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1 PLANO DIRETOR MUNICIPAL . Unidade 2 1 PLANO DIRETOR MUNICIPAL UNIDADE II Desde o advento da Lei 10.257/2001 (Estatuto das Cidades), que regulamentou os arts. 182 e 184 da Constituição Federal de 1988, a (re) estruturação urbana deve ser orientada pelo Plano Diretor Municipal. Assim, sendo ele a peça principal de Planejamento urbano, normatiza a ocupação e expansão na cidade, de maneira sustentável e ambientalmente correta. Para tanto, a autonomia local o propõe e aprova, no âmbito de sua competência constitucional, mas sempre orientada pelas normativas federal e estadual aplicáveis. A partir de sua instituição ele servirá como instrumento básico ao gestor público, pois fará parte da legislação fundamental para a Administração Pública. E nele (PDM), todas as ações ligadas aos seus temas deverão segui-lo. Inclusive e especialmente, as leis orçamentárias (PPA, LDO e LOA). Vale ressaltar que a implantação e a atualização do PDM possuem demandas técnicas complexas e peculiares, que exigem cuidados, iniciativas e atos especializados. Plano Diretor Municipal é o mecanismo legal que visa orientar a ocupação do solo urbano, tomando por base um lado de interesses coletivos e difusos tais como a preservação da natureza e da memória, e de outro os interesses particulares de seus moradores. 2 ÍNDICE TÓPICOS PÁGINA 1. PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL 3 1.1 Participação Popular 3 1.2 Controle Social 8 1.3 Conselhos de Políticas Públicas 10 2. DE3MOCRATIZAÇÃO ESTRATÉGICA DA GESTÃO 13 3. O PLANO DIRETOR MUNICIPAL 22 3.1 O Estatuto das Cidades 23 3.2 Solo Criado – Outorga Onerosa 25 3.3 OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA 27 3.4 Direito de Preempção 29 3.5 Lei do Uso e Ocupação do Solo e Código de Obras 29 3.6 Zoneamento – Classificação 32 3.7 Tabelas de Ocupação do Solo 35 4. PLANOS MUNICIPAIS CORRELATOS AO PLANO DIRETOR 38 4.1 Constituição Federal de 1988 – Aspectos Antecessores 38 4.2 Marcos da Política Urbana 40 4.3 Instrumentos Urbanísticos da Política Urbana 41 4.4 Plano Diretor – Da Origem ao Estatuto da Cidade 44 4.5 Elaboração e Conteúdo Necessário no Plano Diretor 47 5. TRABALHO EM EQUIPE E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL 49 5.1 Respeito às Pessoas 49 5.2 Cidadão tem Amparo Constitucional Quanto ao Bom Atendimento e Relacionamento 49 5.3 Os Números Falam 51 5.4 Momento da Verdade: Um Conceito Fundamental 53 5.5 Relacionamento Interpessoal 53 5.6 Um dos Grandes Geradores de Conflitos 54 6. GESTÃO DE CONFLITOS 55 6.1 Plano de Sucessão 56 6.2 Comportamento e Relacionamento 56 6.3 Comunicação e Gestão de Conflitos 58 6.4 Liderança Eficaz 59 6.5 Iniciativas Motivacionais 61 7. BIBLIOGRAFIA 62 3 1. PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL 1.1 PARTICIPAÇÃO POPULAR A participação do cidadão nos processos decisórios, em que estão em pauta os direitos sociais é chamada de democracia participativa, participação cidadã ou governança democrática, e tem como objetivo o desenvolvimento humano por meio de ações de inclusão social. Por meio da governança democrática todos os atores participam de modo ativo do governo local. Assim, governo, mercado e atores sociais são responsáveis pela condução dos assuntos de interesse local. A governança democrática privilegia a autorrealização e a autonomia das pessoas. Tratamento do cidadão, usuário de serviços públicos - sujeito de direito participa das decisões do Estado. A democracia, como um regime político, em que o povo exerce o poder, por meio de seus representantes eleitos e por outros meios previstos no ordenamento jurídico. Partindo-se da premissa de que a democracia pressupõe o governo do povo, sem a participação popular não há como reconhecê-la. Com efeito, a democracia de fato não prescinde da participação da sociedade organizada nas questões estatais, razão pela qual a Constituição Federal de 1988, previu instrumentos de incentivo à participação cidadã, de modo a consolidar a democracia participativa. 4 Modesto (2002) aduz que somente se pode falar em participação popular, voltada à garantia da legalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência da gestão da coisa pública, quando se faz a sua distinção de outras formas de atuação. Nessa esteira, vejam-se as situações que, muito embora digam respeito a atuação do cidadão, não se caracterizam como participação popular, conforme ensina Modesto (2002): Existem instrumentos que asseguram a participação democrática na gestão pública, expressos no ordenamento jurídico brasileiro, como ocorre nos artigos 14 a 16, da Constituição Federal de 1988, que disciplinam os direitos políticos nos termos que seguem: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. A Lei no 9.709, de 18 de novembro de 1998, por sua vez, regulamenta a execução do disposto nos incisos I, II e III do art. 14 da Constituição Federal, acima transcrito. Art. 1º A soberania popular é exercida por sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, nos termos desta Lei e das normas constitucionais pertinentes, mediante: I – plebiscito; 5 II – referendo; III – iniciativa popular. Art. 2o Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. § 1º O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido. § 2º O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição. Existem mecanismos previstos constitucionalmente, para garantir a participação popular no processo legislativo, como a realização de audiências públicas, pelas diferentes comissões que integram a Câmara e o Senado Federal e a Comissão Permanente de Legislação Participativa, da Câmara dos Deputados, que acolhe as iniciativas populares. Veja-se, o que dispõe o art. 58, § 2º, II da CF/88: Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. § 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: (...) II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil; A Câmara dos Deputados, portanto, está apta a receber sugestões Legislativas de associações e órgãos de classe, de sindicatos e de entidades da sociedade civil. Ficam de fora, apenas os partidos políticos, que já possuem a via adequada para apresentar suas proposições. Além desses, os órgãos e entidades da administração pública direta e indireta, como os conselhos que tiverem representação paritária da sociedade civil, também estão aptos a apresentar projetos de lei de iniciativa popular. Ademais, dentre os processos destinados a assegurar a participação popular, importa tecer a distinção entre: 6 Além desses, outros são apontados: Colegiados públicos - participação dos cidadãos, diretamente ou por meio de entidades representativas, o direito de integrar órgão de consulta ou de deliberação colegial no Poder Público; Assessoria externa – em que há convocação da colaboração de especialistas para formulação de projetos, relatórios ou diagnósticos sobre questões a serem decididas; Denúncia pública (instrumento de formalização de denúncias quanto ao mau funcionamento ou responsabilidade especial de agente público; ex. representação administrativa); Reclamação relativaao funcionamento dos serviços públicos (difere da representação administrativa, pois fundamenta-se em relação jurídica entre o Estado ou concessionário do Estado e o particular-usuário); Colaboração executiva – por meio de organizações que desenvolvem, sem intuito lucrativo, com alcance amplo ou comunitário, atividades de colaboração em áreas de atendimento social direto; Ombudsman (ouvidor); Participação ou "controle social" mediante ações judiciais (ação popular, ação civil pública, mandado de segurança coletivo, ação de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, entre outras; Fiscalização orgânica – que impõe a obrigatoriedade, por exemplo, de participação de entidades representativas em bancas de concursos públicos, como a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB. 7 A participação popular e o controle da sociedade sobre a atuação estatal somente são possíveis se o Estado atuar de forma transparente, de modo que permita a qualquer interessado o acesso às informações relativas ao seu desempenho no cumprimento do seu dever de proporcionar a satisfação dos anseios da coletividade. Komniski (2017) coloca em destaque a intensificação da atuação do Estado de modo a estimular e garantir a participação da sociedade civil nos assuntos de Estado, de modo que esta passa a ser vista como parte integrante dos processos decisórios. Vejam-se as lições do autor: A redemocratização no Brasil permite, assim, como política de Estado, desde os anos de 1990, que a sociedade civil (incluindo ONGs, movimentos sociais e setor privado) interaja de forma crescente na construção de políticas públicas nas suas mais amplas dimensões. (p.269) Nessa interação Estado-sociedade, segundo Komniski (2017), houve o incremento da articulação entre o Estado brasileiro e a sociedade civil, a partir de 2003, sobre temas diversificados, mediante processos de consultas, conferências setoriais e conselhos, como explicita o trecho abaixo: (...) sociedade civil e governo engajam-se em amplo processo de conferências setoriais e conselhos consultivos, a exemplo das conferências nacionais de Direitos Humanos que engendram a construção das versões I, II e III do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), principal norteador da política nacional nessa temática. Já no governo Lula, entre 2003 e 2008, houve mais de oitocentas conferências estaduais, milhares de conferências municipais e mais de quarenta conferências nacionais sobre todas as áreas de governo. Buscando aprofundar a democracia participativa, já estavam operativos, em 2008, 35 conselhos da república, paritários e com participação social. (G.N.KOMNISKI,p. 270) 8 1.2 CONTROLE SOCIAL Antes de adentrar no tema controle social, afigura-se pertinente evidenciar o que é o controle estatal e quais seus fundamentos. Definido o controle estatal, tem-se que este controle exercício pela sociedade – controle social - tem como fundamento, para garantir legitimidade à sociedade, para pedir contas aos gestores públicos, o art. 15 da Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão: Sobre o Controle Social Fonseca (2009) afirma que “é uma maneira de estabelecer um compromisso entre o poder público e a sociedade com a finalidade de encontrar saída para os problemas econômicos e sociais”. Ademais, a autora aponta alguns aspectos do controle social, que se resumem, nos seguintes termos: É um importante instrumento democrático; Consiste na participação dos cidadãos no exercício do poder; Vontade social é relevante fator de avaliação para a criação e metas a serem alcançadas no âmbito de algumas políticas públicas; Permite atuação conjunta do Estado e da sociedade Há compartilhamento de responsabilidades com o intuito de tornar mais eficaz alguns programas públicos. 