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Profa. Dra. Karen C. A. Lamas Disciplina: Psicodiagnóstico Teste De apercepção infantil - cat FICHA SÍNTESE • Objetivo: investigar a dinâmica da personalidade da criança em sua singularidade, de modo a compreender o mundo vivencial da criança, sua estrutura afetiva, a dinâmica de suas relações diante do problemas que enfrenta e a maneira como os enfrenta. • Público-alvo: crianças entre 5 e 10 anos. • Aplicação: Individual. • Tempo de aplicação: livre (em média 45 minutos). • Evidências de validade: Evidências de validade convergente (construto) e validade de critério. • Fidedignidade: concordância entre avaliadores. • Normas: A técnica não é referenciada por normas, são apresentados os tema que costuma ser evocados pelos cartões, para indicar a demanda dos estímulos. As técnicas projetivas temáticas permitem investigar vários aspectos da estrutura e da dinâmica da personalidade. Consistem de histórias narradas pelo examinando a estímulos que representam situações individuais e sociais de naturezas diversas, Procura-se compreender como o indivíduo: se vê, como se situa no mundo, as demandas que mais o pressionam e os recursos psicológicos de que dispõe para enfrentá-las, inclusive os mecanismos de defesa que utiliza. HISTÓRICO A primeira dessas técnicas foi o Teste de Apercepção Temática (TAT), de Henry Murray, publicado originariamente em 1943, Com estímulos que podiam ser agrupados em quatro conjuntos de 20 cartões, destinados a homens, mulheres, meninos ou meninas. HISTÓRICO Entretanto, Leopold Bellak e David Abrams (1997), muitos clínicos achavam que os estímulos do TAT não se adequavam ao universo infantil. O TAT não atendia integralmente às necessidades da prática com crianças pequenas, dado que muitas das situações apresentadas não eram relevantes em termos de conflitos do crescimento. A identificação das crianças com animais seria muito mais imediata do que com pessoas – fato conhecido desde ‘Análise de uma fobia em um menino de cinco anos’, obra em que Freud narrou o caso do pequeno Hans e sua fobia de cavalos. HISTÓRICO Vantagens no uso com animais: • Importante papel nas fantasias e angústias infantis. • Considerados amigos das crianças – nível consciente. • São mais próximos às crianças devido ao caráter primitivo dos impulsos – nível inconsciente. • Permite o “disfarce”. • Prestam mais à ambiguidade do estímulo no que se refere à idade e ao sexo. HISTÓRICO HISTÓRICO Os autores, Leopold Bellak e Sonya Bellak, dedicaram um ano à definição de algumas situações fundamentais da infância que potencialmente poderiam revelar a elaboração dinâmica dos problemas de uma criança. Levaram as situações para Violet La Mont, conhecida ilustradora de livros infantis, para que criasse cenas com animais que remetessem a essas situações cruciais no desenvolvimento infantil. A artista também acrescentou outras situações por iniciativa própria. Resultando em 18 figuras. O material foi copiado e encaminhado para vários psicólogos que trabalhavam com crianças, que aplicaram e enviaram os protocolos coletados e informações sobre as crianças. A partir dessas informações e da própria experiência dos autores, foram eliminados oito cartões. Os 10 restantes constituem o conjunto usado até hoje. HISTÓRICO Posteriormente, foram desenvolvidas e estudadas as figuras humanas. Perceberam que crianças entre 7 e 10 anos, com QI mais alto, tendem a considerer as figuras animais um tanto infantis. As crianças que têm mais dificuldades de contar histórias, por sua vez, tendiam a se sair melhor com as figuras animais. Então, criaram o CAT com figuras humanas (CAT-H), que cobriria o periodo de transição entre o CAT-A e o TAT. HISTÓRICO No Brasil, com a Resolução 002/2003 do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2003), os profissionais ficaram privados do uso dessa importante técnica na clínica infantil por muitos anos, até que as versões adaptadas à população brasileira fossem aprovadas para uso e comercialização no país: a versão com figuras animais em 2010, a versão com figuras humanas em 2016. PESQUISAS EMPÍRICAS Grupos clínicos como critério: • TDAH tipo combinado: negação maníaca onipotente, trapaça, sentimentos derivados do instinto de morte (raiva e inveja) e tendências destrutivas (Benczik, 2005). • Vítimas de abuso sexual: abuso sexual, medo, ameaça do meio, desequilíbrio, médico. As crinças vítimas apresentaram até 6 indicadores, enquanto o grupo controle apresentou até 3 (Fonseca, 2005). • Crianças hiperativas: sentimentos de inadequação, incompreensão e rejeição. Percepção de ambiente punitivo e intolerante, considerando-se merecedoras de punição (Antony e Ribeiro, 2004). PESQUISAS EMPÍRICAS Grupos clínicos como critério: • Crianças com queixas diversas: estudo de