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Complementação Pedagógica MÓDULO I FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE Seu Futuro Começa Aqui! Coordenação Pedagógica – IBRA Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 1 SUMÁRIO CAPÍTULO 1: A PRÁTICA ESCOLAR E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR ......................... 2 Conceitos .......................................................................................................................... 2 Teorias Da Aprendizagem ................................................................................................ 4 Didática ............................................................................................................................. 9 Modalidades De Ensino .................................................................................................. 12 O Papel E Desafios Do Professor .................................................................................. 15 CAPÍTULO 2: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DE DELIMITAÇÃO DOS SABERES DOCENTES .................................................................................................................................................. 17 História Da Educação No Brasil ..................................................................................... 17 Autores Destaques Da Educação................................................................................... 22 CAPÍTULO 3: TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS ...................................................................... 24 Tendência Liberal ............................................................................................................ 25 Tendência Progressista .................................................................................................. 30 CAPÍTULO 4: OS DIFERENTES ESPAÇOS DE FORMAÇÃO ............................................. 35 A Importância Da Educação Em Ambientes Não Escolares ......................................... 35 A Formação De Professores .......................................................................................... 39 CAPÍTULO 5: CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS PEDAGÓGICAS ................................ 43 Introdução ....................................................................................................................... 43 Metodologias Ativas ........................................................................................................ 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ............................................................................. 59 Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 2 CAPÍTULO 1: A PRÁTICA ESCOLAR E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARTE 1 – CONCEITOS Antes de adentrar no conteúdo é necessário conhecermos alguns conceitos. Iniciaremos com o conceito de educação e escola sob a ótica de Mário Sérgio Cortella: Educação é a formação de uma pessoa; a escolarização é um pedaço dela. A educação, é a responsabilidade dos pais. A escola é a instituição responsável pela escolarização, e o professor responde por parte dessa escolarização1 A participação dos pais possui papel fundamental, pois conforme acima citado por Mário Sérgio Cortella, a educação é muito mais que a escolarização, sendo que esta é apenas uma pequena parte, porém não menos importante. Cabe, portanto, aos pais, a responsabilidade maior de educar. A escolarização sim é responsabilidade da escola, do educador, e é neste sentido que precisamos nos atentar no estudo da prática pedagógica. A educação é um processo que dura a vida inteira, ao contrário da escolarização. Aliás, ao consultar o verbete “educação” no dicionário, encontramos a seguinte definição: 1 Ato ou processo de educar(-se). 2 Processo que visa ao desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, através da aplicação de métodos próprios, com o intuito de assegurar-lhe a integração social e a formação da cidadania. 3 Conjunto de métodos próprios a fim de assegurar a instrução e a formação do indivíduo; ensino. 4 conhecimento, aptidão e desenvolvimento em consequência desse processo; formação, preparo. Nível ou tipo específico de ensino. 6 Desenvolvimento sistemático de uma Faculdade, um sentido ou órgão. 7 Conhecimento e prática de 1 CORTELA, Mário Sérgio. Educação x escolarização. Disponível em: https://ww.youtube.com/wath?v=FNEN3eJ8_BU. >Acessado em 24 de Março de 2020 ás 14:26h. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 3 boas maneiras no convívio social; civilidade, polidez. 8 Adestramento de animais. 9 Prática de cultivar e aclimatar plantas.2 Ou seja, o processo de educação é mais amplo do que o de escolarização. A escolarização complementa a educação, é uma parte dela. A escolarização é utilizável em certas ocasiões da vida, enquanto que a educação transparece em todos os eventos, pois traz em si o que aprendemos, nossa civilidade, polidez, moralidade. Nessa mesma linha de pensamento: Através da ação educativa o meio social exerce influências sobre os indivíduos e estes, ao assimilarem e recriarem essas influências, tornam-se capazes de estabelecer uma relação ativa e transformadora em relação ao meio social. Tais influências se manifestam através de conhecimentos, experiências, valores, crenças, modos de agir, técnicas e costumes acumulados por muitas gerações de indivíduos e grupos, transmitidos, assimilados e recriados pelas novas gerações. Em sentido amplo, a educação compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessária e inevitável pelo simples fato de existirem socialmente; neste sentido, a prática educativa existe numa grande variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes, das formas de convivência humana. Em sentido estrito, a educação ocorre em instituições específicas, escolares ou não, com finalidades explícitas de instrução e ensino mediante uma ação consciente, deliberada e planificada, embora sem separar-se daqueles processos formativos gerais.3 Importante ainda colacionar um trecho escrito por José Carlos Libâneo, onde trata da escolarização, ou prática escolar como algo além do pedagógico. Cabe ainda ressaltar que muito embora sejam confundidos, educação e escolarização não são sinônimos. Neste ponto, Libâneo traz em sua obra “Democratização da escola Pública: Pedagogia critico-social dos conteúdos” a definição de prática escolar: A prática escolar consiste na concretização das condições que asseguram a realização do trabalho do docente. Tais condições não se reduzem ao estritamente “pedagógico”, já que a escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade concreta que, por sua vez, apresenta- se como constituída por classes sociais com interesses antagônicos. A prática 2 Dicionário Online Michaelis. Disponível em: < http://michaelis.uol.com.br/busca?id=QX0y>. Acessado em 24 de Março de 2020 ás 14:25h. (sem destaque no original). 3 LIBÂNEO, José Carlos. Didática (Livro Eletrônico). São Paulo: Cortez, 2017, página 17. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 4 escolar, assim, tem atrás de si condicionantes sócio-políticos que configuram diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupostos sobre: o papel da escola, aprendizagem, relações professor-aluno, técnicas pedagógicas, etc. 4 PARTE 2 – TEORIAS DA APRENDIZAGEM As teorias de aprendizagem, ou teorias da educação, são as denominações dadas aos diversos modelos que visam explicar o processo de aprendizagem pelosindivíduos. Não obstante o fato de que tais teorias vêm sendo desenvolvidas desde a Grécia Antiga, as que predominam contemporaneamente são a de Jean Piaget e a de Lev Vygotsky. Existem basicamente duas grandes linhas de teoria: a) comportamental: entende que a aprendizagem consubstancia-se em uma mudança do comportamento através de estímulos e respostas e; b) cognitiva: percebe a aprendizagem como algo capaz de alterar conceitos, percepções e padrões de pensamento e aprendizagem através de uma organização interior. Antes do desenvolvimento da teoria construtivista, a escola tradicional baseava-se exclusivamente na transmissão de informações ou conhecimento do professor ao aluno. A este cabia apenas a função de receber passivamente as informações, sem a preocupação de saber como tais informações seriam trabalhadas. Neste contexto, surge a Teoria do Construtivismo, que prega que o desenvolvimento da inteligência é determinado por ações mútuas entre a pessoa e o meio, sendo essas ações exercidas de modo dinâmico, crítico e individualizado. São importantes idealizadores dessa corrente: Jean Piaget, Lev Vygotsky, Howard Gardner, Paulo Freire, Emília Ferreiro, entre outros. 4 LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Edições Loyola, 1985, p.19. