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2 Talita Silva Bezerra Francisco Stenio Nogueira Júnior João José Saraiva da Fonseca SOCIOLOGIA 2ª edição Revisada e atualizada EGUS SOBRAL 2021 4 INTA - Instituto Superior de Teologia Aplicada PRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica Diretor-Presidente Oscar Rodrigues Júnior Pró-Diretor de Inovação Pedagógica João José Saraiva da Fonseca Coordenadora Pedagógica e de Avaliação Sonia Maria Henrique Pereira da Fonseca Assessor de Gestão Administrativo Éder Jacques Porfírio Farias Multimídia Impressa e Audiovisual Cícero Romário Lima Rodrigues Francisco Sidney Souza de Almeida Juliardy Rodrigues de Sousa Lee Aguiar Frota Araújo Luis Carlos de Souza Lima Manutenção e Suporte do Ambiente Virtual de Aprendizagem Rhomélio Anderson Sousa Albuquerque Equipe de Transposição Didática e Modelagem Pedagógica Anaisa Alves de Moura Evaneide Dourado Martins Licilange Gomes Alves Sonia Maria Henrique Pereira da Fonseca Produção e Desenvolvimento de Softwares para Aprendizagem em Ead Anderson Barbosa Rodrigues André Alves Bezerra Luís Neylor da Silva Oliveira CIP - Catalogação na Publicação Ficha Catalográfica Elaborada Pela Biblioteca Central Prof. Dr. Manfredo Araújo de Oliveira do Instituto Superior De Teologia Aplicada- Faculdades INTA B574f Bezerra, Talita Silva. Fundamentos básicos de sociologia./ Talita Silva Bezerra, Francisco Stenio Nogueira Júnior, João José da Fonseca. – Sobral, CE, 2013.101f. Inclui Bibliografia ISBN 978-85-61760-68-7 1. Sociologia. 2. Correntes Sociológicas. 3. Sociologia - Globalização. 4. PRODIPE. I. Título. CDD 301 SUMÁRIO 1. SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E SEUS OBJETIVOS......................................... 19 1.1 A ciência como forma específica do conhecimento.................................................. 22 1.1.1 A Revolução Industrial........................................................................................... 26 1.1.2 A Revolução Francesa........................................................................................... 27 1.2 O conceito de sociedade.......................................................................................... 28 1.2.1 Recursos básicos de uma sociedade................................................................... 29 1.2.2 O conceito de sociedade considerando diversos níveis........................................ 30 1.3 O conceito de cultura................................................................................................ 31 1.3.1 Características básicas da cultura......................................................................... 32 1.3.2 Elementos da cultura............................................................................................. 33 1.3.3 Etnocentrismo, relativismo cultural e choque cultural............................................ 35 1.4 Socialização.............................................................................................................. 37 1.4.1 As metas, padrões e principais tipos de socialização............................................ 38 1.4.2 Múltiplas e contraditórias influências de socialização............................................ 41 2. CORRENTES SOCIOLÓGICAS................................................................................ 44 2.1 A contribuição de Auguste Comte............................................................................ 46 2.2 Contribuições de Émile Durkheim............................................................................. 50 2.2.1 O objeto de estudos da Sociologia........................................................................ 54 2.2.2 Método de estudo: a coisificação do fato social.................................................... 56 2.3 Contribuições de Max Weber................................................................................... 58 2.3.1 Como o cientista deve tratar o objeto de estudo sociológico................................. 62 2.3.2 O tipo ideal: um instrumento de pesquisa do saber sociológico............................ 63 2.3.3 A Ética protestante e o espírito do capitalismo...................................................... 65 2.4 As contribuições de Karl Max.................................................................................. 66 2.4.1 Alguns conceitos básicos: exploração, expropriação, ideologia, alienação.......... 69 2.5 As contribuições de Louis Althusser......................................................................... 72 2.6 As contribuições de Pierre Bourdieu......................................................................... 73 3. SOCIOLOGIA: CONCEITOS E DISCIPLINAS AGREGADAS.................................. 76 3.1 Disciplinas agregadas............................................................................................... 78 3.2 Conceitos e estrutura social...................................................................................... 79 3.2.1 Status e papéis...................................................................................................... 79 3.2.2 Relações sociais e grupo social............................................................................. 80 3.2.3 Instituições sociais e organizações formais........................................................... 81 4. ABORDAGEM TEMÁTICA DA SOCIOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO......................... 84 4.1 Globalização............................................................................................................. 86 Leitura obrigatória........................................................................................................ 96 Saiba mais..................................................................................................................... 97 Revisando..................................................................................................................... 98 Autoavaliação............................................................................................................... 103 Bibliografia.................................................................................................................... 105 Referências da Web ..................................................................................................... 107 7 8 Palavra do Professor-Autor Caro estudante, A vida do homem em sociedade tem sido questionada desde a Antiguidade. As primeiras tentativas de explicar a ação humana foram interpretadas pelas naturezas teológica ou mitológica. A Sociologia surge no século XIX, no contexto da consolidação da sociedade capitalista e enquanto resultado de um contexto histórico que abrange um vasto conjunto de acontecimentos de natureza política, econômica, filosófica, científica, religiosa e artística, ocorridos ao longo dos séculos. Ela, a Sociologia, é o resultado do esforço de um diversificado grupo de pensadores que procuraram compreender as novas realidades da vida social do ocidente, em curso na época. No entanto, a Sociologia não considera o indivíduo objeto de observação. Enquanto ciência do social, ela se interessa pelo sujeito na medida em que este interage com os demais, constituindo-se, dessa forma, um fato social. Os autores. 9 Autores Talita Silva Bezerra Mestra em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará- UFC, bolsista CNPq. Tem experiência na área de Sociologia e Antropologia, com ênfase em Sociologia da Juventude, Sociologia Rural, Cidade e Práticas Culturais, atuando principalmente nos seguintes temas: mobilidade e processosde subjetivação, sociologia rural, grupos de idade e formas de sociabilidade. Atualmente é membro do Grupo de Pesquisa sobre Cultura Juvenil (GEPECJU - UVA/CE) vinculado ao Diretório dos Grupos de Pesquisas do CNPq, professora da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA e da Faculdade Luciano Feijão - FLF. Francisco Stenio Nogueira Júnior Possui graduação em Ciências Sociais (Licenciatura) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (2011). Participou do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Tem experiência nas áreas de Antropologia e Sociologia. João José Saraiva da Fonseca É Pós-Doutor em Educação pela Universidade de Aveiro em Portugal, Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2008), Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Católica Portuguesa - Lisboa (1999) (validado no Brasil pela Universidade Federal do Ceará), Especialista em Educação Multicultural pela Universidade Católica Portuguesa - Lisboa (1994). Graduou-se em Ensino de Matemática e Ciências pela Escola Superior de Educação de Lisboa (validado no Brasil pela Universidade Estadual do Ceará). É pesquisador na área da produção de conteúdo para educação a distância. Atualmente desempenha a função de Pró-Diretor de Inovação Pedagógica das Faculdades INTA - Sobral CE. 10 Ambientação da disciplina A Sociologia é uma ciência que estuda a sociedade, sua organização social e os processos que ligam os indivíduos aos grupos. A sociedade atual exige que o indivíduo tenha acesso às questões sociais para exercer, com consciência e responsabilidade, a cidadania. O homem, ao nascer, adquire a natureza social através da interação com outros seres humanos e desenvolve sua personalidade e cultura, pois a família é que inicia o processo de socialização e permite que seus membros adquiram personalidade. Esse processo, posteriormente, irá ajudá-lo a conviver em grupo. Prezado estudante, com a intenção de aprofundar seus conhecimentos sobre a Sociologia, convidamos você à leitura da obra Sociologia: Consensos e Conflitos, da autora Rita de Cássia da Silva Oliveira (Org). Destinado aos acadêmicos das licenciaturas, o primeiro livro recomendado discute conceitos da Sociologia e temas relevantes da realidade social, entre os quais destacamos: a formação do ser social, cultura e sociedade, a ideologia na concepção marxista, movimentos sociais, Estado, política e o desenvolvimento do capitalismo no Brasil e seus efeitos sociais. OLIVEIRA, Rita de Cássia da S. Sociologia: Consensos e Conflitos, Ponta Grossa: UEPG, 2001. Propomos também a leitura da obra de Carlos Benedito Martins, intitulada O que é sociologia. Neste livro o autor afirma que o surgimento da Sociologia ocorreu no contexto da decadência do sistema feudal e da consolidação da sociedade capitalista. A história sociológica tem como principais marcos inspiradores as transformações econômicas, políticas e culturais motivadas pela Revolução Francesa e Revolução Industrial que alteraram a organização da vida social da época. 