9 Fonseca (2009) cita como exemplo de controle social [nas políticas públicas] a previsão na Lei n° 10.836/2004, que ao criar o Programa Bolsa Família, prevê o referido controle como um componente de garantia da participação efetiva da sociedade na execução do programa. O compartilhamento da responsabilidade entre Estado e Sociedade é evidenciado no seguinte excerto de artigo sobre a participação social no ambiente urbano: Nesse protagonismo dos governos locais na promoção da responsabilidade compartilhada da efetivação e proteção de direitos entre os diferentes níveis da administração pública, deve- se incluir a questão da participação social como um elemento fundamental garantidor de direitos e do exercício democrático na gestão das cidades. (AGOPYAN, 2017). No contexto de controle social das políticas públicas, tanto no que se refere à sua formulação, quanto no tocante à sua implementação, bem como no controle das ações e programas em que estas se materializam, a Constituição Federal de 1988 – chamada Constituição Cidadã – manifesta a relevância os conselhos, que posteriormente são disciplinados por leis específicas. Os conselhos são órgãos colegiados, que no estudo em questão, são aqueles relacionados à políticas públicas ou à prestação de serviços públicos. Esses conselhos não integram a administração pública, mas compostos por representantes do Poder Público e de representantes dos diversos segmentos do setor privado, relacionados com a uma dada temática, como saúde, educação, assistência social, segurança alimentar, aplicação dos recursos do FUNDEB. Nesse sentido, os conselhos são importantes espaços de aproximação entre o Poder Público e a sociedade. Constituem-se em espaços de debate e deliberação acerca de importantes decisões a serem tomadas na condução dos assuntos específicos a que são afetos. É importante destacar que algumas políticas públicas, pela natureza dos direitos fundamentais a que estão vinculadas, fazem interseção com outras políticas – multidisciplinariedade ou transversalidade – de modo que pode haver atuação de mais de um conselho com interesse em resolução das questões próprias de suas áreas de atuação. Isso pode, eventualmente, resultar em conflitos entre os conselhos atuantes, o que demanda capacidade de negociação e articulação, como bem pontua Arzabe. 10 Ampliando conhecimentos: Órgãos colegiados (português brasileiro) ou órgãos colegiais (português europeu) são aqueles em que há representações diversas e as decisões são tomadas em grupos, com o aproveitamento de experiências diferenciadas. O termo colegiado diz respeito à forma de gestão na qual a direção é compartilhada por um conjunto de pessoas com igual autoridade, que reunidas, decidem. No órgão colegiado inexiste a decisão de somente um membro. 1.3 CONSELHOS DE POLÍTICAS PÚBLICA Assim, a Constituição Federal reconhece a relevância de se envolver a comunidade nos processos de tomada de decisões, no caso das políticas públicas, o que fica evidenciado ao prever, no caso da saúde, em seu art. 198, III a participação da sociedade na organização do Sistema Único de Saúde (SUS); assim como, no caso das políticas de assistência social, nos termos do art. 204, II e, ainda, no caso da educação, conforme preconiza o art. 206, VI. Vejam-se os preceptivos legais acima mencionados: Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. (...) Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa,cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos 11 respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. (G.N.) (...) Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; ARZABE coloca, ainda, em relevo o caráter pedagógico na formação e exercício da cidadania: Ao impor a criação de conselhos e vincular sua existência até mesmo para o repasse de verbas, o Estado na verdade promove o fortalecimento da cidadania e da participação da comunidade na gestão da coisa pública. Por esses processos, opera-se uma educação para a cidadania e um número maior de pessoas passa a controlar uma parcela de conhecimento sobre o funcionamento da máquina estatal. Como exemplo de controle social na prestação de serviços públicos é possível citar o conselho de usuários de serviços públicos, previsto na Lei n.º 13.460, de 20 de junho de 2017. A referida lei, em atenção ao que preconiza o art. 37, § 3º, da Constituição Federal de 198811, dispõe sobre participação, proteção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos da administração pública trata, em seu Capítulo V, sobre os conselhos de usuários. Art. 18. Sem prejuízo de outras formas previstas na legislação, a participação dos usuários no acompanhamento da prestação e na avaliação dos serviços públicos será feita por meio de conselhos de usuários. Parágrafo único. Os conselhos de usuários são órgãos consultivos dotados das seguintes atribuições: I - acompanhar a prestação dos serviços; II - participar na avaliação dos serviços; III - propor melhorias na prestação dos serviços; IV - contribuir na definição de diretrizes para o adequado atendimento ao usuário; e V - acompanhar e avaliar a atuação do ouvidor. Art. 19. A composição dos conselhos deve observar os critérios de representatividade e pluralidade das partes interessadas, com vistas ao equilíbrio em sua representação. Parágrafo único. A escolha dos representantes será feita em processo aberto ao público e diferenciado por tipo de usuário a ser representado. Art. 20. O conselho de usuários poderá 12 ser consultado quanto à indicação do ouvidor. Art. 21. A participação do usuário no conselho será considerada serviço relevante e sem remuneração. Art. 22. Regulamento específico de cada Poder e esfera de Governo disporá sobre a organização e funcionamento dos conselhos de usuários. (G.N.) Enfim, em vista da relativa novidade da participação democrática na condução do Estado brasileiro, seja pela atuação dos cidadãos nas tomadas de decisão em relação às políticas públicas ou à prestação de serviços públicos, conclui-se que existe um longo percurso a ser trilhado, mas já existe um arcabouço jurídico composto de leis, decretos dos governos locais e outras normativas que dão suporte ao exercício da plena cidadania, de modo a caracterizar o Estado brasileiro como democrático e de direito em sua essência. 13 2. DEMOCRATIZAÇÃO ESTRATÉGICA DA GESTÃO Administração Pública Patrimonialista Quando observamos a evolução história da administração pública no Brasil, podemos destacar três modelos de administração: Patrimonialista, Burocrática e Gerencial. Podemos dizer que desde a sua descoberta em 1500 até a Revolução de 1930, o Brasil foi uma grande instituição garantidora de privilégios sociais e econômicos a uma elite rural e aristocrática. Essa elite conseguia do Estado os mais diversos privilégios como empregos, poderes, empréstimos vantajosos, impunidades e uma lista sem fim de outros benefícios. Segundo Weber (1968) o conceito de patrimonialismo se caracteriza pelas formas de dominação política tradicional em que não se separa de forma clara e visível as esferas pública e privada, em que esses dois domínios se misturam na concepção do governante, que entende e controla o Estado como se fosse uma extensão do seu próprio domínio privado. Dessa forma, na Administração Pública patrimonialista, o aparelho de Estado era como uma extensão do poder do Monarca, que não separava o seu patrimônio do patrimônio público, e ainda, um sistema no qual quem trabalhava para o Estado, ou seja os “servidores públicos” possuíam status de nobreza real, uma vez que os cargos funcionavam como recompensas ou prêmios, o que gera o nepotismo. Esse modo de governar contribuiu para a prática da corrupção, uma vez que o órgão público era controlado pelos soberanos. Em síntese, toda a trajetória, desde o descobrimento, é uma história marcada pela forte presença do Estado, controlado por uma elite patrimonial, dando vida e forma a sociedade brasileira. A herança desse modelo, resulta em uma administração pública caracterizada por um viés patrimonial, que resiste com intensidade, até os dias de hoje. Administração Pública Burocrática O desaparecimento gradual da administração patrimonialista coincide com o início da era capitalista no Brasil, ou seja, com a diminuição do cultivo da cana-de-açúcar que foi sendo substituída pela do café. Esse fato, alinhado ao desenvolvimento das comunicações e a urbanização das áreas rurais, fazem com que o domínio agrário se enfraqueça e se torne impotente. 