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 5 Nessa corrente, o professor deixa de ser um transmissor de informações, e passa a trabalhar com a mediação do conhecimento, estimulando a procura, a descoberta, a assimilação e a acomodação do conhecimento, utilizando esquemas mentais já existentes no próprio indivíduo, em relação ao mundo exterior. Passa-se a respeitar as fases de desenvolvimento do aluno, que ocorre em velocidades e faixas etárias diferentes. Existe, portanto, a preocupação sobre a pessoa do educando, que passa a ser objeto de estudo, para que sejam aproveitadas ao máximo as suas potencialidades e individualidades. A partir dessa preocupação sobre como se dá a formação do conhecimento nos alunos, e a forma como tal conhecimento seria melhor assimilado, surgiram as teorias de aprendizagem cooperativa. A aprendizagem cooperativa trata-se de uma proposta pedagógica baseada no auxílio mútuo entre os estudantes no processo de ensino-aprendizado, visando ao objetivo de aprender, atuam como parceiros os estudantes entre si e entre o educador. Tais teorias visam ao reconhecimento da dinâmica envolvida nas ações de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva da pessoa e explicando a relação entre o conhecimento que já existe no aluno e o novo conhecimento que se busca transmitir, envolvendo identificação pessoal e interação com outros indivíduos. Para demonstração de algumas teorias de aprendizagem coletiva, segue a tabela: Teorias de aprendizagem Resumo das características Relação com cooperação Epistemologia Genética de Piaget Ponto central: estrutura cognitiva do sujeito; Níveis diferentes de desenvolvimento cognitivo; Desenvolvimento facilitado pela oferta de atividades e situações desafiadoras. A interação social e a troca entre indivíduos funcionam como estímulo ao processo de aquisição de conhecimento. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 6 Teoria construtivista de Bruner O aprendiz é participante ativo no processo de aquisição de conhecimento; Instrução relacionada a contextos e experiências pessoais; Determinação de sequências efetivas de apresentação de material didático. Teoria contemporânea: criar comunidades de aprendizagem mais próximas da prática colaborativa do mundo real. Teoria sociocultural de Vygotsky O desenvolvimento cognitivo é limitado a um determinado potencial para cada intervalo de idade (zona de desenvolvimento proximal) O desenvolvimento cognitivo completo requer interação social. Aprendizagem baseada em problemas A aprendizagem inicia-se com um problema a ser resolvido (âncora ou foco); É centrada no aprendiz e contextualizada. Os problemas contêm contextos sociais e culturais onde se desenvolvem soluções em cooperação. Cognição distribuída Interação entre indivíduo, ambiente e artefatos culturais; Ensinamento recíproco; Importante papel da tecnologia. O conhecimento é compartilhado e distribuído, sendo necessária a interação. Cognição situada A aprendizagem ocorre em função da atividade, da cultura e do contexto e ambiente social em que está inserida. Interação e colaboração são componentes críticos para a aprendizagem (comunidade de prática) Fonte: http://www.docsity.com – Tabela adaptada Da leitura analítica da tabela, é possível perceber que a aprendizagem colaborativa funda-se na interação social, isto é, na comunicação entre o indivíduo e o meio em que vive. Piaget e a Epistemologia Genética: A epistemologia é a parte da ciência que estuda as etapas do conhecimento, bem como seus limites. Trata-se da teoria do conhecimento. Piaget, como biólogo, dividiu o desenvolvimento do pensamento em quatro estágios desde o nascimento até a adolescência, que é quando a capacidade total de raciocínio é adquirida. De acordo com o mesmo, a transmissão de conhecimentos do professor para a criança depende da fase em que esta se encontra, e, por isso, é limitada. Para Piaget, o conhecimento é construído mediante a descoberta de dois mecanismos: assimilação e acomodação. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 7 Vygotsky e a teoria sociocultural: já para Vygotsky, o estudo da aprendizagem não deve levar em conta apenas os aspectos biológicos do aluno, pois, segundo ele, a percepção externa (ou do meio social) atua de forma determinante no processamento do conhecimento. Segundo o autor, o processo mental de aprendizagem ocorre no que ele chamou de ZPD (Zona de Desenvolvimento Proximal) em que os conceitos científicos (externos ao estudante) e os conceitos espontâneos (desenvolvidos internamente), unem-se na formação do conhecimento. Para ilustrar, temos o seguinte esquema: Fonte: https://profes.com.br Portanto, deve-se levar em consideração o meio em que o aluno está inserido para que possa ser melhor aplicada a transmissão do conhecimento. O desenvolvimento, destarte, relaciona-se ao contexto social e cultural em que o sujeito está inserido. Nas palavras do próprio autor: Podem-se distinguir, dentro de um processo geral de desenvolvimento, duas linhas qualitativamente diferentes de desenvolvimento, diferindo quanto à sua origem: de um lado, os processos elementares, que são de Conceitos Científicos (Externos ao Estudante) Conceitos Espontâneos (Desenvolvidos internamente) Zona de Desenvolvimento Proximal https://profes.com.br/ Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 8 origem biológica; de outro, as funções psicológicas superiores, de origem sociocultural. A história do comportamento da criança nasce do entrelaçamento dessas duas linhas.5 Sendo assim, o processo de aprendizagem está relacionado não apenas com as fases de evolução da criança, como pregava Piaget, mas, também, e com maior razão, com a relação que o indivíduo possui com o meio em que está inserido. O ser humano, ao assimilar as experiências vividas, organiza os seus próprios processos mentais. E tal organização é feita mediante a utilização de signos (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher, etc.), que são usados para resolver um dado problema. Conforme as palavras do próprio autor: “O signo age como um instrumento da atividade psicológicade maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho.” 6 Ele não deixa de lado a epistemologia de Piaget, mas dá à dimensão social enorme importância: “o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual a criança penetra na vida intelectual daqueles que a acercam”.7 Paulo Freire e a pedagogia da autonomia: Para Paulo Freire, o ensinar se torna um aprendizado, e o aprendizado se torna um ensinar. Sob sua ótica, o educador deve, a todo tempo, buscar novos conhecimentos, com o auxílio de tudo que estiver ao seu alcance, no processo de aperfeiçoamento. O educador não pode se acomodar, ao contrário, deve ser receptivo a novas informações e descobertas. Para Freire, o conhecimento deve ser transmitido de forma crítica, de maneira que se ensine o aluno a pensar, estimulando-o a chegar a conclusões, rejeitando, portanto, a antiga visão do professor como um mero transmissor de informações. Dessa forma, o aluno não se tornaria um mero repetidor de informações, mas um sujeito com consciência crítica. 5VYGOTSKY, Lev Semyonovih, A formação social da mente, editora Martins Fontes, página 52 6VYGOTSKY, Lev Semyonovih, A formação social da mente, editora Martins Fontes, página 52 7VYGOTSKY, Lev Semyonovih, A formação social da mente, editora Martins Fontes, página 52 Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 9 Freire criticou com veemência a ideia do aluno como uma tábula rasa, uma “conta vazia” que deveria ser preenchida com informações, o que inibiria, na visão do autor, a criatividade do indivíduo. Na visão do renomado educador, muito embora devam ser usadas todas as tecnologias possíveis, a figura do educar se torna imprescindível, pois é ele quem irá estimular o estudante a pensar. Desta forma, vimos, de forma sucinta, a evolução das teorias da educação. PARTE 3 – DIDÁTICA Didática é “uma disciplina que estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino tendo em vista as finalidades educacionais, que são sempre sociais” (LIBÂNEO, 2017, sp). 8 A didática é um disciplina que ensina o que ensinar e como ensinar. A didática é de extrema importância, pois é ela o instrumento que estabelece uma relação aluno-aprendizagem, portanto é também de suma importância a escolha pelo professor da metodologia a ser utilizada em suas aulas. Ela pode ser algo que facilita a compreensão do conteúdo estudado, mas também pode para alguns dificultar, pois cada aluno absorve conteúdo de uma forma diversa, ou seja, o que pode facilitar para uns pode ser exatamente o que pode dificultar aos outros. O professor precisa ter ciência dessa possibilidade e desenvolver várias formas de aplicar o conteúdo, e levar em conta a coletividade ao escolher a didática a ser utilizada em sala de aula. A Didática está sempre presente no universo escolar, eis que na escola utilizam-se materiais didáticos, livros didáticos, projetos didáticos, etc. A Didática é a arte do ensino. 