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Yin - Pesquisa qualitativa do começo ao fim

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AVISO
Todo esforço foi feito para garantir a qualidade editorial desta obra, agora
em versão digital. Destacamos, contudo, que diferenças na apresentação
do conteúdo podem ocorrer em função das características técnicas
específicas de cada dispositivo de leitura.
ROBERT K. YIN
Tradução
Daniel Bueno
Revisão técnica
Dirceu da Silva
Mestre em Física e Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP)
Docente na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Versão impressa
desta obra: 2016
2016
Obra originalmente publicada sob o título Qualitative Research from Start to Finish
ISBN 9781606237014
Copyright © 2010, The Guilford Press
A Division of Guilford Publications, Inc
Gerente editorial: Letícia Bispo de Lima
Colaboraram nesta edição
Editora: Priscila Zigunovas
Assistente editorial: Paola Araújo de Oliveira
Capa: Paola Manica
Preparação de original: Daiana Klanovicz de Araújo
Leitura final: Cristine Henderson Severo
Editoração eletrônica: Kaéle Finalizando Ideias
Y51p Yin, Robert K.
Pesquisa qualitativa do início ao fim [recurso eletrônico]
/ Robert K. Yin ; tradução: Daniel Bueno ; revisão técnica:
Dirceu da Silva. – Porto Alegre : Penso, 2016.
e-PUB.
Editado como livro impresso em 2016.
ISBN 978-85-8429-083-3
1. Metodologia da pesquisa. 2. Pesquisa qualitativa. I.
Título.
CDU 001.891
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à
PENSO EDITORA LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A.
Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana
90040-340 – Porto Alegre – RS
Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070
Unidade São Paulo
Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 – Pavilhão 5 – Cond. Espace Center
Vila Anastácio – 05095-035 – São Paulo – SP
Fone: (11) 3665-1100 Fax: (11) 3667-1333
SAC 0800 703-3444 – www.grupoa.com.br
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer
formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição
na Web e outros), sem permissão expressa da Editora.
O autor
Robert K. Yin, Ph.D., orientou diretamente, conduziu ou participou de quase 200 estudos, a maioria usando méto
dos qualitativos. É presidente da corporação COSMOS, uma empresa dedicada à pesquisa em ciências sociais. Ma
is recentemente, realizou um extenso trabalho no Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, ajudando sua
equipe a reforçar o uso de pesquisa qualitativa em suas avaliações. Ministra cursos de metodologia no Departamen
to de Estudos Urbanos e Planejamento no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e orienta alunos de doutor
ado na preparação dos prospectos para suas teses, mais recentemente na University of Copenhagen. Atualmente, el
e ocupa o cargo de acadêmico residente emérito na Escola de Serviço Internacional na American University (Was
hington D.C.).
O Dr. Yin é autor de seis livros, organizou outros quatro e publicou quase cem artigos acadêmicos. Sua pesquis
a abrange uma ampla variedade de áreas, como educação primária, secundária e superior; promoção da saúde, pre
venção de HIV/AIDS e prevenção de abuso de substâncias; desenvolvimento organizacional e avaliação de progra
mas; desenvolvimento de bairros, comunitário e urbano; e inovação tecnológica e comunicações.
Dedicatória
Para Karen e Andrew,
pelos muitos anos de amor, devoção e tolerância e por sua disposição em acreditar na possibilidade de que as ciências sociais sej
am um empreendimento vitalício e estimulante.
Agradecimentos
Meus 30 anos de experiência em pesquisa abrangem trabalhos feitos em diversas organizações de pesquisa e acadê
micas. Em cada uma delas houve colegas fundamentais que contribuíram para minha compreensão da amplitude d
a pesquisa em ciências sociais, incluindo a pesquisa qualitativa.
No Massachusetts Institute of Technology (MIT), estudei com o professor Hans-Lukas Teuber. Juntos, concentr
amo-nos no tema do reconhecimento de faces. Embora os estudos tenham empregado métodos da psicologia exper
imental, o tema – como as pessoas facilmente reconhecem e distinguem um número extremamente grande de rosto
s, apesar de sua semelhança, conforme qualquer medida objetiva – ainda representa em minha mente uma questão 
qualitativa de primeira ordem.
Posteriormente no MIT, mas dessa vez no Departamento de Estudos e Planejamento Urbano, também tive o pra
zer de conhecer Lawrence Susskind e Lloyd Rodwin, que incentivaram muito meu trabalho sobre o desenvolvime
nto de bairros. O tema atraiu uma diversidade de métodos de pesquisa, de antropológicos a demográficos.
O trabalho no Rand Institute da cidade de Nova York e da filial da Corporação Rand em Washington, D.C., apr
ofundou ainda mais minha investigação dos temas urbanos, bem como de políticas relacionadas. Peter Szanton im
primiu sua marca em meu pensamento, por meio de seu incessante questionamento e sábios conselhos sobre como
examinar esses tópicos. Da mesma forma, uma missão na Escola de Serviço Internacional da American University
, guiada pela professora Nanette Levinson, levou a uma gama mais ampla de pesquisa sobre desenvolvimento inter
nacional.
 Durante esse período, o maior esforço foi, contudo, associado à minha afiliação à Corporação Cosmos – uma o
rganização de pesquisa independente, dedicada ao exame de uma ampla variedade de questões de políticas federai
s e estaduais. Os inúmeros clientes da Cosmos, especialmente Bernice Anderson da National Science Foundation, 
possuem suas próprias credenciais acadêmicas e trabalhos publicados e criaram sua própria marca de ideias estimu
lantes e retorno crítico. Os principais temas de discussão, se não de controvérsia, sempre tenderam a ser os metodo
lógicos.
Durante esse mesmo período, adquiri uma perspectiva mais ampla por meio do ensino colaborativo com estudio
sos no exterior, principalmente na Dinamarca, na França e nos Países Baixos. Por exemplo, uma tarefa recente env
olve o trabalho com estudantes de doutorado orientados pelo Professor Iben Nathan, da University of Copenhague
n.
Mais recentemente, passei uma quantidade significativa de tempo colaborando com estudiosos realizando pesqu
isa de avaliação nas Nações Unidas. Juntos tivemos que desenvolver métodos de pesquisa qualitativa rigorosos – 
mas com uso racional de recursos – sobre uma ampla variedade de temas internacionais. Nas Nações Unidas, Suka
i Prom-Jackson e Fabrizio Felloni foram colaboradores importantes, que me sensibilizaram para uma variedade de
desafios envolvidos na realização dessa pesquisa.
A preparação deste livro foi beneficiada por um conjunto mais próximo de amigos indispensáveis. Eles incluem
sete revisores de um esboço anterior: Jessie L. Kreinert, Justiça Criminal, da Illinois State University; Penny Burg
e, Educação, de Virginia Tech; James A. Holstein, Ciências Sociais e Culturais, da Marquette University; Michell
e Bligh, Escola de Ciências Comportamentais e Organizacionais, da Claremont Graduate University; Lance Fusar
elli, Liderança Educacional, da North Carolina State University; Thalia Mulvihill, Educação, da Ball State Univers
ity; e Susan Shepler, Escola de Comércio, da American University. Vocês, revisores, muito gentilmente proveram 
sugestões e críticas úteis, ajudando inclusive a reordenar e a reestruturar os capítulos, bem como identificando lac
unas que podiam ser preenchidas, e por esse esforço eu serei eternamente grato.
Inúmeras palavras de incentivo e aconselhamento vieram de uma ilustre amiga decisiva: C. Deborah Laughton, 
editora de Metodologia e Estatística da Guilford, cuja experiência na publicação de textos sobre métodos de pesqu
isa qualitativos e de outros tipos provavelmente é mais antiga do que ela gostaria de reconhecer. Nosso longo relac
ionamento serviu como valiosa presença no provimento de inspiração para iniciar (e completar) este livro.
 Finalmente, minha esposa, Karen, e meu filho, Andrew, tiveram que tolerar a constante distração que o livro re
presentou em nossa vida familiar, durante um prolongadoperíodo de tempo. Eles deram seu amor incondicional, i
ntercalado com criatividade composicional, ajudando a encontrar palavras melhores e frases mais precisas. A dedi
catória deste livro a eles é apenas uma singela maneira de reconhecer seu apoio permanente.
Apesar de todas essas interações, nenhuma das instituições ou indivíduos mencionados tem qualquer responsabi
lidade pelo produto final ou pelas declarações contidas neste livro.
Prefácio
A pesquisa qualitativa atingiu a maioridade. Os estudos publicados são abundantes. Seus resultados cobrem pratic
amente todas as temáticas. De igual importância, trabalhos metodológicos convincentes agora definem o ofício, co
locando-o na corrente principal das ciências sociais. O interesse do leitor em pesquisa qualitativa pode refletir um 
desejo de realizá-la, ensiná-la ou apenas de aprender sobre ela. Em qualquer uma dessas situações, este livro pode 
ser útil.
O LIVRO
Uma abordagem prática
Como seu principal tema, o livro apresenta a pesquisa qualitativa de uma perspectiva prática. Tal enfoque revela p
ercepções de como se faz pesquisa qualitativa, no nível básico. A abordagem deve ser especialmente útil se você r
ealmente pretende realizar um estudo qualitativo – quer ele seja um estudo autônomo, parte de um estudo maior, o
u um trabalho acadêmico ou de treinamento para um curso de graduação, de pós-graduação ou de educação contin
uada.
Uma abordagem indutiva
 Ao longo do caminho, o livro apresenta muitos exemplos de estudos qualitativos concluídos com êxito e publicad
os, cobrindo muitas disciplinas acadêmicas e profissões, tais como sociologia, antropologia, psicologia, educação, 
saúde pública, assistência social, desenvolvimento comunitário, avaliação e relações internacionais. Os exemplos s
ão apresentados como quadros e estudos breves, distribuídos por todo o livro. Ambos fornecem mais detalhes sobr
e estudos individuais do que as citações padrão frequentemente encontradas em outros textos. Além disso, os estu
dos são provenientes de revistas e livros amplamente disponíveis. Sua pronta disponibilidade permite examinar es
ses materiais em pormenor, se você quiser.
