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SOCIOLOGIA

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Talita Silva Bezerra Francisco 
Stenio Nogueira Júnior 
João José Saraiva da Fonseca 
 
 
 
 
 
 
SOCIOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2ª edição 
Revisada e atualizada 
EGUS 
SOBRAL 
 2021 
 
4 
 
INTA - Instituto Superior de Teologia Aplicada 
PRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica 
 
Diretor-Presidente 
Oscar Rodrigues Júnior 
Pró-Diretor de Inovação Pedagógica 
João José Saraiva da Fonseca 
Coordenadora Pedagógica e de 
Avaliação 
Sonia Maria Henrique Pereira da 
Fonseca 
Assessor de Gestão Administrativo 
Éder Jacques Porfírio Farias
 
Multimídia Impressa e Audiovisual 
Cícero Romário Lima Rodrigues 
Francisco Sidney Souza de Almeida 
Juliardy Rodrigues de Sousa 
Lee Aguiar Frota Araújo 
Luis Carlos de Souza Lima 
Manutenção e Suporte do Ambiente 
Virtual de Aprendizagem 
Rhomélio Anderson Sousa Albuquerque
 
Equipe de Transposição Didática e 
Modelagem Pedagógica 
Anaisa Alves de Moura 
 Evaneide Dourado Martins 
Licilange Gomes Alves 
Sonia Maria Henrique Pereira da Fonseca
Produção e Desenvolvimento de 
Softwares para Aprendizagem em Ead 
Anderson Barbosa Rodrigues André Alves 
Bezerra 
Luís Neylor da Silva Oliveira
 
CIP - Catalogação na Publicação 
Ficha Catalográfica Elaborada Pela Biblioteca Central 
Prof. Dr. Manfredo Araújo de Oliveira do Instituto Superior De Teologia Aplicada- 
Faculdades INTA
 
B574f Bezerra, Talita Silva. 
Fundamentos básicos de sociologia./ Talita Silva Bezerra, Francisco 
Stenio Nogueira Júnior, João José da Fonseca. – Sobral, CE, 
2013.101f. 
Inclui Bibliografia 
ISBN 978-85-61760-68-7 
1. Sociologia. 2. Correntes Sociológicas. 3. Sociologia - 
Globalização. 4. PRODIPE. I. Título. 
CDD 301 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E SEUS OBJETIVOS......................................... 19 
1.1 A ciência como forma específica do conhecimento.................................................. 22 
1.1.1 A Revolução Industrial........................................................................................... 26 
1.1.2 A Revolução Francesa........................................................................................... 27 
1.2 O conceito de sociedade.......................................................................................... 28 
1.2.1 Recursos básicos de uma sociedade................................................................... 29 
1.2.2 O conceito de sociedade considerando diversos níveis........................................ 30 
1.3 O conceito de cultura................................................................................................ 31 
1.3.1 Características básicas da cultura......................................................................... 32 
1.3.2 Elementos da cultura............................................................................................. 33 
1.3.3 Etnocentrismo, relativismo cultural e choque cultural............................................ 35 
1.4 Socialização.............................................................................................................. 37 
1.4.1 As metas, padrões e principais tipos de socialização............................................ 38 
1.4.2 Múltiplas e contraditórias influências de socialização............................................ 41 
 
2. CORRENTES SOCIOLÓGICAS................................................................................ 44 
2.1 A contribuição de Auguste Comte............................................................................ 46 
2.2 Contribuições de Émile Durkheim............................................................................. 50 
2.2.1 O objeto de estudos da Sociologia........................................................................ 54 
2.2.2 Método de estudo: a coisificação do fato social.................................................... 56 
2.3 Contribuições de Max Weber................................................................................... 58 
2.3.1 Como o cientista deve tratar o objeto de estudo sociológico................................. 62 
2.3.2 O tipo ideal: um instrumento de pesquisa do saber sociológico............................ 63 
2.3.3 A Ética protestante e o espírito do capitalismo...................................................... 65 
2.4 As contribuições de Karl Max.................................................................................. 66 
2.4.1 Alguns conceitos básicos: exploração, expropriação, ideologia, alienação.......... 69 
2.5 As contribuições de Louis Althusser......................................................................... 72 
2.6 As contribuições de Pierre Bourdieu......................................................................... 73 
 
3. SOCIOLOGIA: CONCEITOS E DISCIPLINAS AGREGADAS.................................. 76 
3.1 Disciplinas agregadas............................................................................................... 78 
3.2 Conceitos e estrutura social...................................................................................... 79 
3.2.1 Status e papéis...................................................................................................... 79 
3.2.2 Relações sociais e grupo social............................................................................. 80 
3.2.3 Instituições sociais e organizações formais........................................................... 81 
 
4. ABORDAGEM TEMÁTICA DA SOCIOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO......................... 84 
4.1 Globalização............................................................................................................. 86 
Leitura obrigatória........................................................................................................ 96 
Saiba mais..................................................................................................................... 97 
Revisando..................................................................................................................... 98 
Autoavaliação............................................................................................................... 103 
Bibliografia.................................................................................................................... 105 
Referências da Web ..................................................................................................... 107 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Palavra do Professor-Autor 
Caro estudante, 
A vida do homem em sociedade tem sido questionada desde a Antiguidade. 
As primeiras tentativas de explicar a ação humana foram interpretadas pelas 
naturezas teológica ou mitológica. 
A Sociologia surge no século XIX, no contexto da consolidação da 
sociedade capitalista e enquanto resultado de um contexto histórico que abrange 
um vasto conjunto de acontecimentos de natureza política, econômica, filosófica, 
científica, religiosa e artística, ocorridos ao longo dos séculos. Ela, a Sociologia, é 
o resultado do esforço de um diversificado grupo de pensadores que procuraram 
compreender as novas realidades da vida social do ocidente, em curso na época. 
No entanto, a Sociologia não considera o indivíduo objeto de observação. 
Enquanto ciência do social, ela se interessa pelo sujeito na medida em que este 
interage com os demais, constituindo-se, dessa forma, um fato social. 
 
Os autores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Autores 
 
 
Talita Silva Bezerra 
Mestra em Sociologia pela 
Universidade Federal do Ceará-
UFC, bolsista CNPq. Tem 
experiência na área de Sociologia e 
Antropologia, com ênfase em 
Sociologia da Juventude, Sociologia 
Rural, Cidade e Práticas Culturais, 
atuando principalmente nos 
seguintes temas: mobilidade e 
processosde subjetivação, 
sociologia rural, grupos de idade e 
formas de sociabilidade. Atualmente 
é membro do Grupo de Pesquisa 
sobre Cultura Juvenil (GEPECJU - 
UVA/CE) vinculado ao Diretório dos 
Grupos de Pesquisas do CNPq, 
professora da Universidade 
Estadual Vale do Acaraú-UVA e da 
Faculdade Luciano Feijão - FLF. 
 
Francisco Stenio Nogueira 
Júnior 
Possui graduação em Ciências 
Sociais (Licenciatura) pela 
Universidade Estadual Vale do 
Acaraú (2011). Participou do 
Programa Institucional de Bolsa de 
Iniciação à Docência (PIBID). Tem 
experiência nas áreas de 
Antropologia e Sociologia. 
 
João José Saraiva da Fonseca 
É Pós-Doutor em Educação pela Universidade de 
Aveiro em Portugal, Doutor em Educação pela 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(2008), Mestre em Ciências da Educação pela 
Universidade Católica Portuguesa - Lisboa (1999) 
(validado no Brasil pela Universidade Federal do 
Ceará), Especialista em Educação Multicultural 
pela Universidade Católica Portuguesa - Lisboa 
(1994). Graduou-se em Ensino de Matemática e 
Ciências pela Escola Superior de Educação de 
Lisboa (validado no Brasil pela Universidade 
Estadual do Ceará). É pesquisador na área da 
produção de conteúdo para educação a distância. 
Atualmente desempenha a função de Pró-Diretor 
de Inovação Pedagógica das Faculdades INTA - 
Sobral CE.
 
10 
Ambientação da disciplina 
 
A Sociologia é uma ciência que estuda a sociedade, sua organização social 
e os processos que ligam os indivíduos aos grupos. A sociedade atual exige que o 
indivíduo tenha acesso às questões sociais para exercer, com consciência e 
responsabilidade, a cidadania. 
O homem, ao nascer, adquire a natureza social através da interação com 
outros seres humanos e desenvolve sua personalidade e cultura, pois a família é 
que inicia o processo de socialização e permite que seus membros adquiram 
personalidade. Esse processo, posteriormente, irá ajudá-lo a conviver em grupo. 
Prezado estudante, com a intenção de aprofundar seus conhecimentos 
sobre a Sociologia, convidamos você à leitura da obra Sociologia: Consensos e 
Conflitos, da autora Rita de Cássia da Silva Oliveira (Org). 
Destinado aos acadêmicos das licenciaturas, o primeiro livro 
recomendado discute conceitos da Sociologia e temas relevantes da 
realidade social, entre os quais destacamos: a formação do ser social, 
cultura e sociedade, a ideologia na concepção marxista, movimentos 
sociais, Estado, política e o desenvolvimento do capitalismo no Brasil e 
seus efeitos sociais. 
OLIVEIRA, Rita de Cássia da S. Sociologia: Consensos e Conflitos, 
Ponta Grossa: UEPG, 2001. 
 
Propomos também a leitura da obra de Carlos Benedito Martins, 
intitulada O que é sociologia. Neste livro o autor afirma que o surgimento 
da Sociologia ocorreu no contexto da decadência do sistema feudal e da 
consolidação da sociedade capitalista. A história sociológica tem como 
principais marcos inspiradores as transformações econômicas, políticas e 
culturais motivadas pela Revolução Francesa e Revolução Industrial que 
alteraram a organização da vida social da época. 
 