14 A Administração Pública burocrática nasce na segunda metade do século XIX, como um contraponto a administração patrimonialista, pois tinha como objetivo combater a corrupção e o nepotismo do modelo anterior. Propagava como princípios: serviço público profissional; carreira pública; hierarquia funcional; impessoalidade; formalismo; tudo era feito de acordo com o poder legal. Para tanto, era necessário o controle rígido dos processos e do ingresso à carreira pública, com regras na admissão (concursos públicos ou titulações) e controle nas compras visando evitar abusos, ineficiência e incapacidade. A Administração burocrática, teve início então na era do Presidente Getúlio Vargas, que ocasionou um restauro político do Estado com a intenção de atender as pressões modernizantes da iniciante burguesia nacional. Dessa forma, um Estado mais racional e eficiente seria primordial para o bom resultado da intervenção estatal, que objetivava garantir o desenvolvimento econômico e as relações político-social da burguesia e dos setores operários urbanos (PACARELLI, 2011). Se por um lado, o primeiro movimento que modernizou a administração pública com o estabelecimento de padrões, pode promover a reforma no serviço público (por ser um pré-requisito para tornar efetiva a ação da organização estatal); possibilitou treinamentos, formação profissional, salários mais justos e atraentes e garantias legais, por outro lado, fez com que todos os brasileiros dependentes da ação do Estado e por consequência, da burocracia interna, sofressem com as insatisfatórias e ineficientes práticas e políticas públicas das áreas de saúde, educação e segurança pública. Nesse contexto, de acordo com Pereira (2018): “quando o Estado passa a ser democrático (século XX), e tem como responsabilidade gerar o bem comum, por meio do atendimento adequado das crescentes demandas da população, ocorre significativa ampliação das suas funções nos campos socioeconômico e político. O aumento dessas pressões e a incapacidade do Estado burocrático de atendê-las de maneira satisfatória colocam em xeque o Estado burocrático. Tem-se, portanto, o início do processo de transformações, com a introdução da reforma da gestão pública, que busca transformar o modelo de Estado burocrático em Estado gerencial”. 15 A administração burocrática, apesar do progresso apresentado, tornou-seinadequada, tendo em vista a ampliação do papel social e econômico do Estado a partir de 1950, e aos interesses da população, visto que suas regras passaram a se sobrepor aos interesses da sociedade. Administração Pública Gerencial Como resposta à crise do Estado do Bem-Estar Social, surgiu na segunda metade do século XX, a Administração Pública gerencial, que tem como objetivos principais enfrentar a crise fiscal, reduzir custos e tornar mais eficiente a administração dos bens e serviços de responsabilidade do Estado, focando seus esforços para o resultado. A Administração Pública gerencial partiu do princípio de combater o nepotismo e a corrupção, observando que, para isso, não são necessários procedimentos tão rígidos, pois, nesse modelo, são universalmente rebatidos quaisquer atos que confundam patrimônio público e privado. Começam a ser utilizadas novas estratégias como a descentralização, a delegação de autoridade, controle sobre o desempenho, etc. Ainda, na administração gerencial, o serviço público não precisa mais ser autorreferente, mas orientar- se pela ideia de serviço ao cidadão. É um serviço para o público, essa é a essência da administração pública gerencial. Outra questão que passa a ter um lugar de destaque é a transparência, visto que a corrupção ainda é um fenômeno que enfraquece a democracia, a confiança no Estado, a legitimidade e moral dos governos e dos políticos. A diferença entre os modelos da Administração Pública burocrática e da gerencial é bastante significativa, na medida em que a última parte de princípios e pressupostos diferentes, com outra visão de funcionários, do Estado e da sociedade. 16 Continuando o debate sobre a modernização do Estado e da gestão pública no Brasil, é importante constatar que toda a reestruturação do Estado, e a consequente redefinição de suas relações com a sociedade, é um processo eminentemente político. Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, houve uma forte transferência de responsabilidades e atribuições de políticas públicas para a esfera da administração municipal. Essa transferência encontrou barreiras criadas, principalmente, pela falta de ferramentas e de profissionalização dos servidores que compõem a máquina administrativa municipal. Como explica Pascarelli (2011, p. 40) “o quadro institucional que vem sendo delineado, desde o advento da Constituição Federal de 1988, o município passou a ter importantes atribuições, havendo, porém o paradoxo associado a baixa capacidade de criar receita própria e de quase nenhuma competência administrativa, tornando-se muito preocupantes as consequências perversas e explosivas que essa combinação potencializa”. Com a nova ordem constitucional, a sociedade pode invocar a cidadania para cobrar a qualidade no serviço público. A cidadania é o conjunto de direitos e deveres exercidos por um indivíduo que vive em sociedade, no que se refere ao seu poder e grau de intervenção no usufruto de seus espaços e na sua posição em poder nele intervir e transformá-lo. Conheça mais sobre o Governo Digital do Brasil. https://www.governodigital.gov.br/sobre-o-programa https://www.governodigital.gov.br/sobre-o-programa 17 É neste contexto que o emprego das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) começou a ser apresentado como uma estratégia fundamental para superar as limitações dos outros modelos, transformando um processo de reforma com vistas a modernizar e a democratizar o Estado, em especial a administração pública. O desenvolvimento da internet e das demais TIC criou novas possibilidades e oportunidades à Administração Pública, inclusive as municipais, e ao seu relacionamento com o cidadão. As TIC vêm sendo aplicadas tanto na busca de maior celeridade e de menor custo dos processos de governo, quanto na criação de oportunidades de participação popular e de canais de interação entre o administrador e o administrado. Nessas condições, nos amplos debates sobre a reforma do Estado de forma objetiva, percebemos que uma considerável estratégia, foi a criação do governo digital. Essa ferramenta atende tanto as demandas por modernização, quanto por democratização. A modernização está ligada a reengenharia e reorganização dos processos do governo, por meio da administração digital. Já a democratização, segundo Pinho (2008) considera que os governos podem fazer uso das TIC (Tecnologia da Informação e da Comunicação) para quatro finalidades principais: A prestação de serviços e informações à comunidade; O apoio na organização de movimentos sociais e formação de redes na sociedade civil; A implementação de mecanismos de democracia eletrônica; A democratização do acesso à comunicação eletrônica. O termo Governo Eletrônico pode ter muitas definições. Vamos considerar governo eletrônico como sendo as ações dos programas de Governo Eletrônico (eGOV) que priorizam o uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) para democratizar o acesso à informação, visando ampliar o debate e a participação popular na construção das políticas públicas, como também aprimorar a qualidade dos serviços e informações públicas prestadas. Essa ferramenta possibilita a contínua otimização da prestação de serviços, a participação dos cidadãos e da governança, por meio de informações das relações internas e externas do governo, proporcionadas pela tecnologia, pela internet e pelos novos meios de comunicação. Em outras palavras, as TICs possuem um enorme potencial democrático, desde que haja definições políticas no sentido da participação popular e da transparência, pois o governo pode deixar de oferecer o que não considera tão prioritário em qualquer tempo. 