Além de fornecerem uma base mais concreta para compreender como a pesquisa qualitativa tem sido realizada 
por uma ampla diversidade de estudiosos, os inúmeros exemplos também expõem a amplitude da pesquisa qualitat
iva. Os temas abrangem muitos tipos diferentes de contextos sociais e cotidianos, ao mesmo tempo cobrindo as pri
ncipais variações em pesquisa qualitativa, incluindo pesquisa-ação, teoria fundamentada, estudos de caso, trabalho
s feministas, investigação narrativa e fenomenologia. Como característica mais importante, todos os estudos ilustr
ativos são estudos concluídos. Como tais, eles devem fortalecer a confiança do leitor em sua capacidade de termin
ar (e publicar) sua própria pesquisa qualitativa.
Da mesma forma, dois estudos concluí­dos, e como eles foram conduzidos em relação ao conteúdo dos Capítul
os 8, 9 e 12, são apresentados em profundidade no final desses capítulos. Os estudos examinam dois temas (o siste
ma K-121 em um caso e administração universitária em outro) que devem atrair todos os leitores porque todo
mundo já vivenciou os dois ambientes.
Uma abordagem adaptativa
O livro deliberadamente apresenta a pesquisa qualitativa de maneira adaptativa, a qual é de fato adequada para o
ofício. Em vez de expô-la com dogmatismo, o livro procura abordá-la de forma muito menos ideológica,
apresentando tópicos metodológicos cruciais – como de que forma delinear ou analisar uma pesquisa qualitativa –
como caminhos a escolher. Essas escolhas vão lhe permitir personalizar seu próprio estudo.
Por exemplo, você pode criar seu próprio delineamento com base nas oito escolhas apresentadas no Capítulo 4. 
O resultado pode ser um estudo qualitativo que abrangerá desde o método mais antigo de fazer pesquisa qualitativ
a até uma abordagem mais pragmática, que tire proveito das técnicas e ferramentas atuais. Da mesma forma, você 
tem a escolha de iniciar um trabalho de campo antes de finalizar suas questões de pesquisa – uma opção examinad
a no Capítulo 3. Você também pode decidir codificar ou não seus dados e se vai ou não analisá-los com o auxílio 
de programas de computador, como discutido nos Capítulos 8 e 9. Se em primeiro lugar você tem problemas para 
iniciar um estudo qualitativo, as ideias no Capítulo 3 sobre criar um “banco de estudos” oferecem opções interessa
ntes.
O autor
Minhas próprias experiências provavelmente explicam as três características precedentes do livro – seu tema práti
co, dedicação à compreensão de como outros estudos foram feitos e necessidade de ser adaptativo. A orientação pr
ática e a orientação indutiva se devem a mais de 30 anos fazendo pesquisa em ciências sociais. Durante esse temp
o, eu supervisionei, conduzi ou participei diretamente de quase 200 estudos – inclusive os que deliberadamente co
mbinavam métodos qualitativos e não qualitativos. A orientação adaptativa reflete o fato de que os estudos abrang
eram uma grande variedade de campos, como educação primária, secundária e pós-secundária; promoção da saúde
, prevenção de HIV/AIDS e prevenção de abuso de substâncias; desenvolvimento de bairros, comunidades e urban
o; prevenção de crimes; inovação e difusão tecnológica; comunicações; e desenvolvimento organizacional e avalia
ção de programas.
Todos os estudos chegaram a uma conclusão formal escrita, quer na forma de publicação acadêmica, quer como
algum tipo de relatório final. Chegar com êxito a tal etapa concludente significa que eu percorri todo o ciclo de pe
squisa muitas vezes – do início ao fim. Cada estudo se iniciou com exame e análise intensiva de outros estudos co
mparáveis, o que me expôs aos modos como outros estudiosos delinearam e conduziram suas pesquisas. Uma vez 
que cada um dos meus estudos foi realizado em circunstâncias diferentes e abordou diferentes questões de pesquis
a, eu fui exposto às diversas formas em que é possível delinear, analisar e apresentar estudos.
Fazendo uma retrospectiva, compreendi que essas experiências profissionais, juntamente com perguntas de pes
quisa que inevitavelmente confrontam questões de “como e por quê”, incluíram uma extensa quantidade de trabalh
o com métodos qualitativos. Embora não tenha passado longos períodos de tempo fazendo etnografia em campo, d
irigi ou realizei numerosos estudos de campo, usando observação participante, estudo de caso, entrevista qualitativ
a, fotografia e visita ao local. Eu, portanto, tive que lutar com as opções para analisar os dados resultantes, extrair 
conclusões deles e apresentar os estudos perante painéis de especialistas ou responder de outra forma às análises d
e colegas.
 As experiências profissionais constituem a base da minha tentativa de fazer este livro cobrir a pesquisa qualitat
iva de modo abrangente. Os diversos capítulos abordam praticamente todas as fases para a realização de pesquisas
qualitativas, incluindo alguns tópicos que tendem a ser ignorados por outros textos. Por exemplo, quase todo estud
o qualitativo exige a apresentação do significado da realidade social da perspectiva dos participantes de um estudo
(pessoas cujas vidas são uma parte representativa do tema do estudo). Contudo, existem diferentes maneiras de mo
strar suas palavras ou histórias de vida, e este livro aborda explicitamente essas variações (ver Cap. 10). Como out
ro exemplo, a maioria das obras não discute as diversas maneiras de tirar conclusões da pesquisa qualitativa, mas e
ste livro identifica ao menos cinco delas (ver Cap. 9). Finalmente, a pesquisa qualitativa contemporânea pode surg
ir de rápidas visitas de campo, que são diferentes dos trabalhos etnográficos tradicionais, e este livro descreve esse
s procedimentos básicos (ver Cap. 5).
A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO
A sequência dos capítulos
Como os livros precisam ser apresentados de maneira linear, eles seguem uma determinada sequência de capítulos
. Entretanto, como acontece com toda pesquisa qualitativa,nada é linear. Compreender temas específicos depende 
de conhecer bem outros temas que um livro pode ainda não ter apresentado. De certa forma, um leitor precisa sabe
r tudo ao mesmo tempo e então reconsiderar temas específicos recursivamente. Assim, os leitores devem sentir-se 
livres para alterar a sequência de capítulos deste livro. Aqueles que querem dar os primeiros passos para um estud
o qualitativo podem iniciar no Capítulo 3 ou até no Capítulo 4. Inversamente, os leitores que desejam compreende
r questões mais profundas na realização da pesquisa qualitativa podem querer ler primeiro os Capítulos 1 e 2. Eu p
essoalmente queria, em meus primeiros tempos, compreender a base de evidências da pesquisa qualitativa, e assim
eu começaria pela tentativa de compreender as atividades do trabalho de campo e da coleta de dados nos Capítulos
5 e 6. Como se pode ver, as sequências possíveis são quase ilimitadas.
Características práticas
Para estimular o envolvimento ativo do leitor com o livro, ele conta com algumas características adicionais. Prime
iro, todos os capítulos se iniciam com um breve resumo, fazendo um apanhado geral de seus conteúdos. Depois, to
das as seções de cada capítulo se iniciam com uma prévia, descrevendo sucintamente o que você deve aprender da
seção. Finalmente, cada capítulo termina com uma recapitulação dos termos e conceitos apresentados.
Segundo, cada capítulo também termina com um exercício, refletindo as práticas cobertas. Os exercícios visam 
servir como lições de casa que podem ser realizadas semanalmente. Como alternativa, o Apêndice contém um proj
eto abrangente, de um semestre ou um ano de duração, que pode ser realizado no lugar dos exercícios individuais (
ou mesmo em acréscimo a eles).
 Terceiro, para facilitar as coisas, o livro inclui um breve glossário de termos especiais usados em pesquisa qual
itativa. Além disso, ao final do volume, os editores da The Guilford Press permitiram um prolongamento arbitrário
do formato padrão da American Psychological Association: a seção de referências inclui os primeiros nomes dos a
utores, não apenas suas iniciais. Contextualmente, saber os primeiros nomes sem dúvida reduz a confusão entre pe
ssoas que poderiam ter o mesmo sobrenome, bem como iniciais semelhantes. Tal conhecimento também poderia a
judar os leitores a ligar os autores citados a pessoas da vida real – que podem inclusive estar lecionando ou ter leci
onado em um de seus departamentos acadêmicos.
Como um último objetivo, o livro também apresenta ao leitor uma variedade de trabalhos metodológicos, seja tr
atando de questões de ética na pesquisa (Cap. 2), delineamento de pesquisa (Cap. 4), como tratar os comentários d
a revisão por pares2 (Cap. 11) ou realização de estudos com métodos mistos (Cap. 12). Para cobrir esses temas e
outros relacionados, tentei criar uma mistura de forma didática de citações de obras clássicas e contemporâneas.
Da mesma forma, os conceitos relevantes variam desde compreender o valor de “descrição densa” até questionar o
fundamento lógico para o “padrão ouro”. Ao mesmo tempo, livros como este não substituem as leituras da
pesquisa. Livros-texto não podem reproduzir o rico espírito de um campo de pesquisa ou seus significados mais
profundos. Bons textos devem, na verdade, proporcionar duas coisas: conhecimento prático, para que você possa
praticar pesquisa, e pistas na forma de citações, em que você possa aprender mais sobre o espírito de um campo.
Assim é este livro.
1 N. de R.T.: K-12 é uma designação dos Estados Unidos para os ensinos fundamental e médio como um todo.
2 N. de R.T.: Frequente em publicações científicas, a revisão por pares é aquela na qual pesquisadores da comunidade avaliam um trabalho
em processo “às cegas” (blind review).
Sumário
Capa
Aviso
Folha de Rosto
Ficha
Autor
Dedicatória
Agradecimentos
Prefácio
Parte I - Compreendendo a pesquisa qualitativa
Capítulo 1 - O que é pesquisa qualitativa – e por que você cogitaria fazer este tipo de
pesquisa?