11 
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 57 ed. São Paulo: 
Brasilense, 2006. 
 
12 
Trocando ideias com os autores 
 
Caro estudante, considerando as obras abaixo, propomos uma reflexão sobre a 
ciência enquanto forma de conhecimento diferenciado e sobre o surgimento da 
Sociologia como uma ciência humana que rompe com as abordagens analíticas do 
senso comum e emprega métodos específicos para entender a vida em sociedade. 
Você conhecerá os aspectos fundamentais da constituição da 
Sociologia a partir da obra Sociologia: introdução à ciência da 
sociedade, da autora Maria Cristina Castilho Costa. A obra leva o leitor 
a acompanhar o surgimento da ciência que tem por objeto de estudo a 
sociedade, bem como tomar conhecimento da multifacetada 
constituição teórica e metodológica da disciplina. 
Ao “passear” pela história e pelas bases teóricas mais 
fundamentais da Sociologia, a obra propicia ao leitor um entendimento 
acerca do que é esta ciência e a que ela se propõe. É um caminho para a 
compreensão das abordagens e tendências conceituais e metodológicas da 
Sociologia. 
COSTA, Maria C. C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2 ed. São Paulo: 
Moderna, 1997. 
Nesta obra, Roque de Barros, professor emérito da UNB e 
antropólogo, vai nos conduzir, por meio de uma linguagem fluente e 
clara, a um passeio pelos diversos significados acerca do termo 
cultura, sua origem e suas interpretações. Esta leitura será um ótimo 
recurso didático a partir do 6º capítulo, no qual veremos o tópico de 
Sociedade e cultura. 
 
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24 ed. [S.l.]: Jorge 
Zahar Ed., 2009. 
 
 
13 
Recomendamos ainda a leitura da obra “As regras do 
método sociológico”, a qual aborda conceitos básicos estudados 
na Sociologia como os métodos sociológicos e suas regras para o 
estudo dos fatos sociais. 
“Os fatos sociais devem ser tratados como coisas”. 
Defendendo essa assertiva polêmica, Émile Durkheim orienta, de 
forma decisiva, uma disciplina que estava se formando. Para este sociólogo francês, 
existe uma ruptura entre a Psicologia e a Sociologia como existe entre a Biologia e 
as ciências físico-químicas. O ser coletivo possui uma singularidade e a consciência 
coletiva é diferente da consciência individual. 
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 2 ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 2003. 
 
Leia também a obra “O Manifesto do Partido Comunista” que 
analisa as relações entre trabalho e capital, a forma como a 
sociedade se estruturou nesta fase e critica o modo de produção 
capitalista buscando organizar a classe dos trabalhadores e 
descrevendo os vários tipos de pensamento comunista. 
Seus argumentos desmancham a ideologia capitalista, 
demonstrando a ilusão à qual esta induz nações inteiras apenas para 
assegurar e perpetuar a diferença de classes e a má distribuição das riquezas. 
ENGELS, Friendrich; MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. 10 ed. São 
Paulo: Global, 2006. 
 
 
 
14 
Problematizando 
 
A obra “O Peixinho arteiro”, de Oranice Franco, conta a história de um 
peixinho que, não obedecendo à mãe e a professora, é pescado. Ele se salva 
porque o pescador tropeça e deixa os peixes caírem do cesto para a água. 
“- Eu ia convidar você para fugir! – o Lambari riu apesar de sentir muitas dores na 
sua boquinha. Nunca mais! Chega a lição que aprendemos. Se prestássemos 
atenção às aulas de Dona Piranha, saberíamos que nadar perto de cachoeira é 
perigoso por causa da correnteza, das pedras... 
- E saberíamos também – completou o Peixinho – o que é anzol e não teríamos sido 
fisgados. Agora, vou para casa. Se você prometer ser bom peixinho, continuarei 
sendo seu amigo. Do contrário, não. 
- Pode ficar descansado. Nunca mais serei arteiro. Agora, vou também pedir perdão 
aos meus pais e amanhã cedo, se você concordar, iremos falar com Dona Piranha, 
contando tudo o que aconteceu. 
- Boa ideia – fez o Peixinho todo animado. Então, até amanhã na escola. 
- Até amanhã – disse o Lambari, nadando para sua casa. 
E o peixinho arteiro nunca mais foi arteiro. Ao contrário, passou a ouvir e a seguir os 
conselhos de seus pais e, juntamente com o Lambari, foi exemplar no colégio.” 
ARANHA, M. A.; MARTINS, Maria. Filosofando, introdução à 
filosofia. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1993. 
A historinha apresentada encontra-se associada ao estudo das correntes 
sociológicas, com particular proximidade à de Émile Durkheim. Até que ponto a 
aceitação das regras sociais pode ser considerada condição fundamental para uma 
perfeita integração dentro da sociedade? Que consequências terá o desrespeito a 
essas regras? Poderá ser possível a existência de um indivíduo livre fora das 
organizações sociais? Haverá condiçõespara alterar as regras sociais? 
 
 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E 
SEUS OBJETIVOS 
 
 
Conhecimentos 
Compreender o contexto histórico que ocasionou o surgimento da Sociologia; 
Conhecer os objetivos da Sociologia. 
 
Habilidades 
Posicionar-se criticamente em relação ao conhecimento científico amparado na 
Sociologia com o intuito de compreender a vida social; 
Analisar os processos sociais e reconhecer a Sociologia enquanto espaço de 
múltiplos olhares. 
 
Atitudes 
 
Desenvolver o conhecimento científico, no âmbito sociológico, para análise dos 
processos sociais. 
 
 
 
17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
Aprendendo a pensar... Sociologia 
 
O estudo da Sociologia tem como objeto o comportamento humano em 
sociedade. Esta, por sua vez, trata-se de um corpo orgânico cuja base reúne 
indivíduos que vivem sob determinado sistema econômico de produção, 
distribuição e consumo. Sociólogos pesquisam o comportamento do ser 
humano e as estruturas da sociedade como classes sociais, grupos étnicos, 
etc. 
Todos sabem que vivemos em uma sociedade. Mas o que isso significa? 
O que é viver em sociedade? Numa primeira instância, podemos dizer que viver 
em sociedade é ter a consciência de que o indivíduo precisa da sociedade e a 
sociedade precisa do indivíduo. Os seres humanos não conseguem viver 
isoladamente, por isso necessitam desse convívio. 
Viver em sociedade significa residir numa região sob as mesmas regras, 
leis e cultura. A cultura é composta de símbolos, valores e costumes; é, 
portanto, uma herança social que passa de geração a geração. 
A Sociologia, enfim, estuda as ações sociais, as interações sociais e, 
muitas vezes, as mudanças sociais, sendo estas últimas, consideradas um dos 
pontos altos dessa ciência. 
Por que vivemos numa sociedade repleta de desigualdades? O que a 
globalização tem a ver com a sociedade? Como os indivíduos se relacionam 
entre si? Quais os elementos básicos da vida social? Quais são os tipos de 
sociedade e suas culturas? O que é etnocentrismo? Em que a Sociologia 
contribui para o indivíduo? Esses questionamentos serão respondidos no 
decorrer da disciplina e, aliados a outros, auxiliarão você, estudante, no 
processo de aquisição de conhecimentos acerca do estudo da Sociologia. 
 
 
 
19 
1. SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E SEUS 
OBJETIVOS 
 
Etimologicamente, a Sociologia tem a sua origem na palavra latina 
socius, que significa sócio, ou social, e na palavra grega logos, que significa 
estudo. A Sociologia pode ser entendida como uma área de conhecimento que 
se preocupa em aplicar do ponto de vista científico à observação e à explicação 
dos fatos sociais. 
O estudo sociológico analisa e problematiza as atividades cotidianas. A 
simples tarefa de ir ao supermercado pode transformar-se numa experiência de 
interesse do ponto de vista sociológico. Mas como um sociólogo poderá fazer 
análise de uma ida ao supermercado? 
Apresentamos abaixo alguns pormenores que podem ser 
problematizados, como por exemplo: 1º) A enorme variedade de produtos dos 
mais diversos locais e de diferentes países, o que evidencia o processo de 
globalização em curso; 2º) Os cereais à venda incluem soja transgênica; isso 
levanta a discussão sobre os organismos geneticamente modificados; 3º) No 
ramo dos cosméticos são apresentados frequentes lançamentos de novos 
produtos, o que leva à discussão sobre novos hábitos de consumo 
diferenciados; 4º) A promoção no preço da carne bovina relembra as disputas 
internacionais sobre embargos econômicos; 5º) A apresentação de produtos 
livres de agrotóxicos levanta a discussão sobre a alimentação saudável, 
implicando em diferentes estilos de vida; 6º) O funcionário que trabalha no 
supermercado tem nível superior completo, mas trabalha ali por não ter outra 
possibilidade de emprego e isso induz ao pensamento sobre as relações de 
trabalho hoje em dia. 
Nesse sentido, a Sociologia permite-nos entender que muitas das ações 
aparentemente individuais, na verdade, refletem questões mais amplas. Ela 
pode ser considerada um projeto intelectual marcado por conflito de ideias, 
discussões, tensão e contradições, podendo servir como arma que atende aos 
 
