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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA NUCLEAR LARISSA ROCHA PITTA XAVIER ESTUDO DE BLINDAGEM RADIOLÓGICA VISANDO A IMPLANTAÇÃO DE UM OBTURADOR DO FEIXE DE NÊUTRONS NO CANAL DE IRRADIAÇÃO J-9 DO REATOR ARGONAUTA DO INSTITUTO DE ENGENHARIA NUCLEAR – IEN/CNEN Rio de Janeiro 2018 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA LARISSA ROCHA PITTA XAVIER ESTUDO DE BLINDAGEM RADIOLÓGICA VISANDO A IMPLANTAÇÃO DE UM OBTURADOR DO FEIXE DE NÊUTRONS NO CANAL DE IRRADIAÇÃO J-9 DO REATOR ARGONAUTA DO INSTITUTO DE ENGENHARIA NUCLEAR – IEN/CNEN Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Nuclear do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Nuclear. Orientadores: Domingos D’Oliveira Cardoso - D.Sc. Francisco José de Oliveira Ferreira - D.Sc. Rio de Janeiro 2018 2 c2018 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-270 Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento. É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e do(s) orientador(es). 621.48 Xavier, Larissa Rocha Pitta Xavier X3 Estudo de blindagem radiológica visando a implantação de um obturador do feixe de nêutrons no canal de irradiação J-9 do reator argonauta do Instituto de Engenharia Nuclear – IEN/CNEN / Larissa Rocha Pitta Xavier; orientada por Domingos D’Oliveira Cardoso; Francisco José de Oliveira Ferreira – Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2018. 82p.: il. Dissertação (Mestrado) – Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, 2018. 1. Curso de Engenharia Nuclear – teses e dissertações. 2. Radioproteção. 3. Reator argonauta. I. Cardoso, Domingos D’Oliveira. II. Ferreira, Francisco José de Oliveira. III. Instituto Militar de Engenharia. 3 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA LARISSA ROCHA PITTA XAVIER ESTUDO DE BLINDAGEM RADIOLÓGICA VISANDO A IMPLANTAÇÃO DE UM OBTURADOR DO FEIXE DE NÊUTRONS NO CANAL DE IRRADIAÇÃO J-9 DO REATOR ARGONAUTA DO INSTITUTO DE ENGENHARIA NUCLEAR – IEN/CNEN Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Nuclear do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Nuclear. Orientadores: Prof. Domingos D’Oliveira Cardoso - D.Sc. Prof. Francisco José de Oliveira Ferreira - D.Sc. Aprovada em 08 de Maio de 2018 à seguinte Banca Examinadora: Prof. Domingos D’Oliveira Cardoso - D.Sc. do IME - Presidente Prof. Francisco José de Oliveira Ferreira - D.Sc. do IEN Prof. Dante Luiz Voi - D.Sc. do IEN Prof. Ademir Xavier Da Silva - D.Sc. do PEN - COPPE/UFRJ Prof. Sérgio Gavazza - Ph.D. do IME Prof. Rudnei Karam Morales - M.Sc. do IME Rio de Janeiro 2018 4 Dedico este trabalho ao meu pai Roberto, Minha fonte de amor, inspiração e orgulho. 5 AGRADECIMENTOS Aos meus pais Roberto e Adelia, pelos exemplos de vida, dedicação incansável, suporte espiritual e material, sem os quais eu nada teria alcançado na vida; Aos meus avós Aloysio, Dinea (in memoriam) e Iracema, que sempre confiaram em mim, e me sustentaram na fé, no amor e no exemplo; Ao meu companheiro da vida, Gustavo, que sempre esteve ao meu lado e torna minha experiência de vida muito mais leve e prazerosa; Aos meus orientadores Domingos D’Oliveira Cardoso e Francisco José de Oliveira Ferreira que me acolheram com carinho e amizade, me serviram com muitos ensinamentos e orientações, e que também foram meu apoio e força durante todo este trabalho; Ao Exército Brasileiro, ao Instituto Militar de Engenharia, e a Seção de Engenharia Nuclear, principalmente ao professor Ten Cel. Fiel e Mj. Fontes pela oportunidade, pelo conhecimento e pela confiança ofertada; Aos nobres professores da SE/7: Cel R1 Cláudio Oliveira, Cel R1 Rudnei Karam Morales, Dr. Rex Nazaré Alves, Cel R1 Sérgio Gavazza, e Dr. Sérgio de Oliveira Vellozo pelos ensinamentos, paciência e disponibilidade ao longo deste curso; Ao Ten. De Andrade, Sgt Rebello, Cb Alves e a toda a equipe da SE/7, pela amizade e transparência e pelas dicas e auxílios no que tange às questões administrativas relacionadas ao curso; À Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e principalmente à Dra. Lilia Crissiuma Palhares pelo apoio e por tornar esse sonho possível; Aos queridos colegas da Coordenação de Salvaguardas da CNEN, Robson Ramos, Luiz Mello, José Guimarães, Vitório Nunes, Paulo Moitta e Vera Lima pela amizade e incentivos recebidos em fases deste trabalho; Ao Instituto de Engenharia Nuclear (IEN) que disponibilizou as instalações do reator Argonauta e a todo o time do Argonauta, especialmente ao Rogerio Chaffin, João Carlos Pereira, André Luis Barbosa, João Alberto Gadelha e Flavio Porto, que me deu apoio técnico; Às novas amizades que fiz no Mestrado, me acolheram e fizeram essa fase ser mais leve e bem humorada; A todos, minha sincera gratidão. 6 “Se cheguei até aqui foi porque me apoiei no ombro dos gigantes.” Isaac Newton 7 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................. 10 LISTA DE TABELAS ............................................................................................................ 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS .................................................................... 13 LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................ 14 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 17 1.1 O Reator Argonauta ............................................................................................... 19 1.2 Motivação ............................................................................................................... 21 1.3 Objetivo .................................................................................................................. 21 1.4 Justificativa ............................................................................................................. 22 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 23 3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS .......................................................................... 27 3.1 Interação do nêutron com a matéria ....................................................................... 27 3.2 Fontes de nêutrons .................................................................................................. 29 3.2.1 Aceleradores ........................................................................................................... 29 3.2.2 Fontes isotópicas ...................................................................................................29 3.2.3 Reatores .................................................................................................................. 30 3.3 Detecção de nêutrons ............................................................................................. 31 3.3.1 Detector proporcional a gás .................................................................................... 34 3.4 O detector proporcional BF3 .................................................................................. 36 3.4.1 Funcionamento BF3 ................................................................................................ 37 3.4.2 O espectro de altura de pulsos do BF3 e o Efeito parede ....................................... 37 3.4.3 O espectro de altura de pulsos do BF3 para um feixe colimado ............................. 38 3.4.4 Sistema de medidas ............................................................................................... 39 3.5 Blindagem para nêutrons ........................................................................................ 40 3.6 Noções de Proteção Radiológica ............................................................................ 44 3.6.1 Conceito de Proteção Radiológica ......................................................................... 44 3.6.2 Conceito de Segurança Radiológica ....................................................................... 45 8 3.6.3 Princípios de Proteção Radiológica ........................................................................ 46 3.6.4 Cuidados de Proteção Radiológica ......................................................................... 48 3.7 O Reator Argonauta ............................................................................................... 49 3.7.1 Descrição geral ....................................................................................................... 50 3.7.2 Região do combustível .......................................................................................... 54 3.7.3 O elemento combustível ......................................................................................... 54 3.7.4 Coluna térmica externa .......................................................................................... 55 3.7.5 Canais de irradiação ............................................................................................... 55 3.7.6 Canal de irradiação J-9 ........................................................................................... 55 3.7.7 Blindagem .............................................................................................................. 58 3.7.8 Operação do reator ................................................................................................ 60 3.7.9 Controle e segurança do reator ............................................................................... 61 3.7.10 Radioproteção durante a operação do reator .......................................................... 63 3.7.11 Aplicações com o reator ......................................................................................... 64 4 METODOLOGIA ................................................................................................ 67 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................... 71 6 CONCLUSÕES .................................................................................................... 81 6.1 Conclusões ............................................................................................................. 81 6.2 Sugestões para trabalhos futuros ............................................................................ 81 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . ............................................................. 83 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIG. 3.1 Reator Argonauta – IEN/CNEN [18] .................................................................... 20 FIG. 3.2 Seção de choque de alguns moderadores em função da energa do nêutron incidente [20] ........................................................................................................................ 32 FIG. 3.3 Esquema de funcionamento de um detector a gás [6] ........................................... 34 FIG. 3.4 Regiões de operações para detectores à gás [30] ................................................... 35 FIG. 3.5 Formação do pulso, em um detector BF3, pelos nêutrons [14] .............................. 37 FIG. 3.6 Espectro de altura de pulsos do BF3 e Efeito parede [14] ...................................... 38 FIG. 3.7 Espectro de altura de pulsos do BF3 para feixe colimado ...................................... 39 FIG. 3.8 Sistema de medidas .............................................................................................. 39 FIG. 3.9 Coeficientes de atenuação em massa para nêutrons térmicos e RX (100 keV) de alguns materiais [29] .............................................................................................. 44 FIG. 3.10 Perspectiva em corte do reator Argonauta [1] ........................................................ 53 FIG. 3.11 Os diferentes colimadores de grafita [1] ............................................................... 57 FIG. 3.12 Arranjo colimador-moderador no J-9 para obtenção de neutrongrafias e tomografias [18] ..................................................................................................... 58 FIG. 3.13: Corte do reator observando a blindagem de concreto e o tanque d’água [18]......................................................................................................................... 60 FIG. 3.14 Mesa e painéis de controle do reator Argonauta ................................................... 61 FIG. 3.15 Barras de controle (1-6) do reator Argonauta [1] ................................................... 62 FIG. 3.16 Sistema tomográfico para obtenção de imagens de pequenos objetos instalado na saída do canal J-9[18] ............................................................................................. 65 FIG. 4.1 Sistema experimental montado .............................................................................. 67 FIG. 4.2 Alinhamento do espectrômetro com o fluxo de irradiação do canal J-9 ................ 69 FIG. 5.1 Contagem média de nêutrons por grau, no fluxo direto do canal J-9 ..................... 72 FIG. 5.2 Estruturas montadas para o experimento, com as diversas blidangens.................. 73 FIG. 5.3 Espectro de altura de pulsos do BF3 sob irradiação do canal J-9 .......................... 74 FIG. 5.4 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pela Parafina ............................................. 76 FIG. 5.5 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Parafina borada ................................. 76 FIG. 5.6 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Cádmio .............................................. 76 FIG. 5.7 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Gadolínio ........................................... 76 10 FIG. 5.8 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Concreto ............................................ 77 FIG. 5.9 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Porta amostra com água .................... 77 FIG. 5.10 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Porta amostra sem água .................... 77 FIG. 5.11 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Aço inoxidável .................................. 