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1. ESTUDAR DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA, FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO (PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO) DAS LMA. Nas leucemias mieloides agudas (LMAs), as células neoplásicas são bloqueadas em uma fase inicial do desenvolvimento da célula mieloide. As células mieloides imaturas (blastos) se acumulam na medula, substituem os elementos normais e frequentemente circulam no sangue periférico. EPIDEMIOLOGIA A leucemia mieloide aguda é um dos tipos mais comuns de leucemia em adultos, mas mesmo assim é bem rara: o risco médio de alguém apresentar a doença durante a vida é de aproximadamente 1%. Em adultos, a idade média para o diagnóstico é de aproximadamente 65 anos. Isso porque a incidência aumenta com a idade, pois idosos parecem ser envolvidos por alterações genéticas afetando o processo de transcrição e os receptores de tiroquinase. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que para cada ano, entre 2020 e 2022, sejam diagnosticados 10.810 novos casos de leucemias no Brasil, sendo 5.920 em homens e 4.890 em mulheres. Segundo um estudo feito pelo Observatório de Oncologia, em dez anos (2008-2017) o Brasil teve cerca de 63 mil mortes por leucemias, sendo que 36% foram causadas pela LMA. FATORES DE RISCO FISIOPATOLOGIA Todas as células do sangue desenvolvem-se a partir de um único tipo de células chamadas células pluripotentes (também conhecidas como células- tronco hematopoiéticas), as quais podem dar origem a diferentes linhagens celulares, incluindo linfócitos e mielócitos. A linhagem dos linfócitos é composta principalmente de células T e B (células brancas), enquanto a linhagem dos mielócitos incluem uma variedade de células imunes, bem como células vermelhas do sangue. A causa da LMA não é conhecida, mas sabe-se de alguns fatores predisponentes a uma chance mais elevada de desenvolvimento da doença. Entre eles, temos Exposição à radiação ionizante e a derivados de benzeno. Fatores ambientais, como exposição a produtos químicos, tabaco, quimioterapia Anormalidades genéticas, por exemplo, trissomia do 21, anemia de Fanconi, síndrome de Bloom e mutações familiares. Uma das hipóteses que sustentam a patogênese da LMA é a de uma célula-tronco progenitora alterada com capacidade de transformação em célula-tronco leucêmica com autorrenovação elevada. As alterações de proliferação, do ciclo celular e de genes envolvidos em cascatas de diferenciação hematopoiética, quando associadas promove a Idade > 60 anos, mas é possível desenvolver a doença em qualquer momento da vida. Alterações genéticas: Síndrome de Down, Anemia de Fanconi e Síndrome de Bloom. Doenças do sangue Exposição a produtos químicos perigosos: benzeno Exposição a altos níveis de radiação Tabagismo Tratamentos prévios de câncer diferenciação de uma célula-tronco em uma célula- tronco leucêmica. Essa hipótese é conhecida como two-hit hypothesis, onde a doença surge a partir de dois eventos mutagênicos sendo que o primeiro aumenta a proliferação e o segundo altera a diferenciação hematológica. As mutações promovem uma série de alterações no ciclo celular inclusive em proteínas que estão diretamente associadas com o DNA, RNA e as funções celulares. Os eventos oncogênicos são divididos de acordo com o modelo hipotético de dois eventos da leucemogênese em duas classes: Classe I: possibilitam uma maior proliferação em relação às demais células Classe II: bloqueiam a diferenciação mieloide e imprimem a capacidade de autorrenovação Dessa forma, as mutações de classe I promovem um privilégio proliferativo enquanto as de classe II alteram os fatores de transcrição necessários para os progenitores hematológicos RESUMO: alterações genéticas e ambientas se relacionam de forma cumulativa, possibilita o aparecimento de proteínas quiméricas, que são produtos das translocações cromossômicas, resultando em uma cascata ineficiente de maturação dos percursores mieloides BIOMARCADORES É importante conhecer as alterações genéticas mais frequentes que influenciam as classificações. Entre elas temos as mutações NPM1, as duplicações internas em Tandem do gene FLT3 e duplicações parciais em Tandem do gene MLL. A maioria das LMAs apresenta mutações em genes que codificam fatores de transcrição necessários para a diferenciação mieloide normal. Essas mutações interferem na diferenciação dos precursores iniciais das células mieloides, levando ao acúmulo de precursores mieloides (blastos) na medula. A translocação (15;17) na leucemia promielocítica aguda desperta interesse especial, resultando na fusão do gene do receptor α do ácido retinoico (RARA) no cromossomo 17 com o gene PML no cromossomo 15. CLASSIFICAÇÃO As LMAs são diversas em termos de genética, linhagem celular e grau de maturação. Dessa forma, a OMS em 2016 lançou uma nova classificação que abrangia grande parte das características citogenéticas e moleculares da LMA 1. Leucemia mieloide aguda e neoplasias de células precursoras relacionadas 2. LMA com alterações mielodisplásicas relacionadas 3. LMA não classificáveis 4. Sarcoma mieloide 5. Proliferações mieloides relacionadas com síndrome de Down 6. Neoplasias de células dendríticas plasmocitoides blásticas QUADRO CLÍNICO O quadro clínico da LMA incluirá sintomas decorrentes da falência da medula óssea em produzir os elementos sanguíneos. Sinais e sintomas sugestivos de anemia (por exemplo, falta de ar, dispneia aos esforços, palidez), sangramento ou hematomas em excesso. O paciente também pode apresentar leucopenia, que faz com que haja predisposição a infecções e a quadros de febre, tanto pela