8 LIBÂNEO, José Carlos. Didática (Livro Eletrônico). São Paulo: Cortez, 2017 TUTORIA02 Imagem Posicionada Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 10 Transformou-se em um campo de estudos onde são discutidas as questões que envolvem o processo de ensino, e que tem como objeto de estudo os processos de ensino e aprendizagem, e as relações estabelecidas entre o ato de ensinar (professor), e o ato de aprender (aluno). Sob este viés, a Didática objetiva propor princípios, formas e diretrizes, atinentes ao ensino de todas as áreas do conhecimento. Objetiva compreender a relação existente entre professor, aluno, e a matéria. A Pedagogia é um campo de conhecimentos que visa orientar qual o tipo de indivíduo que deverá ser formado e para qual sociedade, na prática escolar. Tem em vista a preparação dos sujeitos para as tarefas da vida social. O caráter pedagógico da prática educativa se verifica como ação consciente, intencional e planejada no processo de formação humana, através de objetivos e meios estabelecidos por critérios socialmente determinados e que indicam o tipo de homem a formar, para qual sociedade, como que propósitos. Vincula-se, pois, a opções sociais e políticas referentes ao papel da educação num determinado sistema de relações sociais. A partir daí a Pedagogia pode dirigir e orientar a formulação de objetivos e meios do processo educativo. 9 Enquanto a pedagogia preocupa-se em estabelecer qual o tipo de indivíduo a escola deverá formar, a Didática preocupa-se em “como realizar” os objetivos propostos pela ação pedagógica. Portanto, a Didática afigura-se como o principal ramo de estudos da Pedagogia. É ela quem vai ditar os rumos do ensino, quais os conteúdos a serem ministrados, bem como a forma de abordá-los em sala de aula. A relação estabelecida entre Pedagogia e Didática é similar à relação estabelecida entre o arquiteto e o engenheiro: enquanto um projeta, “sonha”, o outro é responsável por dar concretude ao projeto, estabelecendo a forma como tal será realizado. Da mesma forma, enquanto a Pedagogia estabelece “o que” deverá ser feito, a Didática estabelece “como” deverá ser feito. 9LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 25. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 11 Contudo, a Didática não se relaciona apenas com a Pedagogia, mas com outros ramos do conhecimento pedagógico. A Filosofia e a História da educação ajudam a refletir sobre qual o objetivo da didática, as teorias educacionais, promovendo a todo o tempo a indagação sobre qual a finalidade do ato educativo. O questionamento contínuo é o que permite o aprimoramento de qualquer ciência. A Didática, por óbvio, não poderia escapar à regra. A Sociologia da Educação estuda a escola como um “fenômeno sociológico”, ou seja, enxerga a educação como um processo social, e estabelece a relação entre o trabalho docente e a sociedade. Neste viés, a sala de aula é vista como um ambiente social. A escola é integrada aos demais ambientes sociais (conselhos de pais, associações de bairros, sindicatos, igrejas, etc.). A Psicologia da Educação relaciona-se intimamente com a Didática, uma vez que é ela que estuda a forma como o aluno assimila os conhecimentos, e estuda como se dá a formação biológica e as fases de desenvolvimento mental do aluno. A partir daí, a Didática estabelecerá a forma como deverá ser ministrado o conteúdo, pois, seria tarefa inócua a transmissão de conhecimentos sem se saber como será a recepção do mesmo. Esse papel de síntese entre a teoria pedagógica e a prática educativa real assegura a interpenetração e a interdependência entre fins e meios da educação escolar e, nessas condições, a Didática pode constituir-se em teoria do ensino. O processo didático efetiva a mediação escolar de objetivos, conteúdos e métodos das matérias de ensino. Em função disso, a Didática descreve e explica os nexos, relações e ligações entre o ensino e a aprendizagem; investiga os fatores co-determinantes desses processos; indica princípios, condições e meios de direção do ensino, tendo em vista a aprendizagem, que são comuns ao ensino das diferentes disciplinas de conteúdo específicos. Para isso recorre às contribuições das ciências auxiliares da Educação e das próprias metodologias específicas. É, pois, uma matéria de estudo que integra e articular conhecimentos teóricos e práticos obtidos nas disciplinas de formação acadêmica, formação pedagógica e formação técnico-prática, provendo o que é comum, básico e indispensável para o ensino de todas as demais disciplinas de conteúdo.1010LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 28. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 12 Desta forma, pode facilmente chegar à conclusão de que a Didática é uma ciência necessária à Pedagogia, restando claro que é preciso um profundo conhecimento do método didático para que o conteúdo seja devidamente ministrado, de acordo com os objetivos traçados a priori. Não é demasiado ressaltar que: O processo de ensino é uma atividade conjunta de professores e alunos, organizados sob a direção do professor, com a finalidade de prover as condições e meios pelos quais os alunos assimilam ativamente conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções. Este é o objeto de estudo da Didática. 11 PARTE 4 – MODALIDADES DE ENSINO No decorrer dos anos houveram mudanças significativas na educação, e com elas mudou também a forma de ensino e de aprendizagem, não somente o conteúdo a ser estudado, como estudaremos mais à frente. Com o surgimento de novas tecnologias, a modalidade de ensino presencial e semipresencial ganharam mais espaço e que seu números de adeptos já supera em algumas áreas a modalidade unicamente presencial (que denominamos de modalidade convencional), por ser mais acessível não somente em termos financeiros, mas também quanto a flexibilidade de horários. Temos hoje três modalidades de ensino: presencial, semipresencial e EAD (educação a distância). Estudaremos a seguir de forma breve as modalidades de ensino: 11LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 29. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 13 Presencial Fonte: https://s3.static.brasilescola.uol.com.br A modalidade de ensino na forma presencial é a forma mais antiga de ensino, considerada como a forma tradicional de ensino. Na forma presencial, as aulas são ministradas de acordo com a grade, de forma que os alunos e professores estejam presentes no mesmo espaço físico tanto nas aulas como nas atividades e avaliações que acontecem, em sua maioria na sala de aula. A distância Na modalidade de ensino a distância, o professor e o aluno se comunicam de forma virtual, pelo Ambiente Virtual do Aluno (AVA) que geralmente são acessados por meio de computadores, tablet’s e celulares. Nessa modalidade as aulas são gravadas pelos professores e os alunos acessam as videoaulas dentro do tempo em que ficam disponíveis para o acesso, podendo ou não ocorrer encontros https://s3.static.brasilescola.uol.com.br/ Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 14 presenciais, sendo que, nos casos em que houver serão bem raros, ou unicamente para realização das avaliações. Embora tenha ganhado espaço nos últimos anos, o ensino na modalidade a distância não é novidade, contudo, anteriormente o estudo a distância era realizado por correspondências de forma impressa, de tal forma que, de fato, não se tornava tão proveitoso e célere quanto é nos dias atuais, levando-se em consideração os avanços tecnológicos que permitem, inclusive, a transmissão de aulas via satélite. Semipresencial Fonte: https://abrilveja.files.wordpress.com Na modalidade de ensino semipresencial, mistura-se as formas presencial e EAD, ou seja, tem um pouco de cada modalidade de ensino. Pode ser considerado semipresencial o ensino em que 20% no máximo é na forma presencial. Esse tipo de ensino pode se dar de várias maneiras, como por exemplo, o professor pode fazer uma transmissão ao vivo da aula e os alunos assistirem nos polos, ou os encontros que forem presenciais acontecerem um dia por semana ou por mês, etc. Cada instituição de ensino possui uma forma diferente de utilizar a modalidade de ensino semipresencial, de acordo com o conteúdo, a didática a ser utilizada e a forma mais acessível. https://abrilveja.files.wordpress.com/ Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 15 PARTE 5 – O PAPEL E DESAFIOS DO PROFESSOR O professor possui papel fundamental na formação da educação, possui o papel da escolarização. Cada professor possui uma metodologia diferente, uma forma de ensinar, dentre outras peculiaridades. Não é exclusividade dos professores atuais os desafios encontrados no percurso a respeito do conflito com a realidade. Paulo Freire já destacava a importância do papel do educador, mesmo com todos os avanços tecnológicos, pois ele é quem será o responsável por conduzir o aluno a pensar por si próprio. Sendo assim, deverá estar constantemente em processo de aprendizagem e aberto a novas ideias, levando-se em conta a dinâmica do mundo atual, bem como a necessidade, cada vez mais premente, de se fazer com que a avalanche de informações a que se tem acesso hodiernamente, seja devidamente processada e utilizada de forma correta pelo estudante. Encontra-se ultrapassada aquela visão do professor como mero transmissor de informações. É preciso que os educadores tenham uma formação, sobretudo, humana, sabendo lidar com os diversos tipos de aluno, de forma a extrair o melhor de cada um e