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0 0 - Política Internacional, Moderna e Contemporânea

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AULA 1 
POLÍTICA INTERNACIONAL 
MODERNA E 
CONTEMPORÂNEA 
Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 
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INTRODUÇÃO 
Nesta aula, estudaremos o conceito de política internacional, bem como os 
principais elementos relacionados a ela, que são os atores e níveis de análise 
envolvidos. 
Em um segundo momento, verificaremos como cada uma das principais 
teorias de Relações Internacionais (RI) observa a política internacional, iniciando 
pelas teorias clássicas, o liberalismo, que a concebe como cooperativa, e a 
realista, que a analisa como conflituosa. Para finalizar, serão apresentados os 
elementos centrais das teorias neoliberal, da interdependência complexa e da 
teoria neorrealista das Relações Internacionais. 
TEMA 1 – CONCEITO DE POLÍTICA INTERNACIONAL E NÍVEIS DE ANÁLISE 
Para dar início ao debate desta disciplina, é preciso caracterizar a política 
internacional, que se refere às ações que ocorrem na ordem global. Importante 
compreendermos que o objeto das Relações Internacionais (RI) é o sistema 
internacional, formado por uma série de atores, entre os quais os mais importantes 
são os Estados. Contudo, existem outros relevantes, como as instituições 
interestatais, as Organizações Não Governamentais Internacionais (ONGIs), as 
empresas transnacionais, os grupos terroristas e paramilitares, os partidos 
políticos e a Igreja. 
Desse modo, o que define o sistema internacional é o seu caráter 
anárquico, ou seja, a ausência de uma autoridade soberana acima dos Estados 
com legitimidade para assegurar a ordem nele. Essa combinação entre a 
dimensão interestatal, que é o objeto central da política internacional, e a 
transnacional, que inclui outros atores, determina a dificuldade em se 
determinarem as RI como uma ciência ou disciplina autônoma das demais áreas 
de conhecimento como a História, o Direito e a Economia. 
Podemos afirmar que a definição mais aceita de política internacional é a 
de um sistema no qual os Estados exercem relações sem uma autoridade superior 
a eles que administra esses relacionamentos, o que passou a ser aceito a partir 
do Sistema de Paz de Westfália, firmado após a conclusão da Guerra dos Trinta 
Anos na Europa. Essa disciplina estuda, então, acontecimentos internacionais 
históricos que acontecem para além das fronteiras dos Estados e possuem 
impacto sobre as decisões nacionais. Entre os temas englobados, podemos citar 
 
 
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a segurança dos Estados, a economia política internacional, os fenômenos de 
guerra e paz e crises, assim como as relações diplomáticas. 
A primeira cátedra da disciplina de Política Internacional foi criada em 1919, 
na Universidade de Gales, em Aberystwyth, denominada Cátedra Woodrow 
Wilson; na sequência, outras também foram formadas na Inglaterra e nos Estados 
Unidos. Isso demonstra o surgimento da disciplina de Relações Internacionais no 
período entre guerras, que ganhou autonomia em relação às outras. 
Para os autores realistas, como Raymond Aron, a política internacional foca 
a busca para alcançar o poder, o que garante a sobrevivência dos Estados, 
configurando um sistema internacional conflituoso, pois há uma luta constante 
entre os Estados para defender interesses estatais. A característica específica 
dessa política é a possibilidade de se recorrer ao uso da força militar e bélica. Já 
para os teóricos liberais, a política internacional é ordenada por instituições 
internacionais que induzem os Estados a cooperarem e a limitarem seus 
comportamentos egoístas. 
Para os estudiosos das Relações Internacionais, é fundamental levar em 
conta a concepção de nível de análise, o qual define o foco da investigação, ou 
seja, em que direção o analista deve olhar para explicar a realidade internacional. 
São quatro os níveis de análise das RI (Sarfati, 2005): 
i. o individual, com ênfase sobre a natureza humana do indivíduo (boa ou má) 
para analisar os comportamentos estatais; 
ii. o societal, que se atém sobre os grupos de interesse para explicar um 
acontecimento; 
iii. o estatal, que se centra no comportamento do Estado para investigar as RI 
ou supraestatal, quando há atores supranacionais como a União Europeia; 
iv. o da estrutura internacional, com foco sobre as características do sistema 
internacional, conflituoso ou pacífico. 
Portanto, dependendo do nível de análise adotado, a explicação para o 
fenômeno da política internacional será diferente. Assim, cada teoria de RI possui 
as próprias ontologias, epistemologias e metodologias, o que auxilia os 
pesquisadores em seu trabalho de inferência sobre a realidade internacional. 
Importante ressaltar que as teorias servem para fornecer ao analista de Relações 
Internacionais ferramentas teóricas e metodológicas com vistas a explicar os 
fenômenos da política internacional que são vários, como a guerra, a paz e a 
cooperação. 
 
 
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TEMA 2 – O LIBERALISMO E A POLÍTICA INTERNACIONAL 
O paradigma liberal é uma das correntes dominantes na Teoria das 
Relações Internacionais. Essa perspectiva explica vários fenômenos das RI e se 
tornou uma base central para a análise da política internacional e da organização 
da economia e da sociedade. 
A premissa surgiu no princípio da Idade Moderna, após o fim do Iluminismo, 
e assinalava que os indivíduos, baseados na razão, conduzem as próprias vidas, 
sem a intervenção de terceiros como o Estado. Dessa forma, na economia, esse 
paradigma defende a não interferência do Estado na economia, considerando 
uma suposta lei natural do equilíbrio entre oferta e demanda de bens, o que 
impediria as crises econômicas. 
O liberalismo clássico surgiu como teoria das Relações Internacionais após 
a Primeira Guerra Mundial, quando floresceu um cenário de crença nas 
instituições e na racionalidade dos atores. A teoria liberal se consolidou com um 
discurso do presidente norte-americano Woodrow Wilson ao Congresso, inspirado 
nas ideias da “Paz Perpétua” de Kant, e se alicerçava na necessidade e na crença 
de que uma Segunda Guerra Mundial poderia ser evitada. 
Woodrow Wilson propôs a ruptura com os princípios que estabeleciam as 
relações entre os Estados europeus. Segundo ele, os princípios que deveriam 
prevalecer eram a autodeterminação dos povos (estabilidade do sistema) e a 
segurança coletiva, que previa uma reação automática e conjunta dos Estados 
em caso de surgimento de uma ameaça à paz internacional. 
O discurso de Wilson ao congresso norte-americano forneceu as bases 
para o pensamento liberal, e o pensador apresentou o que considerava os 14 
pontos que assegurariam a paz. O último deles preconizava a criação de uma 
associação geral de nações, de acordo com convenções específicas, com objetivo 
de oferecer garantias mútuas de independência política e de integridade territorial 
aos grandes e pequenos Estados. Esse argumento deu suporte à criação da Liga 
das Nações, fundada em 1919 pelo Tratado de Versalhes. Nessa organização, o 
sistema de segurança coletiva tomaria o do balanço de poder, em que os Estados 
se ameaçam constantemente realizando acordos para expandir suas alianças e 
equilibrar poder, impedindo o surgimento de uma potência mais poderosa que as 
demais (Nogueira; Messari, 2005). 
 
 
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Com a criação da Liga ou Sociedade das Nações, a concepção 
universalista manifestada pelo ex-presidente Woodrow apresentou resultados 
concretos. Porém, havia pontos controversos, como o de que a Carta da Liga das 
Nações não demonstrava a igualdade entre todos. Ademais, considera-se que a 
Liga fracassou, pois sua existência não evitou o conflito (a Segunda Guerra 
Mundial) e a corrida armamentista entre as potências. Argumenta-se que o que 
levou ao seu insucesso foi que os países só cumpriam os tratados à risca quando 
consideravam mais benéficos para si e o fato de os Estados Unidos, os 
idealizadores da Liga, não terem aderido à Sociedade das Nações. O sistema 
também não foi universal: 63 países fizeram parte, e17 deixaram a organização. 
A decisão de punir com o uso da força, em caso de ameaça à paz, que seria 
interpretada pelo Conselho de Segurança, nunca foi utilizada. Durante sua 
existência, o mecanismo de balanço do poder reinou, pois foi o momento em que 
mais estabeleceram-se pactos bilaterais e concretos entre Estados (Nogueira; 
Messari, 2005). 
Mesmo com o fracasso da Liga e seu encerramento em 1939 com a eclosão 
da Segunda Guerra Mundial, ela deu as bases para a ideia de organização 
universal voltada à paz e foi o embrião da criação da Organização das Nações 
Unidas (ONU), em 1945. Com o insucesso da Liga, o pensamento liberal 
demonstrou sinais de desgaste e gradativamente foi sendo substituído pelo 
paradigma realista, durante a Guerra Fria (Sarfati, 2005). 
Pode-se observar que o liberalismo prevê uma política internacional 
baseada na cooperação entre os Estados, na autoajuda, na força das instituições 
e das regras para garantia da ordem e da prevalência da cooperação. Preconiza 
também uma atuação limitada do Estado na economia, que não deve impedir o 
funcionamento normal dele. 
TEMA 3 – O REALISMO E A POLÍTICA INTERNACIONAL 
A teoria realista das Relações Internacionais surgiu após a Segunda Guerra 
Mundial com o objetivo de entender o processo de guerras constantes entre os 
Estados. Existem diferenças entre os autores da escola, porém o realismo 
clássico apresenta algumas concepções gerais, como a ideia de o Estado definir 
seus interesses em termos de poder, do Estado como o único ator das RI e da 
inexistência de preceitos morais nas relações entre Estados. 
 