78 FIG. 5.12 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Grafite ............................................... 78 FIG. 5.13 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Ferro .................................................. 78 FIG. 5.14 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Porta amostra de Baquelite .............. 79 FIG. 5.15 Fluxo diretoversus Fluxo transmitido pelo Chumbo ............................................ 79 FIG. 5.16 Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Alumínio ........................................... 79 11 LISTA DE TABELAS TABELA 3.1 Classificação dos nêutrons em função da energia [13]..................................... 28 TABELA 3.2 Fontes Radioisotópicas de Nêutrons [22] ......................................................... 30 TABELA 3.3 Limites primários anuais de dose efetiva [7] .................................................... 47 TABELA 3.4 Características do fluxo de nêutrons na saída do canal J-9 [13] ....................... 58 TABELA 4.1 Especificação da instrumentação utilizada ....................................................... 68 TABELA 4.2 Parâmetros operacionais do sistema de medidas .............................................. 68 TABELA 4.3 Características dos materiais que serviram como blindagem para o fluxo de nêutrons do canal de irradiação J-9 [31]................................................................ 70 TABELA 5.1 Contagem média de nêutrons por grau ............................................................. 71 TABELA 5.2 Média de contagens e desvio padrão para os diferentes materiais ................... 75 TABELA 5.3 Transmissão dos diferentes materiais ................................................................ 80 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ABREVIATURAS ALARA - As Low As Reasonably Achievable BNCT - Técnica por Captura Nêutronica pelo Boro ENDF - Evaluated Nuclear Data File IOE - Indivíduo Ocupacionalmente Exposto MCNP - Monte Carlo N-Particle MCNPX - Monte Carlo N-Particle Extended ROI - Region Of Interest RX - Raio X P&D - Pesquisa & Desenvolvimento SÍMBOLOS cosᵠ - Ângulo de espalhamento no sistema de centro de massa E - Energia final E0 - Energia inicial x - Espessura do material I - Intensidade do feixe após passar pelo material I0 - Intensidade do feixe incidente A - Número de massa do material Pm - Poder de moderação L/D - Razão de colimação Rm - Razão de moderação Σ - Seção de choque macroscópica total Σa - Seção de choque macroscópica para absorção Σs - Seção de choque macroscópica para espalhamento ξ - “Slowing down” v - Velocidade Z - Número atômico 13 LISTA DE SIGLAS CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear ENIAC Electronic Numerical Integrator and Computer FINEP Financiadora de Estudos e Projetos IAEA International Atomic Energy Agency ICRP International Commission on Radiological Protection IEN Instituto de Engenharia Nuclear IPEN Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares ONU Organização das Nações Unidas UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UNSCEAR United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation 14 RESUMO O Argonauta, único reator nuclear de pesquisa instalado no Rio de Janeiro, localizado no Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), atende regularmente uma rede de usuários voltados para área de pesquisa e desenvolvimento, disponibilizando ainda sua infraestrutura para aulas experimentais e trabalhos de conclusão de curso. Devido a uma demanda crescente relacionada a ensaios não destrutivos com nêutrons térmicos e produção de radioisótopos, há uma busca por novos procedimentos e/ou dispositivos que otimizem os procedimentos de radioproteção de forma a minimizar a exposição dos usuários à nêutrons. A implementação de mecanismos que permitam o acesso aos canais de irradiação sem que o reator seja desligado e uma configuração de blindagem que limite as doses ocupacionais otimizarão os procedimentos operacionais do reator. Para alcançar isto, o presente trabalho sugere o estabelecimento de um obturador para o feixe de nêutrons emergente do canal de irradiação J-9 do reator Argonauta do IEN. Foram feitas medidas experimentais no próprio canal de irradiação do reator, utilizando um sistema de detecção de nêutrons baseado no detector BF3, o qual está acoplado a um espectrômetro. Em um primeiro momento realizou-se o alinhamento do feixe de nêutrons ao espectrômetro afim de obter a maior intensidade do fluxo direto de nêutrons. Em seguida, utilizaram-se diferentes materiais como blindagens, visando à atenuação deste feixe. Diante dos resultados obtidos e levando em consideração o custo, manuseio e disponibilidade, recomenda-se a utilização dos materiais hidrogenados, que poderia ser a parafina, a água ou o concreto. Palavras chaves: Radioproteção, Blindagem radiológica, Reator Argonauta, Fluxo de nêutrons, Blindagem de nêutrons. 15 ABSTRACT Argonauta, the only nuclear research reactor situated in Rio de Janeiro, located at the Institute of Nuclear Engineering (IEN), regularly serves a network of users focused on research and development, and also provides its infrastructure for experimental classes and completion work course. Due to increasing demand for non-destructive thermal neutron assays and radioisotope production, there is a search for new procedures and/or devices that optimize radioprotection procedures in order to minimize users' exposure to neutrons. The implementation of mechanisms that allow access to the irradiation channels without the reactor being turned off and with a shielding configuration that limits the occupational doses will optimize the operational procedures of the reactor. In order to achieve this, the present work suggests the establishment of a neutron beam shutter of the J-9 irradiation channel of the IEN’s Argonauta reactor. Experimental measurements were made in the irradiation channel of the reactor using a neutron detection system based on the BF3 detector, which is coupled to a spectrometer. At first, the neutron beam was aligned to the spectrometer in order to obtain the highest direct neutron flux intensity. Then, different materials were used as shields, aiming the attenuation of this beam. Considering the results obtained and taking into consideration the cost, handling and availability, it is recommended to use the hydrogenated materials, which could be paraffin, water or concrete. Keywords: Radioprotection, Radiological shielding, Argonauta reactor, Neutron beam, Neutron beam shutter. 16 1 INTRODUÇÃO A radioatividade e as radiações ionizantes não são percebidas naturalmente pelos órgãos dos sentidos do ser humano, diferindo-se da luz e do calor. Talvez seja por isso que a humanidade não conhecia sua existência e nem seu poder de dano até os últimos anos do século XIX. O pesquisador alemão Wilhelm Conrad Roentgen, em 1895, descobriu os raios X. Estes atravessavam o corpo humano, provocavam fluorescência em determinadas substâncias e impressionavam chapas fotográficas. Eles permitiam obter imagens do interior do corpo. Sua aplicação foi rápida, logo no ano seguinte, 1896, foi instalada a primeira unidade de radiografia diagnóstica nos Estados Unidos. Naquele mesmo ano, Antoine Henri Becquerel anunciou que um sal de urânio com que ele fazia seus experimentos emitia radiações espontaneamente. Mais tarde, mostrou que essas radiações apresentavam características semelhantes às dos raios X, isto é, atravessavam materiais opacos, causavam fluorescência e impressionavam chapas fotográficas. As pesquisas e as descobertas prosseguiram. O casal Pierre e Marie Curie foi responsável pela descoberta e isolamento dos elementos químicos naturalmente radioativos - o Polônio e o Rádio [15]. As idéias a respeito da constituição da matéria e dos átomos foram sendo elucidadas pelos estudos e experimentos que se seguiram às descobertas da radioatividade e das interações das radiações com a matéria. Os conhecimentos obtidos por muitos pesquisadores e cientistas contribuíram para o desenvolvimentoda física atômica e nuclear, mecânica quântica e ondulatória [23]. Pode-se citar Ernest Rutherford, Niels Bohr, Max Planck, Louis de Broglie, Albert Einstein, Enrico Fermi entre outros. Em 1939 já se sabia que o átomo podia ser rompido e que uma grande quantidade de energia era liberada na ruptura, ou seja, na fissão do átomo. Essa energia foi designada como "energia atômica" e mais tarde como "energia nuclear". Com estes conhecimentos científicos foi possível a construção de reatores nucleares e explosivos nucleares [16]. Lamentavelmente, ao final dos anos 30 e início dos anos 40, em vista da situação mundial, muitos países estavam envolvidos na 2ª Guerra Mundial. A busca da hegemonia 17 nuclear levou à construção da bomba atômica. Em 1945, a humanidade tomou conhecimento do poder destruidor das bombas atômicas lançadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. O efeito das bombas não se restringiu à explosão propriamente dita e ao calor gerado por ela, mas também muitas pessoas atingidas morreram posteriormente pelos efeitos causados pelas radiações ionizantes [26]. Com o término da 2ª Guerra Mundial, houve uma preocupação na aplicação da energia proveniente do núcleo do átomo em benefício da humanidade. As alternativas eram a construção de usinas elétricas e a aplicação de materiais radioativos para melhorar as condições de vida da população. A história do desenvolvimento da energia nuclear foi acompanhada também por outros acontecimentos desagradáveis, além das explosões de Hiroshima e Nagasaki. Esses acontecimentos ocorreram quando não se tinha ainda o entendimento adequado sobre os efeitos biológicos das radiações ionizantes. Muitos radiologistas morreram ao redor de 1922 em consequência dos danos causados pelas radiações. Operárias que trabalhavam pintando painéis e ponteiros luminosos de relógio em New Jersey, entre 1917 e 1924, apresentaram lesões nos ossos e muitas delas morreram. Essas lesões foram provocadas pelas radiações emitidas pelos sais de Rádio, ingeridos pelas operárias, durante o seu trabalho [23]. Estes fatos despertaram a atenção da comunidade científica e fez com que fosse criado um novo ramo da ciência, a proteção radiológica, com a finalidade de proteger os indivíduos, regulamentando e limitando o uso das radiações em condições aceitáveis. Em 1928, foi estabelecida uma comissão de peritos em proteção radiológica para sugerir limites de dose e outros procedimentos de trabalho seguro com radiações ionizantes. Esta comissão, a ICRP – International Commission on Radiological Protection, ainda continua como um órgão científico que elabora recomendações sobre a utilização segura de materiais radioativos e de radiações ionizantes. Posteriormente, outros grupos foram criados, com o objetivo de aprofundar os estudos neste campo. Como exemplos têm-se o UNSCEAR - United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation – criado em Assembléia Geral da ONU em 1955 e a IAEA – International Atomic Energy Agency – fundada em 1957 como órgão oficial da ONU, com sede em Viena. A IAEA promove a utilização pacífica da energia nuclear pelos países membros e tem publicado padrões de segurança e normas para manuseio seguro de materiais radioativos, transporte e monitoração ambiental. No Brasil, a utilização das radiações 18 ionizantes e dos materiais radioativos e nucleares é regulamentada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN [30]. Atualmente, a sociedade continua utilizando os materiais radioativos e a energia nuclear nas mais diversas áreas do conhecimento, porém com a consciência que para trabalhar com radiações ionizantes e com materiais radioativos, são necessários conhecimento e responsabilidade. Este trabalho é motivado, exatamente, pela preocupação com aspectos relacionados à radioproteção, com intuito de desenvolver procedimentos ou dispositivos que buscam minimizar a exposição dos indivíduos, alunos e pesquisadores que utilizam o reator Argonauta para suas formações acadêmicas, mas principalmente os IOEs que rotineiramente manipulam os arranjos experimentais instalados na saída do J-9, principal canal de extração do feixe de nêutrons no reator Argonauta. 1.1 O REATOR ARGONAUTA O reator Argonauta (Figura 3.1) é um reator nuclear de baixa potência, sendo o único reator de pesquisa no Rio de Janeiro, instalado no Instituto de Energia Nuclear – IEN – da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, localizado no campus da UFRJ na Cidade Universitária. O Reator Argonauta foi projetado no Argonne National Laboratory, originando o nome Argonauta da combinação do nome do Laboratório com as iniciais de “Nuclear Assembly for University – Trainning”. A empresa CBV Ltda através de contrato com a CNEN, em julho de 1960, construiu o reator modificando e adaptando o projeto original a fim de possibilitar o uso dos componentes existentes no mercado brasileiro. O reator só foi montado no IEN a partir de 1964, ficando crítico aos 20 de fevereiro de 1965 [24]. O reator utiliza urânio enriquecido a 20% do isótopo 235U (doado pelos Estados Unidos), moderado a água e tendo como refletor grafita nuclearmente pura, de origem francesa. Os elementos combustíveis foram fabricados em São Paulo, pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN. 19 O Argonauta possui um núcleo com geometria bem flexível de disposição dos elementos combustíveis no anel e foi projetado para operar a baixa potência permitindo, portanto, fácil acesso para realização de experiências. Este reator destina-se a treinamento e pesquisa, em Física de Reatores e Física Nuclear Aplicada, visando especialização em ciência e tecnologia nuclear. Atualmente, entre as principais linhas de pesquisas estão ensaios não destrutivos com nêutrons térmicos nas áreas de biologia, indústria, meio ambiente e segurança pública nacional. Também são produzidos radioisótopos (Mn-56, La-140, Se-75 e Br-82) para serem utilizados como traçadores em pesquisas nas áreas do meio ambiente e indústria [18]. Cabe ressaltar que, nesse tipo de reator, a segurança é a principal característica. Devido a isto, este trabalho busca encontrar uma solução que vise a otimização da proteção radiológica, implementando novos dispositivos junto ao reator. FIGURA 3.1: Reator Argonauta – IEN/CNEN [18]. 