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TAT aplicação e interpretação do teste de apercepção temática - SILVA, M C V M

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TAT
Aplicação e Interpretação do 
Teste de Apercepção Temática
Dados de Catalogação na Publicação iCIP) Internacional 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Silva, M aria Cecília de Vilhena Moraes.
T A T : aplicação e interpretação do teste de apercepção tém ática / 
M aria Cecília de Vilhena Moraes S ilva. — São Paulo: EPU, 1989 . — 
{Psicologia)
Bibliografia.
ISBN 8 5 -1 2 -6 4 8 1 0 -4
1. Ape icepção tem ática — Testes I. Título. II. Títu lo : A plicação e 
interpre tação do teste de apercepção tem ática. III. Série.
8 9 -0 8 2 7 C D D -15 5 .2 8 4 4
índices para catálogo sistemático;
1. A percepção tem ática : Testes : Psicologia 1 55 .2844
2. TA T : Teste de apercepção tem ática : Psicologia 1 55 .2 8 4 4
Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva
TAT
Aplicação e Interpretação do 
Teste de Apercepção Temática
Sobre a autora
Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva é professora assistente da Faculdade de Psicologia 
da Pontifícia Universidade Católica de Sâo Paulo, mestre e doutoranda em Psicologia Clíni­
ca pela PUC-SP. Entre as disciplinas que leciona encontram-se as de Técnicas Projetivas Te­
máticas e Técnicas Projetivas Gráficas. Este trabalho foi desenvolvido com base em sua ex­
periência acadêmica e clínica.
Capa: Luis Díaz
Ia reimpressão
ISBN 85-12-648 1 0-4
© E.P.U. - Editora Pedagógica e U niversitária Ltda., São Paulo, 1989.
Todos os direitos reservados. A reprodução desta obra, no todo ou em parte, por qualquer 
m eio, sem autorização expressa e por escrito da Editora, sujeitará o infrator, nos term os 
da lei ns 6.895, de 17-12-1980, à penalidade prevista nos artigos 184 e 186 do Código 
Penal, a saber: reclusão de um a quatro anos.
E. P. U. - Telefone (011) 829-6077 - Fax. (011) 820-5803 
E-M ail: vendas@ epu.com .br Site na Internet: http://w w w .epu.com .br 
R ua Joaquim Floriano, 72 - 6° andar - conjunto 65/68 
04534-000 São Paulo - SP 
Impresso no B rasil P rin ted in Brazil
mailto:vendas@epu.com.br
http://www.epu.com.br
Aos meus alunos
Sumário
Prefácio .................................................................................................. IX
1. Introdução ...................................................................................... 1
1.1 . As Técnicas Projetivas.............................................................. 1
1.2. TAT — Histórico e Fundamentos Teóricos......................... 3
2. Conhecendo o instrumento .......................................................... 5
2.1. O M aterial.................................................................................. 5
2.2. A Aplicação ................................................................................ 7
2 . 2 . 1 . As instruções segundo M urray ................................ 7
2.2.2. As instruções segundo Vica Shentoub.................... 7
2.2.3. O inquérito segundo M urray .................................... 7
2.2.4. O inquérito segundo Vica Shentoub....................... 8
2.2.5. O Registro ................................................................... 8
2.2.6. A Observação............................................................. 8
2.2.7. A escolha das pranchas............................................ 9
2.3. Normas Aperceptivas e Temáticas.......................................... 9
2.4. Comentários sobre as Pranchas............................................... 11
3. Compreendendo a situação............................................................ 17
4. Bases para a interpretação......... ................................................... 21
VII
4.1. Análise de C onteúdo................................................................. 24
4.2. Análise F o rm al.......................................................................... 34
4.3. Análise de Seqüência................................................................. 44
5. Considerações finais...................................................................... 49
5.1. A Elaboração da Síntese.......................................................... 49
5.2. O TAT na Prática Clínica........................................................ 50
Anexe» 1 — “ Folha de Sistematização” de Vica Shentoub........... 51
Bibliografia .................................................................. .......................... 57
VIII
Prefácio
Este livro destina-se ao aluno de Psicologia que deseja entrar em conta­
to com um dos instrumentos fundamentais para a investigação da perso­
nalidade, o Teste de Apercepção Temática de Henry Murray.
Foi elaborado de modo a possibilitar que o leitor vá formulando suas 
próprias hipóteses à medida que amplia a interpretação de relatos reais, 
passo a passo, além de procurar sistematizar as principais formas de se abor­
dar o protocolo: aquela mais voltada para o conteúdo do relato, consistin­
do na análise mais tradicional, e aquela que enfatiza o como o sujeito rea­
liza a tarefa, modo de análise mais recentemente desenvolvido por Vica 
Shentoub.
Deve-se considerar que o TAT deu origem a vários outros instrumentos 
de investigação da personalidade. O domínio da técnica de interpretação 
será de grande auxílio, não só para estes instrumentos de natureza temáti­
ca, como também para aqueles que utilizam inquérito (como por exemplo 
o HTP, o desenho livre) e, ainda, para outros recursos de que dispõe o psi­
cólogo, tais como a observação lúdica, a entrevista, a interpretação de so­
nhos, o próprio discurso em situações de terapia. Isto porque em todos es­
tes casos supõe-se a apreensão de um conteúdo “latente”, mais profundo, 
por trás do conteúdo “manifesto”, o comportamento observável, seja ele 
verbal ou não verbal. A utilização do material eliciado por pranchas pa­
dronizadas e sua integração com os dados do comportamento do sujeito 
e da forma como este se desincumbe da tarefa proposta pelo teste, possibi­
litam ao aluno “ancorar” suas interpretações em parâmetros mais seguros. 
A prática em tal procedimento lhe proporcionará a base para o desenvolvi­
mento do raciocínio clínico, subjacente às várias situações em que se pro­
cura compreender um indivíduo em níveis mais profundos.
IX
À medida que for avançando na leitura, o leitor terá acesso não só a 
informações práticas sobre o uso do teste como também à fundamenta­
ção teórica que dá base à interpretação. Mais do que um manual que ensi­
ne o “como fazer”, procurou-se possibilitar a reflexão e o exercício de um 
modo particular de se encarar a produção de um indivíduo dentro da si­
tuação de investigação da personalidade.
Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva
X
Capítulo 1
Introdução
1.1. As técnicas projetivas
Dentre as técnicas de que dispõe o psicólogo para a investigação da 
personalidade, sobressaem-se os métodos projetivos como aqueles que pos­
sibilitam uma apreensão profunda de conteúdos dos quais nem sempre 
o sujeito tem consciência.
A expressão “ métodos projetivos” foi criada por L.K. Frank, em 1939, 
para designar um conjunto de instrumentos que procurava abordar o in­
divíduo naquilo que ele apresenta de singular. Enfatiza os aspectos quali­
tativos e psicológicos, em oposição à tradição psicométrica, a qual visava 
uma classificação com procedimentos basicamente quantitativos e nor­
mativos. A noção de “ projeção” , quando se fala de técnicas projetivas, 
não se refere ao mecanismo de defesa, mas sim a um processo natural, 
comum a todos os indivíduos. Como aponta Bell (apudVan Kolck, 1981), 
trata-se de uma projeção interpretativa.
Neste sentido, a definição proposta por Laplanche-Pontalis (1974) es­
clarece este conceito: “ o sujeito percebe o meio ambiente e responde ao 
mesmo em função de seus próprios interesses, atitudes, hábitos, estados 
afetivos duradouros ou momentâneos, esperanças, desejos etc.” (p. 318). 
Em outras palavras, o indivíduo estrutura ou interpreta a sua realidade 
de acordo com suas próprias características. Há uma interação dinâmica 
entre os objetos do mundo externo e o mundo internoda pessoa, criando-se 
uma terceira realidade. A esta percepção dinamicamente significativa da 
realidade Bellak (1947) propõe o termo “ apercepção” .
De acordo com esta definição, a apreensão dos dados do mundo exter­
no terá sempre um componente subjetivo. A percepção que tenho do
1
papel onde escrevo estas linhas será diferente daquela do papel em que de­
senho, ou daquela em que calculo as despesas mensais ou escrevo uma car­
ta de amor. Modificam-se as condições internas, o contexto em que me di­
rijo ao objeto. Entretanto, reconheço sempre a existência de uma folha de 
papel. Se estou faminta e ando pelas ruas da cidade, estarei mais atenta 
às possibilidades de saciar minha fome: placas de lanchonete, carrinhos 
de cachorro-quente ou sorvetes facilmente captarão minha atenção. Even­
tualmente posso até mesmo confundir a placa de um banco com a de um 
restaurante. Observa-se assim que as necessidades individuais e do momento 
direcionam a atenção para as oportunidades de gratificação e minha per­
cepção do ambiente poderá até mesmo “ falsear” a realidade, criando fan­
tasticamente uma possibilidade de gratificação que, na verdade, não existe.
Pode-se dizer, então, que existe um continuum no que tange à percep­
ção que iria, teoricamente, desde uma percepção totalmente objetiva até 
a distorção aperceptiva extrema, que implicaria uma perda de contato com 
a realidade.
t APERCEPÇÃO t 
percepção perda de contato 
“ objetiva” com a realidade
Normalmente percorremos uma certa amplitude deste continuum, de 
acordo com as demandas externas, o grau de definição da situação, nos­
so estado físico e disposições do momento. Assim, por exemplo, em esta­
do de fadiga tendemos a ser mais subjetivos em nossas percepções; frente 
a uma tarefa de cunho intelectual, como frente a um teste de inteligência, 
procuramos apreender adequadamente os dados da realidade externa. A 
própria forma como são apresentados os testes de inteligência (detalha­
mento das instruções, apresentação do material) já procura garantir que 
a situação seja compreendida com um mínimo de interferência das variá­
veis individuais.
Já nas técnicas projetivas, o que se procura é justamente favorecer ao 
máximo o aparecimento do mundo interno do testando. É fornecido um 
mínimo de elementos externos, suficientes apenas para eliciar a resposta 
e permitir uma avaliação do contato com a realidade. Abt (apud Anzieu, 
1978) ressalta que a percepção é função do campo de estimulação (fato­
res externos) e da ordem e intensidade das necessidades do indivíduo (fa­
tores internos). Os estímulos não agem isoladamente; organi/.am-se num 
campo de forças que, sendo estruturado, fará predominarem os fatores 
externos; sendo pouco estruturado, predominarão os fatores internos.