própria leucemia ou em decorrência dos quadros infecciosos Características Clínicas Anemia, neutropenia e trombocitopenia (resulta em diátese hemorrágica - lesões hemorrágicas disseminadas), principalmente fadiga, febre e hemorragias mucosas e cutâneas espontâneas. Petéquias cutâneas e equimoses, hemorragias serosas no revestimento das cavidades do corpo e das vísceras, e hemorragias mucosas gengivais e do trato urinário são comuns. Os pró-coagulantes e os fatores fibrinolíticos liberados pelas células leucêmicas exacerbam a tendência de sangramento. As infecções são frequentes e muitas vezes são causadas por microrganismos oportunistas como fungos, Pseudomonas e comensais. A disseminação pelo sistema nervoso central ocorre, mas é menos comum do que na LLA. A LMA associada a mutações em TP53 surgiu como um subtipo com um prognóstico particularmente ruim. DIAGNÓSTICO A suspeita do diagnóstico é reforçada pelo exame físico. O paciente pode apresentar palidez, febre, aumento do baço (esplenomegalia) e sinais decorrentes da trombocitopenia, tais como epistaxe (sangramento nasal), hemorragias conjuntivais, sangramentos gengivais, petéquias (pontos violáceos na pele) e equimoses (manchas roxas na pele). Diante da suspeita clínica de leucemia é necessário a solicitação de hemograma completo, estudo da coagulação (TAP, PTT, fibrinogênio), análises bioquímicas (função renal, hepática, eletrólitos), culturas de sangue na presença de febre, cultura de urina ou outros líquidos biológicos diante da suspeita de infecções associadas e exames de imagem de tórax e abdome diante de sintomas respiratórios e gastrointestinais, respectivamente. As alterações esperadas nesses exames são: Hiperleucocitose, Neutropenia, Anemia, Plaquetopenia, Aumento ureia e creatinina, Aumento de LDH e ácido úrico, Distúrbios eletrolíticos relacionados à síndrome de lise tumoral (hipercalemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia), Alargamento das provasde coagulação, Hipofibrinogenemia Nas leucemias agudas, mesmo antes da confirmação diagnóstica é muito importante fornecer suporte clínico com hidratação venosa; antibióticos de amplo espectro com cobertura para pseudômonas aeruginosa nos casos de neutropenia febril; transfusões de hemocomponentes de acordo com as manifestações clínicas (hemácias em caso de anemia sintomática, plaquetas em caso de hemorragias e plasma fresco congelado em caso de alteração da coagulação e hemorragias) e uso de alopurinol para diminuir o risco de nefropatia aguda pelo ácido úrico. Hematoscopia: confirma a presença de blastos circulantes no sangue periférico. Imunofenotipagem do sangue periférico: confirma o percentual de blastos e o fenótipo dos blastos, permitindo caracterizar o subtipo, de acordo com a presença de marcadores linfoides ou mieloides. Mielograma: confirma o percentual de blastos na medula óssea além de permitir a avaliação de características displásicas nos diferentes setores hematopoiéticos. Na LMA os blastos mieloides ou os promielócitos constituem mais de 20% do componente celular da medula óssea. Bastonetes de Auer estruturas distintas em forma de bastonete e coloração avermelhada, podem estar presentes nos mieloblastos ou em células mais diferenciadas; são específicos de mieloblastos neoplásicos, o que os tornam um achado diagnóstico útil quando presentes. Imunofenotipagem da medula óssea: confirma o percentual de blastos e o fenótipo dos blastos, permitindo a caracterização do subtipo celular. Citogenética da medula óssea: a avaliação do cariótipo das células permite a pesquisa da presença de alterações cromossômicas estruturais e/ou numéricas que permitem a classificação e estratificação de risco, essenciais para avaliação prognóstica e para escolha terapêutica adequada. FISH (fluorescence in situ hybridization) para determinadas alterações citogenéticas (ex.:PML- RARA, BCR-ABL): permite a pesquisa de alterações citogenéticas específicas que mudam a escolha da terapia inicial. PCR (polimerase chain reaction) para alterações genéticas recorrentes: essencial para a classificação de acordo com a organização Mundial de saúde e para a estratificação de risco, que orienta o prognóstico e a escolha do tratamento. RESUMO: De forma simplificada, o diagnóstico de LMA é dado quando é encontrado mais de 20% de mieloblastos leucêmicos no sangue periférico ou no mielograma. Deve haver diminuição de células das outras linhagens (menor número de hemácias, plaquetas e leucócitos normais sendo produzidos). Em alguns casos, há atipias e displasias das células. Um achado patognomônico da LMA é a visualização de Bastones de Auer, vistos como pequenas linhas dentro do citoplasma celular. TRATAMENTO O tratamento de um paciente com LMA inicia com a chamada quimioterapia de indução, cujo objetivo é controlar a doença e levar o doente ao estado de remissão completa (RC), no qual a doença não é detectada por métodos morfológicos convencionais. Atingir o estado de RC não equivale à cura Existem três modalidades terapêuticas que podem ser administradas no paciente de LMA em pós-remissão: Quimioterapia em doses convencionais (indução), Quimioterapia em altas doses (consolidação) seguida de resgate com células-tronco hematopoiéticas autólogas Transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas Terapia de Indução: Três dias de antraciclina (ou daunorrubicina ou idarrubinia ou mitoxantrona) e 7 dias de citosina arabinosídio (protocolo “7 + 3”) continua sendo o tratamento padrão para a indução de remissão da LMA do adulto. Ocasiona um período de pancitopenia grave durante 3 a 4 semanas, necessitando-se de tratamento de suporte e por vezes com internação em UTI A maioria dos protocolos de tratamento preconiza o exame de medula óssea uma semana após o término do esquema quimioterápico e, se houver células leucêmicas residuais, administra-se um segundo curso de quimioterapia com outros antineoplásicos e doses mais intensas. Terapia de Consolidação: consiste em ciclos repetitivos (pelo menos 3 ciclos) de citosina arabinosídio em altas doses (HiDAC, sigla em Inglês). 