A. O fascínio da pesquisa qualitativa: um panorama tópico dos estudos
B. O que distingue a pesquisa qualitativa
Pesquisa qualitativa: uma ampla área de investigação
Cinco características da pesquisa qualitativa
Práticas comuns
C. O mundo multifacetado da pesquisa qualitativa
Múltiplas interpretações dos mesmos eventos?
Os eventos humanos podem ser singulares?
Emular ou não uma das variantes de pesquisa qualitativa
Estratégias de mediação
D. Incorporando confiança e credibilidade na pesquisa qualitativa
Transparência
Metodicidade
Fidelidade às evidências
Estudos ilustrativos apresentados no restante deste livro
Notas
Capítulo 2 - Equipando-se para fazer pesquisa qualitativa
A. Competências ao fazer pesquisa qualitativa
“Escutar”
Fazer boas perguntas
Conhecer seu tema de estudo
Cuidar de seus dados
Executar tarefas paralelas
Perseverar
B. Gerenciando a pesquisa de campo
Criar tempo para pensar no futuro
Gerenciamento como parte de uma equipe de campo
C. Praticando
Usando os exercícios deste livro para praticar
Fazendo um estudo-piloto
Motivando-se
D. Estabelecendo e mantendo padrões éticos de conduta
Um desafio ético ilustrativo: examinando com imparcialidade todos os seus dados
Códigos de ética
Integridade da pesquisa
Divulgação como uma maneira de demonstrar integridade da pesquisa
E. Protegendo sujeitos humanos: obtendo aprovação de um comitê institucional de ética
Submetendo protocolos de estudo para análise e aprovação
Considerações específicas na proteção de sujeitos humanos
Preparando-se para uma avaliação do CIE
O diálogo do consentimento informado (em campo) como oportunidade para os participantes fazerem
perguntas
Capítulo 3 - Como iniciar um estudo investigativo
O desafio de iniciar um estudo qualitativo
Originalidade ao fazer um estudo qualitativo
O restante deste capítulo
A. Iniciando um estudo qualitativo pela consideração de três características
Processamento paralelo do processo de iniciação
Maneiras de dar os primeiros passos
Desenvolver um banco de estudos
Resultados de criar um “banco de estudos” ilustrativo
Considerando um tema de investigação
Considerando um método de coleta de dados
Considerando uma fonte de dados (p. ex., identificando um ambiente de campo)
Lembrando as limitações de tempo e recursos
B. Revisando a literatura de pesquisa
Fazer ou não uma revisão da literatura
Papel da revisão da literatura ao iniciar um estudo
Breve resumo: diferentes tipos de revisão da literatura
Fazendo apontamentos sobre estudos existentes
Baixando materiais da internet
C. Detalhando um novo estudo qualitativo
Um pouco de trabalho de campo primeiro
Iniciando com as questões de pesquisa
Examinando sua bagagem de conhecimentos e percepções em relação a um novo estudo
Banco de estudos ilustrativo para o Capítulo 3
Notas
Parte II - Fazendo pesquisa qualitativa
Capítulo 4 - Escolhas no delineamento de estudos de pesquisa qualitativa
Breve definição dos delineamentos de pesquisa
Opções de delineamento
Opção 1: Iniciando o delineamento de pesquisa no começo de um estudo (ou não)
Opção 2: Tomar medidas para reforçar a validade de um estudo (ou não)
O que significa validade ao fazer pesquisa
Explicações rivais
Triangulação
Opção 3: esclarecendo a complexidade das unidades de coleta de dados (ou não)
Arranjos de aninhamento
Relação entre o nível das unidades de coleta de dados e o principal tema de um estudo
Opção 4: atentando para a amostragem (ou não)
Amostragem intencional e de outros tipos
O número de unidades de coleta de dados a ser incluído em um estudo
Nível mais amplo
Nível mais estreito
Opção 5: incorporando conceitos e teorias em um estudo (ou não)
Mundos destituídos de conceitos?
Abordagem indutiva versus dedutiva
Opção 6:Planejando uma etapa inicial (ou não) para obter feedback dos participantes
Opções de feedback
Influência potencial sobre a narrativa posterior de um estudo
Opção 7: preocupar-se em generalizar os resultados de um estudo (ou não)
Necessidade de ir além das generalizações estatísticas
Fazendo generalizaçõesanalíticas
Opção 8: preparando um protocolo de pesquisa (ou não)
Protocolos, não instrumentos
Protocolos como estruturas mentais
Definições operacionais
Notas
Capítulo 5 - Fazendo trabalho de campo
A. Trabalhando em campo
Variedade dos ambientes de campo
Regras e expectativas diferentes para lugares públicos ou privados como ambientes de campo
Variando a quantidade de tempo em campo
B. Obtendo e mantendo o acesso ao campo
Obtendo acesso a um ambiente de campo: um processo, não um evento
Como o processo pode influenciar a substância de um estudo
C. Nutrindo relações de campo
Representando seu self autêntico
Importância da conduta pessoal
Fazendo favores aos participantes: faz parte do relacionamento ou não?
Lidando com eventos inesperados
Planejando como sair e não apenas como entrar em campo
D. Fazendo observação participante
O pesquisador como “instrumento de pesquisa”
Assumindo uma postura indutiva mesmo que um estudo tenha se iniciado com algumas proposições
E. Fazendo visitas aos locais de estudo
Estudando um grande número de ambientes de campo
Aderindo à programação e a planos formais
Sendo “recebido” durante uma visita local
Construindo o trabalho em equipe
Capítulo 6 - Métodos de coleta de dados
A. O que são dados?
B. Introdução a quatro tipos de atividades de coleta de dados
C. Entrevistas
Entrevistas estruturadas
Entrevistas qualitativas
Fazendo entrevistas qualitativas
“Entrando” e “saindo” de entrevistas qualitativas
Entrevistando grupos de pessoas
Entrevistas de grupo de foco como um método de coleta de dados qualitativos
D. Observando
Fazendo “observação sistemática” como base para todo um estudo qualitativo
Decidindo quando e onde observar
Decidindo o que observar
Tirando vantagem de medidas não obstrutivas
Derivando significado das observações e triangulando evidências observacionais com outras fontes
E. Coletando e examinando
Coletando objetos (p. ex., documentos, artefatos e registros arquivais) em campo: valioso porém
demorado
Usando documentos para complementar entrevistas e conversações de campo
“Navegando” e usando o Google para encontrar informações relacionadas
Coletando ou examinando objetos como parte complementar de sua coleta de dados
F. Sentimentos
“Sentimentos” assumem formas diferentes
Documentando e registrando sentimentos
G. Práticas desejáveis pertinentes a todos os tipos de coleta de dados
Nota
Capítulo 7 - Registrando dados
A. O que registrar
Tentar registrar “tudo” versus ser muito seletivo
Destacando ações e capturando palavras textualmente
Lembrando-se de suas questões de pesquisa
Tomando notas sobre estudos escritos, relatórios e documentos encontrados em campo
Duplicando cópias de documentos e materiais escritos enquanto se está em campo
B. Práticas de tomada de notas no trabalho de campo
Preparando-se
Organizando suas notas
Desenvolvendo sua própria linguagem de transcrição
Criar desenhos e esboços como parte das notas
C. Convertendo notas de campo em notas mais completas
Convertendo as notas de campo rapidamente
Requisitos mínimos para a conversão diária de notas de campo originais
Quatro modos adicionais de aperfeiçoar as notas de campo originais
Aprofundando a compreensão de seu próprio trabalho de campo
Verificando notas de campo
D. Registrando dados de outras formas que não escritas
Obtendo permissão para gravar
Dominando os dispositivos antes de usá-los
Compartilhando os registros e preservando sua segurança
Estar preparado para dedicar tempo à revisão e edição dos registros
Quando as gravações são a principal técnica de coleta de dados
Elaborando produtos acabados
E. Mantendo um diário pessoal
Capítulo 8 - Analisando dados qualitativos I
A. Apanhado geral das fases analíticas
Introdução a um ciclo de cinco fases: (1) compilar, (2) decompor, (3) recompor (e arranjar), (4)
interpretar e (5) concluir
Usando programas de computador como auxílio na análise de dados qualitativos
B. Compilar um conjunto ordenado de dados
Semelhante à pesquisa quantitativa?