 
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Essa teoria preconiza também a política internacional como belicosa e com 
uma tendência constante à guerra, ou seja, a ausência da paz e a existência de 
um processo de equilíbrio de poder que evita processos contínuos de guerra. 
Nesse sentido, os Estados estariam sempre defendendo seus interesses 
nacionais e buscando sua sobrevivência, o que levaria a um conflito constante. 
Os autores realistas surgem baseados em seu posicionamento científico, 
com o objetivo de mostrar a política internacional como ela realmente é, e não 
como deveria ser, como faz a teoria liberal. Para Edward Hallett Carr (2001), que 
fundou a disciplina, nenhuma utopia política alcançará êxito, desde que seja 
resultado da realidade política. 
Os autores clássicos, como Hobbes e Maquiavel, forneceram elementos 
teóricos importantes para se pensar a ideia de luta pelo poder. Ambos acreditavam 
que a natureza humana é egoísta e que por isso os Estados agem fundamentados 
em cálculos de custo-benefício. Carr apresentou importante crítica ao pensamento 
liberal, considerado ingênuo por ele e distante da realidade, pois na política 
internacional reinam a anarquia e o conflito, e a cooperação é autointeressada e 
não baseada na racionalidade ou nos valores morais dos Estados. Carr contribuiu 
para a construção teórica do realismo, a partir da elaboração de seu livro, Vinte 
anos de crise: 1919-1939. O autor apresentou uma crítica profunda ao 
pensamento teórico anterior, o liberal, desenvolvendo, juntamente com 
Morgenthau, uma nova forma de compreender a política internacional. 
Morgenthau (2003) concebeu os seis princípios que embasaram o 
pensamento realista, ao passo que Aron defendeu que o conflito é uma constante 
na política internacional, devido à anarquia, ou seja, em função da ausência de 
uma autoridade superior aos Estados que posa organizar o sistema internacional. 
Os seis princípios são: 1) a ação do Estado deve analisada pelos atos políticos e 
impactos no sistema; 2) o interesse deve ser compreendido em termos de poder; 
3) o interesse definido em termos de poder é uma categoria universalmente válida, 
mas não tem significado permanente; 4) há uma tensão entre os valores morais e 
a necessidade de uma ação política efetiva; 5) os valores morais de um Estado 
não devem ser definidos como padrões morais universais; e 6) existe uma 
diferença entre o realismo político e as demais escolas de RI. 
Carr (2001, p. 33) indicou os erros da visão baseada na universalidade dos 
valores, em uma lei moral natural e na criação de uma autoridade superior aos 
Estados para administrar as RI. Segundo o autor, a Liga das Nações representou 
 
 
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os equívocos do pensamento liberal, pois foi a primeira tentativa de padronizar os 
problemas internacionais pelo prisma da racionalidade, e ela falhou nessa tarefa 
(Carr, 2001, p. 40). O mecanismo de segurança coletiva, no qual se sustentava a 
organização, fracassou, o que foi comprovado pelo número crescente de acordos 
bilaterais. Portanto, Carr (2001, p. 44) constatou que o desenrolar dos fatos 
demonstrou o fim da Liga como instrumento de estabilização e ordem política. 
Carr (2001) finaliza sua obra apontando que era preciso rejeitar a visão de 
embasar a moral internacional em uma harmonia de interesses, que é irreal. A 
adoção desse paradigma só foi possível no século XIX pela prosperidade 
econômica. Contudo, na prática, constatava-se apenas uma harmonia de 
interesses entre os Estados aptos. 
TEMA 4 – INTERDEPENDÊNCIA COMPLEXA E A POLÍTICA INTERNACIONAL 
Os autores da interdependência complexa argumentam que as relações 
entre os Estados são marcadas pela dependência mútua assimétrica entre as 
partes. O uso correto da interdependência revela-se para essa perspectiva como 
um dos principais recursos de poder dos atores estatais e não estatais, como as 
Organizações Não Governamentais e as empresas transnacionais, o que seria 
fundamental para entender a política internacional. 
Keohane e Nye (2001) defendem que o papel do Estado seria gerir as 
relações entre os seres humanos para assegurar maior quantidade de trocas e 
cooperação, a partir do estabelecimento de regras. Os autores assinalam que a 
anarquia está presente no cenário internacional, porém argumentam sobre a 
possibilidade do progresso e da paz por meio do comércio livre e da democracia. 
Para eles, a guerra não ocorreria em um contexto de comércio justo que 
permitisse contatos entre as culturas (Keohane; Nye, 2001). 
Os autores buscam compreender o papel exercido pelas instituições 
internacionais como facilitadoras da cooperação entre os Estados. A 
interdependência complexa envolve episódios com efeitos recíprocos entre 
Estados e demais atores não estatais, que são produtos das trocas internacionais, 
de pessoas, serviços, bens e capital. Keohane e Nye (2001) determinam que 
existe interdependência quando há custos e restrições significativos que são 
resultados das trocas entre países, mesmo que sejam assimétricos. Essa 
interdependência promove uma redução do poder do Estado, que não significa 
 
 
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que irá desaparecer, mas que seu poder e autonomia foram limitados pelo 
surgimento de novos atores poderosos. 
A respeito da concepção de poder para a teoria da interdependência 
complexa, esta é diferenciada em relação às teorias tradicionais que o 
relacionavam à força militar. Contudo, para Keohane e Nye (2001), os meios que 
geram as capacidades de poder estão mais complexos, o que exige uma revisão 
no conceito de poder. Para tanto, promovem uma distinção entre duas formas de 
poder: i) o poder dos meios, que é a capacidade de um ator levar os demais à 
realizar algo que eles não fariam; e ii) o poder dos resultados, que representa o 
controle do ator sobre os resultados. Portanto, apesar da dificuldade de calcular e 
medir o poder, este é entendimento para a teoria da interpendência complexa 
como o controle dos meios e o potencial para influenciar os resultados. 
Keohane e Nye (2001) desenvolvem um modelo para a construção de um 
tipo ideal de política, baseado na concepção de interdependência complexa. Para 
os autores, o cenário que melhor explicaria a realidade internacional apresenta as 
seguintes características: o Estado não é o único ator das RI; não existe uma 
hierarquia entre os temas;e a força não é um instrumento eficaz para atingir 
objetivos. 
Esse modelo possui três condições, entendidas como os fundamentos da 
interdependência. A primeira é a existência de canais múltiplos que vinculam as 
sociedades, podendo ser interestaduais, transgovernamentais e transnacionais; a 
segunda relaciona-se à agenda das relações interestaduais, formada por 
inúmeros temas, e não apenas a questão militar como prioridade, sem uma 
hierarquia entre as temáticas; e a terceira é que a força militar não é adotada pelos 
governos quando a interdependência predomina. 
TEMA 5 – TEORIA NEORREALISTA E A POLÍTICA INTERNACIONAL 
O fundador da teoria neorrealista foi Kenneth Waltz, em seu livro Theory of 
International Politics. O neorrealismo foi elaborado com vistas a superar as 
limitações do realismo e também do neoliberalismo. O momento da Guerra Fria 
presenciou o aparecimento de novas correntes teóricas, que buscavam explicar o 
contexto do período, como o neorrealismo 
Entre 1945 e 1989, houve muitos momentos de tensão entre as duas 
potências – a então União Soviética e os Estados Unidos –, com testes nucleares 
e ameaças constantes. Esses acontecimentos fizeram Waltz (2002) pensar em 
 
 
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sua teoria, que tem como base a concepção de anarquia no sistema internacional. 
De acordo com ele, as relações internacionais são compostas por partículas de 
governos e mescladas por partes de comunidade que agem em um sistema 
anárquico (Waltz, 2002, p. 75). 
Sua obra consolidou o pressuposto do realismo sobre a centralidade do 
Estado como ator das RI e da busca pela sobrevivência do Estado na agenda 
internacional. Waltz (2002) também rebateu as críticas proferidas por Keohane e 
Nye em sua obra Poder e Interdependência. Ele parte da ideia de que é 
necessário concentrar a análise no nível do sistema, e não no comportamento dos 
Estados, como fazia a teoria realista. 
Segundo Waltz (2002), não se entende a política internacional analisando 
os atributos (capacidades militares e econômicas do Estado); deve-se focar em 
como as interações entre Estados no sistema impacta as ações de cada um. 
Assim, não devemos apenas analisar as políticas domésticas ou externas de cada 
Estado, mas como o sistema internacional exerce influência sobre elas (Pereira, 
2016). 
Para essa teoria, a política internacional não é entendida como um 
somatório dos comportamentos e políticas externas e internas dos Estados. Os 
aspectos domésticos, conforme assinala Waltz (2002), não explicam o sistema 
internacional, e visualizá-lo com base nesses aspectos provoca generalizações 
que são inválidas e simplistas. 
Portanto, as características de cada unidade não são relevantes para 
explicar a política internacional, porque o que leva os Estados a agirem são as 
posições das unidades umas em relação às outras no sistema. Importante 
destacar que a estrutura só se altera quando há mudanças significativas nas 
posições de cada Estado, cujos comportamentos são determinados pela 
estrutura. Segundo salienta Waltz (2002, p. 116), “o conceito de estrutura baseia-
se no fato de as unidades justapostas e combinadas de maneira diferente 
produzirem diferentes resultados”. 
A concepção de estrutura é entendida sob três princípios: i) princípio 
ordenador sistêmico, que é a ideia da anarquia como algo determinante; ii) as 
especificações das funções das unidades; e iii) a distribuição das capacidades 
relativas. Sobre o segundo aspecto, há uma diferença entre os Estados, pois a 
hierarquia gera relações de superioridade e subordinação. Desse modo, a 
distinção entre os Estados não se relaciona às suas funções, que são sempre as 
 
