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ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS EM DESIGN DE JOGOS E ENTRETENIMENTO DIGITAL Rafael Marques Albuquerque O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a função de uma associação de desenvolvedores no cenário internacional. Reconhecer a história da Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames). Explorar as formas de envolver-se com uma associação. Introdução O desenvolvimento de jogos digitais não é uma atividade feita em iso- lamento. Vários fatores podem contribuir para que uma comunidade de desenvolvedores seja próspera. Um dos elementos importantes nesse contexto são as associações de desenvolvedores, que aproximam os desenvolvedores entre si e criam oportunidades para o crescimento coletivo dos profissionais e das empresas. Neste capítulo, você vai aprender sobre as associações de desen- volvedores de jogos digitais. Vamos explorar o contexto internacional, analisando mais a fundo a International Game Developers Association (IGDA), e também o nacional, focando na Associação Brasileira de De- senvolvedores de Jogos Digitais (Abragames). Essas associações são descritas por meio de sua história e também por ações que oferecem ao setor. Finalmente, você encontrará dicas de como pode se envolver com as associações, mesmo durante seu período de formação, aproveitando essas iniciativas para aprender e integrar-se com a indústria. Associações de desenvolvedores Desenvolver jogos digitais não é fácil. Jogos são objetos digitais complexos, cujo desenvolvimento exige habilidades em áreas muito distintas, incluindo arte, tecnologia e marketing. Nas últimas décadas, consumidores de jogos digitais passaram a exigir padrões de qualidade bem mais elevados nesses produtos. Se na década de 1980 jogos criados em casa por poucas pessoas ainda conseguiam emplacar nesse mercado, o jogador atual pode comparar qualquer novo jogo com produções milionárias. Além disso, o crescimento da indústria aumentou a competitividade, e qualquer desenvolvedor que ainda não tenha conquistado seu lugar ao Sol precisa se esforçar para sequer ser percebido nessa selva de jogos. Além dos fatores mais intrínsecos à produção de jogos, como sua complexidade e interdisciplinaridade, há outros tipos de desafios a um desenvolvedor, como a pirataria, os tipos de impostos cobrados, empresas que não oferecem empregos fixos para seus funcionários, ou que exigem horas extras não remuneradas, os altos custos com software, marketing, entre outros. Nesse contexto difícil, muitos desenvolvedores são movidos por sua paixão pelos jogos, de forma que certo sentimento de cumplicidade entre eles passou a ser comum. E uma das formas como essa cumplicidade e esse sentimento de comunidade podem se manifestar é pelas associações de desenvolvedores. Essas organizações conseguem obter uma visão mais ampla da indústria como um todo, além de atuarem como um grande setor da indústria. Associações de desenvolvedores atuam como facilitadores. São entidades que incentivam a comunicação, a articulação política e o auxílio mútuo entre desenvolvedores. Enquanto as empresas que criam jogos costumam estar ocupadas demais com seus prazos curtos e orçamentos apertados, as associa- ções servem como facilitadoras para que um contexto de produção de jogos conquiste sinergia, amadureça e cresça. A maior e mais tradicional associação de desenvolvedores de jogos no mundo é a International Game Developers Association (IGDA), ou Associação Interna- cional de Desenvolvedores de Jogos. Talvez você já tenha ouvido falar em seu fundador, Ernest Adams, Ph.D., autor de livros como o clássico Fundamentals of Game Design (ADAMS, 2014), e Break Into The Game Industry: How to Get A Job Making Video Games (ADAMS, 2003). Ernest Adams criou a IGDA em 1994 — batizada originalmente como Computer Game Developers Association (CGDA) — quando desenvolvedores sentiram a necessidade de organizar suas vozes. Embora ne época já existisse uma organização das empresas de jogos, desenvolvedores individuais sentiram falta de algum tipo de articulação. Um dos O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais2 fatores que levaram à criação da IGDA foram os debates sobre jogos digitais que aconteceram no congresso dos Estados Unidos na época. O congresso, assim como a mídia, pode