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Saúde coletiva Unidade 1

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SAÚDE	COLETIVA
UNIDADE 1 - CONSTRUÇA� O E DELINEAMENTO
DO SISTEMA U� NICO DE SAU� DE NO BRASIL
Autoria: Averlândio Wallysson Soares da Costa - Revisão técnica: Patrıćia Passos
Simões
Introdução
Caro estudante, nesta unidade iremos adentrar um campo de suma importância para a construção e
delineamento da formação em Saúde Coletiva: a construção histórica e legislativa do nosso Sistema U� nico de
Saúde (SUS). Nesse sentido, algumas re�lexões tornam-se importantes.
Quando falamos sobre saúde, várias ideias perpassam nossos sentidos, e uma delas é a noção de saúde como
um direito, entendimento comum atualmente, mas você acha que sempre foi assim?
Temos um paı́s de dimensões continentais, com intensas heterogeneidades e iniquidades, muitas delas
historicamente construı́das, o que provoca a re�lexão sobre como esse desenrolar histórico in�luenciou e
in�luencia a construção das polı́ticas públicas de saúde no Brasil?
Além disso, mais indagações podem ser feitas: o sistema de saúde hoje estabelecido consegue suprir as
demandas atuais? Como isso é estabelecido? A importância de um sistema de saúde que atenda as reais
necessidades da população é um ponto interessante de re�lexão.
Outro ponto a ser analisado nessa discussão é a relação estabelecida entre as necessidades coletivas e
individuais, sendo assim, nossos estudos iniciam com um levantamento histórico sobre a saúde pública no
nosso paı́s, depois estudaremos a estrutura legislativa do SUS e, por �im, os princı́pios que permeiam esse
sistema.
Então, vamos lá, adentrar esse verdadeiro mundo que envolve a construção e o estabelecimento do SUS.
Bons estudos!
1.1 Políticas de saúde pública no Brasil: transcorrer
histórico
Nesse tópico vamos perpassar fatos e acontecimentos importantes que contribuı́ram para o estabelecimento
da saúde pública no Brasil, possibilitando a implantação do Sistema U� nico de Saúde como temos hoje. A
discussão será apresentada por meio de importantes marcos históricos do paı́s, desde o Brasil Colônia até a
Constituição de 1988.
1.1.1 Formação do sistema de saúde brasileiro
No perı́odo colonial (1500 – 1822), o paı́s, como uma provı́ncia de exploração, não teve nenhuma ação
voltada para a saúde pública. O inı́cio da colonização é marcado por intensas epidemias, o que aconteceu, por
exemplo, com indı́genas que, em contato com os europeus, adquiriram doenças que não tinham imunidade.
Outro ponto importante é a própria desigualdade de acesso aos serviços de saúde instalada, ao passo que
nobres tinham acesso aos médicos estrangeiros, os menos favorecidos �icavam à mercê da �ilantropia, que na
época já se instalava nas Santas Casas de Misericórdia, vinculadas à igreja católica (BRASIL, 2004). Inexistiam
polı́ticas de Estado de proteção social, assim, a responsabilidade do cuidado com a saúde �icava para as
famı́lias e instituições de caridade.
#PraCegorVer: a imagem mostra escravos negros sentados e deitados no chão com aspecto de doentes, e um
outro realizando atividades de curandeiro.
 
No ano de 1808, com a chegada da famı́lia real ao Brasil, há uma preocupação quanto a aspectos sanitários,
pelo menos nos locais de instalação da comitiva. Urgia a organização mı́nima do espaço social para a garantia
de sustentabilidade polı́tica e econômica da coroa. O Brasil deixava de ser uma simples colônia para tornar-se
o ambiente que deveria acolher a realeza e as atividades econômicas que ela promovia (WEFFORT, 2006).
Fato relevante do perı́odo é a criação dos primeiros cursos de Medicina no paı́s, primeiro em Salvador e em
seguida no Rio de Janeiro, que fomentou uma formação mais adequada para as necessidades locais. Outro
resultado da polı́tica de normalização médica foi a constituição de hospitais públicos para atender algumas
doenças consideradas nocivas à população e de necessário controle pelo Estado, como os transtornos
mentais, a tuberculose e a hansenı́ase. Em 1852 foi inaugurado o primeiro hospital psiquiátrico brasileiro no
Rio de Janeiro – Hospital D. Pedro II, com o objetivo de tratar medicamente os denominados “doentes
mentais” (COSTA, 1989).
Com a Independência do Brasil, em 1822, por ordem de dom Pedro I, foram criados órgãos relacionados à
inspeção em saúde pública, com intuito de evitar epidemias, e órgãos de saneamento básico, como a criação
da Junta de Higiene Pública, em 1829. Essas instituições tinham ações voltadas prioritariamente para as áreas
portuárias e se mostraram pouco e�icazes no objetivo de cuidar da saúde da população (BERTOLLI FILHO,
2004).