 
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mesmas, porque a anarquia induz à coordenação entre as unidades, o que resulta 
em uma semelhança em termos de função. 
Waltz (2002) reconhece que existem outros atores além do Estado, mas 
estes são os mais importantes, que compõem a estrutura. Essa estrutura é 
determinada pelos Estados com mais influência, devido às diferentes distribuições 
de poder no sistema internacional. Como as funções são as mesmas, as 
diferenças entre eles emergem, sobretudo, das capacidades variadas, ou seja, da 
distribuição de capacidades relativas. Assim, a comparação das capacidades de 
um número de unidades possibilita a mensuração do poder, pois o poder 
representa uma comparação das capacidades das unidades, e os Estados são 
posicionados de modo diferente na estrutura conforme o poder que possuem 
(Silva; Culpi, 2017). 
Portanto, a configuração do sistema internacional impacta as interações 
entre os Estados e seus atributos. A autonomia de cada Estado e a relação de 
determinação mútua entre eles criam uma estrutura na qual os resultados podem 
ser Estados que se limitam uns aos outros. Portanto, o conceito de estrutura 
permite a previsão dos efeitos sobre a organização dos sistemas de Estados e o 
modo como as estruturas e as unidades interagem (Silva; Culpi, 2017). 
Podemos intuir que, para investigar a ideia de estrutura, Waltz criou o 
princípio que orienta a disposição dos atores estatais. A disposição se modifica 
quando ocorrem alterações nas capacidades relativas dos Estados. As 
capacidades relativas são, segundo Waltz, os recursos militares e econômicos 
que cada Estado possui (Pereira, 2016). 
FINALIZANDO 
Nesta aula foi possível aprofundar o conhecimento sobre as definições a 
respeito da política internacional, bem como os atores e os níveis de análise a ela 
relacionados. Na sequência, verificamos como cada teoria interpreta a política 
internacional e, por fim, apresentamos as teorias liberal, realista, da 
interdependência complexa e neorrealista, focando em como entendem a lógica 
de poder entre os Estados. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
ARON, R. Paz e guerra entre as nações. São Paulo: Funag, 2002. 
CARR, E. Vinte anos de crise (1919-1939). São Paulo: Funag, 2001. 
KEOHANE, R. O.; NYE, J. S. Power and Interdependence. New York: Longman, 
2001. 
MORGENTHAU, H. J. A Política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. 
Brasília: UnB, 2003 
NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais: correntes 
e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 
PEREIRA, A. E. Teoria das Relações Internacionais. Curitiba: Editora 
Intersaberes, 2016. 
SARFATI, G. Teorias de Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005. 
SILVA, C. C. V.; CULPI, L. A. Teoria de Relações Internacionais: origens e 
desenvolvimento. Curitiba: Editora Intersaberes, 2017. 
WALTZ, K. Teoria das Relações Internacionais. Edição portuguesa. Portugal: 
Gradiva, 2002. 
 
 
AULA 2 
POLÍTICA INTERNACIONAL 
MODERNA E 
CONTEMPORÂNEA 
Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 
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INTRODUÇÃO 
Nesta aula, iremos estudar o começo da política internacional moderna, 
com o fim do período medieval, marcado pelo feudalismo. Abordaremos os 
aspectos históricos do início da Idade Moderna, destacando elementos sociais, 
religiosos, econômicos, políticos e culturais. 
Na segunda parte da aula, conheceremos as características do período 
mercantilista e da era dos descobrimentos e das grandes navegações. 
Entenderemos os elementos que permitiram a constituição dos Tratado de Paz de 
Westfália e depois verificaremos o conceito de ciclos hegemônicos, de Giovanni 
Arrighi, que explica o processo de transição de poder ao longo dos diversos 
períodos da política internacional. 
Para finalizar, vamos comparar os ciclos hegemônicos genovês e holandês 
em seus aspectos econômicos e políticos. 
TEMA 1 – INÍCIO DA IDADE MODERNA – ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS, 
POLÍTICOS E CULTURAIS 
A Idade Moderna é vista como uma oposição à Idade Média, considerada 
como uma Idade das Trevas, em que imperavam os feudos e o domínio cristão-
católico. Durante a Idade Média, havia pouco desenvolvimento do capitalismo, e 
o poder político e econômico estava concentrado nas mãos da Igreja. A Idade
Moderna surgiu como o momento de retomar aperspectiva de vida da Antiguidade 
greco-romana, tida como o auge cultural da humanidade. 
Foi durante a Idade Moderna que os europeus realizaram as grandes 
navegações e a expansão marítima, com transformações significativas na 
estrutura política e social e criando as condições para a dominação de continentes 
inteiros, como a África e a América. O poderio sobre essas regiões garantiu 
riquezas às classes dominantes europeias, estabelecendo as bases para que 
pudessem consolidar a forma de organização social e econômica para o resto do 
mundo. 
A expansão da forma de organização social se baseou no avanço do 
capitalismo, a partir da ideia de acumulação que era conquistada nesse momento 
por meio do comércio internacional. Ocorreu a mudança de uma produção 
material e agrária para outra, material mercantil e industrial, que fez crescer a 
 
 
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classe burguesa, que explorava o proletariado urbano. A primeira Revolução 
Industrial que teve início na Inglaterra se iniciou na Idade Moderna. 
Na questão cultural, a Idade Moderna foi marcada por uma produção muito 
rica, com o Renascimento nos séculos XV e XVI, e a retomada da herança greco-
romana, além do pensamento iluminista do século XVIII. Esses momentos 
apresentaram transformações filosóficas, científicas e políticas de se entender o 
mundo. Na religião, ocorreu a Reforma Protestante, empreendida por Martinho 
Lutero no século XVI e que modificou o mundo cristão ocidental. Vale lembrar que 
o progresso do capitalismo foi possível graças ao protestantismo que, 
diferentemente da religião católica, via com bons olhos – e não como pecado – o 
enriquecimento pessoal. 
Em termos políticos, a Idade Moderna foi caracterizada pela instituição dos 
Estados nacionais na Europa. Nesse momento, apareceram as monarquias 
nacionais, formando estruturas políticas e administrativas centralizadas, em 
contraste à descentralização política na Idade Média. Essa estrutura político-
administrativa permitiu o fortalecimento do capitalismo e do poder político da 
burguesia, que superou a nobreza aristocrática. O fim do predomínio da nobreza 
ficou evidente na Revolução Francesa, quando o Estado representativo burguês 
foi estabelecido, finalizando a Idade Moderna e dando lugar à Idade 
Contemporânea. 
TEMA 2 – O MERCANTILISMO E A ERA DOS DESCOBRIMENTOS 
Após o fim do feudalismo, surgiu a considerada primeira escola do 
pensamento econômico, o mercantilismo, que previa uma intervenção forte do 
Estado na economia, pois este deveria protegê-la e conduzir as atividades 
econômicas, mediante a prática do nacionalismo econômico. A riqueza deixou de 
ser vista como um pecado e passou a ser o objetivo do Estado. 
Para conseguir essa riqueza, o Estado deveria recorrer ao comércio 
internacional, garantindo uma balança comercial favorável, isto é, que o país 
exportasse mais do que importasse, o que permitiria uma entrada grande de 
metais preciosos. O que era considerado riqueza e tinha valor nesse momento era 
o metalismo, ou seja, o acúmulo de metais, o que motivou a busca por ouro e 
prata nas Américas e as grandes navegações. 
Com vistas a assegurar a balança comercial favorável, o Estado passou a 
taxar as importações, o que foi uma das primeiras medidas econômicas do Estado 
 
 
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moderno, a qual era uma política protecionista e visava também arrecadar 
recursos para o governo. O Estado também provocou uma redução das taxas de 
juro, que incentivavam a produção e o comércio, o que fez posteriormente surgir 
a indústria, gerando aumento do emprego e crescimento econômico das nações. 
O mercantilismo, mediante o envolvimento do Estado na economia, na 
figura dos reis, fortaleceu as monarquias, ocasionou o deslocamento da atividade 
econômica do Mediterrâneo para o Oceano Atlântico, uma ampliação do 
comércio, e permitiu o progresso científico e tecnológico. Esse sistema entrou em 
colapso com a libertação das colônias e o desenvolvimento intenso da indústria, 
a partir da Revolução Industrial, que deu origem ao capitalismo industrial 
conhecido por nós. 
Outro fenômeno importante que favoreceu a expansão do capitalismo na 
época foi o surgimento dos bancos já nas cidades-Estado italianas no século XIII. 
Eles permitiram tal expansão a partir da possibilidade de emprestar dinheiro a 
juros, o que foi criado pelos judeus pois estes podiam emprestar a juros aos 
católicos. Com os bancos, o Estado passou a exercer uma função de controlar as 
atividades de emissão da moeda, dos juros, do câmbio, exercendo as chamadas 
políticas monetária e fiscal. 
Em relação ao período dos descobrimentos e das grandes navegações, 
podemos afirmar que existiam vários fatores que propiciaram a expansão 
marítima e que 
[...] os impulsos fundamentais por trás do que se conhece como a “Era 
dos Descobrimentos” sem dúvida surgiram de uma mistura de fatores 
religiosos, econômicos, estratégicos e políticos, é claro que nem sempre 
dosados nas mesmas proporções [...]. (Boxer, 2002, p. 33) 
Importante lembrar que os portugueses foram os primeiros a se aventurar 
pelo Oceano Atlântico, movidos por interesses econômicos e políticos, sobretudo 
de busca de especiarias e enriquecimento, e também religiosos, que garantiriam 
a expansão da força da Igreja Católica. 
Nesse sentido, os europeus criaram uma tecnologia de navegação eficaz, 
que assegurou a realização de grandes expedições para o Novo Mundo. Isso 
favoreceu a realização de uma série de objetivos políticos, econômicos e 
religiosos mediante a conquista dessas novas terras fora da Europa (Koshiba; 
Pereira, 1996). 
 
