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O CICLO DO SANGUE da captação de doadores à transfusão de hemocomponentes UNIDADE 4 Reações transfusionais Leilanne Kelly Borges de Albuquerque Santos Manuela Pinto Tibúrcio 2 REAÇÕES TRANSFUSIONAIS Caro aluno, você deve recordar que na Unidade 1 do presente curso foi feito um breve histórico sobre a hemoterapia no Brasil e no mundo. Pois bem, no período da chamada era pré-científica houve, em 1879, o pri- meiro relato acadêmico sobre Hemoterapia no Brasil. Tratava-se de uma tese de doutorado de José Vieira Marcondes, apresentado à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Essa tese trazia a descrição de experiências envolvendo transfusão de sangue e descrevia ainda, de forma detalhada, um caso de uma reação transfusional do tipo hemolítica aguda que cur- sou com alterações renais e presença da hemoglobina na urina. Nessa Unidade iremos abordar essas intercorrências indesejadas, mas que podem ocorrer durante ou após as transfusões: as reações transfu- sionais. Ao final, você será capaz de: • identificar os sinais e sintomas que servem de alerta para a ocorrência das reações transfusionais; • saber conduzir e executar os cuidados mediante a ocorrência das reações transfusionais, garantindo uma assistência de qualidade ao paciente. Vamos retomar nossos estudos? 3 AULA 1 - VOCÊ SABE O QUE SÃO REAÇÕES TRANSFUSIONAIS? Como nós já discutimos, o processo de transfusão de sangue possibi- litou grandes avanços para a medicina no tocante ao tratamento de diversas patologias e reabilitação de condições graves de saúde. Trata-se de um procedimento complexo e efetivo que, no entanto, está associado a uma série de riscos para o receptor do hemocomponente. As reações transfusionais são efeitos adversos ou indesejáveis decor- rentes da transfusão. Mesmo mediante uma indicação precisa e uma administração correta, elas podem acontecer. Essas reações podem ser classificadas conforme a gravidade, o tempo que levou para manifestar- -se e a causa. Mas vamos com calma! Abordaremos essa classificação mais adiante. A ocorrência desses incidentes está associada a diversas causas, sen- do algumas relacionadas à responsabilidade da equipe hospitalar, como erros de identificação de pacientes, amostras ou bolsas, utilização de materiais inadequados (equipo não específico para hemocomponente, por exemplo), e a fatores intrínsecos do receptor e/ou do doador, como a existência de anticorpos irregulares não detectados em testes pré-transfusionais de rotina. É importante ressaltar que a realização dos testes pré- -transfusionais (estudados na Unidade 3) não irá impedir o acontecimento das reações, ela pode minimizar as chances de ocorrência de algumas reações e a gravidade dessas, garantindo, assim, maior segurança do processo transfusional. As reações agudas mais graves, que trazem real risco de vida, são mais raras, já as reações mais leves são mais comuns. Mas, independente- mente da gravidade da reação, você já se colocou no lugar de alguém que apresenta um efeito adverso ao receber uma bolsa de sangue? Imagine Carlinhos, tratando uma grave doença, vivenciar algo desse tipo sem saber do que se trata. Portanto, qualquer que seja a gravidade da reação transfusional é imprescindível que a equipe de saúde, que presta assistência direta ao paciente, seja capaz de reconhecer precocemente os sinais e saiba agir diante de um evento adverso dessa natureza. 