Relendo e reouvindo: “conhecendo” suas notas de campo
Colocando tudo em um formato consistente
Usando software para compilar seus registros
C. Decompondo os dados
Redigindo os memorandos
Codificar ou não codificar
Codificando dados
Decompondo dados sem codificá-los
Usando programas de computador como auxílio na decomposição de dados
D. Recompondo dados
Procurando padrões
Usando arranjos para ajudar a recompor os dados
Criando arranjos hierárquicos
Delineando matrizes como arranjos
Trabalhando com outros tipos de arranjos
Resumindo o processo de ordenação dos dados
Procedimentos importantes durante o processo de recomposição
Usando programas de computador como auxílio na recomposição dos dados
Palavras finais sobre recomposição
Exemplo de Estudo 1: estudo dos convênios entre universidades e escolas, como exemplo para os
Capítulos 8 e 9 (parte relativa ao Cap. 8)
Introdução ao exemplo de estudo
Base de dados compilada para o Exemplo de Estudo 1
Procedimento de decomposição no Exemplo de Estudo 1
Exemplo de arranjo de recomposição usado no Exemplo de Estudo 1
Notas
Capítulo 9 - Analisando dados qualitativos II
A. Interpretação
B. Modos de interpretação
“Descrição” como um tipo importante de interpretação
Descrição e pedido de ação
“Explicação” como um tipo de interpretação
Criando perspicazes e úteis interpretações
C. Concluindo
Concluindo com um pedido por novos estudos
Concluindo com uma contestação de generalizações convencionais e estereótipos sociais
Concluindo com novos conceitos, teorias e mesmo “descobertas” sobre o comportamento social humano
Concluindo com proposições substantivas (não metodológicas)
Concluindo com uma generalização para um conjunto mais amplo de situações
Exemplo de Estudo 1: um estudo dos convênios entre universidades e escolas como exemplo para os
Capítulos 8 e 9 (parte relativa ao Cap. 9)
Interpretação no Exemplo de Estudo 1
Concluindo no Exemplo de Estudo 1
Notas
Parte III - Apresentando os resultados da pesquisa qualitativa
Capítulo 10 - Apresentando dados qualitativos
A. Dados narrativos sobre os participantes em um estudo qualitativo
Intercalando passagens citadas dentro de parágrafos selecionados
Usando apresentações mais extensas, abrangendo múltiplos parágrafos
Fazendo apresentações de um capítulo de extensão sobre os participantes de um estudo
Apresentando informações sobre diferentes participantes sem focar na história de vida de nenhum deles
B. Apresentações tabulares, gráficas e pictóricas
Tabelas e listas
Elementos gráficos
Fotografias e reproduções
C. Criando slides para acompanhar apresentações orais
Arte em slides: diferente da arte para apresentações em impressos
Slides apenas com palavras (“slides de texto”)
Aproveitando o formato livre dos slides
Usando ícones e outros símbolos
Escolhendo cores e estilo artístico
Slides como um auxílio a sua apresentação
Nota
Capítulo 11 - Compondo a pesquisa para compartilhá-la com os outros
A. Compondo: dicas gerais
Conhecendo o público para sua pesquisa qualitativa
Ter jeito com as palavras
Compondo “às avessas”
Compor “de forma retrocedente”
B. Compondo pesquisa qualitativa
Envolver os cinco sentidos
Representar as múltiplas vozes e perspectivas e também lidar com questões de anonimato
Ser sensível à natureza interpretativa de suas composições
C. Apresentando seu self declarativo
Iniciando sua composição em um ponto interessante
Diferentes “formatos” de composições
Usando palavras simples e minimizando o jargão de pesquisa
Fazendo os cabeçalhos (ou os títulos de quadros) transmitirem uma mensagem substantiva
D. Apresentando seu self reflexivo
Explicitando suas lentes de pesquisa o máximo possível
Descrevendo suas lentes de pesquisa como um importante procedimento de controle de qualidade
Mantendo seu self reflexivo sob controle
Tornando observações prefaciais interessantes e atraentes
E. Reformulando sua composição
A utilidade das revisões no processo de reformulação
Participantes
Pares
Tempo e esforço na reformulação
Preparando originais e revisando – e analisandoo trabalho dos revisores
Parte IV - Levando a pesquisa qualitativa um passo adiante
Capítulo 12 - Ampliando o desafio de fazer pesquisa qualitativa
A. Pesquisa qualitativa como parte do domínio mais amplo da pesquisa em ciências sociais
Exemplos de semelhanças do ofício
Exemplos de práticas do ofício contrastantes
Diferenças nas visões de mundo na pesquisa em ciências sociais
B. Um diálogo permanente
O posicionamento da pesquisa
Métodos qualitativos versus quantitativos
Um padrão ouro?
C. A promessa e o desafio da pesquisa com metodologia mista
As raízes da pesquisa com metodologia mista
Um estudo com metodologia mista como único estudo
Qualificação necessária para fazer um estudo com metodologia mista
D. Indo adiante
Diferentes motivações para ir adiante
Colocando princípios, não apenas procedimentos, em prática
Dar sua própria contribuição ao ofício de fazer pesquisa qualitativa
Exemplo de estudo 2: um estudo com metodologia mista do processamento de propostas universitárias
Notas
Apêndice
Um projeto para um semestre ou um ano
Tema de investigação
Iniciação
Protocolo de campo
Coleta de dados
Análise da amostra
Notas
Glossário
Termos especiais usados em pesquisa qualitativa1
Notas
Referências
Conheça também
Conheça o Grupo A
parte I
Compreendendo a pesquisa qualita
tiva
1
O que é pesquisa qualitativa – e por que você cogitaria faze
r este tipo de pesquisa?
Este capítulo introduz a pesquisa qualitativa, inicialmente ilustrando-a com um grupo diverso de estudo
s publicados. Sua amplitude indica a potencial relevância e fascínio da pesquisa qualitativa: diferente d
e outros métodos das ciências sociais, praticamente todo acontecimento da vida real pode ser objeto d
e um estudo qualitativo.
O capítulo então discute cinco características, bem como algumas práticas de pesquisa comuns, que
juntas definem a pesquisa qualitativa. (As práticas comuns aparecerão em pormenor no restante deste 
livro.) Apesar dessas cinco características e práticas comuns, a pesquisa qualitativa continua sendo u
m campo multifacetado de investigação, marcado por diferentes orientações e metodologias. Distinçõe
s importantes se iniciam ao assumirmos uma realidade singular ou múltiplas realidades, a singularidad
e ou potencial generalizabilidade dos eventos humanos e a necessidade de seguir uma variante metod
ológica de pesquisa qualitativa ou não. O capítulo aborda as três distinções, sugerindo duas estratégia
s de mediação para permitir que a pesquisa prossiga. Da máxima importância é um denominador comu
m – a necessidade de que estudos qualitativos mostrem sua confiança e credibilidade, independentem
ente de qualquer uma das três distinções.
A. O FASCÍNIO DA PESQUISA QUALITATIVA: UM PANORAMA TÓPICO D
OS ESTUDOS
O que você deve aprender nesta seção:
1. A ampla variedade de tópicos que podem ser estudados por meio da pesquisa qualitativa, diferente de
outros tipos de pesquisa em ciências sociais.
2. A presença de estudos de pesquisa qualitativa em muitas disciplinas acadêmicas e profissões
diferentes.
Por que fazer pesquisa qualitativa? Você pode apenas querer estudar um ambiente da vida real, descobrir como as
pessoas enfrentam e prosperam em tal ambiente – e capturar a riqueza das vidas das pessoas. Pense na variedade
de temas que você poderia estudar.
Você poderia se concentrar em um grupo específico de pessoas, tal como mulheres sem moradia, passar muitas
noites como voluntário em um abrigo para moradoras de rua e ajudar os outros a entender como essas mulheres
lidam com seus desafios cotidianos, dentro e fora do abrigo (p. ex., Liebow, 1993). Ao longo do caminho, você
poderia entender novas maneiras de como (e por quê) as mulheres chegaram a essa situação. Você também
poderia ilustrar esses entendimentos reconstituindo as histórias de vida de muitas dessas mulheres (ver “Um
estudo qualitativo de mulheres sem moradia”, Quadro 1.1.)
Um estudo qualitativo de mulheres sem moradia
Embora um estereótipo comum ligue a falta de moradia aos homens, as mulheres também podem
carecer de moradia, e os abrigos atendem especificamente homens ou mulheres. O estudo de Elliot
Liebow (1993), na área de Washington, trata de um grupo de mulheres e seu abrigo. Para fazer o
estudo, Liebow trabalhou a maior parte de um período de quatro anos como voluntário no abrigo,
muitas vezes passando a noite lá.
O estudo de Elliot Liebow representa a cultura do abrigo, envolvendo as interações entre os clientes e 
os funcionários no esforço para atender as necessidades tanto individuais quanto institucionais. As mu
lheres são de diversas idades e raças, e algumas já tiveram suas próprias famílias. Para capturar essa
diversidade, o estudo também inclui as histórias de vida de cerca de 20 delas. Ao longo do livro, Liebo
w debate a questão de por que essas mulheres não têm moradia, mas ao mesmo tempo fornece infor
mações suficientes para que os leitores tirem suas próprias conclusões.
Anteriormente, Liebow realizou um estudo de homens desempregados em um bairro urbano. Este trab
alho anterior, Talley’s Corner (1967), foi por anos reconhecido como um estudo qualitativo clássico.
Ver também Quadros 5.6 e 11.7.
Por outro lado, você poderia querer estudar como o governo e as autoridades de saúde pública tomam decisões
sobre uma ameaça de epidemia de gripe suína. Em 1978, tal ameaça levou à vacinação em massa de 40 milhões de
norte-americanos (Neustadt & Fineberg, 1983). A campanha foi encerrada prematuramente quando, no decorrer
da temporada de gripe, as autoridades perceberam que haviam superestimado o potencial da epidemia – mas
também porque descobriram que a vacinação expôs as pessoas a uma doença rara, porém fatal. Para fazer esse
estudo, você poderia ter entrevistado autoridades-chave e analisado muitos documentos oficiais. Os resultados de
seu estudo poderiam ter apontado para as dificuldades e incertezas ao lidar-se com campanhas de imunização em
massa – uma questão que, como seria de esperar, ainda é relevante no século XXI.
Em um extremo mais íntimo, você poderia querer compreender e analisar a conversação e as interações entre
duas pessoas. Você precisaria poder gravar, se não filmar, a conversação delas porque seu interesse iria muito
além das palavras específicas da conversa. Entre outros sinais, seus dados também incluiriam o modo como as
palavras foram mescladas ou encurtadas, além das pausas, sobreposições e linguagem corporal entre os
interlocutores (p. ex., Drew, 2009). Seu objetivo geral seria deslindar o poder, o controle e outros motivos que
cada interlocutor poderia estar perseguindo – possivelmente uma forma útil de compreender as relações médico-
paciente, professor-aluno e colega-colega nos contextos de sua vida real.
Existem muitos outros exemplos de pesquisa qualitativa. Eles tocam em todas as esferas sociais. Perto de todos
nós, as mudanças no papel das mulheres na sociedade norte-americana têm sido o objeto de um bom número de
estudos, tais como:
a investigação de Ruth Sidel (2006) sobre como mães solteiras confrontam seus desafios sociais e econômicos;
o exame de Pamela Stone (2007) de por que profissionais bem-sucedidas abandonam seus empregos para ficar
em casa; e
o estudo de Kathryn Edin e Maria Kefalas (2005) de por que as mulheres de baixa renda “colocam a maternidad
e antes do casamento”.
Nos três exemplos, os pesquisadores conduziram extensas entrevistas com muitas mulheres e suas famílias, alé
m de visitarem seus lares e observarem o comportamento familiar. Estes e outros estudos seguem, de certa forma, 
o estudo de referência de Carol Gilligan (1982) do lugar da mulher em um mundo masculino – no qual ela alegou 
que grande parte das chamadas teorias do desenvolvimento moral e emocional tinham se baseado exclusivamente 
nas percepções e experiências masculinas.