explorar as potencialidades individuais. Acrescido a esse desafio, tem o educador que lidar com a falta de estrutura para tanto, como evidenciado pelo texto acima. Existe, portanto, um desafio cada vez maior: aplicar métodos modernos de ensino, utilizando-se de uma estrutura muitas vezes inadequada. O educador atual não pode ignorar tal problema. Por isso é tão importante que esteja aberto e receptivo a ideias novas, bem como ao debate, para que se chegue a soluções práticas para os problemas vivenciados no âmbito educacional. A preparação das crianças e jovens para a participação ativa na vida social é o objetivo mais imediato da escola pública. Esse objetivo é atingido pela Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 16 instrução e ensino, tarefas que caracterizam o trabalho do professor. A instrução proporciona o domínio dos conhecimentos sistematizados e promove o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos. O ensino corresponde às ações indispensáveis para a realização da instrução; é a atividade conjunta do professor e dos alunos na qual transcorre o processo de transmissão e assimilação ativa de conhecimentos, habilidades e hábitos, tendo em vista a instrução e a educação. A Didática e as metodologias específicas das disciplinas, apoiando-se em conhecimentos pedagógicos e científico-técnicos, são disciplinas que orientam a ação docente partindo das situações concretas em que se realiza o ensino. Ao realizar suas tarefas básicas, a escola e os professores estão cumprindo responsabilidades sociais e políticas. Com efeito, ao possibilitar aos alunos o domínio dos conhecimentos culturais e científicos, a educação escolar socializa o saber sistematizado e desenvolve capacidades cognitivas e operativas para a atuação no trabalho e nas lutas sociais pela conquista dos direitos de cidadania. Dessa forma, efetiva a sua contribuição para a democratização social e política da sociedade. Entretanto, a escola pública brasileira tem sido capaz de atender o direito social de todas as crianças e jovens receberem escolarização básica? Os governos têm cumprido a sua obrigação social de assegurar as condições necessárias para prover um ensino de qualidade ao povo? O próprio funcionamento da escola, os programas, as práticas de ensino, o preparo profissional do professor, não teriam também uma parcela de responsabilidade pelo fracassoescolar? (...) As escolas funcionam em condições precárias, a formação profissional dos professores é deficiente, os salários são aviltantes, o ensino é de baixa qualidade. É necessária uma reflexão de conjunto para uma compreensão mais correta dos problemas da escola pública. Há um conjunto de causas externas e internas à escola que, bem compreendidas, permitirão avaliar mais claramente as possibilidades do trabalho docente na efetiva escolarização das crianças e jovens.12 Totalmente pertinente a reflexão. 12LIBÂNEO, José Carlos. Didática (Livro Eletrônico). São Paulo: Cortez, 2017, páginas 33 e 34. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 17 CAPÍTULO 2: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DE DELIMITAÇÃO DOS SABERES DOCENTES PARTE 1 – HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL A prática docente teve uma grande alteração ao longo dos anos, principalmente nas últimas décadas. As alterações se deram especialmente pelas mudanças significativas nos aspectos econômicos, sociais, políticos e até mesmo religiosos que ocorreram no Brasil e no mundo. Como podemos observar a partir da tabela abaixo, os avanços e retrocessos na educação acompanharam principalmente os aspectos políticos desde o surgimento da primeira escola em Salvador. TABELA DA EVOLUÇÃO DA ESCOLA NO BRASIL DESDE A COLONIZAÇÃO ANO CONTEXTO 1549 Surge a primeira escola primária em Salvador 1564 Por determinação da Coroa Portuguesa foi criado na Bahia o primeiro colégio brasileiro para brancos. 1759 • Marquês de Pombal expulsa de todo território nacional os jesuítas que comandavam as principais instituições educacionais todos os territórios portugueses • A educação é organizada pelo Estado e estudavam os filhos dos fazendeiros, senhores de engenho e de outras autoridades 1827 Foi criado a primeira lei de ensino no Brasil (lei Geral do Ensino) que cria colégios nas vilas e cidades mais populosas do império e dá acesso as salas de aulas que dá também as meninas 1828 Nas escolas para garotas só professoras lecionam 1837 Foi inaugurado o colégio Pedro II no Rio de Janeiro e o próprio imperador contrata, controla os professores e verifica como andam as aulas e as refeições Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 18 1874 As ideias do positivismo, cientificismo e movimento republicano influenciam na educação, escolas Laicas e particulares são criadas além de colégios femininos e protestantes 1889 É proclamada a República e o governo reforma o Ensino Primário Normal, aumenta a presença feminina nos cursos de formação de professores nas escolas normais 1895 A Escola normal de São Paulo ganha o primeiro Jardim de Infância público do país, até então, as crianças ficavam em casa até os 7 anos de idade 1920 As ideias da escola nova, que era um movimento para reinventar a escola, a partir de conhecimentos a partir das ideias trazidas pela psicologia e outras ciências, que propunham a reforma dos currículos escolares começam a ser defendido mais intensamente no Brasil 1932 Anísio Teixeira, Cecília Meireles e assinam o manifesto da nova escola que defende a universalização da escola pública, laica e gratuita Décadas de 50 e 60 Foram marcados pelos projetos voltados a educação de adultos, as experienciais mais bem sucedidas foram feitas por Paulo Freire 1971 • No auge da repressão militar, movimentos de defesa da escola pública e ampliação da educação são violentamente reprimidos • A lei Geral da Educação Nacional cria o vestibular, restringindo o acesso à universidade • As disciplinas de história e Geografia, são retiradas do currículo e foram inseridas em seu lugar ás disciplinas de Estudos Sociais e Educação Moral e Cívica que tem o conteúdo extraído das cartilhas militares • É criado o Mobral 1988 Com a nova Constituição obriga a união e os Estados a aplicarem respectivamente 18% e 25% da receita em educação 1996 É promulgada a LDB e o ministério da educação e cultura edita os parâmetros curriculares nacionais 2007 O governo lança o plano de desenvolvimento da educação (PDE) que inclui um diagnóstico sobre o ensino público e ações focadas na Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 19 formação do professor. O objetivo é diminuir a defasagem da educação brasileira em relação aos países desenvolvidos 2011 É instituído o Plano Nacional de Direitos da Pessoa com Deficiência que tem como um dos eixos principais o acesso à educação 2014 O congresso nacional sanciona o plano Nacional de Educação 2015 É construída a Base Nacional Comum Curricular em três versões 2017 O governo sanciona a reforma do Ensino Médio, que determina uma série de mudanças no ensino médio, como a flexibilização da grade curricular Fonte: Canal do Youtube da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Em 1549 chegou ao Brasil um grupo de jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega, e em pouco tempo foi criada a primeira escola no Brasil em Salvador- Bahia onde o ensino era predominantemente religioso e também aprendem profissões básicas. Á partir daí, várias outras escolas foram criadas e abrigos paras crianças carentes. Em 1564, com os jesuítas ainda a frente da educação é criado o primeiro colégio para brancos. Este por sua vez era excluído os índios de estudarem, o colégio era somente para os filhos das autoridades locais. Após certa idade precisavam procurar outro lugar para estudar, uma vez que não havia no Brasil. Em 1759, A colônia portuguesa expulsa do Brasil os jesuítas e a educação passa ser de organizada pelo Estado e somente os filhos de fazendeiros, de senhores de engenho e outras autoridades tem acesso à educação. Em 1827, as meninas que até então eram educadas em casa, passam a poder frequentar as escolas, é criado um novo método de ensino e começa a surgir as primeiras faculdades no Brasil. Em 1837, surge o Colégio Pedro II, onde os alunos só poderiam ser homens. Tudo era controlado pelo imperador, desde a contratação dos professores até a inspeção das aulas e alimentação na escola. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 20 Em 1874, inicia-se a criação de escolas privadas, escolas laicas e particulares são criadas. Colégios femininos e protestantes influenciadas pelo movimento republicano e ideias do positivismo e cientificismo. Em 1889, é proclamada a República, e então é reformado o ensino, e assim as meninas passam a ter maior presença nas escolas e no magistério. Em 1895 é criado o primeiro jardim de infância em São Paulo, até então as crianças só iam para escola à partir dos 7 anos de idade, até os 6 anos ficavam em casa. Em 1920, surge o movimento da Escola Nova. Esse movimento defendia a universalização da escola pública, laica e gratuita. O objetivo do movimento era reinventar a escola, a partir de conhecimentos a partir das ideias trazidas pela psicologia e outras ciências, que propunham a reforma dos currículos escolares começam a ser defendido mais intensamente no Brasil. As décadas de 50 e 60 foram marcados pelos projetos voltados à educação de adultos, as experiências mais bem sucedidas foram feitas por Paulo Freire. Paulo Freire foi um educador brasileiro criador do método inovador para alfabetizar adultos. Seu método foi usado em diversos países. No golpe militar de 1964 Paulo Freire foi preso, acusado de “agitador” e após sua soltura exilou-se no Chile e retornou ao Brasil em 1980 com a anistia. Além do seu método criou também várias obras como: “A pedagogia do Oprimido” e “A pedagogia da autonomia”. “Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramosalguma coisa. Por isso aprendemos sempre”. Paulo Freire Fonte: https://abrilexame.files.wordpress.com Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 21 Em 1971 auge da repressão militar, os movimentos de defesa da escola pública e ampliação da educação são violentamente reprimidos, a Lei Geral da Educação Nacional cria o vestibular, restringindo o acesso à universidade. As disciplinas de história e Geografia, consideradas reflexivas são retiradas do currículo e foram inseridas em seu lugar as disciplinas de Estudos Sociais e Educação Moral e Cívica, que tem o conteúdo extraído das cartilhas militares e é criado o Mobral, movimento brasileiro de alfabetização com o objetivo de erradicar o analfabetismo. Em 1988 é promulgada uma nova Constituição da República Federativa do Brasil, e com ela vieram mudanças significativas na educação em decorrência das garantias fundamentais. Com ela a União e os Estados são obrigados a aplicarem respectivamente 18% e 25% da receita em educação. Em 1994, embora não mencionada na tabela acima, porém não menos importante, a declaração de Salamanca, que é uma resolução das Nações Unidas, que trata dos princípios, política e prática em educação especial, que foi adotada pelo Brasil, começa a transformação do olhar para a educação inclusiva e passa a ser visto como algo necessário ao desenvolvimento educacional. O papel da educação inclusiva é incluir no ambiente da escola regular também as crianças portadoras de deficiência física e/ou mental com o devido apoio e assistência à fim de garantir uma educação eficiente, despertar nos alunos denominados “normais” o espírito de solidariedade e um novo olhar à partir do que é “diferente” aos seus olhos. Apesar de possuir leis anteriores que em trechos mencionassem a educação inclusiva, como a primeira e segunda Lei de Diretrizes e Bases no Brasil, a Declaração de Salamanca deu início ao marco na história da educação inclusiva, pois a partir da adoção, mudou-se o olhar frente à educação inclusiva e abriu portas para criação de outras leis garantidoras ao acesso à educação regular a portadores de deficiências. A educação inclusiva, ganhou mais força em 2011, quando foi instituído o Plano Nacional de Direito às Pessoa com Deficiência onde se efetivou por lei Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 22 brasileira de Educação Especial Inclusiva e logo após, em 2015, foi promulgado o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que traz várias garantias, dentre elas o acesso à educação sem nenhum tipo de discriminação e a acessibilidade. Em 1996 é promulgada a LDB e o ministério da educação e cultura edita os parâmetros curriculares nacionais e, em 2014, o Congresso editou o Plano Nacional da Educação. Em 2017, o governo sanciona a reforma do Ensino Médio, que determina uma série de mudanças no ensino médio, como a flexibilização da grade curricular. PARTE 2 – AUTORES DESTAQUES DA EDUCAÇÃO Ao longo dos anos muitos autores se destacaram por suas ideias e pesquisas que contribuíram na educação. Vale a pena destacarmos alguns dos que foram relevantes para o desenvolvimento da educação: Tereza Mantoan Maria Teresa Eglér Mantoan é pedagoga, mestre e doutora em Educação pela UNICAMP. Atualmente, encontra-se como coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença (LEPED) e professora do Programa de Pós- Graduação em Educação da mesma universidade. Mantoan tem uma larga produção acadêmica nas áreas de Educação Especial e Inclusão Escolar ocupando um espaço de destaque entre os principais pesquisadores brasileiros na área.13 Fonte: https://educacaointegral.org.br 13 ALVES, Carlos Jordan Lapa .REVISTA UDESC.Entrevista com Maria Tereza Égler Mantoan. Educação Especial Escolar. Disponível em:<http://www.revistas.udesc.br/index.php/arteinclusao/article/view/9910> Acessado em 13 de abril de 2020 às 10:53h. http://www.revistas.udesc.br/index.php/arteinclusao/article/view/9910 Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 23 Demerval Saviani Formado em filosofia pela PUC-SP, é doutor em filosofia da educação PUC-SP e livre-docente em história da educação UNICAMP, tendo realizado ‘estágio sênior” na Itália de 1994 - 1995, lecionou nos cursos colegial e normal. Saviani é grande educador que vivenciou um período de mudanças no nosso país.14 Fonte: https://lh3.googleusercontent.com Jean Piaget Jean Piaget (1896-1980 foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.15 Fonte: https://psicopedagogiainfantilsp.files.wordpress.com 14 PROJETO EDUCACIONAL. Biografia Demerval Saviani. 2012. Disponível em: <http://projetoeducacional2012.blogspot.com/2012/05/biografia-demerval-saviani.html> Acessado em 13 de abril de 2020 ás 11:11h. 15 PEDROZO, Michelle Klaumann. ESPAÇO MEDIAÇÃO. As fases do Desenvolvimento Infantil parte 1: Quem foi Jean Piaget. 2014. Disponível em: <http://psicopedagogiacuritiba.com.br/fases-desenvolvimento-infantil-parte-1-quem-foi-jean- piaget/>. Acessado em 13 de abril de 2020 às 13:13h. http://projetoeducacional2012.blogspot.com/2012/05/biografia-demerval-saviani.html http://psicopedagogiacuritiba.com.br/fases-desenvolvimento-infantil-parte-1-quem-foi-jean-piaget/ http://psicopedagogiacuritiba.com.br/fases-desenvolvimento-infantil-parte-1-quem-foi-jean-piaget/ Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 24 Lev Vygotsky Psicólogo e pensador russo foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Para Vygotsky, o professor é figura essencial do saber por representar um elo intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente.16 Fonte: https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com Anísio Teixeira Personagem central na história da educação no Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, difundiu os pressupostos do movimento da Escola Nova. Reformou o sistema educacional da Bahia e do Rio de Janeiro. Foi um dos mais destacados signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em defesa do ensino público, gratuito, laico e obrigatório, divulgado em 1932. Fundou a Universidade do Distrito Federal, em 1935, depois transformada em Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.17 Fonte: https://www.infoescola.com CAPÍTULO 3: TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 16 JORNADA EDU. Teoria de Vygotsky: Como os alunos aprendem. Disponível em: <https://jornadaedu.com.br/praticas-pedagogicas/teoria-de-vygotsky-como-os-alunos- aprendem/>. Acessado em 13 de abril de 2020 às 11:23h. 17 PORTAL SBPC. Anísio Espínola Teixeira. Disponível em: <http://portal.sbpcnet.org.br/presidentes-de-honra/anisio-spinola-teixeira-1900-1971/>.Acessado em 13 de abril de 2020 às 13:26h. https://jornadaedu.com.br/praticas-pedagogicas/teoria-de-vygotsky-como-os-alunos-aprendem/ https://jornadaedu.com.br/praticas-pedagogicas/teoria-de-vygotsky-como-os-alunos-aprendem/ http://portal.sbpcnet.org.br/presidentes-de-honra/anisio-spinola-teixeira-1900-1971/ Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 25 PARTE 1 – TENDÊNCIA LIBERAL As tendências pedagógicas se classificam, segundo consenso entre os autores, em tendência liberal e tendência progressista. Para a pedagogia liberal, os indivíduos devem ser preparados para desempenharem um papel na sociedade, levando-se em conta as suas aptidões pessoais. Dessa forma, não há espaço para que o aluno seja preparado para mudar a sociedade, mas apenas desempenhar um papel, adaptando-se aos valores e normas da sociedade de classe. Para a pedagogia liberal, são os sujeitos que devem se amoldar à sociedade, e não há qualquer preocupação com a mudança das classes sociais já existentes, ou seja, não se levam em conta as relações de classes sociais. Segundo o escólio de Libâneo: “Na Pedagogia Tradicional, a Didática é uma disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. A atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria. Às vezes são utilizados meios como a apresentação de objetos, ilustrações, exemplos, mas o meio principal é a palavra, a exposição oral. Supõe-se que ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos “gravam” a matéria para depois reproduzi-la, seja através das interrogações do professor, seja através das provas. Para isso, é importante que o aluno “preste atenção”, porque ouvindo facilita-se o registro do que se transmite, na memória. O aluno é, assim, um recebedor da matéria