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JULGAMENTO_DE_CAPITU

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COLÉGIO DIOCESANO DE BELO JARDIM 
Diocesano Monsenhor Francisco de Assis Neves 
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O JULGAMENTO DE 
CAPITU 
Inspirado no romance Dom Casmurro, Machado de Assis 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COLÉGIO DIOCESANO DE BELO JARDIM 
Diocesano Monsenhor Francisco de Assis Neves 
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ELENCO DO JÚRI 
 
Capitolina (ré) - Radyja Gabriela 
Dom Casmurro (requerente) – Carlos Wilson 
Advogada de acusação – Franciele Góis 
Advogada de defesa – Fernanda Rebeca 
Promotoria – Izabela Calábria 
Juíza – Queysia Vitória 
Tio Cosme (1ª testemunha de acusação) – Breno 
Dona Glória (2ª testemunha de acusação) – Mariana 
José Dias (3ª testemunha de acusação) – Phillipe Cavalcante 
Sancha (testemunha de defesa) – Thainara Conserva 
 
ELENCO DOS FLASHBACKS 
 
Capitolina – Lívia Marcelle 
Dom Casmurro – Aluizio Rosa 
Escobar – Antônio Vinícius 
Sancha – Emilly 
 
ELENCO DE APOIO 
 
Escrivã - Lavínia Agra 
D. Fortunata - Lívia Conserva 
Guarda - Gabriel 
 
COORDENADORAS 
 
Profª. Esp. Bárbara Soares da Silva 
Profª. Daniele Miranda Félix 
Profª. Esp. Elinádja 
 
COLABORADORES 
 
Prof. Philippe Gustavo Pereira Barbosa Cavalcante 
 
SONOPLATIA 
 
Profª. Esp. Bárbara Soares da Silva 
Aluízio Rosa 
Antônio Vinícius 
 
EDIÇÃO 
Profª. Esp. Bárbara Soares da Silva 
 
DIREÇÃO 
 
Profª. Esp. Bárbara Soares da Silva 
Prof. Philippe Gustavo Pereira Barbosa Cavalcante 
Aluízio Rosa 
 
ROTEIRO (Roteiro baseado na obra dom Casmurro, Machado de Assis) 
 
Profª. Esp. Bárbara Soares da Silva 
COLÉGIO DIOCESANO DE BELO JARDIM 
Diocesano Monsenhor Francisco de Assis Neves 
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JULGAMENTO DE MARIA CAPITOLINA SANTIAGO 
 
 
(as personagens que estarão em cena será a promotora, a escrivã e os jurados. As testemunhas estarão na 
plateia.) (toque vivo da campainha para iniciar a sessão) 
 
1. FALA DA PROMOTORIA: (promotora levanta-se dando sinal para que todo no recinto façam a mesma 
coisa) 
 
- Fiquemos todos de pé para acolher a Excelentíssima Senhora Juíza Queysia Vitória. 
 
(A juíza entra ao som de Every Breath you take instrumental – 2 cellos. Faz sinal para que todos se sentem. 
Senta-se. Todos se sentam) 
 
PROMOTORIA: 
 
- Peço a atenção dos senhores para a chamada dos jurados. Proceda a sra escrivã, à chamada dos jurados. À 
medida que forem chamados, os Srs. jurados respondam presente. 
 
2. ESCRIVÃ: [fala o nome dos jurados(5) em voz alta]1 
 
3. FALA DA JUÍZA: 
 
- (olha para os jurados e faz sinal para eles levantarem) Levantem-se todos! Após o proferimento das 
seguintes palavras, vocês devem responder: ―Assim o prometo!‖ 
- Srs. Jurados, em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa deci-
são de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça. 
JURADOS: 
 
- ―Assim o prometo!‖ 
 
(a juíza sinaliza para que eles sentem) 
JUÍZA: 
 
-―Será submetido a julgamento o processo nº 148. 217, que o Sr. Bento de Albuquerque Santiago move contra 
sua esposa, a Srª Maria Capitolina Santiago, por infração ao art. 250. Secção III, Capítulo II referente aos 
crimes contra a segurança da honra. Dos crimes contra a segurança Individual, PARTE TERCEIRA Dos crimes 
particulares do Código Penal. O qual julga que ―A mulher casada, que cometer adultério, será punida com a 
pena de prisão com trabalho por um a três anos. A mesma pena se imporá neste caso ao adultero.” Declaro 
aberta a sessão do Tribunal do Júri. Determino, portanto, o pregão das partes. 
 
4. ENTRADA DE TODOS: ADVOGADOS E DOM CASMURRO (todos entram ao som de Every Breath 
you take instrumental – 2 cellos e se acomodam) 
 
5. ENTRADA DA RÉ: 
 
JUÍZA: - Que entre também a ré. 
 
 
1
 Faz-se aqui uma observação: na presente apresentação os jurados eram membros coorporativos da escola que foram convocados 
pelas coordenadoras a se apresentarem. Nenhum deles possuía conhecimentos do roteiro e/ou do desfecho, cabendo, portanto, a 
quem adotar esse roteiro, convidar membros externos para compor o corpo do júri. 
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CAPITOLINA (entra Capitu ao som de Westworld Main Theme acompanhada de um guarda) 
 
6. PROMOTORIA: 
 
- Recolham-se as testemunhas a lugar de onde não possam ouvir os debates, nem as respostas umas das outras. 
Separadas as de acusação das de defesa. (as testemunhas levantam-se e se retiram para uma sala isolada) 
- Chamaremos agora o Sr. Bento Santiago, requerente, para depoimento. 
 
(Segue Bentinho para o plenário ao som de Westworld Main Theme. Entra e espera no púlpito, de pé, a fala da 
promotoria) 
) 
 
7. DEPOIMENTO DO REQUERENTE: 
 
JUÍZA 
BENTO 
PROMOTORIA 
 
PROMOTORIA: O senhor jura dizer a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade? 
BENTO: Eu juro. 
 