Além desses exemplos, a gama de temas abordados por outros trabalhos contemporâneos se estende do raro ao 
comum, tais como:
revelar formas de exploração surpreendentes, mas ainda existentes, tais como escravidão humanana Tailândia, 
Mauritânia, Brasil, Paquistão e Índia (p. ex., Bales, 2004);
analisar os desafios da imigração entre os Estados Unidos e outros países, seja no contexto educacional (p. ex., 
Valenzuela, 1999) ou comunitário (p. ex., Levitt, 2001);
estudar como pessoas mais velhas podem ter sido internadas em um hospital ou para tratamento de longo prazo 
em circunstâncias que poderiam ter sido evitadas (p. ex., Tetley, Grant, & Davies, 2009);
oferecer dados e explicações sobre como uma empresa constante da lista Fortune 500 no ramo de computação 
poderia fechar as portas na década de 1990 (p. ex., Schein, 2003);
contrastar as diferenças entre os clientes de lojas de brinquedos localizadas em bairros de classe média em contr
aste com bairros da classe operária, refletindo não apenas as práticas das lojas, mas também os hábitos de aqui
sição e de compra das famílias (p. ex., Williams, 2006);
examinar a vida residencial e as diferenças em tensões raciais, étnicas e de classe em quatro bairros urbanos (p.
ex., Wilson & Taub, 2006); ou
mostrar as diferentes experiências de infância de famílias de classe operária e média, fazendo extensas observaç
ões nos lares de 12 famílias (p. ex., Lareau, 2003).
Você pode inclusive estudar a vida cotidiana nas ruas de sua cidade, como no:
 estudo de Duneier (1999) dos vendedores de rua;
estudo de Lee (2009) das interações nas ruas; ou
estudo de Bourgois (2003) dos viciados, ladrões e traficantes que fazem parte da economia informal em alguma
s cidades.
O fascínio da pesquisa qualitativa é que ela permite a realização de estudos aprofundados sobre uma ampla vari
edade de tópicos, incluindo seus favoritos, em termos simples e cotidianos. Além disso, a pesquisa qualitativa ofer
ece maior liberdade na seleção de temas de interesse, porque os outros métodos de pesquisa tendem a ser limitado
s por:
impossibilidade de estabelecer as necessárias condições de pesquisa (como em um experimento);
indisponibilidade de uma série de dados suficientes ou falta de abrangência de variáveis suficientes (como em u
m estudo econômico);
dificuldade de extrair uma amostra adequada de entrevistados e obter uma taxa de resposta suficientemente alta 
(como em um levantamento); ou
outras limitações, como dedicar-se ao estudo do passado mas não de atualidades (como em uma história).1
Por ora, a pesquisa qualitativa tornou-se uma forma aceitável, se não dominante, de pesquisa em muitas áreas
acadêmicas e profissionais diferentes. Consequentemente, o grande número de alunos e estudiosos que realizam
estudos qualitativos pode fazer parte de diferentes disciplinas de ciências sociais (p. ex., sociologia, antropologia,
ciência política ou psicologia) ou diferentes profissões (p. ex., educação, administração, enfermagem,
planejamento urbano e avaliação de programas). Em qualquer desses campos, a pesquisa qualitativa representa um
modo atraente e produtivo de fazer pesquisa.
B. O QUE DISTINGUE A PESQUISA QUALITATIVA
O que você deve aprender nesta seção:
1. As cinco características que distinguem a pesquisa qualitativa de outros tipos de pesquisa em ciências s
ociais.
2. Como as cinco características apontam para modos específicos de praticar pesquisa qualitativa.
Apesar da maior liberdade oferecida pela pesquisa qualitativa, seus colegas podem, não obstante, alegar que outro
s tipos de pesquisa em ciências sociais – por exemplo, levantamentos, estudos econômicos, experimentos, semiexp
erimentos e estudos históricos – também podem abordar muitos dos mesmos tópicos apontados no panorama de ab
ertura dos estudos qualitativos. Esses outros tipos de pesquisa podem ser a base para estudar grupos de pessoas se
melhantes, como moradoras de rua, questões de saúde pública semelhantes, como campanhas de imunização ou re
lações médico-paciente, igualdade de gênero e aspectos femininos, e mesmo temas que estabelecem comparações 
internacionais e nacionais das mesmas temáticas citadas. As alegações de seus colegas, portanto, apontam para a n
ecessidade de confrontar a questão do que distingue a pesquisa qualitativa, especialmente em relação a outros tipo
s de pesquisa em ciências sociais.
Pesquisa qualitativa: uma ampla área de investigação
 A diversidade do que se chama pesquisa qualitativa, devido a sua relevância para diferentes disciplinas e profissõ
es, desafia qualquer um a chegar a uma definição sucinta. Uma definição muito curta parecerá excluir uma ou outr
a disciplina. Uma definição muito ampla parecerá inutilmente global. Na verdade, o termo pesquisa qualitativa po
de ser como os outros termos do mesmo gênero – por exemplo, pesquisa sociológica, pesquisa psicológica, ou pes
quisa educacional. Dentro de sua própria disciplina ou profissão particular, cada termo implica um amplo conjunt
o de pesquisa, abarcando uma diversidade de métodos altamente contrastantes. Pense simplesmente, por exemplo, 
na psicologia clínica e experimental. Apesar de ambas fazerem parte do mesmo campo, seus métodos diferem ace
ntuadamente.
Cinco características da pesquisa qualitativa
Em vez de tentar chegar a uma definição singular de pesquisa qualitativa, você pode considerar cinco característic
as, listadas abaixo e em seguida discutidas individualmente:
1. estudar o significado da vida das pessoas, nas condições da vida real;
2. representar as opiniões e perspectivas das pessoas (rotuladas neste livro como os participantes2) de um
estudo;
3. abranger as condições contextuais em que as pessoas vivem;
4. contribuir com revelações sobre conceitos existentes ou emergentes que podem ajudar a explicar o
comportamento social humano; e
5. esforçar-se por usar múltiplas fontes de evidência em vez de se basear em uma única fonte.
Iniciando pelo topo da lista, a pesquisa qualitativa envolve primeiramente estudar o significado das vidas das
pessoas nas condições em que realmente vivem. As pessoas vão estar desempenhando seus papéis cotidianos ou
terão se expressado por meio de seus próprios diários, registros periódicos, textos e até fotografias – de maneira
totalmente independente de qualquer investigação de pesquisa. As interações sociais ocorrerão com mínima
interferência de procedimentos de pesquisa artificiais, e as pessoas dirão o que querem dizer, não limitadas, por
exemplo, a responder a um questionário predefinido de um pesquisador. Da mesma forma, as pessoas não se
sentirão inibidas pelos limites de um laboratório ou ambiente semelhante. E elas não serão representadas por
médias estatísticas, como, por exemplo, a família norte-americana ter em média 3,18 pessoas (a partir de 2006) – o
que pode representar com precisão uma população inteira, mas na verdade, por definição, não representa qualquer
família da vida real.
Segundo, a pesquisa qualitativa difere por sua capacidade de representar as visões e perspectivas dos
participantes de um estudo. Capturar suas perspectivas pode ser um propósito importante de um estudo
qualitativo. Assim, os eventos e ideias oriundos da pesquisa qualitativa podem representar os significados dados a
fatos da vida real pelas pessoas que os vivenciam, não os valores, pressuposições, ou significados mantidos por
pesquisadores.
Terceiro, a pesquisa qualitativa abrange condições contextuais – as condições sociais, institucionais e ambientai
s em que as vidas das pessoas se desenrolam. Em muitos aspectos, essas condições contextuais podem influenciar 
muito todos os eventos humanos. Entretanto, os outros métodos de ciências sociais (exceto a história) têm dificuld
ade para abordar essas condições.
Os experimentos, por exemplo, “fazem controle” dessas condições (daí a artificialidade dos experimentos labor
atoriais). Semiexperimentos admitem tais condições, mas intencionalmente focam apenas em um conjunto limitad
o de “variáveis”, que podem reconhecer plenamente ou não as condições contextuais. De modo análogo, as pesqui
sas de levantamento3 são limitadas pela necessidade de gerenciar cuidadosamente os graus de liberdade
necessários para analisar as respostas a um conjunto de questõesde pesquisa. Os levantamentos são, portanto,
limitados no número de perguntas dedicadas a quaisquer condições contextuais. A história não confronta
condições contextuais, mas em sua forma convencional estuda o “passado morto”, não os eventos em andamento
como na pesquisa qualitativa (consulte novamente a nota de rodapé número 1 sobre história oral).
Quarto, a pesquisa qualitativa não é apenas um diário ou uma narrativa cronológica da vida cotidiana. Tal
função seria uma versão meio mundana dos acontecimentos da vida real. Ao contrário, a pesquisa qualitativa é
guiada por um desejo de explicar esses acontecimentos, por meio de conceitos existentes ou emergentes. Por
exemplo, um conceito existente é o de manejo do estigma de Goffman (1963). Em seu trabalho original, o manejo
de estigma referia-se sobretudo às adaptações de uma pessoa. Entretanto, um estudo qualitativo contemporâneo
aplicou essa tipologia e arcabouço a um grupo coletivo, assim oferecendo novas revelações sobre como as ações
de estados-nações também poderiam tentar superar seus próprios acontecimentos historicamente estigmatizantes
(ver “Usando a pesquisa qualitativa para produzir novas revelações”, Quadro 1.2).
Usando a pesquisa qualitativa para produzir novas revelações
O estudo de Lauren Rivera (2008) examina como o governo croata “alterou representações da história
e da cultura da região por meio do turismo internacional na esteira das guerras violentas da secessão i
ugoslava” (p. 614). O objetivo do governo era criar uma vigorosa indústria do turismo, atraindo viajante
s estrangeiros. Para fazer isso era preciso “desviar a atenção da guerra e reposicionar o país como u
m lugar idêntico a seus vizinhos europeus ocidentais” (p. 614).
