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TAT Aplicação e Interpretação do Teste de Apercepção Temática Dados de Catalogação na Publicação iCIP) Internacional (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Silva, M aria Cecília de Vilhena Moraes. T A T : aplicação e interpretação do teste de apercepção tém ática / M aria Cecília de Vilhena Moraes S ilva. — São Paulo: EPU, 1989 . — {Psicologia) Bibliografia. ISBN 8 5 -1 2 -6 4 8 1 0 -4 1. Ape icepção tem ática — Testes I. Título. II. Títu lo : A plicação e interpre tação do teste de apercepção tem ática. III. Série. 8 9 -0 8 2 7 C D D -15 5 .2 8 4 4 índices para catálogo sistemático; 1. A percepção tem ática : Testes : Psicologia 1 55 .2844 2. TA T : Teste de apercepção tem ática : Psicologia 1 55 .2 8 4 4 Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva TAT Aplicação e Interpretação do Teste de Apercepção Temática Sobre a autora Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva é professora assistente da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Sâo Paulo, mestre e doutoranda em Psicologia Clíni ca pela PUC-SP. Entre as disciplinas que leciona encontram-se as de Técnicas Projetivas Te máticas e Técnicas Projetivas Gráficas. Este trabalho foi desenvolvido com base em sua ex periência acadêmica e clínica. Capa: Luis Díaz Ia reimpressão ISBN 85-12-648 1 0-4 © E.P.U. - Editora Pedagógica e U niversitária Ltda., São Paulo, 1989. Todos os direitos reservados. A reprodução desta obra, no todo ou em parte, por qualquer m eio, sem autorização expressa e por escrito da Editora, sujeitará o infrator, nos term os da lei ns 6.895, de 17-12-1980, à penalidade prevista nos artigos 184 e 186 do Código Penal, a saber: reclusão de um a quatro anos. E. P. U. - Telefone (011) 829-6077 - Fax. (011) 820-5803 E-M ail: vendas@ epu.com .br Site na Internet: http://w w w .epu.com .br R ua Joaquim Floriano, 72 - 6° andar - conjunto 65/68 04534-000 São Paulo - SP Impresso no B rasil P rin ted in Brazil mailto:vendas@epu.com.br http://www.epu.com.br Aos meus alunos Sumário Prefácio .................................................................................................. IX 1. Introdução ...................................................................................... 1 1.1 . As Técnicas Projetivas.............................................................. 1 1.2. TAT — Histórico e Fundamentos Teóricos......................... 3 2. Conhecendo o instrumento .......................................................... 5 2.1. O M aterial.................................................................................. 5 2.2. A Aplicação ................................................................................ 7 2 . 2 . 1 . As instruções segundo M urray ................................ 7 2.2.2. As instruções segundo Vica Shentoub.................... 7 2.2.3. O inquérito segundo M urray .................................... 7 2.2.4. O inquérito segundo Vica Shentoub....................... 8 2.2.5. O Registro ................................................................... 8 2.2.6. A Observação............................................................. 8 2.2.7. A escolha das pranchas............................................ 9 2.3. Normas Aperceptivas e Temáticas.......................................... 9 2.4. Comentários sobre as Pranchas............................................... 11 3. Compreendendo a situação............................................................ 17 4. Bases para a interpretação......... ................................................... 21 VII 4.1. Análise de C onteúdo................................................................. 24 4.2. Análise F o rm al.......................................................................... 34 4.3. Análise de Seqüência................................................................. 44 5. Considerações finais...................................................................... 49 5.1. A Elaboração da Síntese.......................................................... 49 5.2. O TAT na Prática Clínica........................................................ 50 Anexe» 1 — “ Folha de Sistematização” de Vica Shentoub........... 51 Bibliografia .................................................................. .......................... 57 VIII Prefácio Este livro destina-se ao aluno de Psicologia que deseja entrar em conta to com um dos instrumentos fundamentais para a investigação da perso nalidade, o Teste de Apercepção Temática de Henry Murray. Foi elaborado de modo a possibilitar que o leitor vá formulando suas próprias hipóteses à medida que amplia a interpretação de relatos reais, passo a passo, além de procurar sistematizar as principais formas de se abor dar o protocolo: aquela mais voltada para o conteúdo do relato, consistin do na análise mais tradicional, e aquela que enfatiza o como o sujeito rea liza a tarefa, modo de análise mais recentemente desenvolvido por Vica Shentoub. Deve-se considerar que o TAT deu origem a vários outros instrumentos de investigação da personalidade. O domínio da técnica de interpretação será de grande auxílio, não só para estes instrumentos de natureza temáti ca, como também para aqueles que utilizam inquérito (como por exemplo o HTP, o desenho livre) e, ainda, para outros recursos de que dispõe o psi cólogo, tais como a observação lúdica, a entrevista, a interpretação de so nhos, o próprio discurso em situações de terapia. Isto porque em todos es tes casos supõe-se a apreensão de um conteúdo “latente”, mais profundo, por trás do conteúdo “manifesto”, o comportamento observável, seja ele verbal ou não verbal. A utilização do material eliciado por pranchas pa dronizadas e sua integração com os dados do comportamento do sujeito e da forma como este se desincumbe da tarefa proposta pelo teste, possibi litam ao aluno “ancorar” suas interpretações em parâmetros mais seguros. A prática em tal procedimento lhe proporcionará a base para o desenvolvi mento do raciocínio clínico, subjacente às várias situações em que se pro cura compreender um indivíduo em níveis mais profundos. IX À medida que for avançando na leitura, o leitor terá acesso não só a informações práticas sobre o uso do teste como também à fundamenta ção teórica que dá base à interpretação. Mais do que um manual que ensi ne o “como fazer”, procurou-se possibilitar a reflexão e o exercício de um modo particular de se encarar a produção de um indivíduo dentro da si tuação de investigação da personalidade. Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva X Capítulo 1 Introdução 1.1. As técnicas projetivas Dentre as técnicas de que dispõe o psicólogo para a investigação da personalidade, sobressaem-se os métodos projetivos como aqueles que pos sibilitam uma apreensão profunda de conteúdos dos quais nem sempre o sujeito tem consciência. A expressão “ métodos projetivos” foi criada por L.K. Frank, em 1939, para designar um conjunto de instrumentos que procurava abordar o in divíduo naquilo que ele apresenta de singular. Enfatiza os aspectos quali tativos e psicológicos, em oposição à tradição psicométrica, a qual visava uma classificação com procedimentos basicamente quantitativos e nor mativos. A noção de “ projeção” , quando se fala de técnicas projetivas, não se refere ao mecanismo de defesa, mas sim a um processo natural, comum a todos os indivíduos. Como aponta Bell (apudVan Kolck, 1981), trata-se de uma projeção interpretativa. Neste sentido, a definição proposta por Laplanche-Pontalis (1974) es clarece este conceito: “ o sujeito percebe o meio ambiente e responde ao mesmo em função de seus próprios interesses, atitudes, hábitos, estados afetivos duradouros ou momentâneos, esperanças, desejos etc.” (p. 318). Em outras palavras, o indivíduo estrutura ou interpreta a sua realidade de acordo com suas próprias características. Há uma interação dinâmica entre os objetos do mundo externo e o mundo internoda pessoa, criando-se uma terceira realidade. A esta percepção dinamicamente significativa da realidade Bellak (1947) propõe o termo “ apercepção” . De acordo com esta definição, a apreensão dos dados do mundo exter no terá sempre um componente subjetivo. A percepção que tenho do 1 papel onde escrevo estas linhas será diferente daquela do papel em que de senho, ou daquela em que calculo as despesas mensais ou escrevo uma car ta de amor. Modificam-se as condições internas, o contexto em que me di rijo ao objeto. Entretanto, reconheço sempre a existência de uma folha de papel. Se estou faminta e ando pelas ruas da cidade, estarei mais atenta às possibilidades de saciar minha fome: placas de lanchonete, carrinhos de cachorro-quente ou sorvetes facilmente captarão minha atenção. Even tualmente posso até mesmo confundir a placa de um banco com a de um restaurante. Observa-se assim que as necessidades individuais e do momento direcionam a atenção para as oportunidades de gratificação e minha per cepção do ambiente poderá até mesmo “ falsear” a realidade, criando fan tasticamente uma possibilidade de gratificação que, na verdade, não existe. Pode-se dizer, então, que existe um continuum no que tange à percep ção que iria, teoricamente, desde uma percepção totalmente objetiva até a distorção aperceptiva extrema, que implicaria uma perda de contato com a realidade. t APERCEPÇÃO t percepção perda de contato “ objetiva” com a realidade Normalmente percorremos uma certa amplitude deste continuum, de acordo com as demandas externas, o grau de definição da situação, nos so estado físico e disposições do momento. Assim, por exemplo, em esta do de fadiga tendemos a ser mais subjetivos em nossas percepções; frente a uma tarefa de cunho intelectual, como frente a um teste de inteligência, procuramos apreender adequadamente os dados da realidade externa. A própria forma como são apresentados os testes de