(promotoria faz sinal para que ele se sente) 
 
JUÍZA: Senhor Bento, por favor, conte-nos sobre seu relacionamento com dona Capitolina. 
BENTO: Desde criança vivíamos juntos. Meus pais ajudaram a família do Pádua durante a enchente e eles 
passaram a morar conosco, na casa ao lado que mais parecia uma extensão da minha. Eu sempre gostei de 
Capitu, sempre pensei que o que tínhamos era amizade, até ouvir uma conversa do José Dias. Ele falava que 
vivíamos muito próximos e que talvez isso prejudicasse a promessa de minha mãe. Ela prometeu que, se tivesse 
um filho saudável, ele seria padre. Foi por causa daquela conversa que comecei a pensar melhor no que sentia 
por Capitu, comecei a refletir sobre nossas conversas e percebi que qualquer que fosse o sentimento que eu 
tinha por ela, ela também o tinha por mim. Lembro-me de quando me elogiava, por vezes me chamava bonito, 
dizia que meus cabelos eram bonitos... Tanto pensei que cheguei a conclusão: Eu amava Capitu. Capitu me 
amava. E não há prova maior do que o que foi talhado no muro do quintal: dois nomes, abertos ao prego... 
 
 
(O júri congela e entra em cena o teatro. Música de fundo: Book of Love – Peter Gabriel) 
 
ATO I – FLASHBACK “A INSCRIÇÃO” 
 
BENTO 
CAPITU 
 
[Capitu já está em cena perto do muro (muro de papelão com o desenho de tijolos e a inscrição) riscando-o 
com um prego, quando percebe a chegada de Bentinho. Bento está cabisbaixo. A medida que Bento se 
aproxima, Capitu esconde o que estava riscando] 
 
CAPITU: — Que é que você tem? 
BENTO: — Não é nada. É uma notícia. 
CAPITU: — Notícia de quê? 
CAPITU: — Então? 
BENTO: — Você sabe... 
 
[Bento olha para o muro, o lugar em que ela estivera riscando e dá um passo para ver os rabiscos mais de 
perto. Capitu agarra-lhe para impedir que veja, mas Bentinho tenta se solta. Capitu desiste de segurá-lo e 
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tenta apagar. Bento é mais rápido, afasta a amiga do muro e é revelado os nomes para o público (a música de 
fundo fica mais alta gradativamente)] 
 
(Bento olha de volta para Capitu. Ela está de cabeça baixa olhando para o chão. Ela ergue os olhos para ele. 
Os dois dão as mãos e ficam se olhando ternamente. A música para. o teatro sai de cena) 
 
(O júri descongela. Segue o depoimento de Bento) 
 
 
JUÍZA: E como era dona Capitolina? 
BENTO: Ahh... E os olhos... ―Vocês já repararam nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada‖. 
O José dias disse que são olhos dados pelo diabo. Que seja... mas era curiosa, os cabelos feitos duas tranças e 
atadas as pontas uma a outra... Eu sempre elogiava seus cabelos... Para mim seus olhos eram de ressaca. 
Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se 
retira da praia, nos dias de ressaca. 
JUÍZA: No início da relação de vocês, você sentia segurança? Ou também suspeitava de traição? 
BENTO: Logo no começo eu tinha plena certeza do amor dela, embora... tinha aquele preto que vendia 
cocadas... (fala em tom hesitante). Ela sempre se
mostrou tão desejosa de mim. Veja, sempre maquinou ideias 
para que pudéssemos ficar juntos. Às vezes, me envergonho disso, mas penso que ela era mais dedicada ao 
nosso amor do que eu mesmo. Eu, de certa forma, me acomodei a obedecer, ela era mais destemida... 
JUÍZA: Como era sua relação com Escobar no seminário? 
BENTO: Nós nos tornamos muito amigos. Acho que pelo fato de nenhum dos dois ter vocação para o 
sacerdócio. Com o tempo éramos como irmãos. Nas férias ele ia a minha casa. Todos lá gostavam muito dele. 
Mamãe amava-o como a um filho. 
JUÍZA: Se Escobar era como um irmão, o que te faz pensar que ele te traiu com dona Capitolina? 
BENTO: Pela maneira como eles se olhavam. Ela sempre tentava disfarça, como tudo o que fazia, desde 
criança era assim, disfarça as coisas com uma naturalidade que eu nunca vi na vida. Lembro-me dos bailes, 
como ela gostava de se arrumar, enfeitar-se, e os braços... Ah... Ela gostava de os deixar à mostra e atrair 
olhares. Escobar mesmo era um deles. 
 
(Júri congela. O teatro entra com a cena do baile. Música: Elephant gun, Beirut) 
 
ATO II – FLASHBACK “OS BRAÇOS” 
 
CASAIS: Bento e Capitu 
 Escobar e Sancha 
 
(Durante a dança Capitu tenta atrair os olhares dos homens para si, enquanto Bento tenta distanciá-la dos 
mesmos. À medida que a dança continua Bento vai ficando carrancudo e mal humorado. A dança termina. A 
peça se retira. O júri descongela.) 
 
8. PROMOTORIA: 
- Que entre, por favor, a primeira testemunha de acusação: Cosme de Albuquerque, advogado e tio do 
requerente. 
 
(Tio Cosme entra ao som de Westworld Main Theme, e espera no púlpito, de pé, a fala da promotoria) 
 
9. TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO: 
 
PROMOTORIA 
A.D: ADVOGADO DE DEFESA 
TIO COSME 
 
PROMOTORIA: O senhor jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade? 
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COSME: Juro! 
 
(Promotoria sinaliza que ele pode sentar-se. Tio Cosme senta-se) 
 