Assim, os estímulos que constituem o material das técnicas projetivas 
devem ser pouco estruturados, o que impede que o sujeito se apóie em 
informações convencionais e favorece o aparecimento dos lalores inter­
nos. Isto se aplica tanto ao material em si (pranchas, palavras isoladas, 
materiais diversos) como às instruções, as quais propiciam a liberdade no
2
uso do material apresentado, evitando a indução ou direcionamento da 
resposta (“ complete a frase...” , “ conte uma história...” , “ com que isso 
se parece...” , “ desenhe uma pessoa...” ). Segundo Anzieu (1978), deve- 
se contar ainda com o desconhecimento, por parte do sujeito, de como 
serão interpretadas as respostas, a fim de que este não venha a modificar, 
consciente e sistematicamente, a essência de suas respostas.
O Teste de Apercepção Temática de Henry Murray (TAT) faz parte 
deste conjunto de técnicas. Através do uso de figuras que representam 
diversas situações frente às quais o sujeito deve criar uma história (daí 
ser um teste temático), procede-se à exploração da personalidade do 
testando.
1.2. TAT — Histórico e fundamentos teóricos
O TAT constitui-se hoje num dos principais instrumentos de que dis­
põe o psicólogo clínico para a investigação da personalidade. Criado em 
1935 por Morgan e Murray, teve sua forma definitiva publicada por seu 
autor em 1943, por ocasião de sua segunda revisão.
Basicamente,fo teste consiste no uso de gravuras que representam ce­
nas diversas, com diferentes graus de estruturação e realismo, a partir das 
quais o testando é solicitado a desenvolver um tema, narrar uma história. < 
De posse deste material, o psicólogo teria condições de identificar a atitu­
de do indivíduo frente a diversas situações, seus temores, desejos, difi­
culdades, enfim, a dinâmica de sua personalidade)
A idéia de que as produções artísticas revelam a personalidade de quem 
as produziu é anterior a Freud. Leonardo da Vinci dizia que ‘ ‘a pessoa 
que desenha ou pinta tende a emprestar às figuras que esboça a sua pró­
pria experiência corporal, se não se proteger contra isso por longos anos 
de estudo” (Kriss, apucl Hammer, 1978). Em 1855, Burckhardt (apud An­
zieu, 1978) analisou obras da Renascença, procurando identificar a per­
sonalidade de seus autores. O próprio Freud cogitava desta possibilidade 
e em 1907 publicou uma análise do romance Gradiva, de Jansen. Mas 
o verdadeiro precursor do TAT foi a prova de Brittain, criada para inves­
tigar a imaginação, neste mesmo ano, já utilizando material figurativo 
como estímulo para a criação de histórias (Anzieu, 1978).
; Murray partiu do pressuposto de que diferentes indivíduos, frente a 
uma mesma situação vital, experimentá-la-ão cada um a seu modo, de 
acordo com sua perspectiva pessoal. Esta forma pessoal de elaborar uma 
experiência revelaria a atitude e estrutura do indivíduo frente à realidade 
experimentada. Assim, expondo-se o sujeito a uma série de situações so­
ciais típicas e possibilitando-lhe a expressão de sentimentos, imagens, idéias 
e lembranças vividos em cada uma destas confrontações, ter-se-ia acesso 
à personalidade subjacente (Korchin, 1975). Assim, este procedimento le-
3
varia o sujeito a “ projetar” , no sentido geométrico do termo, o seu mun­
do interno nas situações apresentadas. A partir daí, Murray procedeu à 
escolha do material: reproduções de situações dramáticas selecionadas, 
de contornos imprecisos, impressão difusa e tema inexplícito. Exposto a 
este material, o indivíduo, sem perceber, identifica-se com uma persona­
gem por ele escolhida e, com total liberdade, comunica, através de uma 
história completa, sua experiência perceptiva, mnêmica, imaginativa e emo­
cional. Desta forma, pode-se conhecer quais situações e relações sugerem 
ao indivíduo temor, desejos, dificuldades, assim como as necessidades e 
pressões fundamentais na dinâmica subjacente de sua personalidade (Mur­
ray, 1951).
A condução da interpretação, de acordo com o autor, se faria a partir 
da identificação das necessidades e pressões percebidas pelo sujeito, con­
ceitos estes fundamentais na personologia de Murray, uma teoria basica­
mente motivacional, Para ele, “ o mais importante a descobrir num indi­
víduo é a direcionalidade de suas atividades, sejam elas mentais, verbais 
ou físicas” , (apud Hall e Lindzey, 1969).
A necessidade é um construto que representa uma força, na região ce­
rebral, que organiza a percepção, apercepção, intelecção, conação e ação, 
de modo a transformar, numa certa direção, uma situação insatisfatória 
existente. Em outras palavras, a necessidade gera um estado de tensão 
que conduzirá a ação no sentido de chegar à satisfação, reduzindo, as­
sim, a tensão inicial, ou seja, restabelecendo o equilíbrio. Pode ser pro­
duzida por forças internas ou externas e é sempre acompanhada por um 
sentimento ou emoção. Ainda segundo Murray, a presença de uma ne­
cessidade pode ser identificada pelo efeito ou resultado final do compor­
tamento, pela expressão de satisfação ou desapontamento frente a este 
resultado, pelo comportamento envolvido e expressões de afeto ou emo­
ção e pela atenção e respostas seletivas frente a uma determinada classe 
de objetos. O autor elaborou ainda uma lista das principais necessidades(Hall e Lindzey, 1969; Silva, E., 1984).
As pressões seriam determinantes do meio externo que podem facilitar 
ou impedir a satisfação da necessidade, representando a forma como o 
sujeito vê ou interpreta seu meio. Embora Murray considere a personali­
dade como uma abstração formulada pelo teórico e não uma descrição 
do comportamento do indivíduo, procurou defini-la como um compro­
misso entre os impulsos e as demandas do ambiente. Seria o agente orga­
nizador e administrador do indivíduo, cuja função seria integrar confli­
tos e pressões visando à satisfação das necessidades. Trata-se de um en­
foque dinâmico, mas que reconhece elemento,s estáveis (id, ego, supere­
go, ideal de ego) (Hall e Lindzey, 1969).
Enfim, podemos dizer que a personologia de Murray procura conside­
rar o indivíduo naquilo que tem de mais próprio na sua relação consigo 
e com o mundo. Esta singularidade é o que o TAT procura revelar.
4
Capítulo 2
Conhecendo o instrumento
2.1. O material
O material do TAT consiste em 31 pranchas, que, segundo Murray, 
representariam “ situações humanas clássicas” . As pranchas são variadas 
em termos do grau de realismo, das situações propostas, número e tipo 
de personagens. A maioria das personagens representadas aparenta uma 
idade adulta, mas jovem. Em princípio o teste seria destinado a indiví­
duos de 14 a 40 anos. Várias pesquisas, entretanto, indicam a utilidade 
do instrumento tanto a partir de 6 anos (Debray, 1987) como após os 40 
(Traxler, Sweiner e Rodgers, 1974; Pasewark, Fitzgerald, Dexter e Can- 
gemi, 1976).
Segundo levantamento realizado pela autora, a literatura indica que 
uma semelhança excessiva entre as personagens do estímulo e o testando 
pode levar a um aumento das defesas, comprometendo o grau de proje­
ção, principalmente se a “ semelhança física” refere-se a características 
social ou pessoalmente indesejáveis./As pranchas do TAT parecem apre­
sentar características que possibilitam uma certa “ distância psicológica” 
que favorece a projeção de desejos carregados de tensão, sem que esta 
distância seja tão acentuada que inviabilize a identificação com a perso­
nagem. Mesmo o aspecto “ antiquado” das figuras, crítica bastante fre­
qüente ao material do TAT, parece garantir esta possibilidade de identi­
ficação, sem que o testando sinta-se ameaçado e assuma uma atitude de 
defesa (Vilhena M.Silva, 1983).
As pranchas são divididas de acordo com o sexo e idade do sujeito, 
compreendendo sempre um conjunto de 20 estímulos para cada aplica­
ção. Há as pranchas universais, assinaladas apenas por um algarismo, que
5
se destinam a todos os sujeitos, independentemente de sexo e idade (pran­
chas: 1, 2, 4, 5, 10, 11, 14, 16, 19, 20). As demais são assinaladas por 
letras, conforme o grupo específico a que se destinam^No Brasil, pode 
ser encontrado o material americano, argentino e brasileiro, assinalados 
como se segue:
popu 
^ - j a ç â o 
edição ^
HOMENS MULHERES MENINOS MENINAS
brasileira Hhomem Ffeminina "rapaz Mmoça
argentina Hhombre Mmujer vvarón Nnina
americana Mmale Ffemale Bboy Ggirl
Como exemplo teríamos então:
prancha 3 RH ou 3 VH ou 3 BM — destinada a sujeitos do sexo mas­
culino, de qualquer idade
prancha 3 MF ou 3 NM ou 3 GF — para sujeitos do sexo feminino, de
qualquer idade
prancha 13 HF ou 13 HM ou 13 MF — para adultos, independente­
mente do sexo
prancha 13 R ou 13 V ou 13 B — para meninos
prancha 13 M ou 13 N ou 13 G —para meninas
Assim, para uma mulher adulta, empregaríamos todas as pranchas uni­
versais mais aquelas em que aparece o F (edições americana e brasileira) 
ou M (edição argentina), só ou acompanhado por outra letra. O total se­
rá de 20 pranchas. Para homens, utilizaríamos as universais mais aquelas 
que apresentam o M (versão americana) ou o H (versões argentina e bra­
sileira), só ou acompanhado por outra letra, obtendo-se o mesmo total 
de 20 pranchas.
A seqüência de apresentação dos estímulos deve, em princípio, seguir 
a ordem prevista, já que se começa pelas pranchas mais realistas e estru­
turadas. Aos poucos os estímulos vão se tornando mais indefinidos ou 
com maior carga dramática, principalmente a partir da prancha 10. Espera- 
se, assim, que o testando esteja mais aquecido e mobilizado ao se defron­
tar com os estímulos que geram maior ansiedade.
No caso de haver interrupção da aplicação, a seqüência pode ser alte­
rada, conforme veremos ao identificar e comentar cada uma das pranchas.
6
2.2. A aplicação
Observam-se atualmente duas tendências no tipo de análise que se faz 
das respostas ao TAT, que implicam procedimentos diversos de aplica­
ção, no que se refere às instruções e intervenções do aplicador.
