possibilitam a disponibilização de produtos e serviços dentro das expectativas dos clientes. Para isso, faz-se necessária a integração de informações entre as áreas de marketing e vendas e a de produção e operações, visando ajustar os procedimentos de fabricação e preparo do pacote de valor (produto/serviço) àqueles propostos pela área de comercialização. Christopher (2011) defende que os processos da organização devem ser gerenciados de maneira interfuncional, a fim de criar e fornecer valor ao cliente. O autor cita como exemplos o desenvolvimento da marca e do cliente, a administração de clientes, a análise de fornecedores e a própria gestão da cadeia de suprimentos. Nesse sentido, quando uma empresa decide lançar um novo smartphone no mercado mundial, por exemplo, ela integra as áreas de marketing e vendas com a de produção e operações, pois, no dia determinado para o lançamento do produto, o estoque dele deve estar disponível (em quantidade suficiente) nas lojas dos países em que ocorrerá o lançamento. Assim, deve ser realizado um planejamento prévio e integrado entre essas áreas para que o lançamento ocorra dentro das expectativas de venda da empresa e, mais do que isso, seja um sucesso. O Quadro 2, a seguir, exemplifica algumas dessas ações que integram outras áreas da empresa com a de produção e operações. Quadro 2 – Ações integradas entre as áreas de marketing e vendas e a de produção e operações Ação Área de marketing (vendas) Área de produção e operações Lançamento de smartphone no mercado • Preparar o conceito da divulgação do produto. • Divulgar a data do lançamento. • Promover e realizar ações e campanhas para o lançamento. • Fabricar os produtos em quantidade suficiente para o lançamento. Liquidação de produto • Criar e divulgar a campanha. • Garantir a disponibilidade dos produtos (na quantidade anunciada). Gestão de operações e logística18 Ampliar o mercado consumidor e a base de clientes • Desenvolver campanhas de marketing mais amplas. • Aumentar o volume de produção ou operação. Fonte: Elaborado pelo autor. O Quadro 2 mostra a importância da integração entre as áreas de marketing e vendas e a de produção e operações para o alcance de maiores níveis competitivos pela organização. Essa relação de dependência das ações que integram as atividades e as tarefas entre as áreas de elaboração e de comercialização dos produtos ou serviços é fundamental para que a organização desenvolva uma gestão eficiente. 1.4.2 Finanças Para que a empresa possa produzir um bem ou operacionalizar um serviço, diversos custos e despesas relativos ao processo devem ser considerados. Os custos e as despesas de produção são aqueles relacionados ao processo de manufatura (transformação) de um produto ou da prestação de um serviço e envolvem o custo das matérias-primas, do investimento em máquinas, de contratação e treinamento das pessoas, da energia que será consumida, do custo do espaço a ser utilizado, do tempo que levará o processo etc. Assim, para que a empresa consiga definir um preço final do produto ou serviço a ser comercializado, é necessário que ela realize a análise financeira de todos os processos que envolvem a fabricação ou o desenvolvimento do produto/serviço e os parâmetros pelos quais o mercado está disposto a comprar o que ela comercializa. Alguns conceitos relacionados aos principais aspectos das questões financeiras ligadas ao processo produtivo, por exemplo, envolvem o estabelecimento dos custos totais. Esse tipo de custo é estabelecido a partir de levantamento e análise de custos e despesas fixos e variáveis, que são os principais componentes do custo de fabricação do produto. O Quadro 3 define os conceitos de custos e despesas fixos e variáveis. Quadro 3 – Conceitos importantes Custos/despesas fixos Custos/despesas variáveis Não sofrem alteração em relação à quantidade de produtos fabricados: • custos com o pessoal administrativo da empresa; • custos relacionados aos espaços físicos (impostos municipais, taxas de funcionamento, energia consumida em espaços administrativos e de não manufatura); • custos com a depreciação das máquinas. Sofrem alteração de acordo com o volume de produção realizado: • custos com matérias-primas; • custos com a energia consumida pelo maquinário; • custos com o pessoal envolvido na fabricação; • custos com a manutenção das máquinas. Fonte: Elaborado pelo autor. Ao mesmo tempo, ao analisar a relação entre as áreas de produção e operações e a financeira, outro aspecto importante deve ser observado: a análise custo-volume-lucro. Introdução à gestão de produção e operações 19 A análise custo-volume-lucro verifica a importância de se estabelecer parâmetros que possam auxiliar o processo de gestão estratégica da produção. Nesse sentido, aspectos como a quantidade (volume) a ser produzida representam fatores relevantes para um estudo financeiro da lucratividade de toda a operação. O resultado dessa análise consiste no cálculo do ponto de equilíbrio (do termo em inglês break-even point) que, conceitualmente, pode ser definido como a quantidade ou o volume em que os custos totais são equivalentes à receita total. Esse valor define o momento em que ocorre a transformação de uma situação de prejuízo operacional em lucro, conforme mostra a Figura 8 a seguir. Figura 8 – Ilustração do ponto de equilíbrio Custo ($) Linha de receita total Linha do custo total Custo fixo Custo variável Volume (quantidade)Break-even point (ponto de equilíbrio) Custo Total = Receita Total Lucro Prejuízo Fonte: Elaborada pelo autor. Observe, na Figura 8, que, a partir do momento destacado no ponto de equilíbrio, as receitas totais serão maiores que os custos totais, inserindo o volume na área de lucro. 1.4.3 Compras Para que a empresa consiga fabricar produtos ou oferecer serviços de maneiraadequada aos clientes, é necessário que tenha os materiais (insumos/inputs) suficientes para tal. O fornecimento adequado dos inputs é muito importante para que o processo e as atividades de transformação na empresa possam ocorrer, sendo considerado como função de compras (purchasing em inglês). O processo de compras consiste em um conjunto de atividades que envolve diversas ações integradas em sequência e que mobiliza outras áreas da empresa, como demonstra a Figura 9. Gestão de operações e logística20 Figura 9 – Processo de compras Processo de compras Follow-up Cotações 1, 2, 3, ..., nCadastro de fornecedores Nota fiscal Controle de estoque Estocagem Recebimento Decisão Material Fonte: Elaborada pelo autor. Conceitualmente, a área de compras é a responsável pelo fornecimento dos insumos necessários para que o processo de produção/prestação de serviços possa ocorrer. Nela, são levantadas e analisadas diversas ações importantes que visam suprir e apoiar a área de produção e operações, como mostra a Figura 10 a seguir. Figura 10 – Ações importantes na área de compras Levantamento e análise de fornecedores Processo de cotação Acompanhamento da compra Fonte: Elaborada pelo autor. Como a Figura 10 sugere, a disposição dos itens abordados se dá em um processo sequencial lógico, que deve ser realizado fase a fase para que as decisões e as ações na área de compras sejam tomadas e realizadas de maneira eficaz. Cada item ilustrado será explicado brevemente a seguir. • Levantamento e análise de fornecedores: inclui a busca por fornecedores e a análise da situação financeira/operacional e da capacidade de fornecimento em diversas localidades de cada um dos fornecedores. • Processo de cotação: envolve a pesquisa de preços, a análise da especificação dos materiais a serem adquiridos e dos prazos de pagamento e entrega, a negociação e o fechamento da compra, a emissão do pedido de compra, entre outros elementos. • Acompanhamento da compra (follow-up): envolve o acompanhamento do pedido de compra, desde o momento em que ele é fechado até o recebimento do material adquirido. Esse processo é muito importante, pois pode levantar problemas de fornecimento, antecipando ações corretivas e prevendo problemas na produção. Introdução à gestão de produção e operações 21 1.4.4 Logística A logística pode ser entendida como a parte da gestão da cadeia de suprimentos que envolve o planejamento, a implementação e o controle da eficiência e do efetivo movimento de produtos, serviços e informações entre os elos iniciais (fornecedores) e os elos finais (consumidores), de acordo com requisitos e necessidades estabelecidos pelo cliente. O fluxo de movimentação do produto entre o ponto de origem e o de consumo é denominado cadeia de suprimentos. Segundo o Conselho Profissional de Gerenciamento de Cadeia de Suprimentos americano (CSCMP, 2019, tradução nossa): a gestão da cadeia de suprimentos – SCM – engloba o planejamento e a gestão de todas as atividades envolvidas na procura, na aquisição, na conversão e em todas as atividades da gestão logística. Além disso, ela inclui a coordenação e a colaboração dos parceiros do canal, como fornecedores, intermediários, serviços terceirizados e clientes. A Figura 11, a seguir, ilustra uma cadeia de suprimentos e os processos (relacionamentos) que devem ser estabelecidos entre seus diversos elos constituintes. Figura 11 – Cadeia de suprimentos típica e seus processos internos e externos Relacionamento entre os elos Cadeia de suprimentos Processos externos Fornecedores e parceiros Processos internos Organização Processos externos Clientes Fonte: Elaborada pelo autor. Assim, a área logística possui muita integração com a área de produção e operações, pois é a responsável pelo fluxo de produtos e informações entre as diversas fases do processo produtivo ou da prestação de serviços. A maneira como esse fluxo ocorre entre os diversos elos da cadeia de suprimentos e como ele chega ao cliente constitui o principal mecanismo a ser considerado na análise dos processos organizacionais. Outro importante papel da logística na área de produção e operações refere-se à melhoria do relacionamento entre a empresa e seus clientes e seus fornecedores, procurando estabelecer uma relação que envolva o compartilhamento de informações entre eles e a busca pela melhoria contínua dos processos de compra, suprimento, armazenagem, venda e distribuição. Para Ballou (2010), a logística deve estabelecer um conjunto de atividades visando ao maior retorno possível sobre o investimento ao longo do tempo. O autor afirma também que as estratégias logísticas devem buscar três objetivos principais: redução de custo, redução de capital e melhorias do serviço. Gestão de operações e logística22 Muitas vezes, a relação entre a empresa e seus parceiros não é feita de maneira que todos possam se beneficiar, gerando situações denominadas ganha-perde. A aplicação dos princípios básicos da gestão logística possibilita uma maior confiança entre os parceiros de negócio por estabelecer novos modos de comunicação e compartilhamento de informações, gerando uma nova relação entre eles, denominada ganha-ganha. A melhoria do relacionamento empresarial entre os parceiros dentro de uma cadeia de suprimentos leva à possibilidade de um maior planejamento e o controle da área de produção e operações. Isso acarreta melhoria da eficiência produtiva e operacional e, consequentemente, tem a capacidade de proporcionar maiores ganhos competitivos para a organização por produzir ou oferecer produtos/serviços mais adequados ao que o cliente espera. Considerações finais Neste capítulo, foi estabelecida uma introdução à área de produção e operações, apresentando seus principais conceitos e suas inter-relações com as outras áreas da organização. Os tópicos apresentados descreveram os assuntos mais importantes atualmente abordados pela área e servem como uma introdução aos diversos temas que serão trabalhados nos capítulos seguintes deste livro. A temática descrita neste capítulo mostra a gestão de produção e operações como uma das principais áreas da organização. Ao fazer uma reflexão entre essa área e o nível competitivo da empresa, é fácil observar sua importância na elaboração, no desenvolvimento e na entrega de produtos e serviços adequados às necessidades dos clientes. De nada adianta a empresa divulgar as características qualitativas de seu produto ou serviço se este não for efetivamente fabricado e não estiver disponível onde o cliente está, em quantidade, qualidade, preço e prazo esperados por ele. Em um mundo competitivo como o de hoje, no qual a disponibilização de produtos e serviços de acordo com as expectativas do cliente se faz cada vez mais presente, uma adequada gestão de produção e operações tem se mostrado de fundamental importância. Ampliando seus conhecimentos Sites • CSCMP – Concil of Supply Chain Management Professionals. Disponível em: https:// cscmp.org/. Acesso em: 25 jul. 2019. O Conselho de Profissionais de Gestão da Cadeia de Suprimentos, de acordo com o próprio site, existe para proporcionar oportunidades para os profissionais da cadeia de suprimentos se comunicarem e desenvolverem suas habilidades de gerenciamento. Além disso, o conselho também auxilia na identificação e condução de pesquisas que contribuam para a base de conhecimento da teoria e da prática da cadeia de suprimentos e na criação de consciência do significado da cadeia de suprimentos para os negócios e para a economia. https://cscmp.org/ https://cscmp.org/ Introdução à gestão de produção e operações 23 • ASCM – Association for Supply Chain Management. Disponível em: http://www.apics. org/. Acesso em: 25 jul. 2019. Segundo o próprio site, a Associação para Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos constitui-se como uma organização sem fins lucrativos que promove conceitos e práticas sobre as cadeias de suprimento (pesquisa, benchmarkinge publicações diversas). Além disso, é uma das principais associações profissionais para o gerenciamento da cadeia de suprimentos. • POMS – Production and Operations Management Society. Disponível em: http://www. poms.org/. Acesso em: 25 jul. 2019. A Sociedade de Gestão de Produção e Operações (POMS em inglês) é uma organização profissional internacional que representa os interesses dos profissionais dessa área em todo o mundo. Os propósitos da POMS são: estender e integrar conhecimentos que contribuam para melhorar o entendimento e a prática da gestão de produção e operações; disseminar informações sobre esse tipo de gestão para gerentes, cientistas, educadores, estudantes, organizações públicas e privadas, governos nacionais e locais e para o público em geral; e promover a melhoria da área de produção e operações e seu ensino em organizações de manufatura e em serviços públicos e privados de todo o mundo. Filme • FOME de poder. Direção: John Lee Hancock. EUA: The Weinsteins Company, 2016. 115 min, son., color. Esse filme apresenta a história dos irmãos McDonald’s e sua relação com um ambicioso empreendedor, Ray Kroc. Perceba, no decorrer do filme, o modelo de produção inventado pelos irmãos e a transformação da empresa em uma rede de lanchonetes, na qual o serviço também se torna fator competitivo fundamental para seu crescimento. Atividades 1. O que é gestão de produção e operações e qual a sua importância para o desenvolvimento competitivo das organizações? 2. Descreva, com base nas dimensões estratégica, tático-funcional e operacional da área de produção e operações, as principais atividades de uma companhia aérea regional e nacional. 3. Por que devemos considerar uma visão sistêmica da organização, em que a área de produção e operações necessita estar integrada a outras áreas da empresa? Cite alguns exemplos de atividades integradas a essa e a outras áreas. Gestão de operações e logística24 Referências BALLOU, R. H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 2010. CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: criando redes que agregam valor. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações. São Paulo: Atlas, 2004. CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals. What is Supply Chain Management? Disponível em: https://cscmp.org/CSCMP/Certify/Fundamentals/What_is_Supply_Chain_Management. aspx?WebsiteKey=0b3f453d-bd90-4121-83cf-172a90b226a9. Acesso em: 25 jul. 2019. MOREIRA, D. A. Administração da produção e operações. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. https://cscmp.org/CSCMP/Certify/Fundamentals/What_is_Supply_Chain_Management.aspx?WebsiteKey=0b3f453d-bd90-4121-83cf-172a90b226a9 https://cscmp.org/CSCMP/Certify/Fundamentals/What_is_Supply_Chain_Management.aspx?WebsiteKey=0b3f453d-bd90-4121-83cf-172a90b226a9 2 Evolução histórica da gestão de produção e operações Entender como surgiu a área de produção e operações e como ela evoluiu ao longo do tempo é o que se pretende nos tópicos deste capítulo. Ao mesmo tempo, pretende-se também auxiliar a compreensão de como essa evolução ocorreu e quais os caminhos traçados pelos principais expoentes da área. Assim, este segundo capítulo tem por objetivos apresentar a evolução histórica da gestão de produção e operações e evidenciar os principais marcos históricos e suas contribuições para a área. Ao final de sua leitura, de seu estudo, espera-se que você saiba mais sobre o surgimento da área de produção e operações e possa refletir acerca da evolução dela, contando ainda com um maior entendimento a respeito dos possíveis movimentos futuros para essa importante área organizacional. 2.1 A origem da gestão de produção e operações Desde os primórdios da raça humana encontram-se evidências de construções de vários tamanhos, simples e complexas, que certamente exigiram significativos esforços de seus construtores. Um dos primeiros relatos sobre os projetos de construção é citado por Corrêa e Corrêa (2017), que afirmam que, há mais de 400 anos, são retratados os primeiros projetos desenvolvidos e já se nota a popularização de sua sistematização ao redor do mundo. Os monumentos e templos de várias partes do planeta, igrejas e catedrais medievais, principalmente na Europa, as pirâmides no Egito, o Coliseu romano, o Parthenon grego, entre outros, são alguns exemplos de construções elaboradas pelo homem e que ainda permanecem com sua estrutura preservada. Ao observar as construções realizadas pela humanidade, verifica-se que, no passado, os processos que envolviam essas construções eram desenvolvidos normalmente por projetistas reconhecidos à época, com uso intensivo de mão de obra e com prazos de execução e término bastante longos. Outra característica importante consiste na necessidade de utilização de pessoas com habilidade artesanal especial para a construção de detalhes únicos. O processo de produção das partes e o seu devido encaixe na construção eram realizados por habilidosos artesãos, que normalmente levavam tempos consideráveis para essa confecção. Certamente, pode-se supor que as tarefas que envolviam essas construções demandaram sofisticados projetos, elaborados dentro de planejados e controlados processos de execução (em que a gestão da produção já se fazia presente). Vídeo Gestão de operações e logística26 2.1.1 Revolução Industrial A Revolução Industrial teve início na segunda metade do século XVIII, sendo que um de seus marcos iniciais é a invenção do motor a vapor, por James Watt (Figura 1), em 1764. Figura 1 – James Watt, inventor do motor a vapor D co et ze e/ W ik im ed ia C om m on s Fonte: VON BREDA, Carl Frederik. Portrait of James Watt. 1792. Óleo sobre tela: 125,7 x 100,3 cm. National Portrait Gallery, Londres, Inglaterra. Ao mesmo tempo, a Revolução Industrial também se espalhou, principalmente pela Europa e pelos Estados Unidos. Em solo americano, Eli Whitney, conhecido inventor da época, desenvolveu o conceito de peças intercambiáveis (no final do século XVIII) para a fabricação de armas para o governo americano. A Figura 2 mostra Eli Whitney, o inventor de peças intercambiáveis. De acordo com o conceito proposto por Whitney, as peças deveriam se encaixar corretamente desde a primeira vez que fossem usadas. Esse método de produção veio a substituir o sistema antigo de se encontrar as peças que melhor se encaixavam ou a substituição delas por outras que se encaixassem na montagem do produto (GAITHER; FRAZIER, 2001). O movimento gerado pela Revolução Industrial durante os séculos XVIII e XIX pode ser considerado a principal ocorrência a marcar o desenvolvimento dos sistemas modernos de produção e manufatura como conhecemos nos dias atuais. O estabelecimento de novas formas de sistematização do trabalho e o advento de M eg ap ix ie /W ik im ed ia C om m on s Fonte: KING, Charles Bird. Gravura baseada em uma pintura de Eli Whitney. 1820-1830. Figura 2 – Eli Whitney Evolução histórica da gestão de produção e operações 27 métodos lógicos de organização fabril fundamentaram o desenvolvimento dos modelos de produção que seriam referência do início do século XX em diante. Entretanto, mesmo com essa mudança significativa nos sistemas produtivos no final do século XIX e início do século XX, a Revolução Industrial ainda é considerada por muitos estudiosos mais como esforço artístico do que necessariamente como uma ciência (DAVIS; AQUILANO; CHASE, 2001). Assim, uma nova revolução, fundamentada nos pressupostos da Revolução Industrial, começa a acontecer a partir do século XX. Essas mudanças serão abordadas nos tópicos a seguir. 2.1.2 Administração científica O início do século XX foi marcado pela profusão e pela ampliação de novos mercados, ávidos porconsumir produtos que eram até então fabricados, em sua maioria, de maneira artesanal e em quantidades limitadas. O avanço de novas rotas comerciais entre alguns países do ocidente europeu, da Ásia e da nova América (representada principalmente pelos Estados Unidos) exigia o fornecimento de maior quantidade de produtos para atender a essa nova sociedade de consumo que estava emergindo. Nesse sentido, os primeiros trabalhos relacionados ao maior estudo sobre os sistemas de produção são atribuídos a Frederick Winslow Taylor, engenheiro mecânico que publicou, em 1911, o livro Princípios da Administração Científica. Ao mesmo tempo, Taylor recebeu o auxílio de diversos colaboradores, que amplificaram seus estudos e seu trabalho. Podem ser destacados os estudos de tempos e movimentos, da fadiga e ergonomia, de Frank e Lillian Gilbreth; a proposta de organização e controle das etapas, de Henry Gantt; as análises matemáticas, de Carl Barth; entre outros. O Quadro 1, a seguir, apresenta os principais atores da administração científica. Quadro 1 – Principais atores da administração científica Ator Período Contribuições Frederick W. Taylor 1856-1915 Princípios de administração científica, estudo do tempo, análise de métodos e padrões, planejamento e controle. Frank B. Gilbreth 1868-1934 Estudo dos movimentos, métodos, therbligs, contratos de construção e consultoria. Lillian M. Gilbreth 1878-1973 Estudos da fadiga e ergonomia, seleção e treinamento de empregados. Henry L. Gantt 1861-1919 Gráficos de Gantt, sistemas de pagamento por incentivo, abordagem humanística do trabalho e treinamentos. Carl G. Barth 1860-1939 Análise matemática, régua de cálculo, estudos de suprimentos e velocidade e consultoria para a indústria automobilística. Harrington Emerson 1885-1931 Princípios de eficiência, economia de milhões de dólares em ferrovias e métodos de controle. Morris L. Cooke 1872-1960 Aplicação da administração científica à educação e ao governo. Fonte: Adaptado de Gaither e Frazier, 2001, p. 9. Gestão de operações e logística28 A administração científica é considerada a primeira escola a utilizar, ainda que de maneira limitada, princípios e métodos científicos para compreender e gerenciar os processos de manufatura. Seus resultados proporcionaram um aumento significativo da eficiência e, consequentemente, dos volumes de produção. Até hoje, diversos métodos e técnicas desenvolvidos por Taylor e seus colaboradores são utilizados no aprimoramento da manufatura, e seu surgimento é considerado o principal marco do início da administração moderna. 2.1.3 Fordismo O avanço da administração científica, a partir do início do século XX, possibilitou que os empresários da época utilizassem esse conceito de produção e procurassem implementá-lo em suas fábricas. Sem dúvida, o principal expoente desse avanço foi o fordismo, que pode ser entendido como uma referência direta ao conceito de produção em massa, por meio do sistema de linhas de produção. Ele foi desenvolvido por Henry Ford, que, com a aplicação de diversas técnicas da administração científica em sua fábrica de automóveis, revolucionou a maneira como os produtos eram fabricados. Antes do fordismo, os automóveis normalmente eram construídos de maneira artesanal e caracterizados pelo baixo volume de produção. Com o advento do fordismo, os produtos puderam ser fabricados em larga escala e com custos de produção muito mais baixos. Com produção e oferta maiores e menores preços de produtos proporcionados pelo sistema fordista, um número maior de pessoas, de diversas classes econômicas, teve acesso ao consumo, gerando o denominado consumo de massa. Os princípios fundamentais do fordismo baseavam-se na especialização do trabalho em cada parte da fabricação e na responsabilidade exclusiva do trabalhador na produção de uma parte específica, sendo treinado para executar somente aquela função. Assim, havia uma elevada especialização do trabalhador naquela parte da produção, fazendo com que ele fosse altamente especializado e realizasse sua tarefa da maneira mais rápida possível. O funcionamento desse sistema proporcionou ganhos significativos na produção, transformando-a em produção em massa e gerando produtos padronizados e acessíveis à maior parte das pessoas. Entretanto, o sistema fordista também gerou problemas, principalmente para os trabalhadores, pois, ao serem treinados e preparados para fazer uma função muito específica, o trabalho se tornava bastante repetitivo, estafante e desgastante, gerando neles problemas físicos e emocionais. Por serem também considerados de baixa qualificação (pois não se exigia muitas competências em vários processos), os salários eram baixos, o que gerava muita insatisfação e trocas de trabalhadores. Evolução histórica da gestão de produção e operações 29 Dentre as principais características do fordismo, destacam-se: • desenvolvimento da produção em linha, com redução de custos; • baixa qualificação dos trabalhadores; • elevada repetição do trabalho; • especialização do trabalho; • produção em massa; • trabalho sequencial; • investimento em maquinários e em plantas fabris; • fluxo contínuo de produção. Por causa de suas características inovadoras para a época e por ter sido predominante na maior parte do século XX em diversos sistemas de produção, o sistema fordista é considerado um dos maiores marcos da história da gestão de produção e operações. 2.1.4 Período pós-guerra O período pós-guerra é aquele que culmina com o final da Segunda Guerra Mundial (a partir do ano 1946) e é marcado por uma necessidade de reconstrução das economias globais, muitas delas destroçadas pelos elevados gastos empreendidos nas batalhas. Ao mesmo tempo, ele também marca o aparecimento de um grupo de recém-nascidos no período (denominado baby boomers), que formaria uma nova sociedade, ávida pelo consumo de produtos e serviços. Por isso, mesmo com as fábricas limitadas em sua capacidade de produção, um novo esforço para se fabricar mais produtos foi necessário, pois havia, naquele momento, um mercado que estava comprando tudo o que fosse produzido. Essa situação proporcionou o desenvolvimento de novos sistemas de produção, mais focados no aumento dos volumes a serem produzidos e em uma busca incessante pela redução de custos e pelo aumento da capacidade produtiva. Ao mesmo tempo, esses sistemas também foram apoiados por técnicas desenvolvidas ainda no período da guerra, como a aplicação da abordagem sistêmica, dos processos logísticos de distribuição e das equipes interdisciplinares e o uso de técnicas matemáticas avançadas (como a pesquisa operacional, por exemplo). Assim, o período pós-guerra foi marcado por intensos avanços nos sistemas de produção, culminando no desenvolvimento de novos modelos e técnicas que ainda hoje estão presentes no ambiente organizacional. 2.1.5 A gestão da qualidade total A gestão da qualidade total – ou TQM (total quality management em inglês) – foi um movimento relacionado aos processos de gestão e de produção que teve seu auge no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Gestão de operações e logística30 Mas o que é qualidade? Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009, p. 40), qualidade “significa a produção consistente de serviços e produtos dentro das especificações” e satisfação dos clientes internos e externos. Em outras palavras, ela visa padronizar e controlar o processo de fabricação ou prestação de serviço de acordo com as necessidades do cliente, com um desenvolvimento interno (das pessoas) integrado e motivado a propor melhorias contínuas nas operações. A fundamentação do TQM se baseia em três princípios que orientam a busca por elevados níveis de performance e de qualidade no processo. Eles se relacionam à satisfação do cliente, ao envolvimento do funcionário e à melhoria contínua do desempenho (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). A Figura 3, a seguir, ilustra o TQM e suas interações com os princípioscitados. Figura 3 – TQM e os três princípios fundamentais Satisfação do cliente Envolvimento do pessoal Melhoria contínua TQM Fonte: Elaborada pelo autor. Considerado por diversos autores como uma filosofia de trabalho, o TQM pressupõe que esses três princípios sejam adequadamente gerenciados para que níveis de competitividade sejam alcançados. Vamos conhecer, a seguir, os três princípios que norteiam o TQM, de acordo com as definições de Krazewski, Ritzman e Malhotra (2009). 2.1.5.1 Satisfação do cliente O princípio da satisfação do cliente consiste na análise, pelo consumidor, do atendimento de suas expectativas em relação ao produto ou ao serviço consumido. Muitas vezes denominado como qualidade do produto ou serviço, ele se refere ao alinhamento entre o que o consumidor espera e o que ele efetivamente recebe como entrega da empresa. Diversos aspectos podem ser verificados ao se analisar a ocorrência desse princípio, como a conformidade com as especificações, o valor agregado, a usabilidade, o apoio técnico e assistencial e a experiência de uso. A Figura 4, a seguir, mostra o exemplo de um smartphone. Verifica-se se ele possui as especificações tecnológicas esperadas (câmera de vários pixels, tela touch, definição do visor, velocidade do processador e memória), o valor agregado pela sua aquisição (marca do aparelho Evolução histórica da gestão de produção e operações 31 e status), a usabilidade (tamanho, peso e sistema operacional utilizado), o apoio técnico (rede de assistência e durabilidade) e a experiência de uso (aspectos psicológicos, como a facilidade de uso – user friendly –, o design do aparelho e sua relativa exclusividade). Figura 4 – Análise da satisfação do cliente que adquire um smartphone Especificações? Conveniência? Valor agregado? Usabilidade Assistência Experiência Fonte: Elaborada pelo autor. A adequada análise desse princípio é muito importante para que o conceito de satisfação do cliente possa ser identificado e os processos que envolvem o TQM possam ser dimensionados e estruturados. 2.1.5.2 Envolvimento dos funcionários Esse princípio pode ser considerado como um dos mais importantes para o TQM, pois consiste no desenvolvimento de competências relativas ao pessoal interno da empresa, que será responsável pela efetivação e pela condução adequada dos processos definidos. Ele pressupõe que a organização avalie e promova uma mudança cultural e encoraje a formação e o trabalho em equipe. Quando a empresa necessita desenvolver um TQM que realmente funcione e seja adequadamente sistematizado para o atendimento das expectativas organizacionais, é preciso que os funcionários entendam e reconheçam quem são seus clientes (internos e externos) e como cada função desempenhada é importante para o desenvolvimento do todo. Ao mesmo tempo, esse entendimento necessita da percepção de que as atividades são interligadas e precisam ser integradas em trabalhos conjuntos que dependem uns dos outros (integração de processos). A Figura 5, a seguir, exemplifica, de maneira simulada, a necessidade de mudança cultural no entendimento individual e coletivo do processo e a necessidade de se ajustar às atividades de cada parte, a fim de que o mecanismo funcione adequadamente (ou seja, para que o sistema de engrenagem possa funcionar). IE SD E BR AS IL S /A Gestão de operações e logística32 Figura 5 – Trabalho coletivo e integrado Verifica-se, portanto, a importância das pessoas dentro das ações de TQM. O entendimento dos propósitos organizacionais (mudança cultural e transparência de objetivos) e a formação de equipes de trabalho integradas a esses propósitos são elementos fundamentais para que o TQM possa ser efetivamente executado. 2.1.5.3 Melhoria contínua A melhoria contínua é um princípio derivado de um conceito japonês, denominado kaizen. Ela pressupõe a necessidade de analisar constantemente os processos e de verificar suas possibilidades de melhoria e evolução. Melhorias em relação aos recursos utilizados – como a otimização do tempo, das pessoas envolvidas, dos métodos de trabalho e dos materiais componentes – devem ser continuamente revisadas e implementadas, com o propósito de que os processos sejam mais bem conduzidos e executados. Dessa maneira, o princípio da melhoria contínua começa com o preparo e o treinamento do pessoal, o que envolve sensibilização, educação sobre métodos de controle e conhecimentos acerca de indicadores de desempenho. Além disso, também é necessária a utilização de técnicas de gestão que possibilitem o acompanhamento e a análise dos processos, como o ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act, que significam, respectivamente, planejar, executar, controlar, agir). A Figura 6, a seguir, ilustra o ciclo PDCA. au rie la ki /S hu tt er st oc k Evolução histórica da gestão de produção e operações 33 Figura 6 – Ciclo PDCA Ac t Ag ir PlanPlanejar Do Faz er Check Checar É importante ressaltar que esse princípio deve ser aplicado em processos que agregam ou não valor ao projeto desenvolvido. Por exemplo, ao se reconhecer atividades que não agregam valor ao processo, podem ser analisadas as possibilidades de sua eliminação, reduzindo tarefas, tempo e recursos empregados. Ao mesmo tempo, a análise de atividades que agregam valor pode ter o seu escopo potencializado e mais bem estruturado, visando ao atendimento mais eficaz dos anseios do cliente. 2.1.6 Toyotismo e a administração japonesa O toyotismo consiste em um sistema de gestão da produção de mercadorias baseado na agilidade e na flexibilidade dos processos de fabricação. Desenvolvido inicialmente no Japão do período do pós-guerra, pelo japonês Taiichi Ohno, na empresa Toyota, esse sistema de produção foi pensado para suprir as necessidades de fabricação de produtos em um país que apresentava uma enorme escassez de recursos físicos e materiais. Como o desenvolvimento desse sistema de produção começou no Japão, pelas peculiaridades anteriormente citadas e com as diversas evoluções que foram acontecendo no país (com melhorias contínuas e aumentos significativos de produtividade), foi também chamado de modelo de administração japonesa. Esse modelo de gestão de produção e operações popularizou-se ao redor do mundo a partir da década de 1960, sendo ainda muito utilizado e aplicado pelas empresas. Um elemento muito importante que fundamentou o toyotismo foi o desenvolvimento do sistema Just in Time (JIT), surgido no Japão, na década de 1970. Segundo Corrêa e Corrêa (2004, p. 597), o JIT é muito mais que uma técnica ou um conjunto de técnicas de administração da produção, sendo considerado como uma completa filosofia que inclui aspectos de administração de materiais, gestão da qualidade, arranjo físico, projeto do produto, organização do trabalho e gestão de recursos humanos, entre outros. Assim, o JIT pode ser considerado uma filosofia de trabalho, a qual tem seus pilares focados na eliminação de desperdícios causados por excessos de capacidade e de estoques. Seu propósito consiste em gerar valor aos produtos por meio da produção de quantidades definidas pela demanda. IE SD E BR AS IL S /A Gestão de operações e logística34 Ele pressupõe a organização dos recursos de produção (máquinas, pessoas, tempo, volume, espaço, layout, entre outros) visando à eliminação dos desperdícios, à melhoria dos processos de produção, à redução drástica de estoques, à produção enxuta (lean production, que será abordada mais adiante), à produção em fluxos contínuos e ao melhor direcionamento dos esforços na resolução de problemas. Os objetivos do JIT estão intimamente ligados à melhoria contínua e ao processo de melhoria da qualidade, por meio do incessante “ataque” aos problemas ocasionados pela melhora na gestão e pela redução de estoques. A Figura 7, a seguir, ilustra o funcionamento do sistema JIT por meio de uma analogia com um lago. Figura 7 – Analogia entre um lago e o sistema JIT Ataque seletivo aosproblemas Problemas Refugo Filas, quebras e demanda instável Melhoria contínua Estoques Entregas atrasadas ou defeituosas Retrabalho Operadores destreinados Fonte: Adaptada de Corrêa e Corrêa, 2004, p. 599. Observa-se, na analogia apresentada pela Figura 7, que o lago representa os estoques da fabricação. Eles devem ser constantemente reduzidos, pois, assim, as barreiras, que são os morros no fundo do lago (representando os problemas da produção), vão aparecendo e se apresentando como problemas à navegação. Dessa maneira, elas devem ser atacadas para que o barco possa continuar a navegar (o que significa que a produção está ocorrendo). Portanto, é possível perceber que o JIT defende o contínuo combate aos estoques, para que surjam os problemas de produção e eles, por meio da melhoria contínua, sejam sempre resolvidos. Também denominado sistema Toyota de produção ou Lean Production (que significa produção enxuta), esse modelo de produção iniciado no Japão implementa diversos conceitos relacionados à melhoria dos processos produtivos nas organizações. Veremos, a seguir, suas principais características, apresentadas de acordo com Krazewski, Ritzman e Malhotra (2009). Evolução histórica da gestão de produção e operações 35 2.1.6.1 Método de fluxo puxado de trabalho Nesse método, o processo anterior é disparado somente após o processo imediatamente seguinte solicitá-lo. Isso pressupõe que cada processo realizará a sua tarefa sempre em consistência com a necessidade do processo seguinte. Em oposição a esse método, existe o denominado método empurrado, em que cada parte do processo se preocupa em realizar a sua tarefa, independentemente dos demais processos. Em outras palavras, no método empurrado, um determinado processo realiza suas tarefas e, então, transfere seus resultados ao processo seguinte, sem a necessidade de que este os solicite. A Figura 8, a seguir, ilustra um exemplo dos métodos puxado e empurrado de fluxo de trabalho. Figura 8 – Diferenças entre os métodos empurrado e puxado Empurrado Condições para disparar produção: 1. disponibilidade do material; 2. presença da ordem no programa, definida com base em previsões; 3. disponibilidade do equipamento. Diferenças entre sistemas puxados e empurrados Puxado Condições para disparar produção: 1. sinal vindo da demanda (quadrado Kanban) com menos de dois produtos (no exemplo); 2. disponibilidade do equipamento; 3. disponibilidade do material. Demanda Fonte: Adaptada de Corrêa e Corrêa, 2004, p. 601. Observa-se, na Figura 8, que o método puxado gera a ocorrência de menores estoques entre cada processo de produção. Isso acontece porque cada processo entrega seus resultados ao processo seguinte somente quando este o solicita. Gestão de operações e logística36 2.1.6.2 Qualidade no processo anterior Antes de o resultado de um processo avançar ao processo seguinte, deve ser checado, para verificar se está em ordem, e somente transferido se estiver adequado. Assim, garante-se que o componente transferido do processo anterior esteja em consonância com os requisitos necessários para ser processado na etapa seguinte. Essa característica permite a redução significativa de produção de peças com defeito e, consequentemente, a melhoria da conformidade do produto na etapa final de sua produção (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). Um outro método associado a essa característica refere-se ao denominado poka-yoke (que significa à prova de falhas). O sistema de câmbio automático nos veículos – que permite ligar o carro somente se a alavanca estiver na posição correta (P) e impede a troca de posição para a marcha à ré quando o carro estiver em movimento para frente – é um exemplo de mecanismo à prova de falhas (poka-yoke) implementado no processo de montagem dos veículos. 