20 
interesses dominantes e como expressão teórica dos movimentos 
revolucionários. Desta forma, a Sociologia é, como qualquer ciência, 
predominantemente indutiva, isto é, parte da observação sistemática de 
situações particulares para chegar à formulação de generalizações teóricas a 
propósito da vida social. A observação sistemática dos fatos é, em último caso, 
a confirmação ou negação da qualidade científica de qualquer tentativa de 
explicação da realidade. Portanto, a Sociologia transforma-se, dessa maneira, 
num meio para a compreensão da realidade social e torna inteligíveis os 
fenômenos sociais, apreendidos a partir de diferentes pontos de vista. 
Ora, se pautando nessa compreensão podemos dizer então que a 
Sociologia estuda os fenômenos de natureza social. Contudo, nem todo 
acontecimento que ocorre no interior de uma sociedade envolve uma natureza 
social. Por exemplo, os fatos relacionados ao indivíduo, isolado, acontecem 
dentro de uma sociedade, entretanto, não são fatos de interesse da Sociologia, 
pois esta não considera o indivíduo como objeto de estudo. O indivíduo 
somente faz parte de um estudo sociológico quando sua ação individual 
interfere em qualquer grupo social. 
A Sociologia surge da exigência de uma nova forma de conhecimento e 
de pensar a natureza e a sociedade, que se fez sentir a partir do século XV, 
quando ocorreram na Europa transformações sociais significativas, como o fim 
do Feudalismo e o início do Capitalismo. Até o século XV o povo europeu tinha 
uma concepção reduzida de mundo e seu conhecimento territorial restringia-se 
ao espaço local. Com as grandes navegações ocorridas a partir do século XV, o 
povo europeu percebeu um mundo mais amplo com novas nações e novas 
culturas. Isso exigiu a reformulação do modo de ver e pensar a natureza e a 
sociedade. 
Acrescentamos a isso, outros desenvolvimentos políticos, econômicos e 
sociais que aconteceram nos séculos seguintes, tais como: a Revolução 
Francesa e a Revolução Industrial que ocasionaram o desmoronar das 
estruturas sociais. Isso foi evidente de tal maneira que essas alterações 
passaram a ser motivo de preocupação coletiva, sobretudo no que diz respeito 
às mudanças na sociedade e às possíveis soluções para as desigualdades que 
 
21 
se apresentavam nesta. Outro ponto importante foi os avanços científicos e 
tecnológicos atrelados ao desenvolvimento de uma nova economia industrial na 
sequência da mudança ocorrida na sociedade, com reflexos sentidos quando: 
diminuiu-se a terra cultivada; abandonou-se a forma de produção artesanal e 
passou-se à produção em grandes fábricas; as pessoas deixaram de laborar 
em suas casas para trabalhar sob as ordens de um supervisor; criou-se uma 
dissociação, de um lado os trabalhadores, de outro, os consumidores. 
Com essas transformações em rumo se deu o crescimento das cidades 
ocasionado pela chegada dos camponeses que abandonaram o campo e se 
mudaram para a cidade em busca de trabalho, com consequências evidentes, 
por exemplo, no aglomerado da população, na pobreza, no desemprego e na 
criminalidade. Mediante tal problemática, as ciências existentes na época 
mostraram-se insuficientes para explicar os novos fenômenos sociais. É neste 
contexto que surge a necessidade de uma ciência que tente explicar essa nova 
realidade. 
Assim sendo, a Sociologia aparece no século XIX perante a necessidade 
de compreender os novos problemas sociais que surgiram na sequência do 
conjunto de causas sociais de caráter complexo. Surge com o objetivo de 
estudar sistematicamente o comportamento social dos grupos e as interações 
humanas,assim como os fatos sociais que provocam sua inter-relação. Em sua 
sistemática, esta ciência procura explicar como as atitudes e os 
comportamentos das pessoas são influenciados, em geral, pela sociedade e, 
especificamente, pelos diferentes grupos humanos. Ela também tenta explicar 
qual a dinâmica social que mantém as sociedades estáveis ou provoca a 
mudança social. 
Segundo Lemos Filho (2004), o trabalho da Sociologia tem como suas 
três grandes preocupações: a separação do social dos demais elementos 
inerentes à vida humana; a constatação dos efeitos do social e o modo como 
estes são produzidos; a restituição do social ao conjunto da vida humana de 
maneira a possibilitar o entendimento das suas relações com esta. 
 
 
22 
1.1 A ciência como forma específica de conhecimento 
Em nossa sociedade, ainda nos primeiros anos do processo educativo, é 
comum termos acesso à informação de que a principal diferença entre o ser 
humano e os outros animais é a racionalidade, da qual é dotado o primeiro. Foi 
através da capacidade de pensar o mundo, de atribuir significado à realidade, 
que o homem formulou o conhecimento em suas diversas formas. Logo, com a 
sua capacidade de raciocínio, o homem busca entender a si mesmo, a 
sociedade e a natureza, desde o começo da humanidade. Todavia, este 
entendimento do mundo nem sempre foi científico. 
As primeiras tentativas de compreender os fenômenos naturais e sociais 
foram baseadas na fantasia, imaginação e especulação. Deuses e heróis eram 
acionados para explicar e justificar toda ordem de fenômenos – sejam naturais 
ou sociais. Como exemplo maior dessa tentativa de explicar o mundo, temos a 
mitologia grega com seus deuses. Assim, foram os gregos os pioneiros que 
deram formas àquilo que passou a ser chamado de ciência. Foi na Grécia que 
surgiram os primeiros homens com a curiosidade de descobrir os segredos do 
universo. Nas obras de filósofos como Platão e Aristóteles podemos encontrar 
as primeiras sistematizações de ideias sobre a vida do homem em sociedade. 
Contudo, é importante ressaltar que na Idade Média (entre os séculos V 
e XV) a Igreja Católica passou a exercer uma influência grandiosa sobre a 
sociedade, pois não era dada ao homem a permissão de apresentar qualquer 
explicação sobre o mundo, a não ser na perspectiva religiosa. Com isso, todos 
os questionamentos deveriam ser respondidos através da imagem de um 
“Deus” todo poderoso que tudo criava, modificava e explicava. Apenas as 
instituições religiosas – como os mosteiros – podiam dispor do acesso às obras 
sobre o conhecimento da Filosofia, Astronomia, Geometria e Literatura. Entre 
estas existia uma lista proibida chamada Index Librorum Prohibitorum – Índice 
dos Livros Proibidos. 
Segundo a Igreja Católica, estas obras contradiziam seus dogmas, bem 
como as literaturas e conhecimentos científicos que pudessem ser 
considerados heresia, má postura política, moralidade desviada, sexualidade 
 
23 
explícita, entre outros. Dessa forma, o conhecimento ficou por muito tempo 
“retido” nos porões dos mosteiros e muitos corpos arderam em fogueiras por se 
contrapor às explicações religiosas, ou infringirem as normas morais impostas. 
Após a Idade Média, surgiu o Renascimento, período em que os 
fenômenos sociais passaram a ser analisados de forma mais realista, 
sistemática e estrutural. Havia uma sistematização de valores burgueses que 
almejavam a constituição de uma sociedade laica e racionalista. No entanto, 
vivia-se uma fase de desejo por mudanças econômicas, políticas, culturais e de 
grande desenvolvimento científico. Foi no fervilhar desse despontar de ideias 
que surgiu uma ciência nova no século XIX: a Sociologia. 
Contudo, aqui fazemos recorrência à ciência experimental com origem 
advinda do Renascimento e que vem se formando até os dias atuais. Apesar 
dos riscos das tentativas de definição, devemos entender que, neste caso, 
ciência consiste em um método de abordagem do mundo empírico, mundo que 
pode ser visualizado a partir da experiência humana. 
O conhecimento científico somente pode ser compreendido se 
entendermos o que é senso comum. Este último consiste no conhecimento 
adquirido no cotidiano sobre as coisas e causas; ou seja, é toda forma de 
conhecimento não caracterizado pela investigação. Trata-se de um saber que 
não se utiliza de métodos e é formulado por sentimentos, opiniões, traduzindo 
os valores de quem o produz. Logo, o senso comum é um saber não 
sistematizado que guia o homem em suas atividades diárias. 
A partir do que foi citado acima, podemos dizer que do cotidiano surge o 
conhecimento científico, portanto, o senso comum não deve ser rejeitado em 
detrimento da ciência. Por isso, reforçamos a ideia de que é necessário ir além 
do conhecimento comum sobre as questões referentes ao homem e à 
sociedade obtendo assim um saber elaborado, investigativo e controlado por 
métodos e técnicas de pesquisa, mas sem descartar toda experiência 
constituída do senso comum. Nesse sentido, iremos esclarecer conceituações 
básicas sobre esse tipo especial de conhecimento que é o científico. 
 