20 1.2 MOTIVAÇÃO O Reator Argonauta apresenta entre as áreas de aplicação mais importantes os ensaios não destrutivos com nêutrons térmicos, os quais abrangem as áreas de biologia, indústria, meio ambiente e segurança pública nacional. Além disso, há a produção de radioisótopos (Mn-56, La-140, Se-75 e Br-82) com a finalidade de aplicá-los como radiotraçadores em pesquisas envolvendo o meio ambiente e a indústria. Também colabora com universidades e instituições de pesquisa, sendo utilizado na formação de alunos de graduação ao doutorado [18]. O Argonauta atende regularmente uma média de 50 alunos/ano de cursos de instituições de ensino do Rio de janeiro, através da disponibilização de sua infraestrutura para aulas experimentais e trabalhos de conclusão de curso. Existe uma demanda crescente relacionada à prestação de serviços com o reator. Além disso, recentemente o Argonauta foi contemplado com um projeto multiusuário da FINEP cujos recursos serão aplicados em adequação e modernização de suas instalações, visando um incremento de suas atividades, o que certamente irá atrair mais usuários. O iminente aumento de usuários implicará na adoção de medidas de radioproteção mais eficazes, com isso, a instalação de um obturador do feixe no canal de irradiação J-9 será um fator importante para a segurança radiológica dos usuários, minimizando a exposição crônica dos indivíduos ocupacionalmente expostos e demais usuários do reator. Ademais, este é o primeiro trabalho desenvolvido no âmbito decooperação IEN/IME, dentro da filosofia do Projeto Multiusuário. 1.3 OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo sugerir, através de medidas experimentais, uma configuração de blindagem radiológica capaz de atuar como obturador do feixe de nêutrons emergente do canal de irradiação J-9 do reator Argonauta do IEN e, por conseguinte otimizar os procedimentos de radioproteção aplicados aos IOEs e demais pesquisadores que o utilizam. 21 1.4 JUSTIFICATIVA A preocupação com aspectos relacionados à radioproteção dos IOEs é uma prática corrente da equipe responsável pela operação do Argonauta. A adoção de novos procedimentos ou dispositivos que visam diminuir a exposição às radiações geradas no reator é uma busca constante, e com o eminente aumento de usuários será necessário adoção de medidas de radioproteção mais eficazes. Também sob o ponto de vista operacional permitirá o acesso aos arranjos experimentais sem que o reator seja desligado, como ocorre hoje, dessa forma, permitindo o aprimoramento e a expansão das atividades de pesquisa junto ao reator, na medida em que tornará possível a implantação de novos dispositivos e técnicas experimentais. Considerando que o J-9 é o principal canal de extração dessas radiações o estudo de uma blindagem radiológica que possa funcionar como uma espécie de obturador é de fundamental importância para permitir a ampliação da utilização do reator. 22 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A finalidade desta revisão da literatura é mostrar o acervo já publicado que serviu de base de referência ao desenvolvimento deste trabalho. O tema e os principais resultados de cada trabalho consultado são descritos de forma sucinta. Em 1989, BAHETE, VANGANI e KUMAR apresentaram um trabalho que continha desenvolvimento de técnicas de otimização de parâmetros como: espessura de moderador, razão L/D, blindagem e outros, para sistemas neutrongráficos utilizando fontes isotópicas. Para diminuir o tempo de exposição ao feixe de nêutrons, devido à baixa intensidade das fontes, sugeriram a utilização de filmes pré-expostos. Em 1990, VOI em sua tese de doutorado, a fim de determinar a estrutura e a dinâmica molecular de amostras de baquelites calcinadas, estudou e determinou as seções de choque por medidas de transmissão e de espalhamento de nêutrons. As medidas de transmissão, com uma aproximação para compostos moleculares desenvolvida neste trabalho forneceram valores de seções de choque totais que difeririam menos que 5% das existentes na literatura. Posteriormente, prováveis fórmulas moleculares para a baquelite foram estimadas através de correlações das medidas de seções de choque com informações fornecidas por espectroscopia de infravermelho, análise elementar e outras técnicas. Com os espectros de frequências obtidos e os resultados fornecidos por todas as técnicas utilizadas foi possível estabelecer um modelo estrutural similar ao de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos para a baquelite calcinada. CRISPIM (1993), em sua tese de doutorado, entitulada “Desenvolvimento de Ensaios Não destrutivos com Neutrongrafias”, concentrou-se na instalação de um sistema tomográfico, no canal de irradiação J-9 do reator Argonauta do IEN/CNEN, com o objetivo de detectar e localizar corrosões ocultas em ligas de alumínio AA 7075. Vários IQ’s (Indicadores de Qualidade) recomendados pela ASTM E 545 foram construídos, com o objetivo de caracterizar o arranjo neutrongráfico e analisar as imagens neutrongráficas obtidas. A partir dos limites observáveis, foram realizadas tomografias com seis diferentes projeções neutrongráficas, para as quais foi construído o algoritmo (ARIEM), baseado no princípio de entropia máxima. Foram realizadas simulações, variando-se o número de projeções e discretização, com o objetivo de se verificar o desempenho do algoritmo, que 23 demonstrou convergir em menos de três interações, reconstruindo satisfatoriamente imagens com apenas 6 projeções e 103 abscissas. CRISPIM e SILVA (1996) utilizaram a técnica neutrongráfica na realização de Ensaios Não-Destrutivos, tendo como fonte de nêutrons o reator de pesquisa Argonauta do IEN/CNEN. Obtiveram resultados bastante animadores nas detecções de: corrosões ocultas na liga de alumínio AA7075 utilizadas em aeronaves; impurezas espalhadoras e absorvedoras de nêutrons em diversas espessuras de aço e lucite; microfissuras em concreto de alta resistência; materiais radioativos; explosivos; inclusões metálicas e hidrogenadas ocultas por invólucros metálicos de altas densidades atômicas. Concluíram que, apesar do sucesso observado, ainda eram esperados avanços tecnológicos, no que concerne a: implantação de um sistema transportável de nêutrons térmicos, capaz de viabilizar a realização dos ensaios neutrongráficos no local da irradiação; ao desenvolvimento de um sistema neutrongráfico em tempo real; e a construção de uma câmera neutrongráfica portátil. MACGILLIVRAY e NRAY SERVICES INC (1996) divulgaram princípios e práticas aplicadas em projetos de colimadores utilizados em radiografia de nêutrons, e que apesar de todo o conhecimento que já se possui sobre essa técnica, algumas instalações têm sido projetadas fora das devidas recomendações de grupos experientes no assunto. Deram ênfase na escolha do material, alertando que este deve ser um bom espalhador de nêutrons e que o feixe colimado não seja contaminado com raios gama de alta energia. SILVA e CRISPIM (2001) apresentaram um trabalho sobre um estudo relativo à eficiência de blindagem do sistema neutrongráfico, com avaliação de desempenho de alguns materiais. Após as simulações realizadas com os materiais (krafton, polietileno borado e polietileno borado-chumbo), concluíram que o polietileno borado-chumbo foi o material que apresentou a melhor eficiência de blindagem para o sistema neutrongráfico proposto. Considerando-se a taxa de emissão da fonte de 1,17.1011 n/s e de modo que a taxa de dose equivalente total na superfície externa da blindagem não exceda 25 µSv.h-1, limite recomendado pelo ICRP-26, a espessura de blindagem mínima estimada foi de 70 cm. Visando melhorar a eficiência da blindagem neutrônica de polietileno borado, simularam uma blindagem composta de CH-B e SUS304 com a seguinte configuração geométrica: moderador, SUS304, blindagem, SUS304. Com isto, obtiveram uma significante redução na espessura da parede de blindagem e na taxa de dose equivalente total. Concluíram, assim, que a otimização do sistema de blindagem é necessária e relevante no aspecto econômico e principalmente em função da proteção radiológica. 24 SILVA, em 1999, demonstrou a potencialidade da neutrongrafia, aliada à tomografia computadorizada por transmissão, para a detecção de narcóticos e explosivos ocultos por diversos materiais. Foram reconstruídas imagens tomográficas, a partir de ensaios experimentais de neutrongrafias realizadas no arranjo instalado no reator Argonauta do IEN/CNEN, e também a partir de simulações realizadas com o código MCNP-4B. Na reconstrução das imagens tomográficas utilizou-se o algoritmo (ARIEM) baseado no princípio de entropia máxima, reconstruindo satisfatoriamente imagens com apenas 6 projeções e 103 abscissas. A conclusão foi de que as reconstruções tomográficas com nêutrons térmicos, de uma forma geral, puderam caracterizar bem a presença de certa quantidade de droga e explosivo, quando submetidos a ocultação por alumínio, chumbo e tecido de algodão. MENEZES (2000), em sua tese de doutorado, entitulada “Radiografia com nêutrons em tempo-real”, utilizou o canal de irradiação 08 do reator nuclear de pesquisa IEA-R1 do IPEN/CNEN-SP e também um obturador de feixe para permitir o acesso dos pesquisadores às posições de irradiação. Este obturador foi constituído de duas partes: um cilindro de alumínio, instalado na parte interna do colimadorde nêutrons, e um dispositivo externo, junto à parede do reator, na saída do mesmo colimador, que se movimentava perpendicularmente ao feixe de nêutrons. O cilindro de alumínio possuía um sistema de tubos por onde podia enchê-lo de água para interromper o feixe de nêutrons, e também esvaziá-lo, quando se queria fazer uma radiografia. O dispositivo externo foi composto de camadas de gadolínio, cádmio, parafina borada e chumbo. Estes dois dispositivos foram capazes de reduzir a dose de radiação neutrônica e gama a níveis seguros na parte interna da blindagem, nas posições de irradiação. ANDRADE (2002), em sua dissertação de mestrado, entitulada “Caracterização de sistemas filme-conversor para radiografia com nêutrons”, utilizou o canal de irradiação 08 do reator nuclear de pesquisa IEA-R1 do IPEN/CNEN-SP, e visando aumentar a segurança do arranjo experimental em termos de proteção radiológica instalou um obturador contra radiação neutrônica (beam-stopper). Este constava de um cone de alumínio que se ajustava ao colimador e que, em sua extremidade de saída do feixe, possuía dois tubos soldados através dos quais água deionizada podia ser inserida ou retirada de seu interior mediante um sistema de bomba d’água e ar comprimido. Além disso, outro dispositivo “carrinho” confeccionado em chumbo com espessura de 15 cm foi utilizado para blindar radiação gama. FERREIRA (2003) realizou um trabalho visando a implantação de um sistema eletrônico para a aquisição de imagens neutrongráficas no reator Argonauta do IEN/CNEN. Foram feitas 25 análises e comparações entre ensaios neutrongráficos realizados no referido reator e no reator IEA-R1 do IPEN/CNEN-SP (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), que dispõe de um sistema em tempo real, e também estudos de diversos sistemas utilizados em outros laboratórios. Concluiu que o arranjo neutrongráfico do IEN estava qualificado em termos de resolução, sensibilidade e intensidade de fluxo de nêutrons para realizar ensaios neutrongráficos em tempo real, utilizando-se um sistema eletrônico de imageamento. Em 2010, CUNHA, realizou simulações computacionais de um reator nuclear de pesquisa utilizando o código de transportes de partículas, o Monte Carlo N-Particle (MCNPX). O reator modelado foi o Argonauta, localizado no IEN/CNEN. Foi totalmente modelado com fidelidade geométrica, incluindo a descrição pormenorizada dos materiais, blindagem e canais de irradiação. Além disso, programas adicionais foram utilizados para verificar a geometria, como o VisEd e Moritz. Durante o trabalho, quatro diferentes simulações foram feitas. A primeira simulação consistiu em estimar a reatividade máxima. Na segunda, as barras de controle foram dispostas num arranjo específico para deixar o reator crítico. A terceira consistiu na colocação de detectores em lugares pré-determinados, onde o reator é monitorado. Na quarta, os detectores foram posicionados ao longo do eixo de maior dimensão do combustível, abrangendo os meios multiplicativo e não-multiplicativo. Com base nestas simulações, o perfil de fluxo de nêutrons térmicos foi plotado. Todos os resultados foram comparados com dados experimentais e obteve-se boa concordância entre eles. Com isto, pode-se considerar que o modelo foi validado. 26 3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS 3.1 INTERAÇÃO DE NÊUTRONS COM A MATÉRIA Por não possuir carga elétrica a interação do nêutron com o campo elétrico dos átomos é desprezível. Sendo assim, a interação do nêutron com o meio material se dá essencialmente pela interação direta com os núcleos dos átomos constituintes do meio. Pela inexistência de repulsão coulombiana, nêutrons de baixa energia se aproximam e penetram no núcleo, iniciando reações nucleares [3]. No meio material o nêutron segue uma trajetória em movimento uniforme até colidir com um núcleo e interagir com o mesmo. Pode-se dividir a interação do nêutron com o núcleo da seguinte forma: 1. Espalhamento – elástico e inelástico: No espalhamento o nêutron interage com o núcleo, mas continua livre, modificando, entretanto, a sua velocidade (energia) e direção da trajetória. Esta interação pode acontecer de duas formas: 1.a. Espalhamento elástico (n,n): Na colisão com o núcleo estacionário, o nêutron transfere parte de sua energia cinética para o núcleo, como no choque de duas bolas de bilhar, sendo que o núcleo adquire uma velocidade de recuo e se mantém em seu estado fundamental. Trata-se de uma simples transferência de energia cinética e de quantidade de movimento, nenhuma energia é transformada em radiação eletromagnética. 