11 MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 57 ed. São Paulo: Brasilense, 2006. 12 Trocando ideias com os autores Caro estudante, considerando as obras abaixo, propomos uma reflexão sobre a ciência enquanto forma de conhecimento diferenciado e sobre o surgimento da Sociologia como uma ciência humana que rompe com as abordagens analíticas do senso comum e emprega métodos específicos para entender a vida em sociedade. Você conhecerá os aspectos fundamentais da constituição da Sociologia a partir da obra Sociologia: introdução à ciência da sociedade, da autora Maria Cristina Castilho Costa. A obra leva o leitor a acompanhar o surgimento da ciência que tem por objeto de estudo a sociedade, bem como tomar conhecimento da multifacetada constituição teórica e metodológica da disciplina. Ao “passear” pela história e pelas bases teóricas mais fundamentais da Sociologia, a obra propicia ao leitor um entendimento acerca do que é esta ciência e a que ela se propõe. É um caminho para a compreensão das abordagens e tendências conceituais e metodológicas da Sociologia. COSTA, Maria C. C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1997. Nesta obra, Roque de Barros, professor emérito da UNB e antropólogo, vai nos conduzir, por meio de uma linguagem fluente e clara, a um passeio pelos diversos significados acerca do termo cultura, sua origem e suas interpretações. Esta leitura será um ótimo recurso didático a partir do 6º capítulo, no qual veremos o tópico de Sociedade e cultura. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24 ed. [S.l.]: Jorge Zahar Ed., 2009. 13 Recomendamos ainda a leitura da obra “As regras do método sociológico”, a qual aborda conceitos básicos estudados na Sociologia como os métodos sociológicos e suas regras para o estudo dos fatos sociais. “Os fatos sociais devem ser tratados como coisas”. Defendendo essa assertiva polêmica, Émile Durkheim orienta, de forma decisiva, uma disciplina que estava se formando. Para este sociólogo francês, existe uma ruptura entre a Psicologia e a Sociologia como existe entre a Biologia e as ciências físico-químicas. O ser coletivo possui uma singularidade e a consciência coletiva é diferente da consciência individual. DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Leia também a obra “O Manifesto do Partido Comunista” que analisa as relações entre trabalho e capital, a forma como a sociedade se estruturou nesta fase e critica o modo de produção capitalista buscando organizar a classe dos trabalhadores e descrevendo os vários tipos de pensamento comunista. Seus argumentos desmancham a ideologia capitalista, demonstrando a ilusão à qual esta induz nações inteiras apenas para assegurar e perpetuar a diferença de classes e a má distribuição das riquezas. ENGELS, Friendrich; MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. 10 ed. São Paulo: Global, 2006. 14 Problematizando A obra “O Peixinho arteiro”, de Oranice Franco, conta a história de um peixinho que, não obedecendo à mãe e a professora, é pescado. Ele se salva porque o pescador tropeça e deixa os peixes caírem do cesto para a água. “- Eu ia convidar você para fugir! – o Lambari riu apesar de sentir muitas dores na sua boquinha. Nunca mais! Chega a lição que aprendemos. Se prestássemos atenção às aulas de Dona Piranha, saberíamos que nadar perto de cachoeira é perigoso por causa da correnteza, das pedras... - E saberíamos também – completou o Peixinho – o que é anzol e não teríamos sido fisgados. Agora, vou para casa. Se você prometer ser bom peixinho, continuarei sendo seu amigo. Do contrário, não. - Pode ficar descansado. Nunca mais serei arteiro. Agora, vou também pedir perdão aos meus pais e amanhã cedo, se você concordar, iremos falar com Dona Piranha, contando tudo o que aconteceu. - Boa ideia – fez o Peixinho todo animado. Então, até amanhã na escola. - Até amanhã – disse o Lambari, nadando para sua casa. E o peixinho arteiro nunca mais foi arteiro. Ao contrário, passou a ouvir e a seguir os conselhos de seus pais e, juntamente com o Lambari, foi exemplar no colégio.” ARANHA, M. A.; MARTINS, Maria. Filosofando, introdução à filosofia. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1993. A historinha apresentada encontra-se associada ao estudo das correntes sociológicas, com particular proximidade à de Émile Durkheim. Até que ponto a aceitação das regras sociais pode ser considerada condição fundamental para uma perfeita integração dentro da sociedade? Que consequências terá o desrespeito a essas regras? Poderá ser possível a existência de um indivíduo livre fora das organizações sociais? Haverá condiçõespara alterar as regras sociais? 15 16 SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E SEUS OBJETIVOS Conhecimentos Compreender o contexto histórico que ocasionou o surgimento da Sociologia; Conhecer os objetivos da Sociologia. Habilidades Posicionar-se criticamente em relação ao conhecimento científico amparado na Sociologia com o intuito de compreender a vida social; Analisar os processos sociais e reconhecer a Sociologia enquanto espaço de múltiplos olhares. Atitudes Desenvolver o conhecimento científico, no âmbito sociológico, para análise dos processos sociais. 17 18 Aprendendo a pensar... Sociologia O estudo da Sociologia tem como objeto o comportamento humano em sociedade. Esta, por sua vez, trata-se de um corpo orgânico cuja base reúne indivíduos que vivem sob determinado sistema econômico de produção, distribuição e consumo. Sociólogos pesquisam o comportamento do ser humano e as estruturas da sociedade como classes sociais, grupos étnicos, etc. Todos sabem que vivemos em uma sociedade. Mas o que isso significa? O que é viver em sociedade? Numa primeira instância, podemos dizer que viver em sociedade é ter a consciência de que o indivíduo precisa da sociedade e a sociedade precisa do indivíduo. Os seres humanos não conseguem viver isoladamente, por isso necessitam desse convívio. Viver em sociedade significa residir numa região sob as mesmas regras, leis e cultura. A cultura é composta de símbolos, valores e costumes; é, portanto, uma herança social que passa de geração a geração. A Sociologia, enfim, estuda as ações sociais, as interações sociais e, muitas vezes, as mudanças sociais, sendo estas últimas, consideradas um dos pontos altos dessa ciência. Por que vivemos numa sociedade repleta de desigualdades? O que a globalização tem a ver com a sociedade? Como os indivíduos se relacionam entre si? Quais os elementos básicos da vida social? Quais são os tipos de sociedade e suas culturas? O que é etnocentrismo? Em que a Sociologia contribui para o indivíduo? Esses questionamentos serão respondidos no decorrer da disciplina e, aliados a outros, auxiliarão você, estudante, no processo de aquisição de conhecimentos acerca do estudo da Sociologia. 19 1. SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E SEUS OBJETIVOS Etimologicamente, a Sociologia tem a sua origem na palavra latina socius, que significa sócio, ou social, e na palavra grega logos, que significa estudo. A Sociologia pode ser entendida como uma área de conhecimento que se preocupa em aplicar do ponto de vista científico à observação e à explicação dos fatos sociais. O estudo sociológico analisa e problematiza as atividades cotidianas. A simples tarefa de ir ao supermercado pode transformar-se numa experiência de interesse do ponto de vista sociológico. Mas como um sociólogo poderá fazer análise de uma ida ao supermercado? Apresentamos abaixo alguns pormenores que podem ser problematizados, como por exemplo: 1º) A enorme variedade de produtos dos mais diversos locais e de diferentes países, o que evidencia o processo de globalização em curso; 2º) Os cereais à venda incluem soja transgênica; isso levanta a discussão sobre os organismos geneticamente modificados; 3º) No ramo dos cosméticos são apresentados frequentes lançamentos de novos produtos, o que leva à discussão sobre novos hábitos de consumo diferenciados; 4º) A promoção no preço da carne bovina relembra as disputas internacionais sobre embargos econômicos; 5º) A apresentação de produtos livres de agrotóxicos levanta a discussão sobre a alimentação saudável, implicando em diferentes estilos de vida; 6º) O funcionário que trabalha no supermercado tem nível superior completo, mas trabalha ali por não ter outra possibilidade de emprego e isso induz ao pensamento sobre as relações de trabalho hoje em dia. Nesse sentido, a Sociologia permite-nos entender que muitas das ações aparentemente individuais, na verdade, refletem questões mais amplas. Ela pode ser considerada um projeto intelectual