A.D.: Como você descreve dona Capitolina? 
COSME: Ela sempre foi muito bonita, sempre muito esperta. Muito amiga do nosso Bento. Ela quem sempre 
inventava as brincadeiras, acho que sempre teve um ar de liderança, ao contrário de Bento. Bentinho sempre foi 
mais recatado e do lar. Sempre obediente à mãe. Quando Capitu nos visitava sempre aparentava ser um doce. 
Nunca ouvimos reclamações de sua mãe e sempre foi muito carinhosa com mana Glória. Mas sempre foi muito 
dissimulada, pois que mesmo depois de tê-lo beijado, e já os dois se gostando e tendo ela mandado-o falar com 
José Dias para que persuadisse mana Glória a desistir do seminário, quando o garoto chegava em casa nas férias 
ela ficava dizendo que ele iria ser o padre que a iria casar, e que também batizaria seus filhos. Sendo que ela 
não queria que ele se tornasse padre. Mas ela falava com uma naturalidade.... Se mentia assim antes, imagina 
agora? 
JUÍZA: O senhor não pode levantar especulações. 
COSME: Perdão. Mas é que esse comportamento dela levanta muitas suspeitas. E prima Justina? A mulher era 
um azedume só, e nem gostava da Capitu, e a danada sabia e mesmo assim ficava cheia de dengos com a velha, 
pura falsidade. Antes acreditávamos que ela era excelente para nosso Bento, mas agora, Receamos de termos 
sido enganados a vida toda. 
A.D.: O que você acha o relacionamento dela com Bento? 
COSME: Como disse, eles sempre foram amigos. Certo que não imaginei que eles pudessem se casar, mas 
Bentinho nunca teve vocação para o sacerdócio. Não tinha como ele ser protonotário. A vocação dele era 
outra.... E digo isso porque, se ele realmente quisesse seguir a vocação não teria mulher no mundo que lhe 
entortasse o caminho. Por isso posso dizer que a relação deles sempre foi mais forte do que amizade, mesmo 
que nem eles percebessem isso. 
A.D.: O que você pode dizer de Ezequiel? 
COSME: Um bom menino. Tem muito do gênio da mãe e pouco do nosso Bentinho. Mas não sei dizer se a 
criança é fruto de traição. Não sei dizer se Capitu seria capaz de fazer isso, mas competência tem, mentirosa, 
ardilosa, manipuladora e dissimulada ela é. Poderia muito bem ter traído. 
A.D.: Como você descreveria Bento? 
COSME: Um homem invejável, sempre muito dedicado à família, amado pela mãe, um exemplo de filho. 
Mesmo sem querer estava disposto a cumprir a promessa da mãe, só para não entristecer a mana Glória. Um pai 
como nenhum outro haverá e com certeza um magnífico marido. 
A.D.: Isso é tudo, Meritíssima. 
JUÍZA: O senhor está dispensado. 
 
10. PROMOTORIA: 
- Que entre, por favor, a segunda testemunha de acusação: Dona Glória de Albuquerque Santiago, mãe do 
requerente e sogra da ré. 
 
(entra dono Glória ao som de Westworld Main Theme, e espera no púlpito, de pé, a fala da promotoria) 
 
11. TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO: 
 
PROMOTORIA 
DONA GLÓRIA 
A.D.: ADVOGADO DE DEFESA 
 
PROMOTORIA: A senhora jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade? 
DONA GLÓRIA: Juro! 
 
(Promotoria sinaliza que ele pode sentar-se. Dona Glória senta-se) 
 
A.D: - Como a senhora pode definir o seu filho, o Sr. Bento? 
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D. GLÓRIA: - Bentinho sempre foi um santo. Ele até ia ser padre. Eu fiz uma promessa, sabe, se Deus me 
desse a graça de ter um filho, a vida dele seria dedicada à igreja. E ele até gostava, quando criança vivia 
brincando de rezar a missa. 
A.D: - Como era o relacionamento de Bento e Capitolina na infância? 
D. GLÓRIA: - Ahhh... Os dois viviam juntos, eram muito amigos sabe! Quer dizer, eu achava que era só 
amizade, mas como vemos, era mais que isso. Bem que José Dias me avisou que eles viviam muito tempo 
juntos, escondidos, cochichando... Foi aí que ele começou com ideias de desistir do seminário. 
A.D: - Como a senhora se sentiu quando Bento assumiu não ter vocação para o seminário? 
D. GLÓRIA: - Foi um choque. Como disse, eu tinha feito a promessa. Não dava pra acreditar. Pensei na época 
que o motivo fosse a falta de vocação, de certa forma foi mesmo... Mas imaginar que meu filho estava abrindo 
mão do possível título de Protonotário apostólico, para ter uma vida comum. 
A.D: - Como a senhora avalia Capitolina? 
D. GLÓRIA: - Ela sempre foi muito amável. Você acredita que ela sempre me pedi a benção mesmo sem eu 
ser nada dela? Nem madrinha, nem tia, nada. Fazia isso pelo respeito que tinha a mim. Com os pais era do 
mesmo jeito, sempre ajudando a mãe nas atividades de casa, como toda boa menina deve fazer, para poder se 
tornar uma boa esposa. Inclusive, acho que ela seja uma ótima esposa para meu Bento, sempre zelosa no lar, 
muito cuidadora, nunca deixou faltar nada, nunca foi de fazer questão por nada e é ótima mãe, o menino a 
adora. 
A.D: - Como a senhora via o relacionamento de Bento com Capitolina? 
D. GLÓRIA: - De certa forma, para mim, era uma tristeza, por causa da promessa. Foi um pouco 
surpreendente também, porque eu sempre os vi como amigos, crianças apenas. Mas bem que José Dias me 
avisava que ela era sorrateira. Bentinho sempre foi muito obediente, ela deve ter feito a cabeça dele... 
A.D: - Como a senhora se sente em relação ao seu neto? 
D. GLÓRIA: - O menino realmente se parece um pouco com o finado Escobar, principalmente o ar de 
esperteza. Mas eu não quero acreditar que Capitu fosse capaz de fazer... de trair o meu filho. Ela cresceu sob os 
meus olhos, conheço desde a infância. 
A.D.: Isso é tudo, Meritíssima. 
JUÍZA: A senhora está dispensada. 
 
 
12. PROMOTORIA: 
- Que entre, por favor, a terceira testemunha de acusação: José Dias, boticário, agregado na casa de Dona Glória 
desde que seu marido ainda era vivo. 
 
13. TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO: 
 
(José Dias entra ao som de Westworld Main Theme, e espera no púlpito, de pé, a fala da promotoria) 
 
PROMOTORIA 
A.D: ADVOGADO DE DEFESA 
JOSÉ DIAS 
 
PROMOTORIA: O senhor jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade? 
JOSÉ DIAS: Juro! 
 