1.b. Espalhamento inelástico (n,n’), (n,n’γ): O nêutron incidente é capturado pelo núcleo, formando um núcleo composto num estado excitado, que decai em um outro nêutron de menor energia e emiti o restante de energia sob a forma de radiação gama. Logo, neste processo não há conservação de energia, pois parte da energia de movimento do nêutron inicial se converteu em energia gama. 2. Na absorção o nêutron deixa de ser livre e forma com o núcleo um sistema composto em um estado energeticamente excitado que atinge a estabilidade pela emissão de um ou mais fótons ou de partículas. Nas reações de absorção, os processos mais importantes são: 27 2.a. Captura radioativa (n,p), (n,2n), (n, γ) ou (n,α): O núcleo composto é formado em um estado energeticamente excitado, que atinge a estabilidade emitindo um ou mais fótons ou partículas. Ocorre principalmente com nêutrons incidentes de energia intermediária. 2.b. Fissão nuclear: As reações de fissão induzidas por nêutrons ocorrem com maior frequência em alguns núcleos pesados, como 233U, 235U e 239Pu. Estes são chamados de núcleos físseis. Existem outros núcleos, como o 232Th e 238U, denominados núcleos férteis, que ao capturarem um nêutron se transformam em 233Th e 239U, e decaem em 233U e 239Pu, que são físseis. O nêutron após ser absorvido pelo núcleo forma o núcleo composto que é instável. A separação dos fragmentos ocorre devido à crescente vibração da massa nuclear, onde a repulsão coulombiana entre as cargas dos futuros núcleos exerce um papel fundamental. Além dos fragmentos são emitidos, em média 2,5, nêutrons rápidos e uma quantidade de energia considerável (em média 200 MeV), que aparece na forma cinética dos produtos de fissão. Como resultado da particularidade de suas interações, os nêutrons podem ser classificados de acordo com sua energia cinética, conforme apresentado na Tabela 3.1. TABELA 3.1: Classificação dos nêutrons em função da energia [13]. CLASSIFICAÇÃO FAIXA DE ENERGIA Nêutrons lentos 0 < E < 104 (eV) Nêutrons frios E < 0,01 (eV) Nêutrons térmicos 0,01 < E < 0,3 (eV) Nêutrons epitérmicos 0,3 < E < 104 (eV) Nêutrons rápidos 104 (eV) < E < 20 (MeV) Relativísticos E > 20 (MeV) Além disso, as probabilidades de interações de nêutrons com núcleos do meio são governadas pelas seções de choque, as quais, por sua vez, variam de acordo com a energia do nêutron. A seção de choque para nêutrons em relação a um dado material, nada mais é que a probabilidade de interagirem, por unidade de fluência de nêutrons e por centro de interação do material (núcleo). 28 3.2 FONTES DE NÊUTRONS As fontes de nêutrons são naturalmente separadas em três grupos: a) Aceleradores de partículas; b) Fontes isotópicas; c) Reator nuclear. 3.2.1 ACELERADORES Os aceleradores de partículas produzem nêutrons a partir de algumas reações nucleares entre uma partícula acelerada (próton, deutério, alfa ou gama) e um núcleo alvo leve, tais como: deutério, trítio, lítio ou berílio; resultando em um núcleo composto o qual dá origem à emissão de nêutrons. A intensidade do fluxo alcançada é de 107 a 1010 n.cm-2.s-1. Abaixo tem- se exemplos de algumas reações possíveis:(3.1) (3.2) 3.2.2 FONTES ISOTÓPICAS Fontes de nêutrons provenientes de radioisótopos são atrativas devido a portabilidade (podem ser levadas ao campo) e quanto a facilidade de operação. Seu uso é conveniente, pois essas fontes garantem um fluxo constante e na sua maioria apresentam uma meia-vida bastante longa. Um exemplo deste tipo de fonte de nêutrons é o bombardeamento com partículas alfa (α) proveniente do Polônio (Po) no Berílio (Be), produzindo assim um bom fluxo de nêutrons [29]. 29 (3.3) Os nêutrons produzidos por esta reação possuem um espectro de energia entre 0-13 MeV, com energia média em torno de 5 MeV [32]. Outros exemplos com algumas de suas características são dados na Tabela 3.2. TABELA 3.2: Fontes Radioisotópicas de Nêutrons [22]. FONTE REAÇÃO FAIXA DE ENERGIA EMédia (MeV) 241Am-Be (α, n) 0 – 10 MeV 4,5 124Sb-Be (γ, n) Monoenergética 0,024 24Na-D2O (γ, n) Monoenergética 0,22 24Na-Be (γ, n) Monoenergética 0,83 Fissão (n, f) 0 – 8 MeV 2 226Ra-Be (α, n) 0 – 8 MeV 5 239Pu-Be (α, n) 0 – 8 MeV 4,5 252Cf Fissão 0 – 10 MeV 2,3 2H-2H(D-D) (d, n) Monoenergética 3,24 2H-3H(D-T) (d, n) Monoenergética 14,1 3.2.3 REATORES Os reatores são dispositivos que produzem nêutrons em grande quantidade, devido às reações nucleares em cadeia ocasionadas pelas fissões dos núcleos, uma média de 2 a 3 nêutrons por fissão. Os reatores como os aceleradores dão origem a nêutrons de alta energia (entre 2 MeV, nos reatores e 14 MeV nos aceleradores tipo cíclotron). Devido a grande quantidade de material termalizante nos reatores os nêutrons perdem energia, resultando em um espectro térmico. A vantagem da utilização de reatores está na intensidade do fluxo de nêutrons que se consegue obter, que podem chegar a ordem de 1013 nêutrons/cm2.s. 30 3.3 DETECÇÃO DE NÊUTRONS Os nêutrons são partículas bem singulares e peculiares devido a sua quase insensibilidade a campos eletromagnéticos [32]. A detecção de nêutrons não é trivial devido à ausência de carga, por este motivo, a sua detecção não pode ser feita de forma direta, seu processo de detecção está ligado a efeitos secundários resultantes de suas interações com os núcleos, cujos mecanismos mais usuais são os seguintes [19]: a) Absorção de um nêutron com a fissão do núcleo composto resultante; b) Absorção de um nêutron com a formação de um nuclídeo radioativo cuja atividade pode ser medida; c) Absorção de um nêutron por um núcleo com a emissão imediata de uma partícula carregada rápida; d) Espalhamento de um nêutron por um núcleo leve, como um próton, resultando em uma ionização obtida através do recuo do núcleo leve. Na detecção dos nêutrons são utilizados vários tipos de detectores, como: câmaras de ionização, câmaras de fissão, cintiladores líquidos acoplados a fotomultiplicadoras, detectores proporcionais (BF3 e 3He) e semicondutores. Os detectores mais utilizados para a monitoração ambiental são as câmaras de ionização, os detectores proporcionais a gás e os detectores cintiladores. Segundo BELL et al (2005) em termos de dispositivos, os detectores de nêutrons podem ser classificados em [5]: a) Baseados em danos por radiação: detectores sólidos de traços nucleares e de bolha; b) Baseados em partículas carregadas: BF3, 3He e cintiladores inorgânicos e orgânicos; c) Baseados em raios gama e radioatividade induzida: folhas de ativação e CdWO4. Partindo do princípio que a detecção dos nêutrons é feita de maneira indireta, faz-se necessário a utilização de materiais moderadores. Como as fontes de nêutrons também geram radiações gama, que podem interferir na medição, é necessário que o detector seja capaz de discriminar a presença dessa radiação. Grande parte dos monitores de área para nêutrons são construídos por três componentes fundamentais: moderador de nêutrons, detector e a componente eletrônica. O princípio básico de funcionamento destes detectores é através da conversão da energia do nêutron em uma partícula carregada: Nêutrons + moderador → Radiação ionizante [29]. 31 A maioria dos moderadores, de detectores gasosos, é feito de polietileno de alta densidade. O polietileno possui excelentes qualidades físicas devido a sua robustez, pois é constituído por hidrogênio sendo utilizado para gerar prótons de recuo, devido a função de termalizar os nêutrons rápidos incidentes através a perda de energia por choques elásticos, que é mais favorável nos núcleos leves [12]. O moderador é um material que apresenta alta seção de choque (probabilidade de interação) para nêutrons. Na Figura 3.2 é possível observar a seção de choque de alguns moderadores em função da energia do nêutron incidente. FIGURA 3.2: Seção de choque de alguns moderadores em função da energia do nêutron incidente [20]. Os moderadores mais utilizados na detecção de nêutrons são: a) Boro-10 (10B): Utilizado em vários detectores, principalmente os detectores BF3 e os detectores com paredes revestidas de Boro. Apresenta uma secção de choque de 3840 b para nêutrons térmicos, e sua moderação é feita a partir da seguinte reação [29]: 32 (3.4) * Probabilidade de ocorrência = 6%. ** Probabilidade de ocorrência = 94%. A partícula alfa é emitida com 1,47 MeV e o núcleo de Li excitado decai emitindo um raio gama de aproximadamente 480 keV. b) Hélio-3 (3He): Utilizado em detectores gasosos, apresenta uma secção de choque de 5330 b para nêutrons térmicos. Sua moderação é feita por meio da reação: (3.5) c) Lítio-6 (6Li): Utilizado como conversor para nêutrons térmicos, apresenta uma seção de choque de 940 b para nêutrons térmicos. Sua moderação acontece a partir da reação: (3.6) Como visto anteriormente, o método utilizado de detecção de nêutrons é o processo indireto de detecção, que envolve converter a energia liberada de tais reações em sinais elétricos. Este processo apresenta diferenças em relação ao utilizado na detecção de partículas eletricamente carregadas, devido a colisão do nêutron incidente no detector com algum núcleo que componha este material. 3.3.1 DETECTOR PROPORCIONAL A GÁS É o mais utilizado na detecção de nêutrons, baseado na coleta de íons formados pela passagem da radiação, ionizando o gás. É um detector fácil de ser manipulado e operado, com poucos equipamentos adicionais e com variedade de gases. 33 O detector proporcional é um detector do tipo câmara de gás, operado em modo pulso. Os pulsos originados são muitas vezes maiores do que aqueles das câmaras de ionização e, por esse motivo, os detectores proporcionais são muito convenientes para as medições de radiação onde o número de pares de íons é muito pequeno para permitir uma operação satisfatória de uma câmara de ionização. Preenchido com gás, possui um filamento central, onde as paredes do tubo operam como catodo e o filamento como anodo, conforme apresentado na Figura 3.3. A presença do campo elétrico no detector e de alguns dispositivos serve para coletar os elétrons e íons positivos formados novolume sensível do detector e medir a radiação incidente no mesmo. FIGURA 3.3: Esquema de funcionamento de um detector a gás [6]. Os detectores proporcionais operam na Região III do gráfico da Figura 3.4. Após a interação da radiação ionizante no volume gasoso, e a formação dos pares de íons primários, devido ao aumento do campo elétrico, os elétrons acelerados têm energia suficiente para arrancar elétrons de outros átomos e, dessa forma, criar novos pares de íons. Ocorre então uma multiplicação, conhecida como fator constante M, que é linearmente proporcional ao número de pares de íons gerados pela radiação primária. Essa região é também chamada de região de proporcionalidade verdadeira, onde operam os detectores proporcionais. O sinal inicial é multiplicado por um fator de 102 a 104 vezes, dependendo do gás e da tensão aplicada. O sinal coletado na maioria das vezes precisa ser pouco amplificado, o que facilita seu processamento. 34 FIGURA 3.4: Regiões de operações para detectores a gás [30]. Na região I não é conveniente a operação de detectores, pois apesar de os pares de íons serem formados, como o campo elétrico é muito fraco, ocorre um processo de recombinação dos íons e somente parte das cargas geradas é coletada, e com isso a amplitude do pulso pode variar sem proporcionalidade com a quantidade ou a energia da radiação incidente. Na região II, onde operam as câmaras de ionização, após um determinado valor do campo elétrico todos os íons formados são coletados, e o sinal é então proporcional à energia da radiação incidente. O valor do sinal permanece o mesmo para um intervalo de variação do campo elétrico, em que a coleta das cargas não traz nenhum processo adicional. Já na região IV não há a operação de detectores, pois com o aumento do campo elétrico, a multiplicação do gás passa a sofrer efeitos não-lineares, não guardando mais a relação de proporcionalidade com o número de pares de íons gerados inicialmente. Os elétrons criados pela multiplicação são rapidamente coletados no anodo, enquanto que os íons positivos se movem mais lentamente para o catodo. A concentração dessa nuvem de íons positivos tem como efeito criar uma carga espacial próxima ao catodo, alterando a forma do campo elétrico no detector. Como as multiplicações subsequentes dependem do valor do campo elétrico surgem as não-linearidades que afetam a proporcionalidade. 35 Como visto anteriormente, a região V é utilizada para operar os detectores do tipo Geiger-Müller. No momento em que a voltagem aplicada for suficientemente alta, a carga espacial criada pelos íons positivos passa a ser tão grande que a perturbação que cria no campo elétrico interrompe o processo de multiplicação. Nesse caso o número de pares de íons criados passará a ser sempre da mesma ordem, independentemente do número de pares criados originalmente, portanto o sinal será independente da energia da radiação. E por último, tem-se a região VI, a qual não pode haver a operação de detectores, caso isso ocorra pode danificá-los. Um aumento ainda maior no valor do campo elétrico irá ocasionar o surgimento de centelhas, não havendo mais relação com o número de íons formados [30]. 