às vezes criar uma histeria coletiva e gerar uma péssima reputação para os jogos, os jogadores e os desenvolvedores de jogos. Lançado pela Midway Games em 1992, o jogo Mortal Kombat (Figura 1), cujos gráficos se baseiam em filmagens com atores, suscitou muita preocupação com os níveis de violência retratados nos jogos, levando a debates no senado e congresso dos Estados Unidos e resultando na criação de um dos órgãos que controla a indicação etária dos jogos, a Entertainment Software Rating Board (ESRB), no mesmo ano da criação da IGDA, em 1994. Os desenvolvedores precisavam, portanto, unir-se para que sua voz também fosse ouvida. Figura 1. Captura de tela do jogo Mortal Kombat, da Midway Games, de 1992, que desencadeou debates sobre a violência nos jogos na década de 1990. Fonte: MK1 ([2014], documento on-line). Atualmente, a IGDA tem sua sede em Toronto, no Canadá, e possui diversos tipos de atuação. Eis algumas das principais funções da entidade: promover a troca de informações e contatos entre profissionais da indústria dos jogos; criar documentos e estudos que sejam úteis para a comunidade de desenvolvedores; 3O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais apoiar eventos e encontros de desenvolvedores de jogos; manter seus membros informados sobre as notícias do ramo. A IGDA também atua por meio de capítulos (chapters), que são grupos que atuam como representantes locais da organização em uma cidade específica. Esses capítulos têm função similar à IGDA como um todo: aproximar profissionais da mesma área, promover crescimento profissional e agir pelo interesse das pessoas que desenvolvem jogos digitais. Há ainda os grupos de interesse especial (Special Interest Groups — SIGs), que concentram pessoas com um interesse em comum, tal como marketing ou a presença das mulheres nos jogos. Que tal entrar no site oficial da IGDA (www.igda.org)? Dê uma olhada em quais cidades do Brasil a IGDA está presente com um capítulo, e cogite acompanhar algum dos SIGs. Um exemplo de evento que decorreu das atividades da IGDA é o Global Game Jam, uma competição global de desenvolvedores de jogos, em que equipes ao redor do mundo tentam produzir o melhor jogo dentro de um determinado tema em um período de 48 horas. O evento acontece desde 2009, originado por um dos grupos de interesse especial da IGDA. Associações podem ajudar a indústria dos jogos a superar alguns de seus problemas históricos. Os valores oficiais da IDGA expressam algumas dessas preocupações, como a luta para que os jogos digitais sejam considerados uma forma de expressão e uma forma de arte, similar ao cinema, à música ou à lite- ratura. Outros exemplos são a afirmação de valores como igualdade no que se refere a questões de gênero, raça e orientação sexual; ou condições de trabalho justas para profissionais da indústria, evitando abusos, como os famosos crunch ou overtime nos períodos próximos ao lançamento de jogos — ou seja, horas extras excessivas e/ou não remuneradas. Embora essas questões históricas e estruturais sejam difíceis de serem resolvidas por empresas individuais, associações podem fomentar um processo de amadurecimento da indústria como um todo. Embora possamos analisar a função das associações de desenvolvedores sob diversos ângulos, talvez sua essência possa ser resumida em uma ideia: a criação de uma comunidade de desenvolvedores para crescimento e auxílio mútuo e coletivo. Em certas ocasiões, fica claro que existe de fato um sentimento de solidariedade e comunidade.Quando, por exemplo, a famosa empresa TellTale Games fechou as portas em 2018, surpreendendo a muitos, houve um movimento O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais4 por parte de outras empresas no sentido de acolher seus ex-funcionários com vagas de emprego. Embora alguns possam argumentar que as empresas prova- velmente viram uma oportunidade de absorver alguns dos talentos da TellTale Games, podemos perceber também nesse episódio um vislumbre do sentimento de comunidade que pode ser promovido por associações como a IGDA. A Abragames No Brasil, os desenvolvedores de jogos também podem contar com associações nacionais, além do apoio que podem obter junto a organizações internacionais como a IGDA. Um exemplo delas é a Associação Comercial, Industrial e Cultural de Games (Acigames), criada em 2010 em defesa