18 Nesse contexto, Ruediger (2002), visualiza o governo eletrônico como um potencializador de boas práticas de governança e catalisador de uma profunda mudança nas estruturas de governo, proporcionando mais eficiência, transparência e desenvolvimento, do provimento democrático de informações para as decisões, além de ser uma ferramenta de capacitação política da sociedade. No Brasil, a política de Governo Eletrônico segue um conjunto de diretrizes que atuam em três frentes fundamentais: 1. Junto ao cidadão; 2. Na melhoria da sua própria gestão interna; 3. Na integração com parceiros e fornecedores. As diretrizes gerais de implantação e operação do Governo Eletrônico funcionam no âmbito dos Comitês Técnicos de Governo Eletrônico e servem de referência para estruturar as estratégias de intervenção, sendo adotadas como orientações para todas as ações de governo eletrônico, gestão do conhecimento e gestão da TI em toda a Administração Pública Federal, entre elas estão: ✓ A prioridade do Governo Eletrônico é a promoção da cidadania; ✓ A Inclusão Digital é indissociável do Governo Eletrônico; ✓ O Software Livre é um recurso estratégico para a implementação do Governo Eletrônico; ✓ A gestão do conhecimento é um instrumento estratégico de articulação e gestão das políticas públicas do Governo Eletrônico; ✓ O Governo Eletrônico deve racionalizar o uso de recursos; O Governo Eletrônico deve contar com um arcabouço integrado de políticas, sistemas, padrões e normas; Integração das ações de Governo Eletrônico com outros níveis de governo e outros poderes. Desde 2016, o Governo Federal criou a Estratégia de Governança Digital (EGD) com o intuito de aumentar as possibilidades de participação social e de construção colaborativa de políticas e iniciativas inovadoras de governo digital, com a proposta de oferecer melhores serviços à sociedade. A EGD busca a simplificação e agilização na prestação dos serviços públicos e de melhora do ambiente de negócios e da eficiência da gestão pública. Além do governo eletrônico, outra grande estratégia utilizadapelos governos com o objetivo de modernizar o Estado e fortalecer a democracia é a participação popular. 19 Já sabemos que a participação popular fortalece a Democracia. Cidadãos que conhecem o que acontece na administração dos seus municípios, estados e de seu país podem dialogar, propor melhorias e cobrar dos governantes para que elas sejam concretizadas. Esta possibilidade de participação da sociedade é uma das principais marcas da concepção do Estado Democrático de Direito. Como afirma Martins Júnior: “Participação é decisiva para as democracias contemporâneas, contribuindo para a governabilidade (eficiência), a contenção de abusos (ilegalidade), a atenção de todos os interesses (justiça), a tomada de decisões mais sábias e prudentes (legitimidade), o desenvolvimento da responsabilidade das pessoas (civismo) e tornar os comandos estatais mais aceitáveis e facilmente obedecidos (ordem).” A democracia participativa não pode se resumir a escolha dos governantes pelo povo. Deve ir além da eleição. A participação popular deve existir também na tomada de decisões que envolvam direta ou indiretamente os interesses individuais dos cidadãos. Isso será de fato o exercício da cidadania globalmente considerada. Um dos grandes estímulos a ampliação da participação popular no Brasil foi a instituição da LAI – Lei de Acesso à Informação (Lei Nº. 12.527/2011) esta normativa exige que os órgão e atores públicos em todas as esferas de governo prestem informações e deem publicidade de seus atos, conforme o Art. 5º da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. A partir daí a transparência ganhou força e a relação entre a sociedade e seus representantes se tornou mais próxima. A participação popular vem aumentando significativamente no país como cidadãos mais engajados do que nunca, que reivindicam clareza em cada atividade ou ato praticado pela administração pública, uma vez que ela permita a promova a participação ativa da sociedade. Conforme falamos, o princípio da participação popular norteia a Administração Pública, amparado em leis e, principalmente, na Constituição Federal. O cidadão, além de buscar saber como funcionam e o que fazem os diferentes segmentos do poder público, pode também colaborar no processo de 20 elaboração, gestão e avaliação das políticas públicas, por meio de alguns instrumentos, dos quais podemos destacar: Conselhos Municipais: também chamados de Conselhos de Políticas Públicas, os conselhos municipais são uma importante forma de participação popular para uma gestão pública mais transparente e participativa em prol dos cidadãos. Esses grupos atuam nas mais diversas áreas como saúde, educação, pessoa idosa e com deficiência, diretos da mulher, direito da criança e do adolescente, assistência social, entre outros, e possuem o papel de mediação entre a sociedade em geral e o Governo (Federal, Estadual ou Municipal) com o intuito de formular e acompanhar a execução das políticas públicas dos municípios em todas essas áreas; Portal do Cidadão: pode ser chamado também de “site” da prefeitura ou do órgão público a ser acessado. Esses portais fomentam a transparência e a participação popular. Esse canal de comunicação com a sociedade pode ser utilizado por qualquer pessoa ou qualquer órgão e de qualquer esfera administrativa. Nos portais podemos encontrar todas as informações relevantes dos entes públicos, como investimentos, folhas de pagamento, projetos e políticas, permitindo que o cidadão conheça a gestão a fundo. A criação dos Portais do Cidadão é um dos reflexos da digitalização dos processos, ou seja, como já falamos, por meio do uso da tecnologia e utilização de soluções inteligentes, é possível melhorar a prestação de serviços públicos. Com o uso de ferramentas digitais (softwares específicos para gestão pública) para gerenciar seus processos, a Administração Pública pode permitir a realização e o encaminhamento de serviços de forma totalmente online. Assim, as pessoas podem fazer buscas e acompanhar processos administrativos de qualquer lugar e ganham autonomia, pois podem, por exemplo, escolher o momento mais adequado para fazer suas solicitações sem ter que se deslocar para lugares específicos e muitas vezes enfrentar filas de espera; Aplicativos e Redes Sociais: esse instrumento possui um grande potencial colaborativo. Os aplicativos móveis têm se tornado grandes aliados do poder público, uma vez que já possível fiscalizar obras, informando ao órgão competente a situação e o andamento da execução de uma rodovia, por exemplo, com um simples celular, permitindo que as informações sejam integradas e consolidadas no sistema de gestão do órgão. Estão sendo desenvolvidas ferramentas que mesmo sem internet, possibilitam o registro e a consulta de dados enviados pelo cidadão. A utilização das redes sociais pelo poder público pode ajudar também no 21 atendimento as demandas do cidadão. Ele pode, além de receber as reclamações, dar sequência a solicitações e ainda oferecer conteúdo útil e relevantes para a vida do cidadão. Como vimos, a inclusão da participação popular na gestão e nas tomadas das decisões é mais que uma obrigação legal, é um grande auxílio ao trabalho dos governantes. Isso porque, permite que a Administração Pública tenha mais eficiência em suas ações, resultando em um maior comprometimento social e com o desenvolvimento dos municípios. Um bom exemplo para exemplificar a importância da participação popular para a administração pública foi a criação da Lei da Ficha Limpa. Esta Lei teve início com um grupo de cidadãos que juntos, levaram ao Congresso Nacional uma proposta com as diretrizes iniciais. Assinada e em vigor desde 2010, a Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar Nº. 135/2010), é um dos projetos de iniciativa popular que viraram lei no nosso país. Complemente seus estudos Investigando portais de governo eletrônico de estados no Brasil: muita tecnologia, pouca democracia http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003476122008000300003 Sociedade Civil e democratização da gestão pública no Brasil. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151745222006000200007 O Portal e-Cidadania do Senado Federal, foi criado para incentivar a participação da sociedade no processo legislativo. Os cidadãos podem assistir audiências públicas sobre temas em debate na Casa e enviar comentários e perguntas; também podem sugerir propostas para análise dos senadores e opinar sobre projetos em tramitação. https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2018/02/portal-e- cidadaniaestimula-participacao-popular-nas-atividades-legislativas Governo Eletrônico https://www.governodigital.gov.br/EGD/historico-1/historico https://www.governodigital.gov.br/EGD/historico-1/diretrizes Lei da Ficha Limpa http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp135.htm http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003476122008000300003 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151745222006000200007 https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2018/02/portal-e-cidadaniaestimula-participacao-popular-nas-atividades-legislativas https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2018/02/portal-e-cidadaniaestimula-participacao-popular-nas-atividades-legislativas https://www.governodigital.gov.br/EGD/historico-1/diretrizes http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp135.htm 22 3. O PLANO DIRETOR MUNICIPAL Os primeiros “Planos Diretores”, tem sua origem, no final do século XIX e no início do século XX, a partir das necessidades provenientes daindustrialização e do desenvolvimento econômico de grandes centros europeus. O segundo ciclo desses planos, foram compreendidos entre as décadas de 50 e 70, no contexto do acentuado crescimento demográficos do período, com a incorporação do pensamento estratégico em realizar o planejamento em uma projeção de 25 a 30 anos. Nesse período, foi considerado o conceito de dinâmica urbana, tendo em vista o crescimento demasiado da população, o êxodo rural, as necessidades presentes e futuras, de moradia, saneamento, transporte, emprego, e outros. No Brasil, as primeiras práticas de planejamento urbano, foram isoladas e, de maneira geral, refletiram a iniciativa de governos locais, não conseguindo concretizar uma política urbana para o país. Inicialmente, foram desenvolvidos apenas para as grandes cidades. Até a Constituição Federal de 1988, a articulação em termos de planejamento urbano, consistia em programas aos quais somente os estados e municípios que tivessem condições de obter financiamentos para projetos específicos poderiam participar. O Plano Diretor, no texto constitucional, é definido como: “o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana” (art. 182, §1º). Contemplam em suas diretrizes as questões de habitação, meio ambiente, patrimônio histórico e outros aspectos relacionados com o desenvolvimento das cidades, na direção da promoção das melhores condições de vida a população. 