(Promotoria sinaliza
que ele pode sentar-se. José Dias senta-se) 
 
A.D.: Como o senhor descreveria o sr. Bento? 
JOSÉ DIAS: Ahhh... Ele sempre foi um garotinho muito obediente. Devotado à mãe. Esforçava-se para não se 
causar nenhum desgosto. Seu maior prazer era a alegria da mãe. Tanto que estava disposto a seguir o sacerdócio 
mesmo sem querer, só para não deixar a mãe triste. 
A.D.: E como era o relacionamento dele com dona Capitolina? 
JOSÉ DIAS: Ahhhhhh.... Eles eram muito próximos na infância, tanto que comecei a desconfiar, inclusive 
alertei dona Glória de que talvez o seminário não saísse devido a essa ―amizade‖ (faz o sinal das aspas com as 
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mãos). Inclusive, depois de um tempo, ele até veio me pedir para que intercedesse por ele junto a sua mãe para 
que ela desistisse da promessa, porque ele queria ser advogado. Como tenho muito carinho por ele, acabei 
ajudando. Acho que foi por minha causa que eles acabaram juntos. Eu sou o cupido deles. Um cupido 
eficientíssimo. Durante o casamento eles sempre pareceram muito bem. Ela sempre foi muito animada e 
Bentinho muito sisudo, mas Capitu sempre demonstrou que seria uma ótima esposa e mãe. Ela sempre foi 
ótima com as atividades domésticas, inclusive, sempre que podia, ia ajudar dona Glória ou ficavam tricotando e 
bordando. 
A.D.: O que o senhor pode dizer de dona Capitolina? 
JOSÉ DIAS: Sempre muito esperta, alegre, barulhenta, mas não um barulho ruim. É daqueles barulhos que 
quando você escuta você reconhece a pessoa, e de imediato há um preenchimento de um vazio que até aquele 
momento, você não sabia que existia. Ahhh... E os olhos. Vocês já repararam nos olhos dela? Os olhos que 
Deus lhe deu são assim, de cigana oblíqua e dissimulada. 
A.D.: E como era o relacionamento dela com Escobar? 
JOSÉ DIAS: No início Escobar era amigo só de Bentinho, do seminário. Capitu não gostava muito dele, pelo 
menos era o que demonstrava quando o via. Com o tempo, acho que por insistência de Bentinho, ela acabou se 
acostumando, e depois do tempo que Bento passou no estrangeiro estudando direito eles acabaram se 
aproximando. Ela tinha que aceitar e compartilhar a amizade com Escobar, afinal Bentinho não tinha outros 
amigos, e logo ele se aproximou de Sancha, amiga de Capitu. Era como se eles todos fossem uma grande 
família, todos irmãos. 
A.D.: O senhor chegou aqui como testemunha de defesa, mas até agora só tem feito elogios a minha cliente. 
Deve o júri e todo o tribunal acreditar que o senhor não tem provas de nenhuma traição? 
JOSÉ DIAS: Acho que o senhor não entende o que se passa aqui. O fato de uma pessoa ser boa, carinhosa e 
prestativa, não anula sua capacidade de ser falsa, enganadora e mentirosa. Ela pode muito bem ter traído o 
Bentinho. O próprio Bentinho já contou que ela já xingou dona Glória de tal forma que ele mesmo se assustou. 
Num acesso de raiva ela disse que coisas que normalmente não diria, então quem garante que num acesso de 
raiva de Bentinho, por vingança, ela não o traísse? Ele sempre foi mais introvertido e ciumento, o oposto dela, 
ela pode muito bem ter se cansado disso tudo. Escobar tinha o mesmo espírito desbravador que ela. 
 
 
(Júri congela. O teatro entra. Música de fundo: Danse Macabre – Camille Saint-Saëns) 
 
ATO III – FLASHBACK “UM PLANO” 
 
CAPITU 
BENTINHO 
 
(Capitu e Bentinho estão sentados conversando sobre sua ida para o seminário em voz baixa. Bentinho ergue a 
voz) 
 
BENTINHO: Mas eu não quero, não quero entrar em seminários; não entro, é escusado teimarem comigo; não 
entro. 
 
(Capitu fica parada, inerte. Boca entreaberta, toda parada. quando de repente ela grita com raiva) 
 
CAPITU: Beata! carola! papa-missas! Beata! carola! papa-missas! Beata! carola! papa-missas! 
 
(Bentinho fica em choque. Não sabe como reagir. Enquanto isso Capitu fica caminhando e gritando cada vez 
mais alto os xingamentos. Quanto mais alto ele grita mais alto a música toca. Capitu enraivecida sai de cena, 
Bentinho vai atrás dela. O teatro sai. O júri descongela) 
 
A.D.: Isso é tudo, Meritíssima. 
JUÍZA: O senhor está dispensado. 
 
(José Dias se retira) 
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14. PROMOTORIA: 
- Que entre, por favor, a testemunha de defesa da ré: Sancha de Souza Escobar, esposa do melhor amigo da 
família, Escobar, e amiga do casal. 
 
15. TESTEMUNHA DE DEFESA: 
 
(Sancha entra ao som de Westworld Main Theme e espera no púlpito, de pé, a fala da promotoria) 
 
9. TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO: 
 
PROMOTORIA 
A.A: ADVOGADO DE ACUSAÇÃO 
SANCHA 
 
PROMOTORIA: A senhora jura falar a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade? 
SANCHA: Juro! 
 
(Promotoria sinaliza que ele pode sentar-se. SANCHA senta-se) 
 