2.1.6.3 Pequenos lotes Observe que, na Figura 8, os lotes de solicitação e de entrega entre as etapas do processo do sistema puxado são menores do que os do sistema empurrado. Isso permite que menores estoques se acumulem entre as etapas e, assim, o ambiente produtivo fique mais arejado, com menos produtos que possam atrapalhar ou poluir o fluxo de materiais e produtos na fábrica (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). 2.1.6.4 Uniformização e padronização de trabalho Com uma maior uniformização e padronização do trabalho, as tarefas podem ser otimizadas e os seus recursos alocados de maneira a aumentar a eficiência de seu uso (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). 2.1.6.5 Proximidade com os parceiros Essa característica estabelece maior proximidade entre os vários parceiros ao longo da cadeia de suprimentos, tais como fornecedores e clientes. Essa aproximação pode ser realizada de maneira geográfica, o que significa que os fornecedores ficam localizados mais perto da fábrica, reduzindo os custos logísticos, e com a integração de processos, sincronizando as ações entre os parceiros, com o objetivo de redução de etapas, de tempo e de recursos (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). 2.1.6.6 Força de trabalho flexível A força de trabalho flexível é a característica que consiste na ação que envolve o treinamento das pessoas para que possam executar mais de uma tarefa. Uma empresa que presta assistência de aparelhos eletrônicos, por exemplo, demanda um grupo de pessoas que seja capaz de identificar diversos problemas que podem ter acontecido com o aparelho e que tenha a competência necessária para solucionar qualquer um desses problemas (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). Evolução histórica da gestão de produção e operações 37 2.1.6.7 Fluxos em linha e em células Essa característica pressupõe que o fluxo de produção seja analisado inicialmente em relação ao volume de determinado produto a ser produzido e, dependendo dele, a disposição do fluxo de produção seja realizada em linhas maiores ou menores. O objetivo é reduzir os tempos de parada para troca de produção, denominados setup (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). 2.1.6.8 Automação Essa característica consiste no uso de sistemas automatizados, muitas vezes operados por robôs. Eles são aplicados especialmente em processos de produção que envolvem sequências de atividades repetitivas e que exigem elevado grau de precisão e velocidade. Além disso, o uso desses sistemas reduz os custos de operação (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). 2.1.6.9 Cinco S O emprego dessa técnica de origem japonesa envolve o uso de cinco princípios que auxiliam a organização da gestão da produção, proporcionando condições que favoreçam a execução dos trabalhos dentro das fábricas. Esses princípios são denominados senso de utilização, de arrumação, de limpeza, de padronização e de disciplina (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). 2.1.6.10 Manutenção preventiva Essa característica, por fim, consiste no estabelecimento de um cronograma de manutenção, que envolve tanto o controle e a substituição de peças após determinado tempo de uso quanto estudos a serem aplicados visando à redução de tempo ocioso do maquinário, por exemplo. Essa característica procura evitar que ocorram paradas de máquinas por problemas de peças desgastadas, utilizando-as durante o maior tempo possível de suas capacidades (KRAZEWSKI; RITZMAN; MALHOTRA, 2009). Considerando, então, todas as características apresentadas, é importante salientar que o Toyotismo é considerado um dos principais movimentos evolutivos da área da gestão de produção e operações na segunda metade do século XX, sendo adotado amplamente, ainda nos dias atuais, por diversas empresas ao redor do mundo. 2.2 Os grandes gurus da área Nesta seção, serão apresentados os principais gurus da área de produção e operações, responsáveis por fundamentar e complementar a área logística e de redes de operações (CORRÊA; CORRÊA, 2004). 2.2.1 Frederick Winslow Taylor (1856-1915) Frederick W. Taylor nasceu no dia 20 de março de 1856, em Germantown, estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e formou-se técnico e engenheiro mecânico. Teve umainfância marcada pelo rigor e pelas normas familiares, que o ajudaram a formar seu comportamento analítico e voltado para o estudo disciplinado das estruturas dos processos de trabalho (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Vídeo Gestão de operações e logística38 Na pesquisa sobre os processos de trabalho, Taylor descreveu os estudos que realizou na empresa americana Midvale Steel, em relação aos processos de trabalho, às capacidades de operação do trabalhador e aos tempos e movimentos necessários para que cada etapa da produção pudesse ocorrer. Seus levantamentos envolveram a observação e a análise do processo de fabricação de um produto, dividindo-o em várias etapas menores, para serem estudadas e medidas (essa tarefa também foi denominada especialização do trabalho). Assim, com esse princípio, Taylor conseguia entender e detalhar cada etapa do processo de produção, o que possibilitava a definição de como este poderia ocorrer e quais ações seriam necessárias para o aumento de sua eficiência e, consequentemente, de sua produtividade. Os estudos de Taylor envolveram, por exemplo: • o conhecimento das habilidades e das forças (capacidades) dos trabalhadores envolvidos e da necessidade de seu preparo; • o uso de cronômetros para medir os tempos de cada etapa ou processo; • a análise específica das tarefas necessárias para realizar a produção; • o estabelecimento de procedimentos, roteiros e normas a serem seguidos; • a implementação de sistemas de pagamento como forma de incentivo para a melhoria da eficiência. Taylor é considerado pioneiro por ter implantado um método de observação e análise dos processos de produção e por ter estudado minuciosamente as ações de cada etapa desse processo, com o objetivo de fundamentar os esforços de melhoria e estabilidade na execução dos trabalhos (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Por esse pioneirismo, é considerado o “pai da administração científica”. 2.2.2 Henry Ford (1863-1947) Henry Ford nasceu em 30 de julho de 1863, no município norte-americano de Springwells. Formado em engenharia mecânica, foi o fundador da Ford Motor Company, a empresa automobilística que transformou, com os métodos adotados por Ford, o modelo de produção em massa no início do século XX (CORRÊA; CORRÊA, 2004). É atribuído a Ford o desenvolvimento e a implantação da primeira linha de montagem contínua e em série na fabricação de automóveis. Exímio inventor, com mais de 150 patentes reconhecidas, ele começou seus trabalhos na Edison Illuminating Company, de Thomas A. Edison, em Detroit (EUA). Vi ki ng st ad / W ik im ed ia C om m on s Figura 9 – Frederick Winslow Taylor (1856-1915) Evolução histórica da gestão de produção e operações 39 Após ter saído da empresa de Edison, com o intuito de trabalhar com motores, Ford iniciou seus estudos sobre veículos em uma oficina improvisada nos fundos de sua casa. Um de seus primeiros inventos foi o quadriciclo. Um dos maiores sonhos de Ford era produzir um veículo que pudesse ser fabricado em larga escala e que fosse financeiramente acessível a um maior número de pessoas. Seu primeiro veículo, então, foi o Modelo A, construído em 1903, que teve vendas ainda consideradas tímidas em relação ao seu propósito. Certamente, o desenvolvimento do Modelo A foi muito importante para Ford. Com ele, foi possível que novos aperfeiçoamentos fossem realizados e que, assim, Ford finalmente conseguisse realizar seu objetivo: melhorar seu sistema de fabricação e conseguir fabricar um veículo em grande escala e com preços acessíveis – o famoso e lendário Modelo T. As vendas do Modelo T foram um grande sucesso: mais de 15 milhões de unidades até o final da década de 1920. Esse número surpreendente levou Ford à galeria dos maiores empresários da época. Ford também realizou projetos que não deram certo, como a compra de terras às margens do Rio Tapajós, na Amazônia brasileira, para garantir o fornecimento de borracha para os componentes de seus carros, como pneus, peças de borracha, mangueiras, entre outros. Esse projeto envolveu, com o cultivo da seringueira, a construção de toda uma comunidade, com fábrica, casas para os funcionários, galpões, armazéns e até uma igreja. A Fordlândia, entretanto, não deu certo. Problemas envolvendo diferenças culturais e dificuldades de gestão do projeto pelos administradores encarregados acabaram minando os objetivos de Ford para a região. Ainda assim, Henry Ford é considerado um dos maiores empreendedores da História, e seus inventos e suas iniciativas são objetos de estudo e admiração até os dias atuais. 2.2.3 Taiichi Ohno (1912-1990) Taiichi Ohno nasceu em 29 de fevereiro de 1912, na cidade de Dalian, na China. Filho de pais japoneses, Ohno formou-se em engenharia mecânica e foi trabalhar na Toyota Spinning and Wearing em 1932. No início da década de 1940, foi transferido para a Toyota Motor Company, de onde se tornou vice-presidente em 1975 (CORRÊA; CORRÊA, 2004). É considerado o principal criador do sistema Toyota de produção. Durante toda a sua carreira trabalhou para reduzir ao mínimo as perdas na produção e os tempos de fabricação e de trocas de produtos em fabricação (setup). Além disso, elaborou células de produção dentro de outros sistemas de produção. H ar ts oo k/ W ik im ed ia C om m on s Figura 10 – Henry Ford (1863-1947) Gestão de operações e logística40 2.2.4 William Edwards Deming (1900-1993) O engenheiro norte-americano W. Edwards Deming nasceu em Sioux City, estado de Iowa, em 14 de outubro de 1900. Após a formação em engenharia, Deming focou seus estudos em matemática e física. Seu doutorado o auxiliou nos conhecimentos em estatística e em sua aplicação no cotidiano (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Deming (Figura 11) é considerado um dos principais expoentes da gestão da qualidade e foi o responsável pelo desenvolvimento da indústria japonesa no período do pós- -guerra. Ele chegou ao Japão nos anos 1950 para colaborar com o censo japonês e para ministrar palestras na União Japonesa de Cientistas e Engenheiros (JUSE – sigla em inglês para Japan Union of Scientists and Engineers), a principal associação de cientistas e engenheiros do Japão. Os princípios de controle da qualidade propostos por Deming foram amplamente adotados pelas empresas japonesas, o que fez com que elas conseguissem alcançar elevados níveis de competitividade em contexto mundial e fossem, posteriormente, copiadas ao redor do mundo. A contribuição desse cientista para o desenvolvimento da gestão da qualidade foi decisiva. Por isso, ele foi homenageado com a criação do Prêmio Deming, oferecido aos melhores gestores e às melhores práticas de qualidade com o uso de métodos estatísticos praticados no Japão. 2.2.5 Joseph Moses Juran (1904-2008) Joseph Moses Juran (Figura 12) nasceu em 24 de dezembro de 1904, na cidade de Braila, na Romênia. Mudou-se com sua família, na década de 1910, para os Estados Unidos. Anos mais tarde, formou-se em engenharia elétrica e foi trabalhar na Western Electric Company, posteriormente atuando como diretor industrial, consultor e professor na área da qualidade (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Juran realizou diversos trabalhos junto com W. E. Deming, e a ele também é atribuída a responsabilidade pelos fundamentos da gestão da qualidade e pelo significativo desenvolvimento das empresas japonesas no período do pós-guerra. Os principais aspectos defendidos por Juran se referem ao planejamento da gestão, An dr ia na 18 /W ik im ed ia C om m on s Figura 11 – W. Edwards Deming (1900-1993) Figura 12 – Joseph Moses Juran (1904-2008) D at Bo t/ W ik im ed ia C om m on s Evolução histórica da gestão de produção e operações 41 à melhoria e ao controle da qualidade. Sua contribuição também passa a considerar a percepção do cliente como critério a ser observado na gestão da qualidade. Em outras palavras, o nível de entrega do produto passa a ser o responsável pela satisfação ou insatisfação do cliente,a qual deve ser analisada e continuamente melhorada – o que significa uma melhoria contínua dos indicadores de satisfação do consumidor. Com W. E. Deming, Juran também ministrou palestras para a JUSE e teve suas ideias amplamente aceitas e implantadas em diversas empresas japonesas. Suas contribuições foram tão significativas no Japão que ele foi agraciado com a Ordem do Tesouro Sagrado, a maior honraria que um estrangeiro poderia receber. É autor de diversos livros importantes da área de gestão da qualidade, dentre os quais destacam-se Quality Control Handboock, de 1988, e A History of Managing for Quality, de 1995. 2.2.6 Kaoru Ishikawa (1915-1989) Kaoru Ishikawa nasceu em Tóquio, no Japão, em 13 de julho de 1915. Formou-se em engenharia química pela Universidade de Tóquio, trabalhou na gestão da qualidade da empresa Nissan e foi membro da JUSE e da Associação Americana para a Qualidade (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Dentre as suas diversas contribuições para a gestão da qualidade, destacam-se os círculos de qualidade, formados pela reunião de funcionários para a discussão das melhorias da qualidade, o diagrama de causa e efeito (também denominado Diagrama de Ishikawa), que consistia na análise dos efeitos das ocorrências por meio da identificação de suas principais causas, e a divulgação das sete ferramentas da qualidade. Entre essas contribuições, certamente a principal e mais conhecida é o Diagrama de Ishikawa, que pode ser visto na Figura 13, a seguir. Figura 13 – Exemplo do diagrama de causa e efeito de Ishikawa EFEITO/ PROBLEMA Produtos com defeito Meio ambienteMedidaMão de obra Operários sem treinamento Falta espaço na linha de produção Não há sistema de controle de produção Operários desmotivados Faz muito calor na linha de produção Equipamento mal calibrado MaterialMáquinaMétodo Falta procedimento documentado Matéria-prima de baixa qualidade Equipamento muito antigo Não tem supervisor de produção Fornecedor atrasa a entrega de insumos Muitas paradas para manutenção de equipamento Fonte: Elaborada pelo autor. Ishikawa foi um dos principais expoentes a difundir a cultura da qualidade no Japão. Suas contribuições nessa área fizeram com que as empresas difundissem, junto a seus funcionários, uma nova cultura, voltada a adotar os preceitos da qualidade em todos os processos de fabricação, por meio da conscientização e da revolução do pensamento. Gestão de operações e logística42 2.2.7 Genichi Taguchi (1924-2012) O engenheiro Genichi Taguchi nasceu no dia 1º de janeiro de 1924, em Tokamachi, no Japão. Taguchi é o responsável pela criação de uma metodologia que permite melhorar a qualidade com a redução de custos, a qual ficou mundialmente conhecida como o Método Taguchi (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Essa metodologia também considerada uma filosofia, pressupõe que a gestão da qualidade contemple todo o processo de produção (principalmente as perdas), desde a sua concepção (como projeto e design) até o produto acabado. Dentre as várias contribuições de seu método, destacam-se a percepção de que a qualidade deve vir incorporada no produto desde o início, a análise dos desvios da qualidade para o alcance das metas, a análise do processo de fabricação do produto e a consideração dos diversos custos de qualidade, como os de inspeção e de desvios, os retrabalhos, as garantias, as devoluções etc. 2.2.8 Armand Vallin Feigenbaum (1922-2014) Feigenbaum nasceu em 6 de abril de 1922, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Ele é considerado o criador do Controle da Qualidade Total (TQC, do inglês Total Quality Control). Mestre e doutor pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Feigenbaum trabalhou durante mais de 30 anos na empresa General Electric. Depois, acabou fundando a sua própria empresa, a General Systems Company (CORRÊA; CORRÊA, 2004). É considerado um dos maiores nomes da qualidade mundial e foi membro das principais associações americanas de qualidade, como a Academia Internacional da Qualidade (IAQ – sigla em inglês para International Academy for Quality) e a Sociedade Americana para a Qualidade (ASQ – sigla em inglês para American Society for Quality). Dentre as suas principais contribuições para a área da gestão da qualidade, destacam-se os esforços da organização para a satisfação do cliente. Para Feigenbaum, a empresa deve estabelecer mecanismos de controle de qualidade em todas as suas partes, visando atender às necessidades e às percepções sobre a qualidade definidas pelo cliente. Dessa maneira, o termo TQC, cunhado por Feigenbaum, envolve o fundamento de que o controle de qualidade deve ser total e deve ser responsabilidade de todos na organização. Seus estudos sobre os custos relacionados à qualidade e ao processo de produção também são muito importantes, e até nos dias atuais são considerados em várias empresas ao redor do mundo. Considerações finais Neste capítulo, foi apresentada a evolução histórica da área de produção e operações, desde o seu início, com os primeiros projetos de produção e as grandes construções, até os principais conceitos atualmente utilizados pelas organizações mais produtivas. Ao final deste capítulo, espera-se que você tenha um relevante conhecimento histórico sobre a evolução do processo produtivo ao longo dos anos e possa ser capaz de refletir sobre o contexto em que esse movimento evolutivo ocorreu. É interessante que você tenha entendido também como os novos conceitos relacionados à área de operações estão surgindo no âmbito organizacional. Evolução histórica da gestão de produção e operações 43 Ampliando seus conhecimentos Filmes • TEMPOS Modernos. Direção/Produção/Roteiro: Charles Chaplin. EUA: United Artists, 1936. 87 min. O filme retrata um processo de produção do início do século XX, sob as óticas de Taylor (especialização do trabalho) e Ford (linha de montagem). Ele faz uma crítica ao modelo de produção da época e mostra como a superespecialização do trabalho pode afetar o trabalhador. • COM O DINHEIRO dos outros. Direção: Norman Jewison. EUA: Warner Bros, 1991. 103 min. Lawrence Garfield compra empresas industriais em dificuldades financeiras e não hesita em fazer negócios com elas de maneira inescrupulosa. Nesse sentido, o filme permite uma reflexão sobre a cultura organizacional e sobre como uma indústria deve repensar seu processo de modernização (máquinas, pessoas e processos). Atividades 1. A Revolução Industrial é considerada o principal marco histórico a ensejar o início dos estudos que envolvem a gestão de produção e operações. Descreva os principais avanços alcançados naquela época. 2. Reflita sobre as principais características empregadas pela administração científica e as utilizadas pelo toyotismo. Destaque algumas das suas diferenças. 3. Quais as principais contribuições que o movimento do TQC acarretou para a efetividade das operações logísticas? Referências BALLOU, R. H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 2010. CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações. São Paulo: Atlas, 2004. DAVIS, M. M.; AQUILANO, N. J.; CHASE, R. B. Fundamentos da administração da produção. Porto Alegre: Bookman, 2001. GAITHER, N.; FRAZIER, G. Administração da produção e operações. São Paulo: Pioneira-Thompson Learning, 2001. KRAZEWSKI, L.; RITZMAN, L.; MALHOTRA, M. Administração de produção e operações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 3 Estratégia de produção e operações A gestão de operações é a área da administração encarregada de transformar, por meio de processos estruturados, recursos, como matérias-primas, pessoas e dados, em bens e serviços. Porém, não basta saber transformar tais recursos, é preciso fazer com que os produtos, as saídas dos processos, atendam aos desejos e às necessidades dos consumidores. Alémdisso, é preciso que, ao mesmo tempo, esses produtos criem vantagens competitivas, diferenciações em relação aos concorrentes. Quando a gestão de operações consegue, por meio de seus processos de transformação, gerar produtos (bens e serviços) que atinjam os objetivos da organização, pode-se dizer que a administração das operações ocorre de modo estratégico. Considerando-se, portanto, que a gestão de operações auxilia as empresas a executarem efetivamente suas estratégias, os propósitos deste terceiro capítulo são: apresentar a função produção em detalhes, evidenciar todos os objetivos de desempenho de operações e discutir como se dá a implementação da estratégia de operações, comentando cada um de seus passos e as ferramentas a serem utilizadas para que ela ocorra. Ao final da leitura e do estudo deste capítulo, espera-se que você compreenda que a área de operações não é, de forma nenhuma, operacional, mas sim estratégica para o sucesso das organizações. 3.1 A função produção A gestão de operações pode ser definida como o campo da administração responsável pelo planejamento, pela operação e pelo controle do processo de transformação de recursos, como matérias-primas, pessoas e dados, em bens e serviços de uma organização. É preciso esclarecer que o planejamento envolve a estruturação das ideias e das ações que a empresa pretende desempenhar. A operação, por sua vez, refere-se à execução, ao movimento de tirar as ideias do papel e colocá-las em prática. O controle, por fim, é composto pelo levantamento de indicadores e pela verificação e comparação daquilo que foi executado em relação ao que foi planejado. O processo de transformação é a atividade central das organizações e abrange todas as atividades que contribuem para transformar os recursos ou insumos em produtos, ou seja, em bens e serviços. A primeira etapa do processo aborda os inputs ou insumos, que são os recursos a serem consumidos. Eles podem ser de duas naturezas: recursos de transformação, que executam a ação, e recursos transformados, que recebem a ação de transformação. Vídeo Gestão de operações e logística46 Como recursos de transformação, podemos citar as pessoas e as instalações, tais como os professores e as salas de aula em uma escola, por exemplo, ou os operários e as instalações fabris em uma montadora. Já os recursos transformados podem ser materiais ou matérias-primas, dados ou informações e consumidores, tais como os alunos de uma escola ou as chapas metálicas, os vidros e os pneus que serão parte do processo de fabricação de um veículo em uma montadora. De acordo com os objetivos da empresa e da natureza do recurso, o processo de transformação pode variar. Evidentemente, ensinar um aluno é um processo distinto do processo que se tem ao transformar matérias-primas e componentes em um veículo. Todavia, ambos sofrem influências, seja de consumidores, seja de concorrentes, e restrições, como de legislação ou orçamentária, por exemplo. O processo de transformação sofre, também, controles, como os da qualidade, oriundos de certificações como as da International Organization for Standardization (ISO) ou, ainda, de agentes reguladores como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esta regulamenta todas as operações de setores como os de medicamentos, alimentos, cosméticos, saneantes, derivados do tabaco, produtos médicos, sangue, hemoderivados e serviços de saúde (ANVISA, 2019). A saída de processos gera os outputs, que podem ser serviços, como educação, capacitação e aprendizado, caso da escola, por exemplo, e bens, como carros, caminhões e ônibus, caso da montadora. Figura 1 – Sistema do processo de produção Recursos transformados Input/Insumos Recursos de transformação Input/Insumos Materiais Informação Consumidores Instalações Pessoal Processo de Transformação Influências e restrições Subsistema de controle Bens ou serviçosINPUT OUTPUT Ambiente Ambiente Fonte: Adaptada de Slack, Chambers e Johnston, 2009, p. 9. A gestão de operações é desempenhada pelo gerente de operações. Esse profissional é responsável por pensar, entre outros aspectos: • no planejamento e no projeto do produto: quais produtos ou serviços serão produzidos? • no planejamento da capacidade: qual a quantidade a produzir? • no planejamento da localização: onde produzir? Estratégia de produção e operações 47 • no planejamento dos processos de produção: como produzir? • no planejamento do layout: como organizar as instalações? Se bem geridas, as operações ajudarão consideravelmente a competitividade do negócio, isso porque elas assumem um papel central no desenvolvimento de todas as atividades organizacionais, uma vez que a entrega de um bem ou um serviço ao cliente se dá por meio de uma efetiva gestão de operações. Portanto, podemos perceber que essa área tem um papel estratégico no desempenho competitivo da organização e pode influenciar positivamente não apenas a organização onde ela ocorre, mas também a competitividade de um dado país. 3.2 O papel estratégico da função produção O termo estratégia tem suas origens na área militar e já era utilizado há quase 3 mil anos por Sun Tzu, um estrategista chinês que afirmou: “todos os homens podem ver as táticas pelas quais eu conquisto, mas o que ninguém consegue ver é a estratégia a partir da qual grandes vitórias são obtidas” (TZU, 2002, p. 9). Morilhas (2007, p. 4) afirma que: já na área administrativa o termo estratégia surgiu na época de Péricles (450 a.C.) quando passou a significar habilidades gerenciais administrativas, liderança, oratória, poder. Quanto ao significado de habilidades empregadas para vencer um oponente e criar um sistema unificado de governança global, começou a ser empregado mais tarde na época de Alexandre (330 a.C.). Na área de gestão de operações, Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) definem estratégia como um padrão de decisões e ações para a organização como um todo que a posiciona em seu ambiente e tem o objetivo de fazê-la atingir seus objetivos. Em outras palavras, estratégia envolve conhecer o meio em que a empresa está inserida, o que inclui concorrentes e clientes, e desenvolver tanto objetivos quanto ações para atingir esses objetivos. Quando essas ações implicam mudanças de projetos e processos, inovação, logística ou qualidade ou, ainda, outros elementos que são entregues pela área de operações, pode-se dizer então que a empresa realiza suas operações de modo estratégico e utiliza essa área para auxiliar a implementação da estratégia corporativa. Uma das primeiras pessoas a discutir as questões relativas à estratégia de operações foi o norte-americano Wickham Skinner, professor da Universidade de Harvard. Em 1969, Skinner publicou o artigo Manufatura – o elo perdido na estratégia corporativa (SKINNER, 2014), no qual levantava a importante pergunta para justificar a gestão estratégica de operações: por que gestão estratégica de produção e operações? Para o autor, a primeira razão se deve ao fato de as operações envolverem a maior parte dos recursos. Se pensarmos em um hospital, provavelmente a maior parte das pessoas estará atuando nas operações, nas atividades-fim do negócio, isto é, fazendo cirurgias, exames, consultas, entre outras. Vídeo Gestão de operações e logística48 No caso de uma montadora, uma escola, um supermercado ou uma companhia aérea não será diferente. A maior parte das pessoas estará atuando nas operações, e não em outras áreas, como marketing e finanças – salvo se atividades dessa natureza forem as atividades-fim do negócio, como em uma agência de marketing ou em um banco. Além disso, não apenas as pessoas são recursos predominantes na área de operações em detrimento de outras áreas. Investimentos financeiros, logísticos e infraestruturais são mais aplicados também na área de operações, de acordo com a visão de Skinner (2014). O autor justifica ainda a necessidade de se gerenciar estrategicamente as operações,afirmando que as decisões têm inércia, ou seja, demoram para que seus efeitos ocorram. Como exemplo, podemos pensar em um funcionário de nível mais operacional que está preocupado com seus afazeres cotidianos. Ele verifica a ordem de produção e começa a trabalhar. Logo, qualquer decisão que venha a tomar tem efeito prático imediato. Já os funcionários do nível tático, os gerentes, por exemplo, olham não só para dentro da organização, como faz o funcionário do nível operacional, mas também para fora dela, por isso precisam tomar decisões de médio prazo. Por fim, o gestor que atua em nível estratégico, como o presidente ou o vice-presidente de operações, o qual precisa pensar em longo prazo: que produtos o mercado vai consumir no futuro? Como fazer com que a empresa seja mais competitiva? Que oportunidades e ameaças vamos enfrentar? Logo, suas decisões são de longo prazo e, como têm inércia (demoram para produzir efeitos), devem ser antecipadas. Com isso, pode-se entender que esse gestor de nível estratégico deveria estar olhando para as operações atuais, mas, principalmente, para as do futuro, caso queira continuar com uma empresa competitiva nos anos seguintes. Outro ponto que Skinner ressalta sobre a questão da inércia é que, além de as decisões levarem certo tempo para gerar efeitos, elas são difíceis e caras de ser revertidas, ou seja, uma decisão errada pode ter sérias implicações estratégicas para as organizações, podendo comprometer inclusive a continuidade do próprio negócio. Por exemplo, ao não investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), em melhoria de processos ou em gestão da qualidade, a empresa corre sérios riscos de ficar obsoleta e não ter produtos que atendam às necessidades de seus consumidores. Dessa maneira, terá de desenvolver rapidamente novos produtos, correndo sério risco de perder mercado e receita para seus concorrentes. Skinner defende, por fim, que em gestão de operações there’s no free lunch, ou seja, não há almoço de graça. Isso porque existem os trade-offs, que são objetivos concorrentes de desempenho. Não dá para ser o mais inovador, o mais barato e o de maior qualidade ao mesmo tempo. Para exemplificar, é como se uma companhia aérea quisesse ter um avião com a velocidade de um Chicago-August 14 (um jato supersônico), a capacidade de um Antonov An-225 Mriya (tem 84 metros de comprimento, pesa 175 toneladas, tem seis turbinas e pode transportar até 250 toneladas em seu compartimento de cargas) e, ainda, o consumo de combustível similar ao de um carro popular. Estratégia de produção e operações 49 Diante de um trade-off, o gestor de operações deve se posicionar, ou seja, buscar um objetivo e abrir mão de outro. Assim, no exemplo do avião, se escolher velocidade, vai ter de abrir mão da capacidade; porém, se decidir pela capacidade, vai ter de saber que perderá em velocidade. Outro ponto importante é que, caso a lógica da operação mude, os trade-offs podem deixar de existir – por exemplo, o surgimento de uma nova tecnologia aeronáutica, capaz de levar as empresas do setor a terem aviões com altíssimas capacidade e velocidade ao mesmo tempo. Assim, diante do que foi comentado a respeito da visão estratégica das operações por parte de Skinner, é fundamental que a empresa busque objetivos de desempenho e tenha foco, isto é, seja excelente no que realmente importa para ela e para seus clientes. 3.3 Objetivos de desempenho da função produção Ao longo do tempo, a gestão de operações foi migrando de uma visão mais operacional para uma visão mais estratégica, ganhando novos objetivos de desempenho e aumentando sua complexidade. Ao todo são nove os objetivos de desempenho em operações, os quais elencamos a seguir: • custo; • qualidade; • velocidade; • pontualidade; • flexibilidade; • confiabilidade; • inovação; • serviços; • resiliência. A seguir, abordamos esses objetivos de desempenho em detalhes. 3.3.1 Custo O objetivo de desempenho denominado custo tem sua origem nos primórdios da Revolução Industrial e no desenvolvimento das primeiras indústrias. A área de operações pode auxiliar as organizações a terem melhores custos em dois momentos: na produção e no serviço. Quanto ao custo de produção, a área de operações pode buscar maior produtividade de seus colaboradores por meio de treinamentos específicos, desenvolvidos em parceria com a área de recursos humanos, ou por meio da mecanização de seus processos. A negociação com fornecedores pode auxiliar a empresa a ter custos de aquisições menores, como custos unitários menores decorrentes de compras de lotes maiores, o que leva a empresa compradora a ter um ganho de escala. Vídeo Gestão de operações e logística50 A integração com parceiros de negócios e o estabelecimento de alianças estratégicas também auxiliam na busca desse objetivo. Trabalhar com fornecedores parceiros no desenvolvimento de produtos auxilia a empresa a não ter que investir em todo o processo ou deter todos os estoques. Estabelecer alianças estratégicas, por sua vez, ajuda as empresas a acelerar etapas, acessar tecnologias já desenvolvidas e não ter de investir tanto em P&D. O custo de serviço também está associado à produtividade da força de trabalho. Isso porque ter funcionários mais produtivos ou multiespecialistas desempenhando várias funções ao mesmo tempo auxilia as empresas a ter equipes menores em suas operações, o que diminui os custos associados a salários, por exemplo. Outro aspecto importante do serviço é a decisão de localização. Estar mais próximo dos fornecedores ou dos clientes auxilia a empresa a ter custos logísticos menores. Além disso, dependendo da localização, a empresa pode ter isenções ou benefícios fiscais, resultando em redução de custos de impostos. Como a gestão estratégica de operações ajuda o Walmart a ser a maior rede varejista do mundo De acordo com o site oficial do Walmart nos Estados Unidos, a empresa é a maior rede varejista do mundo. Em 2018, atingiu, pela primeira vez, a marca de meio trilhão de dólares de faturamento, cerca de US$ 505,343 bilhões, o que coloca a empresa entre as maiores economias do mundo (WALMART, 2019). Atualmente a empresa emprega mais de dois milhões de pessoas e sua estratégia de marketing é “everyday low price”, ou seja, “preço baixo todo dia”. Mas como ser a empresa líder em custo se não se produz praticamente nada? A gestão de seus fornecedores, a integração com todos eles, o grande volume de compras e a negociação de preços faz com que o Walmart, ao perseguir o objetivo custo, seja a maior rede varejista do mundo, com um faturamento gigantesco. Como demonstrado no exemplo da rede Walmart e como é possível observar em diversas outras empresas, o custo é um objetivo de desempenho muito importante de ser observado. Vejamos, agora, o próximo objetivo. 3.3.2 Qualidade Para a International Organization for Standardization (ABNT, 2005, p. 8), a qualidade é “o grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos”. Já para a American Estratégia de produção e operações 51 Society for Quality (ASQ), a “qualidade é um termo subjetivo, para o qual cada pessoa ou setor tem sua própria definição” (QUALITY, 2019). Em um sentido mais técnico, qualidade pode ter dois significados: 1. As características de um produto ou serviço que afetam sua capacidade de satisfazer necessidades explícitas ou implícitas. 2. Um produto ou um serviço livre de defeitos. Do ponto de vista da gestão de operações, a qualidade pode estar associada a elementos como: • desempenho: entrega da melhor performance; • conformidade: atendimento a padrões e pré-requisitos; • consistência: padronização de produtos e atendimento; • recursos: matérias-primas e componentes de nível superior ao de outros bens; • durabilidade: resistência ao longo do tempo; • confiabilidade: qualidade decorrente de reiteradas entregas com qualidade; • limpeza: manutenção de ambientes limpos e organizados; •estética: produtos com aspectos agradáveis aos olhos do consumidor evidenciam uma qualidade superior; • comunicação: fornecimento de orientações e explicações, gerenciamento de expectativas, sobretudo na prestação de serviços; • competência: expertise, conhecimento técnico, domínio do assunto sobre o serviço que vai ser prestado ou sobre o bem que vai ser produzido; • simpatia: atenção e empatia para desenvolver um bom nível de relacionamento com o cliente e denotar atendimento de qualidade superior; • educação: sinônimo de simpatia ou referência à educação formal, preparação técnica e desenvolvimento do profissional para prestar um serviço de alto nível ou oferecer um produto de qualidade superior. Como exemplos de bens e serviços com qualidade superior, é possível pensar na empresa sueca Volvo, referência em segurança, ou na empresa de house-keeping (serviços de limpeza) estadunidense Service Master, que tem como lema “A limpeza que você espera. O serviço que você merece”. 3.3.3 Velocidade e pontualidade Quando se fala em velocidade, é preciso lembrar que a velocidade ajuda na pontualidade, mas elas não são, necessariamente a mesma coisa. Enquanto a última se refere à entrega no prazo combinado entre as partes (cliente e vendedora), a velocidade se refere ao desenvolvimento das operações o mais rápido possível. Gestão de operações e logística52 Um dos aspectos de velocidade na gestão de operações é o acesso do cliente ao local onde o bem será produzido ou comercializado, ou onde o serviço será prestado. Esse aspecto está associado à decisão de localização. O atendimento é outro fator de velocidade, pois quando o cliente entra em contato com um call center ou acessa uma loja no varejo, uma agência bancária ou um serviço de internet, espera ter seu atendimento rapidamente iniciado. A cotação também é um elemento de velocidade. Muitas vezes a empresa oferece o melhor preço ou o melhor bem ou serviço, mas perde a oportunidade de servir o cliente por ter um processo moroso de cotação. Outro fator de velocidade é a entrega, um dos principais elementos de convencimento do cliente em serviços logísticos e de e-commerce. Considerando todos esses elementos, é possível afirmar que o objetivo de desempenho da velocidade em operações pode auxiliar as empresas a serem mais competitivas no processo de desenvolvimento de produtos. Sendo mais velozes no desenvolvimento, as empresas conseguirão ser, por consequência, mas inovadoras. 3.3.4 Flexibilidade O objetivo de desempenho denominado flexibilidade pode se dar de três formas: produtos, volumes e distribuição logística ou de atendimento. O primeiro grupo está relacionado ao portfólio, ao mix de produtos. Quanto mais variado o portfólio de produtos que uma empresa tem, maior é a sua flexibilidade. Há hospitais que atendem pacientes com várias doenças, outros são especializados em doenças do coração, por exemplo. No caso dos primeiros, a flexibilidade é maior do que nos segundos, que são muito especializados e, portanto, com uma menor flexibilidade. O segundo grupo é o de volumes. Quanto maior o volume, maior a flexibilidade. Quando um grande supermercado faz uma oferta de determinado produto, por exemplo, e restringe o volume de vendas com anúncios do tipo “apenas dez unidades por cliente”, está, na verdade, restringindo a flexibilidade por volume. O terceiro grupo é o de distribuição logística ou de atendimento. Empresas que têm um amplo raio de entregas, atuam em maiores áreas geográficas ou têm horários de atendimento mais abrangentes, como redes de supermercados ou farmácias 24 horas, são mais flexíveis em suas operações, se comparadas àquelas que restringem suas áreas de entrega ou atuação ou àquelas que têm horários de funcionamento menores. 