Dados de diversas fontes de campo mostram como a Croácia lidou com as dificuldades do passado p
elo “reenquadramento cultural mais do que por reconhecimento público” (Rivera, 2008, p. 613). Essas 
constatações são então discutidas à luz do clássico estudo de Erving Goffman (1963) sobre estigma e 
manejo do estigma. Sua tipologia do manejo do estigma, geralmente aplicada ao estudo de indivíduos 
com deficiências mentais ou físicas, oferece um arcabouço interessante quando aplicada às condições
na Croácia, um estado-nação. Ampliando o alcance das ideias de Goffman, para compreender “proces
sos de representação histórica e cultural” (p. 615), o estudo de Rivera demonstra habilmente o valor d
e ligar a pesquisa qualitativa a processos sociais interessantes.
Da mesma forma, a pesquisa qualitativa pode ser uma ocasião para desenvolver novos conceitos. Os conceitos
podem tentar explicar processos sociais, tais como o ensino escolar de estudantes norte-americanos. Um conceito
ilustrativo oferecido por um estudo qualitativo é a noção de educação escolar subtrativa (ver “Usando um conceito
abrangente para organizar um estudo qualitativo”, Quadro 1.3), usado para fornecer explicações potencialmente
úteis e formar uma plataforma para novas investigações. Na verdade, estudos destituídos de conceitos, sejam
existentes ou novos, ou destituídos de qualquer interpretação, seriam semelhantes a diários ou narrativas
cronológicas, mas não pesquisa qualitativa.
Usando um conceito abrangente para organizar um estudo qualitativo
O estudo de Valenzuela (1999) de uma escola em Houston mostra como um conceito abrangente
pode orientar a organização de todo um estudo. O conceito é o de educação escolar subtrativa, uma
experiência que surgiu do modo como os programas de inglês como segunda língua (ESL) são
impostos a estudantes imigrantes.
O autor passou três anos como observador-participante na escola, também fazendo muitas entrevistas
e colhendo dados documentais. Valenzuela observa que a maioria dos estudos de programas ESL foc
ou em como os alunos aprendem e não em como são escolarizados, deixando uma lacuna na literatur
a. Em suma, o estudo dela mostra como a experiência escolar assume um caráter subtrativo porque a 
fluência em espanhol, em vez de ser uma virtude a ser aproveitada, é uma “barreira que precisa ser su
perada” (1999, p. 262). “Abandonar nossa cultura original” torna-se, então, parte de um processo de al
ienação (p. 264). Os resultados mostram como a educação escolar subtrativa também se estende a di
visões entre os diferentes grupos de estudantes.
Ver também Quadro 4.5.
Quinto, a pesquisa qualitativa procura coletar, integrar e apresentar dados de diversas fontes de evidência como
parte de qualquer estudo. A variedade provavelmente será uma decorrência de você ter que estudar um ambiente
da vida real e seus participantes. A complexidade do ambiente de campo e a diversidade de seus participantes
provavelmente justificam o uso de entrevistas e observações e mesmo a inspeção de documentos e artefatos. As
conclusões do estudo tendem a se basear na triangulação dos dados das diversas fontes. Essa convergência
aumentará a credibilidade e confiabilidade do estudo (ver mais sobre esse objetivo ao final deste capítulo).
Práticas comuns
Articular como essas cinco características distintivas se convertem em real prática de pesquisa torna-se a tarefa do
restante de todo este livro. Ainda que uma “metodologia” de pesquisa qualitativa formal possa não existir, as
ofertas capturam as práticas que decorrem diretamente das cinco características. Várias práticas são descritas
sucintamente a seguir. Entretanto, você terá que consultar os capítulos mencionados para detalhes sobre como
estas e outras práticas podem funcionar para você:
1. O uso de delineamentos de pesquisa flexíveis em vez de fixos, abrangendo oito escolhas, tais como reforçar
a validade de um estudo, selecionar as amostras a serem estudadas e preocupar-se em generalizar (ver Cap.
4).
2. A coleta de dados “de campo” – apropriadamente tentando capturar condições contextuais, bem como
perspectivas dos participantes – resultantes de seu próprio trabalho de campo e examinando os diários,
jornais, textos, fotografias, ou outros artefatos associados aos próprios participantes (ver Caps. 5 e 6).
3. A análise de dados não numéricos – inclusive escolhas sobre usar ou não vários tipos de programas de
computador (ver Cap. 8); e
4. A interpretação dos resultados de um estudo qualitativo, que pode envolver generalizações convencionais
desafiadoras e estereótipos sociais (ver Cap. 9).
Os outros capítulos do livro tratam de questões mais gerais, tais como de que forma se equipar para fazer
pesquisa qualitativa (Cap. 2), como dar os primeiros passos de um estudo qualitativo (Cap. 3), como registrar os
dados corretamente (Cap. 7) e como apresentar dados qualitativos por meio de formas escritas e visuais e criar
uma composição final (Caps. 10 e 11). O capítulo final introduz uma importante tendência contemporânea
diretamente relacionada à pesquisa qualitativa – a maior atenção dedicada à pesquisa com metodologia mista
(Cap. 12). Alguns temas importantes – tais como manter a consciência de como seu papel como pesquisador pode
influenciar um estudo (reflexividade) – tendem a ocorrer em todo o livro (ver também a discussão no Cap. 11
sobre como apresentar nosso “eu reflexivo” como parte de um estudo qualitativo concluído).
C. O MUNDO MULTIFACETADO DA PESQUISA QUALITATIVA
O que você deve aprender nesta seção:
1. Como os eventos humanos podem refletir múltiplas realidades.
2. Como o estudo de tais eventos, a despeito de sua singularidade, ainda pode decorrer da coleta de
dados e técnicas de análise comuns.
3. As múltiplas variações metodológicas dentro da pesquisa qualitativa.
4. Duas estratégias para o processo de realização de um estudo qualitativo (“estratégias de mediação”) à
luz do rico mosaico da pesquisa qualitativa.
A amplitude do que se chama pesquisa qualitativa abrange um mosaico de orientações, bem como de escolhas
metodológicas. Tirar vantagem da riqueza do mosaico oferece uma oportunidade para personalizar um estudo
qualitativo.
Três condições em especial contribuem para o mosaico: a potencial multiplicidade de interpretações dos
eventos humanossendo estudados; a potencial singularidade desses eventos; e as variações metodológicas
disponíveis dentro da pesquisa qualitativa. Cada condição pode envolver escolhas extremas, muitas vezes
envolvendo considerações filosóficas e não apenas metodológicas. Entretanto, entre os extremos existe uma ampla
gama de posições aceitáveis. As três condições juntas, portanto, formam grande parte do mundo multifacetado da
pesquisa qualitativa.
Múltiplas interpretações dos mesmos eventos?
A condição inicial deriva do desejo da pesquisa qualitativa de capturar o significado dos eventos da vida real, da
perspectiva dos participantes de um estudo. Tal objetivo não pode ignorar o fato de que os significados dos
participantes, se estudados e relatados por um pesquisador, também inevitavelmente incluem um segundo
conjunto de significados para os mesmos eventos – aqueles do pesquisador.
Dois termos complementares – êmico e ético – embora hoje um pouco superados – esclarecem a potencial duali
dade, se não a multiplicidade, de significados. Uma perspectiva êmica procura capturar os significados nativos dos
participantes dos eventos da vida real. Em contraste, uma perspectiva ética representa o mesmo conjunto de event
os da vida real, mas de uma perspectiva externa – a de um pesquisador. Os dois termos lançam mão de um paralel
o linguístico, no qual a fonêmica representa os sons com base em sua função interna dentro de uma língua e a foné
tica representa as propriedades acústicas ou mais externas das palavras (p. ex., Emerson, 2001, p. 31).
As perspectivas êmica e ética geralmente serão diferentes – devido a diferenças nos sistemas de valor dos obser
vadores, suas predisposições e seu gênero, idade e raça e etnicidade. Por exemplo, em um estudo envolvendo “etn
ografia naturalista”, os investigadores observaram que o pesquisador que realiza trabalho de campo em um ambien
te natural era um estranho antropológico que tinha que “cuidar para não perturbar a ecologia do mundo social [dos
participantes] introduzindo sua subjetividade, crenças, ou interesses próprios como pesquisador acadêmico de clas
se média branco” (Roman & Apple, 1990, p. 45). Um desafio adicional aos pesquisadores é “manter em suspenso 
seus eventuais pressupostos políticos e comprometimentos teóricos” (p. 46).
As diferenças nos sistemas de valor permeiam nossos próprios processos de pensamento. Essas diferenças, por 
sua vez, afetarão o modo como a pesquisa qualitativa será conduzida e relatada. Operacionalmente, elas vão apare
cer mesmo (e especialmente) ao descrever um conjunto de eventos da vida real. Consequentemente, a tarefa apare
ntemente natural de fazer uma descrição torna-se uma questão interpretativa (Lawrence-Lightfoot & Davis, 1997),
mesmo que apenas por causa de um processo inevitável de seleção (Emerson, 2001, p. 28; Wolfinger, 2002). O pr
ocesso descritivo não pode abarcar plenamente todos os eventos possíveis que poderiam ter sido observados em u
m ambiente de estudo. Mesmo o uso de registros de comportamento social em vídeo ou áudio, embora aparenteme
nte oferecendo um alcance abrangente, tem seus parâmetros básicos – de onde, quando e o que registrar – definido
s pelo pesquisador.
A seletividade também pode surgir por conta das categorias pré-concebidas de um investigador para atribuir sig
nificado aos eventos e suas características (p. ex., Bec­ker, 1998, p. 76-85). Como declarou Robert Emerson (2001
, p. 48):
O autor decide não apenas quais eventos em particular são significativos, quais são apenas dignos de inclu
são, quais são absolutamente essenciais e como ordenar esses eventos, mas também, em primeiro lugar, 
o que conta como um “evento”.
O apelo para criar uma “descrição densa” – um termo comumente associado ao trabalho de Clifford Geertz (19
73), mas que, na verdade, ele creditou (p. 6-7) a Gilbert Ryle (1949), é uma forma de tentar revelar ou ao menos a
umentar nossa consciência da seletividade e das categorias preconcebidas (Bec­ker, 1998). Quanto mais densa a d
escrição, mais possível seria dizer que aquela seletividade foi reduzida.