de um projeto de diminuição da carga tributária dos jogos, o Jogo Justo. Porém, a mais tradicional associação é a Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames). É importante salientar a produção muito tímida de jogos digitais no Brasil no final do século XX. Alguns casos podem ser lembrados. Um exemplo é a iniciativa da TecToy de adaptar o Wonder Boy in Monster Land (lançado pela Sega em 1987) para uma versão brasileira chamada Mônica no Castelo do Dragão, publicado para Master System em 1991. Embora houvesse uma tentativa de aproveitar uma marca conhecida — a Turma da Mônica — para atrair consumidores brasileiros, o jogo pode ser descrito como uma reprodução de um jogo mais antigo, com a mera substituição de personagens. Porém, di- ficilmente alguém consideraria que o Brasil era ou viria a se tornar um centro de desenvolvimento tecnológico na área de jogos. De acordo com Zambon e Carvalho (2018), no início dos anos 2000, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e a gestão do Ministério da Cultura (MinC) pelo cantor Gilberto Gil, houve um incentivo e uma crença de que o Brasil poderia crescer nesse setor da indústria. É nesse contexto que surge, em 2004, a Abragames, inicialmente vinculada à tentativa de articular no governo iniciativas de fomento ao desenvolvimento nacional de jogos. Sobre o início dos programas de fomento, Zambon e Carvalho descrevem como foi a articulação: Primeira iniciativa do governo federal que fomentou diretamente o setor de jogos digitais, o JogosBR enquadra-se dentro da categoria dos editais promovidos sistematicamente durante o governo Lula, tendo sido realizado pelo MinC em parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação da Casa Civil (ITI), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Associação Brasileira de Desenvolvedores de Games (Abragames) e Associação Cultural Educação e Cinema (Educine) (ZAMBON; CARVALHO, 2018, p. 114). 5O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais Anos mais tarde, a Abragames também estaria envolvida na abertura da Lei Rouanet e dos editais da Agência Nacional do Cinema (Ancine) para financiamento da produção de jogos digitais. Pode-se notar, portanto, que desde sua fundação a Abragames está associada com a noção de que a indústria nacional poderia contar com fomento por parte do governo, caracterizando jogos como cultura. A Lei Rouanet (Lei nº 8.313 do dia 23 de dezembro de 1991) sancionada pelo presidente Fernando Collor de Mello, permite que artistas obtenham do governo autorização para receber apoio financeiro de empresas privadas em troca de descontos fiscais para a empresa. Dessa forma, o governo permite que empresas privadas invistam em cultura e sejam recompensadas com abatimentos, sendo o principal incentivo da união à cultura no país. Em 2015, o jogo Toren (Figura 2), da desenvolvedora Swordtales, do Rio Grande do Sul, foi o primeiro publicado com ajuda da Lei Rouanet. O jogo foi lançado para PC e Playstation 4. Figura 2. Captura de tela do jogo Toren, da Swordtales, de 2015, produzido com ajuda da Lei Rouanet. Fonte: Albuquerque (2015). Editais do governo são importantes para promover a indústria nacional. Tais editais podem trazer apoio financeiro a empresas brasileiras que não necessariamente possuem acesso a grandes financiadoras internacionais. As regras variam para cada edital, mas diferente de uma investidora tradicional — que normalmente fica com a maior parte do lucro de um jogo — um edital pode oferecer verba sem prejudicar os lucros para os desenvolvedores, que O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais6 advêm após o lançamento do jogo. Além de trazer segurança financeira e possibilitar projetos mais ousados, os editais ajudam a movimentar a indústria e a gerar experiência para profissionais brasileiros. Como se não bastasse, os editais podem apoiar projetos com fins sociais ou educacionais que enfrentem dificuldades em gerar faturamento sob uma perspectiva estritamente comercial. No ano de sua criação, a Abragames lançou um plano diretor de ações para promover o desenvolvimento nacional de jogos, com representação oficial dentro da Secretaria do Audiovisual. Segundo Zambon e Carvalho: ...um plano que enumera ações norteadas segundo quatro estratégias: aper- feiçoamento do ambiente de negócios e infraestrutura da