30% dos pacientes recidivam nos primeiros 6 meses e mais de 50% no primeiro ano Objetivo de retardar ou prevenir a recidiva Terapia de Manutenção: Exceto nos casos de leucemia promielocítica aguda (LPMA), o tratamento de manutenção não deve ser administrado rotineiramente no adulto com LMA. Transplante de células-tronco hematopoéticas: A fase de consolidação, além de ser feita pela quimioterapia, pode ser realizada por meio de um transplante de medula óssea. Estas novas células-tronco “limpam” a medula óssea e permitem a formação de novas células saudáveis Terapia do idoso: Pacientes com idade entre 60 e 74 anos e com performance status abaixo do índice 2 de Zubrod e sem comorbidades podem ser tratados como o adulto jovem. As doses, entretanto, precisam ser individualizadas TRATAMENTO DE SUPORTE Antibioticoterapia: No período da granulocitopenia, o paciente permanece em alto risco de infecção bacteriana, necessitando de vigilância constante e pronta ação a qualquer processo febril, para evitar septicemia. Fatores de Crescimento: Os fatores estimuladores de colônias de granulócitos (G-CSF) ou de granulócitos e macrófagos (GM-CSF), que contribuem para a recuperação dos granulócitos, podem ser usados em protocolos específicos, particularmente em idosos ou na infecção grave. Hemoterapia: A anemia deve ser corrigida com concentrado de hemácias. Transfusão de plaquetas se <10.000/mm3 em paciente estável, ou <50.000/mm3 em paciente com sangramento ou que necessite de procedimento invasivo Deve ser considerada nos casos de sangramento de mucosa, infecção, mucosite grave e febre. Os hemocomponentes devem ser irradiados, em vista do risco de doença do enxerto versus hospedeiro transfusional RESUMO: (SANAR) Uso de quimioterápicos 1º ETAPA: a indução da remissão. É feita em um ou dois ciclos de um esquema quimioterápico de 3+7, isto é, por 3 dias é usado um agente antracíclico, seguido por 7 dias de uso de citarabina 2º ETAPA: consolidação da remissão. É composta por 2 a 4 ciclos de citarabina em altas doses ou pelo transplante de medula óssea alogênico caso haja fatores de mau prognóstico, falha na indução, fator de risco intermediário ou cariótipo adverso A anemia, a infecção e o sangramento são quase universais durante a terapia de indução da remissão Fatores de mau prognóstico incluem o Idade avançada, o Acima de 60 anos, o Baixa contagem de leucócitos ao diagnóstico, quando a doença evoluiu a partir de uma síndrome mielodisplásica preexistente o Quando o paciente já fez uso de terapia citotóxica anteriormente o Alteração cariotípica é um sinal de mau prognóstico independentemente da existência de outras comorbidades A decisão sobre qual modalidade terapêutica deve ser usada é baseada na determinação dos fatores prognósticos. Classicamente, a estratificação de grupos de risco de pacientes com LMA é guiada principalmente por alterações citogenéticas, podendo ser divididas em: Prognóstico favorável (10 a 15%): aqueles com t(15;17) e com translocações que envolvem o fator de transcrição CBF (core binding factor), incluindo-se, nesse grupo, os pacientes com t(8;21) e com Inv(16.) Prognóstico intermediário: corresponde à maioria dos pacientes, inclui aqueles com cariótipo normal (aproximadamente metade deles) e os que apresentam outras anormalidades citogenéticas que não se enquadram no grupo de bom ou mau prognóstico Mau prognóstico: pacientes que apresentam alterações citogenéticas específicas, como deleção e monossomiados cromossomos 5 e 7, além de cariótipo complexo (3 ou mais alterações). CONSEQUÊNCIAS DO TRATAMENTO Pelos agentes antineoplásicos serem tóxicos é evidente as reações adversas, especialmente os efeitos hematológicos, causando mielodepressão (leucopenia, trombocitopenia e anemia), náuseas e vômitos, limitando o uso do quimioterápico. Além de mucosite, estomatite, causando dor e ulcerações No tratamento a fase inicial, como os primeiros meses são os piores, pois são administradas altas doses de quimioterapia que levam a supressão medular, fase em que há mais óbitos devido ás principais causas que são: choque térmico, neutropenia febril, insuficiência respiratória, insuficiência renal e hemorragia alvelolar. Efeitos colaterais mais comuns que podem ocorrer durante a quimioterapia são: Fadiga. Perda de cabelo. Hematomas e hemorragias. Infecção. Anemia. Náuseas e vômitos. Perda de apetite. Diarreia ou constipação. Inflamações na boca. Problemas de deglutição. Problemas neurológicos e musculares, como dormência, formigamento e dor. Alterações da pele e unhas, como pele seca e alteração na cor. Problemas renais. Perda de peso. Problemas de concentração. Alterações no humor. Alterações na libido. Infertilidade. 