24 
Uma das principais características do conhecimento científico é a 
utilização sistemática de métodos para analisar os fatos. O uso da palavra 
método vai ser frequente e desde já veremos o que isso significa: método é o 
caminho seguido para alcançar um objetivo. O ato do cientista observar e 
realizar a coleta de dados com base nas suas hipóteses e teorias é 
denominado método indutivo. Movimentos de indução envolvem o movimento 
do particular para o geral. Na abordagem dedutiva, o pesquisador tenta 
procurar afirmações e reivindicações específicas de um princípio teórico geral. 
Método indutivo, ou indução, é o raciocínio que, após considerar um 
número suficiente de casos particulares, conclui uma verdade geral. É 
importante que a enumeração de dados (que correspondem às experiências 
feitas) seja suficiente para permitir a passagem do particular para o geral. A 
indução pressupõe a probabilidade, ou seja, já que tantos se comportam de tal 
forma, é muito provável que todos se comportem assim. 
O resultado dessa situação é que há maior possibilidade de erro nos 
raciocínios indutivos, uma vez que basta encontrarmos uma exceção para 
invalidar a regra geral. Por outro lado, é essa procura do provável que torna 
possível a descoberta e a proposta de novos modos de compreender o mundo. 
Essa é uma das justificativas para que a indução seja o tipo de raciocínio mais 
usado em ciências experimentais. 
É importante saber que existem dois tipos principais de pesquisa em 
Sociologia: o estudo transversal, que visa descobrir as opiniões que os 
participantes da pesquisa têm sobre algum fenômeno em determinado 
momento; e o estudo longitudinal que é realizado no mesmo tipo de pessoas 
durante um longo período de tempo, às vezes de 20 a 30 anos. Este fornece-
nos uma imagem das mudanças ao longo do tempo. 
Geralmente são usados alguns passos para realizar uma pesquisa 
sociológica. Tais passos não são, no entanto, apenas da Sociologia. Também 
devemos ressaltar que esses passos não são fixos. Alguns podem não ser 
seguidos em determinados projetos de pesquisa e outros podem não ser 
seguidos, necessariamente, em ordem sequencial, pois para cada ramificação 
 
25 
do conhecimento, são aplicados métodos diferenciados, haja vista, cada ciência 
possuir um objeto de estudo. Em outras palavras, o objeto da ciência é 
constituído pela realidade que ela se propõe a estudar, por exemplo: a Biologia 
estuda o conjunto de seres vivos e a Sociologia estuda o homem enquanto ser 
social. 
Portanto, podemos entender que se o objeto da Sociologia é o homem 
em sua vida social, o caminho que trilharemos para avaliar este fator será 
diferente do caminho dos cientistas que se interessam pelos fenômenos 
naturais, mas isso irá ser aprofundado mais adiante. O queé necessário saber 
neste momento é que estamos adentrando numa forma de conhecimento 
científico, cujo objeto é o homem em sociedade. E para entender esse 
conhecimento, é necessário compreendermos em que contexto ele surgiu. 
De início e de forma resumida, podemos dizer que a Sociologia é uma 
ciência relativamente nova, nasceu na Europa, no século XIX, com a chegada 
da modernidade. Surgiu após a constituição das ciências naturais e de diversas 
outras ciências sociais. Todavia, não devemos desconsiderar que a curiosidade 
em entender a sociedade data de centenas de anos antes de Cristo com as 
expressões da filosofia sofista que, por exemplo, tinha nos escritos de Platão e 
Aristóteles algumas ideias sobre a concepção do homem vivendo em 
sociedade. Contudo, o estudo científico da sociedade foi instituído no meio 
acadêmico através da Sociologia que se constituiu reclamando para si objeto e 
método específico a fim de diferenciar seus estudos dos que competem às 
ciências da natureza. 
Revisitando a história, podemos lembrar que o século XIX foi palco de 
grandes transformações que vinham acontecendo gradualmente desde séculos 
anteriores. Para pensar a formação de uma ciência social encarregada de 
analisar a sociedade, dois processos revolucionária são frequentemente 
associados à necessidade de fundar a Sociologia: a Revolução Industrial e a 
Revolução Francesa. 
 
 
 
26 
1.1.1 A Revolução Industrial 
 
Durante o século XIX houve a passagem da atividade artesanal, 
passando pela atividade manufatureira até chegar ao mecanismo industrial. A 
partir de 1750, a máquina a vapor e demais máquinas fabris esfumaçavam o 
céu da Inglaterra e, consequentemente, os sistemas de produção passavam 
por um processo de mecanização. 
O sistema de transportes avançou, facilitando a travessia de pessoas e 
mercadorias. Com isso tanto a mecanização da produção como a possibilidade 
de transportar mercadoria num tempo mais curto e com menores custos 
trouxeram modificações não apenas no campo econômico, mas também 
sociocultural. 
Desse modo, a sociedade assistia ao triunfo do capitalismo industrial e 
as cidades europeias, aos poucos, transformavam-se em centros urbanos e 
comerciais que abrigavam grande parcela da população. O empresário passou 
a concentrar terras, máquinas e ferramentas e transformou seres humanos em 
meros trabalhadores necessitados de bens materiais e saberes tradicionais. 
Entretanto, foram estabelecidas relações desiguais de trabalho: homens, 
mulheres e crianças saiam do campo em busca de oportunidades na cidade e 
eram explorados em jornadas de trabalho que, pensadas atualmente, 
poderíamos classificar como “desumanas”. Ou seja, trabalhava-se entre doze e 
dezesseis horas e com a descoberta da iluminação a gás, a jornada de trabalho 
chegou a ser ampliada para dezoito horas, com salários baixos que variavam 
de acordo com sexo e idade, sendo as mulheres e as crianças a parcela de 
trabalhadores mais explorada. Desta forma, aos poucos, as formas de interação 
humana foram alteradas, propiciando o aparecimento de duas classes distintas 
– a burguesia e o proletariado. 
Toda essa modificação no modo de vida dos homens fez com que 
emergissem fenômenos sociais inéditos, tais como: crescimento demográfico 
desordenado por conta do deslocamento em massa da população do campo 
 
27 
para as cidades; falta de estrutura em termos de moradia, saúde e saneamento 
básico; aumento da prostituição e criminalidade; aumento do alcoolismo e 
suicídio. Desta forma, as cidades passavam a serem “epicentros de 
desordenamento” cada vez mais inchados e uma ordem de costumes era 
completamente modificada; como exemplo, citamos a família, tanto no que 
concerne ao status dos membros em relação ao sexo – lembremos que neste 
período predominava um modelo de família patriarcal – quanto às relações 
pessoais entre os membros familiares. Portanto, o esforço para entender tal 
realidade impulsionou os questionamentos que mais tarde iriam consolidar-se 
na Sociologia. 
 
1.1.2 A Revolução Francesa 
 
O mesmo século que assistiu a Revolução Industrial lançada na 
Inglaterra e com alcance mundial, assistiu também a uma série de fatos 
políticos que agitaram a França. O regime absolutista estava estabilizado, tendo 
como particularidade principal a forma concentrada de poder nas mãos do rei 
que era o soberano, o representante maior do homem. Com isso, a população 
do país sofria com os abusos de poder exercidos pela autoridade monárquica 
(o rei). As críticas ao regime absolutista e à desigualdade promovida por este 
foram intensificadas no fim da década de 80 do século XVIII. 
Após uma série de atos contra o autoritarismo monárquico, a população 
composta por membros do terceiro estado (formado pelo campesinato e pela 
burguesia comercial – classe menos favorecida naquele período histórico) 
avança em direção à prisão política da época – Bastilha – destruindo-a. Isso 
ocorreu em julho de 1789, data que marca historicamente a Revolução 
Francesa. 
Com o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, os revolucionários 
tinham como objetivo promover transformações culturais, econômicas e 
políticas através da mudança na estrutura do Estado. Pretendiam derrubar o 
 
28 
regime monárquico e instaurar a democracia; assim o fizeram. Em agosto de 
1789, através da Assembleia Constituinte, o terceiro estado cancelou os 
absurdos direitos feudais e foi proclamada a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão. 
Durante a Revolução Francesa, principalmente, intensificou-se um 
movimento, chamado Iluminismo, iniciado no século XVI. Consistia numa nova 
forma de pensar e entender filosoficamente o mundo. As formas de conceber a 
natureza e a cultura (através do uso sistemático da razão) passaram do 
sobrenatural ao racional, ou seja, o pensamento começava a libertar-se do 
controle teológico e o Teocentrismo deu lugar ao Antropocentrismo. Assim 
sendo, através dessa atitude de dessacralização da natureza, o homem passou 
a trabalhar a racionalidade como objeto científico de pesquisa acreditando que 
pelo uso da razão a humanidade chegaria a um alto patamar de progresso. 
Essas revoluções, somadas a outras de menor visibilidade, marcam a 
transição da Idade Média para a Idade Moderna. A partir delas, os pilares que 
sustentam a modernidade foram construídos e assim o conjunto de 
transformações emergentes precisava ser explicado e entendido pela razão 
humana. O mundo parecia estar em crise e algo precisava ser feito, é nesse 
contexto que surge a ideia de uma ciência para pensar os fenômenos sociais. 
 
1.2 O CONCEITO DE SOCIEDADE 
 
O termo significa associação, união, gregário, ou, simplesmente, vida em 
grupo. O conceito de sociedade refere-se a um agrupamento autônomo de 
pessoas que habitam um território comum, têm uma cultura comum (conjunto 
compartilhado de valores, crenças, costumes e assim por diante) e estão 
ligadas umas às outras através das interações sociais rotineiras, status e 
funções interdependentes. 
 
 
29 
1.2.1 Recursos básicos de uma sociedade 
 
Uma sociedade, em geral, é um agrupamento, relativamente grande, de 
pessoas em termos de tamanho. Ela pode ser considerada o maior e o mais 
complexo grupo social estudado pelos sociólogos. Também é definida como um 
espaço limitado ou território. As populações que compõem uma sociedade são, 
portanto, localizáveis em uma área geográfica. 
Outro recurso básico de uma sociedade corresponde às pessoas. Estas 
apresentam um sentimento de identidade e pertencimento. Essa identidade 
emana do padrão das interações sociais que existem entre as pessoas e os 
diversos grupos que compõem a sociedade. Assim sendo, os membros de uma 
sociedade são considerados portadores de origem e experiências históricas 
comuns. Podem também falar uma língua-mãe ou ter uma língua dominante 
que serve, possivelmente, como uma herançanacional. No entanto, a coisa 
mais importante sobre a sociedade é que seus membros compartilham, 
simultaneamente, uma cultura comum e distinta. Isso é que diferencia os 
grupos populacionais. 
A sociedade é autônoma e independente no sentido de que ela tem 
todas as instituições sociais e arranjos organizacionais necessários para 
sustentar o sistema. No entanto, uma sociedade não é uma ilha no sentido de 
que sociedades são interdependentes, as pessoas interagem socialmente, 
economicamente e politicamente. Portanto, é importante notarmos que as 
características de uma sociedade não são exaustivas e não podem ser 
aplicadas a todas as demais. Por exemplo, o nível de desenvolvimento 
econômico e tecnológico de uma sociedade e seu tipo de economia ou sistema 
de subsistência podem criar algumas variações entre as sociedades no tocante 
às características básicas referidas. 
 