4 AULA 2 - COMO SE DÁ A CLASSIFICAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS? Você sabe o que são reações transfusionais? Você sabia que as reações transfusionais podem ocorrer em vários graus de gravidade? Você sabia que elas podem estar associadas a erros humanos no processo trans- fusional? Daí a importância de aperfeiçoarmos o conhecimento acerca dessa prática: minimizar os erros do processo. Mas devemos ter em mente que as reações transfusionais também podem estar associa- das a fatores intrínsecos ao doador e/ou ao receptor e irão acontecer, independente de todo nosso esforço, cuidado e vontade. Mas não vamos desanimar! Diante do exposto, é nosso papel, enquanto profissional de saúde, saber reconhecer e agir precocemente de modo a minimizar os danos que esse tipo de incidente pode causar nos receptores de sangue, prestando uma assistência digna, resolutiva e de qualidade. Você sabia que as reações transfusionais podem ser classificadas con- forme sua etiologia – em imunológica ou não imunológica – e conforme o tempo que levam para acontecer – em agudas ou tardias? As reações agudas são aquelas que ocorrem durante a transfusão san- guínea ou em até 24h após o procedimento. Quando a reação ocorre com mais de 24h do ato transfusional, é classificada como tardia. 5 A seguir, descreveremos de forma sucinta os principais tipos de reações, para que você possa reconhecê-las. REAÇÃO HEMOLÍTICA AGUDA Trata-se de uma reação grave e com alto índice de mortalidade. Ocor- re como consequência de uma transfusão de concentrado de hemácias incompatíveis, causando hemólise (destruição das hemácias) no meio intravascular. As principais causas para sua ocorrência são: erro de identi- ficação nas amostras sanguíneas dos pacientes, erro de classificação, erro de identificação das bolsas ou troca de bolsa no momento da instalação. Os principais sinais e sintomas desse tipo de reação são dor abdominal, dor no tórax, dor no local da infusão, hipotensão grave, febre e presença de sangue na urina, podendo evoluir para um quadro de insuficiência renal aguda. Também pode ocorrer nesses casos a coagulação intravas- cular disseminada (CID). O diagnóstico, além dos aspectos clínicos, está pautado em achados laboratoriais como Coombs direto positivo, queda da hemoglobina/ hematócrito, elevação dos níveis de bilirrubina indireta e presença de hemoglobina livre no plasma. REAÇÃO ALÉRGICA Corresponde a uma reação de hipersensibilidade (alergia) ocasiona- da pela transfusão de algum hemocomponente. Pode manifestar-se clinicamente pelo surgimento de eritemas, urticárias, pruridos. É de rara ocorrência em neonatos devido à imaturidade do sistema imunológico. Tal tipo de reação pode apresentar-se em diferentes graus de gravidade (leve, moderada, grave), conforme manifestações clínicas apresentadas. Veja alguns exemplos: • Reação leve: prurido, urticária, placas eritematosas. • Reação moderada: edema de glote, broncoespasmo. • Reação grave: choque anafilático. REAÇÕES ANAFILÁTICAS Corresponde a um tipo de reação transfusional pouco incidente gerado por quadro de hipersensibilidade grave, podendo ocorrer após a infusão de uma pequena quantidade de hemocomponente. Os sintomas podem ser discretos ou não no início, podendo evoluir para rebaixamento do nível de consciência, choque e, caso o paciente não seja assistido cor- retamente, óbito. As sintomatologias mais comuns são rubor, náuseas, 6 vômitos, dores abdominais, calafrios, diarreia, edema de pálpebra, des- conforto respiratório e edema de glote. Na ocorrência desse tipo de reação, o hemocomponente não deve ser reinstalado após a regressão dos sinais e sintomas. Para prevenir a rein- cidência, recomenda-se sempre, para uma posterior transfusão, o uso de concentrado de hemácias lavadas. REAÇÃO FEBRIL NÃO HEMOLÍTICA Tal reação é definida pela presença de elevação da temperatura corporal e/ou tremores e calafrios, associada à transfusão de um hemocomponente. Assim, destacamos a importância da verificação dos sinais vitais antes e após a transfusão de cada hemocomponente, conforme discutido na Unidade 3. Relembrando! Como já vimos na Unidade 3, em pacientes com quadro febril durante a instalação do hemocomponente, con- sideramos elevação da temperatura corporal para suspeita de reação transfusional quando ocorre aumento de 1ºC em relação à temperatura pré-transfusional. Em pacientes sem quadro