concordância entre juízes, acima de 0,70. Percepção de provisão ambiental inadequada: perda de confiança no ambiente, maior intensidade na percepção de ameaças, maior senso de vulnerabilidade, menor interação com figuras parentais (Miori, Hosogiri e Moraes, 2015). Validade convergente e construtos relacionados (correlação com outros testes) (Silva e Villemor-Amaral, 2006): • Observou-se correlação positiva e moderada (r = 0, 575) entre CAT-A e HTP e correlação positiva e baixa (r = 0, 381) entre CATA e EMAE. • Entre os avaliadores, foi constatada concordância significativa em todos os indicadores relacionados a autoestima elevada. Validade clínica (estudo de caso): relações entre pesadelos, narrativas no CAT-A e acontecimentos da vida da criança (Carotenuto, 2000) DESCRIÇÃO O CAT, nas palavras de seus autores: “um método aperceptivo de investigação da personalidade, por meio do estudo da significância dinâmica das diferenças individuais na percepção de estímulos padronizados”. MATERIAL • 10 cartões em tons de cinza sobre fundo claro, nos quais são representadas cenas com a presença de personagens animais, no CAT-A, ou humanos, no CAT-H. • Os cartões são apresentados um por vez à criança, que deverá narrar uma história a partir da cena apresentada. • Segue uma descrição sucinta de cada cartão, na versão animal. Na versão humana, os animais são substituídos por pessoas. MATERIAL Cartão 1 Três pintinhos (ou crianças) estão sentados em volta de uma mesa, sobre a qual está uma tigela grande de comida. Mais para o canto pode ser vista a imagem difusa de uma galinha (ou figura humana) grande. Cartão 2 Um urso (ou figura humana) puxa uma corda em uma ponta, enquanto outro urso e um ursinho (ou figuras humanas) puxam na outra ponta. Cartão 3 Um leão (ou homem adulto) com um cachimbo e uma bengala, sentado em uma cadeira; no canto inferior direito, um ratinho aparece em um buraco (ou uma criança pequena sentada no chão). MATERIAL Cartão 4 Um canguru (ou uma mulher), usando um chapéu, leva uma cesta com uma garrafa de leite; em sua bolsa há um bebê canguru segurando um balão (ou nos braços da mulher, uma criança pequena segura um balão); em uma bicicleta, está uma criança canguru (ou humana) um pouco maior. Cartão 5 Um quarto escuro, com uma cama grande ao fundo; no primeiro plano, pode-se ver um berço com dois ursinhos (ou duas crianças pequenas). Cartão 6 Uma caverna escura com o contorno de dois ursos (ou duas pessoas|) ao fundo; no primeiro plano, pode-se ver um ursinho (ou uma criança) deitado. MATERIAL Cartão 7 Um tigre (ou um monstro) com presas e garras expostas, saltando sobre um macaco (ou uma criança), que, por sua vez, pula no ar (tenta fugir). Cartão 8 Dois macacos adultos (ou duas pessoas) estão sentados em um sofá, tomando chá. Um macaco adulto (ou uma mulher), no primeiro plano, sentado em um pufe, está falando com um macaco pequeno (ou uma criança). Cartão 9 Um quarto escuro é visto por uma porta aberta de um ambiente iluminado. No quarto há uma cama, na qual há um coelho (ou uma criança) que olha para a porta. Cartão 10 Um cachorrinho (ou uma criança) está deitado no colo de um cachorro (ou um adulto), que está sentado; as duas figuras têm expressãoneutra e estão em um banheiro. aDIMINISTRAÇÃO/INSTRUÇÕES Para uma administração bem-sucedida, é necessário ter estabelecido um bom rapport com o examinando. Isso costuma ser mais difícil com crianças menores ou menos adaptadas. Ocampo (1981) sugere que, em uma situação de psicodiagnóstico, se inicie o exame psicológico com técnicas menos estruturadas, como as técnicas gráficas ou a observação lúdica. O CAT pode ser aplicado mais adiante no processo, quando a criança estiver familiarizada com o aplicador. É altamente recomendável explicar para a criança que não há histórias certas ou erradas e que o mais importante é ela inventar uma história para cada figura. aDIMINISTRAÇÃO/instruções A instrução recomendada por Bellak e Abrams para a administração do CAT é: Este é um jogo de histórias. São dez figuras ao todo. Eu vou mostrar uma figura por vez, e você deve tentar criar uma história de faz de conta para ela. Diga o que está acontecendo na figura, o que vai acontecer depois e como termina a história. Ou você pode dizer o que acha que aconteceu antes, em seguida, o que está acontecendo na figura e depois qual é o fim da história. O que interessa é você inventar uma história com começo, meio e fim, da sua própria imaginação. Muito bem, esta é a primeira figura. ADMINISTRAÇÃO A instrução pode ser retomada sempre que necessário, de forma sucinta, e adaptada de acordo com a idade e os recursos da criança. É importante que o psicólogo mantenha uma atitude de interesse mediante o que a criança narra. Frequentemente é preciso encorajá-la a narrar histórias, mas é preciso ter cuidado para não induzir sua resposta ao incentivá-la. Diante de um examinando que apenas descreva a figura ou pareça ter dificuldade em inventar uma sequência de ações, pode-se perguntar, por exemplo: “O que aconteceu antes disso?” ou “O que aconteceu depois disso?”