3.3.5 Confiabilidade A confiabilidade é a qualidade do que é confiável. Para que as operações sejam confiáveis, é preciso pensar em elementos como pontualidade (entregar bens e serviços em datas e horários combinados), integridade (entregar aquilo que foi prometido ou combinado), segurança (garantir que tudo funcione conforme preestabelecido) e robustez (o bem ou o serviço deve funcionar da forma como foi preestabelecido e por um tempo considerável). Estratégia de produção e operações 53 Uma das empresas que mais trabalham com o objetivo de desempenho denominado confiabilidade é a FedEx. A empresa leva o tempo de entrega muito a sério para garantir que um pacote chegará quando for dito, exceto em raras circunstâncias, como clima e feriados extremos. Além disso, para assegurar que a confiabilidade apareça em suas operações, a empresa realiza o rastreamento de todos os seus pacotes individuais, garantindo, assim, que os bens enviados cheguem aos seus destinos no dia e na hora planejados. Vale lembrar que, quando a empresa desconsidera a questão da confiabilidade em suas operações, além de perder credibilidade na era da internet, tende a parar em sites de reclamações, comprometendo sua imagem perante os consumidores. 3.3.6 Inovação A inovação é um dos objetivos que, se for bem e continuamente executado, pode levar as empresas a terem vantagens competitivas duradouras em suas operações. É importante entender que invenção é diferente de inovação. Enquanto ambas podem até ser boas ideias, se a primeira não sai do papel, não se transforma em um bem ou serviço, não é comercializada, então não passa de uma invenção. Já a segunda, trata-se de algo comercializável, que é recebido pelo mercado e pode virar um negócio. A inovação pode ocorrer em termos de produtos, que se refere ao lançamento de novos bens ou serviços (radicalmente novos ou apenas com pequenas melhorias, inovações incrementais), novos processos (o bem ou o serviço pode ser o mesmo, mas a forma como é produzido ou entregue é diferente), novas estruturas organizacionais (mudanças na estrutura, nos departamentos, nas unidades de negócios; como a abertura de uma nova unidade para explorar novos mercados ou novos produtos) e de novo modelo de negócio (quando a empresa passa a explorar algo novo). Como exemplo de inovação de modelo de negócio, podemos citar a empresa Netflix, que começou suas operações enviando seus filmes em DVDs via correio. Apesar de uma parte de suas operações ainda ocorrer dessa forma, a empresa atualmente trabalha mais fortemente com serviços de streaming, o que significou uma grande mudança em seu modelo de negócio. Outro tipo de inovação pode ser em termos de mercado. Uma empresa pode explorar outras formas de utilização de um produto ou novos mercados consumidores. Leite condensado: das trincheiras para os lares Um exemplo bastante interessante de mudança de mercado ocorreu com um produto presente em inúmeros lares, restaurantes, padarias e confeitarias do mundo: o leite condensado. O norte-americano Gail Borden Jr. começou a desenvolver um processo para condensação do leite no ano 1853, com o objetivo de reduzir o volume do leite e, ao mesmo tempo, aumentar sua durabilidade, uma vez que ainda não existiam geladeiras, nem se havia estabelecido o processo de Gestão de operações e logística54 pasteurização. Borden Jr. tentava criar um mecanismo para que o alimento não se deteriorasse até chegar aos consumidores. No período da Guerra de Secessão, nos Estados Unidos (1861-1865), o leite condensado era um dos alimentos fornecidos aos soldados. Isso porque as latas eram práticas e fáceis de transportar e o produto era fonte de energia para todos os soldados, devido a sua alta porção de calorias – cada lata continha 1300 calorias. Quando terminou a guerra, o produto aparentemente não teria serventia. No entanto, ele saiu das trincheiras e foi para as prateleiras dos supermercados do mundo todo – inclusive do Brasil, onde já é comercializado desde 1871. Duas empresas líderes em inovação em seus respectivos mercados são a 3M e a Apple. A primeira possui um altíssimo grau de inovação, renovando sempre seus produtos, e umportfólio que conta atualmente com cerca de 55 mil itens. A segunda é conhecida por suas inovações e por ditar as tendências do mercado de smartphones. 3.3.7 Serviços Nos dias atuais, os serviços se constituem como diferenciais de agregação de valor aos clientes, mesmo em empresas predominantemente voltadas para a manufatura. A empresa pode estruturar suas operações para competir por meio de bons serviços, tendo uma comunicação clara, atendendo (e superando) expectativas, satisfazendo e fidelizando seus clientes e colaboradores e, principalmente, tendo atenção aos mínimos detalhes. Uma das maiores referências em gestão de serviços é a empresa The Walt Disney Company, a Disney, que até criou o Disney Institute, o braço de desenvolvimento profissional e treinamento externo da companhia. Além disso, os instrutores do Disney Institute compilaram seus cursos de atendimento ao cliente em um livro intitulado Be Our Guest (Seja nosso convidado, em tradução nossa), aperfeiçoando a arte do atendimento ao cliente. O tema serviços será explorado em detalhes no próximo capítulo desta obra. 3.3.8 Resiliência Operações resilientes são aquelas que garantem a continuidade na fabricação ou na prestação de serviços mesmo após uma catástrofe ou uma grande crise. Em 2005, com a tragédia do Furacão Katrina, o Walmart e outras empresas de grande poder logístico forneceram água e alimentos para a população de New Orleans muito antes dos órgãos governamentais americanos. A resiliência pode ser vista também como continuidade intergeracional. Nesse sentido, uma das empresas mais resilientes do mundo, atravessando gerações de modo competitivo e se reinventando a todo tempo, é a Basf. Estratégia de produção e operações 55 A empresa química alemã, líder mundial na área, foi fundada em 6 de abril de 1865, com a finalidade de fabricar corantes sintéticos para tecidos (seu nome originalmente era Badische Anilin & Soda Fabrik, em português, Fábrica de Anilina e Soda de Baden). No entanto, a empresa já fabricou fitas cassetes, disquetes para computadores, tintas imobiliárias, entre outros produtos, sendo sempre resiliente e adaptando suas operações aos novos tempos e às demandas de seus consumidores (BASF, 2019). Uma empresa cujas operações são resilientes passa pela reinvenção do negócio, muitas vezes revolucionando o próprio setor. Nesse sentido, outro exemplo de resiliência é o do Cirque du Soleil. Por muitos anos, a arte circense foi vista como algo definido e sem mudanças. Ter um circo, nessa época, significava ter palhaços, mágicos, domadores e muitos animais amestrados. Porém, em 1984, em Baie-Saint-Paul, uma cidade da província de Quebec, no Canadá, dois artistas de rua, Guy Laliberté e Daniel Gauthier, fundaram o Cirque du Soleil. Dois anos após o início de suas atividades, Laliberté contou com a ajuda de Guy Caon, da National Circus School, para reinventar a arte circense. Hoje, cada espetáculo do Cirque du Soleil é um exemplo real de como um negócio tradicional e centenário como o circo pode ser resiliente e se reinventar. As apresentações pararam de utilizar animais e passaram a ter uma história, um enredo, além de cenários e vestuários próprios. Tudo isso ainda é acompanhado de música ao vivo durante as apresentações. 3.4 Foco x trade-offs em gestão de operações Vistos os objetivos de desempenho da função produção (custo, qualidade, velocidade, pontualidade, flexibilidade, confiabilidade, inovação, serviços e resiliência), é preciso entender que uma empresa não consegue maximizar seu desempenho em todos esses objetivos. Ao tentar ser boa em tudo, a empresa corre o risco de não ser boa em nada. É preciso ter foco. Por isso, deverá escolher em qual ou quais deles deseja se destacar para ser melhor que seus concorrentes. Para ilustrar essa informação, imagine que você foi questionado por seu gestor de operações a respeito de quais dos objetivos de desempenho você decidiria estabelecer para várias áreas da operação. Imagine ainda que seu gestor lhe deu total autonomia para decidir adotar todos os itens a seguir. Você os adotaria? 1. Sistema de remuneração para a mão de obra: promover alta produtividade. Sim ou não? 2. Sistema de controle da produção: minimizar o lead-time. Sim ou não? 3. Política de estoques: minimizar níveis de estoque. Sim ou não? 4. Sistema de programação: minimizar o tempo gasto com setups. Sim ou não? 5. Layout da fábrica: minimizar os custos de manuseio de materiais. Sim ou não? 6. Processos: maximizar a qualidade do produto. Sim ou não? Provavelmente sua resposta seria sim para todos os itens ou, ao menos, para a maioria deles. Ocorre que, entre os objetivos de operações, pode haver trade-offs, ou seja, conflitos entre Vídeo Gestão de operações e logística56 objetivos de desempenho. Por exemplo: como ter menores custos investindo em inovação? Como ter mais velocidade se é preciso rever todos os processos para se buscar um aprimoramento de qualidade? Assim, a empresa que pretende ter uma gestão estratégica de operações deverá definir suas prioridades com base na análise de seus clientes, para verificar o que eles realmente querem, e na de seus concorrentes, para compreender como a empresa está em relação aos concorrentes. Dessas análises decorrem três constatações: 1. Mesmo que os clientes desejem tudo ou o máximo que a empresa possa lhes oferecer, eles não querem todos os itens com a mesma intensidade – o que permite à empresa analisar a importância que seus clientes dão ao desempenho de cada objetivo competitivo. Alguns clientes priorizarão o preço em detrimento do serviço, outros pensarão de modo inverso, por exemplo. Portanto, é preciso saber o que eles querem para estabelecer o foco. 2. A empresa não precisa ser melhor que o concorrente em tudo, mas deve ser superior nos objetivos de desempenho que os clientes mais valorizam. 3. Na medida em que a empresa cruza as informações de importância dadas pelos clientes com o desempenho comparado com a concorrência, consegue visualizar suas prioridades de melhoria. A Figura 2, a seguir, evidencia de modo esquemático essas três constatações. Figura 2 – Esquema para definição de foco em operações com base na análise de clientes e concorrentes CLIENTES IMPORTÂNCIA CONCORRENTES DESEMPENHO Prioridades precisam ser determinadas para PRIORIDADES DE MELHORIA O que os clientes querem? do desempenho de cada objetivo competitivo Desempenho em relação à concorrência em cada objetivo competitivo Fonte: Adaptada de Corrêa e Corrêa, 2017, p. 49. Quanto à questão do foco, considere o exemplo da Figura 3 a seguir, que deixa claro que não é possível ser bom em tudo e ao mesmo tempo. Os trade-offs fazem a empresa pensar em qual foco deve seguir a partir da ótica dela e do cliente. Figura 3 – Objetivos de desempenho para a entrega de um serviço Estratégia de produção e operações 57 Nós oferecemos três tipos de serviço: BOM – BARATO – RÁPIDO No entanto, você pode escolher apenas dois: Um serviço BOM e BARATO não vai ser RÁPIDO. Um serviço BOM e RÁPIDO não vai ser BARATO. Um serviço RÁPIDO e BARATO não vai ser BOM. Fonte: Elaborada pelo autor. Podemos considerar, então, que a determinação de foco no que se refere ao estabelecimento de objetivos de desempenho é essencial para o desenvolvimento da gestão estratégica da empresa. 3.5 Implementação da estratégia de operações A implementação da estratégia de operações deve ocorrer em quatro passos. O primeiro deles é o estabelecimento dos objetivos de operações. O segundo é a avaliação do desempenho real atingido. O passo seguinte consiste na identificação das lacunas a partir da matriz importância x desempenho. O quarto passo, por fim, é o desenvolvimento de planos de ação. Vejamos, agora, cada um desses passos. 3.5.1 Objetivos de importância Como demonstramos, o primeiro passo da implementação da estratégia de operações envolve o estabelecimento dos objetivos de operações. Esse passo está diretamenterelacionado com a identificação dos clientes da empresa. Não se deve pensar que toda e qualquer pessoa ou empresa que tenha condições de pagar por seu produto pode ser considerada um cliente. É preciso identificar os clientes, segmentá-los por perfil e determinar seus requisitos. Nesse momento, os objetivos de desempenho de operações podem ser desdobrados e adaptados à realidade de cada negócio. Ao identificar os clientes, é preciso analisar, dentro dos seus requisitos, quais são os critérios competitivos, ou seja, quais são os itens que eles mais valorizam, quais não consideram tão importantes e quais fazem com que eles escolham um determinado fornecedor de bem ou serviço em detrimento das demais opções. Para realizar essa análise, uma importante contribuição é dada pelo professor da Universidade de Warwick, Nigel Slack. Para ele, os objetivos dos clientes podem ser classificados como pouco relevantes, qualificadores e ganhadores de pedidos. Os critérios pouco relevantes são aqueles em que, por mais que a empresa invista, seu desempenho não crescerá significativamente. Imagine, por exemplo, que uma concessionária de veículos compre um lote enorme de sachês de perfume para dar de brinde a seus potenciais consumidores caso estes adquiram um automóvel novo. É muito provável que o cliente não decida pela compra nessa concessionária quando a comparar com outras opções. Mas, se esses critérios são pouco relevantes, por que identificá-los? Justamente para não correr o risco de investir neles. Vídeo Gestão de operações e logística58 Os critérios qualificadores, por sua vez, são aqueles que colocam a empresa que os detém no “jogo da competição”, pois, ao apresentá-los, o desempenho da empresa melhora consideravelmente. Não os ter, por outro lado, significa ser desconsiderado como um potencial fornecedor de um bem ou como um potencial prestador de serviço. Para boa parte dos produtos, o preço pode ser considerado um critério qualificador: se o produto é caro demais aos olhos do cliente, ele simplesmente desconsidera a empresa com preços elevados como uma potencial fornecedora. Outro exemplo é a regulação: uma empresa não autorizada pelos órgãos reguladores do setor, como o de medicamentos ou o bancário, não poderá exercer legalmente suas operações, ficando impedida, dessa forma, de oferecer seus produtos e serviços aos clientes. Por fim, se os critérios qualificadores colocam as empresas que os detêm no “jogo da competição”, os ganhadores de pedidos decidem o jogo a favor daqueles que os apresentam. Esses critérios são itens não esperados pelos clientes e, muitas vezes, nem mesmo pelos concorrentes. Por isso, quando a empresa os apresenta, acaba conquistando os clientes. Por exemplo, ao ficar em dúvida sobre qual apartamento comprar, entre duas opções distintas, oferecidas por duas empresas concorrentes, com preços similares e em bairros próximos, o comprador pode decidir pela opção que oferece, além do apartamento, uma televisão nova ou uma viagem de um fim de semana para um destino turístico como brinde pelo fechamento da compra. Para ter uma visão mais clara de como se comportam esses critérios, observe a Figura 4, a seguir. Figura 4 – Critérios pouco relevantes, qualificadores e ganhadores de pedidos Critérios pouco relevantes Benefícios competitivos Desempenho Critérios ganhadores de pedidos Benefícios competitivos Desempenho Critérios qualificadores Benefícios competitivos Desempenho Fonte: Adaptada de Corrêa e Corrêa, 2017, p. 50. Vale ressaltar que, ao longo de seu ciclo de vida, um produto pode mudar de patamar. O airbag dos automóveis, por exemplo, quando lançado, era uma inovação e foi considerado por muitos clientes um critério ganhador de pedido. A partir do momento em que esse item passou a ser regulado e obrigatório em todos os carros, tornou-se um qualificador, pois carros que não o apresentam estão fora do mercado. No futuro, no entanto, se uma nova tecnologia for superior ao airbag, este se tornará obsoleto e, portanto, pouco relevante. Após pesquisa com os clientes, a empresa deve criar uma escala de nove pontos para a priorização dos critérios. Essa escala se organiza da seguinte forma, segundo a visão de Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018): Estratégia de produção e operações 59 • Critérios ganhadores de pedidos 1. Proporciona vantagem crucial junto aos clientes. 2. Proporciona importante vantagem junto aos clientes. É sempre considerado. 3. Proporciona vantagem útil junto aos clientes. Normalmente é considerado. • Critérios qualificadores 4. Precisa estar pelo menos marginalmente acima da média do setor. 5. Precisa estar em torno da média do setor. 6. Precisa estar a pouca distância da média do setor. • Critérios menos relevantes 7. Normalmente não considerado, mas pode se tornar mais importante no futuro. 8. Muito raramente é considerado pelos clientes. 9. Nunca é considerado pelos clientes e provavelmente nunca será. É importante atentar, porém, para o fato de que a escala é invertida, isto é, quanto menor a pontuação, melhor. Isso porque os números 1, 2 e 3 são itens ganhadores de pedido, 4, 5 e 6 são qualificadores e 7, 8 e 9 são critérios menos relevantes. Exemplificando a utilização da escala, imagine que determinada empresa fez uma pesquisa de mercado com o perfil de cliente que pretende atingir. Após desdobrar os objetivos de desempenho de operações à sua realidade, fazendo, por exemplo, qualidade virar qualidade do produto e da engenharia, chegou aos resultados apresentados na Figura 5. Figura 5 – Exemplo de levantamento de objetivos de importância Importância para os clientes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Preço X Qualidade do produto X Qualidade da engenharia X Prazo de cotação X Prazo de entrega X Confiabilidade de entrega X Flexibilidade do projeto X Flexibilidade de entrega X Flexibilidade de volume X 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Fonte: Elaborada pelo autor. Tendo como base os itens da avaliação dos objetivos de desempenho, é possível perceber que tipos de produto essa empresa fabrica. Uma vez que os itens 1, 2 e 3 são considerados ganhadores Gestão de operações e logística60 de pedido, 4, 5 e 6 são qualificadores e 7, 8 e 9 são pouco ou menos relevantes, pode-se dizer que o cliente dessa empresa: • não está preocupado com o preço; • valoriza muito a qualidade do produto; • valoriza ainda mais a qualidade da engenharia e as características do produto; • quando entrar em contato com a empresa, quer receber rapidamente a cotação do item que pretende adquirir; • deixará a empresa produzir o que pretende comprar; • tem a confiabilidade da entrega como item importante; • provavelmente vai querer opinar na flexibilidade do projeto, o que significa que ele pode ser um projeto customizado, com características únicas; • considera o local da entrega muito importante, ainda que não tanto quanto a flexibilidade; • provavelmente não comprará muito, o que diz respeito ao volume. É possível deduzir qual é o produto? Trata-se de produtos feitos sob encomenda, podendo ser desde um móvel planejado a uma casa em condomínio de luxo ou um jato executivo, entre outros exemplos. 3.5.2 Objetivos de desempenho Uma vez estabelecidos os objetivos de operações junto aos clientes, o próximo passo é avaliar o desempenho real atingido, por meio da comparação da empresa com seus concorrentes. Assim como é preciso segmentar com cuidado quem são os clientes, também é necessário, da mesma forma, identificar as empresas para comparação. Deve-se, então, buscar concorrentes que detenham a posição no mercado que a empresa deseja ter ou ainda outras companhias que tenham o objetivo de tomar a posição desses concorrentes de sucesso. Na análise da concorrência, também utilizamos uma escala de nove pontos. As empresas podem ser melhores, iguais ou piores do que a concorrência quando comparadas a ela. Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018) apontam esses critérios em forma de escala: • Melhor que a concorrência1. Consistente e consideravelmente melhor que nosso melhor concorrente. 2. Consistente e claramente melhor que nosso melhor concorrente. 3. Consistente e marginalmente melhor que nosso melhor concorrente. • Igual à concorrência 4. Com frequência marginalmente melhor que nosso melhor concorrente. 5. Aproximadamente o mesmo da maioria de nossos concorrentes. 6. Frequentemente a uma distância curta atrás dos principais concorrentes. • Pior que a concorrência 7. Usual e marginalmente pior que a maioria dos principais concorrentes. Estratégia de produção e operações 61 8. Usualmente pior que a maioria dos nossos concorrentes. 9. Consistentemente pior que a maioria de nossos concorrentes. Novamente, é importante atentar para o fato de que a escala é invertida, isto é, quanto menor a pontuação, melhor. Assim, atingindo 1, 2 ou 3, a empresa é melhor que a concorrência; com 4, 5 ou 6, a empresa é igual à concorrência; e alcançando 7, 8 ou 9 ela é pior que seus concorrentes. A empresa pode se comparar com a concorrência por meio de levantamento de estimativas, da análise de custos de fornecedores comuns e de documentos contábeis publicados pela concorrência, entre outros aspectos legais e éticos. Continuando o exemplo dado no tópico anterior, podemos perceber como a empresa está em relação à concorrência por meio da análise apresentada na Figura 6, a seguir. Figura 6 – Exemplo de levantamento de objetivos de desempenho Importância para os clientes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Custo* X Qualidade do produto X Qualidade da engenharia X Prazo de cotação X Prazo de entrega X Confiabilidade de entrega* X Flexibilidade do projeto* X Flexibilidade de entrega* X Flexibilidade de volume* X 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Fonte: Elaborada pelo autor. Você pode perceber que a empresa que está fazendo a análise é melhor que a concorrência nos itens qualidade do produto e da engenharia e flexibilidade do projeto. Além disso, está tecnicamente empatada nos itens confiabilidade de entrega e flexibilidade de volume e pior que os concorrentes quanto a custo, prazo de cotação e de entrega e à flexibilidade de entrega. No entanto, vale fazer a seguinte pergunta: há, de fato, um problema em ser pior que a concorrência em todos os itens elencados? Se o cliente não valorizar esses itens, não há um problema. Só passa a existir um problema se a empresa tiver um desempenho inferior nos itens mais valorizados pelo cliente. De modo análogo, a empresa corre o risco de estar gastando demais para ter um desempenho muito superior em aspectos irrelevantes para o cliente. Gestão de operações e logística62 Para ter certeza de seu desempenho em relação à concorrência, a empresa deve cruzar as informações de importância e desempenho, isto é, entrar no passo três, que está relacionado à identificação das lacunas na matriz importância x desempenho. 3.5.3 A matriz importância x desempenho A matriz importância x desempenho envolve duas dimensões: uma delas refere-se à importância dada pelos clientes aos critérios de desempenho, utilizando uma escala de nove pontos, como já visto. A segunda dimensão traz também uma classificação em escala de nove pontos, a escala do desempenho de cada objetivo comparativamente aos níveis de desempenho atingidos pelos concorrentes, conforme pode ser observado na Figura 7, a seguir. Figura 7 – Matriz importância x desempenho Melhor que Igual a D es em pe nh o em re la çã o ao s c on co rr en te s Importância para os clientes Pior que Pouco relevantes Ganhadores de pedidos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 9 6 38 5 27 4 1 Qualificadores Urgência Excesso? Adequado Aprimorar Limite mínimo de desempenho Fonte: Adaptada de Corrêa; Corrêa, 2017, p. 54. A fim de explicar esses conceitos, Morilhas (2007, p. 5) explica que “a matriz é dividida em quatro zonas: urgência, aprimorar, adequado e excesso, que permitem localizar cada um dos critérios avaliados por Slack […] quanto à importância atribuída pelo cliente e quanto ao desempenho percebido por ele neste mesmo critério”. Para atribuir os pontos de importância para os clientes, devem ser utilizados os critérios ganhadores de pedido, qualificadores e menos relevantes, já apresentados aqui. Para atribuir os pontos de desempenho em relação aos concorrentes, deve-se utilizar a escala composta pelos critérios melhor que a concorrência, igual à concorrência e pior que a concorrência, também já apresentados anteriormente. Dados esses critérios eles são alocados em regiões dispostas na matriz, a região de ação urgente significa que critérios localizados nesta área possuem grande importância para o cliente e o desempenho é baixo. De maneira inversa, a zona excesso? indica fatores de pouca importância para o cliente nos quais Estratégia de produção e operações 63 o desempenho percebido é alto. Já a zona de aprimoramento indica fatores considerados importantes e nos quais o desempenho está um pouco abaixo da média. (MORILHAS, 2007, p. 6) Ainda segundo Morilhas (2007, p. 6), “a área de adequação é a região ideal para todos os critérios”. Isso não significa, porém, que os itens que estão na região de adequação não devam ser monitorados. É, sim, necessário monitorá-los para que a empresa garanta sua vantagem competitiva. Voltando ao exemplo do produto customizado e de alto valor para o cliente, ao cruzar informações de importância (cliente) e desempenho (concorrência), tem-se a matriz importância x desempenho demonstrada na Figura 8, a seguir. Figura 8 – Matriz importância x desempenho Melhor que Mesmo que Pior que Pouco relevantes Ganhadores de pedidos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 9 6 38 5 27 4 1 Qualificadores Qualidade da engenharia Qualidade do produto Flexibilidade de volume* Confiabilidade de entrega* Prazo de entrega Preço/custo* Prazo de cotação Flexibilidade de entrega* Flexibilidade do projeto* Importância para os clientesbaixa alta D es em pe nh o co m pa ra do co m a co nc or rê nc ia m au bo m Fonte: Elaborada pelo autor. Perceba que a situação da empresa ilustrada na imagem precisa, em primeiro lugar, atacar os itens flexibilidade de entrega e prazo de cotação, pois são os de maior impacto por estarem na região de urgência. Na sequência, essa empresa deveria observar como melhorar o desempenho de itens como confiabilidade de entrega, prazo de entrega e preço/custo, pois estão na região de aprimoramento. Quanto à ordem dos itens em uma mesma região, deve-se começar sempre com os qualificadores, passando para os ganhadores de pedido e, por fim, para os pouco relevantes. Não seria necessário fazer desinvestimentos nem ações de construção de mercado ou de conscientização dos consumidores, visto que não há itens na região de excesso. Finalmente, vale ressaltar que as maiores vantagens da empresa estão na flexibilidade de volume, na qualidade do produto e da engenharia e na flexibilidade do projeto. Feita a análise da matriz importância x desempenho, é hora de colocar a estratégia de operações para funcionar. Gestão de operações e logística64 3.5.4 Colocando em prática a estratégia de operações O último passo da estratégia de operações é o desenvolvimento de planos de ação. Esses planos devem observar os seguintes critérios em sua priorização: 1. Projetos de maior impacto: itens que se encontram na região de urgência, ou seja, aqueles em que a empresa é pior que a concorrência e que são itens que o cliente considera essencial em um fornecedor (qualificadores) ou que geram vantagem competitiva (ganhadores de pedido). 2. Projetos de maior chance de sucesso: quando comparados com os do item anterior (projetos de maior impacto), são os que apresentam maiores chances de funcionar. São, portanto, os itens da região de aprimoramento, que podem ser trabalhados em um segundo momento por estarem mais próximos da região de adequação, se comparadosaos da região de urgência. 3. Projetos de resultados mais rápidos: aqueles que se encontram na região de excesso, pois geralmente estão relacionados a desinvestimentos, ações de marketing ou à criação de mercado para se tornarem adequados. 4. Projetos para manutenção da vantagem competitiva: aqueles que já são adequados e nos quais a empresa já é melhor que seus concorrentes, considerando aquilo que o cliente valoriza. A empresa não deve deixar de monitorá-los, uma vez que a concorrência também está observando para superar esses itens em termos de desempenho. Considerações finais Neste capítulo, foi apresentada a função produção, considerando seu papel estratégico, a questão do foco e dos objetivos de desempenho e uma ferramenta fundamental para o desenho da estratégia de operações: a matriz importância x desempenho. Ao final deste capítulo, é preciso considerar que a área de operações, ao contrário daquilo que seu nome pode indicar, não é operacional. A área de operações, por meio da transformação de recursos em produtos e serviços, tem um papel muito importante para a empresa atingir seus objetivos estratégicos. No entanto, é preciso ter foco. Isso significa que é necessário definir como a empresa vai competir. Todas as ações de gestão de operações empreendidas, como o desenvolvimento de produtos e serviços, a gestão de processos e os demais elementos de operações, devem conversar com a estratégia global. Nesse sentido, é importante ressaltar que a empresa não precisa ser boa em tudo, mas sim naquilo que o cliente valoriza, para ser melhor que a concorrência. Quanto à matriz importância x desempenho, proposta por Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), temos nela uma ferramenta que ajuda a empresa a ter foco e prioridade no plano de ação, a fim de que a gestão de operações possa contribuir para a execução da estratégia corporativa. Estratégia de produção e operações 65 Essa ferramenta de gestão de operações contribui de forma interessante para identificar como a empresa se posiciona no mercado e onde está acertando ou errando. Além disso, mostra-se muito útil na tomada de decisões de forma rápida e consciente. Ampliando seus conhecimentos Filme • O NÁUFRAGO. Direção: Robert Zemeckis. EUA: Universal Pictures, 2001. 1 vídeo (143 min), son., color. O exemplar funcionário da FedEx, Chuck Noland (interpretado por Tom Hanks), está viajando a trabalho para a Malásia quando, em meio a uma grande tempestade, o avião em que ele estava cai sobre o Oceano Pacífico. Noland, único sobrevivente, passa a viver em uma ilha deserta. Ainda que não seja esse o foco do filme, ele retrata o processo de operações logística da FedEx e seu afinco em trabalhar com o objetivo de desempenho e confiabilidade em suas operações. Livro: • GOLDRATT, E. M.; COX, J. A meta: um processo de melhoria contínua. São Paulo: Nobel, 2003. Esse livro conta a história de um executivo de operações que, por meio dos valiosos ensinamentos de seu guru, desenvolve ações práticas no dia a dia da empresa em que trabalha, a fim de impulsionar suas operações de modo estratégico e alcançar uma maior produtividade. Atividades 1. Por que as empresas devem pensar sua gestão de produção e operações de modo estratégico? 2. O que é o foco em gestão de produção e operações? O que ocorre com as empresas se as operações não tiverem foco bem definido? 3. O que é a matriz importância x desempenho? Por que ela é relevante para a gestão de operações? 4. Escolha uma empresa, pode ser a em que você trabalha ou uma em que já tenha trabalhado, e aponte: a) como seriam os objetivos de • custo; Gestão de operações e logística66 • qualidade; • flexibilidade; • velocidade; • pontualidade; • inovação; • confiabilidade; • resiliência; • serviço (adicional). b) os objetivos mais relevantes para o negócio. c) se nos objetivos mais relevantes existem trade-offs de operações e como resolvê-los. Referências ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 9000: Sistemas de gestão da qualidade – fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Consulta a Produtos Regularizados. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/consulta-produtos-registrados. Acesso em: 26 jul. 2019. ASQ – American Society for Quality. Disponível em: https://asq.org/. Acesso em: 26 jul. 2019. BASF. BASF History. We create chemistry. Disponível em: https://www.basf.com/global/en/who-we-are/ history.html. Acesso em: 26 jul. 2019. CIRQUE du Soleil. History. Disponível em: https://www.cirquedusoleil.com/about-us/history. Acesso em: 26 jul. 2019. CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017. GOLDRATT, E. M.; COX, J. A meta: um processo de melhoria contínua. São Paulo: Nobel, 2003. KRAZEWSKI, L.; RITZMAN, L.; MALHOTRA, M. Administração de produção e operações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. MORILHAS, L. J. Estratégia de operações e a utilização da matriz importância x desempenho: um estudo no setor sucro-alcooleiro. In: SEMEAD – Seminários em Administração FEA-USP, 10 ago. 2007, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: USP, 2007. Disponível em: http://sistema.semead.com.br/10semead/sistema/resultado/ trabalhosPDF/45.pdf. Acesso em: 26 jul. 2019. QUALITY. In: ASQ – American Society for Quality. Quality Glossary. Disponível em: https://asq.org/quality- resources/quality-glossary/q. Acesso em: 26 jul. 2019. SKINNER, W. 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Pode ser citada como exemplo desses movimentos a crescente migração da área rural para a urbana ocorrida nos últimos 100 anos (denominada movimento de urbanização), gerando e potencializando o desenvolvimento de novos negócios relacionados à educação, aos transportes, à segurança etc. Considerando então essa importância, este capítulo aborda a gestão dos serviços e tem como objetivos centrais entender a importância dos serviços para a economia atual, conceituar as diferenças entre bens e serviços, propor uma nova taxonomia para bens e serviços e discutir o conceito de pacote de valor. 4.1 Diferenças conceituais entre bens e serviços Os serviços representam atualmente a maior parcela percentual de tudo aquilo que um país cria e desenvolve em sua economia, o que constitui o PIB dele. Eles correspondem, na maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento (o Brasil, por exemplo), a mais de 50% do PIB e são os responsáveis pela maior geração de emprego. Segundo dados da agência de notícias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a participação dos serviços no PIB brasileiro representou, em 2016, 73,1% de tudo o que o país produziu e consumiu (AGÊNCIA IBGE, 2018). Até mesmo países com economia reconhecidamente de manufatura, como a China, estão em processo avançado de terceirização de sua economia (ou economia de serviços) – o setor de serviços na China representava, em 2017, 51,6% do PIB (CHINA, 2019). Para Fitzsimmons e Fitzsimmons (2010), os serviços englobam diversas atividades econômicas, como os serviços financeiros (financiamento, leasing e seguros), os de infraestrutura (comunicações, transporte,utilidade pública e bancários), os comerciais (atacado, varejo e manutenção), os pessoais (saúde, restaurantes e hotéis), os de apoio aos negócios (consultoria, auditoria, staff, propaganda e recolhimento de lixo) e os governamentais (militares, educacionais, judiciários e policiais). Dessa maneira, conforme tratado brevemente no Capítulo 1, o aumento na participação do setor de serviços na economia dos países tem ocasionado o aprimoramento da entrega ao cliente por meio de uma análise detalhada sobre o que são produtos (bens) e serviços. Isso porque, em diversos casos, eles são misturados e entregues dentro de um pacote de maior valor ao cliente. Vejamos o exemplo dos serviços de telefonia móvel. Se for analisado o modelo desse negócio, qual exatamente seria o pacote de valor entregue pelas operadoras de celular? O que já foi Vídeo Gestão de operações e logística68 considerado um ativo (um bem) valioso no passado recente (o preço de um celular, por exemplo), atualmente, caso o cliente estabeleça um contrato de fidelização de conta por determinado período, ele pode até levar o aparelho celular sem pagar, ou com um significativo desconto. Observa-se que a fronteira entre o bem (aparelho de celular) e o serviço (comunicação) deixa de existir, pois eles estão intimamente ligados em um pacote de valor oferecido pelas operadoras de telefonia para conseguir mais clientes fiéis e melhorar o relacionamento com eles. No entanto, ainda que essa fronteira esteja cada vez menos presente, é muito importante compreender as diferenças básicas entre um bem físico e um serviço. Quando essas diferenças são evidenciadas e entendidas, fica mais fácil compor uma oferta conjunta que incorpore um pacote de maior valor a ser entregue ao cliente. Vejamos, então, as diferenças entre bem e serviço. Bem ou produto físico é normalmente caracterizado pela possibilidade de manuseio e tem características relacionadas à sua tangibilidade, pois suas dimensões (peso e volume) podem ser medidas e traduzidas em descrições mensuráveis e comparáveis. Além disso, os bens podem ser produzidos num determinado momento, sem a solicitação ou a presença do cliente, estocados e, então, comercializados em outro momento. Um serviço, porém, é caracterizado por sua intangibilidade, visto que seu processo de medição e comparação depende da percepção e da expectativa do cliente (nível de satisfação ou insatisfação com o serviço recebido). Muitas vezes, a presença do cliente é fundamental para que o serviço possa ser realizado – um serviço de corte de cabelo, por exemplo. O Quadro 1, a seguir, mostra alguns exemplos comuns de combinações de bens e serviços disponíveis no mercado. Quadro 1 – Combinações comuns de bens e serviços Bem Serviço Geladeira Pós-venda/Manutenção Veículo Concessionária Escola Educação Loja de móveis – comércio Atendimento Celular Telefonia móvel Fonte: Elaborado pelo autor. Observando o Quadro 1, nota-se, por exemplo, que uma geladeira de determinada marca pode ter suas vendas aumentadas somente se seu fabricante disponibilizar uma ampla rede de assistência técnica para atender o momento de quebra ou defeito do produto. Dificilmente alguém compra um produto se ele não puder ter manutenção caso apresente algum tipo de defeito. Dessa maneira, observa-se que, mesmo que a organização comercialize bens tangíveis, ela também deve oferecer uma rede de apoio e de assistência ao cliente, o que envolve a prestação de determinado serviço associado ao uso do produto vendido. Por fim, é importante destacar que o adequado entendimento da fronteira entre bens e serviços é fundamental para que a empresa possa conceber o melhor pacote de serviços a ser ofertado ao cliente e possa, ao mesmo tempo, aumentar sua competitividade no mercado. Gestão de serviços 69 4.2 Uma nova classificação para bens e serviços O aumento constante da competitividade no mercado tem exigido que as empresas repensem a maneira como produzem, processam e entregam produtos e serviços ao cliente. Esse cenário de elevada competição, caracterizado pela proliferação da oferta de novos produtos e serviços, faz com que as organizações busquem novos mercados, com a tarefa de realizar um processo de desenvolvimento que possa atender às expectativas desse mercado exigente e competitivo. Nesta seção, portanto, será apresentado um novo entendimento sobre produtos (bens) e serviços. Essa análise conjunta entre bens e serviços é abordada por Corrêa e Caon (2002), que propõem uma nova maneira de entender como essa integração pode ocorrer. Segundo os autores, produtos e serviços sempre foram comumente tratados em suas diferenças em relação a três aspectos fundamentais (CORRÊA; CAON, 2002), os quais veremos a seguir. 