 Além de produzir uma descrição densa, outras práticas de estudo de campo incluem “nos confrontarmos com a
s coisas que nos afastariam das categorias convencionais, da declaração convencional de um problema, da solução
convencional” (Becker, 1998, p. 85), e “identificar o caso que provavelmente perturbaria seu pensamento e procur
á-lo” (p. 87).
Não obstante, por mais bem-sucedidas que essas confrontações possam ser, os pesquisadores não podem na aná
lise final evitar suas próprias lentes de pesquisa ao representarem a realidade. Assim, o objetivo é reconhecer que 
múltiplas interpretações podem existir e garantir que o máximo possível seja feito para impedir que um pesquisad
or imponha sua própria interpretação (ética) à interpretação (êmica) de um participante.
Nesse sentido, as descrições do trabalho de campo são “construídas” (Guba, 1990). Mesmo um “ambiente” de c
ampo não é uma “entidade natural preexistente”, mas algo que é construído (Emerson, 2001, p. 43). Ao estudar a c
ultura de um povo ou de um lugar, as descrições podem ser consideradas interpretações de segunda ou terceira ord
em, porque representam as “construções do pesquisador das construções [‘dos participantes’] daquilo que eles e se
us compatriotas se ocupam” (Geertz, 1973, p. 9, 15).
Seguindo essa lógica, o pesquisador em campo serve efetivamente como principal instrumento de pesquisa para
coletar dados em um estudo qualitativo (ver Cap. 5, item D, para mais detalhes). Nenhum instrumento físico de m
edição, procedimento experimental, ou questionário prevalece – ainda que todos possam ser usados como parte de 
um estudo qualitativo. Na maioria das situa­ções, o pesquisador inevitavelmente serve como um instrumento de pe
squisa porque os fenômenos importantes da vida real – tais como a própria “cultura” que é um tema frequente dos 
estudos qualitativos – não podem ser mensurados por instrumentos externos, mas somente ser revelados fazendo-s
e inferências sobre os comportamentos observados e conversando com as pessoas (Spradley, 1979, p. 7).
Além disso, o pesquisador tem uma personalidade humana e não pode se comportar como “um robô sem face o
u como um gravador mecânico dos eventos humanos” (Powdermaker, 1966, p. 19). Essa personalidade “não se for
ma no trabalho de campo, mas tem muitos anos de condicionamento por trás de si”, incluindo “a escolha dos probl
emas e dos métodos, mesmo a escolha da própria disciplina [acadêmica]” (p. 19).
As pessoas que fazem pesquisa qualitativa veem a distinção êmico-ético e a possibilidade de múltiplas interpret
ações dos mesmos eventos como uma oportunidade, não uma limitação. Na verdade, um tema comum subjacente 
a muitos estudos qualitativos é demonstrar como as perspectivas dos participantes podem divergir acentuadamente
daquelas apresentadas por pessoas externas.
 Por exemplo, a pesquisa multicultural visa a descrever as perspectivas dos participantes de maneiras precisas e 
válidas, mas também solidárias. Assim, tópicos de estudo comuns têm sido os grupos “que têm historicamente sof
rido racismo, discriminação e exclusão” (Banks, 2006, p. 775). De maneira semelhante, o estudo de Edin e Kefala
s de por que os participantes de seu estudo colocavam a maternidade antes do casamento foi uma tentativa de expl
icar o mérito de manter essa convicção, ainda que não representasse uma visão da classe média convencional.
Adotando-se ou não uma orientação multicultural, reconhecer a possibilidade de múltiplas interpretações de eve
ntos semelhantes pode moldar a pesquisa qualitativa como um tipo de investigação relativista (múltiplas realidade
s e dependente do observador) mais do que realista (única realidade e conjunto de “fatos”, independente de qualqu
er observador). A maioria dos estudos qualitativos se situa ao longo de um continuum entre esses dois extremos fil
osóficos. Por exemplo, seu próprio estudo poderia sinalizar uma inclinação à aceitação de múltiplas realidades, por destacar as diferentes perspectivas dos participantes e não forçá-los a convergir em uma única rea­lidade. Você t
ambém poderia incluir uma forte apresentação autorreflexiva, reconhecendo as importantes facetas de suas lentes 
de pesquisa, como discutido no Capítulo 11 deste livro.
Por outro lado, seu estudo poderia sinalizar uma inclinação a aceitar uma única realidade, por triangular entre di
ferentes fontes de dados e buscar estabelecer um conjunto comum de fatos. Seu objetivo poderia ser definir uma c
erta realidade, e dentro dessa realidade você estaria tentando minimizar a contaminação entre suas próprias interpr
etações e as dos participantes.
Os eventos humanos podem ser singulares?
 Uma segunda condição enriquece mais o mosaico: eventos humanos podem ser considerados inteiramente únicos 
ou tendo algumas propriedades relacionadas e potencialmente aplicáveis a outras situações. Qualquer uma das pos
turas, novamente com uma ampla faixa de posições intermediárias, pode ser assumida ao estudar quase todo tópic
o social. Por exemplo, considere um estudo qualitativo em psicologia, abordando a relação amorosa entre duas pes
soas. Da mesma forma, considere um estudo qualitativo em sociologia, focado no enobrecimento de um determina
do bairro urbano em um determinado período – ou um estudo qualitativo em administração, tratando da fusão entr
e duas empresas. Você pode imaginar todas as situações como totalmente únicas. Em contraste, você também pod
e imaginar estudar as mesmas situações e se esforçar para identificar suas implicações para outras situações (presu
mivelmente semelhantes).
Dentro da pesquisa qualitativa, os estudos fenomenológicos, que enfatizam análises hermenêuticas ou interpreta
tivas, são mais fortemente dedicados à captura da singularidade dos eventos. Como exemplo, como parte de um es
tudo psicológico, você poderia mergulhar nas vidas de pessoas que estão sendo treinadas para exercer medicina fa
miliar. Para realizar tal investigação, você poderia segui-las durante seus anos iniciais de residência, compartilhar 
suas lutas, contradições e conflitos, e tentar derivar uma compreensão profunda de como foi para essas pessoas su
bmeter-se a essa experiência de treinamento (ver “Um estudo de imersão no treinamento de médicos”, Quadro 1.4
).
Um estudo de imersão no treinamento de médicos
Richard Addison (1992) usou uma abordagem hermenêutica para estudar nove pessoas em seu prime
iro ano de residência. Ele escolheu um programa de residência em clínica familiar ligado à universidad
e, focando nas experiências de primeiro ano dos novos residentes.
Addison iniciou seu estudo mergulhando no cotidiano dos residentes, desenvolvendo sua própria com
preensão experiencial de suas práticas. Ele não apenas acompanhou esses residentes, como também
entrevistou seus cônjuges e outros no mesmo ambiente educacional, além de ler “um imenso volume 
de memorandos, grades de horários e documentação” (1992, p. 115).
Como parte de um “processo circular hermenêutico”, Addison então incorporou sua compreensão mai
s completa a mais observações e imersão (1992, p. 116). Em diversas etapas, ele também apresentou
seu trabalho a seus colegas, processo que o ajudou a “recuar, refletir e questionar [sua] compreensão”
(p. 119).
A análise de Addison constantemente o remeteu de volta a sua questão de pesquisa: como as pessoa
s se tornam médicos de família. Seus principais resultados trataram da importância de “sobreviver” co
mo um tema unificador, inserido em “um contexto de conflitos e contradições no tecido da residência” (
1992, p. 122-123).
Estudos fenomenológicos consideram não somente os eventos que estão sendo estudados, como também seus c
ontextos políticos, históricos e socioculturais (p. ex., Miller & Crabtree, 1992, p. 25). Os estudos procuram ser o m
ais fidedignos possível às experiências vividas, especialmente como estas poderiam ser descritas nas palavras dos 
próprios participantes. Na educação, um exemplo simples seria pedir às pessoas que descrevam situações em que a
prenderam ou não aprenderam, em vez de tentar criar uma situação laboratorial específica para testar como elas ap
rendem (Giorgi & Giorgi, 2009). Em tais investigações, estudos fenomenológicos resistem a “qualquer uso de con
ceitos, categorias, taxonomias ou reflexões sobre as experiências” (Van Manen, 1990, p. 9). Relacionado a esse ob
jetivo, o Capítulo 3 deste livro discute uma escolha de “trabalho de campo primeiro” que pode preceder a identific
ação de quaisquer questões de pesquisa como parte do processo de iniciar um novo estudo qualitativo.
As características a serem evitadas em estudos fenomenológicos incluem qualquer interesse em desenvolver ge
neralizações, pois elas podem distorcer o desejado foco na singularidade dos eventos (Van Manen, 1990, p. 22). U
ma consequente preocupação seria o uso de métodos de pesquisa predeterminados cujos procedimentos fixos pode
riam restringir artificialmente uma representação do evento por “governarem por regras o projeto de pesquisa” (p. 
29). Nesse sentido, a condução de um estudo fenomenológico poderia querer evitar a maioria ou todas as escolhas 
de delineamento – inclusive aquela sobre qualquer interesse em generalizar os resultados de um estudo – apresenta
das no Capítulo 4 deste livro.
Não obstante, e apesar de assumir-se esta postura, a singularidade dos eventos sendo estudados não impede um 
estudo fenomenológico de adotar os mesmos tipos de procedimentos de coleta de dados utilizados em um estudo n
ão fenomenológico. Os procedimentos incluem obter descrições experienciais de diversas pessoas-chave, fazer ent
revistas, fazer observações e coletar informações sobre as experiências vividas de outras fontes, tais como diários, 
jornais e registros (p. ex., Van Manen, 1990, p. 53-76). Esses procedimentos seriam diretamente semelhantes às pr
áticas de coleta de dados apresentadas no Capítulo 6 deste livro.
 De maneira semelhante, estudos fenomenológicos tendem a usar o mesmo tipo de procedimentos de análise de 
dados que em um estudo não fenomenológico. Por exemplo, a ênfase dos estudos fenomenológicos de capturar e i
nterpretar as palavras e a linguagem dos participantes leva ao ordenamento das palavras originais dos participantes
lado a lado com as interpretações e mesmo transformações dessas palavras pelo pesquisador (Giorgi & Giorgi, 20
09, p. 44), bem como a possível necessidade de algum tipo de análise temática (Van Manen, 1990, p. 77-109). Ess
es procedimentos não são diferentes da codificação de informações textuais de outros estudos qualitativos ou das p
ráticas apresentadas posteriormente no Capítulo 8 deste livro.