marcado por conflito de ideias, discussões, tensão e contradições, podendo servir como arma que atende aos 20 interesses dominantes e como expressão teórica dos movimentos revolucionários. Desta forma, a Sociologia é, como qualquer ciência, predominantemente indutiva, isto é, parte da observação sistemática de situações particulares para chegar à formulação de generalizações teóricas a propósito da vida social. A observação sistemática dos fatos é, em último caso, a confirmação ou negação da qualidade científica de qualquer tentativa de explicação da realidade. Portanto, a Sociologia transforma-se, dessa maneira, num meio para a compreensão da realidade social e torna inteligíveis os fenômenos sociais, apreendidos a partir de diferentes pontos de vista. Ora, se pautando nessa compreensão podemos dizer então que a Sociologia estuda os fenômenos de natureza social. Contudo, nem todo acontecimento que ocorre no interior de uma sociedade envolve uma natureza social. Por exemplo, os fatos relacionados ao indivíduo, isolado, acontecem dentro de uma sociedade, entretanto, não são fatos de interesse da Sociologia, pois esta não considera o indivíduo como objeto de estudo. O indivíduo somente faz parte de um estudo sociológico quando sua ação individual interfere em qualquer grupo social. A Sociologia surge da exigência de uma nova forma de conhecimento e de pensar a natureza e a sociedade, que se fez sentir a partir do século XV, quando ocorreram na Europa transformações sociais significativas, como o fim do Feudalismo e o início do Capitalismo. Até o século XV o povo europeu tinha uma concepção reduzida de mundo e seu conhecimento territorial restringia-se ao espaço local. Com as grandes navegações ocorridas a partir do século XV, o povo europeu percebeu um mundo mais amplo com novas nações e novas culturas. Isso exigiu a reformulação do modo de ver e pensar a natureza e a sociedade. Acrescentamos a isso, outros desenvolvimentos políticos, econômicos e sociais que aconteceram nos séculos seguintes, tais como: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial que ocasionaram o desmoronar das estruturas sociais. Isso foi evidente de tal maneira que essas alterações passaram a ser motivo de preocupação coletiva, sobretudo no que diz respeito às mudanças na sociedade e às possíveis soluções para as desigualdades que 21 se apresentavam nesta. Outro ponto importante foi os avanços científicos e tecnológicos atrelados ao desenvolvimento de uma nova economia industrial na sequência da mudança ocorrida na sociedade, com reflexos sentidos quando: diminuiu-se a terra cultivada; abandonou-se a forma de produção artesanal e passou-se à produção em grandes fábricas; as pessoas deixaram de laborar em suas casas para trabalhar sob as ordens de um supervisor; criou-se uma dissociação, de um lado os trabalhadores, de outro, os consumidores. Com essas transformações em rumo se deu o crescimento das cidades ocasionado pela chegada dos camponeses que abandonaram o campo e se mudaram para a cidade em busca de trabalho, com consequências evidentes, por exemplo, no aglomerado da população, na pobreza, no desemprego e na criminalidade. Mediante tal problemática, as ciências existentes na época mostraram-se insuficientes para explicar os novos fenômenos sociais. É neste contexto que surge a necessidade de uma ciência que tente explicar essa nova realidade. Assim sendo, a Sociologia aparece no século XIX perante a necessidade de compreender os novos problemas sociais que surgiram na sequência do conjunto de causas sociais de caráter complexo. Surge com o objetivo de estudar sistematicamente o comportamento social dos grupos e as interações humanas,assim como os fatos sociais que provocam sua inter-relação. Em sua sistemática, esta ciência procura explicar como as atitudes e os comportamentos das pessoas são influenciados, em geral, pela sociedade e, especificamente, pelos diferentes grupos humanos. Ela também tenta explicar qual a dinâmica social que mantém as sociedades estáveis ou provoca a mudança social. Segundo Lemos Filho (2004), o trabalho da Sociologia tem como suas três grandes preocupações: a separação do social dos demais elementos inerentes à vida humana; a constatação dos efeitos do social e o modo como estes são produzidos; a restituição do social ao conjunto da vida humana de maneira a possibilitar o entendimento das suas relações com esta. 22 1.1 A ciência como forma específica de conhecimento Em nossa sociedade, ainda nos primeiros anos do processo educativo, é comum termos acesso à informação de que a principal diferença entre o ser humano e os outros animais é a racionalidade, da qual é dotado o primeiro. Foi através da capacidade de pensar o mundo, de atribuir significado à realidade, que o homem formulou o conhecimento em suas diversas formas. Logo, com a sua capacidade de raciocínio, o homem busca entender a si mesmo, a sociedade e a natureza, desde o começo da humanidade. Todavia, este entendimento do mundo nem sempre foi científico. As primeiras tentativas de compreender os fenômenos naturais e sociais foram baseadas na fantasia, imaginação e especulação. Deuses e heróis eram acionados para explicar e justificar toda ordem de fenômenos – sejam naturais ou sociais. Como exemplo maior dessa tentativa de explicar o mundo, temos a mitologia grega com seus deuses. Assim, foram os gregos os pioneiros que deram formas àquilo que passou a ser chamado de ciência. Foi na Grécia que surgiram os primeiros homens com a curiosidade de descobrir os segredos do universo. Nas obras de filósofos como Platão e Aristóteles podemos encontrar as primeiras sistematizações de ideias sobre a vida do homem em sociedade. Contudo, é importante ressaltar que na Idade Média (entre os séculos V e XV) a Igreja Católica passou a exercer uma influência grandiosa sobre a sociedade, pois não era dada ao homem a permissão de apresentar qualquer explicação sobre o mundo, a não ser na perspectiva religiosa. Com isso, todos os questionamentos deveriam ser respondidos através da imagem de um “Deus” todo poderoso que tudo criava, modificava e explicava. Apenas as instituições religiosas – como os mosteiros – podiam dispor do acesso às obras sobre o conhecimento da Filosofia, Astronomia, Geometria e Literatura. Entre estas existia uma lista proibida chamada Index Librorum Prohibitorum – Índice dos Livros Proibidos. Segundo a Igreja Católica, estas obras contradiziam seus dogmas, bem como as literaturas e conhecimentos científicos que pudessem ser considerados heresia, má postura política, moralidade desviada, sexualidade 23 explícita, entre outros. Dessa forma, o conhecimento ficou por muito tempo “retido” nos porões dos mosteiros e muitos corpos arderam em fogueiras por se contrapor às explicações religiosas, ou infringirem as normas morais impostas. Após a Idade Média, surgiu o Renascimento, período em que os fenômenos sociais passaram a ser analisados de forma mais realista, sistemática e estrutural. Havia uma sistematização de valores burgueses que almejavam a constituição de uma sociedade laica e racionalista. No entanto, vivia-se uma fase de desejo por mudanças econômicas, políticas, culturais e de grande desenvolvimento científico. Foi no fervilhar desse despontar de ideias que surgiu uma ciência nova no século XIX: a Sociologia. Contudo, aqui fazemos recorrência à ciência experimental com origem advinda do Renascimento e que vem se formando até os dias atuais. Apesar dos riscos das tentativas de definição, devemos entender que, neste caso, ciência consiste em um método de abordagem do mundo empírico, mundo que pode ser visualizado a partir da experiência humana. O conhecimento científico somente pode ser compreendido se entendermos o que é senso comum. Este último consiste no conhecimento adquirido no cotidiano sobre as coisas e causas; ou seja, é toda forma de conhecimento não caracterizado pela investigação. Trata-se de um saber que não se utiliza de métodos e é formulado por sentimentos, opiniões, traduzindo os valores de quem o produz. Logo, o senso comum é um saber não sistematizado que guia o homem em suas atividades diárias. A partir do que foi citado acima, podemos dizer que do cotidiano surge o conhecimento científico, portanto, o senso comum não deve ser rejeitado em detrimento da ciência. Por isso, reforçamos a ideia de que é necessário ir além do conhecimento comum sobre as questões referentes ao homem e à sociedade obtendo assim um saber elaborado, investigativo e controlado por métodos e técnicas de pesquisa, mas sem descartar toda experiência constituída do senso comum. Nesse sentido, iremos esclarecer conceituações básicas sobre esse tipo especial de conhecimento que é o científico. 