2.2.1. A s instruções segundo Murray
A ênfase da análise de Murray está no conteúdo das respostas, naquilo 
que o sujeito diz. Âs instruções são as que se seguem: “ Vou lhe mostrar 
uma série de figuras e desejo que você invente uma história para cada uma 
delas. Quero que você diga o que está acontecendo, o que sentem e pen­
sam as personagens, quais os acontecimentos que levaram à situação atual 
e o que acontecerá depois. Anotarei tudo o que você disser. Peço que fale 
devagar.” Antes da prancha 16 (em branco), diz-se: “ Tente imaginar uma 
cena que poderia estar aqui. Tente descrevê-la e invente uma história so­
bre ela.” As instruções podem ser repetidas ao longo do teste, se necessá­
rio, e adaptadas à idade e nível intelectual ou cultural do sujeito. 
Apresenta-se a prancha e inicia-se a contagem do tempo.
2.2.2. A s instruções segundo Vica Shentoub
A ênfase da análise de Vica Shentoub está no aspecto formal, ou seja, 
no como o sujeito elabora seu relato. Acredita, assim, que a interferência 
do aplicador deva ser a mínima possível, para que não modifique o estilo 
espontâneo de resposta do testando, e também para garantir uma coerên­
cia entre a natureza do material, as instruções e a figura do aplicador. 
As instruções resumem-se a “ Imagine uma história a partir desta pran­
cha” ou “ Imagine uma história sobre esta figura” , podendo ser repeti­
das ao longo do teste. Apresenta-se o estímulo e inicia-se a contagem do 
tempo.
2.2.3 O inquérito segundo Murray
O inquérito consiste em perguntas feitas pelo aplicador, após o térmi­
no do discurso espontâneo do sujeito em cada prancha. Tem o objetivo 
de completar a história ou elucidar algum aspecto que não tenha ficado 
claro. São perguntas amplas, genéricas, que não devem apresentar a pos­
sibilidade de ser respondidas através de “ sim” ou “ não’’.^Indivíduos de­
pendentes facilmente acatam a sugestão do aplicador; aqueles com atitu­
des de oposição responderão “ não” . As questões devem ser do tipo “ o 
que aconteceu antes?” ou “ como vai terminar a história?” . Podem-se 
explorar ainda os pensamentos e sentimentos das personagens, jamais su­
gerindo sua natureza) Se a história estiver completa não há necessidade
7
de inquérito. Deve-se tomar cuidado no sentido de não pressionar demais 
o sujeito, desestruturando suas defesas ou aumentando desnecessariamente 
sua ansiedade. O aplicador deve restringir-se aos dados referentes à his­
tória original, evitando perguntas dispensáveis ou que levem o testando 
a afastar-se do estímulo, fantasiando em demasia. Ao se notar que o su­
jeito sistematicamente omite uma determinada parte da história, deixa-se 
de questioná-lo a respeito. Trata-se de um dado individual e como tal de­
verá ser analisado. O inquérito teria mais a função de lembrar as instru­
ções ao testando; não tem como objetivo a extração de dados que este 
não deseja revelar, nem funcionar como ponto de partida para associa­
ções livres.
2:2.4. O inquérito segundo Vica Shentoub
Segundo a proposta de não intervenção do aplicador, para Shentoub 
não há inquérito. Aceita-se a produção espontânea do testando, seja ela 
qual for.
Alguns profissionais optam por um inquérito após o término do relato 
espontâneo de todas as pranchas. Tal procedimento, embora tenha a van­
tagem de restringir as perguntas aos aspectos mais relevantesde cada ca­
so, apresenta a desvantagem de ocorrer num momento dissociado do im­
pacto original causado pela apresentação da prancha. Ganha-se em ter­
mos de conteúdo a analisar; perde-se quanto à reação espontânea do tes­
tando e seu modo de lidar com a ansiedade gerada pelo estímulo.
2.2.5. O registro
O aplicador deve dispor de cronômetro, lápis e papei. As verbaliza­
ções devem ser anotadas fielmente, registrando-se também a ocorrência 
de pausas e intervenções do aplicador. Pode-se utilizar um gravador, des­
de que o testando concorde e não se iniba com a presença do mesmo.
O cronômetro é utilizado para registrar:
a) tempo de latência inicial — intervalo entre a apresentação do estí­
mulo e a primeira verbalização do sujeito, seja um comentário, exclama­
ção ou a história propriamente dita.
b) tempo total — intervalo entre a apresentação da prancha e o final 
do relato espontâneo (não se inclui o inquérito).
2.2.6. A observação
Deve-se estar atento a todo comportamento verbal e não verbal do su­
jeito durante a aplicação. Mudanças de postura, reações corporais frente 
à apresentação dos estímulos, alterações na voz, sinais de ansiedade (agi­
tação motora, tiques etc.) podem indicar como o indivíduo sofre o im-
pacto provocado pela prancha, seu grau de envolvimento com a situa­
ção, a interferência da ansiedade etc. Na medida do possível, os compor­
tamentos observados devem ser registrados prancha por prancha.
2.2.7. A escolha das pranchas
Tanto Murray quanto Shentoub enfatizam a necessidade de se aplicar a 
série completa, ou seja, o total de 20 pranchas. Alguns seguidores de Mur­
ray, entretanto, optam por uma série mais reduzida, dependendo da dis­
ponibilidade de tempo ou de áreas específicas que se deseja investigar. 
Para uma maior segurança, recomenda-se sempre a aplicação da série to­
tal, mesmo que se divida sua apresentação em mais de uma sessão.
2.3. Normas aperceptivas e temáticas
Vimos que as pranchas do TAT, por constituírem estímulos projeti­
vos, são ambíguas, favorecendo a interferência da subjetividade na apreen­
são de seus conteúdos. Entretanto, dispõem de elementos que podem ser 
percebidos mais objetivamente; há personagens com sexo e idade relati­
vamente definidos, certos elementos do cenário etc.
O que seriam os “ dados objetivos” do estímulo? Quais os elementos 
ou fatores externos sobre os quais o indivíduo deverá apoiar sua narrati­
va? A fim de se verificar o contato do indivíduo com a realidade, existem 
as normas aperceptivas, as quais indicam o que é freqüentemente visto 
nas pranchas do TAT. Na medida em que o sujeito é solicitado a narrar 
uma história a partir do estímulo, necessitamos de parâmetros que nos 
indiquem em que consiste o estímulo. As normas aperceptivas nos mos­
tram qual é o consenso, o que seria o dado “ objetivo” oferecido pela 
prancha.
Assim, por exemplo, na prancha 7FM temos uma senhora segurando 
um livro e uma menina com um bebê. Suponhamos um caso em que o 
bebê seja percebido como um gato. Recorrendo às normas aperceptivas, 
verifica-se que não se trata de uma apercepção usual, houve uma distor­
ção significativa. O que teria levado o sujeito a “ falsear” a realidade des­
ta forma será esclarecido através do protocolo como um todo. Isolada­
mente, este fato indica que nesta prancha o indivíduo sofreu a ação de 
motivos internos que impediram ou perturbaram um contato adequado 
com a realidade externa. Tais motivos poderiam ser, em princípio, de duas 
ordens: evitar entrar em contato com as associações derivadas da figura 
do bebê (portanto, atuação de uma defesa), ou ter conteúdos bastante 
investidos de energia associados ao “ gato” , que se manifestaram intem­
pestivamente (ou seja, fracasso no uso das defesas). O esclarecimento da 
dinâmica que levou à distorção deverá levar em conta a área mobilizada
9
pelo estímulo, demais respostas em que o mesmo fenômeno ocorre, res­
postas a outras pranchas em que a mesma área foi mobilizada.
Verificamos assim que, por trás do conteúdo objetivo do estímulo, existe 
um conteúdo latente que evocará ou estimulará os conteúdos pessoais do 
sujeito. As situações propostas pelas pranchas do TAT, como vimos, vi­
sam representar “ situações humanas clássicas” , como diz Murray, ou “ con­
flitos universais” , como prefere Shentoub. Segundo a mesma autora, o 
ego apreenderá ou não tais conteúdos “ de acordo com suas possibilidades 
de integração, defesas e objetivos conscientes” . (Shentoub, 1987, p. 119).
Quais seriam então estes “ conflitos universais” ou “ situações huma­
nas clássicas” ? Para se ter conhecimento das áreas que cada prancha pro­
cura mobilizar, existem as normas temáticas. Estas indicam os temas co- 
mumente evocados pelos diversos estímulos. Quando o testando dá uma 
resposta de acordo com a norma, isto é, quando foi sensível ao conflito 
evocado pela prancha, dizemos que deu uma resposta clichê — equiva­
lente à resposta popular no Psicodiagnóstico de Rorschach (Korchin, 1975).
As respostas clichê indicam a capacidade de adaptação do sujeito à ta­
refa proposta e a sensibilidade à área evocada. Trata-se de relatos mais 
voltados para a realidade externa, o que não implica, necessariamente, 
na ausência da projeção de conteúdos pessoais. O “ porquê” da ação e 
o “ desenlace” da história sempre favorecem a projeção, como constata 
Murstein (1964). Segundo este autor, ao considerar que cada história apre­
senta um “ O que está acontecendo” , “ Quem está na prancha” , “ Por que 
aconteceu” e um “ Desenlace” , verificou que os dois últimos não são ele­
mentos dados pelo estímulo, implicando assim na projeção de conteúdos 
mais pessoais.
A presença de respostas não-clichê não implica, a rigor, patologia. Re­
presentam abordagens mais pessoais ao estímulo, com conteúdos inter­
nos mais mobilizados, mais investidos de energia. Num protocolo nor­
mal, espera-se a presença de ambos os tipos de respostas. O quadro se 
evidenciará mais problemático se houver um número significativo de dis­
torções aperceptivas, ou respostas não-clichê, com perseveração no mes­
mo tema.
Vejamos alguns exemplos de respostas dadas à prancha 3RH, cujo te­
ma é o desespero, abandono, tristeza.
Caso 1
sexo: feminino idade: 25 anos
T.L. — 10 segundos 
T.T. — 3 minutos
“ Nossa! (...) uma mulher muito desesperada, querendo levantar 
e sair desse lugar (........ ) mas é muito difícil (........ ) tava choran­
do demais para conseguir levantar e sumir d a í ......... só.”