As doenças infecciosas atingiam os habitantes da capital e eram disseminadas por todo o paı́s por meio de
viajantes. A hipótese era que os navios vindos do estrangeiro seriam os principais causadores das epidemias
como varı́ola, febre amarela e cólera. Eram adotadas medidas como a obrigatoriedade de quarentena de
embarcações suspeitas de transportarem passageiros enfermos e a exigência de vacinação contra a varı́ola.
Por �im, concluiu-se que as enfermidades cariocas eram causadas pelos chamados miasmas, ares
corrompidos que pairavam sobre a cidade, o que motivou que a corte se refugiasse, nos perı́odos de crise
sanitária, nas cidades da região serrana, principalmente Petrópolis. A fase imperial se encerrou sem que o
Estado solucionasse os graves problemas de saúde da coletividade (BERTOLLI FILHO, 2004).
Figura 1 - Cirurgião Negro
Fonte: SOARES, 2001.
A Proclamação da República (1889), foi embalada com o acirramento do capitalismo, movido pela Revolução
Industrial, que alterou drasticamente as relações e colocou o homem como mão de obra, capital humano. Na
cidade do Rio de Janeiro, entre �inal do século XIX e inı́cio do XX, houve um incremento do saneamento básico.
CASO
Maria Tereza, estudante de um curso da área da saúde, está cursando nesse semestre
a disciplina de Saúde Coletiva, entre as discussões levantadas está a do processo
legislativo e construção do Sistema U� nico de Saúde (SUS). E foi essa temática que
encantou Maria Tereza, ela �icou fascinada com a construção histórica da saúde
pública no Brasil e mais ainda com a quantidade de fatos e acontecimentos que
sucederam até o estabelecimento do SUS.
Curiosa e inquieta em saber como era a situação de saúde antes do SUS, ela pensou
em conversar com algumas pessoas mais velhas da sua famıĺia para buscar sanar essa
curiosidade. Ela pensou em três familiares: sua avó, de 82 anos; sua tia, de 52 anos; e
seu pai, de 54 anos.
Sua avó diz se lembrar perfeitamente do momento de construção do SUS. Por ser
pro�issional da saúde aposentada, ela viveu a apreensão e a vontade de conseguir
construir um sistema único e descentralizado, que garantisse saúde para todos. Ela
relata que trabalhava em uma policlıńica do Instituto Nacional de Assistência Médica
e Previdência Social (Inamps), sistema antecessor ao SUS, lá eles só atendiam aos
trabalhadores formais que contribuıám diretamente com a previdência social. Na
época o ıńdice de desemprego era alto, por isso, muitos não tinham acesso ao serviço
de saúde.
A conversa com a tia também foi muito interessante, ela contou que, por ser �ilha de
pais contribuintes, tinha acesso aos serviços de saúde, na época do Inamps. A tia
lembrou da obrigação de levar a carteirinha, uma vez que, não era atendida se
esquecesse. O atendimento era voltado para a queixa apresentada, não se tinha a
prevenção que hoje é tão presente.
O pai de Maria Tereza era trabalhador informal na época e não tinha acesso aos
serviços do estado. Tem uma péssima recordação de uma vez que sofreu um acidente
e precisou ir para a �ilantropia, pois era o único serviço de saúde que restava, já que
não tinha carteirinha do Inamps. Lá padeceu para ter suas necessidades atendidas,
era um serviço paupérrimo, segundo ele.
Com esses relatos, a estudante �icou ainda mais encantada com o SUS, ela sabe o
tamanho das di�iculdades queo sistema até hoje perpassa, mas reconhece a
importância de ter um sistema de saúde garantido pela Constituição, que coloca a
saúde com um direito e um dever do Estado.
Vale salientar que tais ações não tinham um caráter contı́nuo e sistêmico, já que interesses econômicos eram
prioridade (BRASIL, 2004).
O paı́s entra o século XX assolado por epidemias causadas por doenças infectocontagiosas, como a malária,
varı́ola, febre amarela, peste bubônica, cólera, tuberculose, hansenı́ase, parasitoses, entre outros. Foi quando
Oswaldo Cruz, nomeado como Diretor-Geral de Saúde Pública (1903) pelo então presidente Rodrigues Alves,
divide a cidade do Rio de Janeiro em dez distritos sanitários, cada qual sob o comando de um delegado de
saúde, análogo a modelos militares. Buscava-se, de forma mais sistemática, polı́ticas de saúde que pudessem
responder às necessidades desse Estado em formação (ROCHA, 2012).