A.A: Como era a relação da senhora com a senhora Capitolina? 
SANCHA: Nós nos conhecíamos desde a época do colégio. Estudávamos juntas e criamos amizade. Eu 
frequentava a casa dos Pádua, papai gostava que eu tivesse amigos. Também frequentava a casa de Bento. 
Capitu sempre foi uma boa amiga, sempre pareceu ser uma pessoa muito fiel, paciente, compreensiva, amorosa. 
Lembro-me de quando fiquei doente e Capitu cuidou de mim. ela não dormia, passou dias em casa de papai, só 
se foi quando eu melhorei. Nós erámos como irmãs, tanto que Escobar a chamava de ―cunhadinha‖. Sempre foi 
muito dedicada às pessoas que amava. Quando dei a luz à Capituzinha ela me foi ajudar, não me saiu do pé da 
cama. e eu, ao nascimento do Escobarzinho, fiz o mesmo. Éramos uma família, todos juntos, em todos os 
momentos. 
A.A.: Como era a relação de Bento e Capitu? 
SANCHA: Desde nossa juventude notei o quanto os dois eram próximos, mesmo eu sabendo que Capitu era 
dada a afetos e sempre dedicada aos seus, sempre achei que eles dois eram íntimos demais. Depois meu 
Escobar ajudou os a trocarem cartas, ele foi como um cupido. Ele sempre me pareceu muito dedicado à esposa, 
bem como ela a ele. Lembro-me de como sofreram juntos por não conseguirem ter um filhinho e de como 
ficaram radiantes quando Escobarzinho nasceu. Mas acho que ele dava pouco espaço a ela. Veja Capitu sempre 
foi muito dona de si, independente, tinha suas próprias ideias, ela não vivia à sombra, não era mulher de falsa 
modesta, ela era exuberante. Eu queria ser um pouco mais como ela, mais independente e forte... Acho que isso 
pode incomodar um pouco o Bentinho, pois a personalidade dela é o oposto da dele, na verdade, ele sempre foi 
o mais apático, parece um pouco comigo... De qualquer forma, é um fato, e deixo claro que não estou fazendo 
especulações, que nenhum homem gosta de uma mulher que se sobreponha a ele. Eles sempre procuram ou, até 
mesmo, inventam algo para inferiorizá-la. 
A.A.: O que você pode dizer da relação entre Bento e Escobar? 
SANCHA: Eles eram amigos desde o seminário. Como irmãos, assim como Capitu e eu. Foi Bentinho que teve 
a ideia de Escobar ficar levando e trazendo as cartas dele e Capitu, pois ninguém desconfiaria de Escobar. No 
começo Capitu nem gostava de Escobar e desconfiava dele. Não julgo. O romance dela com Bentinho sempre 
foi muito complicado e alguém de fora poderia complicar ainda mais, mas no final deu tudo certo. Eles sempre 
foram tão próximos... Acho inadmissível que Bentinho desconfie de Escobar, pelo amor de Deus, isso seria 
uma monstruosidade. 
A.A.: Isso é tudo, Meritíssimo. 
JUÍZA: A senhora está dispensada. 
 
16. PROMOTORIA: 
- Daremos início agora ao interrogatório da ré, Srª. Maria Capitolina Santiago, esposa de Bento de Albuquerque 
Santiago. 
 
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(A ré levanta-se ao som de Westworld Main Theme e segue para o plenário onde será interrogada e espera no 
púlpito, de pé, a fala da promotoria) 
 
17. INTERROGATÓRIO DA RÉ 
 
PROMOTORIA 
CAPITU 
A.A: ADVOGADA DE ACUSAÇÃO 
 
PROMOTORIA: A senhora jura falar a verdade, somente a
verdade e nada mais que a verdade? 
CAPITU: Juro! 
 
(Promotoria sinaliza que ele pode sentar-se. SANCHA senta-se) 
 
A.A: Quando a senhora começou a conviver com Bentinho? 
CAPITU: Desde que Dona Glória, com seu coração de ouro, acolheu a mim e a minha família em sua casa, em 
Matacavalos, depois de termos perdido tudo. Convivi com Bentinho durante toda a infância. Sempre soube da 
promessa de dona glória para que Bentinho fosse padre, e fui a primeira a saber quando ele, percebeu que, 
talvez, essa não fosse sua vocação... 
A.A: Quando vocês começaram a se relacionar? 
CAPITU: Sempre gostei de Bentinho... seu jeito tímido. Sempre fomos muito unidos, até mesmo quando me 
distanciei devido o colégio. Quando voltei, não nos separávamos nunca. Era tudo tão natural que quando dei 
por mim, percebi que não sabia, nem nunca tinha feito outra coisa em minha vida que não fosse amar Bentinho. 
Mesmo que isso pudesse contraria sua família. Lembro-me, até hoje, do dia em que ele me pediu para trançar os 
cabelos... foi ali que demos nosso primeiro beijo... 
 
(O júri congela e entra em ação o teatro com a cena do primeiro beijo. Música ao fundo: Stand by me - coral) 
 
ATO IV: FLASHBACK “O PENTEADO” 
 
(Capitu está sentada, olhando-se em um espelhinho, quando percebe Bentinho se aproximando) 
 
CAPITU: Há alguma coisa? 
BENTO: Não há nada. Vim ver você antes que padre Cabral chegue para a lição. Como passou a noite? 
CAPITU: Eu bem. José Dias ainda não falou? 
BENTO: Parece que não! 
CAPITU: Então, quando fala? 
BENTO: Disse-me que hoje ou amanhã pretende tocar no assunto; não vai logo de pancada, falará assim por 
alto e por longe, um toque. Depois, entrará em matéria. Quer primeiro ver se mamãe tem a resolução feita... 
CAPITU: Que tem, tem. E se não fosse preciso alguém pra vencer já, e de todo, não se lhe falaria. Eu já nem 
sei se José Dias poderá influir tanto, acho que fará tudo, se sentir que você realmente não quer ser padre, mas 
poderá alcançar? É um inferno isto! Você teime com ele, Bentinho. 
BENTO: Teimo; hoje mesmo ele há de falar. 
CAPITU: Você jura? 
BENTO: Juro! Deixe ver os olhos, Capitu. (fita os olhos de Capitu por um momento) Deixe pentear os cabelos. 
CAPITU: Você? 
BENTO: Eu mesmo. 
CAPITU: Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim. 
BENTO: Se embaraçar, você desembaraça depois. 
CAPITU: Vamos ver. 
 
(Capitu dá-lhe as costas para que ele comece a desembaraçar o cabelo) 
 
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BENTO: Senta aqui, é melhor. 
CAPITU: (sentando à cadeira e entre sorrisos) Vamos ver o grande cabeleireiro. 
 
(Bento começa a trançar os cabelos dela) 
 
BENTO: Pronto. 
CAPITU: Estará bom? 
BENTO: Veja no espelho. 
 
(Capitu desliza na cadeira e deita a cabeça para trás) 
 
BENTO: Levanta, Capitu! 
 
(ao tentar levantar a cabeça de Capitu, os lábios dos dois se tocam breve e sutilmente. A música agora deve 
estar preenchendo todo o ambiente. Capitu levanta-se sobressaltada. Bento fica paralisado em choque. D. 
Fortunata aparece) 
 
CAPITU: (como se nada tivesse acontecido) Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou... 
 