10
Caso 2
sexo: feminino idade: 21 anos
T.L. — 10 segundos 
T.T. — 4 minutos
“ Deixa eu v e r........ aqui tem duas hipóteses: ou ela viu o namo­
rado dela com outra ou ele deu o fora nela. Ela tá muito triste, 
porque ela gostava muito dele e foi uma grande decepção. Pro­
vavelmente ela tinha feito muitos planos e agora ela acha que foi 
tudo por água abaixo. Ela vai se atirar na cama e ficar chorando 
uns dois dias,-mais ou menos, mas isso com o tempo passa, de 
qualquer modo ela vai continuar levando a vida dela.”
Caso 3
sexo: feminino idade: 35 anos
T.L. — 3 segundos 
T.T. — 4 minutos
“ Mulher sobre o sofá chorando ou dormindo. Sobre o assento, 
né? Ou chorando ou dormindo ou pensando. Pode falar o que 
quiser? Talvez brigou com alguém e está triste, né? ou simples­
mente cansada, com vontade de ficar nessa posição. Continua 
nessa posição por ser agradável. Poderá se levantar, ir embora. 
Acho que é só, difícil falar... Até que é divertido (o teste).”
Observa-se que os três relatos mostram sensibilidade à área, sendo, por­
tanto, respostas clichê. Entretanto, o modo como desenvolvem a narrati­
va é bastante diferente. No primeiro caso, não há possibilidade imediata 
de superação de tristeza, a personagem está como que paralisada pelo so­
frimento; já no segundo caso, há a perspectiva de superação; no terceiro 
caso, observa-se que o sujeito, embora tenha percebido a temática, reluta 
em aceitá-la e aprofundar-se nela, chegando a comentar como o teste é 
divertido, exatamente o oposto do que estava sendo sugerido.São três 
respostas clichê, mas bem diferentes entre si, estando evidentes os aspec­
tos pessoais em cada uma delas.
2.4. Comentários sobre as pranchas
As normas aperceptivas e temáticas podem ser encontradas no manual 
do TAT. Discutiremos aqui as principais áreas mobilizadas por cada um 
dos estímulos, além de considerações práticas referentes ao uso dos 
mesmos.
Prancha 1 (universal)
O menino e o violino — é sempre a primeira prancha a ser aplicada, pois,
11
em geral, não representa uma situação muito ameaçadora. A personagem 
é uma criança, percebida como distante do próprio sujeito, e a situação 
é relativamente estruturada. A temática mais freqüente refere-se à rela­
ção com a autoridade (pais, professor), atitude frente ao dever e também 
ideal de ego (capacidade de realização, de atingir objetivos propostos). 
Freqüentemente, o discurso reflete, ainda, a atitude do indivíduo frente 
à situação de teste. Por ser o primeiro estímulo a ser apresentado, dá mar­
gem à investigação da capacidade de adaptação do sujeito a uma nova 
situação.
As distorções aperceptivas ocorrem com maior freqüência em relação 
ao violino (visto como um livro, folha de papel ou brinquedo). O violino 
visto como quebrado pode ser índice de uma problemática mais séria, a 
ser confirmada por outros dados do protocolo. É comum a introdução 
de outros personagens no relato.
Prancha 2 (universal)
A estudante no campo — evoca a área das relações familiares, percepção 
do ambiente e nível de aspiração (favorecido ou limitado pelo ambiente 
circundante). Por apresentar três personagens pode evocar ainda as rela­
ções heterossexuais. São freqüentes também as associações referentes aos 
papéis femininos (maternidade x realização profissional) e ao conflito ra­
zão x emoção.
Eventualmente ocorre a omissão da gravidez da figura feminina em 
segundo plano.
Este estímulo favorece a utilização de afastamento temporal e espacial 
por representar uma situação bastante diferente da realidade urbana. Se­
gundo pesquisa realizada pela autora, esta prancha dá margem a respos­
tas mais estereotipadas. (Vilhena M. Silva, 1983)
Prancha 3 (masculina — feminina)
Curvado/a sobre o divã (masculina) — trata-se de estímulo de grande carga 
dramática. Não deve ser o primeiro a ser apresentado, pois o sujeito deve 
estar aquecido ao se defrontar com o mesmo. Evoca associações referen­
tes à tristeza, abandono, desespero, depressão, suicídio. Por ser mais pro­
dutiva que sua equivalente feminina (Murray, 1943) e por apresentar uma 
personagem de sexo indefinido (Eron, 1948), sugere-se que seja aplicada 
também em sujeitos do sexo feminino.
A jovem na porta (feminina) — abarca também a área do desespero e 
da culpa. O sexo e a idade são mais definidos, o que inferfere no grau 
de projeção. A prática tem demonstrado que a problemática evocada é 
mais superficial que a de sua correspondente masculina.
12
A mulher que retem o homem — envolve a área referente aos conflitos 
nas relações heterossexuais (abandono, traição, ciúmes) e também aque­
les referentes ao controle versus impulso (a mulher representandò a ra­
zão, o controle; o homem representando a ação e a impulsividade).
Eventualmente é omitida a mulher ao fundo. O aspecto das persona­
gens pode favorecer a utilização de placagem, transformando a história 
em enredo de um filme de Hollywood.
Prancha 5 — (universal)
A senhora na porta — pode evocar a imagem da mãe-esposa (protetora, 
vigilante, castradora) (Murray, 1943). Eventualmente são colocados con­
teúdos referentes a atitudes anti-sociais, ou, ainda, reações frente ao 
inesperado.
É freqüente, nesta prancha, a introdução de personagens.
Prancha 6 — (masculina — feminina)
O filho que parte (masculina) — refere-se à relação com a figura materna 
(dependência-independência, abandono-culpa).
Mulher surpreendida (feminina) — relação com a figura paterna; em ge­
ral, a filha surpreendida pelo pai, escondendo algo; a figura masculina 
pode também ser percebida como parceiro ou possibilidade de contato 
afetivo-sexual (Vilhena M. Silva, 1983).
Prancha 7 — (masculina — feminina)
Pai e filho (masculina) — atitude frente à figura paterna; o pai pode ser 
visto como autoritário ou como fonte de apoio e orientação. Eventual­
mente, conteúdos homossexuais. Ainda de acordo com Murray, dá indí­
cios das tendências anti-sociais e da atitude do sujeito frente à terapia.
Menina e boneca (feminina) — Evoca a área da relação com a figura ma­
terna (que pode ser-vista como modelo, apoio ou obstáculo à satisfação 
das próprias necessidades) (Vilhena M. Silva, 1983). Possibilita ainda a 
investigação de problemática referente à maternidade, principalmente 
quando há distorção ou hesitação em relação à boneca.
Prancha 8 — (masculina — feminina)
A intervenção cirúrgica (masculina) — trata-se de um estímulo descon-
Prancha 4 — (universal)
13
certante, na seqüência. A imagem pode ser percebida como um sonho ou 
o segundo plano representando uma lembrança do passado ou um proje­
to futuro. Abarca a área da agressividade (hetero ou auto).
Mulher pensativa (feminina) — estímulo bastante estático, evoca asso­
ciações referentes aos conflitos atuais e conteúdos de devaneios. Sua in­
terpretação pode ser comparada à da prancha 14, que é sensível à busca 
de soluções.
Prancha 9 — (masculina — feminina)
Grupo de vagabundos (masculina) — refere-se às atitudes frente ao tra­
balho e ao ócio, sentimentos quanto à própria capacidade e possibilida­
des de atuação. Abrange ainda as áreas da relação com o próprio grupo 
e homossexualidade.
Duas mulheres na praia (feminina) — competência feminina, espionagem, 
culpa, perseguição (Murray, 1943). Pode evocar também a atitude frente 
ao perigo, ao desconhecido, ao proibido (Vilhena M. Silva, 1983). Este 
estímulo presta-se ainda à investigação da relação entre ego real e ego ideal, 
cada uma das figuras representando um aspecto do sujeito.
Prancha 10 — (universal)
O abraço — segundo Murray (1943), a prancha evoca conflitos do casal 
e atitude frente à separação. Para Eron (1953) e Vilhena M. Silva (1983), 
esta prancha favorece a projeção de relações heterossexuais satisfatórias. 
O conteúdo tem-se mostrado mais ricç quando há distorção de sexo das 
figuras. Quando não há distorção, é freqüente a ocorrência de relatos sem 
a presença de conflitos (Vilhena M. Silva, 1983).
Prancha 11 — (universal)
Paisagem primitiva de pedra — trata-se de estímulo de grande impacto, 
já que pode ser considerado um dos mais indefinidos de toda a série. A 
temática mais freqüente refere-se a atitudes frente ao desconhecido, ao 
perigo, ao instintivo. A presença de elementos primitivos e fantásticos fa­
vorece uma análise simbólica, que revelaria a atitude do sujeito frente aos 
conteúdos inconscientes. Por outro lado, pode levar a relatos descritivos 
mais distanciados (Vilhena M. Silva, 1983). Em casos de aplicações em 
2 sessões, não se deve começar pela prancha 11. É preferível modificar-se 
a seqüência e apresentá-la em terceiro ou quarto lugar na 2? sessão, ou 
deixá-la como a última da V. aplicação.
14
O hipnotizador (homens) — evoca si,tuações de passividade e impotência. 
Neste sentido, pode revelar atitude frente a figuras de autoridade, frente 
à terapia e à própria situação de teste. Tendências homossexuais também 
podem revelar-se neste estímulo (Murray, 1943).
Mulher jovem e velha (mulheres) — relações mãe-filha, crítica ou aceitação 
do modelo materno. Ansiedade frente ao envelhecimento (Murray, 1943).
Bote abandonado (crianças) — segundo Murray, evoca fantasias deside- 
rativas.
Prancha 13 — (adultos — rapazes — meninas)
Mulher na cama (adultos) — estímulo dramático, evoca atitudes frente 
às relações heterossexuais e à sexualidade associada à agressividade.
Menino sentado na soleira (rapazes) — segundo Murray, evoca as carên­
cias, solidão, abandono e expectativas. Embora originariamente destina­
da a crianças, esta prancha pode ser útil em indivíduos imaturos ou muito 
defendidos.Menina subindo as escadas (meninas) — em termos de temática mais fre­
qüente, é semelhante à dos meninos.
Prancha 14 — (universal)
Homem na janela — os temas mais freqüentes referem-se ao autoquestio- 
namento, contemplação e aspiração (Vilhena M. Silva, 1983). Se o homem 
é visto como entrando no quarto, pode haver conteúdos sexuais. Tendên­
cias suicidas também podem se revelar frente a este estímulo (Murray, 1943).