 
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TEMA 3 – SISTEMA DE PAZ DE WESTFÁLIA, ESTADO NACIONAL E O 
PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO EUROPEU 
Para compreender as formas mais antigas e as contemporâneas de 
dominação, é importante entender o que é o Estado e como ele se origina. A esse 
respeito, Motta (1988, p. 16) comenta, baseado em Weber (1999), que: “O Estado 
forma-se mediante a dominação de uma sociedade por outra ou por uma parte de 
uma sociedade sobre os seus demais membros, a saber, a sociedade civil”. 
Assim, de acordo com o pensamento weberiano, o Estado se sustenta na 
dominação, que pode ocorrer por consentimento ou por coerção, ou seja, por uso 
da força e violência (Weber, 1999). 
Os Estados nacionais surgiram primeiramente com as cidades-Estado 
italianas, como Florença, Gênova e Veneza, e detinham monopólio de poder para 
garantir o comércio, imprimir moeda e recolher impostos a fim de financiar as 
guerras. Porém, o conceito clássico de Estado-nação apareceu em 1648, com a 
assinatura do Tratado de Westfália, o qual determina que um Estado, para ser 
considerado como tal, deve ter os seguintes atributos: território, população e 
governo (soberania). Os Estados modernos, no formato como conhecemos, que 
concentram poder na figura de um monarca, surgiram mais tarde, na França e na 
Inglaterra, no contexto das monarquias absolutistas, com a emancipação do 
mercantilismo e das grandes navegações. 
Após o fim da Guerra dos Trinta Anos, foram assinados 11 tratados que 
formalizaram a conhecida Paz de Westfália. A sociedade política medieval passou 
por uma derrocada, dando lugar ao Estado westfaliano, detentor das seguintes 
características: território, população e governo. Esse declínio da organização 
medieval representava que os Estados não estariam mais sujeitos ao poder do 
Imperador Fernando II e do papa, e passariam a ser vistos como uma autoridade 
suprema e soberana, isto é, sem um poder acima deles. 
Assim, o Estado que emergiu do Tratado de Westfália pode ser entendido 
definido como “a sociedade soberana, surgida com a ordenação jurídica cuja 
finalidade é regular globalmente a vida social de determinado povo, fixo em dado 
território e sob um poder” (Azambuja, 1971, p. 6). Os tratados da paz 
caracterizaram a documentação da existência de um Estado definido por uma 
unidade territorial, dotada de um poder soberano, umterritório e um povo. Em 
suma, pode-se definir o Estado como “uma organização política-jurídica de uma 
 
 
6 
sociedade para realizar o bem público, com governo próprio e território 
determinado” (Azambuja, 1971, p. 7). 
De acordo com Magnoli (2004), a Europa pós-medieval criou o Estado 
moderno, baseado em monarquias absolutas, em função da centralização do 
poder medieval. Isso possibilitou a organização da burocracia estatal pela 
instituição da cobrança de impostos, definição de fronteiras, formação de um 
corpo de funcionários burocráticos e do exército, permitindo a construção da 
concepção de soberania territorial. Desse modo, o poder dos monarcas 
gradativamente se emancipou da autoridade político-religiosa e passou a se 
concentrar na figura do rei e em seu governo. O rei assumiu a autoridade suprema 
acima de toda a população do país e não precisava mais agir por intermédio de 
terceiros. Essa transformação política fundamental marcou o advento da Era 
Moderna. 
Após o Congresso de Viena (1815), surgiu uma tentativa de restabelecer o 
regime que vigorava anteriormente e impedir o avanço do regime liberal 
internacional, que acabou incentivando ainda mais as independências na América 
Latina e o combate à colonização. Nesse sentido, houve a derrota definitiva do 
absolutismo e os resquícios medievais que permaneceram durante a Idade 
Moderna, como os direitos e privilégios da nobreza (Chinaglia; Viana, 2016). 
Ocorreu também a redefinição das fronteiras políticas da Europa, 
modificando o equilíbrio do poder e criando uma disputa pela hegemonia mundial, 
envolvendo, em um primeiro momento, as guerras anglo-holandesas e, depois, 
prolongando-se até o período napoleônico, com a disputa entre Inglaterra e 
França pela liderança europeia (Chinaglia; Viana, 2016). 
Observa-se nesse período o acirramento do debate religioso entre 
protestantes e católicos, com o reconhecimento do calvinismo. Dessa forma, o 
sistema de Westfália permitiu o surgimento de novas potências e fez crescer as 
rivalidades que geraram instabilidades constantes entre os Estados europeus, 
culminando nas guerras napoleônicas e na Primeira e Segunda Guerras Mundiais 
(Chinaglia; Viana, 2016). 
TEMA 4 – OS CICLOS HEGEMÔNICOS 
O conceito mais central da teoria de Arrighi é o de ciclos sistêmicos de 
acumulação. Ele se refere à concentração de poder em uma potência 
hegemônica, que alterna períodos de expansão material, isto é, de crescimento 
 
 
7 
produtivo e comercial, com momentos de ascensão financeira. Essa definição tem 
o objetivo de compreender como os regimes hegemônicos aparecem, se 
consolidam e depois desaparecem (Nogueira; Messari, 2005). 
O conceito de hegemonia de Gramsci é adaptado por Cox (1981) ao 
cenário internacional. O autor entende as características da hegemonia 
gramsciana, destacando que o conceito diz respeito à capacidade de as classes 
dominantes condicionarem o comportamento das dominadas. Nesse sentido, são 
duas as formas de manifestação da supremacia de um grupo social: a dominação 
e a liderança moral e intelectual. Dessa forma, entende a hegemonia com base 
na ideia de consentimento espontâneo das massas populares à direção dada à 
vida social pelo grupo dominante no âmbito internacional. 
A hegemonia pode ser definida, de acordo com Gramsci (1999), como uma 
combinação entre consenso (convencimento) e coerção (possibilidade de uso da 
força), o que leva o detentor desses dois elementos a ter uma posição privilegiada 
em relação aos demais. A hegemonia é uma relação na qual as potências 
assumem papel dirigente com base em uma combinação de recursos materiais, 
ideias e instituições que convençam os demais Estados das vantagens daquela 
ordem para o conjunto do sistema. 
De acordo com Arrighi (1996, p. 5), as crises hegemônicas possuem três 
características que se inter-relacionam: “intensificação da concorrência 
interestatal e interempresarial; a expansão dos conflitos sociais e o surgimento de 
novas configurações de poder”. Ele enfatiza que todos os processos de crise 
hegemônica, em que houve transição de poder entre líderes hegemônicos, foram 
marcados por um crescimento financeiro que levou à crise terminal da hegemonia 
(Arrighi, 1996). 
Portanto, o pensamento desse autor foca as relações entre os Estados, 
calcadas “não somente na dominação e no controle, mas na liderança, e na 
investigação da construção da hegemonia a partir de ciclos de acumulação 
capitalista” (Arrighi, 1996, p. 9). 
Arrighi (1996) assinala que as trocas de hegemonia acontecem de modo 
paralelo aos ciclos de expansão e crise econômica. Esses ciclos estão vinculados 
aos seguintes elementos: comércio, produção e tecnologia e capital financeiro. 
Por fim, o autor defende que os momentos de transições de hegemonia implicam 
uma reorganização e a alteração do sistema, que é adequado aos interesses da 
nova potência hegemônica (Arrighi, 1996). 
 
 
8 
Arrighi (1996, p. 6) aponta a existência de quatro ciclos sistêmicos de 
acumulação, quais sejam: 
o ciclo genovês, do século XV ao início do século XVII; ii) o ciclo 
holandês, do fim do século XVI até a maior parte do século XVIII; iii) o 
ciclo britânico, da segunda metade do século XVIII até o início do século 
XX; e iv) o ciclo norte-americano, iniciado no fim do século XIX e que 
prossegue na atual fase de expansão financeira do capitalismo. 
Na sequência, estudaremos os dois ciclos de concentração de poder nas 
mãos de uma hegemonia: o italiano, com ênfase em Gênova, e o holandês. 
TEMA 5 – OS CICLOS HEGEMÔNICOS GENOVÊS E HOLANDÊS 
Nos séculos XIII e XIV, a Península Itálica passou por um período de 
expansão de seu domínio comercial em função do controle das rotas de comércio 
asiáticas. Durante esse tempo, as quatro grandes cidades italianas – Florença, 
Gênova, Milão e Veneza – consolidaram uma relação de cooperação comercial, 
baseada em uma divisão das atividades comerciais e industriais entre si. Porém, 
a expansão financeira que ocorreu após a fase comercial não foi igual em todas 
as cidades. Arrighi (1996) identificou o primeiro ciclo sistêmico de destaque, o 
genovês (italiano), que se deu no período da Idade Média e foi diferenciado do 
cenário político da época por sua capacidade de flexibilização. 
Para Arrighi (1996), nas fases finais do estágio de expansão do comércio 
houve a tendência de se desenvolver uma série de acordos entre centros de 
acumulação, dado que a divisão do trabalho criava uma interdependência entre 
os atores. 
Arrighi (1996) estuda a origem do sistema financeiro, atribuindo a Florença 
e às guerras estatais a responsabilidade por sua criação. Isso ocorreu porque os 
judeus passaram a fazer empréstimos a juros e superaram a limitação imposta 
pelos dogmas católicos, criando os bancos como os conhecemos hoje. 
O autor apresentou o ciclo genovês, o qual foi possível pois os genoveses 
se aproveitaram da expansão comercial do começo ao fim. Ao contrário do 
capitalismo das demais cidades-Estado italianas que desenvolveram formas 
rígidas de acumulação, o capitalismo genovês criou modelos mais flexíveis, por 
meio de uma associação entre a classe mercantil e a aristocracia rural. Essa 
flexibilização garantiu a atividade bancária. O aproveitamento das altas finanças, 
originalmente uma invenção florentina, garantiu a Gênova a manutenção de 
capital excedente em estado de elevada liquidez. 
 