(a mãe de Capitu afastasse e Capitu a segue, seguida também por Bento. O teatro sai de cena e o júri 
descongela) 
 
A.A: O que impedia o relacionamento de vocês? 
CAPITU: Dona Glória havia feito uma promessa, para que Bentinho se tornasse padre. Ele sempre foi 
extremamente obediente à mãe e isso quase impediu o nosso romance porque ele não tinha coragem de dizer a 
mãe que não queria mais seguir o sacerdócio. 
A.A: Como vocês resolveram esse impasse? 
CAPITU: Pedimos apoio a José Dias, pois dona Glória sempre o ouvia. Dissemos que Bentinho queria ir para a 
Europa, e José Dias era apaixonado pela Europa, isso o motivou a nos ajudar. Fora o fato de Bento ter assumido 
não ter vocação. 
A.A: Como era o relacionamento de Bento e Escobar? 
CAPITU: Eles se conheceram no seminário e nenhum tinha vocação para o sacerdócio, acho que por isso 
ficaram tão amigos. Escobar queria ser comerciante e Bento advogado. Eles sempre viviam juntos, tanto que 
quando firam passar as férias em Matacavalos, Bento só queria ficar passeando com Escobar. 
A.A: Como você se sentia diante da amizade dos dois? 
Embora a relação deles fosse muito próxima, isso não me incomodava. Bento não tinha muitos amigos, sempre 
vivia na saia da mãe. Era bom ele ter um outro homem, da sua idade, com as mesmas ideias, para conviver. 
A.A: Como é o casamento de vocês? 
CAPITU: No começo as mil maravilhas, mas como passar do tempo e, principalmente, após o nascimento de 
Ezequiel, ele começou a ficar estranho, cismava com tudo, parecia sempre desconfiado, inseguro e um pouco 
paranoico. 
A.A: Como você justifica a aparência de Ezequiel com Escobar? 
CAPITU: Ele não se parece com Escobar. Bento fala que o menino tem olhos claros, mas eu também tenho 
olhos claros. Fala que o menino é igual a Escobar, que caminha como ele, mas o menino só gosta de imitar as 
pessoas. ele imita todo mundo. É uma graça! É fase, toda criança faz isso. 
A.A: Como você se sentiu com a morte de Escobar? 
CAPITU: Foi um choque. Uma grande perda. Ele era nosso amigo há muito anos. Fiquei abalada. Bento me 
acusa, mas que não lamenta a morte de um amigo, ainda mais de alguém que o próprio Bento considerava como 
um irmão? Eu que fico admirada com a frieza dele. 
A.A: Sua dissimulação sempre foi clara, como já foi exposta anteriormente nos termos ―cigana oblíqua e 
dissimulada‖. A senhora tende a mascarar seus sentimentos, por quê? 
CAPITU: Não sou dissimulada, mas veja, amei alguém que estava destinado a ser padre. Eu não poderia ficar 
gritando isso aos quatro ventos. Dissimulada é quem finge. Nunca fingi ser o que não sou, sempre fui a mesma, 
intensa, verdadeira e dona de mim. 
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A.A: Para mim isso é o suficiente, Meritíssima. 
JUÍZA: A senhora está dispensada. 
 
 
12. DEBATE ORAL: 
 
PROMOTORIA 
A.A. 
A.D. 
 
PROMOTORIA: Daremos início agora aos debates. Com a palavra a acusação. Vossa Excelência terá até uma 
hora e meia para a acusação. 
 
1º ADVOGADA DE ACUSAÇÃO: 
- Excelentíssima senhora Juíza presidente, Ilustre promotora, diletos colegas de defesa, primorosos servidores 
da Justiça, gloriosa polícia militar, familiares da vítima, familiares da ré (cumprimento à ré e por último aos 
jurados sorteados). Venho aqui mostrar-lhes que a Srª Maria Capitolina enganou não apenas a Bento Santiago, 
meu cliente, como também a toda sua família, fazendo-os acreditar que ela era apenas uma jovem doce e 
ingênua, quando na verdade, desde a tenra idade, ela já corrompia o meu cliente. 
- Desde jovem já tinha um comportamento inadequado. Posso provar isso através de um diálogo entre Dona 
Glória, o Sr. Cosme e o Sr. José Dias, exibido aqui (ergue o livro Dom Casmurro na mão), capítulo 3, página 
14-15, no qual José Dias adverte Dona Glória através das seguintes palavras: ―Não me parece bonito que o 
nosso Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Tartaruga, e esta é a dificuldade, porque se eles pegam 
de namoro, a senhora terá muito que lutar para separá-los.‖ E ainda acrescentou que sua opinião não vinha de 
mera suposições, dizendo: ―creia que não falei senão depois de muito examinar...‖. É tanto verdade que, 
posteriormente, o casal pede ajuda ao próprio José Dias para que ele convença dona Glória a desistir de por 
Bento no seminário. E toda a sequência é incitada por Capitu que pressiona Bento a falar com o José Dias, 
como comprovado no capítulo 32, página 68: ―Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto... Você teime 
com ele, Bentinho!‖. Como se já não bastasse ela ser manipuladora, ainda exigia isso do sir. Bento. 
- Também podemos provar que desde tenra idade dona Capitolina sempre apresentou-se ser bastante 
dissimulada, fingindo situações e mascarando sentimentos e reações, como foi retratado no episódio do 
penteado, página
71, no qual, enquanto o jovem Bento ainda estava atordoado por ter-lhe dado o primeiro beijo, 
ela, por sua vez, ao ver a mãe aproximar-se fingiu, com calma descontração, que nada havia acontecido, como 
podemos perceber no trecho: ―Capitu compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à porta, ela 
abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e 
claro‖. 
- Senhores jurados, quem aqui não lembra o primeiro beijo? E como alguém poderia ignorar tão prontamente 
esse momento se não fosse justamente pela ausência de amor e respeito e um excesso de cinismo? O próprio 
José Dias já dissera ―Olhos de cigana oblíqua e dissimulada‖. O que são os ciganos senão, um povo, 
historicamente conhecido por serem traiçoeiros e enganadores? Pois, é com respaldo histórico que lhes indago, 
se ela pôde dissimular o primeiro beijo, o que mais não poderia, uma vez que, ao longo dos anos, adquirira 
prática no ato do fingimento? 
- Quanto à criança, Ezequiel, sabemos que crianças têm o hábito de imitar os adultos, mas não os olhos, os 
cabelos... Como nos é mostrado no capítulo 116, suas imitações de Escobar apareciam de forma natural, como 
se fosse uma herança: ―Alguns dos gestos já lhe iam ficando mais repetidos, como os das mãos e pés de 
Escobar; ultimamente, até apanhara o modo de voltar a cabeça deste, quando falava, e o de deixá-la cair, 
quando ria.‖ 
- Quero ainda lembrar-lhes do dia do teatro, apresentado a nós no capítulo 113, no qual dona Capitolina, fingiu-
se de doente para ficar em casa e quando meu cliente retornou ao lar encontrou, para seu espanto, Escobar. ―Era 
tarde para mandar o camarote a Escobar; saí, mas voltei no fim do primeiro ato. Encontrei Escobar à porta do 
corredor. Capitu estava melhor e até boa. Confessou-me que apenas tivera uma dor de cabeça de nada, mas 
agravara o padecimento para que eu fosse divertir-me. Não falava alegre, o que me fez desconfiar que mentia, 
para me não meter medo, mas jurou que era a verdade pura.‖ 
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- Ela mentiu. Não era a primeira vez, como já apresentei aqui. Provavelmente para marcar um encontro com 
Escobar, que foi arruinado por Bento, pois ele resolveu voltar mais cedo para casa. A noite não é hora de se 
visitar ninguém, Escobar poderia muito bem ter aparecido no dia seguinte, mas porque ir justamente à noite? 
Dessa forma, mostro a vocês uma mulher que está acostumada a ter tudo a seus pés, e um homem inteiramente 
apaixonado que está em choque ao ver que a mulher que ele amou durante a vida inteira, seu primeiro e único 
amor, não lhe é recíproca, que, o coração e o corpo foram de outro homem. Que ambos ridicularizaram o meu 
cliente embaixo do seu nariz e que o tornaram um homem com uma carga psicológica traumática. 
- Senhores, espero ter sido clara quanto a posição humilhante do meu cliente e sobre como essa mulher pode ser 
traiçoeira. Espero que os senhores tomem a decisão correta. Isso é tudo Meritíssimo. (senta-se) 
 