23 Requer como premissas a participação social, por meio de associações representativas e a sociedade em geral no planejamento municipal e, por conseguinte, dos trabalhos de preparação e implantação do Plano Diretor. O Plano Diretor apresenta como principais conteúdos: A organização do espaço para o desenvolvimento econômico. A recuperação das zonas centrais por meio de projetos próprios a realidade de cada espaço. A criação e organização de “subcentros estruturadores” nas regiões da periferia, conferindo capacitação e em consequência a maior autonomia dos moradores. Projetos destinados à otimização do espaço e redução do consumo de energia. Programas voltados para a preservação ambiental. Preservação de áreas verdes com redução da poluição sonora e atmosférica, planos de coleta e tratamento de resíduos urbanos, dentre outros. 3.1 ESTATUTO DAS CIDADES Para o melhor entendimento sobre “O Estatuto da Cidade”, torna-se fundamental compreendermos os movimentos anteriores de discussão sobre os fenômenos sociais urbanos, que deram origem a Lei Federal nº 10.257/01 – Estatuto da Cidade que foi instituída para regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, do capítulo de Política Urbana. 24 Dessa forma, a inserção desse capítulo, decorre do “Movimento Nacional pela Reforma Urbana”, por meio de emenda popular pela Reforma Urbana, onde foram apresentadas aproximadamente 131.000 assinaturas. Os movimentos de “Reforma Urbana” ou denominado também, como de “Renovação Urbana”, foram expandidos a partir II Guerra Mundial e, neste período foi intensificado com o propósito de realizar a reposição de áreas do tecido urbano consolidado, principalmente de centros antigos, bombardeados e deteriorados ou em decadência e, assim o planejamento urbano passava a se preocupar pela primeira vez com as questões de infraestrutura e para melhorar as condições de vida. No Brasil, por meio do Seminário de Reforma Urbana, em 1963, foram discutidas e analisadas diretrizes, resultando em um documento que deu origem a proposta de criação de um órgão responsável pela política urbana, responsável para elaborar o Plano Nacional Territorial e um Plano Nacional de Habitação. Em sua redação foi incorporado, medidas estatais, que coloca a Reforma Urbana como atribuição do governo federal, com responsabilidades para o uso de solo urbano de forma justa; a ordenação de equipamentos voltados para o planejamento físico das cidades; e por fim, fornecimento de habitações a todas as famílias, na direção para o direito de todos. Na sequência o governo federal criou em 21 de agosto de 1964, a Lei nº 4.380, que instituiu o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU). Neste período a meta era alcançar o desenvolvimento nacional e regional e promover as reformas institucionais necessárias, por parte dos governos municipais, para fazer frente aos novos padrões de crescimento econômico. O termo Reforma Urbana foi retomado na década de 1980 e esse movimento, originou a incorporação aos artigos 182 e 183 do capítulo referente à política urbana na Constituição de 1988. O Estatuto da cidade tem por finalidade apresentar as diretrizes gerais da política urbana, tais como: Garantia do direito a cidades sustentáveis; Gestão democrática; Ordenação e controle do uso do solo; Justa distribuição dos benefícios e recuperação dos investimentos do Poder Público. Anterior à instituição do Estatuto da Cidade, a terra urbana tinha por função atender aos interesses de seu proprietário, e com a instituição dessa lei a terra passa a representar um benefício da coletividade. Esta lei tem quatro dimensões fundamentais, quais sejam: 25 a) Consolida a noção da função social e ambiental da propriedade e da cidade como o marco conceitual jurídico-político para o Direito Urbanístico b) Regulamenta e cria novos instrumentos urbanísticos para a construção de uma ordem urbana socialmente justa e includente pelos municípios. c) Aponta processos político-jurídicos para a gestão democrática das cidades. d) Determina formas para materializar o direito social de moradia com a proposição de diversos instrumentos jurídicos, sendo alguns exemplos: usucapião especial urbano; a concessão de direito real de uso e; a concessão de uso especial para fins de moradia. Assim, o Estatuto da Cidade não só consolidou o espaço da competência jurídica e da ação política municipal pela Constituição Federal de 1988, como também ampliou de modo significativo à questão da regularização fundiária. Anterior à instituição do Estatuto da Cidade, a terra urbana tinha por função atender aos interesses de seu proprietário, com direito absoluto do proprietário e com a instituição dessa lei a terra passa a representar um benefício da coletividade. 3.2 SOLO CRIADO – OUTORGA ONEROSA Pode-se dizer que a teoria criadora do instrumento de solo criado, englobam todos os instrumentos de regulação fundiária e visa o privilégio dos interesses coletivos sobre os demais. 26 Segundo Baracat, a outorga onerosa, (solo criado), do direito de construir é um dos instrumentos do estatuto das cidades que deve constar do plano diretor como importante ferramenta para a preservação ambiental inclusive. A aplicação deste instrumento faculta ao proprietário de um imóvel localizado em área de interesse público (histórico, paisagístico, cultural, regularização fundiária), o direito de construir em outro local. Como o artigo 30 do Estatuto da Cidade determina que uma lei municipal vá definir as condições a serem observadas para a implantação da outorga, ou seja, a fórmula, casos possíveis de isenções e contrapartida dos investidores, Resende e Furtado estabeleceram exemplos importantes para a compreensão do instrumento de outorga onerosa, abaixo especificados: 27 3.3 OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA Trata-se de um conjunto de intervenções e medidas oriundas da Prefeitura Municipal com a participação de moradores, proprietários, usuários permanentes e investidores privados, mediante lei específica para transformar uma determinada área para que receba melhorias sociais, ambientais e urbanísticas. Baracat (2006) exemplifica que, pela cooperação entre o poder público e a iniciativa privada, uma área destinada a um grande empreendimento pode ser recuperadaambientalmente mediante a alteração de coeficientes, ficando o empresário encarregado de medidas compensatórias e mitigadoras como a recuperação de áreas degradadas de preservação permanente, relocação de famílias nelas residentes, criação de áreas verdes e outras obras ou serviços no mesmo local do investimento. Segundo Sandroni, são exemplos de Operação Consorciada os Certificados de Títulos de Potencial de Construção Adicionais (CEPACs) emitidos pela prefeitura de São Paulo e que foram vendidos em leilões eletrônicos na Bolsa de Valores de Paulo (Bovespa). Eles dão aos portadores direitos de construção adicional, como uma área de piso maior e a capacidade de alterar o uso do imóvel. Financeiramente falando, os CEPACs são a compensação econômica. Um empreendedor dá à administração pública em troca de novos edifícios direitos. 28 Exemplo deste instumento se deu em 1995, na operação urbana de Faria Lima, mas que só começou a operar em 2004, após a aprovação de 2001 pelo Estatuto da Cidade, que incluiu o CEPAC como instrumento que poderia ser usado em todo o território do Brasil. Os CEPACs funcionam tanto como atração pelo investimento privado, como forma de induzir desenvolvimentos para ajustar as transformações desejadas na política urbana. Os incentivos, que foram definidos pelas leis específicas, foram estabelecidos no estatuto da cidade, são modificações de índices e características de uso do solo. Em termos práticos, os CEPACs fazem parte de uma intervenção em uma grande área da cidade que exige infraestrutura e melhorias urbanas, como avenidas, drenagem, casas para pessoas que vivem em favelas, áreas públicas, equipamentos públicos e outros investimentos. O financiamento deve vir do valor incremental originado em mudanças no zoneamento. Os Proprietários e / ou investidores de lotes localizados dentro do perímetro urbano, podem apresentar projetos e pagar com CEPACs pelos direitos adicionais de construir. A administração pública examina o projeto e analisa se é adequado dos pontos de vista arquitetônicos e urbanos. Se for aprovado, o próximo passo é estimar o incremento de valor e como esse valor será compartilhado entre o proprietário / investidor e o setor público. Cada operação consorciada possui uma porcentagem específica de participação do setor público no valor criado pelos novos coeficientes de zoneamento. Em algumas situações, como da Operação Consorciada Agua Branca, a participação mínima foi de 60%. Já na Operação Consorciada da Faria Lima, foi de 50% até 2004, quando o sistema começou a vender CEPACs (SANDRONI, 2000). De 1990 a 2002, as administrações de São Paulo propuseram e aprovaram quatro Operações Consorciadas: 1-Anhangabaú-Centro; 2-Água Branca; 3- Faria Lima; 4- Água Espraiada. O plano diretor de São Paulo de 2002 consolidou estas quatro operações e criou mais nove: Diagonal Sul, Diagonal Norte, Carandiru-Vila Maria, Rio Verde-Jacu, Vila Leopoldina, Vila Sônia, Celso Garcia, Santo Amaro e Tiquatira. Destes e até abril de 2008, apenas a operação consorciada do Rio Verde-Jacu foi aprovada pelo conselho da cidade. 