4.2.1 Tangibilidade e intangibilidade Consiste na capacidade de compreender as características da entrega, considerando que ela apresenta uma forma, um tamanho, um volume e um peso específicos. Caso a entrega possa ser caracterizada a partir desses quesitos, ela deve ser considerada um produto; caso contrário, deve ser vista como um serviço. No entanto, essa maneira de diferenciar produtos e serviços não faz tanto sentido quando olhamos sob uma nova ótica de integração entre as suas fronteiras. Um “novo olhar” faz-se necessário, passando a considerar o denominado nível de análise da objetividade do desempenho, que consiste em analisar o potencial de verificação objetiva do cliente. A Figura 1 mostra um nível de elevado desempenho objetivável que pode ser atribuído ao serviço de um lava-rápido ou mesmo de um produto como o aço. Já um nível de desempenho pouco objetivável pode ser atribuído a bens como uma obra de arte ou a serviços como a participação em um show, visto que as opiniões dos clientes podem variar, de acordo com as suas percepções e expectativas. Vídeo Desempenho totalmente objetivável Desempenho não objetivável, em geral, dependente de percepções Lava-rápido Grande varejo Fast-food Locação de filmes Restaurante Parque temático Linha aérea Cabeleireiro Massagem Hotel Teatro Manicure Consulta médica Show Aço Caneta BIC Jeans Caminhão DVD Computador Roupas Sapato Carro Terno sob medida Imóvel residencial Remédio homeopático Perfume Arte (quadro) Pr od ut os fí sic os Se rv iç os Figura 1 – Objetividade no desempenho Fonte: Adaptada de Corrêa e Caon, 2002, p. 66. Gestão de operações e logística70 4.2.2 Presença do cliente Muitas vezes, os produtos e serviços são diferenciados quando é analisada a necessidade, ou não, da presença do cliente no momento em que eles são processados. Por exemplo, uma cadeira não necessita que o cliente esteja presente para que ela seja produzida (podendo ser inicialmente produzida, estocada e posteriormente vendida ao cliente). Para que um serviço de corte de cabelo possa ser realizado, no entanto, faz-se necessário que o cliente esteja presente no momento de sua produção. Essa maneira de definir bens e serviços, porém, pouco auxilia no processo de entendimento e integração das fronteiras entre eles. A análise do nível de intensidade e extensão do contato com o cliente pressupõe que cada tipo de oferta de um pacote de valor (bem integrado ao serviço) depende da intensidade do contato e da interação entre o cliente e esse pacote. A Figura 2, a seguir, ilustra os diferentes momentos de contato entre o cliente e o produto/serviço oferecido. Figura 2 – Contato com o cliente: intensidade e extensão Cliente Recursos & competências do prestador Experiência Processo Produto/ resultado Sucesso com o uso do produto Extensão do contato Intensidade do contato Valor percebido pelo cliente Operação Fonte: Corrêa e Caon, 2002, p. 59. A Figura 2 mostra que o contato entre o cliente e o produto/serviço oferecido pode acontecer de diversas maneiras, com intensidades e extensões diferentes. Ao mesmo tempo, a depender dessa intensidade de contato, será estabelecida a maneira como osprodutos ou serviços serão estrategicamente posicionados quanto ao seu processo de entrega, o que estabelecerá como eles podem atingir a satisfação do cliente. A Figura 3, a seguir, mostra alguns exemplos de produtos e serviços posicionados na matriz que analisa a extensão e a intensidade do contato. Gestão de serviços 71 Figura 3 – Intensidade e extensão do contato Alta AltoBaixo Borracharia Linha aérea Seguradora SPA Restaurante Quiropraxia PsicanáliseNovela Show Grau de intensidade da interação Telefonia Cabeleireiro Consultoria Baixa Ex te ns ão d o co nt at o Riqueza das informações trocadas Nível requerido de customização Fonte: Corrêa e Caon, 2002, p. 60. A Figura 3 permite verificar alguns exemplos, como o da borracharia, que fornece produtos (pneus e acessórios) e realiza consertos sem a necessidade do envolvimento do cliente durante a execução do processo. Por outro lado, um serviço de terapia psicológica exige a participação intensa e completa do cliente para que possa ter sucesso. 4.2.3 Simultaneidade entre produção e consumo A simultaneidade entre produção e consumo se refere, originalmente, ao processo de diferenciação entre produto e serviço por meio do “momento” em que a entrega é realizada. Em outras palavras, essa premissa sugere que um produto não precisa ser consumido no momento em que é produzido. Por outro lado, a prestação de um serviço ocorreria de maneira simultânea ao seu processo de elaboração. Em vez de utilizar essas indicações, sugere-se analisar o nível de estocabilidade, que consiste em verificar e medir o tempo em que o produto ou serviço, se estocado, consegue manter suas condições ideais de comercialização. A Figura 4, a seguir, mostra como ocorre a análise do nível de estocabilidade de alguns produtos e serviços. Gestão de operações e logística72 Figura 4 – Nível de estocabilidade minutos/ segundos0 Serviços Tempo horas dias semanas meses anos BigMac Espresso Pastel Jornal Sanduíche Pão fresco Flores Revista Leite Iogurte Ovos Laranja Leite 4pack Refrigerantes Congelados Peças Enlatados VinhoExemplos Prazo de validade Fonte: Corrêa e Caon, 2002, p. 56. Observando a Figura 4, pode-se verificar que, por exemplo, um café espresso possui um nível de estocabilidade baixo, pois precisa ser consumido imediatamente ou em poucos minutos. Já um produto enlatado apresenta um elevado nível de estocabilidade, pois normalmente possui um prazo de validade estabelecido em meses ou anos. Portanto, para que a organização tenha sucesso no desenvolvimento da entrega de produtos ou serviços ao cliente, faz-se necessário que uma nova maneira de entender suas fronteiras e suas características seja analisada. Em vez de se adotar questões como tangibilidade versus intangibilidade, a necessidade ou não da presença do cliente, ou mesmo a importância da simultaneidade entre produção e consumo, deve-se considerar a análise dos graus de objetividade do desempenho, de contato (intensidade e extensão) e de estocabilidade, tanto de produtos como de serviços. 4.3 O pacote de serviços Diante de um ambiente cada vez mais competitivo e dinâmico, as organizações têm buscado a “melhor” definição dos serviços a serem ofertados ao cliente. Essa definição deve ser percebida como adequada para, pelo menos, três elementos principais: os clientes, os colaboradores e os acionistas. Além disso, o processo de desenvolvimento dessa definição exige a participação desses elementos. Também denominados stakeholders (parceiros envolvidos do negócio), a percepção desses três elementos quanto ao tipo de serviço prestado é fundamental, pois eles serão os principais responsáveis pelo desenvolvimento do negócio e, consequentemente, por seu sucesso. Estabelecer e conceituar qual o serviço a ser prestado envolve, inicialmente, o gerenciamento e a análise da relação entre o produto e o serviço. Deve-se observar, também, como essa relação pode ser potencializada para gerar resultados positivos de desempenho para o negócio. Pensar em serviços, então, significa entender como ocorre o seu processo, quais as experiências vivenciadas pelo cliente, quais os resultados efetivamente alcançados e qual o valor gerado pela oferta que agrega produto e serviço. Um dos pioneiros dos estudos sobre essa relação entre produto e serviço foi Christopher H. Lovelock. Ele foi um dos primeiros a cunhar o termo product plus (além do produto, em tradução literal) para apontar que os produtos deveriam vir acompanhados de serviços que potencializassem a sua percepção junto ao cliente. Segundo Lovelock (1994), a percepção de que produtos devem estar junto a serviços associados constitui-se como uma das principais estratégias das organizações para atingir uma vantagem competitiva. Vídeo Gestão de serviços 73 Como exemplo, pensemos em um negócio de comercialização de produtos naturais, no qual o fabricante, além de disponibilizar diversos tipos de produtos sem conservantes nem agrotóxicos e embalados em recipientes hermeticamente fechados, fornece dicas, nos rótulos das embalagens e em seu site, sobre como combinar os produtos e levar uma vida mais saudável. Assim, o objetivo central da “melhor” definição do serviço ao cliente tem o papel de agregar valor ao que é oferecido, gerando a percepção de uma entrega diferenciada. Esse papel denomina-se pacote de serviços. O pacote de serviços consiste na entrega, pela organização, de um conjunto de elementos percebíveis pelos stakeholders e que tem o poder de ser reconhecido como de alto valor agregado a ser entregue ao cliente. Para Corrêa e Caon (2002), existem dois principais elementos componentes do pacote de serviços (valor) entregue ao cliente: os elementos estocáveis e os não estocáveis. Os elementos estocáveis são aqueles definidos como bens facilitadores ou bens de apoio, tais como os produtos do café da manhã de um hotel, os talheres e pratos em um restaurante e as instalações de um cinema. Já os elementos não estocáveis são aqueles que estão ligados aos aspectos essenciais do serviço, como a pontualidade, a qualidade do atendimento, a segurança e a funcionalidade do acesso. Ao mesmo tempo, Fitzsimmons e Fitzsimmons (2010) definem o pacote de serviços como o conjunto de produtos e serviços oferecidos num só ambiente, com pelo menos cinco características principais: 1. Instalações de apoio: que envolvem os recursos físicos para que ocorra o serviço, como a estrutura médica, a segurança, o transporte, a localização etc. 2. Bens facilitadores: que englobam o material a ser consumido pelo cliente, como os suprimentos médicos, os materiais para a segurança, os veículos para o transporte etc. 3. Informações: que envolvem a troca de dados entre o cliente e a organização na operação, como as informações do paciente (prontuário), procedimentos de segurança, sistema de horários e frequência do transporte etc. 4. Serviços explícitos: que envolvem a percepção direta do cliente quanto ao serviço prestado, como um procedimento médico indolor e pouco invasivo, a não ocorrência de imprevistos em horários de transporte, a rapidez de um atendimento, a precisão de diagnóstico etc. 5. Serviços implícitos: que envolvem, muitas vezes, benefícios psicológicos em relação ao serviço prestado, como a privacidade em determinados locais, a sensação de segurança proporcionada, a confiança de determinado laudo etc. Pensar em um pacote de serviços, portanto, é um item fundamental para que as organizações consigam atingir níveis elevados de competição e possam posicionar suas entregas de maneira diferenciada no mercado. Gestão de operações e logística74 4.4 Operações de linha de frente O processo de gestão de um serviço leva em consideração o modo como o cliente entra em contato com as ações e as atividades inerentes a esse serviço. Em outras palavras, a maneira como o serviço se relaciona com o cliente constitui-se como um fator relevante para que a percepção do cliente e, consequentemente,a sua satisfação quanto ao serviço prestado sejam entendidas e valorizadas. Esse assunto é bastante importante, pois o nível de percepção do pacote de serviços oferecido pela organização a leva a obter maiores possibilidades de rentabilizar o seu negócio, gerando maiores lucros a curto e médio prazos. No entanto, nem sempre é possível que o cliente tenha contato com todos os processos do serviço. Alguns deles estão intimamente ligados ao tipo de serviço prestado, como os fatores relacionados à limpeza, à aparência, ao atendimento e ao sabor de um restaurante por quilo, por exemplo. Enquanto isso, outros serviços do mesmo restaurante não necessariamente estão em contato direto com o cliente, como os processos de manipulação e fabricação dos alimentos ou os processos de aquisição junto aos fornecedores. Essas duas situações são denominadas atividades de linha de frente (ou front office) e de retaguarda (ou back office). Neste e no próximo tópico deste capítulo, serão abordados os principais fundamentos que caracterizam essas duas situações, além de analisarmos como o seu entendimento auxilia na elaboração de estratégias e na gestão de serviços. As atividades de linha de frente são aquelas relacionadas ao contato direto e perceptivo do cliente. Utiliza-se o termo atividades, e não pessoas, pois o mesmo indivíduo pode desempenhar as duas funções. Por exemplo, a pessoa responsável pela limpeza pode desempenhar atividades relacionadas ao gerenciamento e à disponibilização de produtos utilizados no processo de varrição dos corredores e do saguão da empresa e, ao mesmo tempo, servir como orientadora de clientes que necessitam localizar os departamentos específicos da organização. Um outro aspecto muito importante da gestão de serviço em relação às atividades de linha de frente são as estratégias adotadas na busca por maior satisfação e, consequentemente, pela fidelização do cliente. Nesse sentido, as ações que envolvem a gestão de serviços devem contemplar algumas premissas importantes a serem adotadas, tais como a customização, a visibilidade, a eficiência e o controle. A Figura 5, a seguir, mostra a relação entre a gestão de serviços (linha de frente) e as premissas principais. Figura 5 – Premissas das atividades de linha de frente Customização Eficiência VisibilidadeControle Gestão de serviço – linha de frente Fonte: Elaborada pelo autor. Vídeo Gestão de serviços 75 Na sequência apresentamos, mais detalhadamente, cada uma das premissas contempladas na Figura 5. • Customização: as atividades de linha de frente, como uma consulta médica, um corte de cabelo ou uma sessão terapêutica, por exemplo, requerem um maior nível de customização de serviço, visto que oferecem ao cliente a possibilidade de definir o tipo de serviço a ser recebido. A customização exige que os processos da linha de frente tenham a flexibilidade necessária para que as condições e as necessidades do cliente sejam satisfeitas. • Visibilidade: a visibilidade se refere a aspectos do serviço prestado que estão em contato direto com o cliente, como a limpeza, o cheiro, o atendimento, o tempo de espera, as acomodações e os preços de um hospital, por exemplo. Nessa premissa, a conjunção entre a percepção e a expectativa do cliente é item fundamental para que ele fique satisfeito e se disponha a consumir novamente e a indicar para outras pessoas o serviço consumido. • Eficiência: normalmente entendida como a relação entre os resultados pretendidos e os esforços dispendidos, essa premissa está intimamente ligada aos processos que objetivam a obtenção de determinado resultado. Um restaurante com sistema de buffet, por exemplo, que procura manter os alimentos sempre disponíveis e com ótimo aspecto na esteira, oferece aos clientes várias opções de escolha e possibilita que eles sejam atraídos pela aparência dos pratos. Assim, a eficiência deve desenvolver um mecanismo de reposição de alimentos no buffet, assegurando que eles estejam sempre em quantidade adequada e com aspecto atrativo. • Controle: essa premissa é muito importante para que a gestão de serviços relacionada à linha de frente possa ocorrer de maneira eficaz. O controle pressupõe o entendimento, a medição e o acompanhamento das atividades de front office junto aos clientes. Conhecer a opinião sobre o serviço prestado, obter feedback e mensurar a satisfação do cliente são ações necessárias e que fundamentam as análises da adequação do serviço prestado. Assim, deve-se aplicar pesquisas que verifiquem as necessidades de ajustar processos, readequar atividades, alterar procedimentos e, até mesmo, de repensar o modelo de negócio desenvolvido. Outra importante contribuição para a gestão de serviços relacionada às atividades de linha de frente é a possibilidade de estabelecer, por meio de análises de satisfação do cliente, o pacote de serviços a ser prestado e, consequentemente, o valor (preço) a ser cobrado dele. Como abordado em tópicos anteriores deste capítulo, o pacote de serviços (valor) consiste na ação conjunta entre produto e serviço dentro de um espectro amplificado de atendimento ao cliente. Dessa maneira, o entendimento das atividades de linha de frente é fundamental para que o pacote de serviços seja estabelecido e oferecido como um agregado de valor ao cliente. Outro elemento importante a ser destacado é a compreensão do funcionamento do processo de satisfação do cliente. Corrêa e Caon (2002) defendem que a satisfação não pode ser entendida como um ponto, mas sim como uma faixa. Eles sugerem que a formação da satisfação do cliente depende do nível de expectativa gerado e que este, ao mesmo tempo, é formado por uma faixa diversa de percepções (necessidades, desejos, experiência passada, comunicação boca a boca, Gestão de operações e logística76 comunicação externa e preço). O grau dessas percepções em relação ao serviço prestado é que vai definir o real nível de satisfação do cliente. Cabe, portanto, à gestão de serviços entender essa faixa e procurar atender o máximo possível a essas expectativas. Corrêa e Caon (2002) complementam afirmando que o processo que leva à satisfação do cliente também não pode ser entendido em apenas um único momento, e sim em diversos momentos, denominados momentos da verdade. Esses momentos da verdade estão em todo o processo de prestação do serviço e devem ser identificados e estudados para que possam estabelecer a melhor experiência ao cliente naquele momento específico. A Figura 6, a seguir, mostra um exemplo dos momentos da verdade (M) em um atendimento de companhia aérea. Figura 6 – Momentos da verdade de uma companhia aérea AnáliseServiço ao cliente M1 M2 M3 M4 M5 M6 ... Localização Gestão de filas e de tempo Cordialidade / Informação Velocidade Cuidado no manuseio Atendimento / Informação Acessa o saguão Aproxima-se do balcão É atendido Faz o check-in Despacha a bagagem Finaliza o check-in Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 6 mostra que o cliente terá vários momentos da verdade em que a sua satisfação pode sofrer alterações de percepção. Não adiantará, nesse exemplo, a empresa aérea possuir uma ótima localização e gerenciar as filas do check-in se o atendente não for cortês e não passar as informações corretas ao cliente. Provavelmente, apesar do início do processo ter sido bom, o cliente pode perceber um nível baixo de satisfação com o serviço prestado como um todo. As atividades de linha de frente, portanto, são fundamentais para que o cliente sinta maior satisfação em relação aos serviços oferecidos pela organização. Gerando maior satisfação, consequentemente haverá aumento de sua competitividade no mercado. 4.5 Operações de retaguarda As operações de retaguarda (back office) são aquelas realizadas quando a presença do cliente não é necessária. Por exemplo, as atividades de produção de pizzas em uma pizzaria delivery: após o pedido, o cliente tem contato apenas com o produto final e o serviço a ele associado naentrega (tempo de entrega, quantidade Vídeo Gestão de serviços 77 de ingredientes, temperatura da pizza, entre outros). Assim, as operações de retaguarda são as responsáveis pelo uso adequado dos recursos necessários para que o serviço seja executado de maneira eficaz. Em muitas outras situações, as operações de retaguarda também garantem que, além da execução adequada do serviço, ocorra ainda o uso e a aplicação eficiente de diversos recursos da organização (como as pessoas, os materiais, os recursos financeiros e o tempo). Muitas vezes, como o cliente não tem o contato direto com essas atividades, elas passam despercebidas e são pouco notadas. No entanto, sua importância é fundamental para que o pacote de serviços seja eficientemente entregue e valorizado. A análise das atividades de retaguarda pressupõe o levantamento dos processos com os quais o cliente não tem contato e que envolvem a elaboração do pacote de serviços. Essa análise dos processos, muitas vezes, é realizada por meio de medições do tempo e dos recursos utilizados e das pessoas envolvidas em todas as suas etapas, ou seja, seus momentos da verdade. Cada etapa identificada é passível de análise, e seus processos podem ser mapeados e mensurados para que ocorram de maneira planejada e de acordo com os padrões estabelecidos no pacote de serviços. A Figura 7, a seguir, ilustra um modelo de mapeamento do fluxo do processo de serviço. Figura 7 – Fluxo do processo de serviço Recursos críticos Linha de contato Linha de visibilidade Linha de interação interna Linha de controle Critérios de desempenho críticos Pessoal de contato Suporte Produção Gerência Rec CD1 CD2 CD3 Rec CD2 CD4 Rec CD4 CD5 CD7 Rec CD8 Rec CD3 CD6 Rec CD1 CD5 CD8 Rec CD4 M1 M2 M3 M4 M5 M6 MnCLIENTE Ativ-A Ativ-H Ativ-N Ativ-S Ativ-T Ativ-U Ativ-O Ativ-P Recurso Momento da verdade Critério de desempenho Atividade (pode depender dos recursos de uma ou mais áreas de decisão) Rec CD8 Mn Ativ-P Ativ-B Ativ-C Ativ-I Ativ-D Ativ-J Ativ-E Ativ-K Ativ-F Ativ-L Ativ-G Ativ-M Ativ-RAtiv-Q Fonte: Corrêa e Caon, 2002, p. 152. Gestão de operações e logística78 A Figura 7 mostra como ocorre o mapeamento dos processos de serviços (momentos da verdade) e quais implicações e ramificações cada processo teria. São analisados, por exemplo, os recursos que envolvem as pessoas, o suporte, a produção e o gerenciamento em cada momento da verdade. Assim, é possível ter uma visão do processo como um todo e compreender como são feitas suas subdivisões. Para que ocorra a gestão de serviços relacionados aos processos de retaguarda, são aplicadas algumas ações relacionadas à gestão da qualidade e é evidenciado o uso de suas ferramentas de controle. Entre as várias ferramentas de qualidade utilizadas, destacam-se o controle estatístico de processo (CEP) e a análise de causa e efeito, de Ishikawa (estudado no Capítulo 2). O CEP envolve o uso de diversas ferramentas de controle estatístico que auxiliam no entendimento de fenômenos do dia a dia da prestação do serviço. O tempo entre a chegada do cliente a um banco e o seu efetivo atendimento, por exemplo, e o tempo de espera para um atendimento médico em um hospital podem ser aspectos relevantes para que o nível de satisfação do cliente mude. Entender qual o tempo médio de atendimento e analisar as principais causas podem melhorar significativamente a percepção do cliente e sua satisfação. Outro aspecto relacionado ao CEP refere-se ao processo de acompanhamento das ocorrências, ou seja, a realização de um levantamento da forma como cada serviço é prestado, observando se ocorrem distorções ao longo desse processo. Um exemplo desse tipo de ação é analisar o tempo médio de espera para atendimento e verificar em quantos momentos esse tempo ultrapassou um nível satisfatório. Assim, é possível localizar esses momentos de distorção e entender qual a causa de sua ocorrência. O Gráfico 1, a seguir, exemplifica as ocorrências do tempo de espera para um atendimento em um posto de atendimento médico. Gráfico 1 – Tempo médio de atendimento (minutos) 70 50 30 10 60 40 20 0 8h –1 0h 10 h– 12 h 12 h– 14 h 14 h– 16 h 16 h– 18 h 18 h– 20 h 20 h– 22 h 22 h– 00 h 00 h– 02 h 02 h– 04 h 04 h– 06 h 06 h– 08 h M éd ia Fonte: Elaborado pelo autor. Analisando o Gráfico 1, constata-se que o tempo médio de atendimento varia muito de acordo com o período do dia. Caso o posto de atendimento estabeleça como objetivo um tempo médio de atendimento de 26 minutos, verifica-se que praticamente todos os horários diurnos estão Gestão de serviços 79 acima da meta. Assim, pode-se analisar o que ocorre naqueles horários e fazer um reescalonamento de pessoal que possa ser deslocado para os horários em questão. Observe que, em nenhum momento, a qualidade da prescrição médica foi mencionada. Foi analisado apenas o processo, que envolve a disponibilização e os turnos do pessoal, e o tempo de espera do cliente até ser atendido. Essa é uma análise de processos de retaguarda. A análise de causa e efeito, também denominada espinha de peixe, constitui uma ferramenta de controle que identifica, a partir de um problema detectado, as principais causas de sua ocorrência. Ela foi desenvolvida por Kaoru Ishikawa e constitui-se como uma das principais ferramentas de identificação de causas para os problemas da operação. Muito utilizada no setor de manufatura, a análise de causa e efeito também pode ser aplicada ao setor de serviços, pois auxilia no desenvolvimento da gestão e do pacote de serviços a ser entregue ao cliente. Outras ações relacionadas às operações de retaguarda referem-se às atividades de benchmarking de serviços associados. Por exemplo, hospitais fazem benchmarking com hotéis para desenvolver seu sistema de atendimento de pacientes, prestando um serviço mais humanizado e adequado às condições específicas de cada um. As operações de retaguarda são, portanto, fundamentais para que a organização desenvolva adequadamente seu pacote de serviços e o coloque em ação de maneira eficaz. Sua contribuição vai além da simples análise e melhoria do processo em si, auxiliando também para que o serviço como um todo seja realizado e reconhecido, gerando vantagem competitiva para a organização. 4.6 O modelo Servqual ou dos 5 gaps Um processo de prestação de serviços pode ser considerado de qualidade quando a relação entre as percepções do cliente e a sua expectativa original é suplantada. Em outras palavras, quando o cliente tem as suas expectativas superadas, seu nível de satisfação é elevado e sua percepção sobre a qualidade do serviço também é alta. De acordo com Fitzsimmons e Fitzsimmons (2010), existem cinco dimensões principais determinadas pelo cliente ao definir um serviço como sendo de qualidade ou não: a confiabilidade, a responsividade, a segurança, a empatia e os aspectos tangíveis. A confiabilidade consiste na capacidade de entrega do serviço de maneira confiável e exata, de acordo com a expectativa do cliente. Está relacionada, por exemplo, ao serviço de entrega de jornais acontecer todos os dias e sempre no mesmo horário, pois isso transmite confiança e exatidão no processo. A responsividade, por sua vez, retrata a capacidade da organização de responder, em tempo hábil e com exatidão, à demanda do cliente caso aconteça algum imprevisto e seja necessária uma intervenção para resolver o problema. Distribuir um aperitivo extra quando o pedido do cliente atrasa, por exemplo, pode ser uma atitude responsiva eficiente realizada por um restaurante. Vídeo Gestão de operações e logística80 A segurança indica que a organização deve, por meio de seus funcionários, transmitir informações ao cliente com confiança, procurando estabelecer uma relação em que ele se sinta seguro quanto às informações e quanto à forma como sua demanda é percebida e resolvida. Outra dimensão é a empatia, que consiste na capacidade de entendera demanda do cliente e na transparência ao tentar apresentar a solução. Os aspectos tangíveis, por fim, são os elementos que constituem o ambiente em que o serviço é prestado, o que envolve limpeza, iluminação e layout, por exemplo, e a aparência física dos equipamentos e recursos utilizados. O modelo Servqual ou dos 5 gaps foi originalmente desenvolvido por Parasuraman, Zeithaml e Berry (1998) e busca analisar as principais falhas que podem ocorrer durante o processo de prestação de um serviço. Esse modelo analisa as cinco dimensões da qualidade e verifica que podem ocorrer cinco falhas principais (ou gaps) durante o processo de prestação de serviço. Apresentaremos, então, a forma como Corrêa e Caon (2002) definem esses cinco gaps. Para os autores, o gap 1 consiste na falha entre a expectativa do cliente e a percepção gerencial. Um treinamento preparado por um professor em desacordo com as expectativas dos alunos, por exemplo, constitui esse tipo de falha. O gap 2, por sua vez, descreve a falha entre a percepção gerencial estabelecida pelo serviço e a adequada especificação do serviço em si. Propor um serviço de alta gastronomia em um restaurante e não definir os processos de atendimento, de elaboração e de preparo dos pratos, além de um ambiente pouco sofisticado são características dessa falha. Já o gap 3 descreve a falha entre a especificação do serviço e a sua adequada entrega. Muitas vezes, o pacote de serviço é definido de maneira adequada (de acordo com o cliente), mas, durante seu processo de entrega, acontecem falhas, o que acaba prejudicando a percepção do cliente quanto à sua qualidade. O gap 4 retrata a falha que ocorre em relação ao adequado equilíbrio entre a maneira como o serviço é prestado e a forma como ele é comunicado ao cliente. Problemas que envolvem a distorção de expectativas do cliente quanto ao serviço por falha de comunicação são muito comuns nas organizações. Se a comunicação despertar elevada expectativa no cliente, ele pode se sentir pouco satisfeito quanto à sua entrega, ou vice-versa. Por fim, o gap 5, de acordo com Corrêa e Caon (2002), consiste na falha resultante das outras quatro falhas anteriores. A percepção do cliente quanto aos processos envolvidos nos gaps anteriores pode levar à falha 5, o que significa que sua percepção sobre o serviço prestado não corresponde à expectativa originalmente gerada. Um exemplo disso é receber o pedido em um restaurante fast-food após um período que ultrapassa o tempo médio de espera nesse tipo de estabelecimento. Mesmo que o gerente do restaurante explique que a máquina de fritar batatas teve uma pane e foi reparada em 20 minutos, a sensação de demora prejudica a percepção de tempo, gerando potencial insatisfação sobre o serviço. Observe na Figura 8, a seguir, uma ilustração do modelo dos 5 gaps. Gestão de serviços 81 Figura 8 – Modelo dos 5 GAPs Necessidades Experiência passada Prestação (ciclo) do serviço – operação Gap 5 Gap 3 Gap 4 Gap 2 Gap 1 Especificação (design) do processo do serviço – projeto Percepção do gestor sobre o que seriam as expectativas do cliente PreçoDesejos Comunicaçãoboca a boca Comunicação externa Expectativa do cliente Percepção do cliente quanto ao desempenho apresentado Fonte: Adaptada de Corrêa e Caon, 2002, p. 107. A Figura 8 mostra que os 5 gaps podem ocorrer durante todo o processo de prestação do serviço. Para que a organização aumente sua competitividade no mercado, ela precisa analisar detalhadamente esse modelo e verificar as possíveis causas que reduzem o nível de satisfação do cliente. Considerações finais Este capítulo abordou a gestão de serviços e suas principais características, assim como sua importância para a economia atual, e as diferenças tradicionais e atuais entre bens e serviços. Além disso, abordamos aqui o conceito de pacote de valor. Os tópicos apresentados permitiram observar a importância da área de serviços para o aumento da competitividade das organizações. Entender como os serviços podem ser integrados aos produtos e como eles podem, conjuntamente, ser oferecidos ao cliente são aspectos fundamentais das organizações que buscam a melhoria de sua performance no mercado atual. Ao mesmo tempo, o adequado entendimento das necessidades e expectativas do cliente são elementos fundamentais para que as estratégias de gestão de serviço possam ser elaboradas. Projetar serviços a partir da compreensão do que o cliente deseja torna-se uma atividade de fundamental importância para as organizações que vão direcionar os rumos da competitividade nos próximos anos. Gestão de operações e logística82 Ampliando seus conhecimentos Série de TV • MR. SELFRIDGE. Criação: Andrew Davies. Produção: Chrissy Skins. Reino Unido: ITV, 2013-2016. Série de televisão, 40 episódios. Essa série conta a história de Harry Gordon Selfridge, fundador da rede de lojas de departamento Selfridges, na Inglaterra, que foi uma das redes de varejo de maior sucesso da época. Os ensinamentos que podem ser extraídos dessa série incluem a ousadia nos negócios, a conexão com o mundo do cliente, a gestão de pessoas, a oferta de produtos e serviços excepcionais e o entendimento das necessidades do cliente. Filme • AMEAÇA Virtual. Direção: Peter Howitt. Estados Unidos: Industry Entertainment, 2001. 110 min. Esse filme é baseado nas ações da indústria de desenvolvimento de software, na qual as organizações fazem de tudo para conseguir o lucro, a qualquer preço. Nesse sentido, o filme aborda aspectos relacionados à convergência digital por meio de um projeto secreto denominado Synapse, que objetivava prestar serviços a partir da comunicação global por meio de satélites. Atividades 1. Descreva o que é gestão de serviços e comente sua importância para o aumento da competitividade das organizações. 2. Por que é importante a diferenciação entre bens e serviços para a gestão de serviços? 3. O que diferencia as operações de linha de frente e de retaguarda? Referências AGÊNCIA IBGE. Em 2016, PIB chega a R$ 6,3 trilhões e cai 3,3% em volume. 9 nov. 2018. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/22936- em-2016-pib-chega-a-r-6-3-trilhoes-e-cai-3-3-em-volume. Acesso em: 13 jul. 2019. CHINA Statistical Yearbook. 3.2 – Composition of Gross Domestic Product. Disponível em: http://www.stats. gov.cn/tjsj/ndsj/2018/indexeh.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. CORRÊA, H. L.; CAON, M. Gestão de serviços: lucratividade por meio de operações e de satisfação dos clientes. São Paulo: Atlas, 2002. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/22936-em-2016-pib-chega-a-r-6-3-trilhoes-e-cai-3-3-em-volume https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/22936-em-2016-pib-chega-a-r-6-3-trilhoes-e-cai-3-3-em-volume http://www.stats.gov.cn/tjsj/ndsj/2018/indexeh.htm http://www.stats.gov.cn/tjsj/ndsj/2018/indexeh.htm Gestão de serviços 83 FITZSIMMONS, J. A.; FITZSIMMONS, M. J. Administração de serviços: operações, estratégia e tecnologia da informação. Porto Alegre: Bookman, 2010. LOVELOCK, C. H. Product plus: how product + service = competitive advantage. Michigan University: McGraw-Hill, 1994. PARASURAMAN, A.; ZEITHAML, V. A.; BERRY, L. L. Servqual: a multiple-item scale for measuring consumer perceptions of service quality. Journal of Retailing, Estados Unidos, n. 1, v. 64, p. 12-40, 1998. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Valarie_Zeithaml/publication/225083802_ SERVQUAL_A_multiple-_Item_Scale_for_measuring_consumer_perceptions_of_service_quality/ links/5429a4540cf27e39fa8e6531/SERVQUAL-A-multiple-Item-Scale-for-measuring-consumer- perceptions-of-service-quality.pdf. Acesso em: 14 jul. 2019. 5 Logística A logística é um dos conceitos relacionados à movimentação de materiais e informação (fluxo) mais importantes para a competitividade das organizaçõesno mercado atual. Este capítulo tem como objetivo introduzir o aluno na área de logística e Supply Chain Management (SCM), também chamada de gestão da cadeia de suprimentos. Para isso, são apresentados os conceitos iniciais e a evolução histórica da logística e evidenciados os principais fluxos logísticos, suas características e seus direcionamentos. 5.1 Introdução à logística Para que sua competitividade no mercado aumente, a organização precisa desenvolver uma rede de operação que possa entregar o pacote de valor ao cliente de maneira eficiente e eficaz. Nesse sentido, a logística se faz muito importante para que as organizações consigam agregar valor à sua entrega de produtos e serviços e conquistem maior competitividade no mercado. Muitas vezes, essa competitividade concentra-se no modo como os produtos e serviços são oferecidos e entregues ao cliente. Questões que envolvem o prazo de entrega, a qualidade do serviço, as especificações do produto de acordo com as expectativas, entre outros, são elementos fundamentais que orientam a percepção do cliente quanto ao pacote de valor efetivamente entregue pela empresa e sua consequente satisfação. Para Christopher (2011, p. 2-3), logística É o processo de gestão estratégica da aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças e estoques finais (e os fluxos de informação relacionados) por meio da organização e seus canais de comercialização, de tal forma que as rentabilidades atual e futura sejam maximizadas através da execução de pedido, visando custo-benefício. Outra definição interessante de logística é a de que ela “envolve a integração de informações, transporte, estoque, armazenamento, manuseio de materiais e embalagem” (CLOSS; BOWERSOX, 2001, p. 20). De acordo com essas definições, verifica-se que o conceito de logística ultrapassa o entendimento de ser apenas distribuição física e movimentação de materiais. Ela é um conjunto de ações que leva a organização a um nível competitivo mais alto, por meio da melhoria dos fluxos de produtos, serviços e informação, do aumento de sua eficiência no processo e da rentabilidade do negócio. Ao mesmo tempo, logística também pode ser considerada o posicionamento estratégico que a organização deve ter para que seu pacote de valor seja efetivamente reconhecido e valorizado pelo cliente. Ao posicionar estrategicamente a logística como um dos principais elementos da gestão, a organização precisa entender também que, em muitos casos, suas operações vão depender do Vídeo Gestão de operações e logística86 relacionamento e da integração com os outros parceiros de negócio (principalmente clientes e fornecedores). A eficiência dos processos não ocorrerá exclusivamente no âmbito da organização, ela deve acontecer dentro de um conjunto de ações que rompa suas fronteiras internas e afete diretamente as operações dos seus parceiros. A Figura 1 ilustra o cenário logístico que envolve as operações da organização e de seus principais parceiros de negócio. Figura 1 – Operações logísticas Organização ClientesFornecedores Operações logísticas – ampliando as fronteiras organizacionais Cadeia de suprimentos Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 1 mostra as relações típicas entre a organização e seus principais parceiros de negócio, o que também é denominado cadeia de suprimentos, ou SCM. Pode-se notar que o processo logístico, para ser eficientemente projetado dentro de um contexto competitivo, deve contemplar a integração das fronteiras com os parceiros. A organização precisa melhorar os sistemas de recebimento de mercadorias de seus fornecedores e otimizar os processos de entrega aos clientes. Esses esforços para a melhoria da eficiência das atividades constituem o principal elemento de gestão da logística. Para ser eficientemente adotada pela organização, a logística deve contemplar diversos aspectos que fundamentam a análise, a definição e a operacionalização dos processos de integração com seus parceiros. Os aspectos fundamentais para as operações logísticas são ilustrados na Figura 2, a seguir. Figura 2 – Principais aspectos de integração logística Competências e posicionamento estratégico Ciclos de atividades Atividades básicas Fonte: Elaborada pelo autor. Logística 87 A Figura 2 demonstra os três principais aspectos que envolvem os processos logísticos de uma organização: atividades básicas, ciclos de atividades e competências e posicionamento estratégico. Vejamos cada um deles a seguir. As atividades básicas são as tarefas fundamentais e específicas da atividade logística e estão diretamente relacionadas aos processos logísticos. Alguns exemplos de atividades básicas são a disponibilização de meios de transporte (caminhões, veículos etc.), os procedimentos que envolvem os pedidos e a forma como eles são encaminhados aos setores específicos, as operações de carga e descarga de produtos e mercadorias, entre outros. As atividades básicas, enfim, são aquelas que sustentam as operações logísticas e auxiliam para que essas operações aconteçam de maneira efetiva. Os ciclos de atividades são aqueles presentes no processo logístico e fundamentais para que as atividades de recebimento, armazenamento, operação interna e distribuição aconteçam. De outro modo, os ciclos de atividades constituem as estruturas organizacionais para que as operações possam ser realizadas. Eles estão relacionados à estrutura geográfica e à localização da organização e, ainda, aos espaços e layouts definidos para as operações. Além disso, direcionam o nível de flexibilidade em que os processos podem ser alocados e realinhados. As competências e o posicionamento estratégico são aqueles diretamente ligados ao posicionamento competitivo da organização. A forma como os pacotes de serviço devem ser entregues ao cliente e reconhecidos por ele orienta as competências a serem desenvolvidas. Além disso, o posicionamento estratégico da organização é o responsável pela indicação das principais ações e atividades a serem realizadas na logística para que os objetivos organizacionais sejam atingidos. Para exemplificar, considere que uma grande rede de varejo define que seu posicionamento estratégico não é somente anunciar e comercializar produtos eletrônicos (o que seus concorrentes também fazem), mas repensar como ela vai entregar um pacote de valor ao cliente que possa oferecer, além da entrega efetiva do produto no prazo, com preço e condições adequadas, um sistema de informações, de assistência pós-venda e de apoio. Nesse caso, as competências logísticas devem ser elaboradas para que esse posicionamento estratégico de competição possa ser implementado pela organização. A gestão logística, portanto, envolve a implementação de mecanismos que utilizam os diversos recursos empresariais para a execução das atividades e operações de maneira eficaz (que atenda aos anseios do cliente) e eficiente (por meio da máxima redução dos custos envolvidos). Para que isso possa acontecer, a gestão logística contempla o processo de gerenciamento das diversas operações envolvidas nos fluxos de materiais e de informação, tanto no âmbito interno como na integração com seus parceiros de negócio. A Figura 3, a seguir, complementa a Figura 1, inserindo o contexto da gestão logística no processo da cadeia de suprimentos. Gestão de operações e logística88 Figura 3 – A gestão logística Organização (recebimento/ operação/ distribuição) ClientesFornecedores Cadeia de suprimentos materiais dinheiro e informação dinheiro e informação materiais gestão logística Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 3 mostra que a gestão logística gerencia os principais fluxos de operações entre os parceiros da cadeia de suprimentos. Observa-se que os materiais são deslocados dos fornecedores até a organização, que deve operacionalizar a movimentação deles de maneira eficiente. Da organização, partem para os clientes por meio da distribuição. Ao mesmo tempo, o dinheiroe a informação circulam entre os parceiros, alimentando com recursos financeiros e apoiando possíveis ajustes (feedbacks) no processo logístico de gestão. Esses fluxos serão abordados em detalhes no item 5.3 deste capítulo. Essa análise permite que o conceito de logística seja ampliado para um contexto maior, no qual a gestão logística passa a ser considerada e executada entre os diversos parceiros de negócio, dentro da cadeia de suprimentos. Esse conceito amplificado é denominado gestão da cadeia de suprimentos (também chamado Supply Chain Management – SCM). O SCM envolve os mesmos preceitos da logística, mas ampliados para um contexto maior, em que os parceiros são envolvidos e integrados à operação logística da organização. Pensar em logística atualmente, portanto, consiste em considerar que toda uma rede de operações (entre fornecedores e clientes) deve ser integrada e gerenciada. Observar a cadeia de suprimentos da organização (e a sua gestão) passa a ser o elemento fundamental para que os processos logísticos ocorram de maneira efetiva, ocasionando um aumento competitivo da organização por meio de entrega do pacote de valor. 