2. ESTUDAR DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA, FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO (PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO) DAS LLA A Leucemia Linfoide Aguda (LLA) resulta da proliferação clonal de precursores linfoides (blastos) anormais na Medula Óssea (MO), sendo a doença maligna mais frequente na infância. Pode ter origem na linhagem precursora das células B ou, embora menos frequentemente, na linhagem precursora das células T e o seu diagnóstico é estabelecido pela presença de 20% ou mais de linfoblastos malignos na medula óssea. EPIDEMIOLOGIA A LLA é considerada, sobretudo, como uma leucemia pediátrica, com 75% dos casos a ocorrerem antes dos 6 anos de idade. Primeiro pico: 0 e 4 anos de idade e um Segundo pico: por volta dos 75 anos. Aos 65 anos de idade, verifica-se um aumento da taxa de incidência no sexo masculino, relativamente ao sexo feminino. A leucemia linfoblástica aguda de linfócitos B (LLA-B) é a mais comum, ocorrendo em 85% dos casos diagnosticados e apresenta uma igual incidência por sexo. Em contraste, os restantes 15% dos casos, que são classificados como leucemia linfoblástica aguda de linfócitos T (LLAT), apresentam uma predominância o sexo masculino, com uma incidência que é cerca de duas vezes superior nos homens. FATORES DE RISCO Sua etiologia permanece desconhecida, porém alguns fatores de risco têm sido associados a esta patologia. Existência de mutações cromossómicas adquiridas, nomeadamente translocações e aneuploidias. Mutações genéticas hereditárias Radiação ionizante (principalmente quando a exposição ocorre durante a vida intra-uterina ou durante a primeira infância). Produtos químicos diversos Imunodeficiências Síndrome de Down, síndrome de Bloom, anemia de Fanconi Ataxia-telangiectasia Polimorfismos genéticos Estudos em gêmeos com leucemia foi postulado que o evento inicial na patogênese da LLA ocorreria durante a vida intra-uterina. Uma vez que durante o desenvolvimento intra-utero, as células precursoras linfoides e mieloides não se encontram totalmente diferenciadas, tornam-se assim particularmente suscetíveis à transformação maligna, podendo dar origem a células pré-neoplásicas. CLASSIFICAÇÃO De acordo com a morfologia dos blastos, as leucemias são classificadas segundo os critérios da classificação FAB (Franco-Americano-Britânico) LLA - L1, caracterizada por apresentar linfoblastos pequenos, com escasso citoplasma, núcleos não visíveis ou de difícil visualização e aspecto monomorfo, consistindo a variedade mais comum em crianças- em torno de 85% dos casos; LLA–L2, constituída por blastos grandes, citoplasma abundante e irregular, nucléolos visíveis, representam cerca de 15% dos casos; LLA - L3 é a forma mais rara em crianças aproximadamente de 1% das LLA. É constituída por células de citoplasma com forte basófila, vacuolização abundante e corresponde à forma 8 leucêmica do Linfoma de Burkitt. É uma variante da LLA de células B que necessita de um enfoque terapêutico especial. Atualmente esta classificação ainda é muito aplicada em regiões com poucos recursos diagnósticos. A principal crítica a esta classificação é que ela exclui informações importantes para o prognóstico do paciente e diagnóstico diferencial, que atualmente são evidenciados através das análises de imunofenotipagem e da genética molecular. Ao longo dos últimos tempos, esta classificação passou a ter pouco significado, tendo sido substituída pela classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que, para além da morfologia, engloba também as características citogenéticas e imunofenotípicas das células neoplásicas. A classificação de OMS utiliza para diagnóstico uma quantidade de blastos maior ou igual a 20%. Ela divide a LLA em dois grandes grupos: leucemia linfoblástica aguda de precursor B, que corresponde a 80% dos casos, leucemia linfoblástica aguda de precursor T, utilizando dados de imunofenotipagem. FISIOPATOLOGIA A LLA caracteriza-se essencialmente por mutações cromossômicas, nomeadamente, aneuploidia, mutações estruturais e, também, inserções e deleções de sequências de DNA. Estas alterações causam desregulação da expressão gênica e levam, também, à expressão de proteínas de fusão. Podem ainda comprometer inúmeros processos moleculares, tais como o desenvolvimento da linhagem linfoide, diferentes vias de transdução de sinal e regulação do ciclo celular e também da expressão de genes supressores de tumores. Dependendo das mutações identificadas, bem como da linhagem em que se localizam, na linhagem progenitora dos linfócitos B ou dos linfócitos T, teremos, de um modo geral, uma classificação em LLA- B ou em LLA-T, respectivamente. LLA-B: As mutações mais comuns associadas ao desenvolvimento de LLA-B são hiperdiploidia (+46 cromossomos) e translocação. Estas mutações têm sido associadas à perda de genes supressores de tumor e também a outras alterações, tanto ao nível do desenvolvimento da linhagem celular dos linfócitos B bem como da ativação aberrante de vias de transdução de sinal. A elevada hiperdiploidia, com mais de 51 e até 67 cromossomas é um padrão comum nesta leucemia. As cópias de cromossomas presentes na hiperdiploidia levam ao aumento da expressão dos genes, tanto dos que estão contidos nesse cromossomos, como de outros que sejam regulados por estes, sabe-se que nem todos os genes adquiridos após a mutação são afetados. Ocorre na idade de 1-10 anos e tem baixa leucometria e bom prognóstico. A translocação t(12;21)(p13;q22) é a mutação mais frequentemente identificada na LLA-B, em crianças, ocorrendo em 25% dos casos. Esta mutação dá origem à fusão dos genes ETV6 e RUNX1, genes estes que codificam fatores de transcrição envolvidos na hematopoese. Translocação t(9;22)(q34;q11) [BCR-ABL1] o Gera a fusão dos genes BCR e ABL1, é também referenciada como cromossoma Philadelphia positivo o Contribuem para o crescimento e sobrevivência desmedidos das células. o É encontrada mais frequentemente em casos de LLA em adultos, rondando os 25%, contra os 3% observados nos casos infantis. o Prognóstico desfavorável. LLA-T: estão associadas determinadas mutações genéticas, das quais se destacam as translocações e deleções. Estas alterações têm a capacidade