 
 
30 
1.2.2 O conceito de sociedade considerando diversos 
níveis 
 
De modo geral, e considerando um nível abstrato, todos os povos da 
Terra podem ser tidos como sociedade. Eles partilham uma origem comum, 
habitam um mundo comum, têm uma unidade biopsicológica comum, exibem 
interesses, desejos e medos comuns e estão caminhando para um destino 
comum. 
Em outro nível, cada continente pode ser visto como uma sociedade. 
Assim, podemos falar da sociedade europeia, da sociedade africana, da 
sociedade asiática, da sociedade norte-americana e latina. Cada um desses 
continentes compartilha seu próprio território, experiências históricas, cultura e 
assim por diante. Ou seja, cada estado-nação, ou país, é considerado uma 
sociedade, podendo haver grupos etnolinguisticamente distintos de pessoas 
que tenham um território e o consideram como seu. Você sabe como as 
sociedades são classificadas? Vejamos. 
Os sociólogos classificam as sociedades em várias categorias 
dependendo de certos critérios. Um critério é o nível de desenvolvimento 
econômico e tecnológico alcançado pelos países. Assim, os países são 
classificados em: Primeiro Mundo, Segundo Mundo e Terceiro Mundo. Países 
do Primeiro Mundo são aqueles industrialmente avançados e economicamente 
ricos como os EUA, Japão, Grã-Bretanha, França, Itália, Alemanha, Canadá e 
assim por diante. Por outro lado, os países do Segundo Mundo são também 
industrialmente avançados, mas não tanto como a primeira categoria. São 
países detentores de economias emergentes. Atualmente são denominados de 
países em desenvolvimento como China, Rússia, Brasil, Argentina, México e 
Índia. Já as sociedades do Terceiro Mundo correspondem aos países que 
possuem economia subdesenvolvida, ou em desenvolvimento. Alguns autores 
como Küng & Schmidt (2001) e Castells (1999) acrescentam uma quarta 
 
31 
categoria, ou seja, Quarto Mundo. Estes países são considerados os mais 
pobres. 
Quanto ao tipo de sociedade, podemos citar a mais antiga que é a caça, 
a sociedade pastoral e hortícola e sociedades agrícolas. Para melhor 
compreendermos: a sociedade da caça depende da caçada para sua 
sobrevivência, já as sociedades pastorais são aquelas cuja subsistência baseia-
se em pastoreio de animais, tais como gado bovino, camelos, ovinos e 
caprinos. Sociedades hortícolas são aquelas cuja economia baseia-se no 
cultivo de plantas com o uso de ferramentas simples, como a escavação com 
paus, enxadas e machados. A sociedade agrícola é dominante na maior parte 
do mundo; baseia-se na agricultura de grande escala que depende de arados 
usando o trabalho animal. 
A Revolução Industrial que começou na Grã-Bretanha durante o século 
XVIII deu origem ao aparecimento de um quarto tipo de sociedade chamada 
Sociedade Industrial. É aquela em que os bens eram produzidos por máquinas 
movidas a combustível ao invés de animais e energia humana. Por fim, há outro 
tipo de sociedade denominada pós-industrial. Esta é baseada na informação, 
serviços e alta tecnologia, ao invés de matérias-primas e fabricação. 
 
1.3 CONCEITOS DE CULTURA 
 
É importante notar que as pessoas comuns fazem, muitas vezes, mau 
uso do conceito de cultura, isto é, muitas pessoas no mundo ocidental usam o 
termo cultura quando se referem às pessoas que são mais “cultas” do que 
outras. Isso basicamente emana da ideia associada à raiz da palavra cultura: 
Kultura, em alemão refere-se à “cultura”. Assim, quando se diz que alguém é 
“culto” significa dizer que é civilizado. Para sociólogos e antropólogos, a 
cultura inclui muito mais do que requinte, bom gosto, sofisticação, educação e 
valorização das artes plásticas. 
 
32 
O que se percebe é que muitas pessoas passaram a pensar a cultura em 
termos de costumes, música, dança, roupas, joias e penteados. Existem, 
também, pessoas que pensam na cultura associada às coisas materiais do 
passado. De acordo com este ponto de vista, o cultural não pode incluir coisas 
(materiais ou não) que sejam dernas, comuns do dia a dia. Aqui, o comum é 
considerado não cultural ou “menos cultural”. 
O conceito de cultura é um dos mais utilizados na Sociologia. Refere-se 
a todos os modos de vida dos membros de uma sociedade. Ele inclui o vestir, 
seus costumes, vida familiar, arte e padrões de trabalho, cerimônias religiosas, 
atividades de lazer e assim por diante. Este conceito também inclui os bens 
materiais que produzem: arcos e flechas, arados, fábricas e máquinas, 
computadores, livros, edifícios, aviões etc. assim sendo, o conceito de cultura 
foi definido centenas de vezes por sociólogos e antropólogos, enfatizando 
diferentes dimensões. No entanto, na maioria das vezes os estudiosos focaram 
a dimensão simbólica da cultura. Ela está sempre se desenvolvendo, pois é 
influenciada pela maneira de pensar o desenvolvimento do ser humano no 
decorrer dos anos. 
 
1.3.1 Características básicas da cultura 
 
As características da cultura são denominadas em várias culturas. Como 
por exemplo, podemos falar de Cultura orgânica e supraorgânica. É orgânica 
quando consideramos o fato de que não existe uma cultura sem uma sociedade 
humana. É supraorgânica porque vai muito além de qualquer vida individual (os 
indivíduos vêm e vão); a cultura permanece e persiste. 
Podemos falar, também, de cultura aberta e encoberta: é geralmente 
dividida em material e não material. A cultura material consiste de quaisquer 
objetos tangíveis feitos pelos humanos tais como ferramentas, automóveis, 
edifícios etc. A não material corresponde a todos os aspectos não físicos como 
a linguagem, crenças, ideias, conhecimentos, atitudes, valores etc. Acrescenta-
 
33 
se a concepção de cultura explícita e implícita. É explícita quando considera as 
ações que podem ser explicadas e descritas facilmente por aqueles que as 
executam. É implícita quando consideramos as coisas que fazemos sem 
sermos capazes de explicá-las, porém acreditamos que elas sejam assim. 
Existe, também, a definição de cultura ideal e manifesta (real): cultura 
ideal envolve a maneira como as pessoas devem comportar-se ou o que elas 
devem fazer. A cultura manifesta envolve o que as pessoas realmente fazem. 
Outra compreensão importante é a de cultura estável: é estável quando 
consideramos o que as pessoas têm de valor e estão entregando para a 
próxima geração a fim de manter suas normas e valores. No entanto, quando 
uma cultura entra em contato com outras, ela pode mudar, não somente 
através de contato direto ou indireto, mas também através da inovação e 
adaptação às novas circunstâncias. 
Por fim podemos falar de cultura compartilhada e aprendida: é 
propriedade de um grupo social de pessoas (compartilhado). Os indivíduos 
obtêm conhecimento cultural do grupo através da socialização. No entanto, 
devemos notar que as coisas compartilhadas entre as pessoas podem não ser 
culturais, uma vez que existem muitos atributos biológicos que as pessoas 
compartilham entre si. 
 
1.3.2 Elementos da cultura 
 
A culturainclui dentro de si elementos que compõem a essência de uma 
sociedade ou um grupo social. Os mais importantes incluem: símbolos, valores, 
normas e linguagem. É importante uma compreensão, mesmo que introdutória, 
desses elementos para que possamos dialogar com a multiplicidade cultural 
adentrando em sua natureza essencial sempre buscando compreender o 
sujeito e suas ações perante o mundo. Portanto, ao tentarmos compreender a 
cultura é inevitável uma reflexão sobre esses elementos, por assim ser, 
vejamos de forma sintética pontos essenciais de cada elemento. 
 
34 
Os símbolos são os componentes centrais da cultura; referem-se a 
qualquer coisa para as quais as pessoas atribuem significado e usam para 
comunicar-se com os outros. Mais especificamente, os símbolos são palavras, 
objetos, gestos, sons ou imagens que representam algo maior do que eles. 
Acrescenta aos símbolos a linguagem que é definida como um sistema de 
símbolos verbais e, em muitos casos, escritos que podem ser organizados 
juntos para transmitir significados complexos; é a capacidade distintiva dos 
seres humanos e um elemento-chave da cultura. A cultura engloba linguagem e 
através da linguagem ela é comunicada e transmitida. Sem linguagem seria 
impossível desenvolver, elaborar e transmitir cultura para as gerações futuras. 
 Os valores são elementos essenciais da cultura não material. Eles 
podem ser definidos como diretrizes abstratas para nossas vidas, decisões, 
objetivos, escolhas e ações. Além disso, compartilham as ideias de um grupo 
ou de uma sociedade sobre o que é certo ou errado, correto ou incorreto, 
desejável ou indesejável, aceitável ou inaceitável, ético ou antiético etc. 
Os valores são, em geral, roteiros para nossas vidas, são compartilhados 
e aprendidos em grupo. Eles podem ser: positivos ou negativos; dinâmicos, ou 
seja, eles mudam ao longo do tempo; estáticos, o que significa que tendem a 
persistir sem qualquer modificação significativa; diversificados, o que significa 
que variam de lugar para lugar e de cultura para cultura. Contudo, alguns 
valores são universais porque há unidade biopsicológica entre as pessoas em 
todos os lugares e em todos os tempos. 
As normas são elementos essenciais da cultura, ou seja, consistem em 
princípios implícitos para a vida social, relacionamento e interação. Elas são 
regras detalhadas e específicas para situações determinadas. Além disso, nos 
dizem como fazer algo, o que fazer, o que não fazer, quando fazer, por que 
fazer etc. Por serem derivadas dos valores, significa que, para cada norma 
específica, existe um valor geral que determina seu conteúdo. 
As normas fortes são consideradas as leis formais de uma sociedade ou 
grupo. Leis formais são escritas e codificam as normas sociais, ou seja, as 
pessoas não podem agir de acordo com os valores definidos e as normas do 
 