5.2 Evolução histórica da logística A história da humanidade é marcada por muitas disputas e guerras entre povos e por nações que tiveram de se valer, para obter sucesso, do uso de mecanismos de ação integrada e de atividades conjuntas na operação. Muitas batalhas foram vencidas por questões que ultrapassaram a simples análise em relação ao tamanho do aparato militar e foram decisivas para o sucesso nos confrontos. Como exemplo desse uso de mecanismos de ação integrada podemos citar o serviço de alimentação dos soldados, o carregamento e suprimento de armas e munições, o entendimento do local do combate associado ao preparo para ir até ele, o auxílio na saúde (física e mental). Essas e outras ações similares são consideradas tão importantes para o sucesso de nações, além do tamanho de combatentes e, até mesmo, da força militar empregada. Essas ações que envolvem Vídeo Logística 89 diversos serviços de apoio durante uma guerra são denominadas atividades de intendência, ou seja, são atividades muito importantes para que a operação tenha efetivo êxito. Assim, pensar na história da logística significa entender que essa atividade, atualmente tão importante no meio organizacional, tem sido utilizada há muitos anos e por muitos povos como fator de auxílio relevante para o sucesso de suas operações. Christopher (2011) comenta sobre a importância da logística para a Guerra da Independência Americana (1775-1783). Nessa batalha, a questão logística originou problemas de abastecimento de alimentos, armas e munições e de atendimento de saúde às tropas do antigo Reino da Grã-Bretanha, o que acabou afetando suas operações e facilitando os avanços dos soldados americanos para a vitória. O papel da logística como conhecida e estudada atualmente foi estabelecido durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Alguns autores, como Christopher (2011), Closs e Bowersox (2001) e Corrêa (2010), reconhecem que os esforços das nações envolvidas na Guerra foram direcionados para que as operações de ataque e defesa contemplassem as questões logísticas e o seu devido planejamento. Com o final da Segunda Guerra Mundial e os esforços de reconstrução europeia em curso, um novo mercado consumidor estava surgindo e precisava que produtos e serviços fossem entregues de maneira adequada. A Figura 4 mostra os diversos movimentos que podem ser atribuídos a esse momento de pós-guerra e que foram importantes para o desenvolvimento da logística enquanto atividade de apoio e de melhoria nas operações de negócios. Figura 4 – Fatores do desenvolvimento logístico Melhoria contínua Aumento nos lucros Redução de custos Tecnologia e informação Técnicas de gestão Consumidor Desenvolvimento logístico Fonte: Elaborada pelo autor. Segundo Corrêa (2010), são eles: • a pressão por redução de custos, que consistiu (e ainda consiste) em um dos principais elementos da operação de entrega de produtos e serviços no mercado do pós-guerra; Gestão de operações e logística90 • a pressão por aumento nos lucros, que orientava (e ainda orienta) as organizações, principalmente aquelas que possuem diversos stakeholders (parceiros de negócio) envolvidos; • a busca por melhoria contínua nos processos, que gerava, ao mesmo tempo, a redução dos custos e o aumento dos lucros; • a percepção da importância do consumidor, que, juntamente com as primeiras ações de um novo campo de estudo sobre o comportamento do cliente (o marketing), reposicionava-o no centro das atenções; • o desenvolvimento de novas técnicas de gestão de controle de estoques, das operações e de relacionamento com os fornecedores, que culminou na popularização dos modelos de gestão japoneses conhecidos até hoje, como just in time (JIT), produção enxuta (ou lean), 5S, kanban, poka-yoke, gestão da qualidade, entre outros; • a tecnologia e a informação, que, com o desenvolvimento mais recente (a partir da década de 1970) da microinformática e da internet, estão revolucionando a integração, ou seja, o modo como as operações se comunicam e se relacionam. Dessa maneira, percebe-se que o movimento da logística teve maior impulso a partir das décadas de 1980 e 1990, devido, principalmente, aos avanços tecnológicos e de comunicação, aliados a uma necessidade de pensar as organizações como entidades orgânicas e sistêmicas em suas operações. Hoje em dia, a logística tem desempenhado importante papel na estratégia das organizações. No âmbito dos negócios organizacionais atuais, ela é uma significativa ação a ser considerada, estudada e implementada pelas empresas. Não é mais possível um mercado consumidor ser atendido de maneira adequada e competitiva se a logística de todo o processo não for vista como fator fundamental de sucesso do negócio. Por isso, são muitos os exemplos de empresas que empregam a logística como item fundamental para o sucesso de seus negócios, tais como as grandes redes de varejo supermercadistas, as empresas de comércio eletrônico, os restaurantes de fast-food, as lojas de departamentos, entre outras. 5.3 Fluxos logísticos O fluxo logístico consiste principalmente na movimentação dos recursos organizacionais (materiais, de informação e financeiros) ao longo da cadeia de suprimentos. A análise de sua adequada movimentação é muito importante para que as operações logísticas aconteçam de maneira efetiva e para que todos os elos da cadeia possam se beneficiar e sustentar o seu negócio (como foi exposto anteriormente, na Figura 3). Como demonstrado no início deste capítulo, a gestão logística envolve o desenvolvimento de mecanismos eficientes para que o processo do fluxo logístico possa ocorrer da melhor maneira. Assim, ela deve ser implementada para que todos os elos da cadeia de suprimentos obtenham os recursos necessários para a sustentabilidade de seus negócios. Esses recursos devem ser Vídeo Logística 91 suficientemente planejados e gerenciados para que possam atender aos diversos objetivos organizacionais e específicos dos elos da cadeia de suprimentos e da cadeia em geral. Entender a importância do adequado gerenciamento dos fluxos logísticos dentro da cadeia de suprimentos, portanto, significa compreender que toda a cadeia é formada por elos que a compõem e que eles devem ser gerenciados e dimensionados, proporcionando o ganho competitivo e efetivo do negócio. Essa atividade de gestão que planeja, implementa e gerencia os fluxos logísticos é denominada logística integrada. Closs e Bowersox (2001) definem essa logística como a integração das diversas operações internas e externas da organização, desde o momento do recebimento das mercadorias dos fornecedores e sua devida movimentação e armazenagem até a distribuição delas ao cliente. Além disso, também são considerados os fluxos financeiro e de informação. A Figura 5, a seguir,ilustra os fluxos da logística integrada. Figura 5 – Principais fluxos logísticos $ $ $ $ $$ $ Lucro e custo operacional dos fornecedores Fo rn ec ed or es Fabricante Distribuidor Varejista Usuário Lucro e custo operacional do fabricante Lucro e custo operacional do distribuidor Lucro e custo operacional do varejista Salário do usuário Cliente Fornecedor Cliente Fornecedor Cliente Fornecedor Cliente Fornecedor Cliente Informação Bens $ Informação Bens $$ Informação Bens $$$ Informação Bens $$$$ Fonte: Adaptada de Corrêa, 2010, p. 9. Observe, na Figura 5, que o cliente, ao realizar a aquisição do produto na rede varejista, alimenta a cadeia de suprimentos com o fluxo financeiro que proporcionará o pagamento de todos os elos. Ao mesmo tempo, na outra ponta, o fornecedor disponibiliza os bens que serão consumidos em cada elo da cadeia. Em todo o processo logístico apresentado, a troca de informações entre os elos deve ser constante e intensa. Os três principais fluxos logísticos (informações, dinheiro e materiais/bens) identificados na Figura 5 serão detalhados nos tópicos a seguir. 5.3.1 Fluxo de informações O fluxo de informações na logística refere-se ao processo de comunicação de dados e informações entre os diversos elos da cadeia de suprimentos. Esse fluxo ocorre por meio da tecnologia de comunicação adotada pelos elos da cadeia para que possam trocar informações sobre a movimentação dos produtos, os pedidos realizados, a necessidade de reposição, a localização e o momento da entrega, entre outros (CORRÊA, 2010). Gestão de operações e logística92 Essa troca de informações proporciona o planejamento e o controle das operações, facilitando a integração das atividades e o processo de gerenciamento logístico. Sem um fluxo de informações adequado, é muito provável que a gestão das operações logísticas não ocorra de maneira coordenada e integrada, prejudicando seu desempenho e acarretando uma redução da capacidade competitiva da organização. A Figura 6, a seguir, ilustra o fluxo de informações logístico dentro da cadeia de suprimentos. Figura 6 – Fluxo de informações logístico Fornecedores de 2ª camada Cliente Produção Suprimentos P&D Logística Finanças Comercial Gestão do relacionamento com o cliente Gestão do serviço logístico ao cliente Gestão da demanda Gestão do atendimento aos pedidos Gestão dos fluxos de manufatura Gestão de relacionamento com os fornecedores Gestão da rede de produtos em desenvolvimento Gestão de devoluções Fornecedores de 1ª camada Usuário final Fluxo de informações Fluxo de bens Gestão estratégica da rede (projeto da rede, gestão de risco, alinhamento de incentivos) Fonte: Adaptada de Corrêa, 2010, p. 15. Na Figura 6, verifica-se que o fluxo de informações deve estar presente em toda a cadeia de suprimentos. Essa troca de informações possibilita a melhoria do relacionamento entre os diversos elos da cadeia, permitindo que os processos que envolvem a gestão logística (relacionamento com o cliente, serviço, demanda, atendimento de pedidos, manufatura, fornecedores, desenvolvimento de produtos e devoluções) aconteçam de maneira adequada. Como exemplo, considere as ações de uma empresa fabricante de sabão em pó e sua distribuição a uma rede de supermercados, sua cliente. Se houver a troca de informações entre esses dois elos da cadeia de suprimentos, o fabricante pode conhecer e acompanhar as vendas de seu produto quando elas efetivamente ocorrerem no supermercado. Sabendo disso, consegue planejar o consumo (as saídas) de seu produto e, assim, planejar melhor seu processo produtivo e de distribuição, reduzindo custos e repassando ao supermercado parte desse ganho. Assim, o supermercado pode, também, reduzir o preço final do produto e aumentar suas vendas. Todos ganham com o processo (cliente, supermercado e fabricante). A Figura 7, a seguir, ilustra essa afirmação. Figura 7 – Fluxo de informações Logística 93 Vendas/cliente Fabricante Supermercado Informação Fonte: Adaptada de Corrêa, 2010, p. 17. Como demonstrado, todos os elos da cadeia podem ganhar competitivamente quando as informações das vendas do produto são compartilhadas entre eles. Em outras palavras, é possível notar o impacto logístico proporcionado pelo aumento do fluxo de informações entre os elos da cadeia de suprimentos. Outro importante fator relacionado aos fluxos de informações é o monitoramento e controle das operações. A troca de informações entre os elos permite que eles controlem melhor o fluxo de mercadorias e o processo produtivo e de distribuição, possibilitando a melhoria do planejamento e da coordenação da logística de estocagem e armazenagem dos materiais, reduzindo os custos da operação. Assim, é possível perceber que os fluxos de informações são peças fundamentais para o funcionamento da engrenagem logística, pois são os responsáveis por auxiliar a integração das atividades dos elos da cadeia de suprimentos. 5.3.2 Fluxo financeiro (dinheiro) O fluxo financeiro é o responsável pela “irrigação” da cadeia de suprimentos com valores monetários, permitindo o adequado funcionamento das operações e dos processos logísticos. Todos os elos da cadeia de suprimentos são organizações que possuem objetivos a serem alcançados nos seus negócios. Portanto, esses elos também precisam gerar valor e rentabilidade para que possam continuar sustentáveis. Conforme já ilustrado na Figura 5, o fluxo financeiro normalmente inicia-se na aquisição do produto final pelo cliente. Nesse momento, o cliente desembolsa um determinado valor monetário, que deve representar a soma de todos os valores (geração de valor e rentabilidade) gerados em toda a cadeia. Esse valor agregado sobre o produto final vai sendo utilizado em cada elo da cadeia, e o restante é repassado por meio de aquisições de cada um junto ao seu fornecedor. Assim, todos os elos da cadeia vão sendo abastecidos com dinheiro, o que possibilita que seus processos de negócios funcionem. O entendimento do fluxo financeiro permite que a análise da cadeia de suprimentos como um todo comece a fazer sentido. Uma visão sistêmica da cadeia, em que cada elo é o responsável por agregar valor ao produto final, possibilita que as ações logísticas tenham um caráter estratégico. Assim, a participação desses elos torna-se muito importante no processo de valor, pois, caso algum deles tenha dificuldades (ou custos elevados), pode encarecer o produto final, reduzindo o consumo e inviabilizando toda a cadeia. Gestão de operações e logística94 Outro fator importante na análise do fluxo financeiro envolve os denominados custos de transação, que são aqueles relacionados ao processo de uma transação de bens ou serviços. Uma transação normalmente envolve uma série de atividades que geram custos, como a busca por informação sobre o produto ou fornecedor, a elaboração de contratos, o processo de cotação, entre outros. Corrêa (2010) estabelece que os custos de transação são influenciados por, pelo menos, quatro fatores principais: 1. o número de potenciais fornecedores que podem ser acessados para a aquisição de determinado ativo (bem); 2. a especificação dos ativos envolvidos na transação, que podem ser simples ou complexos; 3. a incerteza que envolve a transação, devido ao número limitado de informações sobre ela; e 4. a frequência com que as transações ocorrem, que pode influenciar as ocorrências e possíveis alterações. A Figura 8, a seguir, mostra uma análise detalhada desses quatro fatores e sua influência nos custos de transação. Figura 8 – Fatores que influenciam os custos de transação Número de potenciais fornecedores Especificidade de ativos do cliente Incerteza envolvida Frequência envolvida Alto Baixo custo de transação A lto custo de transação Baixo Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Fonte: Corrêa, 2010, p. 47. Pode-se verificar que os maiores custos de transação ocorrem quando o número de fornecedoresé baixo (devido ao elevado risco de desabastecimento) e são altas tanto a especificidade dos ativos (muito específicos e de difícil troca) como a incerteza e a frequência envolvidas no processo. Dessa maneira, a análise criteriosa dos custos de transação e a verificação da possibilidade de sua redução efetiva constituem-se como elementos principais a serem considerados no contexto geral da gestão logística e, mais especificamente, dos fluxos financeiros. 5.3.3 Fluxo de materiais O fluxo de materiais (ou bens) consiste no processo de movimentação de matérias-primas, componentes e produtos acabados dentro dos diversos elos da cadeia de suprimentos. O objetivo central da análise do fluxo de materiais propõe que, ao passarem pelos diversos momentos e Logística 95 fases da cadeia, seja agregado valor aos materiais, até o momento de sua finalização (produto acabado) e da aquisição pelo cliente. O tamanho da organização não necessariamente influencia no grau de necessidade da análise do fluxo de materiais. Nos diversos modelos e tamanhos de negócio, a verificação de como os materiais são adquiridos, manuseados e movimentados na empresa e, em seguida, comercializados e entregues, são elementos comuns e importantes (CORRÊA, 2010). A Figura 9, a seguir, ilustra, diante do espectro da organização, o fluxo de materiais sob a análise de três dimensões principais: o suprimento/aquisição, as operações internas (movimentação, estocagem e manufatura) e a distribuição do pacote de valor. Figura 9 – Dimensões do fluxo de materiais Suprimento Fluxo de materiais Distribuição Operações internas Fonte: Elaborada pelo autor. Na Figura 9, suprimento/aquisição refere-se ao momento em que os materiais (matérias- -primas, componentes ou produtos) são adquiridos pela empresa. Todos os momentos, desde a compra até a chegada do material, envolvem uma série de processos de movimentação do material, do fornecedor até a empresa. Essa movimentação inclui a fabricação do produto pelo fornecedor, sua estocagem e sua efetiva distribuição. No âmbito da empresa, ela aciona os processos de recebimento do material adquirido e de sua movimentação até a armazenagem (local, condições do ambiente, distâncias, quantidade de itens e pessoal envolvido). A dimensão do suprimento/aquisição, portanto, envolve a análise dessas movimentações dos materiais e de como eles estarão disponíveis para que a empresa possa efetivamente utilizá-los em seu processo interno. As operações internas, por sua vez, representam todas as atividades realizadas dentro da empresa que envolvem o manuseio e o uso dos materiais adquiridos. Nessa dimensão, é analisada a movimentação interna dos materiais, desde seu recebimento e sua armazenagem, passando pelos processos de controle dos estoques e movimentação para a manufatura, até o momento em que o produto está pronto para ser oferecido ao cliente (como um produto final acabado ou um tipo de serviço a ser prestado). Além disso, é verificado o controle dos estoques em processo, visando à disponibilização adequada de materiais às demandas internas (de fabricação ou de disponibilização de produtos aos clientes, por exemplo). O principal fundamento abordado nessa dimensão, portanto, Gestão de operações e logística96 relaciona-se à busca pela maior eficiência do fluxo dos materiais, apoiando os processos internos operacionalizados pela empresa. Por fim, a distribuição é o processo de entrega do pacote de valor (de produtos e/ou serviços) ao cliente da melhor maneira possível (processo de agregação de valor). Ela envolve a movimentação dos materiais (produtos finais) desde o momento em que são estocados na empresa até quando passam a efetivamente pertencer ao cliente. A empresa efetiva a distribuição por meio de diversos canais, próprios ou terceirizados, para o manuseio dos produtos. Outra questão importante nessa dimensão refere-se à participação da área de marketing, que passa a integrar os esforços da organização na entrega do pacote de valor. Assim, atividades que estão ligadas à quantidade de produtos, ao tempo e ao prazo de entrega e ao local em que o produto é disponibilizado devem ser adequadamente analisadas e gerenciadas para que o processo de entrega dos produtos tenha valor. Mais um importante aspecto a ser verificado sobre o fluxo de materiais é a análise estratégica do tipo de fluxo predominante na cadeia de suprimentos. Ele pode ser caracterizado como fluxo empurrado (push), fluxo puxado (pull) ou fluxo híbrido. A Figura 10, a seguir, ilustra esses três tipos de fluxo. Figura 10 – Fluxos empurrado, puxado e híbrido Fonte de matéria- -prima usuário Fluxo empurrado Fronteira empurrado-puxado Estratégia de fluxo empurrado pura Fonte de matéria- -prima usuário Fluxo puxado Fronteira empurrado-puxado Estratégia de fluxo puxado pura Fonte de matéria- -prima usuário Fluxo puxado Fronteira empurrado-puxado Estratégia híbrida Fluxo empurrado Fonte: Adaptada de Corrêa, 2010, p. 44. Os fluxos empurrados são aqueles em que os produtos são fabricados/preparados antes do pedido do cliente. Portanto, as atividades de manufatura ou de preparo (movimentação) Logística 97 precisam ser previamente planejadas e executadas, formando estoques de produtos a serem comercializados. Produtos de limpeza (como alvejantes, desinfetantes, detergentes, entre outros) vendidos em um supermercado são exemplos de produtos manufaturados e estocados (disponibilizados) antes do pedido do cliente e, portanto, de fluxo empurrado. Os fluxos puxados são aqueles cujas atividades de manufatura e preparo acontecem após o pedido do cliente. As atividades de uma empresa de produção de móveis planejados, em que os modelos dos armários são fabricados após a definição das medidas e do modelo escolhido pelo cliente, constituem um exemplo de fluxo puxado. No entanto, na maioria dos casos, a configuração de uma cadeia de suprimentos contempla a ocorrência desses dois tipos de fluxo, formando uma estrutura híbrida que possibilita a melhoria de alguns processos e de suas operações. Esse tipo de configuração é denominado fluxo híbrido e se caracteriza como um processo mesclado entre os dois tipos de fluxo citados anteriormente, procurando aproveitar as vantagens de cada um deles dentro da cadeia de suprimentos. Para exemplificar, pense no caso de um fabricante de computadores que adota o fluxo empurrado para estocar os componentes dos produtos que comercializa e oferece ao cliente a possibilidade de customizar o equipamento a ser comprado de acordo com as suas necessidades (tamanho do disco rígido ou SSD, quantidade de memória, velocidade do processador etc.). O fabricante terá à disposição as diversas peças que compõem o computador (fluxo empurrado) e fará a produção dele a partir das configurações estabelecidas pelo cliente (fluxo puxado). Os fluxos híbridos podem ser, também, gerenciados para que a linha de fronteira seja estabelecida mais próxima do fluxo puxado e, assim, mais próxima do ponto de consumo, objetivando a melhoria dos processos e, consequentemente, a redução dos custos de operação. Esse processo de movimentação é denominado postergação (postponement). Um restaurante que elabora sanduíches pode, por exemplo, deixar os ingredientes do produto (variados tipos de carne, queijos, verduras e molhos) disponíveis ao cliente, deixando-o à vontade para configurar o produto de acordo com suas preferências. Esse processo de postergação visa melhorar os procedimentos de disponibilização de ingredientes ao produto (sanduíche) e, ao mesmo tempo, tornar a percepção do cliente uma experiência customizada de consumo. Considerações finais Com o aumento dos níveis de competitividade, tem aumentado também, cada vez mais, a necessidade de que a gestão logística esteja presente no ambiente das organizações. Muitos aspectos logísticos devem ser considerados, como os processos que envolvem suas atividades, a movimentação dos materiaisao longo da cadeia de suprimentos, a estocagem e armazenagem de materiais e produtos, a localização, o uso de recursos, entre outros. Este capítulo procurou abordar, então, os principais conceitos da logística e sua evolução histórica, evidenciando os fluxos logísticos, suas características e seus direcionamentos. Além Gestão de operações e logística98 disso, foi discutido como as organizações atuais devem valer-se dos fundamentos logísticos para a melhoria de suas operações, proporcionando redução de custos e agregação de valor à entrega e tornando a gestão logística imprescindível para o aumento competitivo delas. Atender ao mercado de maneira eficiente, entregando valor e proporcionando uma certa ressonância em novas compras (fidelização), tornou-se um dos principais fatores de sobrevivência organizacional. Entender adequadamente as operações logísticas envolvidas no negócio interno e na cadeia de suprimentos é condição fundamental para as organizações atualmente. Ampliando seus conhecimentos Vídeos • SCHAFER Brasil – Grupo Boticário. Produzido e publicado por RGB Filmes, 23 maio 2016. 7 min. Disponível em: https://youtu.be/qZ9LFcAXAcA. Acesso em: 26 jul. 2019. Esse vídeo mostra o sistema de armazenagem e distribuição logística do Grupo Boticário. Ao assisti-lo, preste atenção especialmente nos sistemas informatizados de armazenagem e localização dos produtos estocados e na forma de movimentação dos materiais. • NATURA – Centro de Distribuição São Paulo. Produzido e publicado por SSI SCHÄFER América Latina, 3 abr. 2017. 6 min. Disponível em: https://youtu.be/6m7h_2-DsM8. Acesso em: 26 jul. 2019. Esse vídeo apresenta o sistema logístico da Natura, que, com a aquisição da empresa Avon, tornou-se uma das maiores empresas de cosméticos do mundo. Ao assisti-lo, atente para os sistemas informatizados de movimentação dos produtos e para o sistema de estoque de materiais e distribuição. • A HISTÓRIA da Amazon – TecMundo. Produzido e publicado por TecMundo, 1º ago. 2017. 11 min. Disponível em: https://youtu.be/Kh41pc3fv-Q. Acesso em: 26 jul. 2019. Esse vídeo mostra o surgimento da empresa Amazon, os principais elementos logísticos adotados por ela e a forma como se tornou uma das maiores empresas do mundo: focando na gestão logística. Atividades 1. A logística e a gestão da cadeia de suprimentos contemplam o planejamento e a gestão das atividades envolvidas na busca e na compra, nas operações internas e de distribuição. Além disso, incluem a coordenação e a parceria dos elos do canal, como os fornecedores, os intermediários, os serviços terceirizados e os clientes. Considerando essas informações, responda: Quais os principais problemas a serem enfrentados pelas empresas que buscam desenvolver sua logística e a cadeia de suprimentos de maneira efetiva? https://youtu.be/qZ9LFcAXAcA https://youtu.be/6m7h_2-DsM8 https://youtu.be/Kh41pc3fv-Q Logística 99 2. A evolução da logística tem mostrado que ela desempenha, cada vez mais, um importante papel para a gestão das organizações. Descreva, então, pelo menos três dos principais benefícios proporcionados pela logística para as organizações atuais. 3. Discorra sobre a estratégia de postergação logística (postponement) e as principais características das atividades que podem ser operacionalizadas por esse processo de distribuição e serviço ao cliente. Forneça pelo menos um exemplo. Referências CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo: Cengage Learning, 2011. CLOSS, D. J.; BOWERSOX, D. J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas, 2001. CORRÊA, H. L. Gestão de redes de suprimento: integrando cadeias de suprimento no mundo globalizado. São Paulo: Atlas, 2010. 6 Redes de operações Você já atentou para a importância que os meios de transporte, como ônibus, metrôs, táxis, aviões e navios, têm em nossas vidas e na rotina das empresas em que trabalhamos? O que acontece quando eles não funcionam bem? Podemos, entre outras coisas, perder importantes compromissos, como reuniões, entrevistas de emprego e encontros familiares. É preciso considerar que as empresas dependem de modais de transporte como esses, além de parceiros de negócios que produzem partes ou matérias-primas do que elas produzem e que as auxiliam na distribuição dos produtos. Considerando, então, o exemplo citado e essa dependência das empresas, é possível entender que elas não competem mais sozinhas, competem em redes de operações, conceito que será amplamente discutido no decorrer deste capítulo. Por isso, os objetivos de aprendizagem neste capítulo são os seguintes: • apresentar o conceito de redes de operações e a diferença entre estas e o Supply Chain Management (SCM); • refletir a respeito da relação entre os tipos de produtos, as estratégias e as cadeias de suprimentos; • discutir os critérios para decisões de make or buy (fazer ou comprar) e evidenciar as implicações estratégicas dessas decisões; e • refletir a respeito de alianças, concorrências e parcerias na rede de operações. Ao final do capítulo, espera-se que você entenda que a competição não é mais entre empresas, mas entre redes de operações, e, também, o que é necessário para que as redes sejam cada vez mais competitivas. 6.1 Gestão integrada entre elos Antes de abordarmos os conceitos, considere a Figura 1, apresentada a seguir. Figura 1 – Cadeia de suprimentos típica $ $ $ $ $$ $ Lucro e custo operacional dos fornecedores Fo rn ec ed or es Fabricante Distribuidor Varejista Usuário Lucro e custo operacional do fabricante Lucro e custo operacional do distribuidor Lucro e custo operacional do varejista Salário do usuário Cliente Fornecedor Cliente Fornecedor Cliente Fornecedor Cliente Fornecedor Cliente Informação Bens $ Informação Bens $$ Informação Bens $$$ Informação Bens $$$$ Fonte: Adaptada de Corrêa, 2010, p. 9. Vídeo Gestão de operações e logística102 A Figura 1 representa o que chamamos de cadeia de suprimentos, uma estrutura que se inicia pelo consumidor ou usuário, uma pessoa ou uma empresa que tem desejo ou necessidade de adquirir um produto (bem ou serviço). Toda vez que o usuário tem um desejo ou uma necessidade, ele inicia o disparo de três fluxos: informação, recursos financeiros e produtos (já vistos, em certo grau, no capítulo anterior). O primeiro fluxo, informação, é aquele em que o usuário diz quem é ele, o que deseja comprar, quanto está disposto a pagar, quando e onde quer receber, e assim por diante. Geralmente, ele vai ao varejo: supermercados, farmácias, restaurantes, hotéis, padarias. Porém, para lhe prestarem um serviço ou lhe entregarem um produto, essas empresas precisam que o segundo fluxo, o de recursos financeiros, seja disparado. A partir da movimentação financeira do cliente é que o varejo inicia uma transação comercial para entregar o produto que o usuário quer comprar, o que representa o terceiro fluxo. O varejo, no entanto, não produz nada ou quase nada (talvez a comida, no caso dos restaurantes, ou o pão, no caso das padarias) e, mesmo que produza, precisa comprar ingredientes. Por isso, o varejista vai ao atacado ou distribuidor para adquirir seus produtos. Dessa forma, o varejo fica com uma parte dos recursos adquiridos do usuário e leva o recurso restante para o atacadista ou distribuidor. Este, por sua vez, compra em grande quantidade da indústria, fraciona o que comprou e repassa aos canais varejistas ou, em alguns casos, vende também direto ao usuário, o consumidor final (é o caso dos denominados atacarejos, uma mistura de atacado com varejo). A indústria que fornece aos varejos, ao receber o fluxo financeiro e o de informações vindos do distribuidor, é quem faz o processo de transformação, convertendo as matérias-primas em produtos ou serviços. Nos dias atuais, muitas indústrias são também chamadas de montadoras, como as do setor automobilístico, porque,na verdade, não produzem tudo: compram parte de seus produtos de fornecedores parceiros que produzem componentes ou extraem recursos naturais, como minério de ferro, látex e petróleo, para convertê-los e entregar o produto à indústria. Os fornecedores também podem ter seus fornecedores, e estes os seus fornecedores: são fornecedores de primeira, segunda e terceira ordens. Como você pode perceber, essa estrutura é linear como uma corrente: um elo após o outro – daí a ideia do nome em inglês supply chain (cadeia, corrente). Essa estrutura se organiza de tal maneira que os três fluxos citados fluem desde a montante (fornecedor) até chegar à jusante (consumidor final); nesse sentido, é necessário se perguntar: • Quem é o cliente do fornecedor? • Quem é o cliente da indústria? • Quem é o cliente do distribuidor? • Quem é o cliente do varejo? Redes de operações 103 Provavelmente, a cada pergunta você deve ter respondido com o próximo elo. Com base nessa ideia, o cliente do fornecedor é a indústria, o da indústria é o distribuidor, o do distribuidor é o varejo, e somente o varejo é que tem como cliente o consumidor final. Essa resposta está parcialmente correta, pois, de fato, os elos se relacionam com os outros que estão em posições imediatamente anterior e posterior à posição que cada um deles ocupa na cadeia de suprimentos. Imagine agora que toda essa estrutura de cadeia só surge porque alguém, um consumidor final, resolveu comprar um bem ou contratar um serviço. O que ocorrerá com a satisfação desse usuário se o fornecedor de matérias-primas ou componentes entregar produtos com defeito? Ou se o processo de fabricação não for adequado, resultando em produtos defeituosos? Ou, então, se o distribuidor apresentar uma logística ineficiente, atrasando a entrega do produto e entregando-o em quantidade e qualidade inadequadas? Ou, ainda, se o produto ficar mal armazenado no varejo? Certamente, a resposta para todos esses questionamentos é que o consumidor final não vai querer o produto. E quando o consumidor final não deseja mais comprar determinado produto, toda a estrutura da cadeia de suprimentos deve desaparecer. Portanto, além do próximo elo, toda a cadeia precisa pensar no consumidor final, o que traz a primeira implicação deste capítulo: 6.1.1 Nem a sua empresa nem qualquer outra empresa existente compete sozinha Não é, por exemplo, a Toyota que concorre com a General Motors (GM), mas a cadeia de suprimentos da Toyota que concorre com a cadeia de suprimentos da GM. Portanto, quanto mais integrada uma cadeia for em relação às cadeias concorrentes, mais competitiva ela será. Voltando um pouco ao conceito de corrente, considere que você resolveu proteger o portão de sua casa com uma corrente de elos de ferro. Um desses elos, porém, está quebrado e acabou dividindo a corrente em dois pedaços. Você resolve, então, emendar a corrente novamente e, para isso, utiliza um clipe de metal. Apesar de a corrente estar unida novamente, não há dúvidas de que, quando alguém a forçar, ela se romperá exatamente no clipe. Com base nesse exemplo, é possível apresentar a segunda implicação deste capítulo: 6.1.2 Sua empresa é tão forte quanto o elo mais fraco de sua cadeia de suprimentos Às vezes, quando contratamos um serviço de telefonia ou internet, por exemplo, ocorrem problemas de instalação dos serviços. Quando reclamamos, acabamos ouvindo que a falha é da empresa terceirizada. A grande questão aqui é que o consumidor não tem nenhuma relação com a decisão da empresa de telefonia ou internet quanto a terceirizar seus serviços. Portanto, qualquer falha ocasionada por qualquer elo, a qualquer momento, implicará na insatisfação do consumidor final e, assim, toda a cadeia sofrerá os impactos. Logo, para que toda a estrutura pense no consumidor final, é necessário que a cadeia de suprimentos seja administrada como um todo integrado, como um sistema. Gestão de operações e logística104 Figura 2 – Visão sistêmica de rede $ $ $ $ $$ $ Lucro e custo operacional dos fornecedores Fo rn ec ed or es Fabricante Distribuidor Varejista Usuário Lucro e custo operacional do fabricante Lucro e custo operacional do distribuidor Lucro e custo operacional do varejista Salário do usuário Informação Bens $ Informação Bens $$ Informação Bens $$$ Informação Bens $$$$ Fonte: Adaptada de Corrêa, 2010, p. 10. Essa visão de um todo integrado sendo administrado tem um nome: Supply Chain Management (SCM), ou gestão da cadeia de suprimentos. 