3.4 O DETECTOR PROPORCIONAL BF3 O mais bem conhecido detector de nêutrons é o proporcional BF3 que consiste de um tubo cilíndrico (geralmente de alumínio, latão ou cobre) preenchido com o gás Trifluoreto de Boro com pressão de 0,5 a 1,0 atm, que atua como gás de preenchimento proporcional. O alumínio é tipicamente usado como parede do detector (catodo) devido à sua pequena seção de choque para nêutrons. O ânodo é quase sempre um único fio fino que corre pelo eixo do tubo. Para melhorar a eficiência de detecção, o BF3 é enriquecido no B-10. Os enriquecimentos típicos aumentam o componente B-10 para 96% (o boro comum é 20% B-10 e 80% B-11). Uma característica importante dos detectores BF3 é sua capacidade em discriminar raios gamas. Uma simples discriminação de amplitude pode eliminar facilmente esses raios gamas sem comprometer a eficiência na detecção de nêutrons. Essa amplitude pode ser obtida através do espectro integral dos nêutrons detectados, assinalando a partir de qual ponto o espectro está constante após o decaimento inicial. 3.4.1 FUNCIONAMENTO BF3 Quando um nêutron é absorvido pelo componente B-10 do gás, produz-se uma partícula alfa e um núcleo Li-7 de recuo que se deslocam em direções opostas, assim como mostra a 36 Figura 3.5. O movimento da partícula alfa e do núcleo de Li-7 criam pares de íons primários no gás. O tamanho do impulso resultante depende se o núcleo de Lítio foi deixado no estado fundamental ou em estado excitado. Quando o núcleo de Lítio é deixado no estado fundamental (cerca de 6% do tempo), o pulso é maior do que se o núcleo fosse deixado em estado excitado (cerca de 94% do tempo), porque a partícula alfa e o núcleo Li-7 têm mais energia cinética (2,79 MeV x 2,31 MeV) para criar pares de íons. FIGURA 3.5: Formação do pulso, em um detector BF3, pelos nêutrons [14]. 3.4.2 O ESPECTRO DE ALTURA DE PULSOS DO BF3 E O EFEITO PAREDE Em um detector de grande diâmetro, quase toda a energia cinética da partícula alfa e do núcleo Li-7 é depositada no gás detector. O espectro de altura de pulso, portanto, mostra dois picos: um grande a 2,31 MeV (os núcleos de Lítio foram deixados em estado excitado) e um pequeno a 2,79 MeV (os núcleos de Lítio foram deixados no estado fundamental), como é possível observar na Figura 3.6. Para tubos de tamanho típico (de 2 a 5 cm de diâmetro), são produzidos frequentemente pulsos menores, porque a partícula alfa ou o núcleo Li-7 depositam parte da sua energia na parede do detector ao invés de depositar no gás. O "efeito parede" resultante cria duas etapas no lado esquerdo do pico de 2,31 MeV, como é mostrado também na Figura 3.6. O degrau inferior na esquerda é produzido como resultado da partícula alfa atingindo a parede e o Li-7 depositando toda a sua energia (0,84 MeV) no gás. O degrau superior na direita resulta do núcleo Li-7 atingindo a parede e a partícula alfa depositando toda a sua energia (1,47 MeV) no gás. 37 A Figura 3.6 apresenta o espectro de altura de pulso de um detector BF3 [14]. Em particular, os dois degraus à esquerda do pico de 2,31 MeV são mais difíceis de distinguir do que o mostrado aqui. FIGURA 3.6: Espectro de altura de pulsos do BF3 e Efeito parede [14]. 3.4.3 O ESPECTRO DE ALTURA DE PULSOS DO BF3 PARA UM FEIXE COLIMADO Neste caso os nêutrons incidem sobre o detector na direção do fio central e todas as partículas alfa e Li-7 depositam inteiramente suas energias cinéticas no gás formando íons, e portanto, não aparecem os degraus no espectro, somente os picos relativos as reações principais, como mostrado na Figura 3.7. 38 FIGURA 3.7: Espectro de altura de pulsos do BF3 para feixe colimado. 3.4.4 SISTEMA DE MEDIDAS O sistema de medidas, além do próprio detector BF3, é composto de: pré-amplificador e multi channel analyzer, que incorpora a fonte de alta tensão, amplificador e buffer multicanal, conforme apresentado na Figura 3.8 abaixo: FIGURA 3.8: Sistema de medidas. Detector BF3 Pré amplificador Multi Channel Analyzer HV Amplificador Buffer multicanal 39 Os ajustes de alta tensão (HV), ganhos do amplificador, nível de discriminação são realizados através do software de gerenciamento do multicanal. 3.5 BLINDAGEM PARA NÊUTRONS As blindagens para nêutrons envolvem três processos: moderação, captura dos nêutrons térmicos e absorção das radiações secundárias. Na moderação a quantidade de energia perdida por um nêutron em cada colisão depende da massa do núcleo e do ângulo de espalhamento. Um nêutron pode perder cerca de somente 2% de sua energiaao colidir com um núcleo de 238U, mas perde cerca de 28% dela ao colidir com o núcleo de carbono e, com o ferro, pode reduzi-la de 0,5 MeV, por choque inelástico [9]. Para nêutrons que sofrem espalhamentos elásticos em um meio não absorvedor, a relação entre a energia antes (E0) e após é dada por [11]: (3.1) onde A é o número de massa do material moderador e φ o ângulo de espalhamento no sistema de centro de massa. Se assumirmos um espalhamento isotrópico no moderador, a perda média de energia do nêutron por colisão elástica, no sistema de centro de massa, é dada por [11]: (3.2) onde Há uma forma mais conveniente de expressar o processo de perda de energia do nêutron (slowing-down), visto que não depende de sua energia. Este pode ser representado através do decréscimo médio do logaritmo da energia do nêutron por colisão, ξ, dado por [11]: 40 (3.3) O conhecimento de ξ permite determinar o número médio de colisões necessárias para moderar um nêutron da energia E0 para E, por espalhamento elástico. Este número é dado por [11]: (3.4) As duas últimas equações expostas acima mostram que quanto menor o número de massa do material, melhor o moderador, do ponto de vista da quantidade de moderação por colisão. No entanto, o valor de n sozinho não mede a eficiência do moderador. Outros aspectos, tais como probabilidades de absorção do nêutron e a densidade de núcleos, influenciam na escolha de um ótimo material moderador. Pequena seção de choque macroscópica para absorção (Σa) – caso contrário, muitos nêutrons são perdidos por absorção – e a alta seção de choque macroscópica para espalhamento (Σs) são duas propriedades de um ótimo moderador. Reunindo-se esses fatores com ξ, podemos definir o poder de moderação, que nada mais é que a perda média do logaritmo da energia por centímetro de trajetória do nêutron, e a razão de moderação, que é uma medida relativa sobre a capacidade de um moderador espalhar nêutrons sem absorvê-los em grande quantidade: (3.5) (3.6) A razão de moderação deve ser a maior possível para que ocorra uma boa moderação. Para que os nêutrons fiquem termalizados é necessário que ele sofra colisões ao atravessar a matéria, perdendo parte de sua energia até que atinja a faixa térmica. Para que isso ocorra são utilizados materiais moderadores, que tem a função de diminuir a sua 41 velocidade. Materiais hidrogenados, por exemplo, a parafina e o polietileno, são ricos em hidrogênio e são considerados bons moderadores. Após a atenuação de uma grande parcela de nêutrons rápidos pelo material moderador, um fluxo considerável de nêutrons térmicos, epitérmicos e rápidos, e de raios gama (primários e secundários) escapam do sistema, expondo o trabalhador a uma dose indesejável. A espessura de blindagem para os nêutrons de alta energia pode ser estimada, após primeiramente moderá-los. Para os nêutrons térmicos, uma espessura de material absorvedor com alta seção de choque para captura deve ser usada. Dentre as opções, o uso de um absorvedor enriquecido com boro-10 é eficiente, pois, além de possuir uma alta seção de choque de captura na faixa térmica, incorpora-se bem aos materiais moderadores, tais com a parafina e o polietileno. A reação predominante é: (3.7) o fóton gama resultante dessa reação é de baixa energia (0,48 MeV) e pode ser facilmente blindado. Os núcleos de lítio (0,84 MeV) e as partículas alfa (1,47 MeV) são altamente ionizantes e têm poder de penetração extremamente limitados e, portanto, são facilmente blindados. O 113Cd também possui alta seção de choque para captura de nêutrons térmicos, mas um fóton gama de 9,05 MeV acompanha a reação, originando uma fonte considerável de raios gama que precisa ser blindada. Outra contribuição intensa de radiação gama é a decorrente da interação dos nêutrons térmicos com os átomos de hidrogênio constituintes do moderador e da blindagem, que liberam raios gama de 2,2 MeV, provenientes do processo de captura radioativa, que contribui significativamente para a taxa de dose total. A atenuação de um feixe de nêutrons para um dado material é do tipo exponencial. (3.8) onde: x - é a espessura do material; 42 I - intensidade do feixe após o material; I0 - intensidade do feixe incidente; Σ – seção de choque macroscópica total para nêutrons com energia E. Com isso é possível observar a atenuação dos nêutrons dependem da seção de choque e da espessura do material. A seção de choque para nêutrons não possui uma regra estabelecida como ocorre no caso dos fótons, que está aqui simplificado pelo raio x, aonde o coeficiente de atenuação aumenta, com o aumento do número atômico, como é possível observar na Figura 3.9. Para nêutrons isso é muito aleatório. Às vezes materiais leves tem alta seção de choque (exemplo do Boro), já um elemento vizinho a ele na tabela periódica tem baixa seção de choque (exemplo do Alumínio). O mesmo acontece para os elementos pesados. Elementos com alto número atômico podem apresentar alta seção de choque (exemplo do Gadolínio), assim como em outros casos podem apresentar seção de choque baixa (exemplo do Chumbo). FIGURA 3.9: Coeficientes de atenuação em massa para nêutrons térmicos e RX (100 keV) de alguns materiais [29]. 43 3.6 NOÇÕES DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA 3.6.1 CONCEITO DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA A Proteção Radiológica, ou Radioproteção, pode ser definida como um conjunto de medidas que visam proteger o homem e o ecossistema de possíveis efeitos indesejáveis causados pelas radiações ionizantes. Para isso ela analisa os diversos tipos de fontes de radiação, as diferentes radiações e modos de interação com a matéria viva ou inerte, as possíveis consequências e sequelas à saúde e riscos associados. Para avaliar quantitativa e qualitativamente esses possíveis efeitos definiram-se grandezas radiológicas, suas unidades, os instrumentos de medição e detalhados procedimentos do uso das radiações ionizantes. O estabelecimento de normas regulatórias, os limites permissíveis e um plano de Proteção Radiológica para as instalações que executam práticas com radiação ionizante, têm por objetivo garantir o seu uso correto e seguro. Procedimentos para situações de emergência também devem ser definidos para o caso do desvio da normalidade de funcionamento de uma instalação ou prática radiológica. Os conceitos, procedimentos, grandezas e filosofia de trabalho em proteção radiológica são continuamente detalhadas e atualizadas nas publicações da International Commission on Radiological Protection, ICRP. Além disso, existe também a International Commission on Radiation Units and Measurements, ICRU, que cuida das grandezas e unidades, seu processo de aperfeiçoamento e atualização [30]. Os conceitos contidos nas publicações da ICRP e ICRU constituem recomendações internacionais. Cada país pode ou não adotá-los parcial ou totalmente, quando forem estabelecidas suas Normas de Proteção Radiológica. Tudo depende do estágio de desenvolvimento do país, da capacidade ou viabilidade de execução, em cada área de aplicação. 3.6.2 CONCEITO DE SEGURANÇA RADIOLÓGICA A Segurança constitui uma parte importante da Proteção Radiológica. Sem o estabelecimento de uma Cultura de Segurança,que inclua estrutura, organização, prática, 44 habilidade, treinamento e conhecimento, fica difícil estabelecer um nível de proteção adequado. A estrutura de um sistema de segurança permite o exercício apropriado da proteção desejada. Por exemplo, num sistema de blindagem multicamadas de um reator nuclear, a proteção dos usuários fica mais fácil de ser garantida. Obviamente ela depende da correta execução dos procedimentos, do treinamento e engajamento dos operadores da instalação. A consciência coletiva para a execução rigorosa das tarefas programadas e estabelecidas pelo programa de qualidade de operação, unifica e expressa a cultura de segurança dos trabalhadores da instalação. Em muitas situações, as medidas de segurança coincidem com as de proteção radiológica. Mas existem outras como, por exemplo, de segurança física e segurança do trabalho que ultrapassam as exigidas em proteção radiológica. Obviamente, constatam-se outras situações em que exigências de proteção radiológica são mais rigorosas que as de segurança, como por exemplo, a filosofia de estabelecimento dos limites de doses máximas permissíveis, para as diversas práticas e situações que, embora seguros, a proteção radiológica exige uma ordem de grandeza abaixo em seus valores, para tranquilizar as pessoas sobre o risco do uso da radiação nuclear, que muitos temem [30]. Em segurança do trabalho e de operação de muitas instalações, os níveis de insalubridade e periculosidade, quando ultrapassados podem já causar danos perceptíveis nos indivíduos. Em Proteção Radiológica, quando os limites máximos permissíveis são ultrapassados dificilmente algum dano é constatado; somente a probabilidade de ocorrência é que aumenta de valor. A segurança utilizada na Proteção Radiológica está bem detalhada na publicação da Agência Internacional de Energia Atômica [17]. 