Prancha 15 — (universal)
No cemitério — evoca relação com a morte, culpa, castigo. Segundo Mur­
ray a pessoa morta representa alguém a quem o sujeito dirige sua 
agressividade.
Prancha 16 — (universal)
Em branco — uma vez que o estímulo é totalmente branco, o sujeito é le­
vado a projetar-se totalmente. A temática em geral refere-se às necessida­
des mais prementes do indivíduo ou será reflexo da relação transferencial 
na situação de teste (Murray, 1943).
Prancha 12 — (homem — mulher — crianças)
15
O acrobata — masculina — segundo Murray, não provoca nenhum tema 
significativo freqüente. As histórias refletirão mais situações em que o he­
rói é o centro das atenções. Podem estar associadas a desejos de reconhe­
cimento, narcisismo, exibicionismo. Reações frente a emergências também 
podem se revelar.
A ponte — feminina — evoca temas de frustração, depressão, suicídio 
(Murray, 1943).
Prancha 18 — (masculina — feminina)
Atacado por trás —• masculina — trata-se da única prancha em que a figu­
ra masculina, explicitamente, sofre uma agressão. A temática referente a 
vícios ou males físicos também pode ser evocada.
Mulher que estrangula — feminina — é a única situação em que a figura 
feminina é agente do comportamento agressivo. Abarca ainda as relações 
entre figuras femininas (Murray, 1943). Eventualmente o cunho agressivo 
é transformado em ajuda, apoio.
Prancha 19 — (universal)
Cabana na neve — trata-se de estímulo desconcertante e que convida à fan­
tasia. Conteúdos referentes à necessidade de proteção e amparo frente a 
um ambiente inóspito são os mais freqüentes.
Prancha 20 — (universal)
Só sob a luz — traduz um clima de expectativa. Pode-se considerá-la co­
mo o fecho do protocolo, indicando as principais aflições e perspectivas 
do sujeito. Neste sentido, é importante que seja a última prancha a ser 
apresentada.
Prancha 17 — (masculina — feminina)
16
Capítulo 3
Compreendendo a situação
Para se poder analisar e interpretar o comportamento do indivíduo fren­
te às pranchas do TAT, faz-se necessário, em primeiro lugar, compreen­
der em que consiste a situação de aplicação e a tarefa solicitada ao sujeito.
Murray (1943), esquematicamente, assim resume o processo de elabo­
ração da resposta ao TAT: (1?) a prancha dispara uma atividade percep­
tual que culmina em uma visualização ativa (seletiva) do texto; este pro­
move (2?) um processo associativo que evoca conteúdos mnêmicos de ex­
periências vividas e conhecimentos, (3?) fantasias e (4?) uma resposta 
emocional.
Para Vica Shentoub (1983), isto não chega a abranger toda a situação 
de aplicação nem diferencia a resposta à prancha das associações livres, 
devaneios e sonhos. Ela entende a aplicação do TAT como uma situação 
singular, onde mecanismos mentais específicos estão envolvidos e são de­
sencadeados pela tarefa proposta de se criar uma fantasia a partir dos 
dados de realidade. A esse conjunto de mecanismos mentais atribui o no­
me PROCESSO TAT, o qual só pode ser compreendido levando-se em 
conta características comuns ao material, instruções e à postura do 
aplicador.
Ao analisar estes três elementos que situam o sujeito frente à aplica­
ção, Shentoub constata que todos propõem o contato com a fantasia, ao 
mesmo tempo em que fixam os limites da realidade.
O material: é relativamente “ objetivo” , na medida em que apresenta 
dados identificáveis, como o sexo e idade das personagens, algo seme­
lhante ao o que de Murstein. Trata-se do conteúdo manifesto, cuja apreen­
são revelaria basicamente o contato com a realidade do indivíduo, sua
17
capacidade de ver o mundo como a maioria das pessoas vê. Revelaria o 
aspecto adaptativo da resposta, equivalente às respostas F + do Rorschach. 
Este dado objetivo fixaria os limites da realidade — “ imagine uma histó­
ria, mas faça-o a partir destes dados” . Por outro lado, as pranchas suge­
rem um conteúdo latente, associado aos “ conflitos universais” . Para en­
trar em contato com os mesmos, é necessária uma regressão às represen­
tações inconscientes, acompanhadas de afetos — “ perceba estes dados, 
mas crie algo a partir deles” . Estabelece-se assim uma situação de confli­
to, caracterizada pela oposição entre o princípio do prazer (subjacente 
ao contato com os fantasmas originais) e o princípio da realidade (subja­
cente à distinção entre o conteúdo latente evocado e os dados objetivos 
da prancha).
A instrução: ao se solicitar ao sujeito que imagine uma história sobre 
a prancha, faz-se, novamente, um apelo contraditório ao princípio do prazer 
e ao da realidade. O indivíduo é convidado a lançar mão do material in­
consciente, cujas representações são desorganizadas, não verbais (imagens), 
com tendência à descarga imediata e à repetição das experiências antigas 
satisfatórias ou insatisfatórias, altamente carregadas de afetos. 
Caracterizam-se assim os processos primários, modo de funcionamento 
das estruturas inconscientes, necessários para que o sujeito imagine uma 
história. Entretanto, seu discurso deverá ser verbal, lógico, coerente, na 
medida em que é solicitado a relatar a história ao aplicador. O material 
inconsciente deverá, portanto, ser organizado, submetido aos processos 
secundários, modo de funcionamento das estruturas conscientes. Como 
bem aponta Shentoub (1983), “ ...processos primários e secundários são 
ligados num mesmo movimento: deixar-se levar, mas se controlando, de 
modo a transformar as representações de coisas em representações de pa­
lavras; admitir as cargas afetivas, de modo a que o movimento regressivo 
as libere, mas domando-as para que possam ser captadas pelo pensamen­
to” (p.l 19).
O examinador, o papel do examinador é fundamental na aplicação de 
qualquer técnica projetiva, e muitos aspectos referentes a sua influência 
nas respostas do sujeito ainda permanecem sem resposta, como já apon­
tou Masling (1965). Shentoub destaca a importância da coerência da pos­
tura do aplicador com toda a situação de aplicação do TAT. Para ela, o 
aplicador já tem sua representação feita pelo sujeito, antes mesmo de ser 
percebido. Tal representação tem um caráter maniqueísta: o aplicador é 
imaginado como totalmente bom ou totalmente mau. A conduta do apli­
cador deverá traduzir a dualidade de seu papel: ao mesmo tempo em que 
se apresenta neutro, sem perguntas, sem julgamentos, impõe o material 
e as instruções. Daí a importância de não se fazer o inquérito, o que pode 
ser encarado como uma atitude de reprovação e insatisfação (no caso de
18
uma representação negativa), ou como uma atitude de apoio e ajuda (no 
caso de uma representação positiva). Como aponta Shentoub (1983), “ ...ele 
é, como o conjunto da situação, portador da regra que incita o desejo e 
a defesa” (p. 119). y ,
Verifica-se, assim, que todos os elementos fornecidos ao sujeito dentro 
da situação de aplicação do TAT configuram uma situação de conflito, 
onde se observa a oposição entre princípio do prazer e o da realidade; re­
presentação do objeto e representação pela palavra; desejo e defesa; ou 
seja, imperativos conscientes e imperativos inconscientes. O modo singu­
lar pelo qual o indivíduo lida com esta situação permitirá a generalização 
para qualquer outra situação de conflito. É sob esta ótica que Shentoub 
realiza a interpretação dos protocolos do TAT.
Tendo feito estas considerações, podemos agora esquematizar o pro­
cesso de elaboração das respostas ao TAT:
1?) o sujeito pqrcebe o conteúdo manifesto das imagens.
2?) as instruções e o conteúdo latente desencadeiam a regressão e as re­
presentações inconscientes, acompanhadas dosafetos a elas ligados. 
3?) este complexo desorganizado de representações — afetos será ou 
não apreendido ao nível consciente — pré-consciente, para ser sim­
bolizado verbalmente, de acordo com as possibilidades de integra­
ção do ego.
4?) o protocolo revelará o equilíbrio (ou não) entre processos primá­
rios e secundários, os modos e possibilidades de relação entre estes 
diferentes níveis de funcionamento mental (Shentoub, 1983).
19
Capítulo 4
Bases para a interpretação
Para aquele que se inicia na interpretação dos testes projetivos, o pri­
meiro contato com este tipo de material revela-se, muitas vezes, descon­
certante. A ausência de parâmetros rígidos e de um sistema de interpreta­
ção universalmente aceito deixa o estudante inseguro e perplexo. Corman, 
por exemplo, ao dar as bases para a interpretação do Desenho da Famí­
lia, refere-se à “ prática e intuição” como requisitos básicos. Outros ins­
trumentos, como o Psicodiagnóstico de Rorschach e o Teste das Pirâmi­
des Coloridas de Max Pfister, apresentam uma análise quantitativa que 
pode dar maior segurança ao aluno. Entretanto, a integração dos dados, 
levando a uma síntese que de fato demonstre o modo como se revela a 
personalidade do indivíduo, representa um desafio tão grande quanto 
aquele proposto pela análise de testes que não apresentam este tipo de 
tratamento, como é o caso dos Testes Temáticos e Gráficos.
Qualquer que seja o instrumento utilizado, a interpretação requer um 
tipo de raciocínio diferente do habitual. Estamos condicionados a pensar 
de modo linear, procurando reduzir o todo a partes compreensíveis. A 
isto chamamos análise. Entretanto, há um segundo momento, o da sínte­
se, que visa a tornar o “ todo” inteligível. Neste ponto é que se encontra 
a maior dificuldade do principiante. A síntese de um caso vai além da 
mera justaposição ou somatória dos dados isoladamente apreendidos. Ca­
da elemento terá seu significado esclarecido pelo modo como se relaciona 
com todos os outros dados de que se dispõe. Trata-se de perceber a orga­
nização dos vários elementos, na forma única que caracteriza o indivíduo 
como tal.
A atomização de um protocolo só terá sentido se não se perder de vista 
o protocolo como um todo, assim como os dados, de observação, trabalha-
21
se com hipóteses, cuja confirmação se dará a partir da coerência com es­
ta organização geral. Trata-se, assim, de um raciocínio helicoidal, onde 
cada nova apreensão amplia, aprofunda e esclarece o funcionamento da­
quele indivíduo em particular. O pensamento analítico é, desta forma, 
um auxiliar de uma abordagem holística, global, esta sim, prioritária. 