29 3.4 DIREITO DE PREEMPÇÃO Pedro Luiz Baccarat (2008) nos ensina que o direito de preempção é a preferência de aquisição pelo poder municipal de um imóvel, que seja objeto de alienação onerosa entre particulares, para preservação ambiental quando o Município necessitar de áreas verdes e de lazer, preservação de unidades ambientais, conservação de patrimônio histórico e cultural. O direito de preempção para ser utilizado deve estar baseado na lei do plano diretor e posteriormente regulamentado em lei específica que defina os critérios para a sua efetiva aplicação. Por exemplo, pode-se prever que determinado imóvel ao ser comercializado deva primeiramente ser oferecido ao poder público. 3.5 LEI DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E CÓDIGO DE OBRAS A lei de uso e ocupação do solo é parte integrante do plano diretor, e se ocupa da organização físico- territorial do espaço urbano municipal. Trata-se de uma lei que dispõe sobre a divisão das áreas urbanas e estabelece parâmetros de usos no intuito de orientar e ordenar o desenvolvimento do espaço urbano municipal. Por zoneamento entende-se a divisão do território em áreas (zonas) visando conferir a cada uma, usos e adensamentos diferenciados em função do sistema viário, da topografia e da infraestrutura existente. 30 Os demais objetivos da divisão em zonas podem ser elencados da seguinte forma: 1) Proporcionar meios que garantam qualidade de vida à população, em espaço urbano adequado e funcional e o planejamento integrado às políticas públicas. 2) Preservar a escala da cidade e de seus valores naturais, culturais e paisagísticos. 3) Compatibilizar as políticas de incentivos à preservação do Patrimônio Cultural, Paisagístico e Ambiental. 4) Estabelecer critérios de ocupação e utilização do solo urbano, tendo em vista o bem estar do cidadão e o cumprimento da função social da propriedade. 5) Estabelecer critérios de ocupação e utilização do solo urbano, tendo em vista o bem estar do cidadão e o cumprimento da função social da propriedade. 6) Orientar o crescimento da cidade visando minimizar os impactos sobre áreas ambientalmente frágeis e incentivar o adensamento das áreas já urbanizadas. 7) Integrar o zoneamento, o uso e a ocupação do solo com o Sistema Viário e o Meio Ambiente. 8) Prever e controlar densidades construídas e de ocupação do solo urbano, como medida para a gestão do bem público, da oferta de serviços públicos e da conservação do meio ambiente. 9) Compatibilizar usos e atividades diferenciadas, complementares entre si, tendo em vista a eficiência do sistema produtivo e a eficácia dos serviços e da infraestrutura. O artigo 29 da Lei 26/09 preconiza sobre o zoneamento, o uso de a ocupação e considera-se que o uso do solo é o tipo de Utilização de Parcelas do Solo Urbano por certas atividades dentro de uma determinada zona, podendo esses usos ser definidos como: I - Permitidos: usos adequados à zona, sem restrições, e que dependem apenas das licenças de construção e funcionamento; II - Permissíveis: usos passíveis de serem admitidos nas zonas, desde que regulamentados pela Administração municipal, após consulta aos órgãos competentes, e desde que não contradigam ou interfiram nos usos previstos por esta Lei; III - Tolerados: usos atuais, consolidados na vigência da legislação anterior, que são admitidos na presente; lei; IV - Proibidos: usos inadequados que, por sua categoria, porte ou natureza, são nocivos, perigosos, incômodos ou incompatíveis com as finalidades da zona correspondente [grifos nossos] (BRASIL, 2009) 31 No artigo 30, o referido dispositivo legal dispõe que a ocupação do solo é a maneira como a edificação ocupa o lote, em função das normas e índices urbanísticos incidentes sobre aquele, que são: I - Dimensão do Lote ou Fração Mínima: área mínima do lote individual, quando do parcelamento de uma gleba, ou fração pela qual a área total da gleba deve ser dividida, com a finalidade de obter as frações ideais a elas aplicáveis. II- Taxa de Ocupação: percentual expresso pela relação entre a área de projeção ortogonal da edificação ou edificações e a área total do lote onde se pretende edificar. III-Coeficiente de Aproveitamento: valor que deve ser multiplicado pela área do terreno para se obter a área máxima a construir. IV- Recuos Frontais, Laterais e de Fundos: distância entre o limite extremo da edificação e cada uma das divisas do lote; os recuos frontais serão medidos a partir do alinhamento predial, sendo que os demais a partir de linhas paralelas às divisas do lote, salvo projeções de saliências em edificações, nos casos previstos em lei. V-Altura da Edificação: é a dimensão vertical máxima da edificação,expressa em metros, quando medida de seu ponto mais alto até o nível do terreno, ou em número de pavimentos a partir do térreo, inclusive (BRASIL, 2009). VI- Taxa de Impermeabilização: percentual expresso pela relação entre a área ocupada pelas edificações - estacionamentos, acessos, quadras, piscinas -, ou seja, área impermeabilizada do lote e a área total do lote. Parágrafo único. Para efeito do inciso IV, os lotes de esquina deverão observar o recuo frontal em ambas as frentes, inclusive no pavimento de subsolo, e testada mínima acrescida na dimensão correspondente ao recuo mínimo frontal. (Brasil, 2009). A amplitude do zoneamento abrange todas as atividades exercidas sobre o solo urbano, em qualquer escala ou nível da iniciativa privada ou pública. Pode-se dizer de forma singular que a lei de uso do solo insere o zoneamento das áreas urbanas a fim de delimitá-las dentro do perímetro urbano e conformadas por um mapa de macro zoneamento e outro de zoneamento, os quais são partes integrantes da lei. 32 Assim os mapas demonstram as delimitações das zonas e suas subdivisões, as quais são definidas de acordo com o uso e com a fragilidade ambiental de cada uma delas. De forma geral o zoneamento de uma cidade também define as atividades que são permitidas ou não dentro de uma determinada zona, de acordo com a sua utilização, assim inclui a classificação de usos admitidos nas diferentes zonas e setores urbanos, bem como, a especificação dos parâmetros de ocupação do solo urbano. 3.6 ZONEAMENTO - CLASSIFICAÇÃO Pode-se demonstrar assim um exemplo de delimitação de zonas, abaixo discriminado, conforme dispõe a Lei 045/2011, art.12, capítulo II, zoneamento: I – Zona de Interesse Turístico (ZIT); II – Zona Residencial e Comercial (ZRC); III – Zona de Comércio e de Serviço (ZCS); IV – Zona Industrial (ZI); V – Zona Residencial (ZR); VI – Zona de Expansão Urbana (ZEU); VII – Zona de Preservação Permanente (APP); VIII – Área Verde Pública (AVP). IX – Zona Especial de Interese Social (ZEIS). §1º – Zona de Interesse Turístico (ZIT) A Zona de Interesse Turístico: corresponde às áreas que estimulem as possibilidades econômicas relacionadas à produção local com interesse turístico, tornando-se um atrativo para o desenvolvimento turístico sustentável, após a elaboração do inventário turístico. §2º – Zona Residencial e Comercial (ZRC) A Zona Residencial e Comercial incorpora as áreas onde é permitido o uso residencial, comercial e o uso de serviços, tendo por objetivos: Nessa zona será permitido o uso residencial e os usos de comércio e serviços que não gerem poluição sonora ou ambiental, para esse zoneamento os objetivos são: a) ocupar vazios urbanos, otimizando a infraestrutura existente; b) garantir a continuidade do sistema viário e da qualidade de desenho urbano nos novos loteamentos; 33 c) garantir a inclusão urbana da população marginalizada; d) garantir o predomínio do uso habitacional de média densidade; e) permitir uma diversidade no parcelamento do solo. §3º – Zona de Comércio e de Serviço (ZCS) Esta zona permite os usos de caráter comercial e toda e qualquer atividade que se destaque na área econômica e que estimule as possibilidades econômicas, caracterizada pela relação de troca, ou atividade caracterizada pelos préstimos de mão de obra. Também deve otimizar a infraestrutura existente, com a ocupação adequada dos parcelamentos e edificações, bem como, priorizar o atendimento de novos empreendimentos. §4º – Zona Industrial (ZI)7 Nesta área estão contidas as atividades que resultam na produção de bens pela transformação de insumos. A Zona Industrial tem por objetivo repartir o solo com intenção de um melhor desenvolvimento da atividade industrial exercida, como buscar a diminuição dos impactos negativos ao meio ambiente, tendo por objetivos: a) o Poder Público Municipal deve definir incentivos fiscais, de forma a induzir a ocupação nesta Zona; b) otimizar o Parque Industrial fomentando a economia local, com a infraestrutura apropriada e a ocupação adequada dos parcelamentos desta zona; c) criar anéis verdes com intuito de isolamento assimilando suas respectivas poluições. d) priorizar o atendimento de novos empreendimentos. §5º – Zona Residencial (ZR) Nesta zona incluímos áreas com edificações destinadas à habitação permanente ou transitória. Assim