 
9 
Um fator relevante que permitiu a consolidação genovesa foi a criação de 
uma moeda boa, que fosse estável, e uma abundância de sistema de 
pagamentos. A crise de hiperacumulação de moeda, causada pelo fechamento 
de rotas comerciais, foi um dos motivos que levaram à redução da prevalência 
genovesa. A expansão materialista genovesa foi realizada por um agente 
dicotômico – um componente aristocrático territorialista (ibérico) que se 
especializou no fornecimento de proteção e na busca de poder – e pelaburguesia 
capitalista (genovesa), que se dedicou à compra e venda de mercadorias e à 
busca de lucro. Ambos se fortaleceram mutuamente ao desempenhar seus 
objetivos. Dessa forma, a saída da crise genovesa foi a vinculação de 
territorialistas, no caso a Espanha, com a burguesia mercantil (Lobato; Amin, 
2015). 
Para Arrighi (1996), a expansão holandesa se deu devido a uma estratégia 
de conciliação de interesses de acumulação com os interesses territorialistas da 
Casa de Orange que deram origem às Províncias Unidas. 
A classe mercantil holandesa se aproveitou do comércio báltico para 
adquirir capital excedente, o qual era rapidamente convertido em fontes de renda. 
Os holandeses combinaram a autogestão do Estado com o intercâmbio político 
com governos estrangeiros. Uma das estratégias era transformar Amsterdã no 
centro do comércio europeu e do mundo e no mercado central de moeda da 
economia mundial. Além disso, criaram companhias de comércio que foram 
beneficiárias dos elementos anteriores. 
De acordo com Arrighi (1996), a razão do declínio da força comercial 
holandesa foi o mercantilismo industrial, o que acirrou a competição entre as 
nações territorialistas. Assim, a Holanda deixou o comércio para se dedicar às 
finanças, especialmente focando explorar a competição pelo capital circulante que 
as lutas interestatais geravam. Amsterdã foi substituído por Londres como 
entreposto de mercadorias e finanças. Segundo o autor, o ciclo de acumulação 
inglês só poderia ter sucesso se internalizasse as técnicas capitalistas de poder. 
Ele destaca que o divisor de águas entre a perda da hegemonia genovesa no 
setor das altas finanças e a ascensão holandesa foi a guerra de independência 
holandesa, da qual a Espanha Imperial saiu enfraquecida (Arrighi, 1996). 
A principal diferença entre o ciclo genovês e o holandês é que este último 
internalizou os custos de proteção. Em comparação, o sucesso do ciclo veneziano 
se assentava na intervenção do Estado, já o genovês se apoiava no capital. 
 
 
10 
O ciclo genovês controlava as redes de comércio, que se constituíam 
sólidas, por meio do vínculo a redes interestatais com o governo ibérico, as quais 
seus rivais venezianos não possuíam. O fator que permitiu o sucesso genovês, 
segundo Arrighi (1996), foi a externalização dos custos de proteção, porém 
também representava uma fragilidade, pois não tinham controle sobre essa 
proteção. 
Por sua vez, os holandeses detinham o controle e a autossuficiência 
necessários, o que permitiu que transformassem rapidamente sua supremacia no 
comércio em supremacia nas finanças. Os portugueses eram superiores em seu 
poderio naval, mas não conseguiram controlar todas as fontes de abastecimento 
tal qual fizeram os holandeses. O sucesso territorialista e comercial da Inglaterra 
fez com que muitos deslocassem o capital holandês para a bolsa de valores da 
Inglaterra, que era mais competitiva, o que minou a acumulação holandesa. 
SÍNTESE 
Nesta aula, foi possível aprofundar o conhecimento sobre os primórdios do 
período da Idade Moderna, com o colapso do período medieval. Apresentamos os 
elementos sociais, religiosos, econômicos, políticos e culturais desse processo de 
transição e início da Era Moderna. Também identificamos as características do 
período mercantilista, com forte centralização do poder nas mãos dos monarcas, 
e da era dos descobrimentos e das grandes navegações, que permitiu a expansão 
da influência europeia no mundo. 
 Foi possível compreender a constituição dos Tratado de Paz de Westfália, 
que deu origem ao conceito de Estado-nação, formado por população, território e 
governo. Depois, conhecemos o conceito de ciclos hegemônicos, de Giovanni 
Arrighi, que explica o processo de transição de poder ao longo dos diversos 
períodos da política internacional, com a expansão material e depois financeira, 
momento em que ocorreu a crise do poder do líder hegemônico. 
Por fim, mostramos as diferenças entre os ciclos hegemônicos genovês e 
holandês em seus aspectos econômicos e políticos, demonstrando como cada um 
se manteve no poder em cada período. 
 
 
 
11 
REFERÊNCIAS 
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São Paulo: UNESP/Contraponto, 1996. 
AZAMBUJA, D. Teoria Geral do Estado. Rio de Janeiro: Globo, 1971. 
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2002. 
CHINAGLIA, P. H.; VIANA, W. C. Estado Westfaliano Versos Estado-Nação e 
seus reflexos nas colônias da América Latina. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL 
PENSAR E REPENSAR A AMÉRICA LATINA, 2., São Paulo, 17-21 out. 2016. 
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<https://sites.usp.br/prolam/wp-content/uploads/sites/35/2016/12/CHINAGLIA-
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KOSHIBA, L.; PEREIRA, D. M. F. História do Brasil. São Paulo: Atual, 1996. 
LOBATO, L. C.; AMIN, M. M. Estado-nação e hegemonia no século XX sob a 
perspectiva da teoria dos ciclos hegemônicos de Arrighi. Revista de Geopolítica, 
v. 6, n. 1, p. 169-191, jan./jun. 2015. 
MAGNOLI, D. União Europeia: história e geopolítica. Rio de Janeiro: Moderna, 
2004. 
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NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais: correntes 
e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 
SILVA, C. C. V.; CULPI, L. A. Teoria de Relações Internacionais: origens e 
desenvolvimento. Curitiba: Editora Intersaberes, 2017. 
 
 
12 
WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. 
Brasília: UnB, 1999. 
 
 
AULA 3 
POLÍTICA INTERNACIONAL 
MODERNA E 
CONTEMPORÂNEA 
Prof. Ludmila Andrzejewski Culpi 
2 
INTRODUÇÃO 
Nesta aula, estudaremos os aspectos centrais relacionados à história 
moderna e contemporânea. Primeiramente, serão analisados os aspectos 
relacionados às duas revoluções que transforaram a forma de pensamento e de 
organização política e social, que foram a Revolução Francesa e a Revolução 
Americana. No segundo ponto, iremos tratar da importância do Império 
Napoleônico para a organização política europeia, assim como do encerramento 
desse período e da reorganização da Europa a partir do Congresso de Viena. Na 
sequência, iremos conhecer os elementos centrais da Revolução Industrial, que 
colocaram a Inglaterra como grande potência mundial à época. No quarto tema, 
trataremos dos episódios que culminaram na Primeira Guerra Mundial, e por fim 
estudaremos a situação política do Período Entreguerra, quando ocorreu a criação 
da Liga das Nações. 
TEMA 1 – ERA DAS REVOLUÇÃO: FRANCESA E NORTE-AMERICANA 
Importante destacar que as Revoluções Francesa e a Americana têm a 
mesma origem, ou DNA, porque foram frutos do Iluminismo, que provocou 
alterações na forma de pensar o mundo e a política. 
A difusão das ideias iluministas aconteceu na França, por meio 
da Enciclopédia, que era um manifesto do Iluminismo. O Iluminismo colocava a razão, 
e não mais a vontade de Deus, no centro das ideias. Nesse sentido, o 
profissionalismo, a liberdade e a igualdade deveriam se sobrepor à nobreza, ao 
privilégio real ou ao direito divino, o que enfraqueceu as monarquias. 
 A Revolução Francesa de 1789 marcou o fim da Idade Moderna e o início 
da Idade Contemporânea, em nível mundial, provocando a queda da monarquia, 
o enfraquecimento da Igreja e o fim da aristocracia.Os principais motivadores da Revolução Francesa foram o pensamento 
iluminista, a influência da Revolução Americana na economia e no imaginário da 
França, a desigualdade entre os diferentes grupos sociais, e a crise econômica 
profunda, que gerou fome, mortes e revolta. 
A Revolução Francesa pode ser compreendida como revolução política da 
burguesia, que no século XVIII tinha poderio econômico, mas não tinha 
envolvimento político. Nesse quesito, a Revolução Francesa extinguiu as bases 
 