PROMOTORIA: É dada a palavra à defesa. Vossa Excelência terá até uma hora e meia para a acusação. 
 
2º ADVOGADA DE DEFESA 
- Excelentíssima senhora Juíza presidente, Ilustre promotora, diletos colegas de defesa, primorosos servidores da Justiça, 
gloriosa polícia militar, familiares da vítima, familiares do réu, (cumprimento ao réu e por último os jurados sorteados) 
venho por meio deste mostrar-lhes que minha cliente, a senhora Maria Capitolina Santiago é inteiramente inocente, 
uma vez que não há nenhuma prova contra ela e todos os depoimentos foram baseados em especulações. Onde 
estão as fotos provando a traição? O próprio sr. Bento assume diversas vezes que é ciumento. Quem garante 
que o ciúme não o fez imaginar todas essas situações? Ele mesmo assume isso no capítulo ―UMA PONTA DE 
IAGO‖, página 113-114 e no capítulo ―EMBARGOS DE TERCEIRO‖, pág. 186. (ler o grifo do livro) 
- Quanto à insistência de minha cliente, ainda durante a infância, de que eles ficassem juntos era completamente 
válida, uma vez que o próprio Bento tenha confessado a ela que não queria ser padre, que não queria ir para o 
seminário, como ele assumiu no cap. 18, pág. 38. (ler grifo na pág.) 
- Quanto ao comportamento de Ezequiel, por favor, já nos foi revelado em diversas partes do texto que a 
criança parecia-se muito com os demais parentes de ambas as famílias: os olhos claros como de dona 
Capitolina, assim descrito, a princípio pelo próprio Bento, e depois mudado, provavelmente devido ao seu 
ciúme; o espírito animado tal qual o do avô, o Tartaruga. 
- Além disso, o próprio Bento acreditava que o filho era dado a imitações. E todos sabemos que existem 
pessoas que nascem com esse dom, sabem imitar os outros com perfeição. Não o bastante, o pai também já 
considerou o fato de Ezequiel e a pequena Capitolina formarem um casal e virem a casar-se. Como nos é 
mostrado no cap. ―AMIGOS PRÓXIMOS‖, PÁG. 193. Se ele duvidava de sua paternidade porque levantaria tal 
ideia? Que ser monstruoso levantaria a hipótese de ver dois irmãos casados? 
- Senhores, espero ter sido clara quanto a posição humilhante da minha cliente e sobre como esse homem é 
possessivo, dominador, inseguro e manipulador, porque ele manipula os fatos a seu favor, distorcendo a 
mensagem e criando uma personalidade para a minha cliente que não faz jus a quem ela realmente é. Espero 
que os senhores tomem a decisão correta. Isso é tudo Meritíssimo. (senta-se) 
 
 
13. TRÉPLICA: 
 
PROMOTORIA: Quer a acusação usar da faculdade da réplica? 
A.A.: Sim, Excelência. 
PROMOTORIA: Vossa Excelência está com a palavra terá até uma hora para a réplica. 
 
 
1º ADVOGADA DE ACUSAÇÃO: 
-Quero apresentar-lhes mais um ponto referente ao comportamento da srª Capitolina. Com a morte de Escobar, 
Sancha, que já se mostrava desconfiada com sua melhor amiga, recusou-a como companhia naquele momento 
de infortúnio. E no dia do enterro, meu cliente percebeu o olhar fixo da mulher sobre o defunto. Pode-se dizer 
que seria pela tristeza de perder um bom amigo, mas lembrem-se das ocultações perfeitas já mencionadas aqui 
nesse tribunal. Quando suas lágrimas caíram, ela tratou logo de secá-las e aumentar o consolo dedicado à 
amiga. Provando, mais uma vez, suas capacidade de dissimular sentimentos, o que nos leva a acreditar que ela 
pôde muito bem ter traído o sr. Bento e enganado a todos. 
 