febril, consideramos elevação de temperatura para suspeita de reação transfusional quando essa atinge a mínima de 37,8ºC. ATENÇÃO! Após reação febril,o hemocomponente envolvido no inciden- te não deve ser reinstalado. O diagnóstico desse tipo de reação é clínico. Medidas profiláticas, como administração de antitérmicos, podem ser tomadas após o primeiro epi- sódio desse tipo de manifestação. EDEMA PULMONAR NÃO-CARDIOGÊNICO / TRALI (TRANSFUSION-RELATED ACUTE LUNG INJURY) Você sabia que o edema pulmonar não cardiogênico é uma síndrome clínica grave relacionada à transfusão de hemocomponentes que con- têm plasma? Ela caracteriza-se pelo quadro de desconforto respiratório agudo durante o ato transfusional ou até 6h após. A avaliação do paciente evidencia quadro de edema pulmonar, sem comprometimento cardíaco. A sintomatologia respiratória é muitas vezes desproporcional ao volume de sangue infundido, que geralmente é insuficiente para gerar o evento adverso por sobrecarga volêmica. 7 A sintomatologia desse tipo de reação ainda pode cursar com calafrios, febre, cianose e hipotensão. O tratamento consiste na aplicação da oxigenoterapia para reverter o desconforto respiratório e o quadro de hipóxia, ventilação mecânica invasiva pode ser necessária. SOBRECARGA VOLÊMICA Como o próprio nome já diz, consiste numa transfusão de hemocom- ponente em volume superior ao suportado pelo receptor, é comum em crianças, idosos, portadores de insuficiência cardíaca e insuficiência renal. O sintoma consiste em desconforto respiratório, de gravidade variável, sendo necessário o uso da oxigenoterapia, diuréticos, elevação de decú- bito e, eventualmente, diálise. CONTAMINAÇÃO BACTERIANA A colonização do doador, a assepsia inadequada no momento da coleta para doação de sangue e o manuseio inadequado do hemocomponente, seja no seu preparo ou no processo de transfusão, pode contaminar a bolsa, causando uma bacteremia aguda no receptor. Para prevenção, é importante que, além do manuseio adequado, nós façamos inspeção visual do hemocomponente antes de transfundi-lo. Mudança de colora- ção e de aspecto sugere contaminação bacteriana. Essa reação se caracteriza por febre, calafrios intensos, tremores, taqui- cardia. Pode manifestar-se ainda com náuseas, vômitos, dor lombar e alterações do padrão respiratório. Inicialmente, tal reação tem as mani- festações clínicas semelhantes ao quadro de reação hemolítica aguda, mas a evolução clínica do paciente é diferente. O receptor pode evoluir com quadro séptico necessitando do uso de antibiótico de largo espec- tro, o mais precocemente possível, choque séptico, falência renal e CID. É um quadro muito mais grave, não é mesmo? A confirmação laboratorial desse tipo de reação se dá com a realiza- ção da cultura do hemocomponente envolvido. Após o resultado desse exame, a prescrição do antibiótico deve ser revista. REAÇÃO HEMOLÍTICA TARDIA Nesse tipo de reação, a destruição da hemácia acontece no meio extra- vascular e ocorre devido à produção de anticorpos antieritrocitários após transfusão ou gestações prévias, na qual o paciente é exposto a antíge- nos que ele não possui. Tal reação pode ocorrer horas ou semanas após a segunda exposição ao antígeno em questão, sendo mais comum em pacientes politransfundidos. 8 O quadro clínico pode ser composto por febre, icterícia, alteração da coloração da urina e queda da hemoglobina ou aproveitamento inadequado da terapia transfusional. O paciente também pode evoluir com esplenomegalia. O diagnóstico é laboratorial e acontece a partir da identificação de um novo anticorpo, seja no soro (PAI+) ou ligado às hemácias do paciente. Na maior parte das vezes, não é necessário nenhum tratamento espe- cífico. Caso haja necessidade de transfusão posterior, o concentrado de hemácias deverá ser antígeno negativo para o correspondente anticor- po identificado, com o objetivo de evitar reações. DOENÇA DO ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO PÓS-TRANSFUSIONAL (DECH-PT) É extremamente rara e geralmente fatal. Ocorre quando linfócitos viá- veis, contidos no hemocomponente transfundido, não são eliminados pelo sistema imunológico do paciente e passam a reconhecer como estranhos tecidos e órgãos do receptor. O quadro é caracterizado por febre, eritema cutâneo, náuseas, vômi- tos, diarreia, alteração da função hepática e pancitopenia. O diagnóstico é feito a partir de avaliação clínica e exame histopatológico. A falta de conhecimento sobre a DECH-PT resulta em um diagnóstico tardio, que, juntamente com o curso rápido dessa síndrome e a ausência de respos- ta ao tratamento, contribuem para a má evolução dos pacientes. O tratamento geralmente é ineficaz, ocorrendo óbito em mais de 90% dos pacientes. A profilaxia deve ser feita irradiando-se os hemocompo- nentes celulares (sangue total, concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas). No entanto, a prescrição de hemocomponentes irradiados não deve ser indiscriminada, mas seguir critérios, sendo recomendado para alguns casos, como: transfusão entre familiares, para pacientes submetidos ao transplante de medula óssea, transfusões intra-útero, transfusões em recém-nascidos prematuros, para pacientes com síndro- me de imunodeficiência congênita e para pacientes oncológicos em tratamento quimioterápico agressivo. DOENÇAS INFECCIOSAS TRANSMISSÍVEIS Como você sabe muitas são as doenças infecciosas que podem ser trans- mitidas via transfusão. No entanto, nas últimas décadas, a incidência des- se tipo de complicação transfusional sofreu uma importante redução. Isso se deve, dentre outras causas, à implementação de rigorosos critérios na seleção de doadores e ao aprimoramento dos métodos laboratoriais para detecção dessas doenças no sangue do doador. 9 Como medida de prevenção dessas ocorrências, é obrigatória, confor- me a portaria nº 158 do Ministério da Saúde, a realização de exames laboratoriais de alta sensibilidade a cada doação, visando à detecção de marcadores das seguintes infecções: sífilis, doença de Chagas, hepatite B, hepatite C, AIDS e HTLV I/II. Atualmente, existe ainda a obrigatoriedade de os hemocentros realizarem um teste complementar aos testes sorológicos, o Teste de Ácido Nucleico – NAT. O NAT tem mais sensibilidade que os testes sorológicos, é aplica- do para detecção mais precoce do vírus HIV, do vírus da hepatite C e da hepatite B, uma vez que busca o DNA viral, reduzindo a janela imunológica (tempo em que o vírus permanece indetectável). O teste NAT representa, assim, um grande avanço para a segurança do processo transfusional. Diante de tudo que foi exposto, você acha importante o profissional de saúde reconhecer rapidamente a ocorrência dos incidentes transfusio- nais? O dano ao receptor seria minimizado? Mas como reconhecer e agir? Para responder todas essas perguntas, continuemos com nossos estudos. 10 AULA 3 - IDENTIFICAÇÃO DA REAÇÃO E ASSISTÊNCIA AO PACIENTE MEDIANTE A OCORRÊNCIA DE UM INCIDENTE TRANSFUSIONAL Caro aluno, já discutimos sobre a importância da prática transfusional para a medicina e sobre os grandes progressos que essa terapêutica teve nas últimas décadas. Nessa perspectiva, é importante ressaltar que os profissionais envolvidos no ciclo do sangue também precisam acom- panhar essa evolução. Para que o processo transfusional seja feito com mais segurança, os cri- térios de boas práticas devem permear todo o ciclo. Os procedimentos de transfusão devem ser realizados por profissionais treinados e capa- citados para que, assim, sejam capazes de reconhecer precocemente e agir mediante a ocorrência dos incidentes, prevenindo as possíveis complicações e reações transfusionais. Na aula anterior, nós conversamos sobre os tipos de reações transfu- sionais e descrevemos, de forma sucinta, as mais relevantes. Diante de tudo que foi exposto, você saberia o que