inteligência (detalha mento das instruções, apresentação do material) já procura garantir que a situação seja compreendida com um mínimo de interferência das variá veis individuais. Já nas técnicas projetivas, o que se procura é justamente favorecer ao máximo o aparecimento do mundo interno do testando. É fornecido um mínimo de elementos externos, suficientes apenas para eliciar a resposta e permitir uma avaliação do contato com a realidade. Abt (apud Anzieu, 1978) ressalta que a percepção é função do campo de estimulação (fato res externos) e da ordem e intensidade das necessidades do indivíduo (fa tores internos). Os estímulos não agem isoladamente; organi/.am-se num campo de forças que, sendo estruturado, fará predominarem os fatores externos; sendo pouco estruturado, predominarão os fatores internos. Assim, os estímulos que constituem o material das técnicas projetivas devem ser pouco estruturados, o que impede que o sujeito se apóie em informações convencionais e favorece o aparecimento dos lalores inter nos. Isto se aplica tanto ao material em si (pranchas, palavras isoladas, materiais diversos) como às instruções, as quais propiciam a liberdade no 2 uso do material apresentado, evitando a indução ou direcionamento da resposta (“ complete a frase...” , “ conte uma história...” , “ com que isso se parece...” , “ desenhe uma pessoa...” ). Segundo Anzieu (1978), deve- se contar ainda com o desconhecimento, por parte do sujeito, de como serão interpretadas as respostas, a fim de que este não venha a modificar, consciente e sistematicamente, a essência de suas respostas. O Teste de Apercepção Temática de Henry Murray (TAT) faz parte deste conjunto de técnicas. Através do uso de figuras que representam diversas situações frente às quais o sujeito deve criar uma história (daí ser um teste temático), procede-se à exploração da personalidade do testando. 1.2. TAT — Histórico e fundamentos teóricos O TAT constitui-se hoje num dos principais instrumentos de que dis põe o psicólogo clínico para a investigação da personalidade. Criado em 1935 por Morgan e Murray, teve sua forma definitiva publicada por seu autor em 1943, por ocasião de sua segunda revisão. Basicamente,fo teste consiste no uso de gravuras que representam ce nas diversas, com diferentes graus de estruturação e realismo, a partir das quais o testando é solicitado a desenvolver um tema, narrar uma história. < De posse deste material, o psicólogo teria condições de identificar a atitu de do indivíduo frente a diversas situações, seus temores, desejos, difi culdades, enfim, a dinâmica de sua personalidade) A idéia de que as produções artísticas revelam a personalidade de quem as produziu é anterior a Freud. Leonardo da Vinci dizia que ‘ ‘a pessoa que desenha ou pinta tende a emprestar às figuras que esboça a sua pró pria experiência corporal, se não se proteger contra isso por longos anos de estudo” (Kriss, apucl Hammer, 1978). Em 1855, Burckhardt (apud An zieu, 1978) analisou obras da Renascença, procurando identificar a per sonalidade de seus autores. O próprio Freud cogitava desta possibilidade e em 1907 publicou uma análise do romance Gradiva, de Jansen. Mas o verdadeiro precursor do TAT foi a prova de Brittain, criada para inves tigar a imaginação, neste mesmo ano, já utilizando material figurativo como estímulo para a criação de histórias (Anzieu, 1978). ; Murray partiu do pressuposto de que diferentes indivíduos, frente a uma mesma situação vital, experimentá-la-ão cada um a seu modo, de acordo com sua perspectiva pessoal. Esta forma pessoal de elaborar uma experiência revelaria a atitude e estrutura do indivíduo frente à realidade experimentada. Assim, expondo-se o sujeito a uma série de situações so ciais típicas e possibilitando-lhe a expressão de sentimentos, imagens, idéias e lembranças vividos em cada uma destas confrontações, ter-se-ia acesso à personalidade subjacente (Korchin, 1975). Assim, este procedimento le- 3 varia o sujeito a “ projetar” , no sentido geométrico do termo, o seu mun do interno nas situações apresentadas. A partir daí, Murray procedeu à escolha do material: reproduções de situações dramáticas selecionadas, de contornos imprecisos, impressão difusa e tema inexplícito. Exposto a este material, o indivíduo, sem perceber, identifica-se com uma persona gem por ele escolhida e, com total liberdade, comunica, através de uma história completa, sua experiência perceptiva, mnêmica, imaginativa e emo cional. Desta forma, pode-se conhecer quais situações e relações sugerem ao indivíduo temor, desejos, dificuldades, assim como as necessidades e pressões fundamentais na dinâmica subjacente de sua personalidade (Mur ray, 1951). A condução da interpretação, de acordo com o autor, se faria a partir da identificação das necessidades e pressões percebidas pelo sujeito, con ceitos estes fundamentais na personologia de Murray, uma teoria basica mente motivacional, Para ele, “ o mais importante a descobrir num indi víduo é a direcionalidade de suas atividades, sejam elas mentais, verbais ou físicas” , (apud Hall e Lindzey, 1969). A necessidade é um construto que representa uma força, na região ce rebral, que organiza a percepção, apercepção, intelecção, conação e ação, de modo a transformar, numa certa direção, uma situação insatisfatória existente. Em outras palavras, a necessidade gera um estado de tensão que conduzirá a ação no sentido de chegar à satisfação, reduzindo, as sim, a tensão inicial, ou seja, restabelecendo o equilíbrio. Pode ser pro duzida por forças internas ou externas e é sempre acompanhada por um sentimento ou emoção. Ainda segundo Murray, a presença de uma ne cessidade pode ser identificada pelo efeito ou resultado final do compor tamento, pela expressão de satisfação ou desapontamento frente a este resultado, pelo comportamento envolvido e expressões de afeto ou emo ção e pela atenção e respostas seletivas frente a uma determinada classe de objetos. O autor elaborou ainda uma lista das principais necessidades(Hall e Lindzey, 1969; Silva, E., 1984). As pressões seriam determinantes do meio externo que podem facilitar ou impedir a satisfação da necessidade, representando a forma como o sujeito vê ou interpreta seu meio. Embora Murray considere a personali dade como uma abstração formulada pelo teórico e não uma descrição do comportamento do indivíduo, procurou defini-la como um compro misso entre os impulsos e as demandas do ambiente. Seria o agente orga nizador e administrador do indivíduo, cuja função seria integrar confli tos e pressões visando à satisfação das necessidades. Trata-se de um en foque dinâmico, mas que reconhece elemento,s estáveis (id, ego, supere go, ideal de ego) (Hall e Lindzey, 1969). Enfim, podemos dizer que a personologia de Murray procura conside rar o indivíduo naquilo que tem de mais próprio na sua relação consigo e com o mundo. Esta singularidade é o que o TAT procura revelar. 4 Capítulo 2 Conhecendo o instrumento 2.1. O material O material do TAT consiste em 31 pranchas, que, segundo Murray, representariam “ situações humanas clássicas” . As pranchas são variadas em termos do grau de realismo, das situações propostas, número e tipo de personagens. A maioria das personagens representadas aparenta uma idade adulta, mas jovem. Em princípio o teste seria destinado a indiví duos de 14 a 40 anos. Várias pesquisas, entretanto, indicam a utilidade do instrumento tanto a partir de 6 anos (Debray, 1987) como após os 40 (Traxler, Sweiner e Rodgers, 1974; Pasewark, Fitzgerald, Dexter e Can- gemi, 1976). Segundo levantamento realizado pela autora, a literatura indica que uma semelhança excessiva entre as personagens do estímulo e o testando pode levar a um aumento das defesas, comprometendo o grau de proje ção, principalmente se a “ semelhança física” refere-se a características social ou pessoalmente indesejáveis./As pranchas do TAT parecem apre sentar características que possibilitam uma certa “ distância psicológica” que favorece a projeção de desejos carregados de tensão, sem que esta distância seja tão acentuada que inviabilize a identificação com a perso nagem. Mesmo o aspecto “ antiquado” das figuras, crítica bastante fre qüente ao material do TAT, parece garantir esta possibilidade de identi ficação, sem que o testando sinta-se ameaçado e assuma uma atitude de defesa (Vilhena M.Silva, 1983). As pranchas são divididas de acordo com o sexo e idade do sujeito, compreendendo sempre um conjunto de 20 estímulos para cada aplica ção. Há as pranchas universais, assinaladas apenas por um algarismo, que 5 se destinam a todos os sujeitos, independentemente de sexo e idade (pran chas: 1, 2, 4, 5, 10, 11, 14, 16, 19, 20). As demais são assinaladas por letras, conforme o grupo específico a que se destinam^No Brasil, pode ser encontrado o material americano, argentino e brasileiro, assinalados como se segue: popu ^ - j a ç â o edição ^ HOMENS MULHERES MENINOS MENINAS brasileira Hhomem Ffeminina "rapaz Mmoça argentina Hhombre Mmujer vvarón Nnina americana Mmale Ffemale Bboy Ggirl Como exemplo teríamos então: prancha 3 RH ou 3 VH ou 3 BM — destinada a sujeitos do sexo mas culino, de qualquer idade prancha 3 MF ou 3 NM ou 3 GF — para sujeitos do sexo feminino, de qualquer idade prancha 13 HF ou 13 HM ou 13 MF — para adultos, independente mente do sexo prancha 13 R ou 13 V ou 13 B — para meninos prancha 13 M ou 13 N ou 13 G —para meninas Assim, para uma mulher adulta, empregaríamos todas as pranchas uni versais mais aquelas em que aparece o F (edições americana e brasileira) ou M (edição argentina), só ou acompanhado por outra letra. O total se rá de 20 pranchas. Para homens, utilizaríamos as universais mais aquelas que apresentam o M (versão americana) ou o H (versões argentina e bra sileira), só ou acompanhado por outra letra, obtendo-se o mesmo total de 20 pranchas. A seqüência de apresentação dos estímulos deve, em princípio, seguir a ordem prevista, já que se começa pelas pranchas mais realistas e estru turadas. Aos poucos os estímulos vão se tornando mais indefinidos ou com maior carga dramática, principalmente a partir da prancha 10. Espera- se, assim, que o testando esteja mais aquecido e mobilizado ao se defron tar com os estímulos que geram maior ansiedade. No caso de haver interrupção da aplicação, a seqüência pode ser alte rada, conforme veremos ao identificar e comentar cada uma das pranchas. 