Buscam-se padrões de comportamento, ao mesmo tempo em que se está 
atento a mudanças destes padrões. Podemos chamar este modo de apreen­
são dos dados de “ raciocínio clínico” . Basicamente ele consiste em ver 
além do manifesto, do óbvio, do literal, procurando captar a mensagem 
subjacente ao discurso, à narrativa, ao desenho, ao comportamento 
observável.
Assim, na interpretação de qualquer teste projetivo, o primeiro passo 
consiste em familiarizar-se com a totalidade das respostas do sujeito. No 
caso do TAT, deve-se ler o protocolo várias vezes, até que se consiga re­
ter as várias histórias, a ponto de a interpretação prancha por prancha 
estar sempre vinculada à totalidade da produção. A fim de se desenvol­
ver o raciocínio sintético, pode-se escrever a impressão geral causada pe­
lo protocolo, a qual deverá ser contraposta à interpretação posterior. Neste 
primeiro momento, identifica-se a linha-mestra do protocolo, os dados 
que saltam à vista, os padrões que se repetem com maior freqüência. A 
análise posterior esclarecerá as nuances e desvios destes padrões, como 
se revelam e outras possibilidades de atuação do indivíduo.
Tomemos agora, como exemplo, uma seqüência de três pranchas, pa­
ra exercitar esta apreensão global.
Caso — 4
sujeito: sexo feminino 
idade: 33 anos
Prancha 1
T.L. — 20 segundos 
T.T. — 2 minutos
“ Bom, é... o menino perdeu a mãe, que tocava violino, e agora 
tá olhando o violino, recordando a imagem da mãe através do 
violino. Depois disso alguém bate na porta para chamar para brin­
car e ele vai.”
Prancha 2
T.L. — 10 segundos 
T.T. — 4 minutos
“ A moça é uma professora e tá chegando para dar aula numa 
escola rural. O homem tá arando o campo e a moça tá esperan­
do um filho (...) A professora, depois de andar muitos quilôme-
22
tros de charrete, chega nesse lugar onde tem a escola, as crianças espe­
rando, é de manhã. (...) A moça grávida olhando o sol, nem percebeu 
a moça chegando. Está tão concentrada no sol que não percebe o que es­
tá à sua volta. (...) O cara também não percebeu,, ela passa como sempre 
passou, ninguém percebe.” j
Prancha 3 HR 
T.L. — 49 segundos 
T.T. — 3 minutos
“ O que tem aqui?
(...) Parece que ela perdeu alguma coisa e tava procurando pela 
casa essa coisa que tava perdida e o que ela achou não sabe o 
que é. Sente-se cansada e senta para descansar. Antes ela esteve 
procurando na cozinha, pelo quarto, só faltava a sala e na sala 
era o lugar, que ela menos gosta de ficar. (...) Parece que isso 
que ela achou incomoda muito a ela, traz uma recordação que 
ela não gosta, não sei o que seja.”
Nas três histórias observa-se a insatisfação da personagem central. O 
clima é de tristeza, recordações de algo que foi perdido. O contato com 
a tristeza é inevitável (procura algo que quer e encontra o que não quer 
— prancha 3), é preciso que algo externo ocorra para interromper este con­
tato (alguém que bate à porta na prancha 1), mas nem sempre aqueles que 
a cercam percebem isso (prancha 2). As personagens ficam passivas, não 
encontram saídas por si mesmas.
Assim, o que caracteriza este indivíduo, a partir desta pequena amostra 
de suas histórias, é a insatisfação no plano afetivo, a sensação de perda, 
sem expectativa de vir a ser gratificada neste plano, pois sente que os ou­
tros não lhe dão atenção.
Podemos também verificar como ela entra em contato com seus con­
teúdos: na prancha 1, uma resposta não-clichê, portanto mais pessoal, o 
conteúdo de tristeza aparece de imediato, a história flui após um tempo 
de latência médio. Na prancha 2 o tempo é mais curto, mas o relato apre­
senta pausas, percebe-se que está mais difícil contar a história. O relato 
inicia-se de forma descritiva, as personagens identificadas pelas suas fun­
ções (professora, trabalhador, gestante). Apenas no final o conteúdo emo­
cional aparece. Isto indica o aumento das defesas, mas que acabam por 
permitir a emergência do conflito. Já na prancha 3 o tempo de latência 
aumenta significativamente. Segue-se um comentário que expressa a difi­
culdade do sujeito frente à prancha, cujo conteúdo de tristeza é tão óbvio. 
Novamente o relato é truncado por pausas e por fim seu desagrado se ex­
pressa, seguindo o mesmo padrão da prancha 2, além de mostrar o dispên­
dio de energia para a manutenção das defesas (detalhes indefinidos, atri­
buição de cansaço à personagem).
23
Percebe-se assim que está se tornando penoso o confrontamento com 
seus conteúdos mobilizados pelo Teste.
A disposição inicial e a resposta espontânea já não se observam na se­
gunda e terceira pranchas, onde aumentam as pausas e o relato se torna 
mais vago, inespecífico (prancha 3).
Por esta rápida discussão, podemos verificar os dois modos de se abor­
dar a produção do sujeito.
Um enfoca o que o sujeito contou, a trama montada, sua evolução, as 
reações das personagens. Trata-se da análise de conteúdo. A outra abor­
dagem volta-se ao como o sujeito estruturou seu relato, como desincumbiu- 
se da tarefa. Trata-se da análise formal. Estas duas análises podem ainda 
se complementadas e enriquecidas pela análise de seqüência, que apreen­
de a disposição do indivíduo de prancha para prancha, seu movimento de 
aproximação e distanciamento ao longo do protocolo.
Consideremos, detalhadamente, cada uma destas abordagens.
4.1. Análise de conteúdo.
Como vimos acima, a análise de conteúdoenfoca o tema levantado pe­
lo indivíduo e o modo como desenvolve o mesmo. Tal enfoque basea-se 
na hipótese de que o indivíduo identifica-se com uma (eventualmente mais 
de uma) personagem, atribuindo a esta suas próprias características e ne­
cessidades, além de configurar a situação e demais personagens do modo 
como configura sua percepção do ambiente e relação com o mesmo. A ex­
ploração do desenvolvimento dos temas possibilita, assim, a investigação 
da dinâmica da personalidade do testando em suas várias dimensões: co­
mo se percebe, suas principais necessidades e conflitos, como percebe o 
ambiente que o cerca, perspectivas de resolução de suas dificuldades.
Deve-se ter em mente que os dados obtidos através desta análise referem- 
se ao modo pessoal como o indivíduo vê a si e aos outros. Não é, necessa­
riamente, um retrato da realidade objetiva, mas sim da subjetiva.
Esta abordagem, a mais tradicional em termos de interpretação do TAT, 
foi desenvolvida por Murray, Bellak, Tomkins, Stein, Henry e outros (Kor- 
chin, 1975).
Para se proceder à interpretação do conteúdo, pode-se usar um esque­
ma interpretativo que auxilia a decodificação da mensagem, o acesso ao 
conteúdo latente a partir do manifesto. Tal esquema, por um lado, auxilia 
a apreensão dos dados mais significativo de cada história, mas pode pre­
judicar a apreensão global por atomizar as respostas. Novamente, cabe 
recomendar a necessidade de se ter em mente, sempre, o protocolo como 
um todo, a fim de que não se perca o indivíduo real que se procura 
compreender.
24
ESQUEMA DE INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DE CONTEÚDO
(Bellak, 1954)
1. TEMA:
A análise do tema consiste em identificar a essência do relato, a mensa­
gem fundamental subjacente ao discurso. Após aleitura exaustiva do pro­
tocolo, a identificação do tema costuma ser o primeiro passo da análise 
prancha por prancha. Eventualmente pode-se sentir dificuldades nesta 
apreensão. Nestes casos, sugere-se que esta etapa seja a última na inter­
pretação do conteúdo da prancha, favorecida er,tão pela análise dos de­
mais elementos da história.
A investigação do tema inicia-se por um resumo do conteúdo manifes­
to, numa síntese da história propriamente dita (nível descritivo).
O passo seguinte consiste em ampliar ou generalizar a mensagem do re­
lato, não mais em termos do que é especificamente demonstrado pela pran­
cha, mas sim já se visualizando o conteúdo lateme. Dito de outra forma, 
a situação concreta proposta pela prancha deve ser considerada como um 
exemplo de uma categoria mais ampla, a qual se procura, aqui, identifi­
car. Tal nível, chamado interpretativo, pode ser eaunciado através da fór­
mula “ se...então...”
Uma vez identificado o nível interpretativo, busca-se o nível diagnósti­
co : o conteúdo latente e o modo como o indivíduo o elabora são explicita­
dos em termos psicológicos, com base num referencial teórico.
Pode-se ainda verificar o nível simbólico, o que implica num conheci­
mento profundo da psicanálise. A prancha 11 e eventualmente a 16 seriam 
as que mais favorecem este tipo de interpretação.
Quando se faz a análise do tema, o objetivo é chegar-se ao nível diag­
nóstico. Os níveis anteriores favorecem a aproximação ao entendimento 
da dinâmica revelada pelo sujeito, não tendo, em si, qualquer valor maior.
Tomemos um exemplo para praticar a identificação dos três níveis 
iniciais.
Caso — 5
Sujeito: sexo masculino 
idade : 26 anos
Prancha 13 — HF 
T.L. — 30 segundos 
T.T. — 4 minutos
“ Um médico que foi chamado às pressas para atender uma moça 
que não estava passando muito bem. Fez o possível, deu tudo de 
si, para que tentasse alguma coisa que fazesse (sic) que ela voltas­
se à vida. Mas ela já estava caminhando para a outra vida. E com
o esforço que o médico teve, tentou de toda maneira possível trazê-
25
la na nossa vida, mas ele chegou (...) ele (...) chegou (...) um pouco atrasa­
do e de todo esforço que ele fez de nada adiantou. E com o esforço que 
ele teve ele ficou pensando, analisando o que poderia ter feito para trazê- 
la na nossa vida.”
Nível descritivo — Um médico é chamado para atender uma moça, mas 
chega atrasado e por mais que se esforce não consegue salvá-la; fica pen­
sando sobre o que poderia ter feito.