A reforma da saúde pública na Primeira República ocorreu em dois momentos. O primeiro foi marcado pela
gestão de Oswaldo Cruz como Diretor-Geral da Saúde Pública (a partir de 1903). E teve como caracterı́stica
principal a ênfase no saneamento urbano das principais cidades e o combate às epidemias de febre amarela,
peste e varı́ola. No segundo momento (décadas de 1910 e 1920), destacaram-se o saneamento rural e o
combate a três importantes endemias rurais – ancilostomı́ase, malária e mal de chagas –, visando curar e
integrar os habitantes abandonados (idiotizados e doentes) à comunidade nacional (COSTA, 1989).
VOCÊ O CONHECE?
Oswaldo Gonçalves Cruz, ou apenas Oswaldo Cruz (1872 – 1917), foi um importante
cientista, médico, epidemiologista e sanitarista brasileiro. Notoriamente conhecido
pelos estudos pioneiros de doenças tropicais e da medicina experimental.
#PraCegoVer: na imagem em preto e branco, há um pelotão de soldados sanitários com os toneis móveis de
substância utilizada para conter o vetor da febre amarela.
 
Tem-se o estabelecimento da polı́cia sanitária, com objetivos higienistas e de aspecto �iscal. As ações eram de
caráter militarista e, em 13 de novembro de 1904, eclode um movimento popular no Rio de Janeiro conhecido
como a “Revolta da Vacina”, como uma resposta da massa populacional à vacinação obrigatória contra a
varı́ola, re�letindo a insatisfação com as ações estabelecidas até então.
Em 1920 foi criada a Diretoria Nacional de Saúde Pública (DNSP), antiga Diretoria Geral de Saúde Pública,
tendo Carlos Chagas como sucessor do Oswaldo Cruz. A ênfase esteva na situação precária de saúde no
território nacional. Os sanitaristas realizaram expedições pelo interior do paı́s e os relatórios médicos
revelavam a situação de precariedade e de doença da população brasileira.
O fato de a saúde pública se voltar especialmente para ações coletivas e preventivas deixava ainda uma
parcela da população desamparada, já que a maioria não possuı́a recursos próprios para custear uma
assistência à saúde. Não havia a saúde integral como direito e a de�inição de uma polı́tica ampla de proteção
social. Nesse contexto, surgem as primeiras manifestações urbanas operárias. A questão social se apresentava
no cerne do debate, seja pelas precárias condições para a realização do trabalho, seja pela falta de polı́ticas que
garantissem uma proteção social (OLIVEIRA, TEIXEIRA, 1985).
Com esse movimento, em 1922, é promulgada a lei Eloy Chaves, que viabilizou a criação das Caixas de
Aposentadoria e Pensão (CAPs), o que possibilitava a cobertura seguro-saúde e previdência para os
trabalhadores urbanos e seus dependentes (BRASIL, 2004). Porém, nem toda empresa oferecia ao trabalhador
a oportunidade de formação de uma caixa – esse era um benefı́cio mais comum nas empresas de maior poder
econômico. O Estado não contribuı́a �inanceiramente e não possuı́a responsabilidade na administração dessas
caixas. Sua atuação se restringia à legalização de uma organização, o que já vinha sendo feito de maneira
informal desde a década de 1910, e ao controle a distância do funcionamento dessas caixas, mediando
possı́veis con�litos de interesses (OLIVEIRA, TEIXEIRA, 1985).
Em sı́ntese, iniciava-se nesse perı́odo uma trajetória da polı́tica de saúde no Brasil, de caráter dual, isto é, com
dois modelos distintos de atenção e de organização institucional: um modelo voltado para a saúde geral da
população (a saúde pública) e outro direcionado aos trabalhadores formalmente reconhecidos pelo Estado (a
medicina previdenciária).
Figura 2 - Brigada de mata-mosquito
Fonte: LEMLE, 2016.
Já na era Vargas (1930 a 1945) temos grandes marcos como a criação, em 1930, do Ministério da Educação e
Saúde Pública (MESP), o qual foi desmembrado em Ministério da Saúde, em 1953. Ponto importante também
desse perı́odo é a con�luência das diversas CAPs nos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs), que,
fortalecidos pelo modelo médico assistencial privatista, passam a garantir também a assistência médica e
farmacêutica para os trabalhadores amparados. Esse perı́odo se constitui em um marco da con�iguração das
polı́ticas sociais no Brasil com mudanças institucionais que moldaram a polı́tica pública brasileira,
estabelecendo um arcabouço jurı́dico e material que conformaria o sistema de proteção social até o perı́odo
mais recente (DRAIBE, 1989).