de desregular vias de transdução de sinal e a expressão de genes supressores de tumor, o que contribui parao descontrolo do crescimento celular e para a sobrevivência dos precursores dos linfócitos T. As alterações centrais na patogênese da LLA-T constituem a ativação constitutiva da via de sinalização NOTCH1, associada à deleção do locus CDKN2A. Mutações ativadoras do oncogene NOTCH1: é considerado um oncogene que revela capacidade de regular o desenvolvimento das células neoplásicas, controlando numerosos genes envolvidos no seu crescimento e metabolismo. Deleção do locus CDKN2A: Este gene localiza- se na região 9p21 e a sua deleção está presente em cerca de 70% dos casos diagnosticados. Este locus abriga os genes supressores de tumor P16INK4A e P14ARF, responsáveis pela regulação do ciclo celular e pela apoptose mediada pelo gene TP53, respetivamente. Com a deleção destes genes, ocorre descontrolo destes processos, o que é determinante para o desenvolvimento da leucemia anabólicas, o que desregula o metabolismo celular. QUADRO CLÍNICO As queixas mais comuns derivam da supressão da hematopoese normal causada pela infiltração da medula óssea por células leucêmicas. Assim, estão presentes sintomas progressivos de palidez, fraqueza, cansaço e indisposição. Febre e sudorese noturna, associadas ou não a infecções, aparecem em um terço dos casos, o mesmo ocorrendo com manifestações hemorrágicas em pele e mucosas. Pode ocorrer também: Artralgia e dor óssea são menos frequentes em adultos do que em crianças Manifestações neurológicas, como confusão mental, cefaleia e comprometimento de nervos cranianos Adenomegalias (presentes em 49% dos casos), Hepatomegalia (em 35% das vezes), Esplenomegalia (44%), Presença de massa mediastinal, normalmente associada à proliferação de células T (15%) Leucemia testicular (em 0,3% dos pacientes) Sangramento gengival espontâneo (trombocitopenia) Presença de petéquias (principalmente no palato) Mucosa pálida devido à anemia e infecções oportunistas (candidíase, herpes) DIAGNÓSTICO Relativamente à apresentação laboratorial da doença, é frequente a identificação, nas análises sanguíneas, de anemia normocítica normocrómica, leucopenia e trombocitopenia (plaquetas inferior a 100.000/mm3 é comum). À anemia estão associados diversos sintomas, como a palidez, letargia e dispneia. A leucopenia poderá resultar no aparecimento de infeções, sejam na cavidade oral, na pele ou no sistema respiratório, e, com a trombocitopenia, poderão surgir equimoses, petéquias e hemorragias espontâneas, tais como epistaxes ou gengivorragias. Outros achados laboratoriais são: aumento do nível sérico de ácido úrico, que reflete a carga tumoral; aumento nos níveis séricos de cálcio, fósforo e potássio; acidose láctica; redução do nível sérico de imunoglobulinas e aumento de desidrogenase láctica (LDH), que também reflete a carga tumoral. O exame do sangue periférico demonstra a presença de linfoblastos na maioria dos pacientes Por fim, especificamente na LLA-T, poderá observar- se, na radiografia do tórax, uma massa na região mediastínica, resultante do aumento de volume, não só do timo, mas, também, dos respetivos gânglios linfáticos. Esta massa poderá causar a presença de sibilos, efusões pericárdicas e síndrome da veia cava superior. O diagnóstico definitivo baseia-se no exame da MO, que é hipercelular e encontra-se infiltrada por linfoblastos, sendo necessário que pelo menos 25% das células nucleadas sejam blastos. A importância do exame de MO deve-se ao fato que algumas patologias, como infiltração da MO no linfoma não-Hodgkin (LNH), infecções granulomatosas, osteopetrose e tumores metastáticos também podem causar uma quadro de leucocitose com a presença de blastos no sangue periférico. O diagnóstico diferencial da LLA inclui condições clínicas benignas. Entre estas estão Linfocitoses de origem infecciosa como a coqueluche, Mononucleose infecciosa (MI), Osteomielite Parasitoses como leishmaniose visceral (LV) ou calazar Púrpura trombocitopênica idiopática (PTI), Anemia aplásica Doenças reumáticas Linfomas de Hodgkin e não-Hodgkin, Metástase de neuroblastoma para a MO. TRATAMENTO O objetivo do tratamento é a eliminação do clone leucêmico com a cura do paciente. Os resultados obtidos em adultos são muito inferiores aos observados em crianças. A terapêutica inclui medidas de suporte, a quimioterapia sistêmica e a profilaxia do SNC. Em alguns casos, inclui também o transplante de células progenitoras hematopoéticas. Medidas de suporte: inclui a prevenção de lise tumoral (síndrome composta por hiperuricemia, hiperpotassemia, hiperfosfatemia e hipocalcemia), através do uso de quimioterápicos. É feito o uso de alopurinol, em doses de 200 a 300mg por metro quadrado de área corpórea do paciente. Além disso, deve ser feita a hidratação do paciente, a fim de manter a diurese a 100mL por hora. Suporte hemodinâmico ao paciente. Transfusão de plaquetas: se há trombocitopenia, com sangramentos ou plaquetas < 20.000 Quando o paciente está com anemia, é importante manter o hematócrito próximo a 30%. Prevenção de infecções, uma vez que o sistema imune do paciente encontra-se duplamente comprometido ↳ Uso profilático de antibióticos Quimioterapia é feita em fase de indução de resposta, de profilaxia do sistema nervoso central (SNC) e de consolidação e manutenção. Há diversas opções de protocolos quimioterápicos a serem seguidos, que utilizam drogas semelhantes. Fase de indução: utiliza-se prednisona, vincristina e antraciclina. Alguns protocolos adicionam também a asparaginase e alguns preconizam a realização de uma intensificação precoce, com o uso de ciclofosfamida, metotrexato e