 
3 
estruturais do Feudalismo e do Absolutismo, criando uma nova ordem capitalista, 
calcada na ideologia liberal (Silva; Silva, 2013). 
Conforme Bobbio (1992), a Revolução Francesa de 1789 representou uma 
guinada na história da humidade, porque assegurava a liberdade, a igualdade e a 
soberania popular, desbancando o Antigo Regime. Dessa forma, a Revolução 
Francesa permitiu o avanço do capitalismo, por sustentar a ideia do homem como 
centro do mundo (antropocentrismo) e a liberdade individual, que asseguravam a 
ideia de prosperidade individual e a busca pela acumulação, defendida pelo 
Protestantismo (Silva, 2018). 
Sobre a Guerra da Independência dos EUA, podemos dizer que ela foi um 
desencadeamento de fatos, como a busca da Inglaterra por expandir impostos em 
1750 após a Guerra dos 7 anos com a França, que causou revolta nos colonos da 
Nova Inglaterra. 
Em setembro de 1773, os colonos representantes de todas as colônias se 
reuniram no Primeiro Congresso Continental, no qual solicitaram ao rei George III 
a independência. Porém, a revogação da independência não ocorreu; depois 
disso, foram enviadas tropas britânicas para um confronto com grupos de colonos 
armados, o que levou à criação de um Exército Continental Americano, conduzido 
pelo coronel George Washington. 
A guerra em si ocorreu em julho de 1776, após a entrega da Declaração da 
Independência à Inglaterra. A guerra se encerrou em 1781, quando os colonos, 
com apoio de França, Países Baixos e Espanha, derrotaram definitivamente os 
ingleses na batalha de Yorktown. A metrópole reconheceu oficialmente a 
independência do novo país, somente dois anos mais tarde, e a primeira 
Constituição do novo país, com fortes influências iluministas, foi promulgada em 
1788. Importante entender que a população dos EUA ainda se encontrava 
bastante dividida em suas lealdades nacionais, o que levou à Guerra Civil 
Americana, ou Guerra da Secessão, que ocorreu menos de um século depois. A 
guerra terminou formalmente em 1783, com a assinatura do Tratado de Paris, no 
qual a Inglaterra reconheceu a independência dos Estados Unidos da América 
(Silva, 2018). 
De acordo com Hobsbawm (1977, p. 76), a Guerra da Independência norte-
americana pode ser vista como “a causa direta da Revolução Francesa”. Podemos 
verificar que a independência dos EUA teve uma repercussão no mundo todo, não 
só pela separação da Inglaterra, mas por proclamar ideais relacionados a 
 
 
4 
liberdade, vida, felicidade e igualdade entre os homens, que haviam sido 
construções do Iluminismo (Odalia, 2006). 
De modo diferenciado das revoluções que ocorreram na Europa, como a 
Reforma Protestante, a Revolução Inglesa de 1642, a Revolução Francesa e a 
Revolução Russa, que buscavam romper com um regime anterior, a Revolução 
Americana de 1776, combinando individualismo e historicismo, não tinha nenhum 
antigo regime a vencer. Embora essa revolução tenha provocado o rompimento 
da colônia com a metrópole, ela foi marcada pelo uso político-jurídico, por parte 
dos colonos americanos, do patrimônio de direitos e liberdades que passaram a 
ser apresentados na Constituição (Marques, 2006). 
TEMA 2 – IMPÉRIO NAPOLEÔNICO E CONGRESSO DE VIENA 
 O Império Napoleônico começou em 18 de maio de 1804 e terminou em 
14 abril de 1814. Essa forma de governo foi instituída após a nomeação de 
Napoleão Bonaparte como Imperador dos Franceses. Em 6 de novembro de 1804, 
o título seria confirmado por meio de um plebiscito. Em 2 de dezembro do mesmo 
ano, Napoleão Bonaparte foi coroado imperador em uma cerimônia na catedral 
de Notre Dame, em Paris, onde esteve presente o papa Pio VII. Entre as 
realizações do Primeiro Império Francês está a expansão do território e das ideias 
liberais. 
Em 1799, o General Napoleão Bonaparte retornou de sua campanha no 
Egito, e depois de um mês chegou ao poder. Com o apoio das tropas de 
granadeiros, deflagrou o golpe de Estado do “18 Brumário” (em 9 de novembro de 
1799), e se tornou o “Primeiro Cônsul” da França. Domesticamente, Napoleão 
buscou legalizar sua posição, mantendo o senado e uma câmara de 
representantes. Em dois meses, formulou uma constituição que preservava todas 
as conquistas da burguesia revolucionária. 
Em 1799, quando assume o consulado, Bonaparte declarou que era 
preciso impor a paz “para acabar com a guerra da Revolução, assegurando 
independência e liberdade à França”, o que deveria ser feito mediante o uso de 
armas. Napoleão separou seu governo da Igreja, mesmo reconhecendo que o 
catolicismo era a religião predominante na França. Após consolidar as bases de 
seu governo, Napoleão convoca o povo às urnas; por meio do referendo de 1804, 
torna-se Napoleão I, Imperador da França. 
 
 
5 
Após a derrota na Batalha marítima de Trafalgar em 1805, Napoleão viu 
seu plano de invadir a Inglaterra fracassado. Em 1806, instaurou o Bloqueio 
Continental, que proibia o comércio com a Inglaterra, com o objetivo de 
enfraquecer o país e conquistar a Europa por terra. Entre os anos de 1805 e 1808, 
Napoleão expandiu o território de seu Império por toda a Europa, após sair 
vitorioso das guerras contra a Áustria e a Prússia. 
Podemos dizer que as reformas instituídas por Napoleão foram embasadas 
nos ideais da Revolução Francesa, o que culminou em apoio da burguesia ao seu 
poder. A França se desenvolveu nesse período, não apenas politicamente, mas 
economicamente, sendo que a produção têxtil duplicou. Para garantir esse 
crescimento, era necessário conquistar mercados para a exportação de 
manufaturas, assegurando o fornecimento de matérias-primas. 
A derrota do Império Napoleônico ocorreu depois da desastrosa invasão da 
Rússia, que contribuiu para o enfraquecimento de Napoleão, que sofreu exílio na 
Ilha de Elba, em 1814. Contudo, Napoleão fugiu de Elba e retomou o poder, por 
um período curto – seu novo governo durou apenas cem dias. A derrocada final 
de Napoleão ocorreu na Batalha de Waterloo, depois de ter retomado o poder em 
1815, tendo sido exilado na Ilha de Santa Helena, onde morreu em 1821. 
Podemos assinalar que o principal resultado da expansão napoleônica foi a 
difusão das ideias revolucionárias por toda a Europa. 
Após a derrota napoleônica, as forças monarquistas europeias, na figura 
da Rússia, Prússia, Áustria e Inglaterra, se encontraram para redefinir a situação 
geopolítica europeia, de acordo com o que fora estabelecido antes da Revolução 
Francesa, no Congresso de Viena. O Congresso de Viena se pautava nos 
princípios de legitimidade da realeza, na restauração do absolutismo, no 
intervencionismo, onde ocorressem revoluções burguesas e populares, e no 
retorno ao panorama sócio-político e geográfico anterior a 1789. 
A Santa Aliança foi organizada pelos participantes no Congresso de Viena 
para assegurar bons resultados para a restauração monárquica, impedindo 
eventuais revoluções liberais na Europa e independências no continente 
americano. Nesse sentido, ela se caracterizou como uma aliança militar e política 
entre os regimes absolutistas europeus, com vistas a reprimir protestos liberais e 
a emancipação das colônias americanas. A Santa Aliança buscou reprimir 
movimentos revolucionários entre 1815 e 1830, porém a difusão das ideias 
revolucionárias foi irreversível. 
 
 
6 
TEMA 3 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E ASCENSÃO DA INGLATERRA COMO 
POTÊNCIA HEGEMÔNICA 
A Inglaterra ascendeu como potência líderno final do século XVIII, 
sobretudo em função da eclosão da Revolução Industrial. Na segunda metade do 
século XVIII, o sistema econômico mundial sofreu mudanças profundas, que 
tiveram início em 1780 na Inglaterra, e se propagaram ao longo do globo. esse 
momento ficou conhecido como Revolução Industrial, provocada pela introdução 
de máquinas nas indústrias, tendo como símbolo principal a máquina à vapor, 
criada pelo escocês James Watt, em 1769. 
Os setores da economia que mais se destacaram durante a Revolução 
Industrial inglesa foram o têxtil e a indústria de base, como a siderúrgica. As 
importações de tecidos ingleses na base de algodão cresceram em dez vezes 
entre 1750 e 1769, o que evidencia o sucesso econômico desse período na 
Inglaterra (Silva, 2018). 
É importante destacar que a Revolução Industrial foi um precedente para a 
passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial, com o 
predomínio do capitalista/burguês sobre o proletário, que é separado dos meios 
de produção (Marx; Engels, 1998). 
Houve um período de crescimento econômico da Inglaterra que perdurou 
até o período imediatamente anterior à Primeira Guerra Mundial, quando ocorre o 
fim do predomínio inglês. Esse período foi marcado pela mecanização da 
indústria, pelo poderio naval britânico, e pela construção das ferrovias. Pudemos 
observar a criação de uma economia global, interligada pelas ferrovias, que 
permitiu a ascensão inglesa e do capitalismo industrial e financeiro. A Revolução 
Industrial foi além da revolução da tecnologia, por contribuir para a separação 
entre as duas classes: a trabalhadora e a burguesa. A Inglaterra coordenou esse 
processo de industrialização, sendo responsável por uma grande parcela da 
produção de nível mundial (Braudel, 1992). 
Em termos sociais e humanos, o início do industrialismo promoveu grandes 
perdas, devido ao cercamentos e ao fechamento dos campos comunais, que 
obrigaram os campesinos a migrar para as cidades. Essas pessoas foram 
absorvidas pelas novas fábricas, porém as condições de vida nas cidades e de 
trabalho nas fábricas eram precárias, provocando quedas no padrão de vida 
(Silva, 2018). 
 