e sua tarefa é decorá-la. Os objetivos, explícitos ou implícitos, referem-se à formação de um aluno ideal, desvinculado de sua realidade concreta. O professor tende a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida presente e futura. A matéria de ensino é tratada isoladamente, isto é, desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais da sociedade e da vida.18 18 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 64 Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 26 Busca-se a igualdade, mas sem mudanças sociais. A pedagogia liberal se subdivide em: a) tradicional; b) Renovada Não- diretiva; c) Renovada Progressista; d) Tecnicista. PEDAGOGIA LIBERAL Tradicional Tecnicista Renovada não Diretiva Renovada Progressista Pedagogia liberal tradicional: Sua origem remonta a meados de 1500. Preocupa-se apenas com a transmissão dos valores já existentes, sem possibilidade de construção crítica do conhecimento. O professor sempre tem razão, e passa o conhecimento como verdade absoluta. Não há espaço para discussões. O aprendizado se torna mecânico e repetitivo. Existe uma hierarquia: o professor manda e o aluno obedece. Tem inspiração na educação católica dos dogmas inquestionáveis. O ensino baseia-se no método expositivo e verbal da matéria, sendo que o aluno deve se esforçar para decorar a matéria. O papel da escola, portanto, seria o de preparar o aluno, moral e intelectualmente, para o fim de perpetuar a divisão de classes sociais. Nas palavras de Libâneo: A Pedagogia Tradicional, em suas várias correntes, caracteriza as concepções de educação onde prepondera a ação de agentes externos na formação do aluno, o primado do objeto de conhecimento, a transmissão do saber constituído na tradição e nas grandes verdades acumuladas pela Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 27 humanidade e uma concepção de ensino como impressão de imagens propiciadas ora pela palavra do professor, ora pela observação sensorial.19 Pedagogia renovada: No contexto do construtivismo (estudado em tópico próprio desta apostila), surge a pedagogia renovada. Nesta, a escola deixa de ser mera transmissora de informações, e passa a agir como estimuladora de conhecimento, utilizando-se as experiências, propondo desafios, para fazer com que o aluno chegue, por si, a conclusões. O educador passa a assumir o papel de elaborador de situações desafiadoras da aprendizagem. O ensino é ministrado mediante planejamentos e testes. Utilizam-se os experimentos e pesquisas como métodos. Valoriza-se a autoaprendizagem. Aqui, o professor assume a função de auxiliar o aluno. Respeitam-se as fases de desenvolvimento do educando. Conhecendo a realidade do meio em que está inserido, o aluno é levado a resolver concretamente problemas propostos. A escola adequa-se de forma a melhorar a interação com o aluno, diferentemente do método liberal, onde o educando é quem deveria se encaixar no modelo preexistente. A propósito: A Pedagogia Renovada agrupa correntes que advogam a renovação escolar, opondo-se à Pedagogia Tradicional. Entre as características desse movimento, destacam-se: a valorização da criança, dotada de liberdade, iniciativa e de interesses próprios e, por isso mesmo, sujeito da sua aprendizagem e agente do seu próprio desenvolvimento; tratamento científico do processo educacional, considerando as etapas do desenvolvimento biológico e psicológico; respeito às capacidades e aptidões individuais, individualização do ensino conforme os ritmos próprios de aprendizagem; rejeição de modelos adultos em favor da atividade e da liberdade de expressão da criança. (...) A escola não é uma preparação para a vida, é a própria vida; a educação é o resultado da interação entre o organismo e o meio através da experiência e da reconstrução da experiência. A função mais genuína da educação é a de prover condições para promover e estimular a atividade própria do organismo para que alcance seu objetivo de crescimento e desenvolvimento. Por isso, a 19 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 61 Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 28 atividade escolar deve centrar-se em situações de experiência onde são ativadas as potencialidades, capacidades, necessidades e interesses naturais da criança. O currículo não se baseia nas matérias de estudo convencionais que expressam a lógica do adulto, mas nas atividades e ocupações da vida presente, de modo que a escola se transforme num lugar de vivência daquelas tarefas requeridas para a vida em sociedade. O aluno e o grupo passam a ser o centro de convergência do trabalho escolar. 20 Pedagogia renovada não-diretiva: O pensamento pedagógico passa a se preocupar com a questão humana, e com o desenvolvimento da personalidade do aluno, bem como com o seu autoconhecimento e a sua realização pessoal. Passa-se a valorizar os trabalhos em grupo. O aprendizado passa a ser interno e intransferível. Acentua-se a humanização da relação professor-aluno, valorizando a afetividade entre os sujeitos dela participantes. O centro da educação passa a ser o aluno, e o professor deve preocupar-se em fazer com que ele mude a sua percepção da realidade, facilitando os meios para se chegar a tal desiderato. Objetiva-se a realização de atitudes práticas no processo educativo. Procura-se reconstruir o conhecimento já existente. Neste modelo, o estudante retém o conhecimento ministrado de acordo com a importância que ele mesmo dá ao conteúdo, o que faz com que o método seja menos impositivo. Numa linha distinta das concepções escola novistas, esses autores se preocupamem superar as oposições entre a cultura subjetiva e a cultura objetiva, entre o individual e o social, entre o psicológico e o cultural. De um lado, concebem a educação como atividade do próprio sujeito, a partir de uma tendência interna de desenvolvimento espiritual; de outro, consideram que os indivíduos vivem num mundo sociocultural, produto do próprio desenvolvimento histórico da sociedade. A educação seria, assim, um processo de subjetivação da cultura, tendo em vista a formação da vida interior, a edificação da personalidade. A pedagogia da cultura quer unir as condições externas da vida real, isto é, o mundo objetivo da cultura, à liberdade individual, cuja fonte é a espiritualidade, a vida interior. 21 20 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, páginas 61/63 21 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 63 Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 29 Pedagogia tecnicista: Aqui a preocupação é a profissionalização do aluno. Modela-se o educando, com o fito de integração ao modelo social vigente, ou seja, tecnicista. Predomina a neutralidade e objetividade dos conteúdos ministrado. O educador passa a administrar os procedimentos didáticos, e o aluno a receber as informações. A relação professor-aluno passa a ser profissional e interpessoal, não havendo relação de afetividade entre os mesmos. O papel da escola, então, é o de formar pessoas hábeis a entrarem para o mercado de trabalho. Os métodos passam a harmonizar as necessidades dos alunos com os valores sociais. O professor é um técnico que garante a eficiência do ensino. Aprendizagem baseia-se no desempenho. Organiza-se a prática escolar utilizando-se de metodologias pré-definidas, objetivando modelar o comportamento humano. Inspira-se nos princípios da racionalidade, da eficiência e da produtividade, utilizando como pressuposto básico a neutralidade científica. O processo educativo, então, passa a ser objetivo e operacional. Teve grande apelo no Brasil à época da ditadura militar. Quanto ao tecnicismo educacional, embora seja considerada como uma tendência pedagógica, inclui-se, em certo sentido, na Pedagogia Renovada. Desenvolveu-se no Brasil na década de 50, à sombra do progressivíssimo, ganhando nos anos 60 autonomia quando constituiu-se especificamente como tendência, inspirada na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensino. Esta orientação acabou sendo imposta às escolas pelos organismos oficiais ao longo de boa parte das duas últimas décadas (70 e 80), por ser compatível com a orientação econômica, política e ideológica do regime militar então vigente. Com isso, ainda hoje predomina nos cursos de formação de professores o uso de manuais didáticos de cunho tecnicista, de caráter meramente instrumental. A Didática instrumental está interessada na racionalização do ensino, no uso de meios e técnicas mais eficazes. O sistema de instrução se compõe das Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 30 seguintes etapas: a) especificação de objetos instrucionais operacionalizados; b) avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré- requisitos para alcançar os objetivos; c) ensino ou organização das experiências de aprendizagem; d) avaliação dos alunos relativa ao que se propôs nos objetivos iniciais. O arranjo mais simplificado dessa sequência resultou na fórmula: objetivos, conteúdos, estratégias, avaliação. O professor é um administrador e executor do planejamento, o meio de previsão das ações a serem executadas e dos meios necessários para se atingir os