3.6.3 PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Em geral, as atividades de proteção radiológica seguem os seguintes princípios fundamentais [30]: • Justificação: Os objetivos da proteção contra as radiações são a prevenção ou a diminuição dos seus efeitos somáticos e a redução da deterioração genética dos povos, onde o problema das exposições crônicas adquire importância fundamental. Considera-se que 45 a dose acumulada num período de vários anos seja o fator preponderante, mesmo que as doses intermitentes recebidas durante esse período sejam pequenas. Assim, qualquer atividade envolvendo radiação ou exposição deve ser justificada em relação a outras alternativas e produzir um benefício líquido positivo para a sociedade. • Otimização: O princípio básico da proteção radiológica ocupacional estabelece que todas as exposições devem ser mantidas tão baixas quanto razoavelmente exequíveis (ALARA: As Low As Reasonably Achievable). Isto porque, estudos epidemiológicos e radiobiológicos em baixas doses mostraram que não existe um limiar real de dose para os efeitos estocásticos. Assim, qualquer exposição de um tecido envolve um risco carcinogênico, dependendo da radiossensibilidade desse tecido por unidade de dose equivalente (coeficiente de risco somático). Além disso, qualquer exposição das gônadas pode levar a um detrimento genético nos descendentes do indivíduo exposto. O princípio ALARA estabelece, portanto, a necessidade do aumento do nível de proteção a um ponto tal que aperfeiçoamentos posteriores produziriam reduções menos significantes do que os esforços necessários. A aplicação desse princípio requer a otimização da proteção radiológica em todas as situações onde possam ser controladas por medidas de proteção, particularmente na seleção, planejamento de equipamentos, operações e sistemas de proteção. Os esforços envolvidos na proteção e o detrimento da radiação podem ser considerados em termos de custos; desta forma uma otimização em termos quantitativos pode ser realizada com base numa análise custo-benefício. • Limitação da dose individual As doses individuais de Indivíduos Ocupacionalmente Expostos (IOE) e de indivíduos do público não devem exceder os limites anuais de doses estabelecidos na Tabela 3.3 de acordo com [7]. 46 TABELA 3.3: Limites primários anuais de dose [7]. Grandeza Indivíduo Ocupacionalmente Exposto (mSv) Indivíduo do Público (mSv) Aprendiz ou estudante* (mSv) Visitante ou acompanhante (mSv) Dose efetiva ou de corpo inteiro 20 1 6 5 Dose equivalente Cristalino 150 15 50 - Extremidades** Pele 500 50 150 - * De 16 a 18 anos ** Mãos e pés Os valores dos limites variam com o tempo. Eles dependem do estado de desenvolvimento da prática de proteção radiológica no mundo ou num determinado país, dos limites de detecção dos equipamentos que medem as grandezas operacionais vinculadas às grandezas primárias estabelecidas em norma e das prioridades estabelecidas pelos grupos humanos em determinada época. Por exemplo, os limites estabelecidos na Basic Safety Series 115 da Agência Internacional de Energia Atômica são coerentes com os recomendados pela Comissão Internacional de Proteção Radiológica, na publicação 60 (ICRP 60) e foram acatados pela Norma NN-3.01, cuja revisão pela CNEN, foi concluída em 2014. Na Tabela 3.3 acima que resume os limites estabelecidos pela Norma NN- 3.01 percebe-se a preocupação social com os aprendizes, estudantes e acompanhantes de pacientes em hospitais. Em condições de exposição rotineira, nenhum IOE pode receber, por ano, doses efetivas ou equivalentes superiores aos limites primários estabelecidos pela Norma CNEN-NN-3.01 [7], mostrados na Tabela 3.3. 3.6.4 CUIDADOS DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA As radiações externas podem ser controladas operando três parâmetros: tempo, distância e blindagem [30]: 47 • Tempo: A dose acumulada por uma pessoa que trabalha numa área exposta a uma determinada taxa de dose é diretamente proporcional ao tempo em que ela permanece na área. Essa dose pode ser controlada pela limitação desse tempo. Como o tempo de permanência em áreas de trabalho nas quais existem materiais radioativos ou fontes de radiação, conforme o tipo de tarefa a ser realizada, deve ser empregado procedimentos de redução na dose do IOE. Os recursos mais utilizados são: o aumento da distância ou a introdução de material de blindagem entre o homem e a fonte de radiação. Deve-se sempre ter em mente que quanto menor o tempo de exposição, menores serão os efeitos causados pela radiação. • Distância: Para uma fonte puntiforme, emitindo radiações em todas as direções, o fluxo, que é proporcional à taxa de dose numa determinada distância r da fonte, é inversamente proporcional ao quadrado dessa distância. Logo, duplicando a distância entre a fonte e o detector, reduz-se a taxa de dose a 1/4 de seu valor inicial. Dessa forma, o modo mais fácil de evitar exposição às radiações ionizantes é ficar longe da fonte. • Blindagem: As pessoas que trabalham com fontes ou geradores de radiação ionizante devem dispor de procedimentos técnicos bem elaborados de modo que o objetivo da tarefa seja concretizado e sua segurança esteja garantida contra exposições desnecessárias ou acidentais. Em certas situações, principalmente quando se opera com fontes intensas ou níveis elevados de radiação é necessário introduzir outro fator de segurança: a blindagem. A escolha do material de blindagem depende do tipo de radiação, atividade da fonte e da taxa de dose que é aceitável fora do material de blindagem. O cálculo e construção de uma blindagem para uma instalação devem levar em consideração a localização dos geradores de radiação, as direções possíveis de incidência do feixe, o tempo de ocupação da máquina ou fonte, a carga de trabalho, os locais e áreas circunvizinhas, a planta da instalação. Além do cálculo da barreira primária, deve-se calcular a barreira secundáriadevido ao espalhamento da radiação nas paredes, equipamentos e no ar. 48 Após a escolha dos materiais da construção da instalação e da blindagem, calculam-se as espessuras e escolhem-se as geometrias que otimizam a redução do nível de radiação estabelecidos por normas, específicas e gerais, de proteção radiológica. 3.7 O REATOR ARGONAUTA O reator Argonauta destina-se a treinamento e pesquisa, em Física de Reatores e Física Nuclear Aplicada, de pessoal visando especialização em ciência e tecnologia nucleares. Cabe ressaltar que, nesse tipo de reator, a segurança é a sua principal característica. A potência máxima de projeto do reator é de 10 kW para carregamento em 2 lâminas de combustível e 5kW para 1 lâmina. Na atual configuração, de uma só lâmina de combustível, o reator pode atingir a uma potência de pico de 1 kW, para 1 hora de operação e de até 500 W para operação contínua. O reator possui um núcleo com geometria bem flexível de disposição dos elementos combustíveis no anel e foi projetado para operar a baixa potência permitindo, portanto, fácil acesso para facilidades experimentais. Ressaltando-se que devido a sua baixa potência e, consequentemente, à baixa temperatura atingida pelo combustível, a água que serve de moderador e refrigerante, é totalmente retirada quando ocorre um SCRAM intencional ou emergencial, sem que ocorra problemas nos elementos combustíveis [1]. O reator possui coeficiente de reatividade negativo, tanto de temperatura como de vazio, o que o torna inerentemente seguro. O Argonauta é um reator de pesquisa que utiliza urânio enriquecido a 20% do isótopo 235U (doado pelos Estados Unidos), moderado a água e tendo como refletor grafita nuclearmente pura, de origem francesa. Os elementos combustíveis foram fabricados em São Paulo, pelo IPEN. A operação do reator está a cargo do Serviço do Reator Argonauta (SEREA), ligada a Divisão de Engenharia Nuclear (DENN) do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), que é um órgão da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). 49 3.7.1 DESCRIÇÃO GERAL O reator é constituído de dois cilindros de alumínio colocados concentricamente de modo a formar uma coroa cilíndrica ou anel cilíndrico. O cilindro de menor diâmetro é preenchido com grafita e é denominada coluna térmica interna. No anel formado entre os dois cilindros estão localizados os elementos combustíveis que são constituídos de placas formadas por uma mistura sinterizada de óxido de urânio (U3O8) com alumínio em pó, mistura essa necessária para a ligação "cermet"/revestimento. As placas são revestidas de alumínio, espaçadas de modo que a água entre elas sirva de moderador dos nêutrons e refrigere os elementos combustíveis. O núcleo é envolvido por blocos de grafita empilhados e possui uma região de maior comprimento, denominada coluna térmica externa, contendo várias gavetas para introdução de amostras no reator. Lâminas de cádmio revestidas de alumínio são os absorvedores de nêutrons térmicos, deslocam dentro de canais na grafita refletora, paralelamente à geratriz do cilindro maior e tem a função de controlar o fluxo de nêutrons. São em número de seis. Três destas barras funcionam como barras de segurança e três, tem a função de controle. Envolvendo todo o conjunto acima descrito existe a blindagem biológica de concreto e um tanque contendo água para experiências, e que possibilita o acesso às câmaras de ionização e serve também como blindagem. Blindagens removíveis são colocadas na parte superior do reator permitindo um fácil acesso ao núcleo. Detectores de nêutrons estão distribuídos em torno do núcleo constituindo os sistemas de pulsos e os canais de potência. O sistema de pulsos utiliza dois detectores BF3 que são eficientes para baixos níveis de nêutrons. Um deles é envolvido com cádmio para ser ligado quando o nível de contagens de nêutrons aumenta evitando a saturação. Os canais de potência utilizam quatro câmaras de ionização de 10B, sendo duas delas compensadas de modo a indicar apenas a corrente devida aos nêutrons, eliminando a originada pelos raios gama. As correntes elétricas originadas nestas câmaras são proporcionais aos fluxos de nêutrons do reator e são indicadas na mesa de controle. O Reator Argonauta é extremamente seguro, possuindo coeficiente de reatividade negativa, tanto de temperatura como de vazio, o que lhe dá uma característica de segurança inerente. 50 O seu Sistema de Intertravamento, atua de maneira que, por falha, abre a válvula de dreno e o moderador é retirado do núcleo, imediatamente, retornando ao tanque de dreno por gravidade. Simultaneamente, as barras de controle e segurança são introduzidas por gravidade podendo-se, ainda, injetar nitrogênio para produzir "bolhas" no moderador. O sistema de introdução de nitrogênio também serve para demonstrar que o reator possui um coeficiente de vazio negativo, isto é, nos vazios formados pelas "bolhas de vazio". A perda do moderador/refrigerante não implica em problemas para o reator, tendo em vista a sua pequena potência de operação. Detectores localizados em áreas do salão do reator indicam na mesa de controle o nível de radiação gama, desligando o reator quando este nível atinge valores pré-fixados. O desligamento manual é realizado por cinco botões de emergência, sendo dois deles localizados na mesa de controle e os demais nos seguintes locais: coluna térmica externa, poço do reator e topo do reator. A água utilizada como moderador fica armazenada no tanque de dreno localizado no poço do reator, juntamente com a bomba principal, que é utilizada para bombear água para o núcleo, e a secundária que faz a circulação pelo deionizador, trocador de calor e aquecedor [1]. A seguir é possível observar as principais partes do Argonauta através da Figura 3.10, a qual mostra a perspectiva em corte do reator: 51 / 1 FIGURA 3.10: Perspectiva em corte do reator Argonauta [1]. 52 3.7.2 REGIÃO DO COMBUSTÍVEL O anel formado entre os dois tanques interno e externo é denominado região do combustível. A distribuição dos elementos combustíveis é bastante flexível sendo quatro as maneiras mais usuais: em anel, isto é, distribuídos em toda a região (utilizando oito ou nove placas por elemento); em dois segmentos de anel iguais e simétricos; em apenas um segmento de anel ou em seis conjuntos de dois elementos distribuídos simetricamente. O fluxo de nêutrons e a massa crítica são fortemente afetados pelas diferentes distribuições. Denomina-se carregamento em "uma lâmina", o carregamento em um segmento de anel. Considera-se, com um pequeno erro, como lâmina plana, este tipo de arranjo (aproximação para cálculo teórico simplificado). O arranjo de duas lâminas simétricas uniformiza o fluxo. O núcleo possui 24 posições nas dimensões dos elementos combustíveis (72,5mm x 150mm de seção e 609,6mm de altura), espaçados por vinte e quatro cunhas de grafita para completá-lo geometricamente. Blocos de mesma dimensão dos elementos combustíveis foram usinados e servem para substituição dos mesmos nos diversos arranjos [1]. 3.7.3 O ELEMENTO COMBUSTÍVEL Atualmente existem três tipos de elementos combustíveis, a saber: • 4 elementos (normal) com 17 placas (≈ 20,0 g 235U); • 2 elementos (EMX) com 11 placas (≈ 20,0 g 235U) + 6 placas (≈10,0 g 235U); • 2 elementos (EGP) com 7 placas (≈ 10,0 g 235U) + ½ prisma de grafita. Todos os três tipos de combustíveis formam um conjunto de dimensões externas de 72,5mm x 149,6mm de seção e 609,6mm de altura. As placas dos elementos combustíveis contêm uma mistura de alumínio e de U3O8, ambos em pó, sendo o urânio enriquecido a 19,91%. Esta mistura é prensada para compactação e pré-sinterização em forno elétrico de mufla, em uma atmosfera de Argônio a 520°C. O "cermet" (miolo) assim obtido é colocado em uma moldura de alumíniode 12mm de espessura e, então, soldado uma de cada lado, a duas chapas de alumínio de 2mm de espessura. O conjunto assim formado é laminado inicialmente a quente para caldeamento e difusão e, em seguida, a frio, para obter as dimensões de 2,43mm x 72,2mm x 610mm, conforme especificação [1]. 53 3.7.4 COLUNA TÉRMICA EXTERNA Em uma das faces do refletor se justapõe à coluna térmica externa com 1559mm x 1572mm e altura de 1257mm. É constituída de peças longas de grafita empilhadas em camadas cruzadas. A coluna térmica possui treze peças longitudinais removíveis que dão acesso ao refletor, com exceção de uma que tangencia o tanque externo. 3.7.5 CANAIS DE IRRADIAÇÃO A coluna térmica interna possui quatro canais em forma de paralelepípedos. Estes podem ser removidos e neles inseridas amostras para irradiação. Enquanto a coluna térmica externa, situada na parte frontal do reator, contém treze blocos de grafita que podem ser removidos para montagem de arranjos experimentais, exceto o canal J-9 que alcança o núcleo na altura média dos elementos combustíveis, e por isso, disponibiliza uma maior intensidade de fluxo de nêutrons. 