Os IAPs passaram a incluir em um mesmo instituto toda uma categoria pro�issional, não mais apenas
empresas, constituindo vários institutos – Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marı́timos (IAPM),
Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC), Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Industriários (IAPI) e outros – e a contar com a participação do Estado na sua administração, controle e
�inanciamento. Com os IAPs, inicia-se a montagem de um sistema público de previdência social, mantendo
ainda o formato do vı́nculo contributivo formal do trabalhador para a garantia do benefı́cio. O trabalhador que
não contribuı́sse com os institutos estava excluı́do do sistema de proteção. Portanto, estavam excluı́dos: o
trabalhador rural, os pro�issionais liberais, os indigentes e todo trabalhador que exercesse uma função não
reconhecida pelo Estado (BERTOLLI FILHO, 2004).
Temos também nesse perı́odo a atuação do governo de Vargas no campo da saúde dos trabalhadores. A
Constituição de 1934 incorporou algumas garantias ao operariado, como a assistência médica, licença
remunerada para gestante trabalhadora, jornada de trabalho de oito horas. Mais tarde, houve a inclusão do
salário mı́nimo e, em 1943, culmina o estabelecimento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Apesar
da redução das mortes por doenças epidêmicas, permaneciam as doenças endêmicas, como a
esquistossomose, doença de Chagas, tuberculose, doenças sexualmente transmissı́veis e a hansenı́ase, assim,
muitos brasileiros continuaram morrendo sem receber a ajuda necessária (BERTOLLI FILHO, 2004).
#PraCegoVer: a imagem mostra uma manifestação a favor de Getúlio Vargas, onde um grupo de pessoas
vestidas com roupa formal estendem uma faixa com a descrição: O trabalhador também tem o seu lugar no
estado novo.
 
Durante o perı́odo democrático compreendido entre 1945 a 1963 encontramos movimentos sociais que
exigiam que os governantes cumprissem as promessas de melhoria das condições de vida, de saúde e de
trabalho. Ao mesmo tempo, há um forte crescimento de entrada de capital estrangeiro na economia do paı́s,
favorecendo a modernização econômica e institucional coordenada pelo Estado (BERTOLLI FILHO, 2004).
Esse modelo é conhecido como desenvolvimentista e consiste na defesa da industrialização como uma forma
para a superação da pobreza e do subdesenvolvimento. O Estado seria o interventor e planejador, capaz de
de�inir a expansão desejada dos setores econômicos, e, também, captador e orientador de recursos
�inanceiros, que seriam utilizados para promover investimentos nossetores em que a iniciativa privada fosse
insu�iciente. Essa fase teve como seu principal personagem o presidente Juscelino Kubitschek
(BIELSCHOWSKY, 2004).
No regime militar se veri�ica um expressivo desinvestimento no setor saúde e, como forma de manutenção
dos setores previdenciários e de saúde, foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e do
Instituto Nacional de Assistência Médica Social (INAMPS) (BRASIL, 2004).
1.1.2 Reforma sanitária
Figura 3 - Trabalhadores homenageiam Vargas na Esplanada do Castelo em 1940
Fonte: CPDOC, 2016.
Na década de 1970, surge o Movimento de Reforma Sanitária Brasileira (MRSB), con�luindo diversos
movimentos populares da sociedade da época, que reivindicavam por mudanças expressivas no modelo de
gestão e oferta do setor de saúde. Tal movimento injeta importantes conceitos e entendimentos, como: saúde é
uma questão de direito e obrigação do governo; conceito ampliado de saúde; valorização da atenção primária.
O paı́s da época passava por intensas crises no que diz respeito ao controle de epidemias e, mesmo já vivendo
as consequências das doenças ocupacionais e crônico-degenerativas, os agravos infectocontagiosos ainda
dizimavam inúmeras pessoas. O foco na abordagem individual era hegemônico em detrimento à coletiva,
inexistindo objetivos de promoção à saúde.
No sistema previdenciário brasileiro, a crise já era evidente no inı́cio dos anos 1980. Havia uma crise
ideológica, pois a assistência à saúde era ainda um benefı́cio previdenciário, condicionado à contribuição
trabalhista, não sendo um direito inerente de todo cidadão brasileiro. Havia também uma crise �inanceira, o
cofre da previdência não suportava mais o montante de recursos a serem destinados ao setor, encontrando-se
em iminente falência.
O ideal da reforma sanitária exigia também uma revisão do modo de operar do Estado, da lógica burocrática
que concentrava poder, e uma disposição social para participar ativamente da construção desse novo Estado,
agora democrático.
Em 1986,	na	8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), evento que foi marcado por uma participação maciça
dos diversos setores da sociedade, há uma intensa discussão sobre a situação da saúde pública do paı́s e se
aponta a necessidade de criação um sistema descentralizado e único, temas essenciais para a criação do SUS
posteriormente (BRASIL, 2004).