arabinosídeo-C. ↳ Posteriormente, é feita a consolidação pós-remissão, que pode ser com ou sem a realização de transplante de medula óssea, a depender do prognóstico do paciente. Fase de consolidação: A profilaxia do SNC é necessária uma vez que ele muitas vezes não é atingido pelas drogas, devido à barreira hemato-encefálica. Dessa forma, o SNC pode se constituir como um local de abrigo para os blastos leucêmicos, havendo recaídas mais rápidas quando essa fase de profilaxia não é realizada. Ela pode ser feita por meio de radioterapia, de quimioterapia intratecal (injeção do medicamento no líquor) ou por altas doses de quimioterapia sistêmica ↳ Duração do tratamento: entre 6 a 8 meses de quimioterapia intensiva, com doses administradas próximas do limite de tolerância do doente ↳ Fazem parte das opções terapêuticas a considerar, a administração de metotrexato, em elevadas doses, com mercaptopurina, citarabina, ciclofosfamida e, ainda, os fármacos utilizados na fase anterior, nomeadamente a vincristina e a asparaginase. Manutenção do tratamento: Nas semanas iniciais da manutenção, tratamento similar ao da indução (reindução) é repetido 2 vezes, em geral com um intervalo de 8 semanas entre uma reindução e outra. O propósito da última fase do tratamento é evitar a recaída da doença, prolongando a remissão ↳ Costuma ter duração média de 2 ou 3 anos ↳ Na leucemia de alto risco, de modo geral, recebem uma manutenção bastante intensiva. ↳ Na de baixo risco: Metotrexate semanal e 6-Mercaptopurina diário. A esse regime, ciclos de Vincristina com Prednisona ou Metotrexate são agregados. Menos de 50% dos pacientes atingem novamente uma remissão completa da doença, sempre havendo uma doença residual mínima mesmo após novos tratamentos. Nesses casos, a realização de transplante de medula óssea alogênico apresenta resultados melhores do que a utilização de novas quimioterapias. O transplante de células-tronco depois de quimioterapia ou imunoterapia de reindução oferecea maior esperança de remissão ou cura a longo prazo se houver um irmão com HLA idêntico. Transplante raramente é realizado em pacientes com > 65 anos porque a probabilidade de sucesso é muito pequena e os efeitos adversos provavelmente serão fatais. Complicações tardias do tratamento: tumores cerebrais (pela radioterapia), leucemia mieloide aguda (pelo uso de agentes alquilantes e inibidores da topoisomerase), distúrbios de crescimento e infertilidade (pela radioterapia craniana e pelo transplante de medula óssea) e distúrbios neurocognitivos (pelo uso de metotrexate endovenoso e intratecal). Fatores prognósticos favoráveis são 3 a 9 anos Contagem de leucócitos < 25.000/mcL (< 25 × 109/L) ou < 50.000/mcL (< 50 × 109/L) em crianças Cariótipo de célula leucêmica com alta hiperdiploidia (51 a 65 cromossomos), t (1;19) e t (12;21) Ausência de doença do sistema nervoso central no diagnóstico 3. COMPREENDER O PROTOCOLO DA TRANSFUSÃO DE CONCENTRADO DE PLAQUETAS. Os concentrados de plaquetas (CP) unitários contêm aproximadamente 5,5 x 1010 plaquetas em 50-60mL de plasma, já as unidades por aférese contêm, pelo menos, 3,0 x 1011 plaquetas em 200-300mL de plasma (correspondente a 6-8U de CP unitários). Basicamente, as indicações de transfusão de CP estão associadas às plaquetopenias desencadeadas por falência medular, raramente indicamos a reposição em plaquetopenias por destruição periférica ou alterações congênitas de função plaquetária. PLAQUETOPENIA POR FALÊNCIA MEDULAR Em plaquetopenias por tempo determinado, frequentemente associadas a métodos terapêuticos para doenças oncológicas como quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea, indica-se transfusão de CP profilática: 1. Se plaquetas abaixo de 10.000 sem fatores de risco; 2. Se plaquetas abaixo de 20.000 na presença de fatores de risco como: febre acima de 38 graus, manifestações hemorrágicas menores (petéquias, equimoses, gengivorragias), GVHD, esplenomegalia volumosa, utilização de medicamentos que encurtam a sobrevida das plaquetas (alguns antibióticos e antifúngicos), hiperleucocitose (contagem de leucócitos maior que 30.000), presença de outras alterações da hemostasia (CIVD) ou queda rápida da contagem das plaquetas. Em pacientes com plaquetopenia crônica (por exemplo, aplasia da medula ou síndrome mielodisplásica), os pacientes devem ser observados sem transfusão. Esta estaria indicada profilaticamente se plaquetas abaixo de 5.000 ou abaixo de 10.000 com manifestações hemorrágicas. Pacientes pediátricos toleram contagens mais baixas e está indicada transfusão profilática quando plaquetas abaixo de 10.000 em pacientes estáveis. Pacientes adultos com tumores sólidos que farão quimioterapia ou radioterapia, transfundir se plaquetas abaixo de 20.000. PLAQUETOPENIA POR DISFUNÇÃO PLAQUETÁRIA: Trombastenia de Glanzmann, Síndrome de Bernard Soulier, Síndrome da plaqueta cinza: transfundir se procedimentos cirúrgicos ou no caso de sangramentos, apenas se não houver resposta ao uso de antifibrinolíticos ou DDAVP. PLAQUETOPENIA POR TRANSFUSÃO MACIÇA: transfundir se plaquetas abaixo de 50.000 se duas volemias forem trocadas. Neste caso, transfundir se plaquetas abaixo de 50.000 ou abaixo de 100.000 com alterações graves da hemostasia, trauma múltiplo ou de sistema nervoso central. PLAQUETOPENIA POR CIVD (Coagulação intravascular disseminada): transfundir apenas se presença de sangramentos mesmo sem gravidade repondo fatores de coagulação (plasma fresco congelado) e CP objetivando contagens acima de 20.000. PLAQUETOPENIA AUTO-IMUNE: transfundir apenas se sangramentos graves com risco de vida para o paciente. A reposição deve ser agressiva e sempre associada com altas