3.7.6 CANAL DE IRRADIAÇÃO J-9 É o principal canal de irradiação e o mais utilizado. Está situado exatamente à meia altura do elemento combustível e a 575 mm do piso do reator. Dispõe de um fluxo de nêutrons térmicos de 1,522 x 109 n/cm2s no início do canal e razão de cádmio 2,3 ± 0,12 com o plug padrão introduzido, à potência de 170 watts. O seu plug padrão é constituído de dois blocos de grafita. Um deles é o bloco exterior com 1252 mm de comprimento, o qual contem cinco orifícios, sendo quatro com 20 mm de diâmetro e 5 mm de profundidade e um com 38,1mm de diâmetro e 50,8mm de profundidade. O outro é o bloco interior com 600 mm de comprimento, contando com três orifícios cilíndricos de 38,1mm de diâmetro e 50,8mm de profundidade. Um tampão padrão de 600 mm de comprimento preenchido com parafina e intercalado por placas de chumbo de 3 mm de espessura é utilizada para complementar a blindagem na região exterior do canal. Existem ainda outros plugs e blindagens opcionais: um bloco interior opcional de 600 mm de comprimento com quatro furos cilíndricos de 65 mm de diâmetro e profundidade de 60 mm para irradiações de amostras; um bloco interior opcional de 600 mm de comprimento 54 com um orifício central de 25 mm de diâmetro, o qual é utilizado como colimador para espectrometria de nêutrons, e onde se pode introduzir tarugos de grafita, berílio ou outros moderadores. Isto possibilita a complementação da moderação de nêutrons oriundos do núcleo, com considerável incremento na intensidade de nêutrons térmicos. Há também uma blindagem opcional preenchida com parafina com 640 mm de comprimento com um orifício retangular para colocação de colimadores tipo “soller slit” para espectrometria e ainda um segmento exterior opcional de forma cônica, em acrílico, e recoberto por alumínio que permite arranjos bem definidos para uso em neutrongrafia com nêutrons térmicos [1]. Além disso, no canal J-9 existem várias possibilidades de colimação, como é possível observar na Figura 3.11, permitindo ajustar o feixe de nêutrons de acordo com o experimento que se vai realizar. São os colimadores de grafita, paralelo, divergente, blocos de grafite (termalizador), tipo gaveta e “beam-role”, que definem a intensidade e a divergência do fluxo de nêutrons na saída J-9 [5]. 55 /1 FIGURA 3.11: Os diferentes colimadores de grafita [1]. 56 Na saída do canal J-9 encontra-se instalado um espectrômetro de cristal utilizado para medidas de seção de choque de materiais e compostos. Ademais, através de técnicas de transmissão, espalhamento e de difração de nêutrons por cristais é feita a análise de pureza nuclear de elementos e compostos e também a medida do espectro de nêutrons térmicos do reator e perfil de fluxo do canal. Por último, na saída deste canal também são instalados os sistemas para obtenção de imagens por tomografia e neutrongrafia, como mostra a Figura 3.12. FIGURA 3.12: Arranjo colimador-moderador no J-9 para obtenção de neutrongrafias e tomografias [18]. As principais características do fluxo de saída deste canal estão apresentadas abaixo na Tabela 3.4 [13]: TABELA 3.4: Características do fluxo de nêutrons na saída do canal J-9 [13]. POTÊNCIA DO REATOR: 340 W Fluxo térmico (n.cm2.s-1) 4,46 x 105 Razão de colimação L/D 70 Razão Nêutron/Gama (n.cm2.mrem-1) 3 x 106 Energia Média (meV) 30 3.7.7 BLINDAGEM Blocos de concreto comum empilhados em torno do refletor têm a função de blindagem, como é possível observar na Figura 3.13, possuindo espessura mínima de 1800 mm. 57 Uma parede de concreto de 914 mm de espessura foi construída em frente à coluna térmica, possuindo aberturas normalmente blindadas por tarugos de concreto, que permitem a retirada da peça de grafita removíveis da coluna. No lado oposto à coluna térmica, encontra-se o tanque d’água removível (tanque de blindagem) para permitir acesso às câmaras de ionização localizadas em canais existentes no refletor externo. Este tanque (Figura 3.13), de dimensões 1219 mm x 2133 mm e altura 1067 mm, além de servir de blindagem, constitui uma disponibilidade experimental. O tanque está apoiado em um carro que possui rodas que se deslocam sobre trilhos. É movimentado usando- se cabos de aço que se deslocam em um sistema de roldanas, sendo um dos cabos para introduzi-lo no túnel existente na blindagem e o outro para retirá-lo. Na parte superior do reator, uma placa de alumínio está apoiada sobre uma estrutura de vigas de alumínio rebitadas. Nesta chapa, que é vazada de maneira a permitir o acesso ao núcleo do reator, ficam apoiadas as barras de controle, os espigões de centralização do escudo superior e os "micro-switch" que indicam a existência de blindagem no topo do reator. A blindagem do topo é constituída de um escudo construído em concreto de 1537 mm x 1537 mm x 305 mm revestido com chapa de aço, possuindo no centro uma abertura de 1009,7 mm de diâmetro permitindo o acesso ao núcleo. Nesta abertura é colocado um tampão circular, construído em chapa de aço e preenchido com concreto e minério de ferro, de mesmo diâmetro (990,6 mm), e espessura de 305 mm, possuindo dois bujões: um central circular, que permite acesso ao orifício central da coluna térmica interna, e o outro radial, que permite a carga e descarga dos elementos combustíveis no núcleo. O tampão circular pode girar e possui furos permitindo posicionar a abertura do tampão radial acima da posição do elemento combustível correspondente ao furo no tampão, posicionando-o no pino do escudo. Blindagens adicionais, em número de quatro, constituídas de camadas alternadas de ferro, fenolite e concreto, de dimensões 1680 mm x 1680 mm x 210 mm, são colocadas no topo do reator, no caso de operações em níveis de potência elevada. Estas blindagens possuem furos para acesso ao orifício central da coluna térmica interna e para acesso à cunha especial de grafita. O reator, no eixo central (tanque de blindagem e coluna térmica externa), possui partes em que as blindagens de concreto não são sobrepostas. Tal fato gerou a necessidade de se projetar uma estrutura formada de chapas de alumínio, ligadas por parafusos de aço, para sustentar o peso das blindagens fixas e removíveis [1]. 58 FIGURA 3.13: Corte do reator observando a blindagem de concreto e o tanque d’água [18]. 3.7.8 OPERAÇÃO DO REATOR Para colocar o reator em operação, através da mesa de controle do operador (Figura 3.14), a primeira ação a ser feita é a introdução abaixo do núcleo de uma fonte de nêutrons que tem como finalidade fornecer um fluxo de nêutrons suficiente para atingir a sensibilidade dos instrumentos, uma vez que no início do funcionamentodo reator não existem muitos nêutrons para darem uma indicação precisa ao operador do estado do reator. Após a introdução da fonte de nêutrons, são retiradas as três barras de segurança do reator. A seguir é fechada a válvula de dreno e ligado a bomba principal, lançando a água do tanque de dreno no núcleo. Como operação final, as barras de controle são retiradas até a posição conveniente para o carregamento de combustível que está sendo usado, mantendo o reator crítico na potência desejada. Uma vez crítico o reator, ficam à disposição dos pesquisadores os diversos canais experimentais para a realização de seus ensaios [24]. 59 FIGURA 3.14: Mesa e painéis de controle do Reator Argonauta. 3.7.9 CONTROLE E SEGURANÇA DO REATOR Como visto anteriormente, a partida do reator é feita manualmente por uma fonte móvel de nêutrons e este é operado através das três barras de controle, como mostra a Figura 3.15. Estas são recolhidas por uma embreagem magnética que se, desacopladas, caem por gravidade. A reatividade é controlada a partir da posição das barras de controle. Enquanto o controle de fluxo é feito por barras de cádmio que deslizam em orifícios existentes no refletor. 60 FIGURA 3.15: Barras de controle (1-6) do reator Argonauta [1]. 61 Os detectores de nêutrons são localizados em torno do núcleo, detectores BF3, e nos canais de potência, câmaras de ionização. Além disso, existem detectores de radiação gama localizados no salão do reator, que caso atinjam um nível pré-fixado de radiação, desligam automaticamente o reator. O sistema do reator é extremamente seguro. Qualquer eventual falha, pelo processo de gravidade, desencadeia o dreno da água e a queda de todas as barras. Assim, os nêutrons deixam de ser moderadores e passam a ser absorvidos pelas barras de cádmio provocando o desligamento do reator. Para aumentar a segurança do reator, foi instalado um sistema de intertravamento, de forma que todas as operações necessárias para colocar o reator em operação tenham que ser realizadas em uma determinada ordem, como se indica por uma chave seletora na mesa de controle. Desta forma, é impossível efetuar uma operação sem que todas as operações anteriores a ela tenham sido realizadas, sendo qualquer tentativa de pular uma das operações irrealizável [24]. Quando ocorre alguma falha ou um disparo em qualquer instrumento ou quando é acionado um dos botões de emergência, a válvula de dreno é aberta, retirando o moderador do núcleo, que imediatamente retorna ao tanque de dreno por gravidade, logo desligando o reator. 3.7.10 RADIOPROTEÇÃO DURANTE A OPERAÇÃO DO REATOR De acordo com o Procedimento 04 de controle de acesso a instalação do reator Argonauta, do Manual de Procedimento de Proteção Radiológica do IEN [1], só é possível acessar o reator portando um dosímetro de leitura individual para nêutron e gama. Além disso, durante a operação, a equipe de proteção radiológica acompanha a atividade realizando monitoramento nos locais onde os trabalhos são efetuados [23]. Visto que não há uma blindagem separando o salão da saída do canal J-9, o procedimento orienta também os usuários a não passarem na frente do canal, visto que o fluxo de nêutrons em sua saída é alto, assim obrigando o usuário a dar a volta no salão todo. Além disso, qualquer atividade próxima da saída do canal, tais como, troca de amostras, ajuste do ângulo do espectrômetro, troca de filmes radiológicos, remoção/colocação de amostras para serem irradiadas dentro do canal, só podem acontecer com as barras de controle do reator completamente inseridas, ou seja, praticamente desligá-lo. Isto implica em uma 62 nova partida no reator, operação essa que retarda o desenvolvimento da pesquisa, visto que o reator demora por volta de 30 minutos para atingir a criticalidade novamente. 3.7.11 APLICAÇÕES COM O REATOR Uma das principais aplicações do reator é em fins didáticos, o qual colabora com universidade e instituições de pesquisa, ministrando disciplinas e aulas diversas, complementando a formação de alunos da graduação ao doutorado. Na última década, cerca de 10 trabalhos de pesquisa associados a cursos de mestrado e 11 a cursos de doutorado foram obtidos fazendo uso das instalações e das irradiações com nêutrons. Devido à grande utilização de técnicas nucleares, o reator tem contribuído muito para o desenvolvimento de pesquisas em biologia, meio ambiente, indústria e outras. Além de fins didáticos, o feixe de nêutrons do reator é utilizado em P&D de física nuclear aplicada. Estas se tratam de análises não-destrutivas para obter informações sobre a construção interna de um objeto ou sobre quais materiais o constituem. Essas técnicas de grafia valem-se das propriedades que os nêutrons possuem de apresentarem seções de choque que variam aleatoriamente em relação aos elementos e não estabelecerem nenhuma dependência com o número atômico ou densidade, como acontece no caso dos raios x e gama. A radiografia pode ser feita por transmissão, reflexão, emissão ou espalhamento de nêutrons, como mostra a Figura 3.16. No caso do Reator Argonauta, as imagens são geradas por transmissão. Um detector é colocado atrás da amostra, a qual se deseja observar, para medir a intensidade da radiação de nêutrons que o atinge. Essa intensidade medida no detector é função da seção de choque e espessura do material que o feixe atravessou. O detector registra e armazena essa informação em um computador, sendo a imagem bidimensional reconstruída posteriormente por métodos computacionais. 63 FIGURA 3.16: Sistema tomográfico para obtenção de imagens de pequenos objetos instalado na saída do canal J-9 [18]. A produção de radioisótopos é outra aplicação do reator, são feitas por ativação com nêutrons térmicos, sendo possível verificar a presença e/ou quantidade de elementos que constituem amostras geológicas, arqueológicas, ambientais, de alimentos, de plantas, de vegetais e outras. A amostra se torna radioativa após o bombardeio com nêutrons. Em seguida, os isótopos radioativos criados são identificados e as concentrações dos elementos são determinados pelos raios gama que são emitidos. A vantagem desta sobre as técnicas analíticas convencionais é a sensibilidade para detectar pequenas concentrações de muitos elementos químicos. Devido ao fluxo do reator Argonauta nos principais locais de irradiação, são verificados elementos com concentrações da ordem de ppm (parte por milhão). Para realizar a análise por ativação com nêutrons, a amostra é preparada em um recipiente selado de plástico ou quartzo. Em seguida, é exposta ao feixe de nêutrons por um tempo adequado. Durante a irradiação são criados radioisótopos, geralmente instáveis, que irão decair com o tempo. Uma parte dessa energia liberada no decaimento é, na maioria das vezes, sob a forma de radiação gama, a qual consegue atravessar para fora do recipiente onde está a amostra. Como os raios gamas possuem energias específicas que são característicos do radioisótopo, ao serem detectados é possível caracterizar a presença de cada radionuclídeo. Devido ao fato de os nêutrons ao atingirem o núcleo do átomo não interferirem nas camadas eletrônicas, este método consegue detectar a concentração total de cada elemento, independente do estado de oxidação, forma química ou localização física [10]. Além disso, ultimamente são realizados experimentos realizados com um espectrômetro de cristal ou um espectrômetro de tempo de vôo, os quais se aplicam técnicas como da difração para obtenção de nêutrons monocromáticos dentro do espectro térmico do reator e, da técnica de transmissão para a obtenção de seções de choque. O método analítico do 64 agrupamento e parcelamento permite a obtenção de seções de choque para nêutrons de moléculas e compostos químicos e a construção debibliotecas de dados de nêutrons, que não são disponíveis nas bibliotecas padrões internacionais. Trabalhos com aminoácidos também permitem a obtenção de dados de seções de choque para aplicação em proteínas e outras moléculas grandes. Estes dados podem ser utilizados, por exemplo, para confrontar dados dos fabricantes tanto de aminoácidos como das proteínas. Estudos mais profundos com o espalhamento de nêutrons sobre as estrutura e dinâmica moleculares de proteínas permitem detectar erros de dobramento que são motivos de diversas doenças no ser humano. 