6 2.2. A aplicação Observam-se atualmente duas tendências no tipo de análise que se faz das respostas ao TAT, que implicam procedimentos diversos de aplica ção, no que se refere às instruções e intervenções do aplicador. 2.2.1. A s instruções segundo Murray A ênfase da análise de Murray está no conteúdo das respostas, naquilo que o sujeito diz. Âs instruções são as que se seguem: “ Vou lhe mostrar uma série de figuras e desejo que você invente uma história para cada uma delas. Quero que você diga o que está acontecendo, o que sentem e pen sam as personagens, quais os acontecimentos que levaram à situação atual e o que acontecerá depois. Anotarei tudo o que você disser. Peço que fale devagar.” Antes da prancha 16 (em branco), diz-se: “ Tente imaginar uma cena que poderia estar aqui. Tente descrevê-la e invente uma história so bre ela.” As instruções podem ser repetidas ao longo do teste, se necessá rio, e adaptadas à idade e nível intelectual ou cultural do sujeito. Apresenta-se a prancha e inicia-se a contagem do tempo. 2.2.2. A s instruções segundo Vica Shentoub A ênfase da análise de Vica Shentoub está no aspecto formal, ou seja, no como o sujeito elabora seu relato. Acredita, assim, que a interferência do aplicador deva ser a mínima possível, para que não modifique o estilo espontâneo de resposta do testando, e também para garantir uma coerên cia entre a natureza do material, as instruções e a figura do aplicador. As instruções resumem-se a “ Imagine uma história a partir desta pran cha” ou “ Imagine uma história sobre esta figura” , podendo ser repeti das ao longo do teste. Apresenta-se o estímulo e inicia-se a contagem do tempo. 2.2.3 O inquérito segundo Murray O inquérito consiste em perguntas feitas pelo aplicador, após o térmi no do discurso espontâneo do sujeito em cada prancha. Tem o objetivo de completar a história ou elucidar algum aspecto que não tenha ficado claro. São perguntas amplas, genéricas, que não devem apresentar a pos sibilidade de ser respondidas através de “ sim” ou “ não’’.^Indivíduos de pendentes facilmente acatam a sugestão do aplicador; aqueles com atitu des de oposição responderão “ não” . As questões devem ser do tipo “ o que aconteceu antes?” ou “ como vai terminar a história?” . Podem-se explorar ainda os pensamentos e sentimentos das personagens, jamais su gerindo sua natureza) Se a história estiver completa não há necessidade 7 de inquérito. Deve-se tomar cuidado no sentido de não pressionar demais o sujeito, desestruturando suas defesas ou aumentando desnecessariamente sua ansiedade. O aplicador deve restringir-se aos dados referentes à his tória original, evitando perguntas dispensáveis ou que levem o testando a afastar-se do estímulo, fantasiando em demasia. Ao se notar que o su jeito sistematicamente omite uma determinada parte da história, deixa-se de questioná-lo a respeito. Trata-se de um dado individual e como tal de verá ser analisado. O inquérito teria mais a função de lembrar as instru ções ao testando; não tem como objetivo a extração de dados que este não deseja revelar, nem funcionar como ponto de partida para associa ções livres. 2:2.4. O inquérito segundo Vica Shentoub Segundo a proposta de não intervenção do aplicador, para Shentoub não há inquérito. Aceita-se a produção espontânea do testando, seja ela qual for. Alguns profissionais optam por um inquérito após o término do relato espontâneo de todas as pranchas. Tal procedimento, embora tenha a van tagem de restringir as perguntas aos aspectos mais relevantesde cada ca so, apresenta a desvantagem de ocorrer num momento dissociado do im pacto original causado pela apresentação da prancha. Ganha-se em ter mos de conteúdo a analisar; perde-se quanto à reação espontânea do tes tando e seu modo de lidar com a ansiedade gerada pelo estímulo. 2.2.5. O registro O aplicador deve dispor de cronômetro, lápis e papei. As verbaliza ções devem ser anotadas fielmente, registrando-se também a ocorrência de pausas e intervenções do aplicador. Pode-se utilizar um gravador, des de que o testando concorde e não se iniba com a presença do mesmo. O cronômetro é utilizado para registrar: a) tempo de latência inicial — intervalo entre a apresentação do estí mulo e a primeira verbalização do sujeito, seja um comentário, exclama ção ou a história propriamente dita. b) tempo total — intervalo entre a apresentação da prancha e o final do relato espontâneo (não se inclui o inquérito). 2.2.6. A observação Deve-se estar atento a todo comportamento verbal e não verbal do su jeito durante a aplicação. Mudanças de postura, reações corporais frente à apresentação dos estímulos, alterações na voz, sinais de ansiedade (agi tação motora, tiques etc.) podem indicar como o indivíduo sofre o im- pacto provocado pela prancha, seu grau de envolvimento com a situa ção, a interferência da ansiedade etc. Na medida do possível, os compor tamentos observados devem ser registrados prancha por prancha. 2.2.7. A escolha das pranchas Tanto Murray quanto Shentoub enfatizam a necessidade de se aplicar a série completa, ou seja, o total de 20 pranchas. Alguns seguidores de Mur ray, entretanto, optam por uma série mais reduzida, dependendo da dis ponibilidade de tempo ou de áreas específicas que se deseja investigar. Para uma maior segurança, recomenda-se sempre a aplicação da série to tal, mesmo que se divida sua apresentação em mais de uma sessão. 2.3. Normas aperceptivas e temáticas Vimos que as pranchas do TAT, por constituírem estímulos projeti vos, são ambíguas, favorecendo a interferência da subjetividade na apreen são de seus conteúdos. Entretanto, dispõem de elementos que podem ser percebidos mais objetivamente; há personagens com sexo e idade relati vamente definidos, certos elementos do cenário etc. O que seriam os “ dados objetivos” do estímulo? Quais os elementos ou fatores externos sobre os quais o indivíduo deverá apoiar sua narrati va? A fim de se verificar o contato do indivíduo com a realidade, existem as normas aperceptivas, as quais indicam o que é freqüentemente visto nas pranchas do TAT. Na medida em que o sujeito é solicitado a narrar uma história a partir do estímulo, necessitamos de parâmetros que nos indiquem em que consiste o estímulo. As normas aperceptivas nos mos tram qual é o consenso, o que seria o dado “ objetivo” oferecido pela prancha. Assim, por exemplo, na prancha 7FM temos uma senhora segurando um livro e uma menina com um bebê. Suponhamos um caso em que o bebê seja percebido como um gato. Recorrendo às normas aperceptivas, verifica-se que não se trata de uma apercepção usual, houve uma distor ção significativa. O que teria levado o sujeito a “ falsear” a realidade des ta forma será esclarecido através do protocolo como um todo. Isolada mente, este fato indica que nesta prancha o indivíduo sofreu a ação de motivos internos que impediram ou perturbaram um contato adequado com a realidade externa. Tais motivos poderiam ser, em princípio, de duas ordens: evitar entrar em contato com as associações derivadas da figura do bebê (portanto, atuação de uma defesa), ou ter conteúdos bastante investidos de energia associados ao “ gato” , que se manifestaram intem pestivamente (ou seja, fracasso no uso das defesas). O esclarecimento da dinâmica que levou à distorção deverá levar em conta a área mobilizada 9 pelo estímulo, demais respostas em que o mesmo fenômeno ocorre, res postas a outras pranchas em que a mesma área foi mobilizada. Verificamos assim que, por trás do conteúdo objetivo do estímulo, existe um conteúdo latente que evocará ou estimulará os conteúdos pessoais do sujeito. As situações propostas pelas pranchas do TAT, como vimos, vi sam representar “ situações humanas clássicas” , como diz Murray, ou “ con flitos universais” , como prefere Shentoub. Segundo a mesma autora, o ego apreenderá ou não tais conteúdos “ de acordo com suas possibilidades de integração, defesas e objetivos conscientes” . (Shentoub, 1987, p. 119). Quais seriam então estes “ conflitos universais” ou “ situações huma nas clássicas” ? Para se ter conhecimento das áreas que cada prancha pro cura mobilizar, existem as normas temáticas. Estas indicam os temas co- mumente evocados pelos diversos estímulos. Quando o testando dá uma resposta de acordo com a norma, isto é, quando foi sensível ao conflito evocado pela prancha, dizemos que deu uma resposta clichê — equiva lente à resposta popular no Psicodiagnóstico de Rorschach (Korchin, 1975). As respostas clichê indicam a capacidade de adaptação do sujeito à ta refa proposta e a sensibilidade à área evocada. Trata-se de relatos mais voltados para a realidade externa, o que não implica, necessariamente, na ausência da projeção de conteúdos pessoais. O “ porquê” da ação e o “ desenlace” da história sempre favorecem a projeção, como constata Murstein (1964). Segundo este autor, ao considerar que cada história apre senta um “ O que está acontecendo” , “ Quem está na prancha” , “ Por que aconteceu” e um “ Desenlace” , verificou que os dois últimos não são ele mentos dados pelo estímulo, implicando assim na projeção de conteúdos mais pessoais. A presença de respostas não-clichê não implica, a rigor, patologia. Re presentam abordagens mais pessoais ao estímulo, com conteúdos inter nos mais mobilizados, mais investidos de energia. Num protocolo nor mal, espera-se a presença de ambos os tipos de respostas. O quadro se evidenciará mais problemático se houver um número significativo de dis torções aperceptivas, ou respostas não-clichê, com perseveração no mes mo tema. Vejamos alguns exemplos de respostas dadas à prancha 3RH, cujo te ma é o desespero, abandono, tristeza. Caso 1 sexo: feminino idade: 25 anos T.L. — 10 segundos T.T. — 3 minutos “ Nossa! (...) uma mulher muito desesperada, querendo levantar e sair desse lugar (........ ) mas é muito difícil (........ ) tava choran do demais para conseguir levantar e sumir d a í ......... só.” 10 Caso 2 sexo: feminino idade: 21 anos T.L. — 10 segundos T.T. — 4 minutos “ Deixa eu v e r........ aqui tem duas hipóteses: ou ela viu o namo rado dela com outra ou ele deu o fora nela. Ela tá muito triste, porque ela gostava muito dele e foi uma grande decepção. Pro vavelmente ela tinha feito muitos planos e agora ela acha que foi tudo por água abaixo. Ela vai se atirar na cama e ficar chorando uns dois dias,-mais ou menos, mas isso com o tempo passa, de qualquer modo ela vai continuar levando a vida dela.” Caso 3 sexo: feminino idade: 35 anos T.L. — 3 segundos T.T. — 4 minutos “ Mulher sobre o sofá chorando ou dormindo. Sobre o assento, né? Ou chorando ou dormindo ou pensando. Pode falar o que quiser? Talvez brigou com alguém e está triste, né? ou simples mente cansada, com vontade de ficar nessa posição. Continua nessa posição por ser agradável. Poderá se levantar, ir embora. Acho que é só, difícil falar... Até que é divertido (o teste).” Observa-se que os três relatos mostram sensibilidade à área, sendo, por tanto, respostas clichê. Entretanto, o modo como desenvolvem a narrati va é bastante diferente. No primeiro caso, não há possibilidade imediata de superação de tristeza, a personagem está como que paralisada pelo so frimento; já no segundo caso, há a perspectiva de superação; no terceiro caso, observa-se que o sujeito, embora tenha percebido a temática, reluta em aceitá-la e aprofundar-se nela, chegando a comentar como o teste é divertido, exatamente o oposto do que estava sendo sugerido.São três respostas clichê, mas bem diferentes entre si, estando evidentes os aspec tos pessoais em cada uma delas. 2.4. Comentários sobre as pranchas As normas aperceptivas e temáticas podem ser encontradas no manual do TAT. Discutiremos aqui as principais áreas mobilizadas por cada um dos estímulos, além de considerações práticas referentes ao uso dos mesmos. Prancha 1 (universal) O menino e o violino — é sempre a primeira prancha a ser aplicada, pois, 11 em geral, não representa uma situação muito ameaçadora. A personagem é uma criança, percebida como distante do próprio sujeito, e a situação é relativamente estruturada. A temática mais freqüente refere-se à rela ção com a autoridade (pais, professor), atitude frente ao dever e também ideal de ego (capacidade de realização, de atingir objetivos propostos). Freqüentemente, o discurso reflete, ainda, a atitude do indivíduo frente à situação de teste. Por ser o primeiro estímulo a ser apresentado, dá mar gem à investigação da capacidade de adaptação do sujeito a uma nova situação. As distorções aperceptivas ocorrem com maior freqüência em relação ao violino (visto como um livro, folha de papel ou brinquedo). O violino visto como quebrado pode ser índice de uma problemática mais séria, a ser confirmada por outros dados do protocolo. É comum a introdução de outros personagens no relato. Prancha 2 (universal) A estudante no campo — evoca a área das relações familiares, percepção do ambiente e nível de aspiração (favorecido ou limitado pelo ambiente circundante). Por apresentar três personagens pode evocar ainda as rela ções heterossexuais. São freqüentes também as associações referentes aos papéis femininos (maternidade x realização profissional) e ao conflito ra zão x emoção. Eventualmente ocorre a omissão da gravidez da figura feminina em segundo plano. Este estímulo favorece a utilização de afastamento temporal e espacial por representar uma situação bastante diferente da realidade urbana. Se gundo pesquisa realizada pela autora, esta prancha dá margem a respos tas mais estereotipadas. (Vilhena M. Silva, 1983) Prancha 3 (masculina — feminina) Curvado/a sobre o divã (masculina) — trata-se de estímulo de grande carga dramática. Não deve ser o primeiro a ser apresentado, pois o sujeito deve estar aquecido ao se defrontar com o mesmo. Evoca associações referen tes à tristeza, abandono, desespero, depressão, suicídio. Por ser mais pro dutiva que sua equivalente feminina (Murray, 1943) e por apresentar uma personagem de sexo indefinido (Eron, 1948), sugere-se que seja aplicada também em sujeitos do sexo feminino. A jovem na porta (feminina) — abarca também a área do desespero e da culpa. O sexo e a idade são mais definidos, o que inferfere no grau de projeção. A prática tem demonstrado que a problemática evocada é mais superficial que a de sua correspondente masculina. 12 A mulher que retem o homem — envolve a área referente aos conflitos nas relações heterossexuais (abandono, traição, ciúmes) e também aque les referentes ao controle versus impulso (a mulher representandò a ra zão, o controle; o homem representando a ação e a impulsividade). Eventualmente é omitida a mulher ao fundo. O aspecto das persona gens pode favorecer a utilização de placagem, transformando a história em enredo de um filme de Hollywood. Prancha 5 — (universal) A senhora na porta — pode evocar a imagem da mãe-esposa (protetora, vigilante, castradora) (Murray, 1943). Eventualmente são colocados con teúdos referentes a atitudes anti-sociais, ou, ainda, reações frente ao inesperado. É freqüente, nesta prancha, a introdução de personagens. Prancha 6 — (masculina — feminina) O filho que parte (masculina) — refere-se à relação com a figura materna (dependência-independência, abandono-culpa). Mulher surpreendida (feminina) — relação com a figura paterna; em ge ral, a filha surpreendida pelo pai, escondendo algo; a figura masculina pode também ser percebida como parceiro ou possibilidade de contato afetivo-sexual (Vilhena M. Silva, 1983). Prancha 7 — (masculina — feminina) Pai e filho (masculina) — atitude frente à figura paterna; o pai pode ser visto como autoritário ou como fonte de apoio e orientação. Eventual mente, conteúdos homossexuais. Ainda de acordo com Murray, dá indí cios das tendências anti-sociais e da atitude do sujeito frente à terapia. Menina e boneca (feminina) — Evoca a área da relação com a figura ma terna (que pode ser-vista como modelo, apoio ou obstáculo à satisfação das próprias necessidades) (Vilhena M. Silva, 1983). Possibilita ainda a investigação de problemática referente à maternidade, principalmente quando há distorção ou hesitação em relação à boneca. Prancha 8 — (masculina — feminina) A intervenção cirúrgica (masculina) — trata-se de um estímulo descon- Prancha 4 — (universal) 13 certante, na seqüência. A imagem pode ser percebida como um sonho ou o segundo plano representando uma lembrança do passado ou um proje to futuro. Abarca a área da agressividade (hetero ou auto). Mulher pensativa (feminina) — estímulo bastante estático, evoca asso ciações referentes aos conflitos atuais e conteúdos de devaneios. Sua in terpretação pode ser comparada à da prancha 14, que é sensível à busca de soluções. Prancha 9 — (masculina — feminina) Grupo de vagabundos (masculina) — refere-se às atitudes frente ao tra balho e ao ócio, sentimentos quanto à própria capacidade e possibilida des de atuação. Abrange ainda as áreas da relação com o próprio grupo e homossexualidade. Duas mulheres na praia (feminina) — competência feminina, espionagem, culpa, perseguição (Murray, 1943). Pode evocar também a atitude frente ao perigo, ao desconhecido, ao proibido (Vilhena M. Silva, 1983). Este estímulo presta-se ainda à investigação da relação entre ego real e ego ideal, cada uma das figuras representando um aspecto do sujeito. Prancha 10 — (universal) O abraço — segundo Murray (1943), a prancha evoca conflitos do casal e atitude frente à separação. Para Eron (1953) e Vilhena M. Silva (1983), esta prancha favorece a projeção de relações heterossexuais satisfatórias. O conteúdo tem-se mostrado mais ricç quando há distorção de sexo das figuras. Quando não há distorção, é freqüente a ocorrência de relatos sem a presença de conflitos (Vilhena M. Silva, 1983). Prancha 11 — (universal) Paisagem primitiva de pedra — trata-se de estímulo de grande impacto, já que pode ser considerado um dos mais indefinidos de toda a série. A temática mais freqüente refere-se a atitudes frente ao desconhecido, ao perigo, ao instintivo. A presença de elementos primitivos e fantásticos fa vorece uma análise simbólica, que revelaria a atitude do sujeito frente aos conteúdos inconscientes. Por outro lado, pode levar a relatos descritivos mais distanciados (Vilhena M. Silva, 1983). Em casos de aplicações em 2 sessões, não se deve começar pela prancha 11. É preferível modificar-se a seqüência e apresentá-la em terceiro ou quarto lugar na 2? sessão, ou deixá-la como a última da V. aplicação. 