No relatório da 8ª CNS constava a saúde como direito, em seu sentido mais abrangente, passando a ser
compreendida como resultante de diversas condições, entre elas: alimentação, renda, habitação, educação,
lazer, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de
saúde. Antes de tudo, ressaltava que a saúde seria o resultado das formas de organização social da produção,
que podem gerar grandes desigualdades nos nı́veis de vida. A de�inição de direito à saúde seria sinônimo da
garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e de acesso universal e igualitário às ações e serviços de
promoção, proteção e recuperação de saúde, em todos os seus nı́veis, a todos os habitantes do território
nacional, levando o desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade. Esse relatório, com todas
as a�irmações nele contidas, serviu como instrumento de pressão polı́tica no contexto da Nova República e
serviu como referência na discussão da Assembleia Nacional Constituinte.
#PraCegoVer: na imagem há várias pessoas com as mãos levantadas reunidas em um an�iteatro, no centro há
uma mesa diretiva e ao fundo um painel escrito oitava Conferência Nacional de Saúde.
 
No ano de 1988 é aprovada a Constituição conhecida como constituição cidadã, que estabelece saúde como
direito de todos e dever do Estado. Amplia a compreensão de saúde, compreendendo as diversas interfaces
relacionadas aos aspectos sociais que determinam e condicionam o processo saúde-doença. Tais
entendimentos são fundamentais para o estabelecimento do SUS, em 1990, por meio das leis orgânicas da
Saúde.
Figura 4 - VIII Conferência Nacional de Saúde
Fonte: CCMS, 2016.
Os artigos 196 a 200 da Constituição tratam sobre saúde, garantias fundamentais para a consolidação o SUS.
Como um direito de todos e dever do Estado, a saúde é garantida por meio de polı́ticas sociais e econômicas
que buscam a diminuição do risco de doenças e agravos, a partir de um acesso universal de serviços de
promoção, proteção e reabilitação.
Os serviços descritos anteriormente, devem integrar uma rede regionalizada, hierarquizada e que componha
um sistema único e organizado, que seja embasada nas seguintes diretrizes: descentralização, atendimento
integral e participação da comunidade. Perceba que a Constituição já aponta a necessidade do estabelecimento
de um sistema único de saúde, mesmo que isso só se consolidar em 1990 com o SUS (BRASIL, 1988).
No próximo tópico trabalharemos o arcabouço teórico da criação do SUS, evidenciando a importância desses
artigos para a construção do Sistema U� nico de Saúde.
VOCÊ SABIA?
A Constituição de 1988 foi promulgada em 5 de outubro de 1988. E� uma das
maiores constituições do mundo, perdendo quanto a quantitativo de artigos
apenas para Portugal, Venezuela e I�ndia.
1.2 SUS: legislação e organização
Neste tópico iremos abordar o arcabouço teórico e legislativo do SUS, perpassando pelas leis orgânicas da
saúde: 8.080/90 e 8.142/90, que estabelecem orientações a nı́vel nacional, discutindo consequentemente as
compreensões teóricas quanto aos seus princı́pios e diretrizes doutrinários e organizativos.
1.2.1 Marcos legais do SUS
No inı́cio da década de 1990, os indicadores de saúde do Brasil o colocavam em posições preocupantes,
doenças infectocontagiosas ainda não tinham controle, junto a isso as doenças crônicas não transmissı́veis
(DCNT) já eram uma realidade, assim como as doenças ocupacionais, acidentes de trabalho e os ı́ndices de
mortalidade materno-infantil que tinham números alarmantes. Desse modo, o SUS surge como uma resposta
aos antigos e presentes problemas de saúde do paı́s, como uma forma de estabelecimento de uma polı́tica de
saúde e o estabelecimento da seguridade social. Veja dois marcos legais importantes para esse contexto.
Não faremos a discussão da lei de forma pontual, mas de forma contextualizada, com intuito de facilitar a
compreensão e aplicabilidade. Assim, teceremos discussões por meio de áreas temáticas.
Ponto importante é sobre o próprio delineamento do direito à saúde, em que se entende saúde como uma
situação fundamental do ser humano, tendo o Estado como provedor dessas condições, já assegurado também
na Constituição de 1988. O estabelecimento desse direito é a prerrogativa para a construção e manutenção
desse sistema como único e descentralizado em todo o território nacional.
Os incisos do artigo 2º da Lei nº 8.080/90 abordam como dever do Estado a garantia da saúde na formulação
e execução de polı́ticas econômicas e sociais que buscam a redução de riscos de patologias e outros riscos,
com vistas a assegurar a universalidade e igualdade nas ações e serviços para a promoção, proteção e
Lei	nº
8.080,	de
19	de
setembro
de	1990
Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e outras providências.