objetivos. Boa parte dos livros didáticos em uso nas escolas são elaborados com base na tecnologia da instrução.22 PARTE 2 – TENDÊNCIA PROGRESSISTA PEDAGOGIA PROGRESSISTA Libertadora Libertária Crítico-social dos conteúdos Por outro lado, as tendências progressistas passam a analisar de forma crítica a realidade social, sendo que o papel da educação é o de possibilitar ao educando a compreensão da realidade histórico-social, frisando o indivíduo como um ser que tem a possibilidade de construir a sua própria realidade. Possui, ao mesmo tempo, um caráter pedagógico e político. As tendências de cunho progressista interessadas em propostas pedagógicas voltadas para os interesses da maioria da população foram adquirindo maior solidez e sistematização por volta dos anos 80. São também denominadas teorias críticas da educação. Não é que não tenham existido antes esforços no sentido de formular propostas de educação popular. Já no começo do século formaram-se movimentos de renovação educacional por iniciativa de militantes socialistas. Muitos dos integrantes do movimento dos pioneiros da Escola Nova tinham real interesse em superar a educação elitista e discriminadora da época. No início dos anos 60 surgiram os movimentos de educação de adultos que geraram ideias pedagógicas e práticas educacionais de educação popular, configurando a tendência que veio a ser denominada de Pedagogia Libertadora.23 22 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, páginas 67/68 23 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 68 Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 31 Pedagogia Progressista Libertadora: Segundo essa tendência, a função da escola seria a de conscientizar para transformar a realidade. O conteúdo é retirado da prática social e cotidiana dos alunos. A metodologia utilizada é a de problematização da experiência social em grupos de discussão. Desaparece a verticalização na relação entre professor e aluno, estando ambos no mesmo plano hierárquico, ou seja, a relação entre eles é de igual para igual, a serviço do ato de educar. Em contraposição ao ensino individual, privilegia-se a formação de grupos de discussão. O grande idealizador dessa tendência foi Paulo Freire. A atividade escolar é centrada na discussão de temas sociais e políticos; poder-se-ia falar de um ensino centrado na realidade social, em que professor e alunos analisam problemas e realidades do meio socioeconômico e cultural, da comunidade local, com seus recursos e necessidades, tendo em vista a ação coletiva frente a esses problemas e realidades. O trabalho escolar não se assenta, prioritariamente, nos conteúdos de ensino já sistematizados, mas no processo de participação ativa nas discussões e nas ações práticas sobre questões da realidade social imediata. Nesse processo em que se realiza a discussão, os relatos da experiência vivida, a assembleia, a pesquisa participante, o trabalho de grupo, etc., vão surgindo temas geradores que podem vir a ser sistematizados para efeito de consolidação de conhecimentos. É uma didática que busca desenvolver o processo educativo como tarefa que se dá no interior dos grupos sociais e por isso o professor é coordenador ou animador das atividades que se organizam sempre pela ação conjunta dele e dos alunos.24 Pedagogia libertária: Aqui, a ênfase dada é nas práticas democráticas, uma vez que se acredita que a consciência política resulta em conquistas sociais. O educador prioriza o enfoque nas lutas sociais, tornando-se orientador do grupo, sem qualquer imposição de ideias ou convicções. 24 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 69. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 32 O papel da escola é o de transformação da personalidade dos educandos,num sentido libertário e auto gestionário. A Pedagogia Libertária tem sido empregada com muito êxito em vários setores dos movimentos sociais, como sindicatos, associações de bairro, comunidades religiosas. Parte desse êxito se deve ao fato de ser utilizada entre adultos que vivenciam uma prática política e onde o debate sobre a problemática econômica, social e política pode ser aprofundado com a orientação de intelectuais comprometidos com interesses populares.25 Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos: Aqui, a aprendizagem se dá por meio do esforço do aluno. A função essencial da escola é a transmissão de conteúdos culturais e universais ligados à realidade dos alunos. O professor atua, assim, como uma espécie de mediador entre o conhecimento e o educando. O aluno participa com suas experiências e o educador com a sua visão da realidade. Para a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos a escola pública cumpre a sua função social e política, assegurando a difusão dos conhecimentos sistematizados a todos, como condição para a efetiva participação do povo nas lutas sociais. Não considera suficiente colocar como conteúdo escolar a problemática social cotidiana, pois somente com o domínio dos conhecimentos, habilidades e capacidades mentais podem os alunos organizar, interpretar e reelaborar as suas experiências de vida em função dos interesses de classe. O que importa é que os conhecimentos sistematizados sejam confrontados com as experiências socioculturais e a vida concreta dos alunos, como meio de aprendizagem e melhor solidez na assimilação dos conteúdos. Do ponto de vista didático, o ensino consiste na mediação de objetivos-conteúdos-métodos que assegure o encontro formativo entre os alunos e as matérias escolares, que é o fato decisivo da aprendizagem.26 E prossegue o autor: A Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos atribui grande importância à Didática, cujo objeto de estudo é o processo de ensino nas suas relações e 25 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 69. 26 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 70. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 33 ligadas com a aprendizagem. As ações de ensinar e aprender formam uma unidade, mas cada uma tem a sua especificidade. A Didática tem como objetivo a direção do processo de ensinar, tendo em vista finalidades sócio- políticas e pedagógicas e as condições e meios formativos; tal direção, entretanto, converge para promover a auto atividade dos alunos, a aprendizagem. Com isso, a Pedagogia Crítico-Social busca uma síntese superadora de traços significativos da Pedagogia Tradicional e da Escola Nova. Postula para o ensino a tarefa de propiciar aos alunos o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades intelectuais, mediante a transmissão e assimilação ativa dos conteúdos escolares articulando, no mesmo processo, a aquisição de noções sistematizadas e as qualidades individuais dos alunos que lhe possibilitam a auto atividade e a busca independente e criativa das noções. Mas trata-se de uma síntese superadora. Com efeito, se a Pedagogia define fins e meios da prática educativa a partir dos seus vínculos com a dinâmica da prática social, imposta um posicionamento dela face a interesses sociais em jogo no quadro das relações sociais vigentes na sociedade. Os conhecimentos teóricos e práticos da Didática medeiam os vínculos entre o pedagógico e à docência; fazem a ligação entre o “para quê” (opções político-pedagógicas) e o “como” da ação educativa escolar (a prática docente). A Pedagogia Crítico-Social toma o partido dos interesses majoritários da sociedade, atribuindo à instrução e ao ensino o papel de proporcionar aos alunos o domínio de conteúdos científicos, os métodos de estudo e habilidades e hábitos de raciocínio científico, de modo a irem formando a consciência crítica face às realidades sociais e capacitando-se a assumir no conjunto das lutas sociais a sua condição de agentes ativos de transformação da sociedade e de si próprios.27 Neste ponto, pertinente a colocação, a título de reflexão: É preciso enfrentar e derrotar o fracasso escolar se se quer, de fato, uma escola pública democrática. Para isso, é necessário rever a concepção de qualidade de ensino. A qualidade de ensino é inseparável das características econômicas, socioculturais e psicológicas da clientela atendida. Só podemos falar em qualidade em relação a algo: coisas, processos, fenômenos, pessoas, que são reais. Isso significa que programas, conteúdos, métodos, formas de organização somente adquirem qualidade – elevam a qualidade de ensino – quando são compatibilizados com as condições reais dos alunos, não apenas individuais, mas principalmente as determinadas pela sua condição social. Deficiências e dificuldades dos alunos não são naturais, isso é, não são devidas exclusivamente à natureza humana individual, mas provocadas pelo modo de organização econômica e social da sociedade, determinante das condições materiais e concretas de vida das crianças. Tais condições influem na percepção e assimilação dos conteúdos das matérias, na linguagem, nas motivações para o estudo, nas aspirações em relação ao futuro, nas relações com o professor. Um psicólogo da educação, David Ausubel, escreveu: ‘O fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aluno já conhece; descubra-se o que ele sabe 27 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, página 70/71. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 34 e baseie nisso seus ensinamentos’. Ora, o que o aluno conhece depende da sua vida real. Esta é uma preciosa lição, pois frequentemente a matéria do livro didático, as aulas, os modos de ensinar, os valores sociais transmitidos pelo professor soam estranhos ao mundo social e cultural das crianças, quando não se vinculam às suas percepções, motivações, práticas de vida, linguagem. O ensino contribui para a superação do fracasso escolar se os objetivos e conteúdos são acessíveis, socialmente significativos e assumidos pelos alunos, isto é, capazes de suscitar sua atividade e suas capacidades mentais, seu raciocínio, para que assimilem consciente e ativamente os conhecimentos. Em outras palavras: o trabalho docente consiste em compatibilizar conteúdos e métodos com o nível de conhecimentos, experiências, desenvolvimento mental dos alunos. A escola e os professores têm sua parte a cumprir na luta contra o fracasso escolar. E, sem dúvida, o ponto vulnerável a ser atacado nesse combate é a alfabetização. O domínio da leitura e da escrita, tarefa que percorre todas as séries escolares, é a base necessária para que os alunos progridam nos estudos, aprendam a expressar suas ideias e sentimentos, aperfeiçoem continuamente suas possibilidades cognoscitivas, ganhem maior compreensão da realidade social. A alfabetização bem conduzida instrumentaliza os alunos a agirem socialmente, a lidarem com as situações e desafios concretos da vida prática: é meio indispensável para a expressão do pensamento, da assimilação consciente e ativa de conhecimentos e habilidades, meio de conquista da liberdade intelectual e política.28 28 LIBÂNEO, José Carlos, Didática, editora Cortez, São Paulo, 1990, páginas 42/43 Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 35 CAPÍTULO 4: OS DIFERENTES ESPAÇOS DE FORMAÇÃO PARTE 1 - A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES Como é sabido, a escola é responsável por parte da educação, que é a escolarização. Entretanto, os ambientes de convívio e que o alunofrequenta também interferem em sua educação e sua formação pessoal. Os costumes, a cultura, a religião, os princípios éticos e morais, tudo o que é absorvido durante a vida do aluno pode contribuir para sua educação, não somente o ambiente escolar. Neste sentido é a definição legal de educação trazida pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB): Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. 29 Esses aspectos são muito peculiares e pessoais, pois cada pessoa convive em um ambiente diferente, com culturas e costumes diferentes, o que faz com que cada aluno seja único, pois cada um passa por um conjunto de experiências internas e externas. Abaixo alguns exemplos de aspectos que constitui a educação: Educação 29 LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acessado em 02 de abril de 2020 às 12:11h http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%209.394-1996?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 36 Comunidade Cultura Ambiente Familiar Religião O ambiente Familiar: É no ambiente familiar onde tudo começa, os primeiros princípios, as primeiras noções do que é “moralmente” certo e errado, do que não é tolerável e os primeiros valores, o que será levado e construído ao longo da vida com as experiências vividas, os ensinamos na escola, faculdade e outros ambientes, aliás, todo lugar pode ser uma fonte de transmissão de alguma parte da imensidão de aspectos que compõe a educação, seja uma praça, o trabalho, ou qualquer outro ambiente. O ser humano está o tempo todo absorvendo o que lhe é exposto, isso permite integrar também a educação. Em outras palavras, a formação da educação é um processo infinito, perdura ao longo de toda a vida. Também é importante ressaltar o papel da família na escolarização, uma vez que não é exclusividade da escola a formação escolar. Nos casos da educação básica, Ensino Fundamental e Ensino médio é de suma importância o acompanhamento dos pais na escolarização, porém, essa presença na vida escolar do aluno que vem diminuindo no decorrer dos anos em virtude da chamada “globalização”. Nos tempos atuais as pessoas estão sempre realizando algo e quase nunca possuem um tempo de qualidade para acompanhar a formação escolar de seus filhos. É necessário e fundamental para um bom desempenho escolar a comunicação da família com a escola, conforme ressaltado acima, pois é um período muito importante na formação da educação. É o início de tudo! Religião: É impossível mensurar os efeitos trazidos pela religião à educação. A religião é uma das principais responsáveis, juntamente com a família Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 37 pela criação e transmissão de valores nos aspectos éticos e morais. Ela transmite a visão do que é “moralmente” certo e errado, não somente aos alunos, mas a população em geral. É relevante no ensino dos direitos humanos, da cidadania e o respeito ao próximo, entre inúmeras outra áreas de ensino que se tornou impossível trazer no momento por sua complexidade e amplitude. Cultura: A cultura é também outro fato de extrema relevância. É sabido que a diversidade cultural no Brasil é imensa, e não há nenhuma pessoa que não tenha uma cultura, pois ela é inata ao indivíduo desde o seu nascimento. Cada um dos seres humanos é criador e propagador de cultura. Neste sentido BOURDIEU afirma que "a cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação última [...] uma não pode ser pensada sem a outra." 30 A infinidade de culturas existentes acaba por ser uma dificuldade encontrada pelos profissionais na aplicação do conteúdo em sala de aula, porque é algo tão amplo e complexo que se faz necessário um estudo na aplicação dos conteúdos de forma a abarcar as diferentes culturas, para que não se torne impossível ou inviável a escolarização do aluno. Nos últimos anos muito se tem discutido a integração da cultura no processo de aprendizagem, se esta seria uma facilitadora de aproximação entre alunos com diversidade cultural mais acentuada, pois compreender as diferenças culturais ajuda e muito no relacionamento entre os alunos e os aproxima, pois assim diminui o preconceito e cria um ambiente de aprendizagem mais cidadão. O costume, embora por muitas vezes seja confundido com a cultura, tem as suas peculiaridades. 30 BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 38 Para melhor diferenciar os dois, veja abaixo a definição de cultura no dicionário: 1 - Conjunto dos hábitos sociais e religiosos, das manifestações intelectuais e artísticas, que caracteriza uma sociedade: cultura inca; a cultura helenística. 2 - Normas de comportamento, saberes, hábitos ou crenças que diferenciam um grupo de outro: provêm de culturas distintas. 3 - Conjunto dos conhecimentos adquiridos; instrução: sujeito sem cultura. 4 - Ação, efeito ou modo usado para tratar a terra ou as plantas; cultivo. 5 - Terreno cultivado; categoria de vegetais cultivados: a cultura das flores; culturas forrageiras. 6 - Criação de certos animais: cultura de abelhas. 7 - Expressão ou estágio evolutivo das tradições e valores de uma região, num período determinado: cultura católica. 8 - Aplicação do espírito a uma coisa: a cultura das ciências. 9 - Desenvolvimento das faculdades naturais: a cultura do espírito. 10 - Apuro, expressão de elegância: a cultura do estilo. 11 - Desenvolvimento de certas espécies microbianas: caldo de cultura. 12 - Arte de utilizar certas produções naturais: cultura do algodão. 31 Desta forma fica claro que costumes e cultura não são sinônimos, pois os costumes têm a ver com os hábitos pessoais, possuindo um âmbito mais restrito do que a cultura. É possível haver muitos tipos de costumes diferentes dentro de uma mesma cultura. Comunidade: A comunidade e os ambientes frequentados também interferem e muito na educação do aluno. Os ambientes religiosos, o ambiente familiar, o ambiente de escolarização, fazem insofismavelmente parte da educação do indivíduo, pois, como dito acima, todo lugar pode e é fonte de transmissão de valores. Sendo assim, locais 31 Dicionário Online. Dicio, Dicionário Online de Português. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/cultura/>. Acessado em 25 de Março de 2020 ás 11:19h. (sem destaque no original). https://www.dicio.com.br/cultura/%3e. Complementação Pedagógica MODULO I: FORMAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE 39 frequentados e de convivência pelo aluno, trazem experiências, princípios éticos e morais, e até mesmo a interação entre culturas diferentes. PARTE 2 – A FORMAÇÃO DE PROFESSORES A Escola como vem sendo dito, é responsável somente por uma parte da educação: a escolarização. Mas é inegável a relevância trazida pela instituição de Ensino e a formação de um bom profissional para conduzir um ensino de boa qualidade, e promover a escolarização de forma adequada a promover seu objetivo e alcançar os diferentes tipos de alunos. A formação de profissional de
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