14 O hipnotizador (homens) — evoca si,tuações de passividade e impotência. Neste sentido, pode revelar atitude frente a figuras de autoridade, frente à terapia e à própria situação de teste. Tendências homossexuais também podem revelar-se neste estímulo (Murray, 1943). Mulher jovem e velha (mulheres) — relações mãe-filha, crítica ou aceitação do modelo materno. Ansiedade frente ao envelhecimento (Murray, 1943). Bote abandonado (crianças) — segundo Murray, evoca fantasias deside- rativas. Prancha 13 — (adultos — rapazes — meninas) Mulher na cama (adultos) — estímulo dramático, evoca atitudes frente às relações heterossexuais e à sexualidade associada à agressividade. Menino sentado na soleira (rapazes) — segundo Murray, evoca as carên cias, solidão, abandono e expectativas. Embora originariamente destina da a crianças, esta prancha pode ser útil em indivíduos imaturos ou muito defendidos.Menina subindo as escadas (meninas) — em termos de temática mais fre qüente, é semelhante à dos meninos. Prancha 14 — (universal) Homem na janela — os temas mais freqüentes referem-se ao autoquestio- namento, contemplação e aspiração (Vilhena M. Silva, 1983). Se o homem é visto como entrando no quarto, pode haver conteúdos sexuais. Tendên cias suicidas também podem se revelar frente a este estímulo (Murray, 1943). Prancha 15 — (universal) No cemitério — evoca relação com a morte, culpa, castigo. Segundo Mur ray a pessoa morta representa alguém a quem o sujeito dirige sua agressividade. Prancha 16 — (universal) Em branco — uma vez que o estímulo é totalmente branco, o sujeito é le vado a projetar-se totalmente. A temática em geral refere-se às necessida des mais prementes do indivíduo ou será reflexo da relação transferencial na situação de teste (Murray, 1943). Prancha 12 — (homem — mulher — crianças) 15 O acrobata — masculina — segundo Murray, não provoca nenhum tema significativo freqüente. As histórias refletirão mais situações em que o he rói é o centro das atenções. Podem estar associadas a desejos de reconhe cimento, narcisismo, exibicionismo. Reações frente a emergências também podem se revelar. A ponte — feminina — evoca temas de frustração, depressão, suicídio (Murray, 1943). Prancha 18 — (masculina — feminina) Atacado por trás —• masculina — trata-se da única prancha em que a figu ra masculina, explicitamente, sofre uma agressão. A temática referente a vícios ou males físicos também pode ser evocada. Mulher que estrangula — feminina — é a única situação em que a figura feminina é agente do comportamento agressivo. Abarca ainda as relações entre figuras femininas (Murray, 1943). Eventualmente o cunho agressivo é transformado em ajuda, apoio. Prancha 19 — (universal) Cabana na neve — trata-se de estímulo desconcertante e que convida à fan tasia. Conteúdos referentes à necessidade de proteção e amparo frente a um ambiente inóspito são os mais freqüentes. Prancha 20 — (universal) Só sob a luz — traduz um clima de expectativa. Pode-se considerá-la co mo o fecho do protocolo, indicando as principais aflições e perspectivas do sujeito. Neste sentido, é importante que seja a última prancha a ser apresentada. Prancha 17 — (masculina — feminina) 16 Capítulo 3 Compreendendo a situação Para se poder analisar e interpretar o comportamento do indivíduo fren te às pranchas do TAT, faz-se necessário, em primeiro lugar, compreen der em que consiste a situação de aplicação e a tarefa solicitada ao sujeito. Murray (1943), esquematicamente, assim resume o processo de elabo ração da resposta ao TAT: (1?) a prancha dispara uma atividade percep tual que culmina em uma visualização ativa (seletiva) do texto; este pro move (2?) um processo associativo que evoca conteúdos mnêmicos de ex periências vividas e conhecimentos, (3?) fantasias e (4?) uma resposta emocional. Para Vica Shentoub (1983), isto não chega a abranger toda a situação de aplicação nem diferencia a resposta à prancha das associações livres, devaneios e sonhos. Ela entende a aplicação do TAT como uma situação singular, onde mecanismos mentais específicos estão envolvidos e são de sencadeados pela tarefa proposta de se criar uma fantasia a partir dos dados de realidade. A esse conjunto de mecanismos mentais atribui o no me PROCESSO TAT, o qual só pode ser compreendido levando-se em conta características comuns ao material, instruções e à postura do aplicador. Ao analisar estes três elementos que situam o sujeito frente à aplica ção, Shentoub constata que todos propõem o contato com a fantasia, ao mesmo tempo em que fixam os limites da realidade. O material: é relativamente “ objetivo” , na medida em que apresenta dados identificáveis, como o sexo e idade das personagens, algo seme lhante ao o que de Murstein. Trata-se do conteúdo manifesto, cuja apreen são revelaria basicamente o contato com a realidade do indivíduo, sua 17 capacidade de ver o mundo como a maioria das pessoas vê. Revelaria o aspecto adaptativo da resposta, equivalente às respostas F + do Rorschach. Este dado objetivo fixaria os limites da realidade — “ imagine uma histó ria, mas faça-o a partir destes dados” . Por outro lado, as pranchas suge rem um conteúdo latente, associado aos “ conflitos universais” . Para en trar em contato com os mesmos, é necessária uma regressão às represen tações inconscientes, acompanhadas de afetos — “ perceba estes dados, mas crie algo a partir deles” . Estabelece-se assim uma situação de confli to, caracterizada pela oposição entre o princípio do prazer (subjacente ao contato com os fantasmas originais) e o princípio da realidade (subja cente à distinção entre o conteúdo latente evocado e os dados objetivos da prancha). A instrução: ao se solicitar ao sujeito que imagine uma história sobre a prancha, faz-se, novamente, um apelo contraditório ao princípio do prazer e ao da realidade. O indivíduo é convidado a lançar mão do material in consciente, cujas representações são desorganizadas, não verbais (imagens), com tendência à descarga imediata e à repetição das experiências antigas satisfatórias ou insatisfatórias, altamente carregadas de afetos. Caracterizam-se assim os processos primários, modo de funcionamento das estruturas inconscientes, necessários para que o sujeito imagine uma história. Entretanto, seu discurso deverá ser verbal, lógico, coerente, na medida em que é solicitado a relatar a história ao aplicador. O material inconsciente deverá, portanto, ser organizado, submetido aos processos secundários, modo de funcionamento das estruturas conscientes. Como bem aponta Shentoub (1983), “ ...processos primários e secundários são ligados num mesmo movimento: deixar-se levar, mas se controlando, de modo a transformar as representações de coisas em representações de pa lavras; admitir as cargas afetivas, de modo a que o movimento regressivo as libere, mas domando-as para que possam ser captadas pelo pensamen to” (p.l 19). O examinador, o papel do examinador é fundamental na aplicação de qualquer técnica projetiva, e muitos aspectos referentes a sua influência nas respostas do sujeito ainda permanecem sem resposta, como já apon tou Masling (1965). Shentoub destaca a importância da coerência da pos tura do aplicador com toda a situação de aplicação do TAT. Para ela, o aplicador já tem sua representação feita pelo sujeito, antes mesmo de ser percebido. Tal representação tem um caráter maniqueísta: o aplicador é imaginado como totalmente bom ou totalmente mau. A conduta do apli cador deverá traduzir a dualidade de seu papel: ao mesmo tempo em que se apresenta neutro, sem perguntas, sem julgamentos, impõe o material e as instruções. Daí a importância de não se fazer o inquérito, o que pode ser encarado como uma atitude de reprovação e insatisfação (no caso de 18 uma representação negativa), ou como uma atitude de apoio e ajuda (no caso de uma representação positiva). Como aponta Shentoub (1983), “ ...ele é, como o conjunto da situação, portador da regra que incita o desejo e a defesa” (p. 119). y , Verifica-se, assim, que todos os elementos fornecidos ao sujeito dentro da situação de aplicação do TAT configuram uma situação de conflito, onde se observa a oposição entre princípio do prazer e o da realidade; re presentação do objeto e representação pela palavra; desejo e defesa; ou seja, imperativos conscientes e imperativos inconscientes. O modo singu lar pelo qual o indivíduo lida com esta situação permitirá a generalização para qualquer outra situação de conflito. É sob esta ótica que Shentoub realiza a interpretação dos protocolos do TAT. Tendo feito estas considerações, podemos agora esquematizar o pro cesso de elaboração das respostas ao TAT: 1?) o sujeito pqrcebe o conteúdo manifesto das imagens. 2?) as instruções e o conteúdo latente desencadeiam a regressão e as re presentações inconscientes, acompanhadas dosafetos a elas ligados. 3?) este complexo desorganizado de representações — afetos será ou não apreendido ao nível consciente — pré-consciente, para ser sim bolizado verbalmente, de acordo com as possibilidades de integra ção do ego. 4?) o protocolo revelará o equilíbrio (ou não) entre processos primá rios e secundários, os modos e possibilidades de relação entre estes diferentes níveis de funcionamento mental (Shentoub, 1983). 19 Capítulo 4 Bases para a interpretação Para aquele que se inicia na interpretação dos testes projetivos, o pri meiro contato com este tipo de material revela-se, muitas vezes, descon certante. A ausência de parâmetros rígidos e de um sistema de interpreta ção universalmente aceito deixa o estudante inseguro e perplexo. Corman, por exemplo, ao dar as bases para a interpretação do Desenho da Famí lia, refere-se à “ prática e intuição” como requisitos básicos. Outros ins trumentos, como o Psicodiagnóstico de Rorschach e o Teste das Pirâmi des Coloridas de Max Pfister, apresentam uma análise quantitativa que pode dar maior segurança ao aluno. Entretanto, a integração dos dados, levando a uma síntese que de fato demonstre o modo como se revela a personalidade do indivíduo, representa um desafio tão grande quanto aquele proposto pela análise de testes que não apresentam este tipo de tratamento, como é o caso dos Testes Temáticos e Gráficos. Qualquer que seja o instrumento utilizado, a interpretação requer um tipo de raciocínio diferente do habitual. Estamos condicionados a pensar de modo linear, procurando reduzir o todo a partes compreensíveis. A isto chamamos análise. Entretanto, há um segundo momento, o da sínte se, que visa a tornar o “ todo” inteligível. Neste ponto é que se encontra a maior dificuldade do principiante. A síntese de um caso vai além da mera justaposição ou somatória dos dados isoladamente apreendidos. Ca da elemento terá seu significado esclarecido pelo modo como se relaciona com todos os outros dados de que se dispõe. Trata-se de