fazer ao se deparar com uma reação transfusional? Pois bem, vamos aqui descrever os passos a serem seguidos mediante a detecção de um incidente. Inicialmente, vamos relembrar os principais sintomas presentes nas reações transfusionais que devem servir de alerta e despertar para asuspeita. Para isso, acesse o Infográfico 2 no AVASUS. Infográfico 2 – Sinais e sintomas de alerta Agora, vamos compreender o passo a passo das ações a serem executa- das pela equipe de enfermagem junto ao leito do paciente, quando hou- ver suspeita de reação transfusional. Confira o Infográfico 3 no AVASUS. Infográfico 3 – Atendimento da equipe de enfermagem 11 Esse passo a passo é fundamental para uma boa assistência mediante uma reação transfusional! Vamos revisar? Acesse o AVASUS e assista ao Vídeo 10. Vídeo 10 – Reações transfusionais Caro aluno, como vimos, a ocorrência de algumas reações transfusio- nais está diretamente relacionada a fatores inerentes ao doador ou ao receptor, cabendo ao profissional ficar atento aos sinais e sintomas para direcionamento de uma assistência precoce. No entanto, outras reações podem ser prevenidas com algumas medidas: • Treinamento dos profissionais da saúde quanto às normas de coleta e identificação de amostras e do paciente; • Avaliação clínica criteriosa para indicação transfusional; • Realizar uma história pré transfusional detalhada, incluindo história gestacional, transfusional, diagnóstico, e tratamentos anteriores; • Atenção em todas as etapas relacionadas à transfusão; • Atenção redobrada na conferência da bolsa e do paciente à beira do leito; • De acordo com a história clínica ou de reação transfusional, utilizar pré medicações, sangue desleucocitado, irradiado ou lavado. Você se lembra do Dr. Rodolfo Soares? Na segunda parte da entre- vista dele ao programa Saúde em Foco, ele falou sobre as reações transfusionais. Assista ao vídeo no AVASUS para reforçar os conheci- mentos adquiridos até aqui. Vídeo 11 – Entrevista com Dr. Rodolfo Soares – Parte 2 ATENDIMENTO DA EQUIPE MÉDICA A equipe médica deve fazer o diagnóstico diferencial entre os diversos tipos de reações transfusionais, atentando para a possibilidade de reação hemolítica, TRALI, anafilaxia e sepse relacionada à transfusão, situações nas quais são necessárias condutas de urgência, para adotar medidas terapêuticas de acordo com a reação transfusional apresentada. 12 Após avaliação, o profissional médico deve ainda decidir sobre a reinsta- lação, desistência ou solicitação de outra transfusão; preencher a ficha de notificação do incidente transfusional, detalhando todo o quadro clí- nico apresentado pelo paciente e a conduta médica adotada; registrar o ocorrido no prontuário do paciente. A seguir, apresentamos um quadro com as reações transfusionais e as condutas direcionadas para cada uma delas: Reação Sinais/Sintomas Conduta Laboratorial Conduta clínica Reação hemolítica aguda imune Febre, tremores, calafrios, hipotensão, taquicardia, dor (tórax, local da infusão, abdominal), hemoglobinúria, insuficiência renal e CID. Enviar amostras para o serviço de hemoterapia; repetir testes imunohematológicos; realizar cultura do hemocomponente e do receptor. Hidratação venosa, manter diurese a 100ml/h; cuidados de terapia intensiva. Reação febril não hemolítica Febre (ou aumento da temperatura acima de 1°C), e/ou calafrios, tremores. Enviar amostras para o serviço de hemoterapia; repetir testes imunohematológicos; realizar cultura do componente e do receptor. Antipiréticos e, nos casos de calafrios, meperidina. Reação alérgica leve ou moderada Prurido, urticária, eritema, pápulas, tosse, rouquidão, dispneia, sibilos, náuseas e vômitos, hipotensão, choque. Não se aplica. Antihistamínicos, mas a maioria pode cessar sem o uso de medicamentos. Reação alérgica grave Prurido, urticária, eritema, pápulas, rouquidão, tosse, broncoespasmo, hipotensão, choque. Dosar IgA ou outras proteínas; investigar presença de anticorpo anti-IgA. Cuidados de terapia intensiva (epinefrina, anti- -histamínicos, corticosteroide). 