24 Uma das principais características do conhecimento científico é a utilização sistemática de métodos para analisar os fatos. O uso da palavra método vai ser frequente e desde já veremos o que isso significa: método é o caminho seguido para alcançar um objetivo. O ato do cientista observar e realizar a coleta de dados com base nas suas hipóteses e teorias é denominado método indutivo. Movimentos de indução envolvem o movimento do particular para o geral. Na abordagem dedutiva, o pesquisador tenta procurar afirmações e reivindicações específicas de um princípio teórico geral. Método indutivo, ou indução, é o raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos particulares, conclui uma verdade geral. É importante que a enumeração de dados (que correspondem às experiências feitas) seja suficiente para permitir a passagem do particular para o geral. A indução pressupõe a probabilidade, ou seja, já que tantos se comportam de tal forma, é muito provável que todos se comportem assim. O resultado dessa situação é que há maior possibilidade de erro nos raciocínios indutivos, uma vez que basta encontrarmos uma exceção para invalidar a regra geral. Por outro lado, é essa procura do provável que torna possível a descoberta e a proposta de novos modos de compreender o mundo. Essa é uma das justificativas para que a indução seja o tipo de raciocínio mais usado em ciências experimentais. É importante saber que existem dois tipos principais de pesquisa em Sociologia: o estudo transversal, que visa descobrir as opiniões que os participantes da pesquisa têm sobre algum fenômeno em determinado momento; e o estudo longitudinal que é realizado no mesmo tipo de pessoas durante um longo período de tempo, às vezes de 20 a 30 anos. Este fornece- nos uma imagem das mudanças ao longo do tempo. Geralmente são usados alguns passos para realizar uma pesquisa sociológica. Tais passos não são, no entanto, apenas da Sociologia. Também devemos ressaltar que esses passos não são fixos. Alguns podem não ser seguidos em determinados projetos de pesquisa e outros podem não ser seguidos, necessariamente, em ordem sequencial, pois para cada ramificação 25 do conhecimento, são aplicados métodos diferenciados, haja vista, cada ciência possuir um objeto de estudo. Em outras palavras, o objeto da ciência é constituído pela realidade que ela se propõe a estudar, por exemplo: a Biologia estuda o conjunto de seres vivos e a Sociologia estuda o homem enquanto ser social. Portanto, podemos entender que se o objeto da Sociologia é o homem em sua vida social, o caminho que trilharemos para avaliar este fator será diferente do caminho dos cientistas que se interessam pelos fenômenos naturais, mas isso irá ser aprofundado mais adiante. O queé necessário saber neste momento é que estamos adentrando numa forma de conhecimento científico, cujo objeto é o homem em sociedade. E para entender esse conhecimento, é necessário compreendermos em que contexto ele surgiu. De início e de forma resumida, podemos dizer que a Sociologia é uma ciência relativamente nova, nasceu na Europa, no século XIX, com a chegada da modernidade. Surgiu após a constituição das ciências naturais e de diversas outras ciências sociais. Todavia, não devemos desconsiderar que a curiosidade em entender a sociedade data de centenas de anos antes de Cristo com as expressões da filosofia sofista que, por exemplo, tinha nos escritos de Platão e Aristóteles algumas ideias sobre a concepção do homem vivendo em sociedade. Contudo, o estudo científico da sociedade foi instituído no meio acadêmico através da Sociologia que se constituiu reclamando para si objeto e método específico a fim de diferenciar seus estudos dos que competem às ciências da natureza. Revisitando a história, podemos lembrar que o século XIX foi palco de grandes transformações que vinham acontecendo gradualmente desde séculos anteriores. Para pensar a formação de uma ciência social encarregada de analisar a sociedade, dois processos revolucionária são frequentemente associados à necessidade de fundar a Sociologia: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. 26 1.1.1 A Revolução Industrial Durante o século XIX houve a passagem da atividade artesanal, passando pela atividade manufatureira até chegar ao mecanismo industrial. A partir de 1750, a máquina a vapor e demais máquinas fabris esfumaçavam o céu da Inglaterra e, consequentemente, os sistemas de produção passavam por um processo de mecanização. O sistema de transportes avançou, facilitando a travessia de pessoas e mercadorias. Com isso tanto a mecanização da produção como a possibilidade de transportar mercadoria num tempo mais curto e com menores custos trouxeram modificações não apenas no campo econômico, mas também sociocultural. Desse modo, a sociedade assistia ao triunfo do capitalismo industrial e as cidades europeias, aos poucos, transformavam-se em centros urbanos e comerciais que abrigavam grande parcela da população. O empresário passou a concentrar terras, máquinas e ferramentas e transformou seres humanos em meros trabalhadores necessitados de bens materiais e saberes tradicionais. Entretanto, foram estabelecidas relações desiguais de trabalho: homens, mulheres e crianças saiam do campo em busca de oportunidades na cidade e eram explorados em jornadas de trabalho que, pensadas atualmente, poderíamos classificar como “desumanas”. Ou seja, trabalhava-se entre doze e dezesseis horas e com a descoberta da iluminação a gás, a jornada de trabalho chegou a ser ampliada para dezoito horas, com salários baixos que variavam de acordo com sexo e idade, sendo as mulheres e as crianças a parcela de trabalhadores mais explorada. Desta forma, aos poucos, as formas de interação humana foram alteradas, propiciando o aparecimento de duas classes distintas – a burguesia e o proletariado. Toda essa modificação no modo de vida dos homens fez com que emergissem fenômenos sociais inéditos, tais como: crescimento demográfico desordenado por conta do deslocamento em massa da população do campo 27 para as cidades; falta de estrutura em termos de moradia, saúde e saneamento básico; aumento da prostituição e criminalidade; aumento do alcoolismo e suicídio. Desta forma, as cidades passavam a serem “epicentros de desordenamento” cada vez mais inchados e uma ordem de costumes era completamente modificada; como exemplo, citamos a família, tanto no que concerne ao status dos membros em relação ao sexo – lembremos que neste período predominava um modelo de família patriarcal – quanto às relações pessoais entre os membros familiares. Portanto, o esforço para entender tal realidade impulsionou os questionamentos que mais tarde iriam consolidar-se na Sociologia. 1.1.2 A Revolução Francesa O mesmo século que assistiu a Revolução Industrial lançada na Inglaterra e com alcance mundial, assistiu também a uma série de fatos políticos que agitaram a França. O regime absolutista estava estabilizado, tendo como particularidade principal a forma concentrada de poder nas mãos do rei que era o soberano, o representante maior do homem. Com isso, a população do país sofria com os abusos de poder exercidos pela autoridade monárquica (o rei). As críticas ao regime absolutista e à desigualdade promovida por este foram intensificadas no fim da década de 80 do século XVIII. Após uma série de atos contra o autoritarismo monárquico, a população composta por membros do terceiro estado (formado pelo campesinato e pela burguesia comercial – classe menos favorecida naquele período histórico) avança em direção à prisão política da época – Bastilha – destruindo-a. Isso ocorreu em julho de 1789, data que marca historicamente a Revolução Francesa. Com o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, os revolucionários tinham como objetivo promover transformações culturais, econômicas e políticas através da mudança na estrutura do Estado. Pretendiam derrubar o 28 regime monárquico e instaurar a democracia; assim o fizeram. Em agosto de 1789, através da Assembleia Constituinte, o terceiro estado cancelou os absurdos direitos feudais e foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Durante a Revolução Francesa, principalmente, intensificou-se um movimento, chamado Iluminismo, iniciado no século XVI. Consistia numa nova forma de pensar e entender filosoficamente o mundo. As formas de conceber a natureza e a cultura (através do uso sistemático da razão) passaram do sobrenatural ao racional, ou seja, o pensamento começava a libertar-se do controle teológico e o Teocentrismo deu lugar ao Antropocentrismo. Assim sendo, através dessa atitude de dessacralização da natureza, o homem passou a trabalhar a racionalidade como objeto científico de pesquisa acreditando que pelo uso da razão a humanidade chegaria a um alto patamar de progresso. Essas revoluções, somadas a outras de menor visibilidade, marcam a transição da Idade Média para a Idade Moderna. A partir delas, os pilares que sustentam a modernidade foram construídos e assim o conjunto de transformações emergentes precisava ser explicado e entendido pela razão humana. O mundo parecia estar em crise e algo precisava ser feito, é nesse contexto que surge a ideia de uma ciência para pensar os fenômenos sociais. 1.2 O CONCEITO DE SOCIEDADE O termo significa associação, união, gregário, ou, simplesmente, vida em grupo. O conceito de sociedade refere-se a um agrupamento autônomo de pessoas que habitam um território comum, têm uma cultura comum (conjunto compartilhado de valores, crenças, costumes e assim por diante) e estão ligadas umas às outras através das interações sociais rotineiras, status e funções interdependentes. 29 1.2.1 Recursos básicos de uma sociedade Uma sociedade, em geral, é um agrupamento, relativamente grande, de pessoas em termos de tamanho. Ela pode ser considerada o maior e o mais complexo grupo social estudado pelos sociólogos. Também é definida como um espaço limitado ou território. As populações que compõem uma sociedade são, portanto, localizáveis em uma área geográfica. Outro recurso básico de uma sociedade corresponde às pessoas. Estas apresentam um sentimento de identidade e pertencimento. Essa identidade emana do padrão das interações sociais que existem entre as pessoas e os diversos grupos que compõem a sociedade. Assim sendo, os membros de uma sociedade são considerados portadores de origem e experiências históricas comuns. Podem também falar uma língua-mãe ou ter uma língua dominante que serve, possivelmente, como uma herançanacional. No entanto, a coisa mais importante sobre a sociedade é que seus membros compartilham, simultaneamente, uma cultura comum e distinta. Isso é que diferencia os grupos populacionais. A sociedade é autônoma e independente no sentido de que ela tem todas as instituições sociais e arranjos organizacionais necessários para sustentar o sistema. No entanto, uma sociedade não é uma ilha no sentido de que sociedades são interdependentes, as pessoas interagem socialmente, economicamente e politicamente. Portanto, é importante notarmos que as características de uma sociedade não são exaustivas e não podem ser aplicadas a todas as demais. Por exemplo, o nível de desenvolvimento econômico e tecnológico de uma sociedade e seu tipo de economia ou sistema de subsistência podem criar algumas variações entre as sociedades no tocante às características básicas referidas. 