35 
grupo. As normas sociais podem ser divididas em: costumes e 
comportamentos. Costumes são regras importantes, que em geral ocorrem 
automaticamente sem qualquer base de suporte nacional e inspiram-se nos 
costumes passados de geração em geração. Eles não são impostos por lei, 
mas por controle social informal e sua violação não é gravemente sancionada. 
Já o comportamento é regido por convenções, isto é, regras estabelecidas e 
geralmente aceitas pela sociedade. Alguns comportamentos excepcionais são 
considerados excêntricos. 
Essas, de forma resumida, são definições que nos apresentam os 
elementos da cultura nos fazendo compreender que cada cultura traz em si 
uma riqueza de definições conceituais que atribuem valor e características 
próprias a cada grupo social. É por isso que se pode falar de variabilidade 
cultural, isto é, à diversidade de culturas nas sociedades e lugares. 
Como existem diferentes sociedades, existem diferentes culturas. A 
diversidade de cultura humana é notável. Valores e normas de comportamento 
variam muito de cultura para cultura, muitas vezes contrastando de forma 
radical. Por exemplo, os judeus não comem carne de porco, enquanto os 
hindus sim, mas evitam carne de gado. Se considerarmos sociedades como a 
Etiópia e a Índia, notamos que há entre elas grandes diversidades culturais. Por 
outro lado, dentro de ambas as sociedades, há também uma notável 
variabilidade cultural. Nós usamos o conceito de subcultura para chamar a 
variabilidade da cultura dentro de determinada sociedade. Subcultura é uma 
cultura distinta partilhada por um grupo dentro de uma sociedade. 
 
1.3.3 Etnocentrismo, relativismo cultural e choque 
cultural 
 
Nós, muitas vezes, tendemos a julgar outras culturas comparando-as 
com a nossa, entretanto não é logicamente apropriado subestimar, ou julgar, 
 
36 
outras culturas baseando-se em um padrão. O Etnocentrismo, em geral, é a 
atitude de tornar a sua própria cultura e modos de vida como os melhores, o 
seja, é a tendência em aplicar os próprios valores culturais a fim de julgar o 
comportamento e as crenças de pessoas de outras culturas. As pessoas 
consideram um comportamento diferente como estranho ou selvagem. 
No Relativismo Cultural cada sociedade tem sua própria cultura, que é 
mais ou menos única. Cada cultura possui seu padrão único de comportamento 
que pode parecer estranho para as pessoas de outras origens culturais. 
Todavia, nós não podemos compreender suas práticas e crenças 
separadamente da cultura mais ampla da qual faz parte. A cultura tem que ser 
estudada em termos de seus próprios significados e valores. 
O relativismo cultural descreve uma situação em que existe uma atitude 
de respeito às diferenças culturais em vez de condenar a cultura de outras 
pessoas como não civilizada ou atrasada. Assim sendo, o respeito pelas 
diferenças culturais envolve: 1) valorizar a diversidade cultural; 2) aceitar e 
respeitar outras culturas, tentar entender cada cultura e seus elementos em 
termos do seu próprio contexto e lógica; 3) aceitar que cada costume tem uma 
dignidade e significado inerente às formas de vida de um grupo que trabalha 
num determinado meio ambiente para satisfazer as necessidades biológicas 
dos seus membros e as relações grupais; 4) saber que a cultura própria de uma 
pessoa é apenas uma entre muitas; 5) reconhecer o que é imoral, ético e 
aceitável numa cultura. 
Além disso, o relativismo cultural pode ser considerado o oposto do 
etnocentrismo. Contudo, há algum problema com o argumento de que o 
comportamento de determinada cultura não deve ser julgado pelos padrões do 
outro. Isso ocorre porque considerando uma situação extrema, é possível 
afirmar, por exemplo, que não existe um limite superior no que se refere à 
moralidade em termos internacional ou universal. Portanto, o choque cultural é 
o psicológico e social desajuste no nível micro ou macro que é experimentado 
pela primeira vez quando as pessoas encontram novos elementos culturais, 
como coisas novas, ideias, conceitos, crenças e práticas aparentemente 
estranhas. 
 
37 
Nenhuma pessoa está protegida de um choque cultural. No entanto, 
indivíduos variam em sua capacidade de adaptar-se e superar a influência do 
choque cultural. Pessoas altamente etnocêntricas estão mais suscetíveis. Por 
outro lado, os relativistas culturais podem achar que é fácil adaptar-se a novas 
situações e superar o choque cultural. 
 
1.4 SOCIALIZAÇÃO 
 
A socialização é um processo através do qual as pessoas aprendem e 
são treinadas nas normas básicas, valores, crenças, habilidades, atitudes, 
modos de fazer e agir de acordo com um grupo social ou sociedade específica. 
O indivíduo passa por várias fases de socialização, desde o nascimento até a 
morte. Assim, precisamos de socialização enquanto crianças, adolescentes, 
adultos e idosos, haja vista que, do ponto de vista das pessoas individuais, 
especialmente um bebê recém-nascido, a socialização é um processo pelo qual 
um ser biológico ou organismo é transformadoem um bem-estar social. 
Em termos de grupo, sociedade ou qualquer organização profissional, a 
socialização é um processo pelo qual as organizações, grupos sociais, a 
estrutura da sociedade e o bem-estar são mantidos e sustentados. É o 
processo em que a cultura, as habilidades, as normas, as tradições, os 
costumes etc., são transmitidos de geração em geração – ou de uma sociedade 
para outra. Assim sendo, socialização pode ser formal ou informal: torna-se 
formal quando é conduzida por grupos e instituições sociais formalmente 
organizados, como escolas, centros religiosos, universidades, meios de 
comunicação, locais de trabalho etc. É informal quando é realizada através de 
interações interpessoais ou interações informais em pequenos grupos sociais. 
A socialização mais importante para nós é a que temos através de 
agentes informais como a família, pais, vizinhança e influências do grupo de 
pares. Ela tem uma influência muito poderosa, negativa ou positiva, em nossas 
 
38 
vidas. É mediante a isso que o processo de socialização, seja ele formal ou 
informal, é de vital importância para os indivíduos e sociedade. Sem algum tipo 
de socialização, a sociedade deixaria de existir. A socialização, portanto, pode 
ser rotulada como a maneira pela qual a cultura é transmitida e os indivíduos 
são instalados de acordo com os seus modos de vida. 
 
 1.4.1 As metas, padrões e principais tipos de 
socialização 
 
Em termos de pessoas individuais, o objetivo da socialização é equipar o 
indivíduo com os valores básicos, as normas, as competências etc., de modo 
que elas se comportem e atuem corretamente no grupo social ao qual 
pertencem. Com isso, a socialização tem os seguintes objetivos: incutir 
aspirações; ensinar papéis sociais; ensinar habilidades; ensinar conformidade 
com as normas e construir as identidades pessoais. 
Apesar da importância da inculcação de valores e normas no processo 
de integração social, precisamos observar também que os valores sociais não 
são igualmente absorvidos por todos os membros de uma sociedade ou grupo. 
A integradora função de socialização também não é igualmente benéfica para 
todas as pessoas. Por isso, nos deparamos com os padrões de socialização, 
são eles: a socialização repressiva e socialização participativa. Socialização 
repressiva é orientada para ganhar a obediência, enquanto a socialização 
participativa é orientada para ganhar a participação da criança. 
Acrescentamos aqui que existem diferentes tipos de socialização: 
tradicionais que diz respeito à socialização primária ou socialização na infância, 
que é também chamada de socialização básica ou precoce. Os termos 
“primário”, “base” ou “cedo” significam a importância do período da infância 
para a socialização. Muito da personalidade dos indivíduos é forjada neste 
período da vida. Socialização nesta fase da vida é um marco, sem ela, 
 
39 
estaríamos longe de nos tornarmos seres sociais. Por isso, as crianças devem 
ser devidamente socializadas desde o nascimento até cinco anos de idade, 
haja vista este período ser básico e crucial. Uma criança que não seja 
apropriadamente socializada nesta fase provavelmente será deficiente no 
âmbito do desenvolvimento social, moral, intelectual e de personalidade. 
Dando prosseguimento, temos a socialização secundária ou socialização 
na idade adulta, que também podemos chamar de dessocialização e 
ressocialização; socialização antecipatória e socialização reversa. A 
socialização secundária, ou socialização na idade adulta, é necessária quando 
o indivíduo assume novos papéis, reorientando-se de acordo com sua 
mudança, status e papéis sociais, como quando inicia a vida matrimonial. O 
processo de socialização nesta fase pode, às vezes, ser intenso. Por exemplo, 
os licenciados que entram no mundo do trabalho para começar seu primeiro 
posto de trabalho têm novos papéis a serem executados. A socialização de 
adultos pode também ocorrer entre imigrantes. Quando eles vão para outros 
países, precisam aprender a língua, valores, normas e uma série de outros 
costumes. 
Na vida dos indivíduos que passam por diferentes estágios e 
experiências não existe a necessidade de ressocialização e dessocialização. 
Ressocialização significa a adoção, por parte dos adultos, de estilos de vida 
radicalmente diferentes e que são mais ou menos diferentes com as normas e 
os valores anteriores. São alterações rápidas e básicas na vida adulta. A 
mudança pode exigir o abandono de um estilo de vida por outro, 
completamente diferente e incompatível com o primeiro. 
A dessocialização acontece frequentemente quando nas sociedades 
modernas, e na vida adulta, exige-se dos indivíduos transições nítidas e 
mudanças. Ela normalmente precede a ressocialização. Refere-se a indivíduos 
que mudaram seus estilos de vida, crenças, valores e atitudes e passaram a 
ocupar novos estilos, parcial ou totalmente, a fim de tornar-se parte do novo 
grupo social. Portanto, dessocialização e ressocialização ocorrem 
frequentemente no que é chamado de instituições totais, o que inclui, por 
exemplo: hospitais psiquiátricos, prisões e unidades militares. Em cada caso, as 
 