doses de corticóides e imunoglobulina. PLAQUETOPENIA POR DENGUE HEMORRÁGICA: Dengue hemorrágica: mesma situação da PTI (púrpura trombocitopênica idiopática), então não se transfunde profilaticamente. Mesmo caso na leptospirose e Riquetsioses. TRANSFUSÃO PARA PROCEDIMENTOS INVASIVOS: Um grande número de trabalhos científicos aponta que valores superiores a 50.000/mm 3 são seguros para a maioria dos procedimentos cirúrgicos. A dose preconizada para adultos é de 01 unidade de plaqueta randômica para cada 10 kg de peso do paciente. Em pacientes pediátricos menores de 15 Kg a dose é de 5-10 mL/Kg. A dose de plaquetas pode ser calculada de maneira mais detalhada ou precisa, identificando-se o incremento plaquetário desejado (IP) e levando-se em conta a volemia sanguínea (VS) e o sequestro esplênico estimado (aproximadamente 33%), utilizando-se para isso a fórmula abaixo: Dose (x109 ) = IP x VS / F , onde: IP – incremento plaquetário desejado (x109 /L) VS – volemia sanguínea (L) F – fator de correção (0,67) O tempo de infusão da dose de CP deve ser de aproximadamente 30 min em pacientes adultos ou pediátricos, não excedendo a velocidade de infusão de 20-30 mL/Kg/hora. A avaliação da resposta terapêutica à transfusão de CP deve ser feita através de nova contagem plaquetária, 1 hora após a transfusão, não desconsiderando a resposta clínica apresentada pelo paciente. Em pacientes ambulatoriais a avaliação pode ser feita cerca de 10 min após a transfusão, apresentando resultados semelhantes. Em adultos deve-se dar preferência à transfusão de plaquetas ABO compatíveis, para se evitar a aloimunização do paciente. Caso não seja possível, utilizar plaquetas ABO incompatíveis em pacientes que não necessitarão de suporte crônico. 4. ELUCIDAR O MIELOGRAMA (INDICAÇÕES E ACHADOS). O mielograma (BMA, bone marrow aspirate) é o exame que avalia o parênquima do órgão formador das células do sangue, a medula óssea. Após sua punção (aspiração), a amostra de medula óssea é distendida em lâmina e é feita a análise morfológica do seu esfregaço corado. O exame da medula óssea torna-se indispensável para o diagnóstico e monitoramento de muitas doenças hematológicas. Ele envolve a avaliação de dois tipos de espécimes: O aspirado de medula óssea distendido em um esfregaço corado, o qual oferece excelente caracterização morfológica e contagem diferencial das várias linhagens das células precursoras do sangue, denominado, rotineiramente, mielograma O tecido medular ósseo (avaliação histológica), por meio da biopsia de medula óssea, mais indicada para avaliação da celularidade total da medula, da celularidade da série megacariocítica (plaquetária), do grau de fibrose medular, da aplasia de medula e das infiltrações medulares por metástases e infecções. Como o hemograma é um exame de fácil coleta e cujo perfil das células pode traduzir os órgãos de origem (local de produção) e degradação (os tecidos em que as células desempenham sua função), é sempre o primeiro passo antes de qualquer análise do aspirado de medula óssea. Deste modo, a avaliação do mielograma deve sempre ser feita em conjunto com a avaliação do hemograma. Por exemplo, mielograma que indica medula com número elevado de megacariócitos, associado a hemograma com trombocitopenia (plaquetopenia), explica uma destruição das plaquetas no sangue e caracteriza púrpura trombocitopênica idiopática. Principais casos aos quais é indicada a coleta do mielograma Avaliação de anormalidades significativas observadas no hemograma Avaliação de tumores primários (leucemias e doenças linfoides crônicas) da medula óssea Avaliação de remissão em pacientes leucêmicos sob quimioterapia Estadiamento de tumores que podem sofrer metástase e invadir a medula óssea Avaliação diagnóstica de doenças infecciosas (p. ex., calazar) Avaliação diagnóstica de doenças de depósito. O mielograma também pode ser útil para diagnósticodiferencial entre certos casos Anemias macrocíticas, pois existem pacientes em que as alterações do sangue são mínimas Anemias microcíticas, pois possibilita classificar as anemias, mas não é obrigatório, pois o perfil do ferro feito pela dosagem do ferro sérico, da ferritina, da capacidade total de fixar ferro e dos receptores de transferrina diferenciam inequivocamente tais anemias microcíticas. Anemias normocíticas, o exame de medula óssea tem utilidade para casos não esclarecidos em amostras de sangue periférico e se torna pouco frequente, restrito apenas a casos em que a comparação do número de precursores eritroides na medula com o número de reticulócitos possibilita uma estimativa do grau da eritropoese ineficaz, ou da falta de eritropoese, como na aplasia eritrocítica simples. Nas neutropenias, trombocitopenias e pancitopenias, o exame de medula tem utilidade para avaliação das células precursoras de cada uma das linhagens. Isto possibilita avaliar as probabilidades de os mecanismos da doença serem por diminuição de formação (produção), comprometimento da maturação ou aumento da destruição. Se a medula não puder ser aspirada (punção seca), a biopsia é essencial. A biopsia medular também deve ser executada quando existirem alterações sanguíneas sugestivas de mielofibrose com metaplasia mieloide e quando se suspeita de uma doença granulomatosa ou tumor metastático. Um mielograma deve conter a avaliação qualitativa da celularidade nos grumos (a CT), a avaliação percentual de cada um dos tipos celulares, o mielograma percentual (contagem diferencial em 500 ou pelo menos 250 células nucleadas) e a descrição de caracteres morfológicos e maturativos de cada linhagem celular, o mielograma descritivo. Para isso, o estudo do aspirado de medula deve ser sistematizado de modo a abranger dados percentuais de cada linhagem e seus respectivos percentuais de células e descrever aspectos relevantes para cada linhagem (ou série), como a presença ou não de aspectos megaloblásticos, megaloblastoides, diseritropoese na série eritroide ou assincronismo maturativo na série granulocítica, bem como se há ou não elementos pelgeroides ou hipogranulares. Também deve observar se há presença ou não de megacariócitos displásicos na série megacariocítica e descrever morfologicamente as células anômalas (quando presentes). 