Nível interpretativo — A situação, em termos mais gerais, é a de alguém 
que é chamado para auxiliar, prestar socorro. Entretanto, não consegue aten­
der ao que lhe é solicitado, fracassando. Procura refletir sobre o que ocorreu:
se sou chamado, atendo
se preciso ajudar (ou realizar) não consigo, fracasso
se fracasso procuro rever o que fiz
Nível diagnóstico — Embora necessite realizar-se e corresponder às ex­
pectativas do ambiente, o sujeito sente-se incapaz de uma atuação eficiente.
Na análise do tema, deve-se ainda verificar se se trata de uma história 
clichê ou não-clichê. No exemplo acima, trata-se de história não-clichê: 
a norma indica como mais freqüentes os temas referentes às relações hete­
rossexuais e à agressividade, mas o sujeito aborda o tema da realização, 
capacidade de atuação. Podemos, nesse momento (e na ausência do res­
tante do protocolo) levantar as seguintes hipóteses:
1 ?) há conflitos na área do relacionamento heterossexual e/ou agressi­
vidade que não estão sendo elaborados devido à atuação de mecanismos 
de defesa.
2?) a preocupação com a própria eficiência e realização é tão premente 
que se sobrepõe a outras áreas da vida do indíviduo (ficando o relaciona­
mento heterossexual em segundo plano).
A elucidação destas hipóteses só será possível através das evidências que 
surgirem ao longo do protocolo.
2. IDENTIFICAÇÃO DO HERÓI:
O herói é a personagem principal, aquela em torno da qual gira a tra­
ma, aquela sob cujo ponto de vista a história é narrada. Em geral (mas 
não necessariamente) é a personagem que mais se aproxima do sujeito em 
termos de sexo e idade. E considerada a figura de identificação, aquela 
na qual o sujeito projeta suas próprias características, reais ou ideais.
Assim, deve-se, neste momento, distinguir as características do herói, 
não só através da expressão direta das mesmas pelo sujeito como também 
aquelas que transparecem através do desempenho do herói na história.
No exemplo citado acima temos: herói — adulto, sexo masculino, com 
formação acadêmica (médico), disponível para o ambiente (atende a cha­
mado), esforçado (observe o número de vezes que aparece a palavra “ es­
26
forço” ), ineficiente (a moça morre), reflexivo e autocrítico (ele pensa so­
bre o que fez e procura analisar).
3. NECESSIDADES DO HERÓI:
A identificação das necessidades se faz através das declarações explíci­
tas do sujeito (“ ...ele quer...” , “ ela procura...” , “ eles desejam...” ), ou 
a partir do comportamento do herói na história.
As necessidades expressariam assim aquilo que o indivíduo busca sa­
tisfazer, o impulso básico que determina suas ações.
Continuando com o mesmo exemplo, temos:
— necessidade de corresponder às demandas do ambiente (o herói aten­
de ao chamado).
— necessidade de ser eficiente (o herói esforça-se em salvar a paciente).
— necessidade de ser melhor, se questionar (o herói revê seu procedi­
mento, analisa).
Deve-se considerar que muitas necessidades expressas no TAT podem 
pertencer estritamente ao domínio da fantasia. Várias críticas referentes 
ao TAT questionam justamente esta relação entre o que é expresso no 
teste e o comportamento real do indivíduo. Novamente deve-se ter em 
vista o protocolo como um todo, verificando-se quais necessidades apa­
recem com maior freqüência, sob que condições. Deve-se estar atento ainda 
àquelas que estão absolutamente ausentes, o que pode significar um con­
trole consciente ou, ainda, repressão. Dados de entrevista, de observação 
e demais evidências do protocolo devem formar um todo coerente que 
norteará a decisão de quais necessidades realmente tendem a ser expres­
sas no comportamento do indivíduo, quais ele não se permite perceber 
e quais são gratificadas na fantasia.
4. FIGURAS, OBJETOSOU CIRCUNSTÂNCIAS INTRODUZIDAS:
A introdução de elementos ausentes na prancha pode indicar uma ne­
cessidade mais premente do indivíduo, principalmente se isto se dá com 
uma certa freqüência no protocolo.
Se o sujeito introduz situações de alimentação pode-se pensar em ne­
cessidade de gratificação oral; se a figura da mãe aparece mesmo quando 
não há personagens femininas, pode-se pensar em dependência. Parte-se 
do pressuposto de que tais introduções estão a serviço de uma necessida­
de, cuja identificação deverá ser confirmada pelo restante do protocolo.
O mesmo sujeito apresentou na prancha 2 o seguinte relato:
T.L. — 15 segundos 
T.T. — 5 minutos
“ Bom., .aqui tem um homem, um camponês, trabalhando na la-
27
voura. Trabalhando ao lado de um cavalo que puxava um arado. 
Ao lado havia uma senhora, uma mulher observando o trabalho 
do homem e olhando, admirando a natureza... que o terreno da 
região é todo acidentado. Então ele concluiu que só com a ajuda 
do animal poderia fazer com que o trabalho fosse mais fácil... 
E em primeiro plano aparece uma jovem com os livros, vindo ou 
voltando — voltando da escola, onde ela tinha aprendido portu­
guês, matemática e observava alguma coisa. Observava uma ou­
tra paisagem. Tava muito pensativa... pensava em alguma coisa 
que ela tinha aprendido na escola... ou as tarefas que ela tinha 
que fazer em casa... algum problema que ela não conseguiu re­
solver na classe e a professora falou que ela tentasse novamen­
te ... chegou em casa e tentou resolver o problema que a professo­
ra tinha ajudado.”
Observa-se nesta prancha a introdução da figura da professora, como 
elemento de orientação e ajuda. A serviço de que ocorreria esta introdu­
ção? Nota-se que as personagens são estáticas ou precisam de ajuda para 
empreender a ação: o animal que auxilia o camponês, a professora que 
ajuda e orienta a aluna. Pode-se pensar, então, na necessidade constante 
de se sentir auxiliado pelo ambiente. O relato da prancha 13 corrobora es­
ta hipótese: quando solicitado a agir por si, fracassa.
5. FIGURAS, OBJETOS E CIRCUNSTÂNCIAS OMITIDAS OU
DISTORCIDAS:
A omissão de elementos significativos da prancha pode ser interpreta­
da como a necessidade de não entrar em contato com conteúdos a eles as­
sociados. A distorção pode ter a mesma interpretação ou ainda sugerir a 
predominância de outros impulsos que acabam por comprometer a sensi­
bilidade à realidade objetiva. Tais hipóteses devem, logicamente, ser con­
firmadas a partir de outras evidências.
No caso 5, que estamos acompanhando, verificamos a omissão de qual­
quer alusão à sexualidade na prancha 13; da mesma forma, o conteúdo 
agressivo é transformado em tentativa de auxílio. Pode-se pensar, num pri­
meiro momento, em repressão da sexualidade ou negação da agressivida­
de. Pode-se pensar também que a preocupação com a própria realização 
e eficiência seja tão premente que não deixa espaço para a exploração de 
outros aspectos pessoais ou contamine outras áreas de atuação, no caso, 
o desempenho viril.
6. CONCEPÇÃO DO AMBIENTE:
O modo como o sujeito configura o ambiente em seus relatos é uma
28
complexa mistura de autopercepção e distorção aperceptiva de estímulos, 
segundo Rabin (1960). Considera-se como ambiente todo o contexto que 
envolve o herói, incluindo-se as demais personagens evocadas. No nosso 
caso vemos que, na prancha 2, este ambiente é configurado como difícil, 
que exige esforço (o que ocorre também na prancha 13), mas que também 
oferece apoio e ajuda.
7. FIGURAS.PERCEBIDAS COMO...
REAÇÃO DO HERÓI
Neste tópico verificamos, mais detalhadamente, como o sujeito percebe 
e se relaciona com outros indivíduos: pais, amigos, rivais, companheiros etc.
Retomando nosso sujeito, verificamos que na prancha 2 não foram ex­
plorados os vínculos familiares. Na prancha 13 a mulher mal é percebida 
enquanto tal, reduzindo-se à condição de “ paciente” . Na prancha 7 RH 
temos um relato onde aparece a figura paterna:
T.L. — 10 segundos 
T.T. — 5 min. 25 seg.
“ Um pai e um filho. Estavam conversando, dialogando sobre... um pro­
blema que o filho havia passado e tava pedindo a opinião do pai... que 
ele não sabia resolver. E, como o pai tem um pouco mais de experiência, 
no tipo de problema que o filho vai passar, tentava aconselhá-lo da me­
lhor maneira possível. E esse problema que o filho tava passando era so­
bre a dificuldade que ele encontrava no trabalho dele. Então...bom... com 
a experiência do pai ele mostrou o caminho que ele, o filho, poderia resol­
ver... mais fácil. O filho, mais preocupado e o pai... mais... calmo diante 
da situação... indicando alguma solução.”
Como o pai é percebido? Como fonte de apoio e orientação. Como o 
filho reage? Aceitando, provavelmente. Verifica-se que a relação com a 
figura paterna se dá nos mesmos moldes que com o ambiente em geral, 
como já vimos acima. A esta altura já temos maior segurança em afirmar 
que as relações se dão de modo indiferenciado, voltadas predominante­
mente para a possibilidade de obter auxílio, seja de quem for.
8. CONFLITOS SIGNIFICATIVOS:
Os conflitos referem-se a desejos incompatíveis e concomitantes, reve­
lados através das necessidades do herci, ou a impulsos que se opõem ao 
superego (agressão, desejo sexual, impulsos anti-sociais de uma maneira 
geral) ou ao ambiente. É interessante identificar não só o conflito em si, 
como também as defesas que o indivíduo utiliza contra a ansiedade por 
ele provocada.
Nosso sujeito apresenta, basicamenle, o conflito entre o desejo de rea-
29
lização e o sentimento de incapacidade, ou seja, há uma oposição entre 
o que ele deseja ser e o modo como sente que é. Que defesas utiliza na co­
locação deste conflito? Para responder a esta questão, temos agora que 
mudar nosso referencial. Já não podemos falar do herói, mas sim do su­
jeito, do modo como articula a trama de seu relato. Retomemos então as 
pranchas que analisamos:
na prancha 2 — o terreno é todo acidentado, por isso o camponês preci­
sa de auxílio do cavalo — o sentimento de incapacidade não é tão eviden­
te. Há uma justificativa lógica para as dificuldades da personagem. 
Identifica-se a presença da racionalização.