De forma geral, tal marco legislativo busca tornar exequı́vel em todo o paı́s os
direitos conquistados e colocados na Constituição (BRASIL, 1990a).
Lei	nº
8.142,	de
28	de
dezembro
de	1990
Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema U� nico de Saúde
(SUS) e sobre o processo de �inanciamento do sistema quanto a aspectos
intergovernamentais e outras providências. A seguridade do controle social é um dos
maiores ganhos constitucionais, então, operacionalizar tal direito é de suma
importância, sendo esse um dos objetivos da lei,assim como os repasses e
organização �inanceira do sistema (BRASIL, 1990b). 
VOCÊ QUER LER?
Para fortalecer seu entendimento é interessante a leitura na integra das Leis
Orgânicas da Saúde: a Lei	 nº	 8.080,	 de	 19	 de	 setembro	 de	 1990 (disponıv́el
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm)) e a	 Lei	 nº	 8.142,	 de	 28	 de
dezembro	 de	 1990	 (disponıv́el
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm)).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm
recuperação. Importante frisar que não se exclui a responsabilidade das pessoas, da famı́lia, das empresas e
da própria sociedade.
A ampliação do conceito de saúde pode ser percebida ao ser trazido os determinantes e condicionantes, que se
traduzem nos meios de acesso a alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda,
educação, atividade fı́sica, transporte, lazer e acesso a bens e serviços. Em termos mais claros e objetivos,
oferecer saúde é garantir aos indivı́duos e coletividades as condições do bem-estar fı́sico, mental e social.
A lei trata, ainda, dos entes que constituem o Sistema U� nico Saúde, composto por órgãos e instituições
públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo
Poder Público. Estão inseridos aqui as prestadoras de serviços de saúde, como controle de qualidade,
pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos
para saúde (BRASIL, 1990b).
Condição importante de ser frisada é a relação do sistema com o setor privado, já que o setor privado poderá
participar do Sistema U� nico de Saúde (SUS), em caráter complementar. Em legislação, essa
complementariedade do setor privado, poderá acontecer quando a cobertura assistencial própria do SUS for
insu�iciente para uma determinada demanda e/ou nı́vel de atenção.
Para lavrar essa complementariedade do setor privado, haverá formalização do contrato ou convênio por meio
de contrato que leve em consideração as normas de direito público. Sendo que as entidades �ilantrópicas e
sem �ins lucrativos terão preferência para participar do SUS.
Os aspectos �inanceiros, mais precisamente quanto a remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura
assistencial serão estabelecidos pela direção nacional do Sistema U� nico de Saúde, que, por sua vez, precisa ser
aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde. Sendo imprescindı́vel que tais prestadores sigam os princı́pios e
diretrizes do sistema, assim como se submetam as suas normas e rotinas. Sendo vedado ter proprietários,
administrativos e dirigentes de entidades ou serviços contratados ocupando cargos de che�ia ou função de
con�iança no SUS.
São objetivos do Sistema U� nico de Saúde conforme Lei nº 8.080, o manejo de condicionantes e determinantes
de saúde, por meio da identi�icação e divulgação dos mesmos; a implementação do que �icou estabelecido em
constituição; o atendimento as pessoas a partir dos processos da promoção, proteção e reabilitação da saúde,
VOCÊ QUER LER?
Uma boa opção de acesso aos inúmeros assuntos relacionados ao SUS e às demandas
contemporâneas, de forma re�lexiva e contextualizada, é a página PenseSUS da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vale a pena conferir: https://pensesus.�iocruz.br/
(https://pensesus.�iocruz.br/).
https://pensesus.fiocruz.br/
integrando as ações assistenciais e preventivas (BRASIL, 1990a).
Ponto importante no entendimento do sistema de saúde é sobre os cenários possı́veis de inserção, como um
sistema único percebemos que ele estará presente nas diversas nuances da sociedade, em setores além da
saúde propriamente dita, perpassando cenários da assistência social, educação, sanitários, meio ambiente,
dentre outros como veremos.
#PraCegoVer: a �igura apresenta um quadro com a descrição das ações do SUS.
 
Pontos importantes, que precisam ser frisados, são os entendimentos que se faz sobre Vigilância Sanitária,
traduzido como um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir
nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de
serviços de interesse da saúde.
1.2.2 Gestão e estrutura organizacional do SUS
Em um sistema grandioso como o SUS, é de suma importância o delineamento dos atributos e competências
do Estado, que conforme a Constituição se coloca como provedor do direito à saúde. Tais atributos são
partilhados entre os entes federativos: municı́pio, estado e união.