perceber a orga nização dos vários elementos, na forma única que caracteriza o indivíduo como tal. A atomização de um protocolo só terá sentido se não se perder de vista o protocolo como um todo, assim como os dados, de observação, trabalha- 21 se com hipóteses, cuja confirmação se dará a partir da coerência com es ta organização geral. Trata-se, assim, de um raciocínio helicoidal, onde cada nova apreensão amplia, aprofunda e esclarece o funcionamento da quele indivíduo em particular. O pensamento analítico é, desta forma, um auxiliar de uma abordagem holística, global, esta sim, prioritária. Buscam-se padrões de comportamento, ao mesmo tempo em que se está atento a mudanças destes padrões. Podemos chamar este modo de apreen são dos dados de “ raciocínio clínico” . Basicamente ele consiste em ver além do manifesto, do óbvio, do literal, procurando captar a mensagem subjacente ao discurso, à narrativa, ao desenho, ao comportamento observável. Assim, na interpretação de qualquer teste projetivo, o primeiro passo consiste em familiarizar-se com a totalidade das respostas do sujeito. No caso do TAT, deve-se ler o protocolo várias vezes, até que se consiga re ter as várias histórias, a ponto de a interpretação prancha por prancha estar sempre vinculada à totalidade da produção. A fim de se desenvol ver o raciocínio sintético, pode-se escrever a impressão geral causada pe lo protocolo, a qual deverá ser contraposta à interpretação posterior. Neste primeiro momento, identifica-se a linha-mestra do protocolo, os dados que saltam à vista, os padrões que se repetem com maior freqüência. A análise posterior esclarecerá as nuances e desvios destes padrões, como se revelam e outras possibilidades de atuação do indivíduo. Tomemos agora, como exemplo, uma seqüência de três pranchas, pa ra exercitar esta apreensão global. Caso — 4 sujeito: sexo feminino idade: 33 anos Prancha 1 T.L. — 20 segundos T.T. — 2 minutos “ Bom, é... o menino perdeu a mãe, que tocava violino, e agora tá olhando o violino, recordando a imagem da mãe através do violino. Depois disso alguém bate na porta para chamar para brin car e ele vai.” Prancha 2 T.L. — 10 segundos T.T. — 4 minutos “ A moça é uma professora e tá chegando para dar aula numa escola rural. O homem tá arando o campo e a moça tá esperan do um filho (...) A professora, depois de andar muitos quilôme- 22 tros de charrete, chega nesse lugar onde tem a escola, as crianças espe rando, é de manhã. (...) A moça grávida olhando o sol, nem percebeu a moça chegando. Está tão concentrada no sol que não percebe o que es tá à sua volta. (...) O cara também não percebeu,, ela passa como sempre passou, ninguém percebe.” j Prancha 3 HR T.L. — 49 segundos T.T. — 3 minutos “ O que tem aqui? (...) Parece que ela perdeu alguma coisa e tava procurando pela casa essa coisa que tava perdida e o que ela achou não sabe o que é. Sente-se cansada e senta para descansar. Antes ela esteve procurando na cozinha, pelo quarto, só faltava a sala e na sala era o lugar, que ela menos gosta de ficar. (...) Parece que isso que ela achou incomoda muito a ela, traz uma recordação que ela não gosta, não sei o que seja.” Nas três histórias observa-se a insatisfação da personagem central. O clima é de tristeza, recordações de algo que foi perdido. O contato com a tristeza é inevitável (procura algo que quer e encontra o que não quer — prancha 3), é preciso que algo externo ocorra para interromper este con tato (alguém que bate à porta na prancha 1), mas nem sempre aqueles que a cercam percebem isso (prancha 2). As personagens ficam passivas, não encontram saídas por si mesmas. Assim, o que caracteriza este indivíduo, a partir desta pequena amostra de suas histórias, é a insatisfação no plano afetivo, a sensação de perda, sem expectativa de vir a ser gratificada neste plano, pois sente que os ou tros não lhe dão atenção. Podemos também verificar como ela entra em contato com seus con teúdos: na prancha 1, uma resposta não-clichê, portanto mais pessoal, o conteúdo de tristeza aparece de imediato, a história flui após um tempo de latência médio. Na prancha 2 o tempo é mais curto, mas o relato apre senta pausas, percebe-se que está mais difícil contar a história. O relato inicia-se de forma descritiva, as personagens identificadas pelas suas fun ções (professora, trabalhador, gestante). Apenas no final o conteúdo emo cional aparece. Isto indica o aumento das defesas, mas que acabam por permitir a emergência do conflito. Já na prancha 3 o tempo de latência aumenta significativamente. Segue-se um comentário que expressa a difi culdade do sujeito frente à prancha, cujo conteúdo de tristeza é tão óbvio. Novamente o relato é truncado por pausas e por fim seu desagrado se ex pressa, seguindo o mesmo padrão da prancha 2, além de mostrar o dispên dio de energia para a manutenção das defesas (detalhes indefinidos, atri buição de cansaço à personagem). 23 Percebe-se assim que está se tornando penoso o confrontamento com seus conteúdos mobilizados pelo Teste. A disposição inicial e a resposta espontânea já não se observam na se gunda e terceira pranchas, onde aumentam as pausas e o relato se torna mais vago, inespecífico (prancha 3). Por esta rápida discussão, podemos verificar os dois modos de se abor dar a produção do sujeito. Um enfoca o que o sujeito contou, a trama montada, sua evolução, as reações das personagens. Trata-se da análise de conteúdo. A outra abor dagem volta-se ao como o sujeito estruturou seu relato, como desincumbiu- se da tarefa. Trata-se da análise formal. Estas duas análises podem ainda se complementadas e enriquecidas pela análise de seqüência, que apreen de a disposição do indivíduo de prancha para prancha, seu movimento de aproximação e distanciamento ao longo do protocolo. Consideremos, detalhadamente, cada uma destas abordagens. 4.1. Análise de conteúdo. Como vimos acima, a análise de conteúdoenfoca o tema levantado pe lo indivíduo e o modo como desenvolve o mesmo. Tal enfoque basea-se na hipótese de que o indivíduo identifica-se com uma (eventualmente mais de uma) personagem, atribuindo a esta suas próprias características e ne cessidades, além de configurar a situação e demais personagens do modo como configura sua percepção do ambiente e relação com o mesmo. A ex ploração do desenvolvimento dos temas possibilita, assim, a investigação da dinâmica da personalidade do testando em suas várias dimensões: co mo se percebe, suas principais necessidades e conflitos, como percebe o ambiente que o cerca, perspectivas de resolução de suas dificuldades. Deve-se ter em mente que os dados obtidos através desta análise referem- se ao modo pessoal como o indivíduo vê a si e aos outros. Não é, necessa riamente, um retrato da realidade objetiva, mas sim da subjetiva. Esta abordagem, a mais tradicional em termos de interpretação do TAT, foi desenvolvida por Murray, Bellak, Tomkins, Stein, Henry e outros (Kor- chin, 1975). Para se proceder à interpretação do conteúdo, pode-se usar um esque ma interpretativo que auxilia a decodificação da mensagem, o acesso ao conteúdo latente a partir do manifesto. Tal esquema, por um lado, auxilia a apreensão dos dados mais significativo de cada história, mas pode pre judicar a apreensão global por atomizar as respostas. Novamente, cabe recomendar a necessidade de se ter em mente, sempre, o protocolo como um todo, a fim de que não se perca o indivíduo real que se procura compreender. 24 ESQUEMA DE INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DE CONTEÚDO (Bellak, 1954) 1. TEMA: A análise do tema consiste em identificar a essência do relato, a mensa gem fundamental subjacente ao discurso. Após aleitura exaustiva do pro tocolo, a identificação do tema costuma ser o primeiro passo da análise prancha por prancha. Eventualmente pode-se sentir dificuldades nesta apreensão. Nestes casos, sugere-se que esta etapa seja a última na inter pretação do conteúdo da prancha, favorecida er,tão pela análise dos de mais elementos da história. A investigação do tema inicia-se por um resumo do conteúdo manifes to, numa síntese da história propriamente dita (nível descritivo). O passo seguinte consiste em ampliar ou generalizar a mensagem do re lato, não mais em termos do que é especificamente demonstrado pela pran cha, mas sim já se visualizando o conteúdo lateme. Dito de outra forma, a situação concreta proposta pela prancha deve ser considerada como um exemplo de uma categoria mais ampla, a qual se procura, aqui, identifi car. Tal nível, chamado interpretativo, pode ser eaunciado através da fór mula “ se...então...” Uma vez identificado o nível interpretativo, busca-se o nível diagnósti co : o conteúdo latente e o modo como o indivíduo o elabora são explicita dos em termos psicológicos, com base num referencial teórico. Pode-se ainda verificar o nível simbólico, o que implica num conheci mento profundo da psicanálise. A prancha 11 e eventualmente a 16 seriam as que mais favorecem este tipo de interpretação. Quando se faz a análise do tema, o objetivo é chegar-se ao nível diag nóstico. Os níveis anteriores favorecem a aproximação ao entendimento da dinâmica revelada pelo sujeito, não tendo, em si, qualquer valor maior. Tomemos um exemplo para praticar a identificação dos três níveis iniciais. Caso — 5 Sujeito: sexo masculino idade : 26 anos Prancha 13 — HF T.L. — 30 segundos T.T. — 4 minutos “ Um médico que foi chamado às pressas para atender uma moça que não estava passando muito bem. Fez o possível, deu tudo de si, para que tentasse alguma coisa que fazesse (sic) que ela voltas se à vida. Mas ela já estava caminhando para a outra vida. E com o esforço que o médico teve, tentou de toda maneira possível trazê- 25 la na nossa vida, mas ele chegou (...) ele (...) chegou (...) um pouco atrasa do e de todo esforço que ele fez de nada adiantou. E com o esforço que ele teve ele ficou pensando, analisando o que poderia ter feito para trazê- la na nossa vida.” Nível descritivo — Um médico é chamado para atender uma moça, mas chega atrasado e por mais que se esforce não consegue salvá-la; fica pen sando sobre o que poderia ter feito. Nível interpretativo — A situação, em termos mais gerais, é a de alguém que é chamado para auxiliar, prestar socorro. Entretanto, não consegue aten der ao que lhe é solicitado, fracassando. Procura refletir sobre o que ocorreu: se sou chamado, atendo se preciso ajudar (ou realizar) não consigo, fracasso se fracasso procuro rever o que fiz Nível diagnóstico — Embora necessite realizar-se e corresponder às ex pectativas do ambiente, o sujeito sente-se incapaz de uma atuação eficiente. Na análise do tema, deve-se ainda verificar se se trata de uma história clichê ou não-clichê. No exemplo acima, trata-se de história não-clichê: a norma indica como mais freqüentes os temas referentes às relações hete rossexuais e à agressividade, mas o sujeito aborda o tema da realização, capacidade de atuação. Podemos, nesse momento (e na ausência do res tante do protocolo) levantar as seguintes hipóteses: 1 ?) há conflitos na área do relacionamento heterossexual e/ou agressi vidade que não estão sendo elaborados devido à atuação de mecanismos de defesa. 