13 Reação Sinais/Sintomas Conduta Laboratorial Conduta clínica TRALI Qualquer insuficiência respiratória aguda relacionada à transfusão (até 6 horas após). Afastar sobrecarga circulatória, reação hemolítica aguda imune e contaminação bacteriana; Rx de tórax; ecocardiograma; pesquisa de anticorpo antileucocitário doador e/ou receptor. Suporte respiratório. Sobrecarga volêmica Dispneia, cianose, taquicardia, hipertensão e edema pulmonar. Rx tórax. Suporte de oxigênio e diuréticos. Contaminação bacteriana Tremores intensos, calafrios, febre elevada (40- 42°C) e choque. Afastar hemólise aguda imune, cultura do componente e do receptor. Cuidados de terapia intensiva; antibiótico de amplo espectro. Hipotensão relacionada à transfusão Hipotensão, rubor, ausência de febre, calafrios ou tremores. Não se aplica. Terapia de suporte, caso necessário. Hemólise aguda não-imune. Oligossintomática; atenção à presença de hemoglobinúria e hemoglobinemia. Inspeção visual do plasma e urina do paciente; TAD negativo. Terapia de suporte, caso necessário. Distúrbios metabólicos (hipocalcemia, hipomagnesemia) Parestesia, tetania, arritmia cardíaca. Dosar cálcio e magnésio iônico; ECG com alargamento do intervalo QT. Infusão lenta de cálcio e/ou magnésio com monitorização periódica dos níveis séricos. Embolia aérea Dispneia e cianose súbita, dor, tosse, hipotensão, arritmia cardíaca. Não se aplica. Deitar paciente em decúbito lateral esquerdo, com as pernas acima do tronco e da cabeça. Hipotermia Desconforto, calafrios, queda da temperatura, arritmia cardíaca e sangramento. Não se aplica. Diminuir a vazão do sangue; terapia conforme as intercorrências. Quadro 1 - Reações transfusionais e condutas a serem adotadas em cada caso Fonte: Protocolo de Atendimento às Reações Transfusionais Imediatas do Serviço de Hemoterapia do HUOL / Adaptado do Guia para uso de Hemocomponentes do Ministério da Saúde, 2015 14 Lembre-se, diante de qualquer sintoma que levante a suspeita de ocor- rência de reação transfusional, a transfusão deve ser imediatamente interrompida, para só depois seguir com as demais ações e tomar as medidas assistenciais cabíveis. Todas as suspeitas de reação transfusional devem ser notificadas! 15 AULA 4 - AÇÕES DE HEMOVIGILÂNCIA E A IMPORTÂNCIA PARA A SEGURANÇA TRANSFUSIONAL Pelo que já discutimos, podemos perceber que a segurança do processo transfusional é uma preocupação constante que permeia todo o ciclo, não é mesmo? Então agora vamos falar de mais uma importante ferra- menta para tornar esse processo ainda mais seguro. Entende-se por segurança transfusional como sendo um conjunto de medidas adotadas visando minimizar os riscos aos quais doadores e receptores de sangue estão submetidos. Para tanto, parâmetros rigo- rosos de qualidade devem ser adotados. Nessa perspectiva, vamos falar sobre um elemento muito importante para a segurança transfu- sional: a hemovigilância. Trata-se de um conjunto de procedimentos de vigilância que deve estar presente em todo ciclo do sangue, desde a coleta de sangue do doa- dor até a infusão desse no receptor, coletando e avaliando informações acerca das ocorrências dos incidentes e atuando na elaboração e imple- mentação de medidas para prevenção desses. Vale ressaltar que esse modo de se pensar hemovigilância de forma mais abrangente é recente, no início, limitava-se a monitorar apenas as rea- ções adversas que ocorriam durante ou após uma transfusão sanguínea. A ampliação da atuação da hemovigilância a todas as etapas do ciclo é de fundamental importância, uma vez que a ocorrência de um evento adverso pode estar diretamente relacionada a alguma não conformida- de no processo de produção das bolsas ou em outra etapa do ciclo. Como já foi dito anteriormente, toda suspeita de reação transfusional deve ser