. É importante assegurar-se de que a criança entenda o que seja “inventar uma história”. Em casos extremos, pode-se usar o Cartão 1 para explicar o que é uma história e descartá-lo da interpretação. ADMINISTRAÇÃO Os cartões devem ser apresentados um por vez, na sequência determinada pela numeração impressa em cada um, enquanto os demais permanecem ocultos. Isso assegura que a criança mantenha a atenção na figura apresentada. Caso a criança não tenha fornecido uma história completa, pode-se fazer um inquérito após cada narrativa, enquanto a criança ainda tem o cartão à vista. Deve-se tomar cuidado para não induzir a resposta da criança, evitando perguntas que possam ser respondidas com sim ou não. Por exemplo, pode-se perguntar: “Como termina essa história?”, e não “Ele vai conseguir o que quer?”. ADMINISTRAÇÃO Todos os comentários e comportamentos da criança observados durante a aplicação devem ser anotados e usados como informação auxiliar para a interpretação da história específica em que ocorreram. De modo geral, devem ser observadas a atividade física, os gestos, as expressões faciais e as posturas que acompanham as respostas. Exemplos específicos são o modo como a criança segura o cartão, olhando-o com atenção ou mantendo-o longe de si, o modo como o devolve para o aplicador (com cuidado ou quase com raiva). iNQUÉRITO Se houver necessidade... Após todas as histórias terem sido narradas, pode-se repassá-las com a criança, a fim de elaborar pontos específicos, como por que determinado personagem recebeu tal nome, as idades ou os nomes de lugares e até mesmo perguntar sobre um determinado tipo de desenlace. Se o período de atenção sustentada da criança não permitir esse procedimento, é recomendável fazer isso na data mais próxima possível após a aplicação. ANÁLISE O CAT é um descendente direto do TAT, de Henry Murray, volta-se principalmente para o conteúdo das respostas (Bellak, 1944, 1949). A análise do comportamento aperceptivo costuma considerar o que a pessoa vê e sente, ao contrário do exame do comportamento expressivo, que privilegia o modo como a pessoa vê e sente. É uma excelente ferramenta para se compreender a dinâmica das relações interpessoais e da constelação de impulsos e a natureza das defesas adotadas contra isso. Exemplos: problemas orais, rivalidade fraterna, atitude em relação às figuras parentais e como elas são percebidas, a relação da criança com os pais como casal (em termos técnicos, o complexo edípico e seu ápice na cena primária). Favorece também a expressão de fantasias da criança relacionadas à agressividade (contra si e contra os outros), aceitação pelo mundo adulto, temor de ficar sozinha à noite com possíveis relações com a masturbação, o comportamento no banheiro e o modo como os pais lidam e respondem a essas situações. Análise As pesquisas que possibilitaram a aprovação do CAT em ambas as versões pelo CFP incluíram estudos de evidência de validade de critério (grupos contrastantes) e de validade relacionada a outras variáveis (comparação com outros instrumentos). Nesses estudos, as histórias narradas pelas crianças foram pontuadas de acordo com uma adaptação do esquema de interpretação de técnicas temáticas proposto por Bellak (Bellak & Abrams, 1997), que permitiu o tratamento quantitativo dos dados obtidos. Analise/interpretação A interpretação do CAT-A não é feita por meio de referência à norma (ex., percentis). A interpretação das histórias narradas é feita por meio de análise de conteúdo. Este conteúdo está indicado no manual do teste. O psicólogo analisa qual conteúdo apareceu na narrativa da criança. Análise Foram avaliadas nove dimensões (conteúdos), atribuindo-se 1 ponto positivo, no caso de serem positivas e promoverem a adaptação, ou 1 ponto negativo, caso se mostrassem negativas e prejudiciais à adaptação: Autoimagem, Relações Objetais, Concepção do Ambiente, Necessidades e conflitos, Ansiedades, Defesas, Superego e Integração do Ego. Uma décima dimensão, Total, indicava o total de pontos positivos e o total de pontos negativos obtidos pelas crianças individualmente. Em caso de insuficiência de dados para pontuar a dimensão, atribuiu-se o valor 0. Protocolo de avaliação • Avaliação de conteúdo: Levantamento • Pontuação Geral da Análise de Conteúdo • Pontuação Geral dos Mecanismos de Defesa Miguel, A., Tardivo, L. C., Silva, M.C.V.M., & Tosi, S. M. V. D. (2010) Teste de apercepção Infantil (CAT-A): figuras animais. São Paulo: Vetor. REFERÊNCIAS
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