indústria de desen- volvimento de jogos; criação de um cenário favorável à cultura e à economia dos jogos no Brasil; aumento da competitividade internacional das desenvol- vedoras brasileiras; e incentivo à inovação e ao desenvolvimento de talentos. As diretrizes apontadas no plano miravam subsidiar os agentes públicos a desenvolver políticas que suprissem as demandas do setor. O plano destaca as instâncias governamentais, agências e instituições onde se concentrariam a elaboração desses planos de ação: Ministério da Cultura; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da Educação; Ministério do Trabalho e Emprego; APEX-Brasil; Capes; CNPq; FINEP; BNDES; Ibict; INT; ITI e Sebrae. Ainda é evidenciada a transversalidade do setor, afirmando a demanda de um núcleo para a formulação dessas políticas “onde irradiariam as ações para as demais instâncias do governo” (ZAMBON; CARVALHO, 2016, p. 1.366). Posteriormente, como descrevem Zambon e Carvalho (2016), houve mo- mentos mais difíceis para a luta do setor para que os jogos digitais fossem considerados cultura — e, portanto, obtivessem direito de receber financiamento e fomento como cultura — especialmente no famoso caso da então Ministra da Cultura, Marta Suplicy, quando declarou que jogos podem ter aspectos positivos, mas “cultura não é”, em 2013. Em episódios como esse, a Abragames representou uma das ferramentas de diálogo entre o governo e as desenvolvedoras brasileiras. Em 2005, a Abragames lançou um mapeamento das empresas brasileiras de desenvolvimento de jogos (ABRAGAMES, 2005). Desde então, houve uma preocupação do setor em produzir regularmente relatórios sobre a indústria nacional, como os censos da indústria que foram produzidos posteriormente. Outras iniciativas envolveram o acordo com a Apex-Brasil para subsidiar a presença de empresas brasileiras em eventos internacionais da área, que pode ser considerado um embrião do que em 2013 se tornaria o Brazilian Game Developers (BGD), que ajudaria no planejamento estratégico das empresas brasileiras para que pudessem se projetar internacionalmente. Outro marco 7O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais importante foi a parceria com o BNDES para a realização do Brazil’s Indepen- dent Games Festival (BIG), um evento anual que integra a produção nacional com agentes internacionais. É importante destacar que, apesar das conquistas do setor de jogos brasi- leiros — impulsionadas pelos esforços da Abragames — ainda há muito a se conquistar. Zambon e Carvalho (2018) destacam que a atuação da Abragames apresenta grande variação, tendo passado por momentos de atuação mais des- tacada e momentos de relativa dormência. Essa instabilidadeocorre porque a associação depende da atuação de lideranças do setor, da boa vontade de agentes governamentais que mudam a cada mandato e do apoio das empresas filiadas. Zambon e Carvalho (2018) argumentam que muitas das iniciativas de fomento à produção de jogos no Brasil ainda são tímidas, pois são extensões de projetos de fomento de outras áreas, e não programas desenvolvidos es- pecificamente para o setor, contemplando de forma plena suas necessidades. Além disso, faltam programas de longo prazo capazes de implementar e avaliar projetos de forma a aperfeiçoá-los com as experiências anteriores, pois muitas iniciativas tornam-se relativamente isoladas. Mesmo assim, os autores destacam a participação da Abragames como um agente importante no crescimento da indústria nacional. O Brasil ainda não é um dos países de destacada produção de jogos digitais; porém, pode-se notar nos últimos anos — e para isso são importantes os ma- peamentos da indústria, às vezes apoiados pela Abragames — um crescimento promissor nesse sentido. Embora possamos perceber o papel da Abragames nesse crescimento nos últimos anos, ela e outras associações parecem cruciais para que a indústria brasileira se consolide internacionalmente. E isso pode ocorrer não apenas por meio do sucesso de empresas isoladas, mas mediante o incentivo sistemático do setor como um todo, criando espaços de colaboração entre empresas e incentivos para que esse setor possa se consolidar no país. Iniciativas do setor Conhecendo melhor a Abragames e sua história, é possível buscarmos formas de nos envolvermos com algumas de suas iniciativas. Ao contrário da IGDA, a Abragames