Salienta-se o caráter descentralizado do sistema, rompendo com a lógica até então do poder decisório nas
mãos do ente federal, que de forma verticalizada planejava e executava ações para estados e municı́pios de
forma ordenada e pouco dialógica.
Para um paı́s com dimensões continentais como o Brasil, não teria como o centro decisório �icar nas mãos de
pouco, principalmente se esse não estiver próximo de onde surge as necessidades, como acontece quando a
decisão é tomada a nı́vel ministerial, sem considerar as demandas de quem está mais em contato com a
Quadro 1 - Cenários e ações do SUS
Fonte: Elaborado pela autora, baseado em BRASIL, 1990a.
população.
Uma das maiores caracterı́sticas do SUS, como veremos adiante, é a regionalização que pode ser
compreendida como uma resposta aos tradicionais formatos de organogramas verticalizados e centralizados
que se tinha até então. Evidenciando um formato mais municipalizado, tendo maior poder decisório quem
mais próximo está da população, isto é, o municı́pio.
Quanto aos atributos inerentes aos três entes federativos: união, estado e municı́pio, temos as ações de cunho
gerencial quanto a avalição, controle e �iscalização dos serviços de saúde no que lhe competem, dentro das
suas atribuições. O gerenciamento dos recursos �inanceiros quanto a alocação do plano de saúde e o plano
anual de saúde também é destinado a eles. Dentro do que lhe compete, é comum ainda a organização dos
Sistemas de Informação em Saúde, participando ainda do processo de divulgação e comunicação com a
sociedade das situações de saúde quando necessário (BRASIL, 1990a).
A União, na proposta SUS, terá um caráter mais de regulamentação participando na construção, avaliação e
manutenção das polı́ticas de saúde, sejam elas ambientais, ao trabalhador e grupos especı́�icos, participando
ainda da regulamentação de auditorias, regulamentação e padronização de qualidade. A de�inição de
protocolos de assistências de alta complexidade e alto custo, assim como a construção das redes de referência
de estados e municı́pios também fazem parte de sua ossada. Além de participar das construções e
fortalecimento das redes de vigilância a saúde, faz parte de sua responsabilidade a vigilância sanitária das
regiões de fronteiras, além de portos, aeroportos e demais áreas de �luxos.
A nı́vel estadual há um forte apelo para a descentralização para municı́pios, é dado ênfase justamente a
atenção primária de saúde que tem a gestão municipalizada. Poderá ainda gerir de forma direta alguns
serviços de média e alta complexidade, como hospitais, policlı́nicas, laboratórios e serviços especializados,
dando suporte ainda, na execução nas ações de vigilância em saúde (BRASIL, 1990a).
Já a nı́vel municipal tem-se um incremento das atribuições, pois como já dito é caracterı́stico do sistema o
fortalecimento da municipalização. Diante disso as atividades de coordenar, controlar e promover as ações de
saúde propriamente dita aos seus munı́cipes são de competência do municı́pio, já que esse é o coordenador
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da rede regionalizada e hierarquizada do SUS dentro de seu contexto geográ�ico delimitado. Nesse aspecto o
municı́pio poderá compor consórcios intermunicipais em que teremos grupos de municı́pios organizados de
forma regionalizada a atender as necessidades de sua população. Assim, a gestão municipal será responsável
por ações de vigilância em saúde, além de prover celebrações de contratos com prestadores de serviços e
fornecedores de acordo suas demandas (BRASIL, 1990a).
Ao compreender o processo de construção e organização do Sistema U� nico de Saúde, a próxima etapa é
construir os entendimentos sobre os princı́pios e diretrizes desse sistema.
1.3 SUS: Princípios e Diretrizes
Nesse tópico trabalharemos os princı́pios e diretrizes do SUS, que traduzem os marcos teóricos e conceituais
sobre o sistema, possibilitando sua organização e construção ideológica como um sistema que seja U� NICO e
com abrangência em todo território NACIONAL. Esses princı́pios estão estabelecidos na Lei Orgânica da Saúde
(Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, complementada pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990).
1.3.1 Fundamentos do SUS
De forma clara e evidente, as ações e serviços prestados seja público ou privado, são asseguradas pela
Constituição a partir de princı́pios que exprimem a con�iguração do sistema perante a sociedade, representado
o arcabouço teórico, �ilosó�ico e conceitual do SUS. Segundo FIGUEIREDO e TONINI (2011) são os elencados a
seguir.
Universalidade, que se traduz na liberdade de acesso aos serviços de saúde em todos os nı́veis
de assistência, tem-se o entendimento que todos têm direito ao sistema, independentemente de
cor, raça, credo, condição socioeconômica ou outra especi�icidade. Traduz-se como a garantia de
atenção à saúde por parte do sistema, a todo e qualquer cidadão. 