será permitido o uso residencial cujos objetivos são: a) ocupar vazios urbanos, otimizando a infraestrutura existente; b) garantir a continuidade do sistema viário e da qualidade de desenho urbano nos novos loteamentos; c) garantir a inclusão urbana da população marginalizada; d) garantir o predomínio do uso habitacional de média densidade; e) permitir uma diversidade no parcelamento do solo. §6º – Zona de Expansão Urbana (ZEU) 34 As áreas incluídas nesta zona prestam-se a destinação futura como expansão da ocupação urbana da cidade e, somente poderá ser parcelada e ocupada, após a Zona Residencial atingir 80% (oitenta por cento) do total de ocupação definida na lei. §7º – Zona de Preservação Permanente (APP) Nesta zona encontram-se aa Áreas de Preservação Permanentes que correspondem às áreas de mata nativa e de fundo de vale dos rios localizados dentro do perímetro urbano, cujas dimensões devem respeitar as legislações pertinentes, conforme estabelecido no art. 14 desta lei. §8º – Área Verde Pública (AVP). Nesta zona situa-se as áreas verdes públicas, que são as áreas destinadas às atividades recreativas e de lazer destinadas ao uso da população. Com o objetivo de incrementar a qualidade de vida e oferecer opções de interação com o meio ambiente por meio de praças, parques, reservas, pedreiras, lagos, rios e nascentes com ciclovias em áreas que ainda têm uma cobertura vegetal expressiva, a interação no conjunto oferece maior beleza para a cidade e qualidade de vida à população, tais usos permitidos para essa zona deverão respeitar os permitidos pela Resolução n° 369/2006 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e está dividida em quatro porções e corresponde às áreas de melhorias urbanas, ao norte, ao noroeste, outra a sudeste e a sudoeste, nas quais deverão ser implantados projetos de reurbanização, de integração educacional e área de lazer, interligadas por ciclovias abrangendo todo o perímetro urbano proposto com a implantação do Parque Municipal, tendo por objetivos: a) proteger e ampliar a cobertura vegetal com o objetivo de incrementar a qualidade de vida e oferecer opções de interação com o meio ambiente a partir de praças, parques, reservas, pedreiras, lagos, rios e nascentes - Áreas de Preservação Permanente (APPs); b) incentivar o desenvolvimento de áreas de lazer ambiental; com o desenvolvimento de projeto específico para esta zona, compreendendo projeto ambiental, definição de equipamentos de lazer e traçado das vias de acesso; c) apoiar o desenvolvimento de programas visando a educação ambiental, proteção e reconstituição das estruturas ambientais; d) proibir o parcelamento do solo; e) criar mecanismos de compensação que permitam proteger e ampliar a cobertura vegetal na área urbana; 35 f) recuperar e manter a qualidade ambiental na área urbana; g) permitir a construção de equipamentos públicos §9º – Zona Especial de Interese Social (ZEIS). Nesta zona situam-se as áreas que de Interesse Social que visam à promoção da regularização fundiária, relocação ou remoção da população quando avaliado como necessário pelo órgão responsável. 3.7 TABELAS DE OCUPAÇÃO DO SOLO A ocupação do solo de um Município pode ser resumida de acordo com a tabela abaixo discriminada: 36 37 38 4. PLANOS MUNICIPAIS CORRELATOSAO PLANO DIRETOR 4.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 – ASPECTOS ANTECESSORES Anterior aos marcos legais estabelecidos na Constituição de 88, para a política urbana, foram várias décadas de lutas, embates e confrontação de interesses, com o protagonismo dos distintos segmentos da sociedade (TONELLA, 2012; MARICATO, 2010). A divergência dos interesses em relação ao uso da propriedade urbana deu origem a duas “correntes ideológicas” que ao longo dos tempos geram e geraram influências ao conjunto das legislações. “Uma corrente busca dar à propriedade uma função social em defesa do interesse coletivo e da proteção dos mais frágeis. A outra corrente é marcada pela visão patrimonialista de defesa total do direito privado individual à propriedade urbana (PINHEIRO, 2012, p. 50 e 51).” Anterior a Constituição de 1988, destacam-se três períodos: I. Primeiro período - 1930 e 1964 Revolução de 1930 e a Constituição Federal de 1946 com um conjunto de leis pró-inquilino. Forte influência liberal do Poder Judiciário na interpretação das leis relacionados aos temas para o acesso à terra e à moradia como a desapropriação, o loteamento e a proteção do inquilino (PINHEIRO, 2012). 1950 a 1964 - Cresceu a participação do setor habitacional nos orçamentos públicos (política habitacional). Criação do Conselho Federal da Habitação (Decreto-Lei n. 1.281/1962) (PINHEIRO, 2012). 1963 - nasceu o Movimento Nacional de Reforma Urbana, composto pelos movimentos sociais (moradia, transporte, saneamento), associação de profissionais (arquitetos, advogados, sanitaristas, assistentes sociais, engenheiros), entidades sindicais, entidades acadêmicas e de pesquisa, ONGs, integrantes da Igreja Católica (egressos do movimento religioso denominado Teologia da Libertação), servidores públicos, além de prefeitos e parlamentares progressistas (MARICATO, 2010; PINHEIRO, 2012). Realizou-se Seminário Nacional de Habitação e Reforma Urbana, conhecido como o Seminário do Quitandinha (1963), realizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Propostas formuladas com significativa base popular, como exemplo, foi a primeira proposta no Congresso de Arquitetos (1963), atribuindo a propriedade ociosa como ilegítima. Essa interpretação era entendida como central para a transformação do país (PINHEIRO, 2012; MARCATO, 2010). 39 II. Segundo período - 1964 até Constituição Federal de 1988. 1963 - primeira etapa (1964) caracterizado pela repressão ditatorial contra os movimentos sociais e sindicais (PINHEIRO, 2012); 1964 - foi criado o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERPHAU), o Sistema Financeiro de Habitação (SFH); Banco Nacional de Habitação (BNH); Plano Nacional de Saneamento (PLANASA). A questão urbana mereceu tratamento significativo na Política Nacional de Desenvolvimento (II PND) (PINHEIRO, 2012). 1969 – A proposta dos arquitetos foi incorporada pelo Regime Militar que a aplicou por meio de um aparato institucional tecnocrático, fortemente centralizado (política habitacional, transporte e de saneamento), sem considerar a questão fundiária. Nesse período referidas medidas geraram empregos, porém com privilégios para a classe média em detrimento das demandas da maioria da população (PINEIRO,2012). 1970 - Marcado pela centralização de decisões político e tutela do governo central sobre os governos estaduais e municipais. Foi criado o Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano (CNDU), que disseminou um modelo de planejamento urbano tecnocrático como solução para os problemas das cidades, e a elaboração de Planos Diretores municipais condicionados a liberação de recursos federais. Foi um período marcado por grande volume de planejamento e considerável destinação de recursos para a solução do “caos urbano”. “Mas todas estas iniciativas causaram o aprofundamento do fosso que separa o mercado imobiliário legal daqueles que não têm acesso a ele” (MARICATO, 2008, p. 96). Como produto desse período houve o grande crescimento da informalidade, das favelas, dos loteamentos clandestinos (PINHEIRO, 2012). III. Terceiro período - final dos anos de 1980 Marcado por intensas mobilizações sociais, principalmente nas grandes cidades e pela redemocratização do País (PINHEIRO, 2012). Promulgação da Constituição Federal de 1988; criação da Lei do Estatuto da Cidade e a criação do Ministério das Cidades (PINHEIRO, 2012). Por fim, ganha destaque, no período que antecede à Constituição, o Movimento Nacional de Reforma Urbana por se constituir em uma experiência ímpar nas discussões dos pontos fundamentais da política urbana e nas lutas sociais articuladas trazendo para o centro dos debates políticos a questão urbana (TONELLA, 2012). Na seção a seguir, apresenta-se os aspectos da política urbana, contidas na Constituição de 1988. 40 4.2 MARCOS DA POLÍTICA URBANA Alguns marcos que desencadearam as conquistas sociais e legislações da política urbana no Brasil, segundo Maricato (2010) e Tonella (2012), merecem destaque: 1982 - Agenda do movimento comunitário - Confederação Nacional de Associações de Moradores (CONAM) - composto pela participação heterogênea de entidades filiadas (mutuários, associação de moradores em bairros periféricos e movimentos de sem-teto). 1987 - Emenda Constitucional de Iniciativa Popular subscrita por entidades da sociedade civil 1987 - Criação do Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) formado por entidades da sociedade civil. 1988 - Promulgação da Constituição Federal com dois capítulos voltados para a Política Urbana. 1990 - I Seminário Nacional de Moradia Popular, realizado pelo Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), São Paulo, contou com participação de grupos de todas as regiões do país. Resultando na articulação e mobilização pelo projeto de lei de iniciativa popular do Fundo Nacional de Moradia Popular - “Caravanas a Brasília”. 1991 - Apresentação de Projeto de Lei do Fundo Nacional de Habitação Popular como iniciativa da sociedade civil, contendo assinatura de um milhão de eleitores; 2001 Promulgação da Lei Federal Estatuto da Cidade, que regulamenta a Constituição Federal de 1988 — em especial a Função Social da Propriedade. 