PROMOTORIA: Quer a defesa usar da faculdade da tréplica? 
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A.A.: Sim, Excelência. 
PROMOTORIA: Vossa Excelência está com a palavra terá até uma hora para a tréplica. 
 
2º ADVOGADA DE DEFESA: 
-Quero deixar claro que em nenhum momento, aqui nesse júri foram apresentadas provas de quaisquer traições 
de minha cliente, ao contrário do acusado, o qual ele mesmo já assumiu ter, em certo momento, olhado para a 
senhora Sancha com olhos desejosos, só porque ele imaginava, repito IMAGINAVA que ela estava se 
oferecendo a ele. Como nos é mostrado no capítulo 118, no qual o próprio Casmurro nos diz que ―Assim devia 
ser, mas um fluido particular que me correu todo o corpo desviou de mim a conclusão que deixo escrita. Senti 
ainda os dedos de Sancha entre os meus, apertando uns aos outros. Foi um instante de vertigem e de pecado.‖ E 
ainda trouxe à mente a frase: ―Uma senhora deliciosíssima‖, fazendo apologia ao um discurso do José Dias, 
amante dos superlativos. Embora tenha tentado mascarar seus sentimentos atribuindo o adjetivo a noite 
estrelada. 
- O próprio Casmurro já assumiu que muitas vezes agia em desvario, por puro ciúme, como posso provar com 
um trecho do capítulo 126: ―Concluí de mim para mim que era a antiga paixão que me ofuscava ainda e me 
fazia desvairar como sempre‖. 
- E em relação ao choro de minha cliente, quero deixar claro que o próprio Bento também chorou, todos 
choraram, eram amigos. Acredito que qualquer um nesse tribunal
choraria diante da morte de um amigo 
considerado um irmão. 
 
14. INTERVALO DO JÚRI 
 
JUÍZA 
- "Dar-se-á um intervalo de 10 minutos pra se proceder ao julgamento. Retirem a acusada. Convido o público 
em geral que deixem o recinto. Convido os srs. Jurados, escrivão, oficiais de justiça e drª. Promotora, a se diri-
girem comigo à sala secreta." 
 
(os jurados se retiram, juntamente com a juíza e a promotoria.)2 
 
 
15. JUIZ PROCLAMA A SENTENÇA DO JÚRI 
 
JUIZA 
CAPITU 
 
(retorno da corte e da acusada para o veredicto. todos tomam os seus assentos.) 
 
SE INOCENTE: 
 
JUÍZA - Este tribunal declara a srª Maria Capitolina Santiago inocente, tendo em vista que não há provas 
relevantes para uma condenação, uma vez que todas as acusações estão baseadas em especulações das 
testemunhas e no imaginário do requerente. Podendo ainda o Tribunal levantar uma ação contra o requerente 
por manipulação de fatos e por exigir um julgamento aberto em uma causa perdida. Agradeço aos srs. Jurados a 
presença e o cumprimento do dever. Os srs. Jurados estão dispensados. 
 
(música de comemoração: I will survive/ survivor – versão GLEE) 
 
CAPITU: (levanta-se e segue em direção a Bentinho) Nunca pensei que você pudesse ser tão baixo e 
mesquinho. Depois de tudo que vivemos, depois de tanto tempo, amor e paciência que dediquei a você... Uma 
vida toda guardando o mesmo amor... Mas não se preocupe, não guardarei mágoas ou ressentimento, mas o 
meu amor por você está acabado, seco e sem vida, você não é merecedor nem de pena. 
 
2 Nesse momento, a juíza ou a promotora entrega ao júri as cédulas de votação com os dizeres ―culpada‖ e ―inocente‖, para que eles 
assinalem o que for adequado de acordo com o que foi exposto. O júri não pode confabular uma resposta única, o voto é secreto e a 
única pessoa que pode saber o que cada jurado escolheu é a juíza. 
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(Capitu vai embora ignorando Bentinho) 
 
SE CULPADA: 
 
JUÍZA - Este tribunal declara a srª Maria Capitolina Santiago culpada e condenada por adultério, sendo 
sentenciada a um período de prisão de 3 anos. Podendo a condenada, dentro de um prazo de 10 dias, recorrer da 
decisão desse Tribunal, caso esteja inconformada com a decisão que lhe foi inferida. Agradeço aos srs. Jurados 
a presença e o cumprimento do dever. Os srs. Jurados estão dispensados. 
 
(música de flagelo: Love by grace – Lara Fabian) 
 
CAPITU: (levanta-se e segue em direção a Bentinho) Nunca pensei que você pudesse ser tão baixo e 
mesquinho. (começa a falar com a voz fraca e chorosa) Depois de tudo que vivemos, depois de tanto tempo, 
amor e paciência que dediquei a você... Uma vida toda guardando o mesmo amor... Eu esperei por você quando 
foi estudar fora, se eu quisesse te trair, teria feito naquela época, não depois de casados... Mas isso não importa 
mais, minha alma, meu corpo e minha honra estão ofendidos... Não preciso mais viver, porque o que já foi 
vivido foi uma ilusão, não preciso continuar nessa vida de desenganos... 
 
(Capitu desmaia e é socorrida pelo “amante” (Escobar dos flashbacks) que a leva nos braços. O júri congela. 
Entra o teatro, apenas com Bentinho.) 
 
BENTINHO: [começa a colocar adereços (paletó, chapéu, echarpe, bigode) que, aos poucos, transformam-no 
em Dom Casmurro. Música ao fundo: Juízo Final – instrumental Junior Alves] 
 
- Meus caros, eis o homem que por não dar ouvidos aos versos de um poeta que o acaso me trouxe, recebeu a 
alcunha Dom Casmurro, sentença que carrego juntamente com outros infortúnios trazidos pela existência. Ao 
fim de tudo, só o ciúme me foi companhia após o muito penar em minha própria insanidade, a qual sinto ter 
contaminado a minha primeira amiga e a todos os que me cercavam. Contudo, não creio assim e vocês hão de 
concordar comigo; a Capitu menina e aquela a quem votei matrimônio estavam uma dentro da outra, como a 
fruta dentro da casca. Só me resta dizer o quão arrependido estou dadas as acusações levantadas por mim e que 
por tal injustiça é remorso o que sentirei até o último suspiro meu. 
 
(música final: Juízo final – Alcione)

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