funciona por meio de empresas associadas, e não de pessoas físicas. No entanto, ao conhecermos melhor seu trabalho, podemos participar de diversas formas, mesmo que não sejamos funcionários de uma empresa, que é quem pode se associar ofi cialmente. O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais8 O Brazil’s Independent Games Festival (BIG) O BIG Festival (Figura 3) acontece anualmente desde 2012 e é um dos mais importantes encontros de jogos digitais do Brasil. Encontros e feiras são tradicionais na indústria dos jogos digitais ao redor do mundo, e servem a inúmeros objetivos, tais como: Nesses encontros, empresas reconhecidas podem mostrar o que estão fazendo, criando expectativa para o lançamento de novos produtos no setor. Empresas menores também encontram nessas feiras espaço para mostra- rem seu trabalho ao mercado, especialmente para potenciais investidores e publishers, ou para encontrar parceiros de trabalho. Os prêmios dados aos jogos ajudam a valorizar e dar visibilidade às melhores produções. Palestras e oficinas ajudam na formação dos profissionais, fomentando trocas de experiência e conhecimento. Os participantes podem desenvolver uma visão mais ampla do que está sendo realizado pela indústria, como suas tendências de tipos de jogo, tecnologias utilizadas etc., de forma a ampliar sua visão estratégica. Finalmente, encontros são importantes para o chamado networking, ou seja, para que os profissionais aumentem suas redes de contatos, o que é essencial para contratações e convênios de trabalho. Figura 3. Evento Brazil’s Independent Games Festival (BIG) de 2018. Fonte: Brazil Games ([2019]). 9O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais Nem todas as empresas de jogos costumam frequentar encontros e feiras. No entanto, tais eventos representam contextos onde há muitas oportunidades de negócios e muita troca de conhecimento entre pessoas da indústria, o que fortalece o sentimento de comunidade de desenvolvedores. Selo da Diversidade Assim como IGDA, a Abragames também nutre uma preocupação com a questão da diversidade nos jogos digitais. Ao longo de sua história, a indústria dos jogos teve problemas com questões de diversidade. Isso envolve aspectos de representação dos personagens, como debatido por Machado, Albuquerque e Alves (2018), mas também questões da indústria e também da chamada “cultura gamer”. Tendo em vista esse contexto, é coerente que associações façam um esforço para tornar a indústria e os jogos mais inclusivos e respeitosos, de forma a se atualizarem em relação aos valores da sociedade e também a ampliarem seu leque de atuação. Nesse sentido, o Selo da Diversidade da Abragames é um atributo que pode ser conquistado por empresas desenvolvedoras de jogos ou parceiras. O objetivo é dar destaque a empresas que possuem boas práticas de promoção e incentivo à igualdade e ao combate das diversas formas de preconceito. Os selos são os seguintes: Diversidade de Gênero Diversidade LGBTQI+ Diversidade Racial Diversidade e Inclusão de Pessoa com Deficiência Assim, fica claro que associações como a Abragames têm o potencial de ajudar a transformar a indústria dos jogos em um ambiente melhor, contri- buindo para que dificuldades históricas sejam superadas. Já que questões como racismo, machismo, homotransfobia e capacitismo são problemas estruturais, é importante que organizações situadas além das empresas individuais estejam empenhadas em combater as diversas formas de discriminação. O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais10 Projeto Setorial de Exportação Brazil Games O Projeto Setorial de Exportação Brazil Games é um programa criado pela Abragames em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), com o objetivo de fortalecer a indústria brasileira de jogos digitais em sua atuação internacional, capacitando e criando oportunidades de negócios (BRAZIL GAMES, [2019]). A organização aliada Apex-Brasil tem o objetivo de desenvolver a competitividade das empresas brasileiras, especialmente por meio do incentivo à internacionalização. O programa possui alguns tipos de ações, como os listados a seguir (BRAZIL GAMES, [2019]): Apoio à divulgação de produtos brasileiros no mercado internacional. Capacitação de empresas e profissionais brasileiros para que consigam atuar em uma esfera internacional. Apoio para