65 4 METODOLOGIA A metodologia empregada nesse estudo baseou-se na medida experimental da intensidade do fluxo de nêutrons emergentes do canal J-9, quando blindados por diferentes tipos de materiais. Para isso utilizou-se um sistema de medidas nucleares baseado no detector BF3, que normalmente é utilizado para medidas de seção de choque, e neste trabalho foi adaptado para o estudo de eficiência de blindagem. O sistema de medidas encontra-se instalado no espectrômetro de cristal, arranjo experimental frontal ao canal J-9, e é composto de: pré amplificador, multichannel analyzer, que engloba a fonte de alta tensão, amplificador, e buffer multicanal, e eletrônica associada e o software WinSpec, como exposto na Figura 4.1. Tanto o multichannel analyzer como o software foram incorporados a instrumentação de medidas já existentes no reator Argonauta. FIGURA 4.1: Sistema experimental montado. Na Tabela 4.1 a seguir está apresentada a especificação da instrumentação utilizada: 66 TABELA 4.1: Especificação da instrumentação utilizada. Equipamento Especificação Detector BF3 Wood Counter Laboratory – Modelo 12543 Pré amplificador Oxford TC 175 Multi channel analyzer GBS Elektronik GmbH Rossendorf – MCA 166 WinSpec Versão 2.04.0000 Os parâmetros operacionais do sistema de medidas são apresentados na Tabela 4.2, os quais já foram historicamente usados [31]. TABELA 4.2: Parâmetros operacionais do sistema de medidas. Equipamento Parâmetro operacional Valor Fonte de alimentação High Voltage (HV) 2000 V Amplificador Ganho Grosso 1000 Ganho Fino 1,0 Buffer multicanal Número de canais 1024 WinSpec ROIs 18 a 44 100 a 828 Para realizar as medidas, o canal J-9 foi preparado utilizando-se os colimadores de grafita internos, paralelo e divergente, e na saída do canal instalada a gaveta com colimador de barras paralelas, conforme apresentados na Figura 3.11, com os objetivos de intensificar a componente térmica e diminuir a divergência e o espalhamento de nêutrons [27]. Na entrada do espectrômetro também foram instalados colimadores e blindagens adicionais de cádmio e parafina borada também com o objetivo de evitar a detecção de nêutrons espalhados, e assim assegurar a contribuição apenas de nêutrons oriundos do J-9. O trabalho experimental dividiu-se em duas etapas. A primeira foi responsável por alinhar o feixe de nêutrons do canal J-9 com o detector BF3, de modo a se obter a melhor posição para o espectrômetro que seria o ponto em que o feixe direto fosse mais intenso e, consequentemente, conseguir obter uma melhor estatística de contagem. A segunda etapa foi referente à comparação das medidas do feixe direto e da transmissão do feixe interceptado pelas diferentes blindagens. 67 Na primeira etapa, para obter o posicionamento adequado, o espectrômetro foi montado em um sistema de trilhos que possibilita a rotação deste equipamento em até 360 graus, com variações mínimas de 0,1 grau. Foram realizadas medições entre as posições de θ de -6 a 6 graus, passando pelo zero, com intervalo de 1 grau. Na Figura 4.2 é possível observar como foi feita a rotação do espectrômetro. Para cada ângulo θ foi calculada uma média simples para um total de três medidas, cada uma de 30 segundos. FIGURA 4.2: Alinhamento do espectrômetro com o fluxo de irradiação do canal J-9. Para a segunda parte experimental foram selecionados diversos materiais, alguns citados na literatura especializada, tais como baquelite [31], parafina borada e chumbo [25], alumínio e água [2] usualmente utilizados como blindagens para nêutrons e outros em função da alta seção de choque (Figura 3.9), como cádmio, gadolínio e elementos hidrogenados, com intuito de verificar suas capacidades de blindar o feixe de nêutrons, e assim sugerir qual material será mais apropriado para ser empregado como obturador do feixe de nêutrons emergente do canal J-9. 68 Os materiais disponíveis e que foram utilizados e suas características podem ser observados na Tabela 4.3 a seguir [31]: TABELA 4.3: Características dos materiais que serviram como blindagem para o fluxo de nêutrons do canal de irradiação J-9 [31]. MATERIAL ESPESSURA (cm) DENSIDADE (g/cm3) Parafina 1,80 0,90 Parafina borada 1,25 * Cádmio 0,05 8,65 Gadolínio 0,005 7,90 Concreto (alta densidade) 2,23 3,60 Água 2,35 1,00 Aço inoxidável 0,85 8,00 Grafite 1,50 2,16 Ferro 0,85 7,87 Baquelite (porta amostra) 0,20 1,38 Chumbo 1,07 11,34 Alumínio 1,33 2,70 * Em determinação. A medida da intensidade do feixe de nêutrons emergentes do canal J-9, feixe direto, foi realizada sem nenhum material entre a saída do canal e o detector. Em seguida, posicionou-se um a um os materiais descritos acima, de forma a blindar o fluxo oriundo do canal J-9, conforme Figura 5.2. Para cada condição descrita acima foram realizadas 3 medidas de 300 segundos cada. 69 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Seguindo a metodologia, iniciou-se pelo alinhamento do feixe emergente do canal J-9 com o espectrômetro, onde se encontra o detector BF3. Para realização desta etapa, o reator operou a 34 W, sendo realizadas medições entre as posições -6 a 6 graus, passando pelo zero, com intervalos de 1 grau. Como é possível observar nos resultados apresentados na Tabela 5.1 e no Gráfico 5.1 o alinhamento representado pelo maior fluxo de nêutrons ocorreu na posição (-1) grau. Nesta condição foi verificada, através do espectro obtido, a relação entre a área sob o pico atribuído a detecção de nêutrons com a área sob o pico obtida com a detecção de gama, sendo encontrada a razão de 28,4. TABELA 5.1: Contagem média de nêutrons por grau. Ângulo θ (º) Média 6 242 5 231 4 455 3 714 2 976 1 1876 0 7773 -1 15490 -2 8286 -3 1342 -4 1047 -5 536 -6 321 70 FIGURA 5.1: Contagem média de nêutrons por grau, no fluxo direto do canal J- 9. Com espectrômetro alinhado na posição (-1°), iniciou-se a segunda etapa de medidas. A potência do reator foi ajustada para 170 Watts, com a finalidade de aumentar a estatística de contagem nas condições em que o feixe de nêutrons oriundo do J-9 fosse blindado pelos diferentes materiais utilizados. Para esse novo nível de potência foi novamente verificada a relação entre a área sob o pico de nêutron com a de gama, através do espectro obtido, como mostra a Figura 5.3. Obtendo-se uma razão de 28,6, bastante próxima da relação citada anteriormente, confirmando assim que não ocorreu a saturação do detector. Na Figura 5.2, é possível observar a estrutura montada para as seguintes barreiras: (1) Parafina borada; (2) Chumbo; (3) Gadolínio; (4) Concreto; (5) Parafina comum; (6) Ferro; (7) Grafite; (8) Alumínio; (9) Cádmio; (10) Porta amostra de Baquelite; (11) Aço inox; (12) Porta amostra com água. 71 FIGURA 5.2: Estruturas montadas para o experimento, com as diversas blindagens. Iniciando-se pelo feixe direto a média das contagens encontradas para os fluxos de nêutrons foi de 348014, com um desvio padrão de 6%. Na Figura 5.3 pode ser observado um dos espectros do feixe direto, obtidos no buffer multicanal: 72 FIGURA 5.3: Espectro de altura de pulsos do BF3 sob irradiação do canal J-9. Observandoo espectro é possível ver que este foi dividido em duas regiões principais. A primeira localizada a esquerda (ROI 18 a 44) encontra-se o pico referente à radiação gama e ruídos. A segunda ROI de (100 a 828) é a principal para o estudo em questão, pois representa o pico referente às contagens de nêutrons. Repetiu-se o mesmo procedimento utilizado para o feixe direto para cada um dos materiais em estudo separadamente. Na tabela 5.2 estão dispostos as contagens médias e o desvio padrão para as diversas blindagens: 73 TABELA 5.2: Média de contagens e desvio padrão para os diferentes materiais. Material Média de contagens Desvio padrão (%) Parafina 6686 4 Parafina borada 18909 3 Cádmio 24992 3 Gadolínio 93186 5 Concreto 131429 7 Porta amostra com água 2496 7 Porta amostra sem água 151313 2 Água 148818 2 Aço inoxidável 169914 2 Grafite 198425 3 Ferro 199702 8 Baquelite 211973 3 Chumbo 276259 8 Alumínio 282927 5 Em particular, para determinar a medida para o material água realizou-se uma medida do porta amostra com água e uma medida do porta amostra vazio. Dessa forma a medida exclusiva para o material água foi determinada pela diferença entre os dois valores. Para uma melhor apresentação dos resultados obtidos estão dispostos, a seguir, conjuntamente o espectro obtido com o feixe direto e com o material de blindagem em estudo, possibilitando assim uma melhor análise na blindagem dos nêutrons provenientes do canal J- 9. FIGURA 5.4: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pela Parafina. 74 FIGURA 5.5: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pela Parafina borada. FIGURA 5.6: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Cádmio. FIGURA 5.7: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Gadolínio. FIGURA 5.8: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Concreto. 75 FIGURA 5.9: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Porta amostra com água. FIGURA 5.10: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Porta amostra sem água. FIGURA 5.11: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Aço inoxidável. 76 FIGURA 5.12: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Grafite. FIGURA 5.13: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Ferro. FIGURA 5.14: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Porta amostra de Baquelite. FIGURA 5.15: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Chumbo. 77 FIGURA 5.16: Fluxo direto versus Fluxo transmitido pelo Alumínio. Observando as medidas experimentais representadas pelos espectros foi possível calcular a transmissão do feixe quando blindados pelos materiais. A seguir, na Tabela 5.3, é apresentada a transmissão para cada um dos materiais em estudo: TABELA 5.3: Transmissão dos diferentes materiais. Material Espessura (cm) Transmissão Parafina 1,80 0,019 Parafina borada 1,25 0,054 Cádmio 0,05 0,072 Gadolínio 0,005 0,268 Concreto 2,23 0,378 Água 2,35 0,428 Aço inoxidável 0,85 0,488 Grafite 1,50 0,570 Ferro 0,85 0,574 Baquelite 0,20 0,609 Chumbo 1,07 0,794 Alumínio 1,33 0,813 78 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 6.1 CONCLUSÕES Os resultados obtidos pelas medidas experimentais estão em acordo com a literatura, isto é, os materiais que apresentam menor transmissão de nêutrons são os hidrogenados, a parafina, a parafina borada, a água e o concreto, assim como, o cádmio e o gadolínio. E por isso são os mais indicados para serem utilizados no obturador do feixe. Por outro lado, também pode se observar que os metais, tais como alumínio, chumbo, ferro e aço inoxidável apresentam uma grande transmissão. Além disso, para a escolha do melhor material a ser utilizado como obturador do feixe deve-se levar em consideração o custo, manuseio e disponibilidade. Diante dos resultados obtidos recomenda-se a utilização dos materiais hidrogenados, que poderia ser a parafina, a água ou o concreto. Porém, devido as considerações relacionadas a construção do obturador recomenda-se um estudo complementar para determinar a melhor geometria do mesmo. Destaca-se ainda o emprego da metodologia de medida da transmissão do feixe de nêutrons, normalmente utilizada em estudos para medidas de seção de choque, para obtenção dos resultados obtidos nesse estudo. Ressalta-se ainda, a utilização de instrumentação de medidas nucleares, existentes no reator Argonauta que foi adaptada para a utilização de equipamentos modernos, com controle operacional via software, o que facilitou a interpretação, análise e conclusões dos resultados. 6.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Fica como principal sugestão para futuros trabalhos realizar simulações com o código MCNPX para as mesmas condições das medidas experimentais feitas nesse trabalho. Uma vez as medidas da simulação validadas, estas poderão ser utilizadas na análise de outros 79 materiais não disponíveis durante a execução deste trabalho ou em uma blindagem composta por vários materiais ou na variação das espessuras e na determinação das seções de choque totais dos materiais. Também é um tópico interessante para ser desenvolvido em futuros trabalhos, o estudo do deslocamento dos espectros de altura de pulso observado para os materiais absorvedores. Outro trabalho que também poderia ser desenvolvido a partir das medidas obtidas nessa dissertação seria um estudo verificando a influência da radiação gama emitida do canal J-9 nas questões radiológicas do reator Argonauta. 80 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGHINA L.O.B, Relatório de análise de Segurança do reator Argonauta. IEN, Rio de Janeiro, 1989. ANDRADE M.L.G., Caracterização de sistemas filme-conversor para radiografia com nêutrons. Dissertação de Mestrado, IPEN, São Paulo, 2002. ATTIX, F.H., Introduction to radiological physics and radiation dosimetry. John Wiley and Sons, pp.1-607. 1986. BAHETI, G.L., VANGANI, V.S., KUMAR, R., Optimization Techniques in Low Flux Neutron Radiography. Proceedings of the Third World Conference, Osaka, pp 571-576. 1989. BELL, Z.W., CARPENTER, D.A., CRISTY, S.T., Neutron detection with cryogenics and semicinductors. Phisica Status Solidi (C), v.2, n.5, pp. 1592-1605. 2005. BARBOSA, A.F., Técnicas de Detecção. Notas de Aula. 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