2?) a preocupação com a própria eficiência e realização é tão premente que se sobrepõe a outras áreas da vida do indíviduo (ficando o relaciona mento heterossexual em segundo plano). A elucidação destas hipóteses só será possível através das evidências que surgirem ao longo do protocolo. 2. IDENTIFICAÇÃO DO HERÓI: O herói é a personagem principal, aquela em torno da qual gira a tra ma, aquela sob cujo ponto de vista a história é narrada. Em geral (mas não necessariamente) é a personagem que mais se aproxima do sujeito em termos de sexo e idade. E considerada a figura de identificação, aquela na qual o sujeito projeta suas próprias características, reais ou ideais. Assim, deve-se, neste momento, distinguir as características do herói, não só através da expressão direta das mesmas pelo sujeito como também aquelas que transparecem através do desempenho do herói na história. No exemplo citado acima temos: herói — adulto, sexo masculino, com formação acadêmica (médico), disponível para o ambiente (atende a cha mado), esforçado (observe o número de vezes que aparece a palavra “ es 26 forço” ), ineficiente (a moça morre), reflexivo e autocrítico (ele pensa so bre o que fez e procura analisar). 3. NECESSIDADES DO HERÓI: A identificação das necessidades se faz através das declarações explíci tas do sujeito (“ ...ele quer...” , “ ela procura...” , “ eles desejam...” ), ou a partir do comportamento do herói na história. As necessidades expressariam assim aquilo que o indivíduo busca sa tisfazer, o impulso básico que determina suas ações. Continuando com o mesmo exemplo, temos: — necessidade de corresponder às demandas do ambiente (o herói aten de ao chamado). — necessidade de ser eficiente (o herói esforça-se em salvar a paciente). — necessidade de ser melhor, se questionar (o herói revê seu procedi mento, analisa). Deve-se considerar que muitas necessidades expressas no TAT podem pertencer estritamente ao domínio da fantasia. Várias críticas referentes ao TAT questionam justamente esta relação entre o que é expresso no teste e o comportamento real do indivíduo. Novamente deve-se ter em vista o protocolo como um todo, verificando-se quais necessidades apa recem com maior freqüência, sob que condições. Deve-se estar atento ainda àquelas que estão absolutamente ausentes, o que pode significar um con trole consciente ou, ainda, repressão. Dados de entrevista, de observação e demais evidências do protocolo devem formar um todo coerente que norteará a decisão de quais necessidades realmente tendem a ser expres sas no comportamento do indivíduo, quais ele não se permite perceber e quais são gratificadas na fantasia. 4. FIGURAS, OBJETOSOU CIRCUNSTÂNCIAS INTRODUZIDAS: A introdução de elementos ausentes na prancha pode indicar uma ne cessidade mais premente do indivíduo, principalmente se isto se dá com uma certa freqüência no protocolo. Se o sujeito introduz situações de alimentação pode-se pensar em ne cessidade de gratificação oral; se a figura da mãe aparece mesmo quando não há personagens femininas, pode-se pensar em dependência. Parte-se do pressuposto de que tais introduções estão a serviço de uma necessida de, cuja identificação deverá ser confirmada pelo restante do protocolo. O mesmo sujeito apresentou na prancha 2 o seguinte relato: T.L. — 15 segundos T.T. — 5 minutos “ Bom., .aqui tem um homem, um camponês, trabalhando na la- 27 voura. Trabalhando ao lado de um cavalo que puxava um arado. Ao lado havia uma senhora, uma mulher observando o trabalho do homem e olhando, admirando a natureza... que o terreno da região é todo acidentado. Então ele concluiu que só com a ajuda do animal poderia fazer com que o trabalho fosse mais fácil... E em primeiro plano aparece uma jovem com os livros, vindo ou voltando — voltando da escola, onde ela tinha aprendido portu guês, matemática e observava alguma coisa. Observava uma ou tra paisagem. Tava muito pensativa... pensava em alguma coisa que ela tinha aprendido na escola... ou as tarefas que ela tinha que fazer em casa... algum problema que ela não conseguiu re solver na classe e a professora falou que ela tentasse novamen te ... chegou em casa e tentou resolver o problema que a professo ra tinha ajudado.” Observa-se nesta prancha a introdução da figura da professora, como elemento de orientação e ajuda. A serviço de que ocorreria esta introdu ção? Nota-se que as personagens são estáticas ou precisam de ajuda para empreender a ação: o animal que auxilia o camponês, a professora que ajuda e orienta a aluna. Pode-se pensar, então, na necessidade constante de se sentir auxiliado pelo ambiente. O relato da prancha 13 corrobora es ta hipótese: quando solicitado a agir por si, fracassa. 5. FIGURAS, OBJETOS E CIRCUNSTÂNCIAS OMITIDAS OU DISTORCIDAS: A omissão de elementos significativos da prancha pode ser interpreta da como a necessidade de não entrar em contato com conteúdos a eles as sociados. A distorção pode ter a mesma interpretação ou ainda sugerir a predominância de outros impulsos que acabam por comprometer a sensi bilidade à realidade objetiva. Tais hipóteses devem, logicamente, ser con firmadas a partir de outras evidências. No caso 5, que estamos acompanhando, verificamos a omissão de qual quer alusão à sexualidade na prancha 13; da mesma forma, o conteúdo agressivo é transformado em tentativa de auxílio. Pode-se pensar, num pri meiro momento, em repressão da sexualidade ou negação da agressivida de. Pode-se pensar também que a preocupação com a própria realização e eficiência seja tão premente que não deixa espaço para a exploração de outros aspectos pessoais ou contamine outras áreas de atuação, no caso, o desempenho viril. 6. CONCEPÇÃO DO AMBIENTE: O modo como o sujeito configura o ambiente em seus relatos é uma 28 complexa mistura de autopercepção e distorção aperceptiva de estímulos, segundo Rabin (1960). Considera-se como ambiente todo o contexto que envolve o herói, incluindo-se as demais personagens evocadas. No nosso caso vemos que, na prancha 2, este ambiente é configurado como difícil, que exige esforço (o que ocorre também na prancha 13), mas que também oferece apoio e ajuda. 7. FIGURAS.PERCEBIDAS COMO... REAÇÃO DO HERÓI Neste tópico verificamos, mais detalhadamente, como o sujeito percebe e se relaciona com outros indivíduos: pais, amigos, rivais, companheiros etc. Retomando nosso sujeito, verificamos que na prancha 2 não foram ex plorados os vínculos familiares. Na prancha 13 a mulher mal é percebida enquanto tal, reduzindo-se à condição de “ paciente” . Na prancha 7 RH temos um relato onde aparece a figura paterna: T.L. — 10 segundos T.T. — 5 min. 25 seg. “ Um pai e um filho. Estavam conversando, dialogando sobre... um pro blema que o filho havia passado e tava pedindo a opinião do pai... que ele não sabia resolver. E, como o pai tem um pouco mais de experiência, no tipo de problema que o filho vai passar, tentava aconselhá-lo da me lhor maneira possível. E esse problema que o filho tava passando era so bre a dificuldade que ele encontrava no trabalho dele. Então...bom... com a experiência do pai ele mostrou o caminho que ele, o filho, poderia resol ver... mais fácil. O filho, mais preocupado e o pai... mais... calmo diante da situação... indicando alguma solução.” Como o pai é percebido? Como fonte de apoio e orientação. Como o filho reage? Aceitando, provavelmente. Verifica-se que a relação com a figura paterna se dá nos mesmos moldes que com o ambiente em geral, como já vimos acima. A esta altura já temos maior segurança em afirmar que as relações se dão de modo indiferenciado, voltadas predominante mente para a possibilidade de obter auxílio, seja de quem for. 8. CONFLITOS SIGNIFICATIVOS: Os conflitos referem-se a desejos incompatíveis e concomitantes, reve lados através das necessidades do herci, ou a impulsos que se opõem ao superego (agressão, desejo sexual, impulsos anti-sociais de uma maneira geral) ou ao ambiente. É interessante identificar não só o conflito em si, como também as defesas que o indivíduo utiliza contra a ansiedade por ele provocada. Nosso sujeito apresenta, basicamenle, o conflito entre o desejo de rea- 29 lização e o sentimento de incapacidade, ou seja, há uma oposição entre o que ele deseja ser e o modo como sente que é. Que defesas utiliza na co locação deste conflito? Para responder a esta questão, temos agora que mudar nosso referencial. Já não podemos falar do herói, mas sim do su jeito, do modo como articula a trama de seu relato. Retomemos então as pranchas que analisamos: na prancha 2 — o terreno é todo acidentado, por isso o camponês preci sa de auxílio do cavalo — o sentimento de incapacidade não é tão eviden te. Há uma justificativa lógica para as dificuldades da personagem. Identifica-se a presença da racionalização. — a aluna não conseguiu realizar os problemas em classe, vai tentar de novo — as dificuldades tornam-se mais explícitas, o sujeito não escla rece se o herói vai conseguir ou não, o conflito é mais evidente. Portanto, não há defesas significativas. na prancha 7 — o filho tem (ou terá) problemas, mas uma pessoa expe riente saberia resolvê-los — novamente as dificuldades têm um motivo: a inexperiência. O mecanismo da racionalização aparece outra vez. na prancha 13 — quando o médico chega, ela já está passando para a outra vida. Ele fica pensando sobre o que poderia ter feito — a racionali zação é utilizada (já era tarde demais...), porém, sem muita eficiência, já que há um questionamento da atuação do herói, ao final do relato. 