40 
pessoas que se juntam à nova definição têm que primeiro ser dessocializadas 
antes de serem ressocializadas. 
Ressocialização também pode significar socialização dos indivíduos 
novamente em seus valores e normas anteriores, depois de reunir seus antigos 
modos de vida, gastando relativamente longo período de tempo em instituições. 
Isso ocorre porque eles podem ter esquecido a maior parte dos valores básicos 
e habilidades do ex- grupo ou sociedade. Esse tipo de ressocialização também 
pode ser considerado como a reintegração, ajudar os ex-membros da 
comunidade a renovar seus antigos modos de vida, habilidades, conhecimentos 
etc. 
Sobre a socialização antecipatória esta se refere ao processo de ajuste e 
adaptação em que os indivíduos tentam aprender e internalizar os papéis, 
valores, atitudes e habilidades de um social ou profissão para a qual são 
prováveis recrutas no futuro. Eles fazem isso antecipando a socialização 
próxima na vida real. Já a socialização reversa está associada ao fato da 
socialização ser um processo de mão dupla. Ela envolve as influências e 
pressões das socializações que direta, ou indiretamente, induzem a mudar 
atitudes e comportamentos dos próprios socializadores. Assim sendo, na 
socialização reversa, as crianças, por exemplo, podem socializar seus pais em 
alguns papéis, habilidades e atitudes que faltam a estes. 
Em meio a esses debates ainda é necessário que também se discuta 
sobre os agentes de socialização que são os diferentes grupos de pessoas e 
arranjos institucionais responsáveis pelo treinamento de novos membros da 
sociedade. Alguns deles poderão ser formais, enquanto outros são informais. 
Eles ajudam os membros a entrar nas atividades gerais da sua sociedade. 
Algumas das agências de socialização são: a família, relacionamentos com 
seus pares, escolas, bairros (da comunidade), a massa da mídia etc. 
A instituição família é geralmente considerada o mais importante agente 
de socialização. No processo de socialização, os contatos mais importantes 
ocorrem entre uma criança, seus pais e irmãos. Os contatos também poderiam 
 
41 
ser entre a criança e os pais substitutos quando os pais reais não estão 
disponíveis. 
Além dos pais, há outros agentes de socialização (em sociedades 
modernas), como creches-centros, creches e infância, escolas e universidades. 
Parece que esses vários agentes de socialização assumiram parcialmente a 
função dos pais, particularmente nas sociedades modernas, na qual as 
mulheres estão cada vez mais deixando a sua tradicional responsabilidade 
domiciliar para exercer uma atividade fora de casa. 
Além de pais e escolas, grupos de pares são muito importantes no 
processo de socialização. Às vezes, a influência dogrupo de pares pode ser 
negativa ou positiva, e ser tão poderosa como a dos pais. Os grupos de pares 
(grupo de amigos) podem transmitir valores sociais vigentes ou desenvolver 
novas e distintas culturas próprias, com valores peculiares. Os meios de 
comunicação de massa como televisão, rádio, cinema, vídeos, fitas, livros, 
revistas e jornais são também importantes agentes de socialização. 
 
1.4.2 Múltiplas e contraditórias influências de 
socialização 
 
Até agora, o quadro de socialização apresentado pode parecer inclinado 
para uma visão funcionalista e estrutural da sociedade e de socialização. 
Assim, seria útil adicionar algumas ideias que podem ajudar a equilibrar a 
imagem. Numa conceituação crítica de socialização, influências contraditórias e 
ambíguas precisam ser destacadas. 
Se tomarmos o exemplo do consumo de álcool e tabaco veremos que há 
processos subjacentes e contraditórios de socialização por trás desse 
fenômeno. Influências conflitantes surgem quando, por um lado, as famílias, 
escolas e instituições médicas advertem os jovens para não consumirem estes 
produtos e, por outro lado, as empresas que produzem esses produtos estão 
 
42 
travando uma guerra para vendê-los aos jovens através da atração e da 
propaganda. 
Este exemplo nos mostra que, muitas vezes, mensagens conflitantes 
competem a partir das várias fontes de socialização. As empresas 
internacionais promovem a cultura do consumismo com o auxílio dos meios de 
comunicação global. Estes tendem a desempenhar papéis dominantes na 
influência das atitudes e estilos de vida dos jovens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
CORRENTES SOCIOLÓGICAS 
 
 
 
Conhecimento 
Compreender os pressupostos das correntes sociológicas. 
 
Habilidades 
Analisar a sociedade atual a partir das ideias propostas pelas correntes 
sociológicas. 
 
Atitudes 
Desenvolver a percepção das diferentes posturas teóricas face à mesma 
realidade social.
 
45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
2.1 A CONTRIBUIÇÃO DE AUGUSTE COMTE 
 
.A Sociologia oportuniza diferentes estudos e caminhos para a 
explicação da realidade social, não se constituindo enquanto ciência de apenas 
uma orientação teórica e metodológica dominante. Atendendo ao que foi 
afirmado, observamos na Sociologia três linhas principais: a positivista-
funcionalista, de Auguste Comte e Durkheim; a sociologia compreensiva 
iniciada por Max Weber e a linha de explicação sociológica dialética iniciada 
por Karl Marx. 
Comte idealizou uma Sociologia de inspiração positivista, a qual 
considera que a sociedade destina-se inevitavelmente ao progresso, todavia, 
este deve vir junto com a ordem nas instituições sociais: família, escola, 
empresa, religião e estado. A ordem é indispensável para manter o equilíbrio 
social. Nesse sentido a Sociologia deve abster-se de qualquer discussão crítica 
sobre a realidade existente. 
Para compreendermos a extensão do raciocínio positivista, é importante 
lembrar que, de acordo com Comte, nessa época a Europa passava por uma 
crise econômica e social, resultante de uma nova forma de pensar a natureza e 
a sociedade. Tal forma desenvolveu-se a partir do século XV em resultado do 
conflito histórico entre a antiga ordem feudal e a nova ordem capitalista. 
Para Comte, a desordem e a anarquia dominavam devido aos princípios 
metafísicos e teológicos do passado não poderem mais ajustar-se à sociedade 
em transformação acelerada. Para superar esse estado, Comte propõe a 
construção de uma nova ordem social por intermédio da reforma intelectual do 
homem cujo fundamento é o uso da razão. Por assim ser, surge a sociologia ou 
“física social”, que se propõe reformar a prática das instituições sociais através 
da análise de seus processos e estruturas. 
A Sociologia representa, para Comte, o apogeu da evolução do 
conhecimento, recorrendo aos mesmos métodos de outras ciências, pois todas 
elas procuram conhecer os fenômenos constantes e repetitivos da natureza. A 
 
47 
Sociologia, assim como as ciências naturais, deve procurar a reconciliação 
entre os aspectos estáticos e os dinâmicos do mundo natural, o que, em 
termos da sociedade humana, significa entre a ordem e o progresso. Portanto, 
a ciência deveria ser um instrumento para a análise da sociedade no sentido de 
torná-la melhor; o mesmo é dizer que o conhecimento deve existir para fazer 
previsões do que acontecerá e também para dar a solução dos possíveis 
problemas que possam existir. 
O Positivismo de Comte procura encontrar uma forma de estudar a 
sociedade de modo que essa pesquisa ofereça credibilidade na busca de 
respostas consideradas essenciais para a mudança social em diversos 
âmbitos, tais como: a organização da sociedade, o comportamento dos 
indivíduos e das instituições; a necessidade de regras e de normas; o 
planejamento de uma sociedade equilibrada e a resolução de conflitos. Para 
isso, defende uma unidade metodológica regida por leis invariáveis, cujos 
fundamentos para a investigação partem da análise da sociedade baseada nas 
ciências naturais. Como um organismo, a sociedade deve ser estudada em 
duas dimensões: a que Comte designa por estática social (análise de suas 
condições de existência; de sua ordem) e a da dinâmica social (análise de seu 
movimento; de seu progresso). 
Para o autor, ordem e progresso relacionam-se estreitamente. A 
sociedade evolui com base em dois movimentos, buscando a ordem e o 
progresso: o primeiro movimento propõe a evolução das sociedades de modo 
linear, das sociedades mais simples para as mais complexas, das menos 
avançadas às mais evoluídas; já o segundo movimento procura adequar os 
indivíduos às condições estabelecidas para garantir o melhor funcionamento da 
sociedade, o bem-comum e os anseios da maioria da população. Com isso, 
segundo Costa (1997), os conflitos, as contradições e as revoltas devem ser 
contidas, se tais movimentos colocarem em risco a ordem estabelecida ou 
inibirem o progresso. 
A concepção de uma evolução linear das sociedades influenciou a 
perspectiva etnocêntrica dos antropólogos dos séculos XIX e XX que 
consideravam atrasadas e inferiores as sociedades diferentes das sociedades 
 