30 1.2.2 O conceito de sociedade considerando diversos níveis De modo geral, e considerando um nível abstrato, todos os povos da Terra podem ser tidos como sociedade. Eles partilham uma origem comum, habitam um mundo comum, têm uma unidade biopsicológica comum, exibem interesses, desejos e medos comuns e estão caminhando para um destino comum. Em outro nível, cada continente pode ser visto como uma sociedade. Assim, podemos falar da sociedade europeia, da sociedade africana, da sociedade asiática, da sociedade norte-americana e latina. Cada um desses continentes compartilha seu próprio território, experiências históricas, cultura e assim por diante. Ou seja, cada estado-nação, ou país, é considerado uma sociedade, podendo haver grupos etnolinguisticamente distintos de pessoas que tenham um território e o consideram como seu. Você sabe como as sociedades são classificadas? Vejamos. Os sociólogos classificam as sociedades em várias categorias dependendo de certos critérios. Um critério é o nível de desenvolvimento econômico e tecnológico alcançado pelos países. Assim, os países são classificados em: Primeiro Mundo, Segundo Mundo e Terceiro Mundo. Países do Primeiro Mundo são aqueles industrialmente avançados e economicamente ricos como os EUA, Japão, Grã-Bretanha, França, Itália, Alemanha, Canadá e assim por diante. Por outro lado, os países do Segundo Mundo são também industrialmente avançados, mas não tanto como a primeira categoria. São países detentores de economias emergentes. Atualmente são denominados de países em desenvolvimento como China, Rússia, Brasil, Argentina, México e Índia. Já as sociedades do Terceiro Mundo correspondem aos países que possuem economia subdesenvolvida, ou em desenvolvimento. Alguns autores como Küng & Schmidt (2001) e Castells (1999) acrescentam uma quarta 31 categoria, ou seja, Quarto Mundo. Estes países são considerados os mais pobres. Quanto ao tipo de sociedade, podemos citar a mais antiga que é a caça, a sociedade pastoral e hortícola e sociedades agrícolas. Para melhor compreendermos: a sociedade da caça depende da caçada para sua sobrevivência, já as sociedades pastorais são aquelas cuja subsistência baseia- se em pastoreio de animais, tais como gado bovino, camelos, ovinos e caprinos. Sociedades hortícolas são aquelas cuja economia baseia-se no cultivo de plantas com o uso de ferramentas simples, como a escavação com paus, enxadas e machados. A sociedade agrícola é dominante na maior parte do mundo; baseia-se na agricultura de grande escala que depende de arados usando o trabalho animal. A Revolução Industrial que começou na Grã-Bretanha durante o século XVIII deu origem ao aparecimento de um quarto tipo de sociedade chamada Sociedade Industrial. É aquela em que os bens eram produzidos por máquinas movidas a combustível ao invés de animais e energia humana. Por fim, há outro tipo de sociedade denominada pós-industrial. Esta é baseada na informação, serviços e alta tecnologia, ao invés de matérias-primas e fabricação. 1.3 CONCEITOS DE CULTURA É importante notar que as pessoas comuns fazem, muitas vezes, mau uso do conceito de cultura, isto é, muitas pessoas no mundo ocidental usam o termo cultura quando se referem às pessoas que são mais “cultas” do que outras. Isso basicamente emana da ideia associada à raiz da palavra cultura: Kultura, em alemão refere-se à “cultura”. Assim, quando se diz que alguém é “culto” significa dizer que é civilizado. Para sociólogos e antropólogos, a cultura inclui muito mais do que requinte, bom gosto, sofisticação, educação e valorização das artes plásticas. 32 O que se percebe é que muitas pessoas passaram a pensar a cultura em termos de costumes, música, dança, roupas, joias e penteados. Existem, também, pessoas que pensam na cultura associada às coisas materiais do passado. De acordo com este ponto de vista, o cultural não pode incluir coisas (materiais ou não) que sejam dernas, comuns do dia a dia. Aqui, o comum é considerado não cultural ou “menos cultural”. O conceito de cultura é um dos mais utilizados na Sociologia. Refere-se a todos os modos de vida dos membros de uma sociedade. Ele inclui o vestir, seus costumes, vida familiar, arte e padrões de trabalho, cerimônias religiosas, atividades de lazer e assim por diante. Este conceito também inclui os bens materiais que produzem: arcos e flechas, arados, fábricas e máquinas, computadores, livros, edifícios, aviões etc. assim sendo, o conceito de cultura foi definido centenas de vezes por sociólogos e antropólogos, enfatizando diferentes dimensões. No entanto, na maioria das vezes os estudiosos focaram a dimensão simbólica da cultura. Ela está sempre se desenvolvendo, pois é influenciada pela maneira de pensar o desenvolvimento do ser humano no decorrer dos anos. 1.3.1 Características básicas da cultura As características da cultura são denominadas em várias culturas. Como por exemplo, podemos falar de Cultura orgânica e supraorgânica. É orgânica quando consideramos o fato de que não existe uma cultura sem uma sociedade humana. É supraorgânica porque vai muito além de qualquer vida individual (os indivíduos vêm e vão); a cultura permanece e persiste. Podemos falar, também, de cultura aberta e encoberta: é geralmente dividida em material e não material. A cultura material consiste de quaisquer objetos tangíveis feitos pelos humanos tais como ferramentas, automóveis, edifícios etc. A não material corresponde a todos os aspectos não físicos como a linguagem, crenças, ideias, conhecimentos, atitudes, valores etc. Acrescenta- 33 se a concepção de cultura explícita e implícita. É explícita quando considera as ações que podem ser explicadas e descritas facilmente por aqueles que as executam. É implícita quando consideramos as coisas que fazemos sem sermos capazes de explicá-las, porém acreditamos que elas sejam assim. Existe, também, a definição de cultura ideal e manifesta (real): cultura ideal envolve a maneira como as pessoas devem comportar-se ou o que elas devem fazer. A cultura manifesta envolve o que as pessoas realmente fazem. Outra compreensão importante é a de cultura estável: é estável quando consideramos o que as pessoas têm de valor e estão entregando para a próxima geração a fim de manter suas normas e valores. No entanto, quando uma cultura entra em contato com outras, ela pode mudar, não somente através de contato direto ou indireto, mas também através da inovação e adaptação às novas circunstâncias. Por fim podemos falar de cultura compartilhada e aprendida: é propriedade de um grupo social de pessoas (compartilhado). Os indivíduos obtêm conhecimento cultural do grupo através da socialização. No entanto, devemos notar que as coisas compartilhadas entre as pessoas podem não ser culturais, uma vez que existem muitos atributos biológicos que as pessoas compartilham entre si. 1.3.2 Elementos da cultura A culturainclui dentro de si elementos que compõem a essência de uma sociedade ou um grupo social. Os mais importantes incluem: símbolos, valores, normas e linguagem. É importante uma compreensão, mesmo que introdutória, desses elementos para que possamos dialogar com a multiplicidade cultural adentrando em sua natureza essencial sempre buscando compreender o sujeito e suas ações perante o mundo. Portanto, ao tentarmos compreender a cultura é inevitável uma reflexão sobre esses elementos, por assim ser, vejamos de forma sintética pontos essenciais de cada elemento. 