6.2 Redes de suprimento: visão histórica, desenvolvimento e desafios Fedichina et al. (2004) afirmam que o conceito de SCM surgiu no começo da década de 1990 e a ele é atribuído o uso de tecnologias avançadas que possibilitem o planejamento e o controle da extensa rede de fatores de uma cadeia de suprimentos, objetivando a produção de serviços e produtos que agregam valor aos clientes. Ou seja, o SCM congrega um grupo de empresas integradas em seus processos, pelas quais trafegam os produtos e as informações. Em meio aos seus objetivos, o SCM propõe satisfazer o cliente no tempo certo e reduzir custos financeiros em todos os elos da cadeia, por meio da diminuição dos tempos de espera, da redução de estoques armazenados, de transportes mais racionais e de controles gerenciais mais eficientes. Para Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi (2003), a gestão da cadeia de suprimentos pode ser definida como um conjunto de abordagens que integram de modo eficiente toda a rede de operações – fornecedores, fabricantes, depósitos, armazéns. E essa integração deve acontecer de modo que a mercadoria seja produzida e entregue aos clientes na quantidade, na localização e no tempo certos, de maneira a reduzir custos de toda a rede, atingindo assim o nível de serviço almejado pelos clientes. Pode-se considerar, então, que o SCM se preocupa diretamente em atender às expectativas dos clientes no que diz respeito aos produtos e aos serviços ofertados. O compartilhamento de recursos e estratégias entre parceiros de negócios também é fundamental para o sucesso competitivo de toda a cadeia. Além da preocupação em atender ao consumidor, o SCM cresce por outros fatores, tais como: • Evolução tecnológica: o mundo é cada vez mais global, e a tecnologia une pessoas, países e mercados. Com um site em inglês ou espanhol, é possível vender para boa parte do Vídeo Redes de operações 105 mundo. No entanto, não basta vender, é preciso produzir e entregar o produto, é preciso ter parceiros de negócios, ou seja, criar cadeias de suprimentos. • Retornos decrescentes: a abertura de mercado em vários países, oriunda da globalização, tem feito com que diversas empresas estrangeiras entrem nos países, acirrando o nível de competição. Isso faz com que empresas locais tenham retornos cada vez menores, e torna fundamental buscar novos mercados, aumentar a eficiência e compartilhar a produção com fornecedores parceiros, estruturando cada vez mais novas cadeias de suprimentos. • Desenvolvimento econômico: à medida que há um desenvolvimento econômico, há aumento de renda e, por consequência, de consumo. Logo, quando o consumidor deseja adquirir um bem ou um serviço, toda a estrutura da cadeia de suprimentos se forma a partir desse bem ou serviço. • Tecnologia: para que possa aplicar suas estratégias, o SCM pressupõe um aparato tecnológico nas organizações participantes, pois é por meio da tecnologia da informação que são realizadas as transações entre clientes e fornecedores, principalmente no tocante à troca formalizada de informações complementares de negócios (BALLOU, 2001). • Regionalização: as grandes empresas geralmente procuram mercados também grandes para trabalhar, uma vez que têm elevadas estruturas de custos e precisam, portanto, de vendas e receitas na mesma proporção para cobrir seus custos. Logo, pequenos mercados, como cidades do interior ou de outras regiões do país, acabam ficando em segundo plano,o que enseja o surgimento de empresas locais que percebem a oportunidade de vender seus produtos e, a partir destas, fornecedores de matérias-primas e distribuidores também vão surgindo para se associar, criando novas cadeias de suprimentos. • Desregulamentação: a abertura de mercado tem feito com que, cada vez mais, haja um aumento de concorrência. A consequência disso é a busca por eficiência em custo e por parceiros estratégicos, com conhecimento específico ou acesso a mercados que as empresas ainda não acessam, desenvolvendo, assim, novas cadeias de suprimentos. Se esses fatores contribuem para o desenvolvimento do SCM, outros fatores trazem grandes complexidades, verdadeiras barreiras, tais como: • Mercado: os desafios estão relacionados a aspectos como informação, preços e concorrência. Como se comportam os consumidores em cada região onde a empresa atua? Como manter preços e estrutura adequados em países com altas taxas de inflação ou com disparidades cambiais? Por mais que uma empresa tenha uma cadeia de suprimentos líder em seu mercado de origem, é muito difícil ser totalmente competitiva e líder em qualquer país em que ela atue. • Finanças: no que diz respeito à questão financeira, os desafios estão relacionados à previsão de demanda. Quanto a empresa vai vender de cada produto? E em cada mercado? Além disso, precisam ser considerados os custos relacionados à adequação do produto, dos processos e da distribuição para atender às características locais e institucionais. • Canais de distribuição: em um país continental como o Brasil, com uma enorme extensão territorial, fazer a distribuição logística não é tarefa trivial. Há inúmeros Gestão de operações e logística106 desafios relacionados à infraestrutura, como estradas esburacadas, roubo de carga, perda de grãos ao longo do trajeto, custos elevados de pedágio, isso citando apenas os desafios do modal rodoviário; há também dificuldades com os trilhos e trens antigos do sistema ferroviário, problemas de desembaraço de cargas nos portos, além de estrutura arcaica, insuficiente e ineficiente de um modo geral. Assim, pode-se considerar que, pela necessidade de gerenciamento de diversos fatores, tanto externos quanto internos, a gestão de uma cadeia de suprimentos faz com que sejam empreendidos consideráveis esforços da empresa, os quais nem sempre são compartilhados pelos demais elos. Gerenciar uma cadeia de suprimentos, portanto, significa envolver todas as empresas participantes, objetivando desenvolver estratégias comuns que atendam às expectativas de todos os seus elos. O importante, nesse caso, não é atender aos anseios de apenas um nível da cadeia, pois todos os níveis devem ser atendidos em suas necessidades e expectativas. Essa relação torna-se mais complexa quando se percebe que as cadeias ou correntes de suprimentos não são mais tão lineares quanto as estabelecidas quando o conceito de cadeias de suprimentos surgiu. Observe, por exemplo, a cadeia de suprimentos do setor automobilístico (Figura 3). Ela é composta por fornecedores de matérias-primas ou componentes. Os produtos vão para a fábrica ou montadora, que, a partir daí, integra componentes e matérias-primas de vários fornecedores para produzir ou montar seus veículos. Em seguida, os carros são enviados às concessionárias para que pessoas e empresas possam comprá-los. Figura 3 – Cadeia de suprimentos tradicional Montadora A Cliente ClienteConcessionária n Fornecedor n ClienteConcessionária 1Fornecedor 1 Cliente ClienteConcessionária 2Fornecedor 2 Fonte: Elaborada pelo autor. O que ocorre se tivermos uma segunda montadora, que traz junto a ela toda a sua cadeia de suprimentos? Será que a cadeia se apresentará de maneira distinta? Provavelmente, não. O que pode ocorrer é que alguns fornecedores entregarão à empresa B itens que a empresa A produz por si só, e vice-versa. Porém, de modo geral, será uma estrutura bastante similar. Redes de operações 107 Figura 4 – Comparação entre cadeias de suprimentos Montadora A Cliente ClienteConcessionária n Fornecedor n ClienteConcessionária 1Fornecedor 1 Cliente ClienteConcessionária 2Fornecedor 2 Montadora B Cliente ClienteConcessionária zFornecedor z ClienteConcessionária 3Fornecedor 3 Cliente ClienteConcessionária 4Fornecedor 4 Fonte: Elaborada pelo autor. O que também pode ocorrer é que algum fornecedor da cadeia de suprimentos A forneça também para a B, e vice-versa. Ao mesmo tempo, algumas concessionárias podem ser “multimarcas”, ou seja, vender carros de mais de uma montadora ou fazer parte de uma rede de concessionárias de montadoras distintas. Além disso, os consumidores são livres para comprar de qual concessionária bem entenderem. As montadoras, no entanto, perceberam que podem se unir, que não devem ser concorrentes em toda a cadeia, mas apenas no varejo, na hora da decisão do consumidor pelo produto mais adequado às suas necessidades. Por isso, unem-se para negociar preços mais interessantes com os fornecedores, transformando as cadeias de suprimentos em redes de operações. Gestão de operações e logística108 Figura 5 – Redes de operações Montadora A Cliente ClienteConcessionária n Fornecedor n ClienteConcessionária 1Fornecedor 1 Cliente ClienteConcessionária 2Fornecedor 2 Montadora B Cliente ClienteConcessionária zFornecedor z ClienteConcessionária 3Fornecedor 3 Cliente ClienteConcessionária 4Fornecedor 4 Fo rn ec ed or es ex clu siv os Fo rn ec ed or es ex clu siv os Fo rn ec ed or es m er ca do -p ur o Fo rn ec ed or es m er ca do -p ur o Fonte: Elaborada pelo autor. As redes de operações surgem com base em uma visão de coopetição (coopetition em inglês). A coopetição é uma estratégia adotada pelas cadeias de suprimentos para serem mais competitivas e que leva à criação das redes de operações. Essa estratégia é a soma da competição com a cooperação. Quando estão disputando o cliente nos canais de vendas, as empresas concorrem entre si (competição), porém quando percebem vantagens em se unir, passam a ser aliadas (cooperação). Podemos observar exemplos de coopetição em empresas de diferentes tipos, como as startups, que trabalham juntas, em espaços compartilhados (coworkings), para reduzir custos com estrutura, até que tenham capacidade financeira para bancar todos os custos sozinhas, ou, ainda, as grandes empresas, como as do setor de telefonia que compartilham torres para transmissão de sinal e empresas ferroviárias que compartilham trilhos para não ter a necessidade de construir trilhos adicionais nos trechos em que a concorrência já atua. Redes de operações 109 6.3 Tipos de produtos e de redes Quando se fala em estratégia empresarial, costuma-se dizer que a estratégia deve ser corporativa, competitiva e funcional, ou seja, deve, respectivamente: envolver toda a empresa, ser melhor do que a da concorrência e executável. Mas, quando se fala em rede de operações, como deve ser a estratégia dessa rede? A estratégia da rede deve ocorrer da mesma forma adotada para a estratégia empresarial, isto é, todos os elos devem conhecer a estratégia para cada produto, ser melhor do que a da rede de operações da concorrência (visto que as empresas não competem sozinhas) e executável. Isso quer dizer que não adianta um grande comprador forçar demasiadamente seu fornecedor a ponto que este não tenha como atender aos compradores de seus produtos ou, até mesmo, venha à falência. Portanto, faz-se necessário que toda a rede se alinhe com o perfil de cada produto e que apresente ações estratégicas compatíveis. Há dois perfis de produtos que impactam as estratégias de redes de operações: os produtos funcionais e os produtos inovadores. 6.3.1 Produtos funcionais e as redes eficientes Os produtos funcionais são aqueles utilizados no dia a dia das pessoas. São produtos comuns, de primeira necessidade, como óleo de cozinha, creme dental, desodorante e commodities como açúcar,arroz, café, entre outros. Esses produtos têm uma comunicação muito objetiva, enfatizando os resultados advindos do seu uso – por exemplo, o xampu que retira todas as caspas, o creme dental que deixa os dentes mais brancos, o sabão em pó que limpa melhor, e assim por diante. As pessoas geralmente os compram em canais de varejo como supermercados, padarias, lanchonetes e lojas de conveniência em postos de gasolina. Os produtos funcionais geralmente se encontram em um certo estágio de maturidade, o que implica dizer que já foram lançados há um certo tempo e que possuem um histórico consolidado de vendas, facilitando sua previsibilidade. Outro ponto importante é que o consumidor tende a não ser tão fiel aos produtos funcionais. Caso o consumidor chegue à prateleira do supermercado e não encontre o creme dental que costumeiramente utiliza, simplesmente compra outro, pois não deixa de escovar os dentes. Por outro lado, se o produto estiver com um preço muito diferente da média dos demais concorrentes, a tendência é que o consumidor não o compre, apenas o troque por um produto similar da concorrência que estiver com preço melhor. Assim, pensando em termos de operações, uma vez que o produto deve apresentar um preço padrão próximo da média e que não pode faltar nas prateleiras, é fundamental que a rede enfatize a eficiência de fluxos que atendam a demandas constantes, contínuas e esperadas, com estoque de produtos prontos e com controle de custos rígido, para manter os produtos funcionais com preços baixos. Vídeo Gestão de operações e logística110 As redes que se comportam dessa forma, no que se refere a produtos funcionais, são chamadas de redes eficientes. 6.3.2 Produtos inovadores e as redes de resposta rápida Os produtos inovadores têm comportamento e estratégias bem distintas em relação aos produtos funcionais. São produtos diferenciados, que apresentam atributos não vistos em produtos da concorrência ou que, até mesmo, criam segmentos de mercado. Esses produtos possuem ciclo de vida mais curto que os funcionais, principalmente os de tecnologia. Vale lembrar, entretanto, que certos produtos inovadores do passado atualmente são produtos funcionais. A comunicação dos produtos inovadores é mais subjetiva, pois eles evidenciam a ruptura de ideias, o novo mercado que está sendo criado, as novas funcionalidades e outros motivos mais subjetivos do que o preço para os consumidores adquirirem esses produtos. Isso porque os consumidores buscam neles elementos como status e estilo de vida. Esses produtos são adquiridos em lojas-conceito, criadas pelos próprios fabricantes. São anunciados em grandes campanhas de marketing e aguardados por consumidores que se identificam com seus atributos, como aqueles que gostam de marcas específicas de smartphones. Como os produtos inovadores não possuem histórico de vendas, é necessário que sua rede de operações tenha capacidade de se adaptar ao inesperado, demonstrando agilidade para acelerar ou desacelerar sua produção. Isso deve ocorrer por dois motivos: 1. A empresa precisa aproveitar o momento de ser inovadora e de ainda não ter concorrentes, apresentando produtos similares e ganhando, assim, um prêmio pela inovação, até que novos concorrentes apareçam. 2. Os maiores custos já foram empregados na fase de desenvolvimento do produto. Portanto, ao tentar economizar na logística, que tem custos baixos quando comparados aos custos do desenvolvimento, a empresa corre os riscos de não fixar rapidamente o produto no mercado e abrir a porta para a entrada da concorrência. Sendo assim, a rede de operações dos produtos inovadores necessita ser de resposta rápida, ou seja, tem de apresentar um alto nível de flexibilidade para se adaptar ao inesperado. Seus produtos geralmente estão em fase de processamento e, por isso, a empresa não fará elevadíssimos estoques de produtos finalizados, mas estará sempre pronta para acelerar ou desacelerar sua produção conforme a resposta do mercado. 6.4 Decisões de comprar ou fazer Além da preocupação a respeito da conciliação entre produtos e comportamento de redes, outro ponto de atenção importante para as redes de operações são as decisões a respeito do que a empresa deve comprar e do que ela deve fazer: as decisões de fazer ou comprar, mais conhecidas como make or buy. As empresas buscam, muitas vezes, terceirizar parte de suas operações para ter redução de custos, compartilhamento de tecnologia e foco no core business. No entanto, é preciso tomar extremo cuidado a respeito do que terceirizar para não desenvolver novos concorrentes. Vídeo Redes de operações 111 Para comprar somente aquilo que não comprometerá sua estratégia e suas vantagens competitivas, é necessário tomar as decisões de make or buy de modo consciente e estruturado. Portanto, veremos a seguir os critérios mais utilizados em decisões de make or buy: os custos de transação e a centralidade de competências. 6.4.1 Custos de transação Conforme comentado no capítulo anterior, os custos de transação são aqueles relacionados ao processo que envolve uma transação de bens ou serviços. Uma transação, por sua vez, normalmente envolve uma série de atividades que geram custos, como a busca por informações sobre o produto ou o fornecedor, a elaboração de contratos, o processo de cotação, entre outras. O modelo, como pode ser visto na Figura 6, mais adiante, é baseado primeiramente na incerteza dos custos de transação. Para custos de transação baixos, a decisão deve ser comprar, e para elevados custos de transação, fazer. Para se chegar a um predomínio de custos de transação altos ou baixos, faz-se necessário analisar as quatro variáveis a seguir: • Número de potenciais fornecedores: quando há muitos fornecedores, há concorrência entre eles pelo consumidor final, o que dá a este último maior poder de negociação e a possibilidade de, até mesmo, trocar de fornecedores. Assim, para alto número de fornecedores, o custo de transação é baixo, portanto se deve comprar. Já quando há poucos fornecedores, o custo de transação é alto, por isso, se possível, a empresa deve fazer. • Especificidade de ativos do cliente: quando a demanda é padrão, é possível ter custos de transação menores ao terceirizar a entrega para um fornecedor especializado (um banco terceirizando serviços de gestão de estacionamento e limpeza predial, por exemplo, visto que tais serviços não fazem parte do seu core business). Já para serviços específicos, como a gestão de relacionamento com os clientes, é aconselhável que a empresa faça tal serviço, uma vez que essa ação tem implicação em altos custos de transação. • Incerteza envolvida: essa variável é consequência direta do item anterior, pois quanto maior a incerteza, mais necessário ter o controle da situação, visto que os custos de transação são altos. Situações em que há pouca ou nenhuma incerteza, por outro lado, apresentam custos de transação baixos e podem, portanto, ser terceirizadas. • Frequência envolvida: demandas esporádicas e pontuais podem ser terceirizadas por apresentarem custos de transação baixos, por outro lado, demandas recorrentes devem ser controladas e feitas pela própria empresa. Figura 6 – Contínuo dos custos de transação Número de potenciais fornecedores Especificidade de ativos do cliente Incerteza envolvida Frequência envolvida Alto Baixo custo de transação A lto custo de transação Baixo Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Gestão de operações e logística112 Fonte: Adaptada de Corrêa, 2010, p. 47. Agora, vamos observar como funciona o outro critério utilizado em decisões de make or buy: a centralidade de competências. 6.4.2 Competências centrais Para Hamel e Prahalad (1994), competência pode ser definida como um conjunto de tecnologias e habilidades, e não somente uma habilidade ou uma única tecnologia. Já as competências centrais, para esses autores, são as fontes mais valiosas de vantagem competitiva sustentável. Para que uma competênciaseja considerada central, ela deve possuir três características importantes. De acordo com Hamel e Prahalad (1994), essas características são: • Valor para o cliente: nesse caso, a competência central deve evidenciar um valor desproporcional superior percebido pelo cliente para aquela competência quando comparado com a concorrência. As empresas devem sempre refletir a respeito de quais elementos de valor presentes em seus produtos ou serviços o cliente consideraria pagar um preço superior quando comparado a produtos similares dos principais concorrentes. • Diferenciação sobre a concorrência: essa deve ser única ou exclusiva para que a competência seja, de fato, considerada central. Somente a empresa possui tal competência, ou pouquíssimos concorrentes. Podemos citar empresas de e-commerce que conseguem entregar mais rápido, mais barato ou em uma amplitude geográfica maior que seus concorrentes. • Extendabilidade: os gestores precisam olhar para o futuro e imaginar quais são as novas oportunidades que poderão explorar. Uma competência é realmente central quando propicia a abertura de novas oportunidades e de novos mercados. Caso a competência analisada pela empresa se apresente com baixa intensidade em qualquer uma das três características citadas, a empresa não tem uma competência central. Só será considerada uma competência central se criar valor para o cliente, trouxer uma diferenciação sobre a concorrência e levar a uma visão de futuro em alta intensidade. Figura 7 – Contínuo de centralidade de competências Valor para o cliente Diferenciação sobre a concorrência Extendabilidade C om petência não central C om petência central Baixo Alto Baixa Alta Baixa Alta Fonte: Corrêa, 2010, p. 49. Outros elementos importantes na gestão de redes de operações estão relacionados à gestão dos fluxos de materiais e ao efeito chicote, os quais serão abordados a seguir. Redes de operações 113 6.5 Fluxos de materiais e efeito chicote A integração entre elos em prol da estratégia da rede e decisões bem tomadas em relação ao que deve ser comprado e ao que deve ser feito internamente pode ajudar a mitigar um efeito na flutuação de estoques nas redes de operações, o denominado efeito chicote. O efeito chicote (bullwhip effect) foi criado por Jay Wright Forrester, ex- professor da MIT Sloan School of Management e fundador da dinâmica de sistemas, teoria que simula as interações entre objetos em sistemas dinâmicos. Esse efeito ocorre quando há uma diferença entre a demanda real do mercado e a previsão das empresas. Quando a previsão de demanda se distorce ou não se concretiza, começa a haver um efeito cascata ao longo da rede de operação, como se fosse uma brincadeira de telefone sem fio. Dessa forma, quanto mais longe da demanda dos clientes, maior será a distorção entre o previsto e o realizado, tanto para cima quanto para baixo, como pode ser observado na Figura 8, a seguir. Figura 8 – Ilustração do efeito chicote fornecedor fabricante atacadista varejista demanda Pr od uç ão Período 1 2 3 4 5 6 Fonte: Corrêa e Corrêa, 2017, p. 117. Os fatores que mais contribuem para que o efeito chicote aconteça são falhas de previsão de demanda, variações de preço, escassez de produto e pedidos em grandes lotes. Nesse sentido, caso aconteça o efeito chicote, podem ser observadas diversas reações negativas na rede de operações, tais como: • aumento nos custos de estocagem; • dificuldades e imprevisibilidades para se fazer ressuprimentos de estoques; • elevação dos custos de transporte; • variações na disponibilidade dos produtos; • desgaste nas relações com outros elos da rede de operações. Vídeo Gestão de operações e logística114 Por isso, para atenuar o efeito chicote é recomendável que a empresa melhore a comunicação com todos os elos da rede de operações e enxergue sempre a demanda na ponta, do consumidor final. Além disso, é importante que a empresa alinhe suas estratégias internas e melhore o desempenho das operações dentro de cada elo, a fim de tomar decisões conscientes e aprimorar seu atendimento. É necessário ainda que a empresa estabeleça uma relação de confiança com seus parceiros da rede de operações, criando com eles relações de coopetição. Investir em tecnologia, criar indicadores de performance e trabalhar constantemente para aprimorar os métodos de previsão de demanda também são ações bastante importantes para evitar que ocorra o efeito chicote. Uma gestão eficiente e eficaz das redes de operações ocorre quando se tem visibilidade para enxergar todos os movimentos de fluxos ao longo de todos os elos, uma comunicação aberta e franca e quando são reiterados os relacionamentos de confiança. Assim, é possível diminuir o risco de estoques em excesso ou em falta e, por consequência, o efeito chicote. Considerações finais Neste capítulo, foi apresentado o conceito de redes de operações, que é a integração das cadeias de suprimentos por meio de alianças estratégicas. É preciso considerar, então, que a unidade de análise não é apenas a unidade produtiva, deve-se analisar a rede de operações como um todo. Afinal de contas, as empresas não competem mais sozinhas, a competição se dá entre redes de operações, portanto uma rede é tão forte e tão competitiva quanto seus elos mais fracos. Outro ponto considerado aqui é que os concorrentes são competidores pelo mesmo mercado, mas não inimigos. O conceito de coopetição (competição e cooperação) faz com que as empresas atuem como concorrentes na oferta de seus produtos aos consumidores finais, mas como parceiros de negócios em outros elos, buscando, entre outros objetivos, a redução de custos. Por fim, vale a pena considerar o efeito das redes de operações na competitividade das empresas. É preciso lembrar que a integração com os demais elos da rede de operações é que faz com que uma empresa realmente possa ter vantagens competitivas. Ampliando seus conhecimentos Vídeos • PARTE I - TOYOTA - Lean Manufacturing. Publicado por canaldaindustria, 22 jul. 2009. 6 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=c6KVeDbgRgU. Acesso em: 29 jul. 2019. • PARTE II - TOYOTA - Lean Manufacturing. Publicado por canaldaindustria, 22 jul. 2009. 8 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6vmdVR9dzPM. Acesso em: 29 jul. 2019. Redes de operações 115 Esse vídeo, divido em duas partes, mostra a evolução histórica e o modelo de gestão de cadeia de suprimentos de uma das maiores empresas automobilísticas do mundo, a Toyota. • PROFESSOR Edio Braga - Logística: DHL Supply Chain. Publicado por Professor Edio Braga, 16 jun. 2013. 5 min. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=Ji2xd4HhvLU. Acesso em: 29 jul. 2019. Esse vídeo institucional da DHL, uma das maiores empresas de soluções logísticas integradas, mostra como a empresa auxilia seus parceiros de negócios a desenvolverem suas operações logísticas. Atividades 1. O que significa dizer que uma empresa é tão forte quanto seu elo mais fraco? 2. O que significa dizer que atualmente a concorrência não é mais entre empresas, mas entre redes de operações? Explique. 3. Escolha um produto funcional e um produto inovador de sua preferência. Em seguida, identifique, em relação a eles: a) perfil dos estoques; b) estratégia para formação dos preços; c) estratégia de comunicação; d) perfil da rede de operações. Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. COASE, R. H. The Nature of the Firm. Economica, v. 4, n. 16, p. 386-405, nov. 1937. CORRÊA, H. L. Gestão de redes de suprimento: integrando cadeias de suprimento no mundo globalizado. São Paulo: Atlas, 2010. CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017. FEDICHINA, M. A. H. et al. Estratégias logísticas e e-business: o caso Mc Donald’s – Martin Brower. In: SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO – SEMEAD. 7. Anais[...], São Paulo, ago. 2004. São Paulo: USP/ FEA/PPGA, 2004. Disponível em: http://sistema.semead.com.br/7semead/paginas/artigos%20recebidos/ Opera%E7oes/OP07_-_Estrategias_logisticas_e-business.PDF. Acesso em: 29 jul. 2019. HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. Competing for the future. Boston: Harvard Business School Press, 1994. SIMCHI-LEVI, D.; KAMINSKY, P.; SIMCHI-LEVI, E. Cadeia de suprimentos: projeto e gestão. Trad. de Félix J. Nonnenmacher. Porto Alegre: Bookman, 2003. 7 Previsão de demanda A previsão de demanda é a atividade que busca estabelecer um melhor entendimento sobre o mercado de consumo dos produtos e serviços oferecidos pela organização. Ela é muito importante para que a empresa possa desenvolver mecanismos de trabalho e planejar suas ações diante da competitividade do mercado. Por isso, este capítulo tem como objetivos conceituar previsão de demanda, caracterizar as previsões de demanda que existem e evidenciar a importância destas para o processo produtivo. Além disso, apresentaremos os principais métodos de previsão: quantitativos e qualitativos. 7.1 O começo do processo produtivo: previsões em produção e operações Em toda operação de fabricação de produtos, ou mesmo de dimensionamento da oferta de serviços ao cliente, a organização precisa entender em quais níveis de operação essa atividade deve ocorrer. Para isso, deve ser capaz de reconhecer o que produzir, quantos produtos ou serviços disponibilizar e como fabricar e distribuir. O entendimento do mercado consumidor – seja o cliente final, seja o próximo elo da cadeia de suprimentos – é fundamental como suprimento de informações vitais para o direcionamento das operações da organização. Ele permite saber, por exemplo, quais os investimentos necessários em maquinário, quantas pessoas trabalharão no processo, quais espaços e de que tamanhos devem ser disponibilizados, quais ações de marketing, de disponibilização de recursos, de infraestrutura de estocagem e de distribuição devem ser realizadas para o adequado atendimento ao cliente/mercado. Permite saber, ainda, como desenvolver esses recursos para que as operações sejam competitivas. Desse modo, prever adequadamente os níveis de demanda é uma atividade vital, visto que fornece inputs para que a organização possa se planejar. Além disso, a previsão de demanda permite organizar o controle de suas operações funcionais, as quais incluem a logística, a produção e operações, o marketing, as finanças, o pessoal, a infraestrutura, entre outras. A Figura 1, a seguir, ilustra a importância do processo de previsão de demanda no desenvolvimento dos recursos organizacionais. Figura 1 – Previsão de demanda Previsão de demanda Planejamento e controle organizacional Aumento da competitividade Fonte: Elaborada pelo autor. Vídeo Gestão de operações e logística118 Note, na Figura 1, que o processo de previsão de demanda é o princípio para que a organização possa melhor entender o seu cliente e planejar o dimensionamento de sua capacidade de operação e controle. Com isso, é possível atender melhor o seu mercado consumidor, aumentando significativamente seu nível de competitividade. Ao mesmo tempo, a previsão de demanda desempenha um importante papel no estabelecimento de diretrizes e estratégias da organização. Sua atividade subsidia fundamentalmente todos os níveis da organização, pois auxilia na compreensão do tamanho do mercado e apoia o posicionamento estratégico que a empresa deseja ter no presente e nos anos seguintes. A Figura 2, a seguir, mostra a relação entre a previsão de demanda e os níveis da organização. Figura 2 – Relação entre previsão de demanda e níveis organizacionais Estratégico Tático-funcional Operacional Previsão de demanda Fonte: Elaborada pelo autor. Os três principais níveis organizacionais podem se beneficiar das informações levantadas pelo processo de previsão de demanda. No nível estratégico, a empresa estabelece o planejamento de estratégias que envolvam a ampliação de negócio, o desenvolvimento de novo mercado, o aumento da capacidade produtiva, entre outros. No nível tático-funcional, por sua vez, é possível desenvolver as políticas de alocação de recursos humanos, materiais, financeiros, mercadológicos e administrativos. A nível operacional, por fim, a previsão de demanda permite o desenvolvimento de planos de operação que envolvam o preparo e o uso dos recursos, além do controle das atividades estabelecidas. Assim, a atividade de prever demanda torna-se fundamental para que a organização possa desenvolver uma efetiva ação responsiva aos clientes, proporcionando-lhes produtos e serviços adequados e dentro de suas expectativas e, consequentemente, melhorando a competitividade de sua cadeia de suprimentos. 7.2 Características das previsões de demanda O entendimento de um adequado processo de previsão de demanda denota que o gestor precisa considerar alguns aspectos muito importantes. Deve compreender, por exemplo, que toda previsão normalmente contém certo grau de imprecisão, pois é apenas uma estimativa (ainda que realizada de maneira cientificamente estudada). Vídeo Previsão de demanda 119 Para Chopra e Meindl (2011), as previsões possuem algumas características principais. A primeira delas é o grau de imprecisão, que gera a necessidade do estabelecimento de medidas de erro de previsão. Considere, por exemplo, dois supermercados que estabelecem as estimativas de vendas do produto sabão em pó de uma marca específica. Um deles estima as vendas semanais entre 100 e 300 caixas de sabão em pó, enquanto o outro supermercado estima as vendas do produto entre 100 e 500 caixas. Nota-se que o planejamento de compras de cada supermercado será diferente, pois mesmo que os supermercados estejam estimando vender aproximadamente 200 caixas por semana, o setor de suprimento, o de armazenagem e o financeiro deverão desenvolver ações diferentes para que possam contemplar essas previsões. Outra característica importante apresentada pelos autores é que previsões de longo prazo são mais imprecisas que as de curto prazo, pois as primeiras normalmente são caracterizadas pela maior ocorrência de desvios-padrão de erro. Prever a demanda, para o ano seguinte, do consumo de um determinado tipo de sanduíche (por exemplo, um cheeseburguer) torna-se muito mais complexo e cheio de incertezas do que prever a quantidade de consumo desse produto na próxima semana (o mesmo aconteceria com um sanduíche com hambúrguer de peixe, por exemplo). Em outras palavras, como a produção dos sanduíches exemplificados necessita da compra antecipada dos ingredientes (hambúrgueres de carne bovina e de peixe), a margem de erro para a próxima semana é bem menor. Essa constatação orienta a empresa no desenvolvimento de dois tipos de ação: a de curto prazo e a de médio/longo prazo, em que o planejamento dos recursos deve ser direcionado para o atendimento específico de cada tempo. A Figura 3, a seguir, ilustra as diferentes decisões baseadas nos prazos estabelecidos. Figura 3 – Decisões e prazos Tempo Horizonte de previsão Efeitos das decisões Decisão A Decisão B Decisão C Curto prazo Médio prazo Longo prazo Fonte: Adaptada de Corrêa, 2010, p. 239. Observe, na Figura 3, que cada decisão (A, B e C) deve considerar planos e estimativas diferentes, pois geram efeitos distintos de acordo com o prazo estipulado (curto, médio ou longo). Outro aspecto apontado por Chopra e Meindl (2011) é de que as previsões agregadas são mais exatas que as desagregadas. Isso significa, por exemplo, que a previsão do crescimento econômico de um país, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), tem uma margem de erro muito menor que a previsão de crescimento de uma empresa específica. O PIB agrega o resultado de crescimento de diversas empresas, considerando crescimentos e declínios de mercados específicos, o que gera uma Gestão de operações e logística120 menor margem de erro. Já o crescimento individual de uma empresanormalmente está sujeito ao posicionamento dela, sofrendo as influências e oscilações específicas de seu mercado. Mesmo se considerarmos o exemplo da produção de sanduíches apresentado anteriormente, é mais fácil estimar o consumo a médio e longo prazos de hambúrgueres de carne bovina (que compõem diversos tipos de sanduíches) do que prever as vendas de um sanduíche tão específico como o que leva hambúrguer de peixe. Chopra e Meindl (2011) indicam que os elos da cadeia mais a montante (ou seja, mais distantes) do consumidor tendem a considerar informações mais imprecisas. Uma empresa, por exemplo, que fornece motores de uma máquina de lavar roupas tem informação imprecisa de quantas dessas máquinas são efetivamente vendidas nas lojas de varejo. Isso significa que quanto mais distante a empresa estiver de seu ponto de consumo, menos informações ela terá sobre a sua demanda, tornando seu processo de previsão mais impreciso. Podemos concluir, portanto, que o processo de previsão de demanda possui diversos aspectos que devem ser considerados no seu desenvolvimento. A sua efetividade e o seu sucesso no apoio ao planejamento e ao controle da organização dependem da análise criteriosa e detalhada de sua precisão, da consideração de potenciais erros, da amplitude dos prazos e da posição da empresa na cadeia de suprimentos em que ela vai ocorrer. 7.3 Erros comuns em previsões de demanda Prever uma demanda, como demonstramos na seção anterior, torna o processo relativamente complexo, sendo motivo de divergências e conflitos (trade- offs) dentro da organização. Na prática, o processo de previsão passa longe de ser uma unanimidade nas organizações, pois, como as imprecisões são recorrentes, elas geram margem para que diferentes perspectivas, nas diversas áreas, sejam evidenciadas. Corrêa (2010) aponta alguns dos erros mais praticados nas organizações. O primeiro deles é confundir previsões e metas. É preciso ter claro que previsões são estimativas do que pode ocorrer num período futuro e servem para apoiar o planejamento e o controle das operações. As metas, por sua vez, constituem a proposta futura do consumo que a organização deseja alcançar. Confundir previsões com metas, portanto, pode gerar o desperdício de recursos, reduzindo a capacidade de competição. O segundo erro, de acordo com Corrêa (2010), é a perda de tempo na discussão sobre o acerto da previsão. Como já demonstrado anteriormente, o grau de incerteza nas previsões é comum e, por isso, é normal pensar que as previsões conterão erros. Portanto, é desperdício de tempo a organização discutir a ocorrência do erro na previsão. O que ela deve fazer quando há um erro é refletir sobre a quantidade medida desse erro e sobre o que fazer para que os graus de incerteza sejam reduzidos. O terceiro erro, segundo Corrêa (2010), é pensar que a previsão é o único fator a ser levado em conta. Isso porque é preciso considerar, além da previsão em si (um único número, por Vídeo Previsão de demanda 121 exemplo), as estimativas de erro que envolvem a previsão nas várias dimensões em que ela está inserida, tais como o grau de incerteza, o tempo ou prazo, a localização na cadeia de suprimentos e se os dados são agregados ou não. Por fim, o quarto erro, conforme Corrêa (2010), é desistir de realizar previsões. A importância da previsão é notória, visto que ela se apresenta como fundamental para o planejamento da organização. Ter uma previsão pouco efetiva, mas que é continuamente aprimorada, é muito melhor do que não ter nenhuma previsão. A Figura 4, a seguir, ilustra esses quatro principais erros em previsões, apontados por Corrêa (2010). Figura 4 – Erros comuns em previsões Erros comuns em previsão Previsão ≠ Metas Previsão como único fator. Perda de tempo com erros na previsão. Desistir de realizar previsões. Fonte: Elaborada pelo autor. É necessário lembrar, continuamente, que errar em previsão é normal. No entanto, desistir de realizá-la vai conduzir o planejamento organizacional a um processo incerto e pouco efetivo. Segundo Corrêa (2010, p. 239), “não são necessárias previsões perfeitas, num mercado competitivo. São, sim, necessárias previsões melhores (ou seja, com menos incertezas) que as previsões da concorrência”. 7.4 Processo de previsão de demandas O processo de prever demandas denota uma série de etapas que são logicamente encadeadas e importantes para o desenvolvimento adequado de uma previsão. Essas etapas a serem cumpridas vão desde o levantamento de todas as informações necessárias até o momento em que os resultados devem ser mensurados e avaliados, inclusive com as estimativas de erro (CORRÊA, 2010). Portanto, essas etapas são fundamentais para que o processo de previsão ocorra efetivamente. São elas: • estabelecimento do objetivo da previsão; • coleta e posterior tratamento quantitativo e qualitativo de dados e informações; Vídeo Gestão de operações e logística122 • identificação do método de previsão mais adequado; e • estabelecimento das medidas de performance e de erros nas previsões. A Figura 5, a seguir, ilustra as etapas do processo de previsão. Figura 5 – Etapas do processo de previsão Objetivo da previsão As decisões definem os objetivos da previsão. Coleta em diferentes fontes de fornecimento. Consolidação das informações e identificação de padrões de comportamento. Escolha do método mais adequado ao comportamento verificado. Mensuração de resultados e estimativa de erros. Coleta de dados e informações Tratamento dos dados Método de previsão Feedback Performance e erros Fonte: Elaborada pelo autor. Na Figura 5, a primeira dessas etapas do processo de previsão, denominada objetivo da previsão, consiste em entender claramente para que a previsão se faz necessária. Em outras palavras, indica que o propósito da previsão deve preceder as decisões gerenciais da organização. Por exemplo, uma decisão relacionada ao aumento do número de máquinas, a quanto de determinado produto manter em estoque ou a quanto comprar deve vir precedida de uma previsão sobre as perspectivas de consumo do produto. Decisões estratégicas, como a abertura de uma nova planta industrial, demandam uma previsão que indica o potencial de mercado do lugar, considerando consumo previsto e logística de distribuição e fornecimento, por exemplo. A segunda etapa, coleta de dados e informações, consiste na busca por informações que vão sustentar o processo de previsão. Podem ser citados como exemplos o conhecimento acerca da conjuntura econômica, o histórico de consumo e de vendas perdidas, o comportamento do consumo (variação positiva, negativa ou sazonal), a identificação e o entendimento das variáveis que influenciam o consumo e as informações sobre os clientes e concorrentes. Na sequência, apresenta-se a etapa tratamento dos dados, que envolve o estudo dos dados e das informações coletados e a busca por perfis e padrões comuns que possam sustentar uma análise quantitativa e qualitativa. Por exemplo, um produto que tenha um perfil de consumo que esteja aumentando ao longo do tempo deve ter sua análise realizada para verificar, quantitativamente, Previsão de demanda 123 sua tendência de crescimento no período e, qualitativamente, seu potencial e o tempo de duração desse crescimento. Outros fatores também devem ser considerados nessa etapa, como a idade tecnológica do produto ou serviço (ou seja, em que estágio tecnológico se encontra o produto), o grau de maturidade dele no mercado (se é um produto inovador ou já consolidado), as características da concorrência (como reage os concorrentes) e os aspectos ambientais (normas governamentais, ambientais, de recursos, entre outras). A etapa seguinte, denominada método de previsão, consiste na escolha do método de previsão mais adequado, ou seja, aquele que pode, da maneira mais fidedigna possível, projetar o momento futuro de consumo do produto. Nessa fase, devem ser realizadas reuniõesna organização para se determinar a melhor escolha. Essas reuniões precisam contemplar aspectos quantitativos e qualitativos do perfil de consumo identificado, por meio de consultas aos departamentos e setores envolvidos. A escolha do método de previsão exige que a organização tenha uma clara noção dos objetivos a serem alcançados e que as áreas envolvidas nessa fase tenham reconhecido mérito para tomar a decisão. Na próxima seção deste capítulo, serão detalhados os principais métodos quantitativos e qualitativos de previsão de demanda. Por fim, a última etapa que constitui o processo de previsão, denominada performance e erros, indica a necessidade de controle e acompanhamento das previsões. Assim que estas são determinadas, um contínuo processo de acompanhamento se faz necessário para verificar e analisar se as previsões planejadas estão ocorrendo de acordo com a realidade. Muitas vezes, é necessário que se façam ajustes nas análises do método escolhido, por meio da atualização de informações, e na observação do comportamento do consumo. O consumo de determinados produtos hortifrutigranjeiros em um supermercado, por exemplo, pode ter sua disponibilidade e seu preço impactados por influências do clima e das chuvas ou mesmo por decisões de plantio dos agricultores. Nem sempre o consumo pode ser analisado quantitativamente como uma tendência ou uma média daquele período, isso porque o impacto sofrido deve alterar as decisões de compra e de disponibilidade (localização nas gôndolas) do gerente do supermercado. Pode-se optar, nesse caso, por retirar o produto da gôndola e inserir outro em seu lugar, por exemplo. A estimativa de erro também exerce importante papel no desenvolvimento da previsão, pois, como no exemplo citado, os produtos hortifrutigranjeiros, os quais possuem um alto grau de perecibilidade e um curto período de validade, caso tenham seus estoques superestimados, correm elevado risco de estragarem e serem descartados, causando prejuízos à empresa. Outros aspectos essenciais a serem incorporados às etapas do processo de previsão de demanda são a reanálise dos dados e o ajuste dos procedimentos de previsão (feedback). Esses aspectos devem ocorrer após a análise e o acompanhamento da performance da previsão, momento fundamental para que o processo de previsão seja continuamente revisado e alterado, de acordo com as mudanças do mercado. Gestão de operações e logística124 Portanto, para que a previsão de demanda possa acontecer de maneira adequada, é muito importante conhecer e seguir as etapas do processo de previsão. A seguir, os principais métodos de previsão de demanda abordados detalhadamente. 