— a aluna não conseguiu realizar os problemas em classe, vai tentar 
de novo — as dificuldades tornam-se mais explícitas, o sujeito não escla­
rece se o herói vai conseguir ou não, o conflito é mais evidente. Portanto, 
não há defesas significativas.
na prancha 7 — o filho tem (ou terá) problemas, mas uma pessoa expe­
riente saberia resolvê-los — novamente as dificuldades têm um motivo: 
a inexperiência. O mecanismo da racionalização aparece outra vez.
na prancha 13 — quando o médico chega, ela já está passando para a 
outra vida. Ele fica pensando sobre o que poderia ter feito — a racionali­
zação é utilizada (já era tarde demais...), porém, sem muita eficiência, já 
que há um questionamento da atuação do herói, ao final do relato.
9. ANSIEDADE:
As ansiedades referem-se ao que está por trás do conflito, aquilo de que 
realmente o sujeito se defende, o motivo último da configuração do conflito.
No nosso caso, o que incomoda o sujeito? O que ele gostaria de não 
perceber, não tomar consciência? O que ele está tentando preservar?
A resposta é clara: sua auto-imagem. Deseja manter o amor próprio, 
não se sentir tão ineficiente e inábil frente às demandas da realidade. Por 
isso as justificativas, as situações em aberto. Tais defesas, entretanto, não 
são muito eficientes, já que o fracasso e a dependência de elementos exter­
nos permeiam todo o protocolo.
As ansiedades mais freqüentemente observadas são as relativas a:
— auto-imagem, própria capacidade
— sexualidade
— abandono, perda do objeto de amor, solidão
— depressão, tristeza, desespero
— punição, desaprovação
— males ou danos físicos
— privação
— destruição, morte, loucura
— impotência, passividade, submissão
— agressividade, conteúdos internos de um modo geral
— perdas
30
As defesas mais facilmente apreendidas no TAT são:
— racionalização —evidencia-sepelo uso de argumento lógico, que pode 
ser convincente ou não, para justificar uma atitude do herói ou uma ação 
por ele sofrida, como vimos no exemplo acima.
— negação — manifesta-se através da negação do conteúdo ansiógeno. 
Exemplo: Pr. 3RH — “ Ele não está triste, não, não poderia estar...”
— anulação — revela-se pela substituição da história por outra. Exemplo: 
Prancha 13 HF — “ Ele matou sua mulher..., não, ele está cansado, mas 
precisa ir trabalhar...”
— isolamento — segundo Haworth (apudMontagna, 1988), apresenta-se 
sob a forma de uma atitude displicente do sujeito, ausência de resposta 
ou comentários sobre a prancha. Pode ainda evidenciar-se pela ausência 
de emoção no relato. Exemplo: Prancha 18 MF — “ ... não me diz nada... 
duas mulheres, talvez, uma segurando a outra... só.”
—formação reativa — em todo o protocolo, determinado conteúdo espe­
rado apresenta-se sob a forma de seu oposto. Por exemplo, todas as pran­
chas que sugerem agressividade apresentam conteúdos de apoio, ajuda.
—projeção — determinados conteúdos se apresentam apenas no compor­
tamento das personagens secundárias e não no do herói. É freqüente a in­
trodução de personagens que sirvam de receptáculo a estes conteúdos. 
Exemplo: Prancha 13 HF — “ ...ele está desesperado... chegou em casa 
e sua mulher estava morta... alguém a matou, um ladrão talvez...”
— repressão — é o mais eficiente dos mecanismos de defesa. Assim sendo, 
manifesta-se justamente pela ausência de qualquer referência ao conteúdo 
ansiógeno, ao longo de todo o protocolo. Exemplo: ausência de qualquer 
conteúdo referente à agressividade, sexualidade etc.
— regressão — o comportamento do herói é inadequado à faixa etária a 
ele atribuída ou o próprio discurso do sujeito encontra-se infantilizado. 
Exemplo: sujeito do sexo masculino, 27 anos: prancha 6 RH — “ ...coita­
dinho dele... ‘mamãe, eu não agüento mais, assim não dá’... ‘calma, meu 
filho, tudo vai dar certo’... ele está tristinho, mesmo...”
>'). ADEQUAÇÃO DO SUPEREGO
Analisamos aqui a relação entre a manifestação do impulso e as conse­
qüências desta manifestação para o herói. Verifica-se, em princípio, se o 
“ castigo” é proporcional ao “ crime” . Um superego rígido levará a rela­
tos em que o herói é punido de forma drástica e definitiva pelo menor des­
lize. Um superego atuante leva a uma punição compatível com a ofensa. 
O flexível permite certos deslizes sem conseqüências maiores e o frágil não 
apresenta qualquer punição aos atos anti-sociais do herói. O rigor do su­
perego pode evidenciar-se ainda pela própria censura que o sujeito utiliza 
frente a determinados conteúdos.
Exemplos:
31
prancha 6 R H — “ Um filho se despedindo da mãe, vai cuidar da própria 
vida... Agora que ela mais precisa dele... ele vai embora... mas vai que­
brar a cara, vai acabar sendo assassinado ou atropelado ao sair de casa...”
— Rígido.
— “ Um rapaz que está partindo... ele deseja ir embora mas tem pena 
de deixar a mãe só... mas é importante que parta... ele vai e pode, tam­
bém, algum dia, sentir-se só” . — Atuante.
— “ Ele arranjou um emprego em outra cidade e está dando a notícia 
para a mãe. Os dois estão sofrendo... mas é importante para ele, cuidar 
da própria vida. Ele vai embora” — Flexível.
—“ A mãe está pedindo para o filho não partir, pois ela está doente. 
Mas ele não ouve, já se imagina bem longe dali. Vai se dar bem, ficar rico 
e famoso.” — Frágil.
11. INTEGRAÇÃO DO EGO:
Neste ponto, verificamos o quanto o sujeito está consciente de seus con­
teúdos e sua capacidade para elaborá-los. Em termos gerais, considera-se 
aqui a qualidade do relato, a riqueza das histórias, a interferência da an­
siedade, o uso e a eficiência das defesas e os desenlaces das tramas criadas 
pelo sujeito. Como vemos, são, basicamente dados de análise formal, que 
serão vistos mais detalhadamente na abordagem de Vica Shentoub.
A grosso modo, entretanto, podemos considerar:
boa integração de ego: o indivíduo consegue manter um bom nível de 
vocabulário e de riqueza de conteúdo das histórias; há um uso adequado 
de defesas, que não impedem a emergência de aspectos mais pessoais; os 
desenlaces são realistas, apresentando soluções adequadas.
Caso 6
Exemplo: sujeito: sexo masculino, 21 anos
Prancha 7 RH
T.L. — 35 segundos
T.T. — 3 min. 30 segundos
‘ ‘E agora? Dois homens... um homem e talvez seu pai ou um parente mais 
velho, seu pai... Ele parece um pouco reprimido, o pai dele parece um pouco 
com idéias fixas do futuro do filho, querendo tudo de bom para o filho, 
mas do modo dele, e o filho parece desgostoso com a idéia do pai, queren­
do fugir de tudo isto, mas não sabendo exatamente por onde... Antes eles 
eram um pai e um filho muito amigos, ele até um pouco mimado pelo pai, 
tudo que o pai fazia ele gostava, aquilo que todo pai é para o filho, aquele 
herói de sempre, o pai satisfazendo todos os seus gostos, tavam interliga­
dos os gostos deles, tentando educar da forma que ele acha certo, o filho 
vai crescendo, vendo o mundo como ele é, conhecendo novas pessoas,
32
idéias, mas parece que o pai não está muito disposto a compartilhar as no­
vas idéias do filho... Depois daqui, desta cena, parece que o filho e o pai 
não vão mais ser os mesmos, não vai mais ter a afinidade de um tempo 
atrás, vai começar a aparecer uma certa barreira entre eles, ele vai chegar 
até a ter uma certa dificuldade em contar as coisas dele, não vão conseguir 
ter o diálogo que tinha. Bom, o filho tá meio desapontado, vai ver que 
é impossível harmonizar a vida dele com as idéias do pai. E o pai, talvez 
pela idade, por ter acostumado tanto com aquela criança, o filho dele que 
vivia tão submisso a seus gostos, não está se preocupando com isso, achando 
que é uma bobeira que não vai levar a nada.”
Observa-se, neste caso, que o sujeito teve um tempo de latência alto, 
mas seu relato flui em seguida. A problemática é colocada claramente, o 
que indica que não há uso excessivo de defesas sendo a ansiedade contro­
lada. O testando demonstra que está elaborando a questão de seu próprio 
crescimento, de sua afirmação enquanto indivíduo. Embora o desenlace 
esteja em aberto, indicando que o conflito não está resolvido, o caminho 
para a solução está já insinuado. O conteúdo é rico e a história relativa­
mente estruturada. Pode-se, então, dizer que há uma boa integração de ego.
Razoável integração de ego: manifesta-se em indivíduos que permitem 
o aparecimento do conflito, mas sem que haja uma elaboração, quer pelo 
aumento das defesas, quer pela superficialidade com que lida com a pro­
blemática (desenlaces irreais fantásticos ou dependentes de elementos 
externos).
O caso que acompanhamos ao longo dos itens anteriores (caso 5) de­
monstra esta última possibilidade. Suas defesas não são eficientes a ponto 
de impedir a emergência do conflito. Entretanto, a consciência de suas di­
ficuldades não leva o testando à busca de soluções. Ao contrário, justifica 
sua passividade e dependência do ambiente; não há perspectivas para uma 
saída de cresciir.ento e atuação.
O seguinte relato indica a ausência de elaboração pelo aumento das 
defesas:
Caso — 7
Sujeito: sexo masculino, 32 anos
Prancha 5: “ Bem, essa é uma mulher que ouviu um barulho na sala. Ela 
estava sozinha em casa... e... bem, ficou muito assustada, apar­
valhada mesmo... perplexa. Poderia ser um ladrão... alguém 
que entrasse na sala sem permissão... então ela vai ver, na sa­
la... e encontra... ahn... a luz acesa... era só a luz acesa, que 
devia ter estalado, coisa assim.”
Percebe-se que o sujeito chega a explorar a temática do medo, da inva­
são, do inesperado. Entretanto a história se empobrece, o conteúdo se es­
vazia, retornando ao trivial. A temática que gerava ansiedade foi assim 
afastada, inviabilizando a elaboração.
33
Fraca integração de ego: nestes casos, a emergência do conflito é impe­
dida através do uso intenso de mecanismos de defesa. O relato, em geral, 
é pobre e descritivo, ou hesitante e contraditório. O indivíduo reluta em 
entrar em

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