 
7 
Para Hobsbawn (1977), a Pax Britannica, em que predominou a hegemonia 
da Inglaterra, se iniciou com a assinatura do Congresso de Viena (1815), 
permanecendo até a Primeira Guerra Mundial. 
Para que um líder se consolide, segundo a teoria da Estabilidade 
hegemônica de Kindleberger, é necessário que tenha seguidores, que são criados 
por meios legais. O Acordo Cobden-Chevalier, entre França e Grã Bretanha, 
estabelece o princípio da nação mais favorecida. Nesse sentido, foram assinados 
mais acordos comerciais. 
O período entre 1873 e 1896 é de declínio britânico, devido ao crescente 
protecionismo do país (industrialização da Alemanha e dos EUA). A França 
também retornou ao protecionismo com a Tarifa Meline, de 1892. A Guerra de 
Tarifas no final do século XIX antecipou o conflito da Primeira Guerra, que 
encerrou o que restava de um regime liberal na Europa, com uma tentativa de 
retomá-lo em 1920. A Grande Depressão veio e forçou a Inglaterra a abandonar 
o livre comércio e a liderança que tinha, o que provocou a gradativa substituição 
da hegemonia britânica pela hegemonia dos EUA. 
TEMA 4 – PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi um dos episódios mais 
importantes da história contemporânea no século XX, não apenas pelos trágicos 
eventos, que envolveram milhões de pessoas, mas sobretudo pela memória 
desses eventos, que não resolveram questões políticas, econômicas e culturais, 
dando origem a outros conflitos durante o século XX. 
Podemos considerá-la uma guerra mundial, mesmo que tenha ocorrido 
apenas em solo europeu, pois marcou a história de todo globo e envolveu atores 
de diferentes continentes. 
O marco inicial da Primeira Guerra Mundial é o famoso assassinato do 
arquiduque herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, 
e de sua esposa Sofia, em Sarajevo, Bósnia, no dia 28 de junho de 1914. O 
assassinato foi arquitetado por uma organização secreta nacionalista sérvia. Após 
esse acontecimento, que é considerado o estopim das rivalidades que já estavam 
acirradas entre as potências europeias, houve a formação de alianças entre as 
potências, com uma corrida armamentista generalizada. Na sequência, o Império 
Austro-Húngaro enviou um ultimato à Sérvia, que foi rejeitado. Em 28 de julho de 
1914, o Império Austro-Húngaro, com apoio do Império Alemão, declarou guerra 
 
 
8 
à Sérvia, que era apoiada pelo Império Russo, que por sua vez era aliado da 
França, que tinha uma aliança com a Grã-Bretanha. Estavam formadas as duas 
alianças que protagonizaram a Primeira Guerra Mundial, à frente das Potências 
Centrais (Tríplice Aliança), que recebeu o apoio do Império Otomano e de sua 
rival, a frente das potências Aliadas (Tríplice Entente) (Burigana, 2014). 
Pode-se afirmar que nas primeiras semanas da guerra foi propagada a 
ideia de que a guerra seria rápida e bem-sucedida; contudo, a grande guerra 
durou quatro anos, causando rancores e feridas que iriam eclodir em outra guerra, 
apenas duas décadas depois. Já nas primeiras batalhas houve a percepção de 
que não seria uma guerra fácil e imediata. Foi formado um longo front de centenas 
de quilômetros, que criou a chamada guerra de posição ou de desgaste. Nesse 
local, a “guerra de trincheiras” caracterizou a guerra sangrenta e a carnificina. 
Somente em 1917 houve uma reviravolta importante na guerra, causada 
por duas situações, a Revolução Russa e a entrada dos Estados Unidos ao lado 
dos aliados, situações que provocaram mudanças políticas e militares na guerra. 
Nos meses de junho e julho de 1918, foram percebidos buracos no front, e 
as frentes começaram a se desfazer. A situação foi se tornando grave, 
desmobilizando os planos de batalha para a ofensiva alemã no primeiro semestre 
de 1919. Em novembro de 1918, o imperador Guilherme I deixou seu quartel-
general para se refugiar na Holanda, como consequência do colapso da situação 
militar alemã e da propagação de revoltas em cidades alemãs e motins no exército 
e na marinha. No mesmo dia, com a assinatura do armistício pela Alemanha, 
ocorreu o final da Primeira Guerra Mundial, que impôs, a partir do Tratado de 
Versalhes, duras represálias à Alemanha, como a redução dos armamentos e do 
exército, assegurando a reorganização territorial da Europa (Burigana, 2014). 
A Grande Guerra, como ficou conhecida (de modo a diferenciá-la da 
Segunda Guerra Mundial), provocou o surgimento de um novo mundo, com a 
extinção de império seculares, que tinham sobrevivido às reformas e revoluções, 
com o surgimento de novos Estados e o aparecimento de novas potências de 
âmbito global. 
TEMA 5 – PERÍODO ENTREGUERRAS E A LIGA DAS NAÇÕES 
O Tratado de Versalhes, que colocou fim à Primeira Guerra e reorganizou 
a questão territorial da Europa, demandou a evacuação das tropas alemãs de 
vários locais, enfraquecendo a Alemanha, militar e economicamente. Em termos 
 
 
9 
econômicos, a Alemanha sofreu com a hiperinflação, o desemprego e o declínio 
econômico. Esses elementos contribuíram para o surgimento do pensamento 
nazista, que foi sustentado pelo remorso deixado pela Primeira Guerra Mundial 
em relação ao nacionalismo alemão. Esse pensamento contribuiu para a eclosão 
da Segunda Guerra Mundial. 
No Entreguerras, o Presidente dos EUA, Woodrow Wilson, propôs a ruptura 
com os princípios que estabeleciam as relações entre os Estados europeus. 
Segundo ele, os princípios que deveriam prevalecer eram a autodeterminação dos 
povos (estabilidade do sistema) e a segurança coletiva, prevendo uma reação 
automática e conjunta dos Estados em caso de ameaças à paz internacional. 
Uma consequência da Primeira Guerra Mundial foi a criação da Liga das 
Nações, com o objetivo de construir um organismointernacional capaz de 
encontrar uma solução diplomática para os conflitos, impedindo a eclosão de 
novas guerras. 
O discurso de Wilson para o congresso norte-americano forneceu as bases 
para o pensamento liberal. Nesse discurso, o pensador apresenta o que ele 
considerava 14 pontos principais para garantir a paz. O último deles previa a 
criação de uma associação geral de nações, de acordo com convenções 
específicas, com o objetivo de fornecer garantias mútuas de independência 
política e de integridade territorial aos grandes e pequenos Estados. Esse 
argumento deu as bases para a criação da Liga das Nações, fundada em 1919 
pelo Tratado de Versalhes. Nessa organização, o sistema de segurança coletiva 
tomaria o do balanço de poder, em que os Estados se ameaçam constantemente, 
realizando acordos para expandir alianças e equilibrar poder, impedindo o 
surgimento de uma potência mais forte que as demais (Nogueira; Messari, 2005). 
A Liga das Nações foi a primeira organização internacional universal, em 
cuja carta expressava-se a vontade das potências de manter a lógica do Estado 
soberano e do ator central das RI. Buscava ser um projeto de transformação do 
sistema a partir da crença na razão, no progresso e na democratização das RI 
(crescente hegemonia norte-americana do pensamento). As funções centrais da 
Liga eram segurança; cooperação econômica, social e humanitária; e execução 
dos dispositivos dos Tratados de Versalhes. Um aspecto que foi contemplado foi 
a necessidade de inclusão dos Estados pequenos. A Liga existiu de 1919 a 1946, 
com sede em Londres, embora em 1939 já não funcionasse. Seu período mais 
 
 
10 
importante foi entre 1925 a 1929. A entrada da Alemanha ocorreu em 1926, mas 
não contou com a participação de EUA e URSS (Silva; Culpi, 2016). 
Como pontos de sucesso da Liga, podemos mencionar as sanções 
aplicadas contra a Itália; o fato de a China ter sido autorizada a sancionar o Japão 
em represália à ocupação da Manchúria; a mediação para encerrar a Disputa 
entre Grécia e Bulgária em 1925; e o papel negociador nos seguintes conflitos: 
Suécia e Finlândia (1820); Grécia e Itália (1923) e Bolívia e Paraguai (1933). Além 
disso, a Liga desenvolveu um conjunto de técnicas para a conciliação entre as 
partes e, em 1939, expulsou a URSS, como reação à invasão da Finlândia. 
Com a criação da Liga ou Sociedade das Nações, a concepção 
universalista, manifestada pelo ex-presidente WW, apresentou resultados 
concretos. Porém, havia pontos controversos, como o fato de que a Carta da Liga 
das Nações não demonstrava a igualdade entre todos. Ademais, considera-se que 
a Liga fracassou, pois sua existência não evitou o conflito (a Segunda Guerra 
Mundial) ou a corrida armamentista entre as potências. Argumenta-se que o 
fracasso resultou do fato de os países só terem cumprido os tratados à risca 
quando consideravam mais benéficos para si, além do fato de os EUA, os 
idealizadores da Liga, não terem aderido à Sociedade das Nações. O sistema 
também não foi universal: 63 países fizeram parte dele e 17 deixaram a 
organização. A decisão de punir com o uso da força, em caso de ameaça à paz, 
situação que seria interpretada pelo Conselho de Segurança, nunca foi levada à 
cabo. Durante a sua existência, o mecanismo de balanço do poder reinou, pois foi 
o momento em que mais se estabeleceram pactos bilaterais e concretos entre 
Estados (Nogueira; Messari, 2005). 
Apesar de sua derrota e encerramento em 1939 com a eclosão da 2ª. 
Guerra, a Liga deu as bases para a ideia de organização universal para a paz e 
foi o embrião da criação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945. 
Com o insucesso da Liga o pensamento liberal demonstrou sinais de desgaste e 
gradativamente foi sendo substituído pelo paradigma realista, durante a Guerra 
Fria (Sarfati, 2003). 
FINALIZANDO 
Nesta aula, aprofundamos nossos conhecimentos sobre a Revolução 
Francesa e a Revolução Americana, que contribuíram para o avanço do 
liberalismo e do capitalismo. No segundo tema, conhecemos os aspectos centrais 
 