7.5 Métodos de previsão de demanda Para fazer uma previsão de demanda de modo adequado, é necessário conhecer os principais métodos utilizados pelas organizações. Nos objetivos desses métodos, inclui-se um maior entendimento da demanda e de seu comportamento atual e futuro, por meio da verificação e da análise de tendências e sazonalidades do consumo estudado. Ao mesmo tempo, também é importante conhecer e compreender os métodos em detalhes, para que sejam utilizados de acordo com as características da demanda, potencializando seus resultados. Existem dois tipos principais de métodos de previsão: os métodos qualitativos e os quantitativos. Os métodos qualitativos são aqueles em que as informações são verificadas e analisadas de maneira subjetiva, por meio de julgamentos, opiniões, percepções e intuição. Já os métodos quantitativos são aqueles em que as informações históricas são tratadas e calculadas, visando desvendar padrões de comportamento da demanda que possam permitir a projeção desse fenômeno para o futuro. É importante ressaltar que, apesar de os métodos de previsão serem classificados em dois tipos principais, eles não necessariamente são excludentes – pelo contrário, seu uso em conjunto deve ser incentivado. Assim, muitas vezes, uma melhor previsão de demanda ocorre quando as duas análises (qualitativa e quantitativa) são utilizadas ao mesmo tempo para fundamentar uma projeção de consumo. A Figura 6, a seguir, ilustra os métodos qualitativo e quantitativo em um processo de análise da previsão. Figura 6 – Métodos qualitativo e quantitativo na previsão Análise da previsão Qualitativo Previsão mais adequada Quantitativo Fonte: Elaborada pelo autor. Note que, na Figura 6, a análise da previsão deve ser realizada utilizando-se os dois tipos de método (qualitativo e quantitativo). Um fabricante de smartphones, por exemplo, realiza o levantamento histórico de vendas de um modelo nos últimos doze meses. A partir desses dados, ele calcula quantitativamente uma projeção de vendas para os próximos seis meses e, em seguida, Vídeo Previsão de demanda 125 realiza uma análise qualitativa para avaliar os resultados calculados e verificar a necessidade de ajustes nas projeções. Nesse exemplo, a necessidade de ajustes está relacionada ao fato de o smartphone ser um produto tecnológico que pode sofrer, nos meses seguintes, alterações em sua demanda, caso algum concorrente lance um novo produto no mercado. Nos dois itens seguintes (7.5.1 e 7.5.2), vamos apresentar, em detalhes, os principais métodos qualitativos e quantitativos de previsão de demanda. 7.5.1 Métodos qualitativos de previsão de demanda Os métodos qualitativos de previsão de demanda são aqueles que utilizam aspectos relativamente subjetivos para analisar o comportamento atual e futuro de determinada demanda. Muitas vezes, eles se utilizam da experiência e da vivência dos participantes da análise, de sua intuição, de seus conhecimentos e de seus julgamentos (CORRÊA, 2010). Os principais métodos qualitativos de previsão, até por suas características avaliativa e pessoal, normalmente envolvem a participação de mais de um indivíduo, eles abrangem especialistas no consumo daquela demanda, os quais possuem experiência no assunto. A participação conjunta de indivíduos com diversas especialidades, justamente para ampliar o cenário por meio de visões distintas, permite que o processo de previsão seja feito a partir de diversas óticas de análise e, consequentemente, seja mais completo. A Figura 7, a seguir, ilustra os principais métodos qualitativos de previsão. Figura 7 – Métodos qualitativos de previsão Métodos qualitativos de previsão Delphi Consulta a especialistas Pesquisa de mercadoEquipes multidisciplinares Analogia histórica Fonte: Elaborada pelo autor. Um dos métodos apontados na Figura 7 é o Delphi, no qual os participantes da previsão (especialistas) são confrontados com questões classificadas em vários níveis de análise. No primeiro nível, por exemplo, eles podem ser consultados sobre as perspectivas de vendas nacionais do produto. Após a análise das suas respostas e a partir dos elementos verificados nelas (a possibilidade de um novo produto concorrente, por exemplo), novos questionários são elaborados nesse cenário e os participantes seguem para o segundo nível de análise. Segundo Corrêa (2010), depois que são novamente verificadas as respostas sobre as alterações da demanda ocasionadas pela entrada de novo concorrente (um produto mais moderno, Gestão de operações e logística126 por exemplo), novos questionários são elaborados a partir desse pressuposto e um terceiro nível de análise se inicia. O método Delphi continua o seu processo até que ocorra uma análise detalhada e satisfatória do consumo do produto. Outro método qualitativo de previsão é a pesquisa de mercado, um processo de levantamento de dados e informações junto ao mercado consumidor (clientes) e aos órgãos de pesquisa. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, fornecem informações sobre a população de determinado local e a renda média desta, as contas nacionais (varejo, indústria e serviços), a densidade da população, entre outras. As pesquisas de mercado junto aos clientes podem identificar tendências de consumo,predisposição do cliente para consumir determinado produto ou serviço, suas principais preferências etc. Normalmente, a pesquisa de mercado é realizada por indivíduos preparados e experientes no assunto (com conhecimentos nas áreas de psicologia, sociologia, marketing e comportamento do consumidor, por exemplo). Outro método que normalmente reúne alguns indivíduos especialistas no assunto a ser tratado é o de consulta a especialistas. Esses indivíduos, que normalmente ocupam cargos elevados na hierarquia da organização, fornecem, a partir de sua experiência e de seu contato com o assunto, julgamentos e opiniões que permitem traçar um cenário futuro sobre a demanda. O método equipes multidisciplinares, por sua vez, reúne um grupo de pessoas de áreas distintas da organização. Por exemplo, a área de marketing da empresa convida o setor de vendas para que, juntos, possam entender como o mercado consumidor (clientes) está percebendo o produto e que padrão de comportamento deve ser esperado. O pessoal de vendas, por meio de seu contato direto com os clientes, pode colaborar muito com as percepções e as reclamações dos clientes, contribuindo para o reposicionamento das estratégias de propaganda e das perspectivas para o consumo futuro. Por fim, o método analogia histórica consiste em utilizar os dados históricos de consumo de produtos e serviços, visando projetar um cenário futuro de comportamento do cliente para um produto novo e com características similares. Essa análise permite que padrões de comportamento de consumo do passado sejam identificados e projetados em uma demanda futura para um produto com características parecidas. Considerando, então, os métodos qualitativos de previsão apresentados aqui, é possível afirmar que todos eles são muito importantes para o desenvolvimento de uma adequada análise de comportamento futuro de uma demanda. Normalmente, eles são utilizados em todos os períodos de tempo, visto que no curto e no médio prazo auxiliam na complementação das análises quantitativas, já no longo prazo constituem o método mais adequado a ser utilizado. Na organização, eles devem ser utilizados e incentivados sempre que ocorra a necessidade de se entender um cenário futuro. 7.5.2 Métodos quantitativos de previsão de demanda Os métodos quantitativos de previsão de demanda são aqueles que se utilizam de dados objetivos históricos e, por meio da análise que emprega técnicas matemáticas e estatísticas, projetam a demanda futura (CORRÊA, 2010; BALLOU, 2001). Previsão de demanda 127 Eles são normalmente empregados nas análises que envolvem o curto e o médio prazo, pois pressupõe-se que, nesses períodos de tempo, os dados históricos podem ser mais relevantes para serem utilizados. A Figura 8, a seguir, ilustra os principais métodos quantitativos de previsão. Figura 8 – Métodos quantitativos de previsão Métodos quantitativos de previsão Médias móveis Mínimos quadrados Suavizamento exponencial Fonte: Elaborada pelo autor. A seguir, vamos conhecer os principais métodos quantitativos apresentados na Figura 8. 7.5.2.1 Médias móveis As médias móveis são métodos que analisam dados históricos e consideram que o consumo é relativamente caracterizado pela estabilidade e pela constância ao longo do tempo. Elas podem ser classificadas em dois tipos: a média móvel simples e a média móvel ponderada (CORRÊA, 2010; BALLOU, 2001). Para obtenção da média móvel simples (MMS), é calculada uma média aritmética simples acerca dos dados históricos levantados. Por exemplo, considere que determinado produto teve o seu consumo apurado nos últimos cinco meses e apresentou, respectivamente, como resultado: 100, 120, 110, 105 e 115 unidades. O cálculo da previsão para o sexto mês, pela MMS, será o resultado da média aritmética simples dos dados levantados. Assim, a previsão para o sexto mês, por esse método, é de 110 unidades (veja o cálculo a seguir). MMS = [(100 + 120 + 110 + 105 + 115) / 5] MMS = 110 unidades A MMS é um método muito simples e o seu uso é indicado para realizar previsões que envolvam produtos com consumo constante e que sofrem poucas variações ao longo do tempo. A média móvel ponderada (MMP), por sua vez, consiste em calcular a média ponderada dos dados históricos. Ela permite que sejam atribuídos pesos específicos a cada dado levantado, possibilitando que a participação de cada um deles seja representada de maneira distinta (pesos diferentes). Gestão de operações e logística128 Para exemplificar, considere que determinado produto apresenta os seguintes dados históricos de consumo nos últimos cinco meses: 350, 200, 330, 360 e 370 unidades. Verifique que, no segundo mês, houve uma queda significativa de consumo, que foi explicada por um problema na fabricação do produto (máquina em reparo durante 12 dias naquele mês). Portanto, os estoques caíram no segundo mês e não foi possível realizar normalmente as vendas previstas. Assim, seria necessário atribuir um peso diferenciado (menor) ao segundo mês para que a previsão não seja afetada por essa ocorrência eventual. Caso o cálculo fosse realizado pela MMS, o resultado da previsão seria de 322 unidades, ou seja, relativamente distante do que os dados sugerem para o sexto mês. Ao utilizar a MMP e atribuir aos dados pesos como 3, 1, 3, 3 e 3, respectivamente, o cálculo da previsão será de 340,77 unidades, ou seja, muito mais próximo do que os dados sugerem. A MMP realiza a multiplicação de cada um dos dados por seu respectivo peso, soma todos os produtos e, em seguida, divide o resultado pela soma total dos pesos. Veja o cálculo a seguir. MMP = {[(350 × 3) + (200 × 1) + (330 × 3) + (360 × 3) + (370 × 3)] / 13} MMP = 340,77 unidades A MMP é um importante método de previsão, pois permite que fatores eventuais possam ser desconsiderados (ou tornados menos significativos) no processo de previsão de demanda. A principal vantagem do uso dos métodos da MMS e da MMP é que são relativamente simples de calcular e permitem que um número significativo (elevado) de dados históricos seja utilizado. 7.5.2.2 Suavizamento exponencial (PSE) Esse método pressupõe o mesmo sistema de cálculo da MMP, com a diferença de que incorpora ao cálculo um fator subjetivo, denominado constante de suavização (representado pelo símbolo grego α) e adicionado à composição dos pesos da previsão. Tal método se caracteriza pelo reduzido número de dados históricos, utilizando apenas dois: a demanda real do período anterior e a previsão para aquele período (CORRÊA, 2010; BALLOU, 2001). Em outras palavras, pode-se dizer que ele aplica o peso específico (α) para a demanda ocorrida no período anterior e a diferença (1 - α) para a previsão daquele mesmo período. Considere, por exemplo, que a demanda para o mês X tenha sido de 780 unidades, sendo que a previsão inicial para o mesmo mês X havia sido de 820 unidades. Com um α = 10%, a previsão para o mês X+1, pelo método suavizamento exponencial, é de 816 unidades. Veja o cálculo a seguir. PSE = {[0,1 × 780] + [(1-0,10) × 820]} PSE = 816 unidades Previsão de demanda 129 O método PSE permite que as previsões sejam realizadas sem que seja necessária uma quantidade elevada de dados históricos. É preciso observar, porém, que a determinação da constante de suavização (α) requer uma detalhada análise de, pelo menos, dois aspectos principais a partir da diferença verificada (erro) entre a previsão estimada e a demanda real (no exemplo anterior, 820 menos 780 unidades = 40 unidades). Deve-se analisar por que ocorreu essa diferença, se foi por questões aleatórias ou pela alteração do padrão de consumo dos clientes. Por exemplo, se o padrão de consumo dos clientes pouco alterou, o valor do α deve ser baixo (como os 10% do exemplo citado). Caso o padrão de consumo dos clientes tenha sido elevado, o valor do α deve ser ajustado para um percentual maior (como 70-80%). Assim, a previsão PSE ajustará a nova previsão, adequando-a ao padrão de demanda esperado.Veja na Tabela 1, a seguir, um exemplo de cálculos de previsão PSE. Tabela 1 – Exemplo de cálculos pelo PSE para um α = 20% Mês Demanda real Demanda prevista Previsão PSE Janeiro 120 130 128 Fevereiro 130 128 128,40 Março 140 128,40 130,72 Abril 150 130,72 134,58 Fonte: Elaborada pelo autor. Observe que a Tabela 1 apresenta previsões para os meses de janeiro, fevereiro, março e abril. Por exemplo, para fazer o cálculo da previsão para o mês de fevereiro, o PSE multiplicou 120 por 0,2 e somou o resultado à multiplicação de 0,8 por 130, resultando em 128. Essa previsão de fevereiro foi utilizada para elaborar a previsão de março, com o cálculo {[130 × 0,2] + [(0,8 × 128)]} = 128,40, e assim por diante. O método PSE é indicado para quando há poucos dados históricos e o processo de análise subjetiva do α pode ser realizado de maneira adequada. 7.5.2.3 Método dos mínimos quadrados (MMQ) Também chamado de método de regressão linear, esse método consiste na análise e projeção das ocorrências passadas, em uma reta de tendência para o futuro (CORRÊA, 2010; BALLOU, 2001). Essa reta vai passar o mais próximo das ocorrências anteriores e será projetada para os períodos seguintes, gerando um cenário futuro tendencial. Para compreender melhor, observe a Figura 9, a seguir. Figura 9 – Previsão pelo MMQ Gestão de operações e logística130 Consumo Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Consumo Projeção/tendência Fonte: Elaborada pelo autor. Observe que, na Figura 9, o MMQ elabora uma linha que passa mais próximo das ocorrências dos últimos seis meses (de janeiro a junho) e projeta uma tendência de consumo para os próximos dois meses (julho e agosto). Para calcular o MMQ, utiliza-se a seguinte formulação: MMQ = A + B × X Em que: A = variável angular A da reta; B = variável angular B da reta; X = número de X para o mês futuro especificado. Para exemplificar, considere que a demanda de um produto, nos últimos seis meses, tenha sido de 110, 125, 135, 140, 150 e 160 unidades, respectivamente. O cálculo da previsão para o sétimo mês, pelo MMQ, será de 169,67 unidades. Vejamos os cálculos nos cinco passos a seguir: • 1º passo: elabore uma tabela com os dados; X Y X2 X × Y 1 110 1 110 2 125 4 250 3 135 9 405 4 140 16 560 5 150 25 750 6 160 36 960 Soma = 21 Soma = 820 Soma = 91 Soma = 3035 • 2º passo: insira os dados nas equações normais (fórmulas); Previsão de demanda 131 1) ∑Y = N × A + B × ∑X 2) ∑XY = A × ∑X + B × ∑X2 • 3º passo: insira os dados nas equações normais; 1) 820 = 6 × A + B × 21 2) 3035 = A × 21 + B × 91 • 4º passo: resolva as equações normais (duas equações de duas variáveis – A e B); A = 103,66 B = 9,43 • 5º passo: insira os resultados de A e de B na fórmula do MMQ, considerando que a previsão para o próximo mês equivale a X = 7. MMQ = 103,66 + (9,43 × 7) MMQ = 169,67 unidades O MMQ é indicado, portanto, para os dados históricos que apresentam alguma tendência, que pode ser crescente, decrescente ou constante. Note que, no resultado apresentado no exercício resolvido, o cálculo mostra uma previsão (169,67 unidades) coerente com a tendência crescente dos dados históricos de consumo do produto. É importante frisar, por fim, que os métodos qualitativos e quantitativos de previsão são muito utilizados pelas organizações. O essencial é que seja feito um uso conjunto dos dois tipos de métodos, visto que uma análise qualitativa complementa a análise quantitativa, tornando o processo de previsão mais eficaz. Considerações finais A previsão de demanda consiste em uma das principais ações a serem realizadas pela organização e por sua cadeia de suprimentos. Ela é a responsável pela identificação de padrões de comportamento dos clientes e auxilia decisivamente na definição dos procedimentos e planejamentos a serem desenvolvidos na logística. Todo o processo logístico depende de como o comportamento do cliente será descrito e acompanhado. Ao estabelecer os mecanismos necessários e os procedimentos a serem adotados na logística da organização e de sua cadeia de suprimentos, a previsão de demanda possibilita um certo grau de certeza sobre o consumo, o que gera maiores condições de redução de custos na operação e na distribuição. O processo de previsão, portanto, exige um trabalho colaborativo da organização, no qual seus membros são peças fundamentais para que os resultados sejam satisfatórios. É importante ressaltar também a necessidade do contínuo acompanhamento das previsões e da realização do processo de feedback para apoio aos ajustes que se fizerem necessários. Gestão de operações e logística132 Lembre-se: o que não é medido e acompanhado, não pode ser controlado nem administrado. Ampliando seus conhecimentos Estudos de caso • CORRÊA, L. H. Gestão de demanda na Toyota, o maior fabricante de carros do mundo. In: CORRÊA, L. H. Gestão de redes de suprimento. São Paulo: Atlas, 2010, p. 225-228. Esse caso retrata a gestão de demanda de uma das maiores montadoras de automóveis do mundo, analisando seu canal de distribuição logístico e a gestão de pedidos e de estoques de veículos. Observe atentamente os meios utilizados pela Toyota para o ajuste de seu processo produtivo e de seus fornecedores, a fim de atender ao padrão de demanda. • BALLOU, R. H. Caso sobre uso múltiplo de previsões. In: BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2001, p. 241-242. Esse caso demonstra como o uso de múltiplos métodos de previsão pode beneficiar os resultados e gerar melhor performance à empresa. Observe os critérios para ponderar cada método utilizado e a maneira como eles foram alocados para atingir a previsão ideal para a empresa. Atividades 1. Por que a gestão da demanda é importante para a gestão da logística e da cadeia de suprimentos? 2. Quais as principais etapas de um processo de previsão de demanda? Explique por que elas devem ser seguidas. 3. Em que a participação e a colaboração dos elos da cadeia de suprimentos podem contribuir para uma melhor gestão da previsão de demanda? Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2001. CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gestão da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operações. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. CORRÊA, H. L. Gestão de redes de suprimento: integrando cadeias de suprimento no mundo globalizado. São Paulo: Atlas, 2010. 8 Gestão de estoques No mundo atual, muitas coisas são produzidas e operacionalizadas por meio de organizações e negócios. Os alimentos que comemos, as coisas que usamos no cotidiano, as roupas que vestimos e tudo aquilo que lemos e que utilizamos para transporte, higiene, saúde e lazer são oferecidos por diferentes organizações. Essas organizações, para isso, precisam manter certa disponibilidade desses produtos e serviços, ou seja, uma quantidade suficiente disponível em estoque. Nesse sentido, neste último capítulo temos como objetivo propor uma reflexão a respeito da importância dos estoques para a gestão de operações, apresentando os motivos que levam as empresas a manterem estoques e os diferentes perfis de estoques. Além disso, propomos uma discussão sobre os principais modelos de gestão de estoques e apresentamos os custos e os impactos deles para o negócio. 8.1 Função dos estoques Toda vez que a organização precisar manter determinada quantidade de produto ou serviço disponível ao cliente, ela terá que se dispor a organizar e controlar uma certa quantidade de oferta desses produtos e serviços que seja suficiente para atender adequadamente essa necessidade (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Um supermercado, por exemplo, precisa ter uma certa quantidade (estoque disponível) de determinada marca de sabão em pó para que, quando o cliente for ao local comprar esse produto, ele esteja disponível na gôndola. Ao mesmo tempo, um cabeleireiro que atende suas clientes sob agendamentoprecisa organizar e controlar os estoques, tanto o do seu tempo de prestação dos serviços como o de xampus, condicionadores, escovas, pentes, tinturas e outros produtos necessários para a realização de seus serviços. Portanto, segundo Corrêa e Corrêa (2004), a maior função dos estoques consiste em contribuir para que o processo de produção de bens e serviços não seja paralisado por falta de materiais e insumos à sua operacionalização. Veja, na Figura 1, a seguir, o exemplo de uma empresa prestadora de serviços de fornecimento de água e recolhimento de esgoto. Vídeo Gestão de operações e logística134 Figura 1 – Processo de fornecimento de água Estoque (represa) Taxa de chuvas (fase 1) Taxa de consumo (fase 2) Fonte: Adaptada de Corrêa e Corrêa, 2004, p. 517. Observe, na Figura 1, que a empresa fornecedora de água para as residências deve levar em consideração que o seu fornecimento depende da quantidade de chuvas e da taxa de consumo – que são quantidades não alinhadas. Assim, ela deve estocar água, nos momentos e períodos do dia em que o consumo diminui (no período da madrugada, especialmente), para que essa quantidade em estoque possa suprir os momentos do dia em que o consumo aumenta (por exemplo, no início da noite, quando muitas pessoas tomam banho). No entanto, apesar de os estoques serem de vital relevância para a organização, manter elevadas quantidades de estoque (alto capital financeiro empregado em materiais ou tempo de serviço) e não manter estoque nenhum (o que pode levar à perda de vendas) são aspectos que devem ser considerados. Esses aspectos são muito importantes para que a organização consiga otimizar e reduzir seus custos de operação. 8.1.1 Motivos pelos quais as empresas mantêm estoques Se uma organização mantém elevados estoques para atender aos clientes, ainda que consiga atendê-los satisfatoriamente sem que haja falta de produtos, pode estar empregando muitos recursos para manter, organizar e controlar esses estoques. Esses recursos são necessários para arcar com a necessidade de aumento do espaço físico para a armazenagem, de pessoal de manuseio e controle dos produtos, de sistemas informatizados mais sofisticados e de mais pessoas para controlar esses sistemas, por exemplo. Ao mesmo tempo, uma organização que não mantém quantidade suficiente de produtos disponíveis ao cliente pode perder vendas por falta de produto e, até mesmo, ser considerada pelo consumidor como uma empresa que “nunca tem nada” ou em que “sempre falta algo”. No caso de um prestador de serviços, a disponibilização de tempo para atendimento aos clientes consiste em um importante fator de rentabilidade de seu negócio. Por exemplo, caso esse prestador atenda, em média, um cliente a cada 30 minutos, ele pode agendar até 16 clientes por dia (considerando um horário de trabalho diário de 8 horas). Caso ele aloque 45 minutos para cada agendamento, ele não conseguirá atender 16 clientes por dia, mas entre 10 e 11 clientes, perdendo, IE SD E BR AS IL S /A Gestão de estoques 135 assim, a possibilidade de aumento (otimização) de receita. A Figura 2, a seguir, ilustra os principais motivos de surgimento dos estoques. Figura 2 – Motivos para o surgimento dos estoques Por que surgem os estoques? Necessidade de preencher canal de distribuição (pipeline) Especulação Escassez Oportunidade Incerteza de previsões Suprimento Demanda Dificuldade de coordenação entre suprimento e demanda Tecnologia Informação ObtençãoCapacidade Fonte: Adaptada de Corrêa e Corrêa, 2004, p. 519. A Figura 2 mostra os principais fatores que levam ao surgimento dos estoques, apontados por Corrêa e Corrêa (2004) como: a dificuldade de coordenação entre suprimento e demanda, a incerteza das previsões, a necessidade de preencher o canal de distribuição e a especulação. A dificuldade de coordenação entre suprimento e demanda consiste, muitas vezes, na impossibilidade de a organização alinhar o processo de fornecimento do material e o seu posterior uso (consumo). Isso pode causar problemas como o excesso e a falta, que serão analisados nos tópicos seguintes deste capítulo. A incerteza das previsões, já abordada no Capítulo 7, está relacionada ao fato de que toda previsão possui um grau de incerteza que deve ser considerado para o planejamento dos estoques. A necessidade de preencher o canal de distribuição, por sua vez, refere-se aos estoques presentes nos elos da cadeia de suprimentos. Um fabricante de ketchup, por exemplo, deve considerar todos os estoques de seus produtos, desde os que têm na fábrica até os do supermercado, passando também pelos estoques do distribuidor. A especulação, por fim, consiste na percepção de que os produtos podem sofrer alterações de preço ao longo do tempo, sendo utilizados e disponibilizados no momento considerado apropriado, ou seja, aquele que gera o melhor resultado. Um agricultor que produz milho, por exemplo, pode estocá-lo em armazéns e comercializá-lo apenas no momento que o preço da saca estiver mais alto. Gestão de operações e logística136 8.1.1.1 O excesso de estoque O excesso de estoque ocorre quando a organização mantém produtos e serviços muito além da capacidade de consumo dos clientes. Como exemplo, considere uma quitanda que vende couve em uma banca. Caso o consumo médio de toda a clientela seja de 50 maços de couve por dia, mas a quitanda mantém em estoque 70 maços, provavelmente a diferença desses produtos (20 maços em excesso) vai permanecer na banca e, como eles são perecíveis, podem estragar e causar prejuízo ao comerciante. Cabe ressaltar que a quitanda pode decidir manter alguns maços a mais para o caso de os clientes levarem um pouco mais do que costumam, ou mesmo para o caso de aparecer um novo cliente. No entanto, faz-se necessário entender como esse processo de consumo ocorre e manter a quantidade ideal em estoque (sem excessos que podem causar perdas). Além disso, o aumento de estoque de maneira desnecessária leva a organização a empregar um recurso financeiro nos produtos que ficarão armazenados sem gerar vendas e retorno de receita. 8.1.1.2 A falta de estoque A falta de estoque ocasiona a perda de vendas pela organização. Ela ocorre principalmente quando duas situações acontecem: o consumo aumenta significativamente em relação ao normal e quando o fornecimento do produto falha ou atrasa. Essas duas situações normalmente estão associadas à necessidade de alteração no estoque, muitas vezes tendo de aumentá-lo para que seja capaz de suprir as necessidades de variação do consumo. Desse modo, verifica-se que a ocorrência tanto do excesso como da falta de estoque pode gerar prejuízos para a organização, o que se faz necessário que o estoque seja adequadamente dimensionado e administrado. Assim, a gestão de estoques em uma organização torna-se um importante elemento de competitividade, já que o correto atendimento às necessidades de consumo é fator primordial para manter a empresa lucrativa e operacionalmente eficiente. A Figura 3, a seguir, mostra a gestão de estoques atuando nas situações de excesso e de falta de produtos e serviços. Figura 3 – Gestão de estoques Gestão de estoques Excesso de estoques: • capital empregado; • risco de perdas. Falta de estoques: • perda de vendas; • prejuízo à imagem da empresa. Fonte: Elaborada pelo autor. Gestão de estoques 137 Observe, na Figura 3, o importante papel da gestão de estoques para o alinhamento do excesso e da falta, evitando-se, assim, que a organização tenha perda de resultados (prejuízos). Isso significa que o entendimento das situações que envolvem o excesso e a falta de produtos e serviços constitui-se como um dos principais fatores da gestão na busca pela maior competitividade da organização no mercado. 8.2 Tipos de demanda Um dos passos para que a gestão de estoques possa organizar e controlar os estoques da organização é o entendimento dos tipos de demanda mais comuns em relação aos produtos e serviços.A demanda pode ser caracterizada como o processo de consumo de determinado produto ou serviço durante um determinado período. Ela depende do estágio de maturidade do produto ou serviço no mercado, o que é denominado, normalmente, ciclo de vida do produto. Cada produto pode se apresentar em estágio diferente do ciclo de vida, o que afeta a maneira como sua demanda é entendida e administrada. A Figura 4, a seguir, ilustra os principais estágios da demanda. Figura 4 – Estágios da demanda Demanda (qtd) Demanda efetiva Demanda média Per. Evolução horizontal Evolução sazonal Demanda (qtd) Demanda efetiva Demanda média Per. 75 50 25 Ciclo de vida do produto Demanda (qtd) Evolução crescente Evolução decrescente Evolução horizontal Fase de retirada de fabricação Per. Evolução com tendência Demanda efetiva Demanda média Per. Demanda (qtd) Fonte: Elaborada pelo autor. Note que a Figura 4 apresenta os principais tipos de demanda ligados aos estágios de maturidade de consumo do produto ou serviço. O primeiro tipo é a demanda com evolução horizontal, relacionada a produtos que mantêm um nível de consumo relativamente estável ao longo do tempo. O consumo de arroz pelas famílias é um exemplo de demanda horizontal. Vídeo Gestão de operações e logística138 O segundo tipo é a demanda com evolução com tendência, que pode ser crescente ou decrescente e se refere ao tipo de produto ou serviço cuja demanda se eleva ou diminui ao longo do tempo. As causas dessa variação tendencial podem ser relacionadas a aspectos tecnológicos ou mesmo a alterações do perfil de consumo. O uso de aparelhos de reprodução de DVDs, por exemplo, está cada vez menor em face da popularização dos serviços de streaming, que permitem ver filmes e séries pela internet. Outro exemplo, este relacionado a serviços, refere-se ao uso cada vez menor de táxis em face do uso maior de aplicativos de transporte. O terceiro tipo apresentado é a demanda com evolução sazonal, que apresenta um comportamento de consumo variável ao longo do tempo, ocorrendo, muitas vezes, em ciclos de consumo por período. Um exemplo desse tipo de demanda é o consumo de sorvetes, que costuma ser mais frequente nos períodos quentes (verão e primavera) e reduzido nos períodos mais frios (inverno e outono). Quando uma demanda apresenta uma variação cíclica de mais de 25% de seu consumo médio, podemos considerar que o produto ou serviço é sazonal e tem características específicas de consumo em cada período do ano. A maioria dos produtos e serviços apresenta pelo menos um desses tipos de demanda demonstrados, ou até mesmo mais de um. Denominamos ciclo de vida do produto esse fenômeno de diferentes demandas. Isso porque muitos produtos e serviços apresentam, após o momento de seu lançamento, um estágio de crescimento de sua demanda, um estágio de maturação e relativa constância, e quando passam a ser considerados ultrapassados, um estágio de queda no consumo, muitas vezes atingindo seu fim. Entender a demanda, portanto, consiste em compreender o ciclo de vida do produto e, a partir do estágio em que ele se encontra, gerenciar e estabelecer os procedimentos operacionais, visando ao aumento da sua competitividade. 8.3 Tipos de estoque Os estoques normalmente são classificados de acordo com sua localização dentro do processo operacional da organização ou da cadeia de suprimentos. Essa classificação divide-se em quatro tipos principais de estoques: de matérias-primas, de produtos em processo, de produtos acabados ou componentes e de produtos acabados. Veremos, a seguir, como Corrêa e Corrêa (2004) caracterizam cada um deles. O estoque de matérias-primas reúne os insumos e os materiais necessários para garantir o funcionamento do processo produtivo da empresa. São os insumos principais e iniciais para a fabricação dos produtos ou serviços, como os materiais plásticos, de madeira, de metal e aqueles retirados diretamente da natureza, como os peixes, entre outros. O estoque de produtos em processo, por sua vez, é formado pelos produtos que estão sendo processados em uma das diversas áreas que compõem o processo produtivo. Isso significa que seu processamento localiza-se em algum estágio intermediário e que se encontram ao longo das diversas etapas do processo de fabricação. Vídeo Gestão de estoques 139 Por outro lado, o estoque de produtos acabados ou componentes é aquele que reúne peças isoladas ou componentes já acabados e prontos para serem inseridos no produto. Juntos, os elementos que formam esse tipo de estoque constituirão o produto acabado, ou seja, eles são as partes que compõem o produto final, tais como o assento, o encosto, a base, os pés e os fixadores que compõem um produto final como a cadeira. Por fim, o estoque de produtos acabados é composto pelos produtos já prontos e acabados, ou seja, aqueles que já podem ser disponibilizados para consumo e cujo processo de fabricação foi completado. A maioria dos produtos e serviços que consumimos pode ser encontrada nesse tipo de estoque, como uma mesa, um aparelho de ar condicionado ou uma televisão, por exemplo. A Figura 5, a seguir, ilustra os tipos de estoque apresentados. Figura 5 – Tipos de estoque de produtos Áreas de fabricação Depósito de produtos acabados Almoxarifado de matérias-primas Estoque de matérias-primas Estoque de materiais em processo Estoque de materiais acabados Estoque de produtos acabados Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 5 mostra que, em cada fase de sua elaboração, o produto pode ser classificado em um tipo distinto de estoque. A compreensão do momento em que o produto se encontra e, consequentemente, de qual a sua classificação auxilia o processo de gestão dos estoques, especialmente no que se refere à organização e à manutenção da cadeia de suprimentos. 8.4 Modelos de gestão de estoques Um dos principais desafios da gestão de estoques é dimensionar e controlar a quantidade de produtos, a fim de mantê-los em níveis satisfatórios ou reduzi-los sem que o processo de fabricação seja afetado, evitando o consequente aumento dos custos financeiros associados à sua operação. Os estoques tendem a sofrer alterações constantes e não é fácil controlá- los durante o processo de fabricação ou comercialização, pois os produtos transformam-se constantemente por meio do processo de manufatura e são reclassificados a cada momento. Por um lado, quando o estoque do produto é concebido para o manuseio da fabricação, representa capital financeiro empregado e pode, muitas vezes, ser considerado um mal necessário, exigindo um significativo esforço de controle e a redução de investimento. Por outro lado, pode tornar-se complicado determinar um estoque mínimo e desenvolver um processo de confiança junto aos fornecedores quanto às entregas dentro dos prazos combinados. Assim, o estoque deve ser dimensionado de maneira equilibrada, evitando o excesso de produtos, que implica no uso desnecessário de recursos (materiais, financeiros, ferramentais, Vídeo Gestão de operações e logística140 maquinários, humanos e operacionais). Por outro lado, ele não pode ser dimensionado para quantidades que ocasionam a insuficiência de produtos, pois envolve o risco na sua disponibilização (falta) e o consequente prejuízo aos processos operacionais, gerando o não atendimento ao cliente. É por isso que a organização precisa conhecer seus estoques, obtendo dados e informações importantes sobre eles, para que possa realizar uma gestão adequada. Para conhecer os estoques e fornecer as condições básicas para seu controle, é necessário o entendimento de uma importante ferramenta de apoio: a curva ABC, que será analisada na próxima seção. 