participação de empresas brasileiras em eventos e encontros internacionais. Criação de pontos de contato entre empresários brasileiros e estrangei- ros, como as rodadas de negócios. Promoção de estudos de mercado. Planejamento estratégico do setor de desenvolvimento de jogos digitais, visando estabelecer metas e ferramentas para fortalecer o desenvol- vimento de jogos no Brasil e a conquista de mercados internacionais. A internacionalização da indústria brasileira é bastante importante, pois a viabilidade comercial de empresas focadas apenas no público interno é muito limitada. Além de buscar novos públicos consumidores para os jogos brasilei- ros, as parcerias com empresas internacionais permitem que haja aprendizagem e crescimento da indústria nacional, além de potencial para parcerias. Notícias sobre a indústria nacional Uma das formas de valorizar a produção nacional de jogos é dar visibilidade a eles. A Abragames possui alguns canais de comunicação utilizados para divulgar todo tipo de informação, como publicação de editais, lançamentos de jogos nacionais ou prêmios conquistados por empresas brasileiras. 11O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais Que tal conhecer um pouco mais sobre a presença da Abragames nas mídias sociais e em seu serviço de newsletter? Entre no site da entidade e procure formas de acompanhar as notícias sobre a indústria brasileira de jogos digitais. www.abragames.org Conteúdos on-line A Abragames também visa contribuir com a indústria ao disponibilizar ma- teriais relevantes aos seus fi liados e para a indústria como um todo. Alguns desses são desenvolvidos a pedidos da Abragames, outros não. O 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais (SAKUDA; FORTIM, 2018), por exemplo, é um levantamento das empresas brasileiras, com dados sobre seu tamanho, faturamento,planos de negócios, localização e muito mais, desenvolvido por uma grande equipe de pesquisadores com o apoio do Ministério da Cultura. Um exemplo de material que foi produzido com o esforço da Abragames foi o Manual de Direitos Autorais para Games (CARBONI et al., [20--]) e o Manual de Questões Jurídicas de Empresas de Games (CARACIOLO et al., [201-]), ambos com o intuito de ajudar empresas brasileiras a lidar com questões jurídicas. Silva, Silva e Pereira-Guizo (2014) destacam a questão da regulamentação e proteção do capital intelectual na área dos jogos digitais como um fator essencial para que a indústria nacional possa crescer, e manuais como esse podem dar apoio a empresas de jogos, sobretudo empresas pequenas com menor acesso a consultoria jurídica profissional. Todos os recursos e projetos descritos são resultado de um esforço no sentido de crescer coletivamente, como indústria nacional, e buscando também apoio governamental para que esse crescimento possa ocorrer. Desenvolvedores de jogos, com seus prazos exíguos e exigências elevadas, dificilmente pode- riam se dedicar a iniciativas como essas, que são de benefício coletivo. Daí a importância de associações e organizações similares, que possam oferecer o apoio necessário para que o Brasil se torne, de fato, uma referência mundial no desenvolvimento de jogos. O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais12 ABRAGAMES. A Indústria de desenvolvimento de jogos eletrônicos no Brasil. São Paulo: Abra- games, 2005. Disponível em: http://www.abragames.org/uploads/5/6/8/0/56805537/ pesquisa_2005_-_a_industria_de_desenvolvimento_de_jogos_eletronicos_no_brasil. pdf. Acesso em: 13 ago. 2019. ADAMS, E. Break into the game industry: how to get a job making video games. 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De software para audiovisual: as influências da Abraga- mes na formulação de políticas públicas culturais para jogos digitais no Brasil. Revistas de Políticas Públicas, v. 22, n. 1, p. 111-135, 2018. Disponível em: http://www.abragames. org/uploads/5/6/8/0/56805537/9224-27763-1-pb.pdf. Acesso em: 23 jul. 2019. ZAMBON, P. S.; CARVALHO, J. M. Grupos de interesse e políticas públicas: ABRAGAMES versus ACIGAMES. In: SBGAMES, 2016, São Paulo. Anais [...]. São Paulo, 2016. Disponível em: http://www.sbgames.org/sbgames2016/downloads/anais/160777.pdf. Acesso em: 23 jul. 2019. O papel das associações de desenvolvedores de jogos digitais14
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