5. ENTENDER COMO A LEUCEMIA PODE INTERFERIR NA COAGULAÇÃO SANGUÍNEA A coagulopatia depende de dois fatores: o aumento da fibrinólise e a ativação da cascata da coagulação pela elevação dos fatores de coagulação. Os promielócitos são capazes de apresentar dois pró- coagulantes: o Fator Tecidual (FT) e o Pró-coagulante Cancerígeno (PC). A ativação do FT é desencadeada pela exteriorização dos fosfolipídios de membrana, evento que ocorre durante a apoptose celular dos promielócitos mediada pelo tratamento com ATRA (ácido transretinóico) e ATO (Trióxido de Arsénio). O FT ativa o fator VII da coagulação e posteriormente o fator X, já o PC é capaz de ativar diretamente o fator X sem a participação do fator VII. Além da hipercoagulação, o paciente pode desenvolver concomitantemente hiperfibrinólise, pela elevação de anexina A2 (receptor de superfície do plasminogênio e do tPA), que converte plasminogênio em plasmina, e pelos baixos níveis de fibrinogênio. As citocinas inflamatórias como a IL-1 e a TNF-α modulam a expressão de FT, e, além disso, causam danos no endotélio que diminuem a trombomodulina e elevam os níveis do inibidor do plasminogênio do tipo I (PAI-1). O desenvolvimento de hemorragias nesses pacientes acomete especialmente, o cérebro e os pulmões, manifestações hemorrágicas menos comuns incluem sangramento no trato gastrointestinal e nas mucosas, e geralmente possuem um desfecho fatal. Existem fatores que contribuem para o desenvolvimento das complicações hemorrágicas, como por exemplo, idade superior a 60 anos, níveis anormais de creatinina, contagem de leucócitos superior a 10X109 /L e de blastos superior a 30X109 /L. Os episódios trombóticos envolvem complicações arteriais e venosas, como por exemplo, trombose venosa profunda, embolia pulmonar, acidente vascular encefálico isquêmico, infarto do miocárdio e oclusão hepática e da veia porta. Essas complicações se dão, principalmente pelo depósito de fibrina que leva a oclusão dos vasos sanguíneos. Essa deposição de fibrina é mediada pela presença da trombina, que é regulada pelo complexo FT/FVIIa e pela inibição dos anticoagulantes naturais, antitrombina, proteína C, proteína S e inibidor da via do fator tissular. 6. ENTENDER A IMPORTÂNCIA DOS GRUPOS DE ORIENTAÇÃO NOS PACIENTES ONCOLÓGICOS. O câncer é uma doença que afeta a vida do paciente, seja no aspecto biológico, psicológico ou social, visto de modo geral como uma enfermidade sinônimo de sofrimento e morte. No âmbito biológico, o paciente se depara com o diagnóstico de uma doença que tem uma evolução geralmente agressiva, com sintomas debilitantes como dor, perda de peso, presença de nódulos (comuns nos cânceres de cabeça e pescoço) e um tratamento prolongado associado a efeitos colaterais desagradáveis de radioterapia e quimioterapia e/ou mutilações em decorrência de cirurgias invasivas Compreendendo o contexto biopsicossocial do paciente, admite-se que, frente a esta realidade, ele pode enfrentar grandes dificuldades como: alteração da rotina diária em virtude do tratamento, maior dependência de cuidados de terceiros, mudança de hábitos como tabagismo e etilismo, alteração da imagem corporal, isolamento social, entre outras. Esta situação pode culminar em sofrimento psicológico, evidenciado através de sintomas de depressão, ansiedade, manifestação de pensamentos de desesperança, sentimentos de medo e incerteza quanto ao futuro e insatisfação com a imagem. De acordo com a condição que o paciente com câncer vive, ele utilizará as estratégias de enfrentamento, entendidas como as habilidades para domínio e adaptação a situações de estresse. Em relação às repercussões da leucemia na condição de vida do paciente, sobressai a importância do acolhimento familiar e do apoio social dado por amigos e vizinhos. Talvez, pelo conhecimento da gravidade do câncer, observam-se, em princípio, atitudes solidárias espontâneas que propiciam um bom suporte emocional, comportamental e material ao paciente. A manutenção e a estimulação desse suporte são extremamente relevantes, pois a debilidade ocasionada pela doença e pelo tratamento impõe limitações físicas e psíquicas, que, se não forem assistidas, contribuem para manter ou intensificar o desajustamento emocional. Tanto é assim que uma das queixas prevalentes é que, em razão do tratamento, com a internação para a quimioterapia, ocorre o afastamento do convívio sociofamiliar. Como o tratamento quimioterápico interfere na capacidade funcional do paciente, observa-se uma perda de sua autonomia e o aumento da dependência dos familiares para a realização das atividades de autocuidado, como higiene e alimentação. Dessa forma, ocorre uma limitação da atividade física, a qual é permeada por sentimento de impotência e inutilidade. Dessa forma, é importante que a assistência seja estruturada com profissionais sensíveis e preparados para identificar e intervir sobre o estado emocional do paciente e seus familiares, minimizando- lhes o sofrimento e criando condições psicológicas para o enfrentamento da doença ou, sendo o caso, da morte.
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