8.4.1 Curva ABC A curva ABC, também denominada classificação ABC ou Curva de Pareto, fundamenta- -se no pressuposto de que a maior parte do investimento em produtos representa um pequeno número de itens dos mesmos produtos. A essa consideração chegou VilfredoPareto (1848-1923) ao observar que a maior parte dos resultados está sob a responsabilidade de um pequeno grupo de itens (PARENTE, 2010). Utilizada em diversas situações que envolvam decisões estratégicas relacionadas às operações, a curva ABC significa uma ordem de prioridade a ser estabelecida para o melhor entendimento do fenômeno (relacionado aos estoques, por exemplo). Para isso, deve-se classificar os itens em ordem decrescente de acordo com sua importância monetária e estratégica. Essa classificação possibilita que o gestor de estoques dedique maior atenção aos primeiros da ordem, permitindo uma gestão adequada deles. Ao mesmo tempo em que classifica em ordem decrescente de importância financeira, a curva ABC apresenta o produto de acordo com o seu valor monetário e a sua quantidade em três classes principais (CORRÊA, 2010): • Classe A: é formada por uma quantidade baixa de itens (de 10% a 20% do total deles), os quais representam a maior parte (aproximadamente 75%) do valor monetário do estoque. Os itens que a compõem são considerados os mais importantes e merecem uma atenção especial, devido à sua importância em relação ao valor financeiro considerado. A quantidade de itens pertencentes à classe A é baixa, mas seu peso na representação do estoque é elevado. • Classe B: é formada por uma quantidade mediana de itens (aproximadamente 25% do total deles), os quais representam 20% do valor financeiro dos estoques. Considerados intermediários (que se localizam na parte do meio da classificação), os itens dessa classe têm importância média no valor total do estoque. • Classe C: é formada por uma significativa quantidade de itens (40% a 65% do total deles), os quais representam um valor financeiro baixo (5% a 10%). Essa classe agrupa os itens de maior quantidade, mas que são considerados os menos importantes, pois representam pouco valor financeiro em relação ao total do valor do estoque. Observe na Figura 6, a seguir, uma ilustração da curva ABC. Gestão de estoques 141 Figura 6 – Curva ABC A F J A E D K L H C B G I Itens B C % 100 90 c 70 60 50 40 30 20 10 0 Fonte: Elaborada pelo autor. Observando a curva ABC retratada na Figura 6, nota-se que o tratamento gerencial dos itens de cada classe será diferente. O valor considerado sobre os itens da classe A representa, sob o enfoque econômico, um peso financeiro muito maior para a organização do que os itens da classe C. Deve-se, portanto, atribuir maior atenção à classe A, pois é a responsável por aproximadamente 75% do valor financeiro do estoque. Na classe B (classe intermediária), a atenção será relativamente mais flexível, já que ela representa cerca de 20% do valor financeiro do estoque. Por fim, a classe C exige menor atenção do gestor, visto que ela representa pouco valor financeiro empregado em um número maior de itens. A curva ABC pode ser calculada por meio da colocação dos itens em um rol decrescente de grandeza financeira, partindo-se dos itens mais importantes para os menos importantes. Em seguida, inserem-se os seus respectivos valores financeiros e a porcentagem que eles representam do valor total. Posteriormente, acumulam-se as porcentagens de cada item e a classificação das classes A, B ou C são definidas e estabelecidas (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Assim, o processo de desenvolvimento da curva ABC envolve as seguintes etapas: I. Listagem dos itens do estoque a serem considerados, feita por meio da inserção do código, da quantidade vendida (de acordo com determinado período, que pode ser anual, semestral ou mensal) e de seu respectivo preço unitário de venda. II. Cálculo do valor de venda de cada item, multiplicando-se a quantidade vendida por seu valor unitário de venda. III. Classificação dos resultados do faturamento em ordem decrescente de valor financeiro. Gestão de operações e logística142 IV. Elaboração de uma nova tabela dos itens, de acordo com a classificação realizada no item III, com as colunas: item, faturamento, faturamento acumulado, percentual do faturamento acumulado, quantidade vendida, quantidade vendida acumulada e percentual da quantidade vendida acumulada. V. Análise das colunas “percentual do faturamento acumulado” e “percentual da quantidade vendida acumulada”. VI. Comparação dos percentuais para distribuí-los nas classes A, B e C, de acordo com os pressupostos de sua concepção (classe A = maior valor e menor quantidade, e assim por diante). VII. Estabelecimento dos limites ABC de acordo com a política da companhia. Um detalhe relevante refere-se à diferenciação do tipo de curva ABC elaborado. É possível tomar a forma de uma curva quase reta quando todos os itens representam valores similares (e, portanto, importâncias parecidas), sendo considerada uma curva ABC com baixa concentração de itens. Caso forme uma curva muito acentuada, ocorre a existência de uma forte concentração, sendo que os itens mais importantes (classe A) realmente representam uma pequena quantidade de itens. Outra consideração importante em relação à curva ABC é que para os itens da classe A, os mais representativos financeiramente, atribui-se uma atenção especial no processo de aquisição e controle (gestão) dos níveis de seus estoques. Enquanto isso, para os itens da classe C, atribui- -se maior tolerância nos níveis de estoques, ou seja, aceita-se relativo aumento nos tamanhos dos lotes de fabricação ou compra, o que representa flexibilidade de sua gestão e controle. Nesse sentido, faz-se necessário estabelecer maior rigor e ter mais atenção aos estoques de segurança dos itens da classe A, enquanto atribui-se maior flexibilidade e mais tolerância para os itens da classe C. Isso significa que se deve gerenciar os estoques de maneira a proporcionar maior rotatividade para os itens da classe A. Além disso, o sistema de gestão e controle de estoque dos itens da classe A deve ser revisado continuamente, por meio de maior atenção aos processos de compra e de relacionamento com os fornecedores, a fim de proporcionar a redução do estoque dessa classe. Por fim, é importante lembrar que, uma vez conhecidos os itens de estoque, é possível realizar seu gerenciamento, e para isso existem diversas técnicas de controle. Vamos conhecer, a seguir, duas delas: o ponto de pedido (ou de reposição) e a revisão periódica. 8.4.2 Ponto de pedido (ou de reposição) – PP O sistema do ponto de pedido (PP), também denominado sistema de máximos e mínimos, é uma técnica de controle de estoque que considera o fator tempo de reposição (ou de ressuprimento) como elemento fundamental para que o estoque seja reposto. Ele é caracterizado por ser um sistema de controle de estoque que entende que o momento de reposição é somente quando o estoque atinge determinada quantidade (definida na gestão). Gestão de estoques 143 Segundo Corrêa (2010), esse sistema normalmente é utilizado quando existe dificuldade para se determinar o consumo de certo item ou quando ocorre alguma alteração em seu tempo de entrega na empresa (reposição). O tempo de reposição (TR) consiste no intervalo entre o momento em que se realizou a solicitação do pedido (fechamento da compra) e a efetiva entrega do produto na empresa. Além do cálculo do PP, também são realizados os cálculos do estoque máximo (EMx), do médio (EMe) e do mínimo (EMn) para cada item, por meio do consumo em determinado período. As fórmulas para esse sistema são as seguintes: PP = EMn + (C × TR) EMx = EMn + Q EMe = [(EMn + EMx) / 2] Em que: PP = ponto de pedido; EMx = estoque máximo; EMe = estoque médio; EMn = estoque mínimo (ou de segurança); C = consumo do item no período X; TR = tempo de reposição X; Q = lote de compra. Basicamente, esse sistema consiste na determinação dos consumos previstos para o item analisado, no cálculo do PP em função do estoque mínimo e do tempo de reposição do item e nos cálculos dos estoques máximo e médio. Uma das características desse sistema é a possibilidade deautomatização do processo de reposição de itens, estimulando o uso do lote econômico (que será abordado nos tópicos seguintes), e na baixa complexidade, podendo ser utilizado em todos os itens da curva ABC. A Figura 7, a seguir, ilustra o sistema PP. Figura 7 – Sistema do ponto de pedido Quantidade EMx PP EMn Tempo de reposição Tempo Quantidade do lote de compra Fonte: Elaborada pelo autor. Gestão de operações e logística144 A partir do que foi mostrado na Figura 7, vamos exemplificar o funcionamento desse sistema. Considere que uma empresa decide ter um estoque mínimo de 100 unidades de determinado produto e estabelece que, quando for comprar mais produtos, será a quantidade de 2 mil unidades. Nesse caso, a seguinte questão deve ser respondida: qual será a quantidade de estoque que disparará o processo de compra? Para responder, imagine que o produto esteja sendo consumido a uma razão de 900 unidades por mês e que, a partir do fechamento da compra, o fornecedor leva, em média, 30 dias para a entrega do produto. Assim, o cálculo do PP é: PP = 100 + (900 × 1) = 1000 unidades EMx = 100 + 2000 = 2100 unidades EMe = [(100 + 2100) / 2] = 1100 unidades Outro importante aspecto relacionado à gestão de estoques e ao uso do sistema PP é a análise dos estoques médios para sua redução e consequente melhoria da eficiência das operações. Assumindo uma demanda constante ao longo do tempo, o nível de estoques vai diminuindo linearmente até que chegue um novo lote de produto. A Figura 8, a seguir, ilustra dois momentos do estoque médio, a partir de lotes de compra diferentes. Figura 8 – Dois momentos do estoque médio (EM1 e EM2) Estoque EM1 EM2 D2 Lote 2 Lote 1 Tempo D1 Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 8 ilustra dois casos de ressuprimento, um com o Lote 1 (maior) e outro com o Lote 2 (menor). Observe que, com o tamanho do Lote 1, o estoque médio (EM1) resultante é maior que o estoque médio (EM2) do Lote 2. Este, por sua vez, apresenta o dobro do número de ressuprimento do Lote 1 no período analisado. Essa constatação permite notar que, com lotes maiores, reduz-se a frequência de ressuprimento, mas mantém-se estoques médios maiores. Por fim, vamos entender melhor os estoques mínimos, comumente conhecidos como estoques de segurança. Se estivéssemos em um mundo ideal, no qual o produto estocado é consumido a uma taxa uniforme e previsível e em que o tempo de reposição do lote de compra é um período previsível e imutável, a organização poderia aderir ao estoque mínimo zero. Sob essa perspectiva, o produto seria entregue exatamente no ponto em que o estoque existente se Gestão de estoques 145 esgotasse. Essa situação seria desejável porque, para uma dada quantidade a comprar, ela poderia servir para reduzir o estoque médio a ser mantido. No entanto, uma análise real da situação sugere que a empresa aceite o fato de que o consumo e o tempo de reposição serão diferentes do estimado. Para exemplificar um caso em que o resultado da demanda (consumo), durante o tempo de reposição, é maior que o previsto, consideremos que uma empresa pode estimar que a taxa de consumo será de 200 unidades mensais e o tempo de reposição de um mês. Se isso realmente acontecesse, a empresa poderia colocar um pedido (PP) quando o estoque alcançasse 200 unidades, e a quantidade comprada seria entregue exatamente quando o estoque chegasse a zero. Entretanto, pode ser que a entrega do lote atrase e não chegue dentro de um mês, chegando no prazo de um mês e meio. Se, quando isso acontecer, a taxa de uso continuar de 200 unidades mensais, o estoque ficará zerado durante metade do mês até que o novo produto seja recebido. Nesse período (quinze dias), o setor poderia receber pedidos que somassem 100 unidades de produto (considerando a demanda mensal de 200 unidades), aos quais não poderia atender. Em outra hipótese, considere que o produto chegou dentro do prazo previsto (um mês), mas a taxa de consumo aumentou para 300 unidades mensais durante esse período. Novamente, com o PP em 200 unidades, o setor de estoque não poderia atender a todas as solicitações do produto. Existem ainda situações em que tanto o tempo de reposição como a taxa de consumo (demanda) podem variar, criando condições para a falta do produto em estoque. Por isso, como existem custos a serem associados na operação que envolve um esgotamento do estoque (estoque zero), a organização deve manter disponível um estoque mínimo e suficiente para suprir essas situações não previstas. Assim, fica claro que os estoques mínimos (EMn) são muito importantes para a organização, pois, mesmo que eles tenham o potencial de gerar maiores estoques médios (a formulação do EMe considera o EMn), os custos incorridos em uma situação na qual os estoques são zerados também acabam influenciando os resultados e a competitividade da empresa. Os estoques mínimos podem ser calculados com base em duas premissas: a projeção do consumo e os cálculos matemáticos para esse fim. 8.4.3 Revisão periódica O sistema de revisões periódicas (também denominado sistema das renovações periódicas) realiza pedidos para o suprimento dos estoques em intervalos de tempo regulares e estabelecidos. Cada item apresenta um período de renovação específico, visando melhorar a gestão dos estoques e minimizar o custo de armazenagem (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Dessa maneira, a contagem e a determinação da quantidade do produto a ser comprada são feitas de maneira periódica, em intervalos regulares, denominados períodos de reposição (PR). A quantidade do produto a ser adquirida é igual à necessidade da demanda do próximo período. Assim, o sistema de revisões periódicas também considera um estoque mínimo (EMn) para prevenir um consumo anormal ou situações de atraso da entrega nos momentos de reposição. Gestão de operações e logística146 Uma das dificuldades no uso desse sistema de controle de estoques é a determinação do período entre as revisões. Por isso, vários elementos devem ser observados, tais como: • pequenos períodos de revisão acarretam um estoque médio alto, gerando, como consequência, o aumento do custo de estocagem; • elevados períodos de revisão podem gerar baixo estoque médio e, como consequências, o aumento no custo de pedido e o risco de esgotamento do estoque (falta do produto). Para tentar evitar essas situações, deve-se calcular revisões para cada produto armazenado ou para cada classe de produtos, sempre considerando os propósitos operacionais e financeiros da organização. A definição de um período para as revisões também é de importância fundamental para definir o volume de compra dos produtos, relacionar os itens de consumo comum que devem ser revisados simultaneamente, para executar muitas vezes um único pedido e para realizar compras e entregas programadas dentro das necessidades. 8.4.4 Sistemas de avaliação de estoques e custos (PEPS, UEPS e custo médio) Os estoques da organização devem ser registrados, normalmente de maneira informatizada, para controlar os produtos estocados, tanto em quantidade de itens como em valores financeiros. A avaliação de estoques e custos, portanto, é a técnica que utiliza o levantamento do valor financeiro dos produtos em estoque (CORRÊA; CORRÊA, 2004). A avaliação de estoques pode ser realizada por meio de três métodos principais, apontados por Corrêa e Corrêa (2004), os quais veremos a seguir. 8.4.4.1 Método de avaliação PEPS O nome PEPS é a sigla para primeiro a entrar, primeiro a sair (em inglês, first in, first out – FIFO). Esse método considera a ordem cronológica das entradas. Sai primeiro o produto que entrou antes, e assim sucessivamente. A Tabela 1, a seguir, exemplifica o método PEPS. Tabela 1 – Método de avaliação de custo PEPS Ano: ____ Entradas Saídas Saldo Data NF Quantidade Preço unit. Total R$ Quantidade Preço unit. Total R$ Quantidade Preço unit. Total R$ 20/7 048 200 2,00 400,00 200 2,00 400,00 25/8 058 200 4,00 800,00 200200 2,00 4,00 400,00 800,00 28/8 100 2,00 200,00 100 200 2,00 4,00 200,00 800,00 12/9 100 2,00 200,00 200 4,00 800,00 13/9 100 4,00 400,00 100 4,00 400,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Observando a Tabela 1, é possível notar que uma das características desse método de avaliação é que o valor do custo dos estoques está atualizado em relação ao valor da última entrada/compra. Isso significa que o valor do custo dos estoques aproxima-se dos preços atuais Gestão de estoques 147 praticados. O custo de fabricação, porém, é calculado em função dos valores de custo dos primeiros lotes de entrada no estoque. 8.4.4.2 Método de avaliação UEPS A denominação UEPS é a abreviação da frase último a entrar, primeiro a sair (last in, first out – LIFO). Nesse método, a saída do estoque é realizada pelo preço do lote mais recente a entrar no estoque. Assim, o custo dos estoques é calculado sobre o último preço (no momento da saída dele do estoque), o qual é o mais atualizado. A Tabela 2, a seguir, exemplifica o método UEPS. Tabela 2 – Método de avaliação de custo UEPS Ano: ____ Entradas Saídas Saldo Data NF Quantidade Preço unit. Total R$ Quantidade Preço unit. Total R$ Quantidade Preço unit. Total R$ 20/7 048 200 2,00 400,00 200 2,00 400,00 25/8 058 200 4,00 800,00 200 200 2,00 4,00 400,00 800,00 28/8 100 4,00 400,00 200 100 2,00 4,00 400,00 400,00 12/9 100 4,00 400,00 200 2,00 400,00 13/9 100 2,00 200,00 100 2,00 200,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Observando a Tabela 2, nota-se que esse método pode gerar uma supervalorização do preço de custo no processo de fabricação do produto acabado, visto que, muitas vezes, o custo mais recente é maior. Isso pode, como consequência, produzir no final do exercício um crédito positivo no custo do produto. Esse método é o mais indicado para ser aplicado em períodos caracterizados pelo aumento de preços (inflação), pois ele apresenta o custo atual dos produtos em estoque para efeito de ajuste ao preço de venda real praticado no mercado. 8.4.4.3 Método de avaliação pelo custo médio – CM Esse método é o mais utilizado pelas organizações, pois baseia-se no custo de todas as saídas, encontrado por meio do cálculo do custo médio da quantidade total de um item em estoque. Assim, o processo de saída de estoque é calculado pelo custo médio ponderado das quantidades estocadas. Tanto o saldo final do estoque que permanece armazenado quanto o custo do produto fornecido à fabricação ou à comercialização são calculados sempre pelo custo médio ponderado. A Tabela 3, a seguir, ilustra o método de avaliação pelo custo médio. Gestão de operações e logística148 Tabela 3 – Método de avaliação de custo pelo custo médio Ano: ____ Entradas Saídas Saldo Data NF Quantidade Preço unit. Total R$ Quantidade Preço unit. Total R$ Quantidade Preço unit. Total R$ 20/7 048 200 2,00 400,00 200 2,00 400,00 25/8 058 200 4,00 800,00 400 3,00 1.200,00 28/8 100 3,00 300,00 300 3,00 900,00 12/9 100 3,00 300,00 200 3,00 600,00 13/9 100 3,00 300,00 100 3,00 300,00 Fonte: Elaborada pelo autor. A Tabela 3 mostra que, em prazos mais longos, a avaliação de custo do estoque pelo custo médio indica os custos reais das compras do produto e funciona como um estabilizador, ao equilibrar as flutuações de preços que ocorrem ao longo do tempo. Nesse método, o valor do estoque é calculado pela média ponderada dos custos de entrada no estoque (compra), enquanto o custo de fabricação é igualmente calculado com os produtos avaliados pelo custo médio. 8.4.4.4 Análise comparativa entre os métodos Seja qual for o método utilizado pela organização, seu uso é condicionado pela característica da empresa, visto que a avaliação de custo do estoque influencia o custo dos produtos comercializados ou o dos produtos em processos utilizados na fabricação. Qualquer variação no valor do custo do estoque repercute imediatamente nos custos de uso, que podem ser o custo dos produtos vendidos (CPV) ou o custo das mercadorias vendidas (CMV), presentes na Demonstração de Resultados do Exercício contábil (DRE) e, consequentemente, na lucratividade. Analisando os três métodos expostos e seus respectivos resultados e fazendo um estudo comparativo entre eles, podemos constatar os seguintes pontos: • o CPV/CMV (soma dos totais das saídas) do custo médio (R$ 900,00) é maior que o do PEPS (R$ 800,00), o que acarretaria um lucro menor no DRE, gerando um pagamento menor de imposto sobre o lucro; • o saldo final de estoque em reais pelo método UEPS (R$ 200,00) é menor que o saldo pelo custo médio (R$ 300,00) e pelo PEPS (R$ 400,00), beneficiando-o com a redução do imposto sobre os bens. Uma observação importante: os métodos atualmente aceitos pela legislação fiscal brasileira são o método de avaliação pelo custo médio e o método de avaliação PEPS. Gestão de estoques 149 8.4.5 Lote econômico de compras (LEC) Como já demonstramos anteriormente, o aumento do estoque mínimo e o da quantidade a ser comprada (EMn e Q, respectivamente) influenciam no aumento do estoque médio. Seguindo essa premissa, o aumento no tamanho do lote (quantidade a ser comprada) acompanha um aumento nos custos operacionais, como os de estocagem, nos juros, na taxa de obsolescência, na depreciação dos produtos e nos impostos para um determinado período. Entretanto, aumentando a quantidade a ser comprada (Q), menos lotes de compra devem ser pedidos nesse mesmo período. Assim, espera-se que o aumento do tamanho do lote de compra (Q) gere uma queda nos custos por unidade e período de tempo, assim como maior poder de compra por quantidade, menos operação de realização de pedidos e menor possibilidade de manuseio de produtos. Com isso, observa-se a aplicação de duas “forças” opostas em ação, uma encorajando e outra desencorajando a fabricação e a compra de lotes maiores. Normalmente, quando o lote para um produto aumenta, os custos por período de tempo podem diminuir a uma razão maior (ou menor) do que aquela pela qual os outros custos tendem a aumentar. Portanto, o custo total (CT) pode reduzir ao longo do tempo, enquanto o lote for aumentando. A um certo momento, atinge-se o ponto de inflexão, em que esse custo total alcançará um valor mínimo. A partir daí, o CT, que tende a cair com o aumento do lote, começa a subir com o aumento do lote. O momento em que ocorre a inflexão do CT é o ponto em que o custo total atinge o seu valor mínimo. Esse ponto denomina-se lote econômico (LE), ou seja, a quantidade de compra ideal em que o CT é minimizado. A Figura 9, a seguir, ilustra o gráfico do CT e do LE. Figura 9 – Custo total e lote econômico Custos Tamanho do loteLote econômico (tamanho de lote que minimiza custo total) Cust o tot al Cust o de esto car Custo de pedir Custo total de gerir o sistema é maior para qualquer outro tamanho de lote Fonte: Corrêa, 2010, p. 287. A Figura 9 demonstra que o tamanho do lote influencia o custo total, que representa uma parábola e atinge o seu ponto mínimo (de custo – $) no momento em que a quantidade do LE é estabelecida. Esse “tamanho” do lote econômico representa a quantidade a ser comprada que a empresa deve adotar para um produto a fim de reduzir custos. Gestão de operações e logística150 Observe que o gráfico do custo total de estoque permite verificar o aumento regular dos custos de armazenagem à medida que a quantidade dos produtos comprados ou produzidos (lote) aumenta. Isso ocorre devido à maior quantidade que deve ser armazenada. Já a curva logo abaixo, também na Figura 9, indica o custo do pedido para realizar a compra do produto, que diminui à medida que aumenta a quantidade de produtos pedidos. Essa redução indica que um número baixo de pedidos de compra será realizado, gerando, como resultado, menos despesas no processo de emissão de pedidos de compra e na inspeção e preparação das máquinas. A curva em formato de parábola representa o CT do estoque, que consiste na somados custos de armazenagem e dos custos de pedido, de acordo com a seguinte formulação: CT = custos de armazenagem + custos de pedidos Quando a curva do CT atinge seu ponto mínimo (em valor – $), a quantidade relacionada a ele é denominada lote econômico de compras (LEC). Assim, o LEC pode ser conceituado como a quantidade ideal a ser comprada para que o CT seja minimizado. A formulação do LEC é a seguinte: LEC = 2 × B × C I × P Em que: LEC = lote econômico de compras; B = custos de pedido; C = consumo do produto; I = taxa de armazenagem; P = preço unitário do produto. Duas considerações sobre o LEC são importantes para sua efetividade como ferramenta de análise e gestão de estoques: • o consumo mensal deve ser determinado e constante, não podendo ter variações significativas; • o tempo de reposição deve acontecer de maneira planejada e sem imprevistos, quando os estoques terminam. Dessa forma, na análise LEC, ou até mesmo na de produção, o conceito da quantidade ideal a ser comprada necessita que algumas variáveis (como o consumo e o tempo de reposição) sejam adequadamente estabelecidas e estáveis. A gestão de estoques pode beneficiar-se muito dessa ferramenta de controle e gerenciamento de custos operacionais relacionados aos estoques. Gestão de estoques 151 Considerações finais A gestão de estoques ocupa um dos principais focos de atenção da área de gestão de operações e logística na organização. O impacto que uma má gestão de estoques causa na empresa implica no acúmulo de produtos ou na falta deles, gerando, muitas vezes, significativas perdas financeiras por excesso ou por falta de materiais (interrompendo as operações e a produção). A área de operações e logística deve sempre ficar atenta ao volume de estoques que a organização mantém, visto que sua adequada gestão beneficia o processo de atendimento ao cliente, proporcionando resultados que elevam a competitividade da empresa. Nesse sentido, um dos aspectos a serem destacados é a análise das ferramentas de gestão e controle de estoques. O uso adequado dessas ferramentas gera uma maior organização dos recursos materiais de que a empresa necessita para o seu funcionamento e direciona os esforços da área de operações para que as metas e os objetivos traçados sejam alcançados. Enfim, pensar em gestão de operações e logística na organização é considerar a gestão de estoques como elemento fundamental para que a empresa consiga melhorar seus resultados e atingir seus objetivos. Ampliando seus conhecimentos Vídeo • 10 causas de PROBLEMAS NO SEU ESTOQUE! - InfoVarejo. Publicado por InfoVarejo, 10 ago. 2017. 4 min. Disponível em: https://youtu.be/Mqjqi0-HQ1s. Acesso em: 30 jul. 2019. Esse vídeo apresenta as principais causas de problemas em estoques. Essas causas podem ser analisadas e relacionadas aos assuntos abordados neste capítulo. Atividades 1. Aponte a principal função dos estoques para a organização, estabelecendo uma breve reflexão sobre ela. 2. Por que os estoques são importantes e devem ser adequadamente gerenciados? Qual a relação deles com a competitividade da organização? 3. Por que o método UEPS de avaliação de custo dos estoques não é aceito pela legislação brasileira? Gestão de operações e logística152 Referências CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações. São Paulo: Atlas, 2004. CORRÊA, H. L. Gestão de redes de suprimento: integrando cadeias de suprimento no mundo globalizado. São Paulo: Atlas, 2010. PARENTE, J. Varejo no Brasil: gestão e estratégia. São Paulo: Atlas, 2010. Gabarito 1 Introdução à gestão de produção e operações 1. A gestão de produção e operações consiste no processo de gerenciamento da transformação de recursos em produtos e serviços que serão comprados e utilizados pelos consumidores. Sua importância fundamental é permitir a elaboração e organização de atividades que visam à produção de produtos/serviços que os clientes desejam. 2. • Estratégica: avaliar alternativas de investimento dentro do território nacional, possíveis novas rotas e a viabilidade econômica de rotas já consideradas. • Tático-funcional: planejar e programar as operações das rotas a partir das regiões onde elas se localizam e preparar as atividades necessárias para que o sistema de atendimento a elas seja aquele estabelecido pela área estratégica. • Operacional: analisar as rotas, procurando descrever os processos e buscando as ações necessárias para o seu adequado atendimento. Treinar as equipes de voo e de solo. Organizar os procedimentos de embarque e desembarque. 3. Uma adequada visão sistêmica da organização é muito importante para que as ações entre as diversas áreas que compõem a organização possam ser integradas em processos otimizados e eficazes. Entendendo a relevância dessa integração, os processos e as atividades podem ser analisados separadamente e em conjunto, possibilitando a verificação e a tentativa de customização e evitando, assim, retrabalhos e redundância de processos, o que gera custos e despesas desnecessários. Como exemplo, pode-se citar a integração dos processos de compra, armazenagem e produção para garantir que a produção não pare por falta de produtos. Outro exemplo são as tentativas de melhoria e de otimização de processos, fazendo com que estes sejam ajustados e reduzindo seus custos e suas despesas de operação, o que beneficia a área financeira. 2 Evolução histórica da gestão de produção e operações 1. A Revolução Industrial ensejou diversos avanços, entre eles: a substituição para a mecanização, o uso do motor a combustão e eletricidade, a produção em maior escala e a organização e sistematização do trabalho. 154 Gestão de operações e logística 2. Principais características e diferenças: Administração científica Toyotismo Sistema empurrado de produção. Sistema puxado de produção. Elevada especialização do trabalho. Responsabilidade do processo como um todo. Ganhos financeiros como motivadores. Motivação por meio da melhoria do ambiente de trabalho. Conhecimento isolado do processo produtivo. Conhecimento de todo o processo produtivo. Desempenho baseado na produção (volume). Desempenho baseado na qualidade (satisfação do cliente). 3. Dentre as principais contribuições do TQC à logística, podem ser destacadas: • foco na perspectiva do cliente; • melhoria contínua dos processos de distribuição; • melhora do desempenho dos fluxos de materiais e produtos entre os parceiros de negócio; • análise de custos das operações; • maior integração das necessidades identificadas no mercado com as operações de fluxo e transporte de mercadorias (redução de estoques, por exemplo). 3 Estratégia de produção e operações 1. As empresas devem pensar sua gestão de produção e operações de modo estratégico porque a área de operações envolve a maior parte dos recursos empregados nelas em termos de pessoas, infraestrutura, investimentos financeiros, entre outros. Além disso, as decisões têm inércia, ou seja, demoram para acontecer e podem ter efeitos positivos ou negativos sobre todo o negócio. Decisões erradas são difíceis e caras de serem revertidas. Existem, ainda, os trade-offs, o que faz com que as empresas tenham que buscar, de modo estratégico, o foco de suas operações, a fim de garantir o desenvolvimento de vantagens competitivas e a sustentabilidade do negócio. 2. Em gestão de produção e operações, foco é direcionar as operações para o que é mais relevante, é ser bom no que importa aos olhos do cliente e melhor que a concorrência no que o cliente valoriza. Empresas que não têm foco estratégico em suas operações tendem a perder o rumo, visto que tentam ser boas em tudo e acabam não se destacando em nada, o que pode levá-las ao fracasso. 3. A matriz importância x desempenho é uma ferramenta muito útil para a gestão de operações, já que faz um mapeamento dos itens em que a empresa apresenta adequação, nos quais precisa mudar urgentemente e em que está em excesso. Sem considerara região de urgência, as demais regiões apontam onde estão competências nas quais a empresa deve se aprimorar, auxiliando-a a estruturar um plano estratégico de gestão de operações. Gabarito 155 4. Neste exercício, você deve, na primeira etapa, identificar uma empresa de bem ou serviço e dizer como a área de operações pode auxiliá-la na busca dos objetivos de desempenho. Para o item custo, por exemplo, você pode dissertar a respeito do custo de produzir, citando elementos como a busca por maior produtividade, a negociação com fornecedores, a integração com parceiros de negócios e o desenvolvimento de alianças estratégicas. Em seguida, você deve dissertar a respeito de todos os outros objetivos de operações além do custo: qualidade, flexibilidade, velocidade, pontualidade, inovação, confiabilidade, resiliência e serviço. Na sequência, deve apontar quais desses nove itens são os mais relevantes. Evidentemente, você não deve apontar todos: dois ou três itens são suficientes. Por fim, entre esses dois ou três itens apontados, você deve informar se há trade-offs de operações. Caso haja, precisa indicar, entre os que constituem o trade-off, qual é o mais relevante – custo e qualidade, por exemplo, são os itens mais relevantes, mas, entre custo e qualidade, a empresa opta por investir na qualidade. Outra saída é propor um modelo disruptivo, ou seja, que quebre a lógica. Um exemplo desse tipo de modelo: você resolve o exercício sob a ótica de uma rede supermercadista e diz que custo e velocidade são os mais importantes; no entanto, em vez de se posicionar por um dos dois itens, opta por instalar self checkouts, que, além de reduzir custos com folhas de pagamento dos funcionários, também contribuem para um aumento de velocidade. 4 Gestão de serviços 1. A gestão de serviços é uma atividade que envolve a análise dos processos que sustentam uma adequada prestação de serviços. A análise dos processos envolve a identificação das atividades de linha de frente e de retaguarda, o levantamento de suas operações de medição, o mapeamento e o alinhamento às expectativas e às necessidades do cliente, buscando aumentar a competitividade da organização. 2. A diferenciação entre bens e serviços permite que as características de cada um deles sejam identificadas e posicionadas estrategicamente dentro das operações. Entender as diferenças e as potenciais sinergias entre bens e serviços é, atualmente, uma tarefa fundamental para que a organização atinja níveis elevados de competitividade no mercado. 3. A principal diferença entre as operações de linha de frente e de retaguarda está no posicionamento do cliente dentro da operação: o contato direto ou não do cliente com o serviço prestado. Isso significa que as operações de linha de frente e de retaguarda devem ser gerenciadas de acordo com o nível de contato do cliente com o serviço prestado, para que a percepção dele seja potencializada e sua satisfação alcance níveis elevados. 156 Gestão de operações e logística 5 Logística 1. Os principais problemas a serem enfrentados pelas empresas incluem: • a coordenação das atividades de manuseio, estocagem e armazenagem e de distribuição dos produtos e materiais entre os elos do SCM; • o desenvolvimento de políticas de gerenciamento comuns que possam contemplar um melhor aproveitamento dos recursos de fabricação e distribuição (padronização e complementaridade de processos e atividades); • a busca pela otimização dos processos e atividades inerentes ao trabalho de disponibilização dos produtos ao cliente; • o estabelecimento de estratégias comuns de negócio que possam englobar uma visão integrada de elementos relacionados ao atendimento ao cliente, como a qualidade dos serviços, os sistemas de manutenção e pós-venda, a integração dos transportes (modais, por exemplo) e da tecnologia de informação e a estrutura de governança no SCM; • o alinhamento dos objetivos de negócio diante dos desafios da integração no SCM. 2. Entre os benefícios proporcionados pela logística, que envolvem a melhoria significativa do desempenho organizacional, estão: • a redução de custos da operação; • o aumento da efetividade da entrega do pacote de valor (produtos e serviços); • a possibilidade de melhorar o relacionamento com o cliente (fidelização). 3. A postergação consiste na estratégia de “atrasar” o máximo possível o processo de diferenciação na fabricação de um produto, chegando o mais perto possível do ponto de consumo. O processo de diferenciação de produtos gera aumento de custos, pois precisa que mais recursos e estruturas sejam adaptados para compor uma necessidade específica e customizada. Ao mesmo tempo, produtos padronizados requerem menor flexibilidade nos processos, o que gera maior possibilidade de desenvolvimento de estruturas mais estáveis e eficientes. Uma das principais características que viabilizam a estratégia de postergação consiste no estabelecimento de estruturas comuns nos processos iniciais de fabricação – por exemplo, o desenvolvimento de plataformas comuns que poderiam servir de base estrutural para a montagem de uma linha de veículos. Um exemplo a ser citado, que envolve a economia de recursos, estoques e otimização do atendimento, é o sistema tintométrico, oferecido pelas lojas de tintas. Baseado em uma plataforma de poucas “bases” químicas, ele possibilita o acréscimo da coloração da tinta somente no processo de entrega final ao cliente, viabilizando a oferta da combinação de milhares de cores, sem que isso incorra em maiores estoques de latas de tintas de cores diferentes. Gabarito 157 6 Redes de operações 1. Considerando que as empresas atuam de modo cada vez mais integrado, com parceiros de negócios constituindo cadeias de suprimentos e redes de operações, é fundamental que todas se preocupem não só com sua melhoria de desempenho, mas também com o desempenho de todos os elos. Caso contrário, apesar de desenvolverem bons produtos, uma logística ineficiente e problemas de armazenagem ou de distribuição podem comprometer a competitividade de todas as empresas envolvidas na cadeia, tornando-as tão competitivas quanto seus parceiros mais ineficientes. 2. Na fundamentação de sua resposta, você deve abordar as mudanças no ambiente de negócios que fazem com que, cada vez mais, as empresas procurem estruturar alianças estratégicas para constituir as redes de suprimentos, em vez de atuarem isoladamente. Assim, obrigatoriamente, sua resposta deve apresentar alguns dos aspectos a seguir: • Evolução tecnológica: faz com que as empresas desenvolvam e inovem em produtos e serviços, tornando a competição cada vez mais acirrada. Isso também obriga as empresas a buscarem novos mercados e a se internacionalizarem, o que significa que, em cada país onde atuarem, precisarão ter parceiros, como fornecedores e distribuidores. • Retornos decrescentes: com o aumento da competitividade, as empresas têm tido margens de lucro continuamente menores, o que faz com que elas procurem diluir custos ao longo de suas redes de suprimentos por meio da terceirização de sua logística, da produção de alguns produtos e processos e da alocação de parte dos estoques no fornecedor. • Foco no core business: no intuito de se tornarem cada vez mais fortes no que é relevante para os negócios, as empresas têm procurado terceirizar parte de seus produtos e serviços para parceiros de negócios. São consideradas corretas respostas que citarem também aspectos de coopetição (cooperação e competição), desenvolvimento econômico, cadeia de suprimentos, tecnologia, regionalização e desregulamentação. 3. Você deve identificar como produtos funcionais elementos como creme dental, desodorante, café, arroz, xampu, sabão em pó, entre outros similares. Quanto aos produtos inovadores, devem ser citados, por exemplo, os de tecnologia, como smartphones, televisões, notebooks, entre outros. A segunda parte da atividade deve ser respondida a partir das ideias apresentadasno quadro a seguir: Produtos Funcionais Inovadores Perfil dos estoques Produtos acabados. Peças em processamento. Estratégia para formação dos preços Com base no preço do mercado. Custos de desenvolvimento mais margem de lucro e prêmio pela inovação. Estratégia de comunicação Objetiva, pois enfatiza resultados alcançados com o produto. Subjetiva, pois enfatiza status, estilo de vida, entre outros. Perfil das redes de operações Redes eficientes. Redes de resposta rápida. 158 Gestão de operações e logística 7 Previsão de demanda 1. A gestão da demanda é importante para a gestão da logística e da cadeia de suprimentos por ela ser a responsável pelo entendimento e pelo acompanhamento da demanda, ou seja, do consumo. Uma compreensão melhor do padrão de consumo do cliente acarreta reduções significativas de custos operacionais, fazendo com que tanto a organização como os elos da cadeia de suprimentos possam planejar suas operações dentro de um cenário mais estável e com redução das incertezas. 2. As principais etapas de um processo de previsão de demanda são: objetivo da previsão, coleta de dados e informações, tratamento dos dados, método de previsão e performance e erros. Seguir as etapas do processo de previsão é fundamental para que o resultado alcançado seja efetivo. Desde o momento em que os objetivos da previsão são estabelecidos até quando os resultados da performance são avaliados, seguem-se diversos procedimentos que vão instigando a organização à reflexão sobre a importância da previsão. 3. Cada um dos elos da cadeia de suprimentos vivencia uma situação diferente, mas que precisa estar integrada às operações dos outros elos de maneira eficiente e eficaz. Assim, uma participação de maneira colaborativa entre os elos da cadeia pode suprir de informações e dados a adequada gestão da demanda (que gerará competitividade em toda a cadeia). Uma melhor gestão de demanda proporciona um processo mais estável, em que um de seus principais pilares é formado pelas previsões realizadas nos níveis da cadeia de suprimentos. 8 Gestão de estoques 1. Os estoques são importantes para a organização porque servem como um fator de segurança quando ocorre o aumento do consumo, ou mesmo quando o fornecimento de reposição atrasa. Assim, eles garantem que a empresa possa atender adequadamente ao seu cliente. 2. Manter estoques de produtos pode ser considerado um mal necessário para a organização. Ao manter estoques, a empresa deve empregar um capital financeiro para comprá-los e gerenciá-los com pessoas, máquinas, espaço, sistemas informatizados etc. Assim, observa- -se que, quanto mais estoques existirem, maiores serão os custos relacionados à sua gestão e à sua manutenção. A gestão dos estoques é tão importante porque estes são fundamentais para o suprimento de produtos ao cliente, porém o acúmulo em excesso dos estoques e uma gestão inadequada deles causam perdas de eficiência nas operações, o que gera menor competitividade para a organização. 3. Como o método UEPS realiza as saídas de produtos pelo seu custo mais atual e esse custo normalmente tende a ser maior por causa da inflação, ele gera impacto aumentando o valor do CMV/CPV. Como o CMV e o CPV são custos que reduzem os lucros, a organização pagaria menos impostos sobre o lucro aferido. GESTÃO de OPERAÇÕES e LOGÍSTICA Leandro José Morilhas Lean d ro Jo sé M o rilh as G estão d e O peraçõ es e Lo gística GESTÃO de OPERAÇÕES e LOGÍSTICA Leandro José Morilhas Lean d ro Jo sé M o rilh as G estão d e O peraçõ es e Lo gística G estão d e O peraçõ es e Lo gística Lean d ro Jo sé M o rilh as Código Logístico 58671 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6495-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 4 9 5 3 Página em branco Página em branco