34 Os símbolos são os componentes centrais da cultura; referem-se a qualquer coisa para as quais as pessoas atribuem significado e usam para comunicar-se com os outros. Mais especificamente, os símbolos são palavras, objetos, gestos, sons ou imagens que representam algo maior do que eles. Acrescenta aos símbolos a linguagem que é definida como um sistema de símbolos verbais e, em muitos casos, escritos que podem ser organizados juntos para transmitir significados complexos; é a capacidade distintiva dos seres humanos e um elemento-chave da cultura. A cultura engloba linguagem e através da linguagem ela é comunicada e transmitida. Sem linguagem seria impossível desenvolver, elaborar e transmitir cultura para as gerações futuras. Os valores são elementos essenciais da cultura não material. Eles podem ser definidos como diretrizes abstratas para nossas vidas, decisões, objetivos, escolhas e ações. Além disso, compartilham as ideias de um grupo ou de uma sociedade sobre o que é certo ou errado, correto ou incorreto, desejável ou indesejável, aceitável ou inaceitável, ético ou antiético etc. Os valores são, em geral, roteiros para nossas vidas, são compartilhados e aprendidos em grupo. Eles podem ser: positivos ou negativos; dinâmicos, ou seja, eles mudam ao longo do tempo; estáticos, o que significa que tendem a persistir sem qualquer modificação significativa; diversificados, o que significa que variam de lugar para lugar e de cultura para cultura. Contudo, alguns valores são universais porque há unidade biopsicológica entre as pessoas em todos os lugares e em todos os tempos. As normas são elementos essenciais da cultura, ou seja, consistem em princípios implícitos para a vida social, relacionamento e interação. Elas são regras detalhadas e específicas para situações determinadas. Além disso, nos dizem como fazer algo, o que fazer, o que não fazer, quando fazer, por que fazer etc. Por serem derivadas dos valores, significa que, para cada norma específica, existe um valor geral que determina seu conteúdo. As normas fortes são consideradas as leis formais de uma sociedade ou grupo. Leis formais são escritas e codificam as normas sociais, ou seja, as pessoas não podem agir de acordo com os valores definidos e as normas do 35 grupo. As normas sociais podem ser divididas em: costumes e comportamentos. Costumes são regras importantes, que em geral ocorrem automaticamente sem qualquer base de suporte nacional e inspiram-se nos costumes passados de geração em geração. Eles não são impostos por lei, mas por controle social informal e sua violação não é gravemente sancionada. Já o comportamento é regido por convenções, isto é, regras estabelecidas e geralmente aceitas pela sociedade. Alguns comportamentos excepcionais são considerados excêntricos. Essas, de forma resumida, são definições que nos apresentam os elementos da cultura nos fazendo compreender que cada cultura traz em si uma riqueza de definições conceituais que atribuem valor e características próprias a cada grupo social. É por isso que se pode falar de variabilidade cultural, isto é, à diversidade de culturas nas sociedades e lugares. Como existem diferentes sociedades, existem diferentes culturas. A diversidade de cultura humana é notável. Valores e normas de comportamento variam muito de cultura para cultura, muitas vezes contrastando de forma radical. Por exemplo, os judeus não comem carne de porco, enquanto os hindus sim, mas evitam carne de gado. Se considerarmos sociedades como a Etiópia e a Índia, notamos que há entre elas grandes diversidades culturais. Por outro lado, dentro de ambas as sociedades, há também uma notável variabilidade cultural. Nós usamos o conceito de subcultura para chamar a variabilidade da cultura dentro de determinada sociedade. Subcultura é uma cultura distinta partilhada por um grupo dentro de uma sociedade. 1.3.3 Etnocentrismo, relativismo cultural e choque cultural Nós, muitas vezes, tendemos a julgar outras culturas comparando-as com a nossa, entretanto não é logicamente apropriado subestimar, ou julgar, 36 outras culturas baseando-se em um padrão. O Etnocentrismo, em geral, é a atitude de tornar a sua própria cultura e modos de vida como os melhores, o seja, é a tendência em aplicar os próprios valores culturais a fim de julgar o comportamento e as crenças de pessoas de outras culturas. As pessoas consideram um comportamento diferente como estranho ou selvagem. No Relativismo Cultural cada sociedade tem sua própria cultura, que é mais ou menos única. Cada cultura possui seu padrão único de comportamento que pode parecer estranho para as pessoas de outras origens culturais. Todavia, nós não podemos compreender suas práticas e crenças separadamente da cultura mais ampla da qual faz parte. A cultura tem que ser estudada em termos de seus próprios significados e valores. O relativismo cultural descreve uma situação em que existe uma atitude de respeito às diferenças culturais em vez de condenar a cultura de outras pessoas como não civilizada ou atrasada. Assim sendo, o respeito pelas diferenças culturais envolve: 1) valorizar a diversidade cultural; 2) aceitar e respeitar outras culturas, tentar entender cada cultura e seus elementos em termos do seu próprio contexto e lógica; 3) aceitar que cada costume tem uma dignidade e significado inerente às formas de vida de um grupo que trabalha num determinado meio ambiente para satisfazer as necessidades biológicas dos seus membros e as relações grupais; 4) saber que a cultura própria de uma pessoa é apenas uma entre muitas; 5) reconhecer o que é imoral, ético e aceitável numa cultura. Além disso, o relativismo cultural pode ser considerado o oposto do etnocentrismo. Contudo, há algum problema com o argumento de que o comportamento de determinada cultura não deve ser julgado pelos padrões do outro. Isso ocorre porque considerando uma situação extrema, é possível afirmar, por exemplo, que não existe um limite superior no que se refere à moralidade em termos internacional ou universal. Portanto, o choque cultural é o psicológico e social desajuste no nível micro ou macro que é experimentado pela primeira vez quando as pessoas encontram novos elementos culturais, como coisas novas, ideias, conceitos, crenças e práticas aparentemente estranhas. 37 Nenhuma pessoa está protegida de um choque cultural. No entanto, indivíduos variam em sua capacidade de adaptar-se e superar a influência do choque cultural. Pessoas altamente etnocêntricas estão mais suscetíveis. Por outro lado, os relativistas culturais podem achar que é fácil adaptar-se a novas situações e superar o choque cultural. 1.4 SOCIALIZAÇÃO A socialização é um processo através do qual as pessoas aprendem e são treinadas nas normas básicas, valores, crenças, habilidades, atitudes, modos de fazer e agir de acordo com um grupo social ou sociedade específica. O indivíduo passa por várias fases de socialização, desde o nascimento até a morte. Assim, precisamos de socialização enquanto crianças, adolescentes, adultos e idosos, haja vista que, do ponto de vista das pessoas individuais, especialmente um bebê recém-nascido, a socialização é um processo pelo qual um ser biológico ou organismo é transformadoem um bem-estar social. Em termos de grupo, sociedade ou qualquer organização profissional, a socialização é um processo pelo qual as organizações, grupos sociais, a estrutura da sociedade e o bem-estar são mantidos e sustentados. É o processo em que a cultura, as habilidades, as normas, as tradições, os costumes etc., são transmitidos de geração em geração – ou de uma sociedade para outra. Assim sendo, socialização pode ser formal ou informal: torna-se formal quando é conduzida por grupos e instituições sociais formalmente organizados, como escolas, centros religiosos, universidades, meios de comunicação, locais de trabalho etc. É informal quando é realizada através de interações interpessoais ou interações informais em pequenos grupos sociais. A socialização mais importante para nós é a que temos através de agentes informais como a família, pais, vizinhança e influências do grupo de pares. Ela tem uma influência muito poderosa, negativa ou positiva, em nossas 38 vidas. É mediante a isso que o processo de socialização, seja ele formal ou informal, é de vital importância para os indivíduos e sociedade. Sem algum tipo de socialização, a sociedade deixaria de existir. A socialização, portanto, pode ser rotulada como a maneira pela qual a cultura é transmitida e os indivíduos são instalados de acordo com os seus modos de vida. 1.4.1 As metas, padrões e principais tipos de socialização Em termos de pessoas individuais, o objetivo da socialização é equipar o indivíduo com os valores básicos, as normas, as competências etc., de modo que elas se comportem e atuem corretamente no grupo social ao qual pertencem. Com isso, a socialização tem os seguintes objetivos: incutir aspirações; ensinar papéis sociais; ensinar habilidades; ensinar conformidade com as normas e construir as identidades pessoais. Apesar da importância da inculcação de valores e normas no processo de integração social, precisamos observar também que os valores sociais não são igualmente absorvidos por todos os membros de uma sociedade ou grupo. A integradora função de socialização também não é igualmente benéfica para todas as pessoas. Por isso, nos deparamos com os padrões de socialização, são eles: a socialização repressiva e socialização participativa. Socialização repressiva é orientada para ganhar a obediência, enquanto a socialização participativa é orientada para ganhar a participação da criança. Acrescentamos aqui que existem diferentes tipos de socialização: tradicionais que diz respeito à socialização primária ou socialização na infância, que é também chamada de socialização básica ou precoce. Os termos “primário”, “base” ou “cedo” significam a importância do período da infância para a socialização. Muito da personalidade dos indivíduos é forjada neste período da vida. Socialização nesta fase da vida é um marco, sem ela, 39 estaríamos longe de nos tornarmos seres sociais. Por isso, as crianças devem ser devidamente socializadas desde o nascimento até cinco anos de idade, haja vista este período ser básico e crucial. Uma criança que não seja apropriadamente socializada nesta fase provavelmente será deficiente no âmbito do desenvolvimento social, moral, intelectual e de personalidade. Dando prosseguimento, temos a socialização secundária ou socialização na idade adulta, que também podemos chamar de dessocialização e ressocialização; socialização antecipatória e socialização reversa. A socialização secundária, ou socialização na idade adulta, é necessária quando o indivíduo assume novos papéis, reorientando-se de acordo com sua mudança, status e papéis sociais, como quando inicia a vida matrimonial. O processo de socialização nesta fase pode, às vezes, ser intenso. Por exemplo, os licenciados que entram no mundo do trabalho para começar seu primeiro posto de trabalho têm novos papéis a serem executados. A socialização de adultos