Integralidade de assistência, ver-se o ser como um todo, sendo impossı́vel a abordagem de
partes em detrimento ao todo. Tal entendimento é colocado como um conjunto articulado e
contı́nuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada
caso em todos os nı́veis de complexidade do sistema. Compreendida como a indissociabilidade
dos seres, que precisam ser compreendidos em suas reais necessidades como um todo. 
 
Equidade de ações e serviços de todos os nı́veis, de acordo com a complexidade que cada caso
necessite, sem privilégios e impedimentos. Tal condição coloca em tratar desigual as
desigualdades, dando mais a quem mais precisa. Traduzindo-se como a ideia que todo cidadão é
igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades até o limite do que o sistema
puder oferecer para todos. 
A participação da comunidade, também compreendida como controle social, se dará por meio de órgãos
colegiados. As instâncias colegiadas previstas, são: Conferência de Saúde e Conselho de Saúde, sendo meios
de representação populacional em locais de decisão e construção coletiva dentro do sistema.
A Conferência de Saúde tem suas reuniões a cada quatro anos
com a representação dos vários segmentos sociais, com o objetivo
de avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a
formulação da política de saúde nos níveis correspondentes,
convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta
ou pelo Conselho de Saúde (BRASIL, 1990b).
O Conselho de Saúde tem caráter permanente e deliberativo,
sendo composto por órgãos do governo, prestadores de serviço,
profissionais de saúde e usuários. Tem por objetivo a formulação
de estratégias e no controle da execução da política de saúde na
instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e
financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do
poder legalmente constituído em cada esfera do governo (BRASIL,
1990b). 
Descentralização polı́tico-administrativa, com direção única em cada esfera de governo, dando
ênfase na descentralização dos serviços para os municı́pios. Fortalece-se a ideia de que quanto
mais próximo da situação, mais embasamento e poder decisório se tem. Nesse sentido,
enfraquece-se a concepção tradicional de se ter o controle na mão de determinado ente federativo,
para ter-se o poder partilhado e compartilhado com os diversos atores que o compõem.
Regionalização	e hierarquização dos serviços, de modo que esses se organizem em nı́veis de
complexidade tecnológica crescente, dispostos em uma área geográ�ica delimitada e com a
de�inição da população a ser atendida. Nesse sentido, estabelecem-se as redes e consórcios de
saúde, em que colocam o municı́pio no centro do poder decisório, que se organizam e chegam o
mais próximo de atender as reais necessidades de forma local e especı́�ica.
Participação	da	comunidade, entendido como a garantia constitucional de que a população,
através de suas entidades representativas, participará do processo de formulação das polı́ticas de
saúde e do controle da sua execução, em todos os nı́veis, desde o federal até o local. E� a garantia
de que teremos a população na participação direta das decisões e construções das polı́ticas e
serviços oferecidos. 
•
•
#PraCegoVer: a �igura apresenta um esquema sobre o arcabouço constituinte do SUS no que se refere aos
órgãos e comissões da gestão. Há a identi�icação do nı́vel nacional, estadual e municipal e os seus respectivos
órgãos representativos na gestão do SUS.
 
A garantia da participação direta dos usuários nos rumos decisórios do SUS é uma das maiores conquistas,
possibilitando vez e voz para quem se destina o serviço. E� uma forma de ter o cidadão como partı́cipe no
processo, cobrando e buscando ter na prática um sistema de saúde que seja universal, equânime e integral.
Figura 5 - Gestão do SUS
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em LIMA, 2013.
Conclusão
Chegamos ao �im desta unidade que teve o grande objetivo de aproximá-lo dos conhecimentos da saúde
pública do Brasil, contribuindo para a construção do pensamento crı́tico e re�lexivo sobre as polı́ticas sociais
e de saúde no nosso paı́s e sua in�luência no contexto histórico, social e cultural.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
conhecer a história da Saúde Pública no Brasil: esse
entendimento permite elucidar as premissas e inter-relações sobre
as políticas públicas de saúde do Brasil e o momento histórico que
se passava;
•
elucidar sobre o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira:
possibilitando a percepção dos movimentos populares e a sua
influência na reestruturação das políticas sociais;
compreender o arcabouço teórico e legislativo do SUS: junto a
constituição e as leis orgânicas da saúde, temos o estabelecimento
de todo o aporte legal para termos o SUS como temos atualmente,
no que diz respeito ao seu papel e sua capacidade de ser
exequível;
aproximar-se dos princípios e diretrizes do SUS: este
entendimento permite compreender o SUS em sua lógica
conceitual e organizativa, trazendo elementos que aproximam de
um direito com um intuito de atender às necessidades do
indivíduo, família e comunidade.
•
•
•
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