notificada. Feito isso, é papel da hemovigilância informar o ocorrido, por meio de sistema informatizado, à autoridade competente do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária para posterior investigação.Um aspecto fundamental para um sistema de hemovigilância eficien- te é a garantia da rastreabilidade de um hemocomponente. Mas o que isso significa? Significa que o serviço de hemoterapia deve saber com precisão, a partir de seus registros, em quem foram transfundi- dos os hemocomponentes. Ou seja, tornar possível que a partir de cada receptor de transfusão de sangue se consiga identificar o(s) doadores(s), e que a partir de cada doa- dor seja possível identificar o(s) receptor(es) e os respectivos hemocom- ponentes que foram administrados. Pois bem, a rastreabilidade permite 16 que se realize tanto a investigação ascendente (do receptor ao doador) quanto a investigação descendente (do doador ao receptor). Enfim, todos os serviços de hemoterapia devem ter seu serviço de hemovigilância, organizando-se de modo a proporcionar o controle, preferencialmente informatizado, de todo o processo do ciclo do sangue, da distribuição e da utilização dos hemocomponentes. RESUMINDO As reações transfusionais são efeitos adversos que ocorrem durante ou após a transfusão de um hemocomponente. Esses incidentes manifestam-se com diferentes graus de gravidade, podendo, em casos mais graves ou malconduzidos, gerar poten- cial dano ao receptor. Nessa perspectiva, é de fundamental importância que os profissionais sejam treinados e capacitados para reconhecer precocemente os sinais e sintomas que servem de alerta para a ocorrência das reações transfusionais e, assim, possam intervir rapidamente. Vale aqui relembrar, caro aluno, que diante da identificação de uma reação transfusional deve-se, primeiramente, interromper a transfusão para somente depois tomar as outras medidas assistenciais cabíveis. Após prestar a assistência ao paciente, o incidente deve ser obrigatoriamente notificado. Com a ficha de notificação gerada, é papel do serviço de hemo- vigilância investigar a ocorrência e criar medidas de prevenção para o incidente. A hemovigilância deve exercer seu papel em todo o ciclo do sangue, tendo, assim, um papel fundamental para a segurança do processo transfusional. 17 REFERÊNCIAS BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Marco conceitual e operacional de hemovigilância: guia para a hemovigilância no Brasil. Brasília, DF: ANVISA, 2015. 75 p. DE PAULA, Gerson G. et al. Estudo da refratariedade plaquetária do dia 0 ao 50, em pacientes submetidos a transplante de medula óssea. Revista Brasileira Hematol Hemoter, v. 26, n. 1, p. 3-12, 2004. FERREIRA, Oranice et al. Avaliação do conhecimento sobre hemoterapia e segurança transfusional de profissionais de enfermagem. Revista Brasileira Hematol Hemoter, v. 29, n. 2, p. 160-167, 2007. JUNIOR, Antonio Fabron; LOPES, Larissa Barbosa; BORDIN, José Orlando. Lesão pulmonar aguda associada à transfusão. Journal bras pneumol, v. 33, n. 2, p. 206-212, 2007. JUNQUEIRA, Pedro C.; ROSENBLIT, Jacob; HAMERSCHLAK, Nelson. History of Brazilian Hemotherapy. Revista brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 27, n. 3, p. 201-207, 2005. LANDI, E. P.; OLIVEIRA, J. S. Doença do enxerto contra hospedeiro pós-transfusional guia para irradiação gama de hemocomponentes. Revista Brasileira Hematol Hemoter, v. 45, n. 3, p. 261-272, 1999. OLIVEIRA, Luciana CO; COZAC, Ana Paula. Reações transfusionais: diagnóstico e tratamento. Medicina (Ribeirão Preto. Online), v. 36, n. 2/4, p. 431-438, 2003. SILVA, Karla F. N.; SOARES, Sheila; IWAMOTO, Helena H. A prática transfusional e a formação dos profissionais de saúde. Revista Brasileira Hematol Hemoter, v. 31, n. 6, p. 421-426, 2009. SWEENEY, J. D. Rizk Y. Manual prático de hemoterapia. Rio de Janeiro: Revinter; 2005.
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