pode também ocorrer entre imigrantes. Quando eles vão para outros países, precisam aprender a língua, valores, normas e uma série de outros costumes. Na vida dos indivíduos que passam por diferentes estágios e experiências não existe a necessidade de ressocialização e dessocialização. Ressocialização significa a adoção, por parte dos adultos, de estilos de vida radicalmente diferentes e que são mais ou menos diferentes com as normas e os valores anteriores. São alterações rápidas e básicas na vida adulta. A mudança pode exigir o abandono de um estilo de vida por outro, completamente diferente e incompatível com o primeiro. A dessocialização acontece frequentemente quando nas sociedades modernas, e na vida adulta, exige-se dos indivíduos transições nítidas e mudanças. Ela normalmente precede a ressocialização. Refere-se a indivíduos que mudaram seus estilos de vida, crenças, valores e atitudes e passaram a ocupar novos estilos, parcial ou totalmente, a fim de tornar-se parte do novo grupo social. Portanto, dessocialização e ressocialização ocorrem frequentemente no que é chamado de instituições totais, o que inclui, por exemplo: hospitais psiquiátricos, prisões e unidades militares. Em cada caso, as 40 pessoas que se juntam à nova definição têm que primeiro ser dessocializadas antes de serem ressocializadas. Ressocialização também pode significar socialização dos indivíduos novamente em seus valores e normas anteriores, depois de reunir seus antigos modos de vida, gastando relativamente longo período de tempo em instituições. Isso ocorre porque eles podem ter esquecido a maior parte dos valores básicos e habilidades do ex- grupo ou sociedade. Esse tipo de ressocialização também pode ser considerado como a reintegração, ajudar os ex-membros da comunidade a renovar seus antigos modos de vida, habilidades, conhecimentos etc. Sobre a socialização antecipatória esta se refere ao processo de ajuste e adaptação em que os indivíduos tentam aprender e internalizar os papéis, valores, atitudes e habilidades de um social ou profissão para a qual são prováveis recrutas no futuro. Eles fazem isso antecipando a socialização próxima na vida real. Já a socialização reversa está associada ao fato da socialização ser um processo de mão dupla. Ela envolve as influências e pressões das socializações que direta, ou indiretamente, induzem a mudar atitudes e comportamentos dos próprios socializadores. Assim sendo, na socialização reversa, as crianças, por exemplo, podem socializar seus pais em alguns papéis, habilidades e atitudes que faltam a estes. Em meio a esses debates ainda é necessário que também se discuta sobre os agentes de socialização que são os diferentes grupos de pessoas e arranjos institucionais responsáveis pelo treinamento de novos membros da sociedade. Alguns deles poderão ser formais, enquanto outros são informais. Eles ajudam os membros a entrar nas atividades gerais da sua sociedade. Algumas das agências de socialização são: a família, relacionamentos com seus pares, escolas, bairros (da comunidade), a massa da mídia etc. A instituição família é geralmente considerada o mais importante agente de socialização. No processo de socialização, os contatos mais importantes ocorrem entre uma criança, seus pais e irmãos. Os contatos também poderiam 41 ser entre a criança e os pais substitutos quando os pais reais não estão disponíveis. Além dos pais, há outros agentes de socialização (em sociedades modernas), como creches-centros, creches e infância, escolas e universidades. Parece que esses vários agentes de socialização assumiram parcialmente a função dos pais, particularmente nas sociedades modernas, na qual as mulheres estão cada vez mais deixando a sua tradicional responsabilidade domiciliar para exercer uma atividade fora de casa. Além de pais e escolas, grupos de pares são muito importantes no processo de socialização. Às vezes, a influência dogrupo de pares pode ser negativa ou positiva, e ser tão poderosa como a dos pais. Os grupos de pares (grupo de amigos) podem transmitir valores sociais vigentes ou desenvolver novas e distintas culturas próprias, com valores peculiares. Os meios de comunicação de massa como televisão, rádio, cinema, vídeos, fitas, livros, revistas e jornais são também importantes agentes de socialização. 1.4.2 Múltiplas e contraditórias influências de socialização Até agora, o quadro de socialização apresentado pode parecer inclinado para uma visão funcionalista e estrutural da sociedade e de socialização. Assim, seria útil adicionar algumas ideias que podem ajudar a equilibrar a imagem. Numa conceituação crítica de socialização, influências contraditórias e ambíguas precisam ser destacadas. Se tomarmos o exemplo do consumo de álcool e tabaco veremos que há processos subjacentes e contraditórios de socialização por trás desse fenômeno. Influências conflitantes surgem quando, por um lado, as famílias, escolas e instituições médicas advertem os jovens para não consumirem estes produtos e, por outro lado, as empresas que produzem esses produtos estão 42 travando uma guerra para vendê-los aos jovens através da atração e da propaganda. Este exemplo nos mostra que, muitas vezes, mensagens conflitantes competem a partir das várias fontes de socialização. As empresas internacionais promovem a cultura do consumismo com o auxílio dos meios de comunicação global. Estes tendem a desempenhar papéis dominantes na influência das atitudes e estilos de vida dos jovens. 43 44 CORRENTES SOCIOLÓGICAS Conhecimento Compreender os pressupostos das correntes sociológicas. Habilidades Analisar a sociedade atual a partir das ideias propostas pelas correntes sociológicas. Atitudes Desenvolver a percepção das diferentes posturas teóricas face à mesma realidade social. 45 46 2.1 A CONTRIBUIÇÃO DE AUGUSTE COMTE .A Sociologia oportuniza diferentes estudos e caminhos para a explicação da realidade social, não se constituindo enquanto ciência de apenas uma orientação teórica e metodológica dominante. Atendendo ao que foi afirmado, observamos na Sociologia três linhas principais: a positivista- funcionalista, de Auguste Comte e Durkheim; a sociologia compreensiva iniciada por Max Weber e a linha de explicação sociológica dialética iniciada por Karl Marx. Comte idealizou uma Sociologia de inspiração positivista, a qual considera que a sociedade destina-se inevitavelmente ao progresso, todavia, este deve vir junto com a ordem nas instituições sociais: família, escola, empresa, religião e estado. A ordem é indispensável para manter o equilíbrio social. Nesse sentido a Sociologia deve abster-se de qualquer discussão crítica sobre a realidade existente. Para compreendermos a extensão do raciocínio positivista, é importante lembrar que, de acordo com Comte, nessa época a Europa passava por uma crise econômica e social, resultante de uma nova forma de pensar a natureza e a sociedade. Tal forma desenvolveu-se a partir do século XV em resultado do conflito histórico entre a antiga ordem feudal e a nova ordem capitalista. Para Comte, a desordem e a anarquia dominavam devido aos princípios metafísicos e teológicos do passado não poderem mais ajustar-se à sociedade em transformação acelerada. Para superar esse estado, Comte propõe a construção de uma nova ordem social por intermédio da reforma intelectual do homem cujo fundamento é o uso da razão. Por assim ser, surge a sociologia ou “física social”, que se propõe reformar a prática das instituições sociais através da análise de seus processos e estruturas. A Sociologia representa, para Comte, o apogeu da evolução do conhecimento, recorrendo aos mesmos métodos de outras ciências, pois todas elas procuram conhecer os fenômenos constantes e repetitivos da natureza. A 47 Sociologia, assim como as ciências naturais, deve procurar a reconciliação entre os aspectos estáticos e os dinâmicos do mundo natural, o que, em termos da sociedade humana, significa entre a ordem e o progresso. Portanto, a ciência deveria ser um instrumento para a análise da sociedade no sentido de torná-la melhor; o mesmo é dizer que o conhecimento deve existir para fazer previsões do que acontecerá e também para dar a solução dos possíveis problemas que possam existir. O Positivismo de Comte procura encontrar uma forma de estudar a sociedade de modo que essa pesquisa ofereça credibilidade na busca de respostas consideradas essenciais para a mudança social em diversos âmbitos, tais como: a organização da sociedade, o comportamento dos indivíduos e das instituições; a necessidade de regras e de normas; o planejamento de uma sociedade equilibrada e a resolução de conflitos. Para isso, defende uma unidade metodológica regida por leis invariáveis, cujos fundamentos para a investigação partem da análise da sociedade baseada nas ciências naturais. Como um organismo, a sociedade deve ser estudada em duas dimensões: a que Comte designa por estática social (análise de suas condições de existência; de sua ordem) e a da dinâmica social (análise de seu movimento; de seu progresso). Para o autor, ordem e progresso relacionam-se estreitamente. A sociedade evolui com base em dois movimentos, buscando a ordem e o progresso: o primeiro movimento propõe a evolução das sociedades de modo linear, das sociedades mais simples para as mais complexas, das menos avançadas às mais evoluídas; já o segundo movimento procura adequar os indivíduos às condições estabelecidas para garantir o melhor funcionamento da sociedade, o bem-comum e os anseios da maioria da população. Com isso, segundo Costa (1997), os conflitos, as contradições e as revoltas devem ser contidas, se tais movimentos colocarem em risco a