2002 - “Carta pela implementação do Estatuto da Cidade”, aprovada no Encontro Nacional pelo Direito à Cidade no Rio de Janeiro, em julho de 2002. 2003 - Criação do Ministério das Cidades – investimentos nas áreas de saneamento e habitação. 2003 - Realização da Conferência Nacional das Cidades, resultado de um processo participativo que envolveu 3.400 municípios, todos os Estados da Federação e contou com mais de 2.500 delegados eleitos para debater a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (outras conferências aconteceram em 2005 e 2007). 2004 - Criação do Programa Nacional de Regularização Fundiária Urbana; 2004 – Criação do Conselho das Cidades (ConCidades) – decreto nº 5.031, como órgão consultivo do Ministério das Cidades que reúne lideranças sociais, sindicais, empresariais, acadêmicas, profissionais, entre outras. 2004 – Resolução nº 13/2004 do ConCidades – estabelece nas diretrizes o incentivo à criação, estruturação e o fortalecimento de conselhos estaduais e municipais, seguindo a diretiva de articulação 41 dos quatro setores que compõe a política urbana a saber: saneamento; transporte, mobilidade e infraestrutura; planejamento urbano e ordenamento territorial. 2005 - Aprovação da Lei Federal que institui o marco regulatório do Saneamento Ambiental (contrariando perspectiva de privatização que estava em disputa há 13 anos). 2005 - Aprovação da Lei Federal do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social que implicou na criação de um fundo e conselho específico com participação social, além de condicionar o repasse de recursos federais à existência de Planos Habitacionais, Conselhos e Fundos estaduais emunicipais. 2005 – Lançamento da Campanha Nacional do Plano Diretor Participativo – Estatuto da Cidade. 2007 – Lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) - investimentos nas áreas de habitação e saneamento, por meio do conjunto de obras voltada à produção (portos, ferrovias, rodovias, usinas geradoras de energia) e parte da infraestrutura social e de habitação (programa de urbanização de favelas). 2009 – Lançamento do Programa Minha Casa, Minha Vida - financiamento - construção de um milhão de moradias por parte do Governo Federal. 2019 – Extinção do Ministério das Cidades. O Decreto nº 9. 666/2019 prevê que as competências do Ministério das Cidades e Integração Nacional seriam reestruturadas pelo Ministério de Desenvolvimento Regional. Na sequência, apresenta-se a seção sobre planejamento urbano, por seu papel na organização e no estabelecimento de práticas de intervenção na realidade urbana. 4.3 INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS DA POLÍTICA URBANA O conjunto de instrumentos urbanísticos propostos pelo Estatuto estão voltados a construção de uma política urbana na direção da função social e do direito à cidade.O uso desses instrumentos dependerá da realidade de cada município e devem estar contemplados no Plano Diretor. Da mesma forma a implementação do instituto das Zonas Especiais de Interesse Social, deverá estar contemplada no Plano Diretor e aplicado com base em uma lei específica (BARROS, CARVALHO, MONTANDON, 2010; PINHEIRO, 2012). Segundo Barros, Carvalho , Montandon (2012) as Zonas ou Áreas Especiais de Interesse Social (ZEIS ou AEIS): [...] viabilizam a regularização jurídica dos assentamentos informais (áreas encortiçadas, vilas, favelas e loteamentos clandestinos) ao instituir 42 parâmetros especiais de uso, ocupação e parcelamento do solo. As ZEIS também podem ser instituídas em terrenos ou prédios vazios, ociosos ou subutilizados para novas moradias populares (denominadas ZEIS de vazios). Começa pela delimitação da área e as ZEIS podem ser criadas no Plano Diretor instrumento para regularização da posse de imóvel urbano de propriedade particular, ocupado por população de baixa renda há mais de cinco anos, sem oposição. No caso individual, é um dispositivo autoaplicável da Constituição. O Estatuto instituiu a usucapião coletiva facilitando a regularização fundiária de áreas urbanas de difícil individualização de lotes e moradias, como nas favelas. O Estatuto relaciona mais de 30 instrumentos classificando os em: instrumentos de planejamento, institutos tributários e financeiros, e institutos jurídicos e políticos. Por meio desses instrumentos busca- se induzir a articulação entre a política tributária e a política urbana. São exemplos desses instrumentos: a) Instrumentos tributários e financeiros1: Anterior ao Estatuto diversos instrumentos tributários e financeiros já existiam. Sendo bem administrados, possuem uma importante contribuição para a cidade na organização e redistribuição dos custos e benefícios de produção das cidades. Vale ressaltar ainda, que a Constituição Federal destacou três instrumentos (art. 182, § 4º) como penalidades para combater a ociosidade de grandes terrenos urbanos já dotados de infraestrutura, e que provocam a elevação dos custos de prestação dos serviços públicos e a sobrevalorização fundiária, segundo Pinheiro (2012, p. 63) e Barros, Carvalho, Montandon (2010), são eles: 1 Exemplo dos instrumentos tributários e financeiros: o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), o Imposto de Transmissão de Bens Intervivos (ITBI), o Imposto Territorial Rural (ITR), a Contribuição de Melhoria, isenções e benefícios fiscais e as taxas (de esgoto, de limpeza urbana etc.). Podem ser utilizados tanto para fins arrecadatórios (função fiscal) como para fins urbanísticos (função extrafiscal). Entre eles destacamos o IPTU com grande potencial redistributivo, que pode estimular ou desestimular formas de uso e ocupação por meio da utilização de alíquotas diferenciadas. Ou seja, imóvel que vale mais, paga mais. O IPTU é cobrado anualmente a partir de uma planta de valores que, se adequadamente atualizada, acompanha a valorização/desvalorização dos imóveis. Esse imposto é um instrumento fundamental para ampliação da receita municipal (PINHEIRO, 2010,p. 63) 43 Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios. A primeira dessas penalidades faz referência à retenção ociosa de terrenos e obriga o proprietário do imóvel a parcelar, construir ou utilizar imóvel de sua propriedade vago ou subutilizado. IPTU progressivo no tempo. Diferente do IPTU anual é aplicado como sanção apenas aos proprietários que descumprirem a primeira penalidade. Permanecendo o descumprimento, a alíquota poderá ser aumentada a cada ano até o máximo de 15% do valor do imóvel. Desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública. Passados cinco anos de aplicação do IPTU progressivo no tempo, a Prefeitura pode desapropriar os imóveis urbanos ociosos pagando com títulos da dívida pública. b) Instrumentos de ampliação de áreas públicas para serviços e equipamentos: São os instrumentos destinados para que o poder público possa garantir espaços para a construção de equipamentos públicos (escolas, postos de saúde, praças etc), habitação de interesse social entre outros2. Quanto a gestão desses instrumentos, recomenda-se que seja cuidadosamente acompanhado pela sociedade, como forma de alcançar os objetivos. c) Instrumentos para a Regularização Fundiária e Urbanização de Áreas Ocupadas por População de Baixa Renda: 2 Exemplos: Direito de preempção: o poder público municipal tem preferência na aquisição de imóvel urbano colocado à venda no mercado sem a necessidade de procedimentos de desapropriação. Poderá ser exercido sempre que a cidade necessitar de áreas para: regularização fundiária, habitação de interesse social, equipamentos e espaços públicos, reserva fundiária, expansão urbana, preservação ambiental ou do patrimônio histórico. Os terrenos são definidos no Plano Diretor, o proprietário é devidamente notificado e quando ele decide vender o terreno comunica ao Poder Público que terá o prazo de 30 dias para manifestar o interesse pela compra. Direito de superfície: permite a transferência, gratuita ou onerosa, por escritura pública, do direito de construir sem que se alcance o direito de propriedade do terreno. Ou seja, o terreno permanece com o proprietário que permite a outro – público ou privado – parcelar ou edificar. É um importante instrumento de cumprimento da urbanização e edificação compulsória. Consórcio imobiliário: o proprietário transfere seu imóvel ao Poder Público e recebe como pagamento, após a realização das obras, unidades imobiliárias urbanizadas ou edificadas no valor equivalente do imóvel antes da realização dessas obras. Transferência do direito de construir: tem o objetivo de preservar o imóvel particular de interesse histórico, ambiental ou social. Permite ao proprietário utilizar em outro terreno de sua propriedade ou transferir para terceiros o direito de construir que detinha no imóvel original e que se fosse exercido comprometeria a preservação desejada. Por exemplo, construir prédio onde existia uma casa. Instrumentos de gestão e recuperação da valorização imobiliária: são instrumentos de combate à especulação que permitem a coletividade se beneficiar da valorização de imóveis produzidas por investimentos públicos. Outorga onerosa do direito de construir: mais conhecido como “Solo Criado” ele incide sobre as construções de grandes edifícios comerciais ou residenciais que deverão pagar ao Poder Público pela sobrecarga que vão gerar nas redes de infraestrutura e de circulação do seu entorno (PINHEIRO, 2010, p. 64).
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