Em outras palavras, muitos procedimentos de pesquisa comuns ainda subsidiam estudos qualitativos, que em ou
tros aspectos podem diferir fortemente em sua orientação filosófica e delineamento de pesquisa.
Emular ou não uma das variantes de pesquisa qualitativa
Uma terceira condição que contribui para o mosaico geral aponta para o grande número de metodologias formalm
ente organizadas dentro da pesquisa qualitativa. Ao definir sua própria pesquisa qualitativa, você pode querer emu
lar uma de duas variações. Você pode ter sido aconselhado a fazê-lo por um orientador, ou você pode sentir uma n
ecessidade irresistível de responder à pergunta “que tipo de pesquisa qualitativa você está fazendo?”.4 Não existe
tipologia formal ou inventário, mas a orientação especializada encontrada em muitos artigos e livros (p. ex.,
Denzin & Lincoln, 2005) fornece muitos modelos de variações que podem ser seguidas em sua pesquisa.
Por exemplo, considere as 10 variações apresentadas na Tabela 1.1. Todas elas tendem a estar entre as formas
comumente aceitas de pesquisa qualitativa. Elas não se agrupam em categorias ordenadas. Consequentemente, as
variações podem se sobrepor, tal como: fazer um estudo de caso baseado em observação participante; ou conduzir
uma história de vida como parte de uma investigação narrativa; ou fazer pesquisa-ação e adotar uma abordagem
de teoriafundamentada na coleta e análise dos dados.
Variações ilustrativas em pesquisa qualitativa
Variação
ilustrativa Trabalhos relevantes Descrição breve
Pesquisa-ação Lewin (1946); Small (1995);
Greenwood & Levin (1998);
Reason & Riley (2009)
Enfatiza a adoção de um papel ativo por parte do pesquisador ou uma
colaboração ativa com os participantes do estudo.
Estudo de caso Platt (1992); Yin (2009); Yin
(no prelo)
Estuda um fenômeno (o “caso”) em seu contexto real.
Etnografia Powdermaker (1966); Geertz
(1973); Wolcott (1999);
Anderson-Levitt (2006)
Envolve um estudo de campo suficientemente extenso para revelar
normas, rituais e rotinas cotidianos em profundidade.
Etnometodologia Garfinkel (1967); Cicourel
(1971); Holstein & Gubrium
(2005)
Procura compreender como as pessoas aprendem e conhecem os
rituais, maneirismos e símbolos sociais em sua vida e cultura
cotidiana.
Pesquisa
feminista
Fine (1992); Olesen (2005);
Hesse-Biber & Leavy (2007)
Abarca a perspectiva de que relações metodológicas e outras
incrustam relações de poder com frequência ignoradas que podem
afetar os resultados de pesquisa.
Teoria Glaser & Strauss (1967); Presume que a ocorrência natural do comportamento social em conte
fundamentada Charmaz (2005); Corbin &
Strauss (2007)
xtos da vida real é mais bem analisada derivando-se categorias e con
ceitos fundamentados “de baixo para cima”.
História de vida Lewis (1961, 1965); Langness
(1965); Bertaux (1981)
Coleta e narra a história de vida de uma pessoa, capturando seus
pontos de virada e temas importantes.
Investigação
narrativa
Riessman (1993, 2008); Chase
(2005); Connelly & Clandinin
(2006); Murray (2009)
Constrói uma representação narrativa dos resultados obtidos em um
ambiente real e dos participantes, para acentuar a sensação de “estar
lá”.
Estudo de
observador-
participante
Becker (1958); Spradley
(1980); Tedlock (1991)
Conduz pesquisa de campo em que o pesquisador se coloca no
ambiente real que está sendo estudado.
Estudo
fenomenológico
Husserl (1970); Schutz (1970);
Van Manen (1990); Moustakas
(1994); Giorgi & Giorgi (2009)
Estuda eventos humanos enquanto são imediatamente vivenciados
em ambientes reais, evitando categorias e conceitos prévios que
poderiam distorcer a base experiencial para compreender os eventos.
Você precisa ser sensível a essas variações, mas não precisa escolher entre elas se não quiser. Sua sensibilidade 
precisa sobretudo reconhecer sua numerosidade. Por exemplo, além das 10 variedades listadas na Tabela 1.1, outr
as incluem a autoetnografia (p. ex., Jones, 2005); análise conversacional (p. ex., Drew, 2009); análise do discurso 
(p. ex., Bloome & Clark, 2006; Willig, 2009); etnografia da performance (p. ex., Denzin, 2003); e interacionismo 
simbólico (p. ex., Blumer, 1969; Mead, 1934). Portanto, você deve apreciar e estar consciente da probabilidade de 
que os artigos encontrados em diferentes revistas de pesquisa qualitativa – tais como Action Research, Narrative I
nquiry (anteriormente o Journal of Narrative and Life History) e o Journal of Contemporary Ethnography, para ci
tar alguns – tendem a favorecer diferentes variações e consequentemente diferem em suas orientações de pesquisa.
Alguns estudiosos (p. ex., Grbich, 2007; Rex, Stead­man, & Graciano, 2006) também identificaram diferentes pref
erências analíticas para acompanhar as diferentes variações.
Apesar disso, as qualidades comuns que distinguem a pesquisa qualitativa em todas essas variações também per
sistiram e tornaram-se mais reconhecidas. Independentemente de qualquer variação em particular, praticamente to
da pesquisa qualitativa parece seguir a maioria, se não todas as cinco características da pesquisa qualitativa descrit
as anteriormente. Na verdade, estudos consistentes, se não exemplares, podem ser conduzidos com o rótulo geral d
e “pesquisa qualitativa” ou “estudo de campo”, sem recorrer a nenhuma dessas variações.
É interessante que esse tipo de pesquisa qualitativa generalizada aparece com regularidade nos principais periód
icos acadêmicos e editoras universitárias. Por exemplo, duas revistas de destaque em sociologia cobrem todas as c
orrentes de pesquisa sociológica. Ambas dedicaram considerável espaço a uma variedade de estudos qualitativos (
p. ex., Auyero & Swistun, 2008; Cable, Shriver, & Mix, 2008; Davis & Robinson, 2009; Madsen, 2009; Moore, 2
008; Read & Oselin, 2008; Rivera, 2008).
Citações semelhantes podem ser encontradas em outras disciplinas acadêmicas e profissões – cujos principais p
eriódicos também fornecem todos os tipos de pesquisa, não apenas pesquisa qualitativa (como exemplos, ver Saud
er, 2008, em ciências da administração, e Sack, 2008, em formação de professores). Da mesma forma, editoras uni
versitárias publicam muitos estudos qualitativos que presumem as características mais gerais da pesquisa qualitati
va e não se encaixam em nenhuma variante em particular.
 Portanto, em vez de se sentir forçado a escolher uma das variações como base para um estudo qualitativo, você
pode exercitar uma opção viável conduzindo uma pesquisa qualitativa de uma forma generalizada. Você pode sim
plesmente declarar – como nos artigos dos periódicos recém citados – que você está apresentando um estudo de pe
squisa qualitativa, sem referência a nenhuma das variantes. Observe que seguir a forma generalizada de pesquisa q
ualitativa não implica uma metodologia rígida. O delineamento de seu estudo (ver Cap. 4), os métodos de coleta d
e dados (ver Cap. 6) e as opções de análise quanto a “codificar” seus dados ou não (ver Cap. 8), tudo isso envolve 
um conjunto de escolhas que você deve fazer.
Estratégias de mediação
A mediação no mosaico de orientações e metodologias pode ser feita de duas maneiras. Ambas vão ajudar-lhe a pr
osseguir com seu estudo qualitativo, quer você planeje seguir uma das variações ou conduzir uma forma generaliz
ada de pesquisa qualitativa.
Seguindo a primeira maneira, você pode reconhecer explicitamente as escolhas metodológicas antecipadamente
e depois indicar sua sensibilidade a respeito de suas oportunidades, limitações e fundamentos filosóficos. O proces
so seria semelhante ao que Grbich (2007, p. 17) descreveu como reconhecer a localização epistemológica de seu e
studo – ou seja, as suposições filosóficas que você faz sobre os modos de saber o que você sabe. Sua localização e
pistemológica poderia ser um dos extremos criados pela escolha de uma combinação de dimensões relativista-reali
sta e única-não única. Entretanto, a localização também poderia estar em qualquer ponto intermediário, representa
ndo o “terreno intermediário viável” como reconhecido por Gubrium e Holstein (1998).
Por exemplo, você pode expressar e defender sua intenção de fazer um estudo de caso porque ele represe
nta um caso único, que merece ser estudado por seu próprio mérito. Embora se trate de uma situação parti
cular, o caso ainda pode trazer revelações incomuns que justificam seu estudo. Robert Stake (1995, p. 8; 2
005) chamou esses de estudos de caso intrínsecos.5
Por outro lado, você pode afirmar que seu estudo de caso não somente apresenta uma determinada
situação como pretende informar outras situações ou casos, e Stake chama esses de estudos de caso
instrumentais (p. 3).
Tendo declarado sua localização epistemológica, você então indicaria como o delineamento de seu estudo e a
seleção de seus procedimentos de pesquisa refletiram a localização declarada – em parte citando outros estudos
que haviam feito escolhas semelhantes e tinham expressado suas apropriadas precauções. Você poderia inclusive
adotar “vozes” narrativas ao relatar seu trabalho, novamente observando antecipadamente por que você escolheu
uma determinada voz.
Por exemplo, John van Maanen (1988; ver também Quadro 11.3) faz distinção entre uma voz em terceira p
essoa, impassível (história realista), uma voz em primeira pessoa participativa que reconhece abertamente 
o papel do pesquisador no campo (histórias confessionais), e uma narração que procura situar o leitor no m

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