ordem estabelecida ou inibirem o progresso. A concepção de uma evolução linear das sociedades influenciou a perspectiva etnocêntrica dos antropólogos dos séculos XIX e XX que consideravam atrasadas e inferiores as sociedades diferentes das sociedades 48 europeias. Essa proposta eurocêntrica foi reforçada pela ideia de Comte. Este considera que, na sua evolução, as concepções intelectuais da humanidade envolvem três estágios que se excluem mutuamente, são eles: o estágio teológico que representa o ponto de partida necessário à inteligência humana na qual o pensamento sobre o mundo é dominado pelas considerações do sobrenatural. No segundo estágio temos a metafisica que predomina o pensamento filosófico sobre a essência dos fenômenos e o desenvolvimento da matemática e da lógica, servindo de transição para o estágio positivo. Por fim, o estágio positivo que, de acordo com Comte, apresenta-se fixo e definitivo e nele o conhecimento passa a ter utilidade prática porque se baseia na ciência, ou seja, na observação cuidadosa dos fatos empíricos. Na compreensão de Comte, o progresso do conhecimento do homem aconteceu de acordo com o positivismo, haja vista, o homem se encontrar liberto de concepções abstratas ou divinas na orientação de sua compreensão de mundo que se torna, agora, mais clara e sistemática sendo possível ter concretude perante o objeto de sua investigação. Para entender essa postura vamos expor, ainda mais, os três estágios anunciados por Comte. O estado teológico explica os diversos fenômenos por meio de causas primeiras, em geral personificadas nos deuses. Subdivide-se em: a) fetichismo: o homem confere vida, ação e poder sobrenaturais a seres inanimados e a animais. b) politeísmo: quando se desenvolve a crença em mais de um Deus. c) Monoteísmo: quando se desenvolve a crençaem um Deus único. Por conseguinte, no estado metafisico as causas primeiras são substituídas por causas mais gerais - as entidades metafísicas -, buscando nessas entidades abstratas (ideias) explicações sobre a natureza das coisas e a causa dos acontecimentos. E por fim, em seu entendimento perante o contexto de sua época, o estado positivo é aquele momento de evolução em que o homem tenta compreender as relações entre as coisas e os acontecimentos por meio da observação científica e do raciocínio formulando leis. Era um posicionamento de caráter evolucionista, o qual acreditava que a sociedade passaria por uma sucessão de estágios menos evoluídos aos mais evoluídos, chegando à “perfeição” através do industrialismo e da ciência. Estes 49 seriam os propulsores de uma ordem encaminhada ao progresso social. Tais ideias exerceram influência por todos os lugares do mundo, inclusive na formação da república brasileira que adotou em sua bandeira nacional a máxima positivista “Ordem e Progresso”. O positivismo não admite outra realidade a não ser os fatos passíveis de observação. Constitui, portanto, tarefa do cientista social descobrir as relações entre os fatos, por intermédio de instrumentos específicos, na busca da objetividade científica. Não são consideradas de interesse as causas dos fenômenos, nem o conhecimento das suas consequências porque isso não é considerado tarefa da ciência. Como forma de aproximar as Ciências Sociais do modelo mecanicista, as pesquisas de orientação positivista assumem uma postura de neutralidade diante do objeto da pesquisa e de seus resultados. Além disso, tais pesquisas buscam a quantificação e repudiam a pesquisa qualitativa. Os dados empíricos são coletados e trabalhados com objetividade e neutralidade. A partir de um referencial teórico, o pesquisador levanta hipóteses e procura a sua comprovação, os dados são processados quantitativamente. Mediante a isso Comte defende que o pesquisador não pode estar simultaneamente na janela e vendo-se passar na rua, assim como no teatro, não se pode ser, ao mesmo tempo, ator no palco e espectador sentado na poltrona. Nesse sentido, para evitar a influência do subjetivo, o cientista deve manter-se neutro com relação ao seu objeto de pesquisa. Portanto, o pesquisador não deve manter qualquer tipo de relacionamento ou proximidade com os indivíduos que estão sendo observados. A Sociologia de Comte não saiu do plano das ideias. Não houve uma viabilização desta por parte do autor, porém, os primeiros sociólogos inspiraram-se em sua filosofia positivista. A Sociologia existia como um embrião que ainda não gozava de reputação científica e foi através de Émile Durkheim que ela, finalmente, foi institucionalizada no meio acadêmico. 50 2.2 CONTRIBUIÇÕES DE ÉMILE DURKHEIM Émile Durkheim é o mais importante precursor do funcionalismo. Ele concebe a sociedade semelhante a um organismo vivo, cujos órgãos funcionam de maneira interdependente para manter sua sobrevivência e equilíbrio. Cada parte existe em função do todo. Quando um órgão fica doente, todo o corpo sofre as consequências. Durkheim compara a sociedade ao modelo de funcionamento de um organismo vivo como, por exemplo, o corpo humano. Assim devemos, primeiramente, compreender o funcionamento deste organismo humano. Cada um de nós é constituído por uma unidade com diferentes partes que, juntas, funcionam de forma harmoniosa no que diz respeito à nossa saúde. Basta um órgão deixar de funcionar, ou funcionar parcialmente, para termos esta saúde afetada. Se perdermos o rim ou ele não funcionar corretamente, logo sofreremos com os sintomas que podem ir desde a administração de uma medicação até o caso de hemodiálise ou morte. Desse modo funciona o corpo humano, cada parte desempenha funções específicas: rins, coração, fígado, pulmões e assim por diante. No entanto, cada órgão do corpo humano trabalha de forma independente e complementar para o bom funcionamento do todo. Usando um pensamento simplório, afirmar-se-ia que o todo é a soma das partes, mas se montarmos um quebra-cabeça ou tivermos peças diferentes para montar uma bicicleta, o resultado final apresentará características não contidas nas peças do quebra-cabeça que se transformou em uma bela paisagem ou nas peças do que se tornou uma bicicleta. Daí, concluímos que o “todo” tem qualidades que as partes não têm. A ideia de totalidade pressupõe que as partes não como um todo estejam somente amontoadas umas ao lado das outras, mas que haja diferença, integração, interdependência e complementaridade entre elas. Assim decorre o funcionamento da sociedade para Durkheim, o todo prevalece sobre as partes, isto é, o coletivo prevalece sobre o indivíduo. Neste sentido, as partes (os fatos sociais) existem em função do todo (a sociedade); o 51 mesmo é dizer que os indivíduos agem de acordo com o coletivo. É assim que a ligação entre as partes e o todo é assegurada pela função social, o que pode ser associado ao fato de cada instituição cumprir um papel para o bom desempenho da sociedade. Portanto, a sociedade busca manter seu equilíbrio e coesão por meio das instituições e das interações sociais. Para Durkheim, a sociedade é um conjunto de normas coletivas, pensamento e sentimento que não existem apenas na consciência dos indivíduos, mas que são construídos exteriormente, isto é, fora das consciências individuais. Os homens em sociedade defrontam-se com regras de conduta, regras essas conhecidas por leis, códigos, decretos, constituições. É por isso que no funcionalismo destaca-se a concepção de fato social, entendido enquanto conjunto de regras e normas coletivas permanentes, ou não, que orientam a vida dos indivíduos em sociedade, exercendo alguma forma de coerção externa ao indivíduo. Neste sentido, os fatos sociais estão associados às maneiras padronizadas como o indivíduo age na sociedade, por exemplo: o modo de agir, de vestir-se, a língua, o sistema monetário, a religião, as leis. Durkheim propõe também uma reflexão sobre os fatos sociais que cumprem uma função integradora [fatos sociais normais]; defende que tais fatos sociais fragilizam os grupos sociais em virtude de os desagregarem [fatos sociais patológicos]. Quando numa sociedade prevalecem os fatos sociais normais, esta se encontra em estado de integração, ordem e harmonia. Mas se os fatos sociais patológicos estão em destaque, a sociedade encontra-se em crise, apelidada pelo autor de anomia (estado social na ausência de normas). Para o funcionalismo, a tarefa da Sociologia é estudar os fatos sociais construídos pelo conjunto da sociedade (exteriores); estes são coercitivos (normativos) e gerais (coletivos) e por isso são independentes da escolha pessoal, subjetiva ou consciente dos indivíduos isoladamente. O conhecimento individual representa a capacidade de compreensão e de interiorização da realidade ou da cultura socialmente construída. Isso somente é possível porque o que o sujeito sente, pensa e faz depende do conjunto de valores, crenças, 52 dados ou leis exteriores a ele que lhe servem de parâmetro e com os quais foi educado no grupo social em que nasceu. Para conhecer mais sobre conceitos de fatos sociais, propomos a leitura de um trecho adaptado do livro “As regras do método sociológico” de Émile Durkheim (1987): Chegamos assim a compreender, de maneira precisa, o domínio da Sociologia, o qual engloba um grupo determinado de fenômenos. O fato social é identificável pelo poder de pressão externa que tem ou é apto a fazer sobre os sujeitos. A presença deste poder é identificável, por sua vez, seja pela existência de alguma penalidade pré-definida, seja pela oposição que o fato opõe a qualquer iniciativa individual que procure violentá-lo. Todavia, podemos defini-lo também pela difusão que apresenta no interior
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