9. ANSIEDADE: As ansiedades referem-se ao que está por trás do conflito, aquilo de que realmente o sujeito se defende, o motivo último da configuração do conflito. No nosso caso, o que incomoda o sujeito? O que ele gostaria de não perceber, não tomar consciência? O que ele está tentando preservar? A resposta é clara: sua auto-imagem. Deseja manter o amor próprio, não se sentir tão ineficiente e inábil frente às demandas da realidade. Por isso as justificativas, as situações em aberto. Tais defesas, entretanto, não são muito eficientes, já que o fracasso e a dependência de elementos exter nos permeiam todo o protocolo. As ansiedades mais freqüentemente observadas são as relativas a: — auto-imagem, própria capacidade — sexualidade — abandono, perda do objeto de amor, solidão — depressão, tristeza, desespero — punição, desaprovação — males ou danos físicos — privação — destruição, morte, loucura — impotência, passividade, submissão — agressividade, conteúdos internos de um modo geral — perdas 30 As defesas mais facilmente apreendidas no TAT são: — racionalização —evidencia-sepelo uso de argumento lógico, que pode ser convincente ou não, para justificar uma atitude do herói ou uma ação por ele sofrida, como vimos no exemplo acima. — negação — manifesta-se através da negação do conteúdo ansiógeno. Exemplo: Pr. 3RH — “ Ele não está triste, não, não poderia estar...” — anulação — revela-se pela substituição da história por outra. Exemplo: Prancha 13 HF — “ Ele matou sua mulher..., não, ele está cansado, mas precisa ir trabalhar...” — isolamento — segundo Haworth (apudMontagna, 1988), apresenta-se sob a forma de uma atitude displicente do sujeito, ausência de resposta ou comentários sobre a prancha. Pode ainda evidenciar-se pela ausência de emoção no relato. Exemplo: Prancha 18 MF — “ ... não me diz nada... duas mulheres, talvez, uma segurando a outra... só.” —formação reativa — em todo o protocolo, determinado conteúdo espe rado apresenta-se sob a forma de seu oposto. Por exemplo, todas as pran chas que sugerem agressividade apresentam conteúdos de apoio, ajuda. —projeção — determinados conteúdos se apresentam apenas no compor tamento das personagens secundárias e não no do herói. É freqüente a in trodução de personagens que sirvam de receptáculo a estes conteúdos. Exemplo: Prancha 13 HF — “ ...ele está desesperado... chegou em casa e sua mulher estava morta... alguém a matou, um ladrão talvez...” — repressão — é o mais eficiente dos mecanismos de defesa. Assim sendo, manifesta-se justamente pela ausência de qualquer referência ao conteúdo ansiógeno, ao longo de todo o protocolo. Exemplo: ausência de qualquer conteúdo referente à agressividade, sexualidade etc. — regressão — o comportamento do herói é inadequado à faixa etária a ele atribuída ou o próprio discurso do sujeito encontra-se infantilizado. Exemplo: sujeito do sexo masculino, 27 anos: prancha 6 RH — “ ...coita dinho dele... ‘mamãe, eu não agüento mais, assim não dá’... ‘calma, meu filho, tudo vai dar certo’... ele está tristinho, mesmo...” >'). ADEQUAÇÃO DO SUPEREGO Analisamos aqui a relação entre a manifestação do impulso e as conse qüências desta manifestação para o herói. Verifica-se, em princípio, se o “ castigo” é proporcional ao “ crime” . Um superego rígido levará a rela tos em que o herói é punido de forma drástica e definitiva pelo menor des lize. Um superego atuante leva a uma punição compatível com a ofensa. O flexível permite certos deslizes sem conseqüências maiores e o frágil não apresenta qualquer punição aos atos anti-sociais do herói. O rigor do su perego pode evidenciar-se ainda pela própria censura que o sujeito utiliza frente a determinados conteúdos. Exemplos: 31 prancha 6 R H — “ Um filho se despedindo da mãe, vai cuidar da própria vida... Agora que ela mais precisa dele... ele vai embora... mas vai que brar a cara, vai acabar sendo assassinado ou atropelado ao sair de casa...” — Rígido. — “ Um rapaz que está partindo... ele deseja ir embora mas tem pena de deixar a mãe só... mas é importante que parta... ele vai e pode, tam bém, algum dia, sentir-se só” . — Atuante. — “ Ele arranjou um emprego em outra cidade e está dando a notícia para a mãe. Os dois estão sofrendo... mas é importante para ele, cuidar da própria vida. Ele vai embora” — Flexível. —“ A mãe está pedindo para o filho não partir, pois ela está doente. Mas ele não ouve, já se imagina bem longe dali. Vai se dar bem, ficar rico e famoso.” — Frágil. 11. INTEGRAÇÃO DO EGO: Neste ponto, verificamos o quanto o sujeito está consciente de seus con teúdos e sua capacidade para elaborá-los. Em termos gerais, considera-se aqui a qualidade do relato, a riqueza das histórias, a interferência da an siedade, o uso e a eficiência das defesas e os desenlaces das tramas criadas pelo sujeito. Como vemos, são, basicamente dados de análise formal, que serão vistos mais detalhadamente na abordagem de Vica Shentoub. A grosso modo, entretanto, podemos considerar: boa integração de ego: o indivíduo consegue manter um bom nível de vocabulário e de riqueza de conteúdo das histórias; há um uso adequado de defesas, que não impedem a emergência de aspectos mais pessoais; os desenlaces são realistas, apresentando soluções adequadas. Caso 6 Exemplo: sujeito: sexo masculino, 21 anos Prancha 7 RH T.L. — 35 segundos T.T. — 3 min. 30 segundos ‘ ‘E agora? Dois homens... um homem e talvez seu pai ou um parente mais velho, seu pai... Ele parece um pouco reprimido, o pai dele parece um pouco com idéias fixas do futuro do filho, querendo tudo de bom para o filho, mas do modo dele, e o filho parece desgostoso com a idéia do pai, queren do fugir de tudo isto, mas não sabendo exatamente por onde... Antes eles eram um pai e um filho muito amigos, ele até um pouco mimado pelo pai, tudo que o pai fazia ele gostava, aquilo que todo pai é para o filho, aquele herói de sempre, o pai satisfazendo todos os seus gostos, tavam interliga dos os gostos deles, tentando educar da forma que ele acha certo, o filho vai crescendo, vendo o mundo como ele é, conhecendo novas pessoas, 32 idéias, mas parece que o pai não está muito disposto a compartilhar as no vas idéias do filho... Depois daqui, desta cena, parece que o filho e o pai não vão mais ser os mesmos, não vai mais ter a afinidade de um tempo atrás, vai começar a aparecer uma certa barreira entre eles, ele vai chegar até a ter uma certa dificuldade em contar as coisas dele, não vão conseguir ter o diálogo que tinha. Bom, o filho tá meio desapontado, vai ver que é impossível harmonizar a vida dele com as idéias do pai. E o pai, talvez pela idade, por ter acostumado tanto com aquela criança, o filho dele que vivia tão submisso a seus gostos, não está se preocupando com isso, achando que é uma bobeira que não vai levar a nada.” Observa-se, neste caso, que o sujeito teve um tempo de latência alto, mas seu relato flui em seguida. A problemática é colocada claramente, o que indica que não há uso excessivo de defesas sendo a ansiedade contro lada. O testando demonstra que está elaborando a questão de seu próprio crescimento, de sua afirmação enquanto indivíduo. Embora o desenlace esteja em aberto, indicando que o conflito não está resolvido, o caminho para a solução está já insinuado. O conteúdo é rico e a história relativa mente estruturada. Pode-se, então, dizer que há uma boa integração de ego. Razoável integração de ego: manifesta-se em indivíduos que permitem o aparecimento do conflito, mas sem que haja uma elaboração, quer pelo aumento das defesas, quer pela superficialidade com que lida com a pro blemática (desenlaces irreais fantásticos ou dependentes de elementos externos). O caso que acompanhamos ao longo dos itens anteriores (caso 5) de monstra esta última possibilidade. Suas defesas não são eficientes a ponto de impedir a emergência do conflito. Entretanto, a consciência de suas di ficuldades não leva o testando à busca de soluções. Ao contrário, justifica sua passividade e dependência do ambiente; não há perspectivas para uma saída de cresciir.ento e atuação. O seguinte relato indica a ausência de elaboração pelo aumento das defesas: Caso — 7 Sujeito: sexo masculino, 32 anos Prancha 5: “ Bem, essa é uma mulher que ouviu um barulho na sala. Ela estava sozinha em casa... e... bem, ficou muito assustada, apar valhada mesmo... perplexa. Poderia ser um ladrão... alguém que entrasse na sala sem permissão... então ela vai ver, na sa la... e encontra... ahn... a luz acesa... era só a luz acesa, que devia ter estalado, coisa assim.” Percebe-se que o sujeito chega a explorar a temática do medo, da inva são, do inesperado. Entretanto a história se empobrece, o conteúdo se es vazia, retornando ao trivial. A temática que gerava ansiedade foi assim afastada, inviabilizando a elaboração. 33 Fraca integração de ego: nestes casos, a emergência do conflito é impe dida através do uso intenso de mecanismos de defesa. O relato, em geral, é pobre e descritivo, ou hesitante e contraditório. O indivíduo reluta em entrar em
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