48 
europeias. Essa proposta eurocêntrica foi reforçada pela ideia de Comte. Este 
considera que, na sua evolução, as concepções intelectuais da humanidade 
envolvem três estágios que se excluem mutuamente, são eles: o estágio 
teológico que representa o ponto de partida necessário à inteligência humana 
na qual o pensamento sobre o mundo é dominado pelas considerações do 
sobrenatural. No segundo estágio temos a metafisica que predomina o 
pensamento filosófico sobre a essência dos fenômenos e o desenvolvimento 
da matemática e da lógica, servindo de transição para o estágio positivo. Por 
fim, o estágio positivo que, de acordo com Comte, apresenta-se fixo e definitivo 
e nele o conhecimento passa a ter utilidade prática porque se baseia na 
ciência, ou seja, na observação cuidadosa dos fatos empíricos. 
Na compreensão de Comte, o progresso do conhecimento do homem 
aconteceu de acordo com o positivismo, haja vista, o homem se encontrar 
liberto de concepções abstratas ou divinas na orientação de sua compreensão 
de mundo que se torna, agora, mais clara e sistemática sendo possível ter 
concretude perante o objeto de sua investigação. Para entender essa postura 
vamos expor, ainda mais, os três estágios anunciados por Comte. 
O estado teológico explica os diversos fenômenos por meio de causas 
primeiras, em geral personificadas nos deuses. Subdivide-se em: a) fetichismo: 
o homem confere vida, ação e poder sobrenaturais a seres inanimados e a 
animais. b) politeísmo: quando se desenvolve a crença em mais de um Deus. 
c) Monoteísmo: quando se desenvolve a crençaem um Deus único. Por 
conseguinte, no estado metafisico as causas primeiras são substituídas por 
causas mais gerais - as entidades metafísicas -, buscando nessas entidades 
abstratas (ideias) explicações sobre a natureza das coisas e a causa dos 
acontecimentos. E por fim, em seu entendimento perante o contexto de sua 
época, o estado positivo é aquele momento de evolução em que o homem 
tenta compreender as relações entre as coisas e os acontecimentos por meio 
da observação científica e do raciocínio formulando leis. 
Era um posicionamento de caráter evolucionista, o qual acreditava que a 
sociedade passaria por uma sucessão de estágios menos evoluídos aos mais 
evoluídos, chegando à “perfeição” através do industrialismo e da ciência. Estes 
 
49 
seriam os propulsores de uma ordem encaminhada ao progresso social. Tais 
ideias exerceram influência por todos os lugares do mundo, inclusive na 
formação da república brasileira que adotou em sua bandeira nacional a 
máxima positivista “Ordem e Progresso”. 
O positivismo não admite outra realidade a não ser os fatos passíveis de 
observação. Constitui, portanto, tarefa do cientista social descobrir as relações 
entre os fatos, por intermédio de instrumentos específicos, na busca da 
objetividade científica. Não são consideradas de interesse as causas dos 
fenômenos, nem o conhecimento das suas consequências porque isso não é 
considerado tarefa da ciência. Como forma de aproximar as Ciências Sociais 
do modelo mecanicista, as pesquisas de orientação positivista assumem uma 
postura de neutralidade diante do objeto da pesquisa e de seus resultados. 
Além disso, tais pesquisas buscam a quantificação e repudiam a 
pesquisa qualitativa. Os dados empíricos são coletados e trabalhados com 
objetividade e neutralidade. A partir de um referencial teórico, o pesquisador 
levanta hipóteses e procura a sua comprovação, os dados são processados 
quantitativamente. Mediante a isso Comte defende que o pesquisador não 
pode estar simultaneamente na janela e vendo-se passar na rua, assim como 
no teatro, não se pode ser, ao mesmo tempo, ator no palco e espectador 
sentado na poltrona. Nesse sentido, para evitar a influência do subjetivo, o 
cientista deve manter-se neutro com relação ao seu objeto de pesquisa. 
Portanto, o pesquisador não deve manter qualquer tipo de relacionamento ou 
proximidade com os indivíduos que estão sendo observados. 
A Sociologia de Comte não saiu do plano das ideias. Não houve uma 
viabilização desta por parte do autor, porém, os primeiros sociólogos 
inspiraram-se em sua filosofia positivista. A Sociologia existia como um 
embrião que ainda não gozava de reputação científica e foi através de Émile 
Durkheim que ela, finalmente, foi institucionalizada no meio acadêmico. 
 
 
 
50 
2.2 CONTRIBUIÇÕES DE ÉMILE DURKHEIM 
 
Émile Durkheim é o mais importante precursor do funcionalismo. Ele 
concebe a sociedade semelhante a um organismo vivo, cujos órgãos 
funcionam de maneira interdependente para manter sua sobrevivência e 
equilíbrio. Cada parte existe em função do todo. Quando um órgão fica doente, 
todo o corpo sofre as consequências. 
Durkheim compara a sociedade ao modelo de funcionamento de um 
organismo vivo como, por exemplo, o corpo humano. Assim devemos, 
primeiramente, compreender o funcionamento deste organismo humano. Cada 
um de nós é constituído por uma unidade com diferentes partes que, juntas, 
funcionam de forma harmoniosa no que diz respeito à nossa saúde. Basta um 
órgão deixar de funcionar, ou funcionar parcialmente, para termos esta saúde 
afetada. Se perdermos o rim ou ele não funcionar corretamente, logo 
sofreremos com os sintomas que podem ir desde a administração de uma 
medicação até o caso de hemodiálise ou morte. Desse modo funciona o corpo 
humano, cada parte desempenha funções específicas: rins, coração, fígado, 
pulmões e assim por diante. 
No entanto, cada órgão do corpo humano trabalha de forma 
independente e complementar para o bom funcionamento do todo. Usando um 
pensamento simplório, afirmar-se-ia que o todo é a soma das partes, mas se 
montarmos um quebra-cabeça ou tivermos peças diferentes para montar uma 
bicicleta, o resultado final apresentará características não contidas nas peças 
do quebra-cabeça que se transformou em uma bela paisagem ou nas peças do 
que se tornou uma bicicleta. Daí, concluímos que o “todo” tem qualidades que 
as partes não têm. A ideia de totalidade pressupõe que as partes não como um 
todo estejam somente amontoadas umas ao lado das outras, mas que haja 
diferença, integração, interdependência e complementaridade entre elas. 
Assim decorre o funcionamento da sociedade para Durkheim, o todo 
prevalece sobre as partes, isto é, o coletivo prevalece sobre o indivíduo. Neste 
sentido, as partes (os fatos sociais) existem em função do todo (a sociedade); o 
 
51 
mesmo é dizer que os indivíduos agem de acordo com o coletivo. É assim que 
a ligação entre as partes e o todo é assegurada pela função social, o que pode 
ser associado ao fato de cada instituição cumprir um papel para o bom 
desempenho da sociedade. Portanto, a sociedade busca manter seu equilíbrio 
e coesão por meio das instituições e das interações sociais. 
Para Durkheim, a sociedade é um conjunto de normas coletivas, 
pensamento e sentimento que não existem apenas na consciência dos 
indivíduos, mas que são construídos exteriormente, isto é, fora das 
consciências individuais. Os homens em sociedade defrontam-se com regras 
de conduta, regras essas conhecidas por leis, códigos, decretos, constituições. 
É por isso que no funcionalismo destaca-se a concepção de fato social, 
entendido enquanto conjunto de regras e normas coletivas permanentes, ou 
não, que orientam a vida dos indivíduos em sociedade, exercendo alguma 
forma de coerção externa ao indivíduo. Neste sentido, os fatos sociais estão 
associados às maneiras padronizadas como o indivíduo age na sociedade, por 
exemplo: o modo de agir, de vestir-se, a língua, o sistema monetário, a religião, 
as leis. 
Durkheim propõe também uma reflexão sobre os fatos sociais que 
cumprem uma função integradora [fatos sociais normais]; defende que tais 
fatos sociais fragilizam os grupos sociais em virtude de os desagregarem [fatos 
sociais patológicos]. Quando numa sociedade prevalecem os fatos sociais 
normais, esta se encontra em estado de integração, ordem e harmonia. Mas se 
os fatos sociais patológicos estão em destaque, a sociedade encontra-se em 
crise, apelidada pelo autor de anomia (estado social na ausência de normas). 
Para o funcionalismo, a tarefa da Sociologia é estudar os fatos sociais 
construídos pelo conjunto da sociedade (exteriores); estes são coercitivos 
(normativos) e gerais (coletivos) e por isso são independentes da escolha 
pessoal, subjetiva ou consciente dos indivíduos isoladamente. O conhecimento 
individual representa a capacidade de compreensão e de interiorização da 
realidade ou da cultura socialmente construída. Isso somente é possível porque 
o que o sujeito sente, pensa e faz depende do conjunto de valores, crenças, 
 
52 
dados ou leis exteriores a ele que lhe servem de parâmetro e com os quais foi 
educado no grupo social em que nasceu. 
Para conhecer mais sobre conceitos de fatos sociais, propomos a leitura 
de um trecho adaptado do livro “As regras do método sociológico” de Émile 
Durkheim (1987): Chegamos assim a compreender, de maneira precisa, o 
domínio da Sociologia, o qual engloba um grupo determinado de fenômenos. O 
fato social é identificável pelo poder de pressão externa que tem ou é apto a 
fazer sobre os sujeitos. A presença deste poder é identificável, por sua vez, 
seja pela existência de alguma penalidade pré-definida, seja pela oposição que 
o fato opõe a qualquer iniciativa individual que procure violentá-lo. Todavia, 
podemos defini-lo também pela difusão que apresenta no interior

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