 
11 
do Império Napoleônico e as consequências do Congresso de Viena, que deu 
nova força às monarquias da época. 
Depois, estudamos os aspectos centrais da Revolução Industrial, que 
fizeram com que a Inglaterra se tornasse a grande potência mundial do período. 
No quarto tema, vimos os episódios que levaram à eclosão da Primeira Guerra 
Mundial. No quinto, tratamos dos elementos políticos referentes ao Período 
Entreguerras e da constituição da Liga das Nações, que visava impedir conflitos 
e consolidar o princípio da Segurança Coletiva. 
 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
BOBBIO, N. A era dos direitos. 15. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 
BRAUDEL, F. História e Ciências Sociais: a longa duração. In: _____. Escritos 
sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1992. 
BURIGANA, R. A Grande Guerra: a Primeira Guerra Mundial (1914-2014) – 
Evento e Memória. História Unicap, v. 1, n. 1, jan./jun. de 2014. 
HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções: Europa 1789-1848. 8. ed. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1977. 
MARQUES, R. História semântica de um conceito: A influência inglesa do século 
XVII e norte-americana do século XVIII na construção do sentido de Constituição 
como paramount law. Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 43, n. 
172, out./dez. 2006. 
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 1998. 
NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais: correntes 
e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 
ODALIA, N. A liberdade como meta coletiva. In: PINSKY, J.; PINSKY, C. B. 
(Orgs.). História da Cidadania. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 159-169. 
SILVA, O. As grandes revoluções do século XVIII e o Iluminismo. Revista 
Científica Eletrônica da Pedagogia, ano XVII, n. 30, jan. 2018. 
SILVA, C. C. V.; CULPI, L. A. Teoria de Relações Internacionais: origens e 
desenvolvimento. Curitiba: Editora InterSaberes, 2017. 
SILVA, K. V.; SILVA. M. H. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed. São Paulo: 
Contexto, 2013. 
AULA 4 
POLÍTICA INTERNACIONAL 
MODERNA E 
CONTEMPORÂNEA 
Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, iremos estudar as causas e as consequências da Segunda 
Guerra Mundial, a política do período entreguerras, quando ocorreu a criação da 
Liga das Nações. Depois, iremos entender a criação da ONU e do sistema de 
comércio constituídos no pós-Segunda Guerra. 
Na sequência, iremos verificar os resultados dos Acordos de Bretton 
Woods no pós-Segunda Guerra. No quarto item, conheceremos a questão do 
estabelecimento da hegemonia nos EUA no pós-Segunda Guerra Mundial. No 
quinto item, verificaremos a questão do reestabelecimento do colonialismo, 
sobretudo no continente africano, o chamado neocolonialismo. 
TEMA 1 – SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS 
A Segunda Guerra Mundial pode ser vista como continuidade da primeira, 
porque envolveu sobretudo as potências europeias, com causas e atores 
similares, incluindo as alianças. Houve uma pequena trégua entre as guerras, que 
foi como uma “paz armada” no entreguerras, marcada pela Grande Depressão de 
1929. 
Por mais que houvesse uma certa continuidade, ela teve características 
diferenciadas em relação à Primeira Guerra Mundial, sobretudo pela questão da 
crise econômica e pelo surgimento da URSS, que detinha um poderio econômico 
e militar na década de 1930. Sendo assim, a Segunda Guerra Mundial não foi 
considerada uma decorrência natural da Primeira, sendo que a Segunda poderia 
ter sido evitada. 
Os massacres de vidas ocorreram nas duas guerras, porém, de modo mais 
cruel na Segunda Guerra Mundial, com muito mais baixas de civis, sobretudo com 
a prática de assassinato de judeus pelas autoridades alemãs nazistas, que 
marcou o Holocausto. De acordo com Salvadori (2001), “a Segunda Guerra 
Mundial foi, antes do mais, um retrocesso históricoda humanidade em seu 
conjunto”. 
Na Segunda Guerra Mundial, diferente do que ocorreu durante a Primeira 
Guerra, com a Revolução Russa, a revolução social a precedeu na Espanha e na 
França, contudo ela fracassou, não tendo impedido a ascensão de governos 
fascistas e totalitaristas, que foram os grandes responsáveis pela eclosão e 
desumanidade do conflito. 
 
 
3 
Na Segunda Guerra Mundial, sessenta milhões de soldados pegaram em 
armas, e entre 45 e 50 milhões de pessoas, a maioria civis, foram mortas como 
resultado direto dos combates. Aproximadamente 30 milhões de pessoas foram 
mortas de modo indireto, devido a fatores resultantes da guerra, como doenças, 
fome e epidemias. Sendo assim, foram computadas oito vezes mais vítimas do 
que na Primeira Guerra Mundial, em apenas seis anos. Podemos ressaltar que a 
história não havia jamais testemunhado um morticínio dessa proporção (Arrighi, 
1996). 
Portanto, a Segunda Guerra Mundial é considerada o conflito militar mais 
sangrento do todos os tempos. Em 1939, no seu começo, quando ocorreram 
declarações mútuas de guerra entre as grandes potências europeias, muitos 
países já estavam em guerra, como a Etiópia e a Itália na segunda guerra ítalo-
etíope, e China e Japão na segunda guerra sino-japonesa. 
Já a guerra civil espanhola (1936-1939) envolveu diretamente Itália e 
Alemanha no apoio ao golpe militar de Franco contra a República, sendo que isso 
provocou o início imediato da guerra mundial. 
É importante destacar que esse conflito mundial envolveu as mais 
longínquas regiões do planeta, nos mares e na terra, tendo vários países de outros 
continentes enviado exércitos para combater em solo europeu. 
 Sobre as causas da guerra, podemos indicar a intensa rivalidade entre os 
impérios coloniais velhos e ricos: a Grã-Bretanha e a França, com o apoio dos 
EUA e URSS, contra Alemanha e Itália, com apoio Japonês. As causas da guerra 
eram também relacionadas à estrutura do sistema internacional, com o fracasso 
da Liga das Nações. A Segunda Guerra Mundial foi um conflito interimperialista e 
contrarrevolucionário, sendo que o desmonte da União Soviética visava 
interromper o processo revolucionário iniciado em 1917 (Ferro, 1995). 
O projeto geral do nazismo para Europa Oriental e a URSS previa as mortes 
de dezenas de milhões de membros das raças consideradas inferiores (eslavos, 
principalmente, sem falar do total extermínio dos judeus, que eram uma numerosa 
minoria no Leste europeu), pela via da fome, para transformar esses imensos 
territórios em zonas de colonização pela Alemanha da raça ariana que era 
considerada por eles uma raça superior. 
 Na Europa Oriental, os deslocamentos de pessoas realizados pelos 
governos de Hitler e Stalin entre 1939 e 1943 afetaram trinta milhões de pessoas, 
com muitas mortes. A execução dos planos de extermínio massivo dos nazistas 
 
 
4 
por meio da fome, que acabaram por ser impraticáveis, teria provocado um 
morticínio ainda maior do que o que ocorreu: “entre 1939 e 1942 dezenas de 
milhões de homens, mulheres e crianças foram tirados de suas casas; à 
deportação para o extermínio e para o trabalho deve-se acrescentar a deportação 
para reassentamento” (Arrighi, 1996). Assim, muitas pessoas morreram nos 
campos de concentração criados pelos nazistas 
TEMA 2 – FIM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, A CRIAÇÃO DA ONU E DO 
GATT 
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, havia a necessidade de 
reorganizar a geopolítica mundial e global. Para tanto, foi criado um organismo 
que buscava assegurar a paz, que é a Organização das Nações Unidas – ONU 
(Arrighi, 1996). 
A ONU é uma organização criada em 1945 após o fim da Segunda Guerra 
Mundial, com o intuito de promover a paz e a segurança internacional. É 
considerada o fórum mais importante para gerar normas e preservar valores 
internacionais, contudo, é considerada ineficaz em seus propósitos maiores, já 
que não consegue impedir que os Estados ajam de maneira unilateral (Culpi, 
2016). 
Um dos objetivos da Carta da ONU é garantir a harmonização das condutas 
das nações, tornando-se importante espaço de troca de experiência entre os 
Estados membros. Dentre os principais exemplos disso podemos citar a questão 
dos princípios de direitos humanos consagrados pela ONU com base na 
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e respeitados pelos países 
(Culpi, 2016). 
Os acontecimentos que levaram à criação da ONU foram os seguintes: 
 A Carta do Atlântico (EUA e Reino Unido), em 1941, ainda antes do fim da 
Segunda Guerra; 
 Conferência de Washington de 1942 (26 países), em que foi assinada a 
Declaração das Nações Unidas; 
 Conferência de Moscou de 1943, quando pela primeira vez se mencionou 
a necessidade da criação de um organismo internacional para garantir a 
paz; 
 
 
5 
 Em 1944, ocorre o encontro de Dumbarton Oaks, em que foi criado o 
anteprojeto da ONU por URSS, EUA, China e Reino Unido; 
 Em abril de 1945, a Conferência de Yalta, que põe fim definitivo a Segunda 
Guerra Mundial; 
 Em junho de 1945, a Conferência de São Francisco, entre 50 países, em 
que finalmente é criada a ONU, com a Assinatura da Carta de São 
Francisco. 
Nesse encontro foi dada atenção ao papel especial das grandes potências 
na ONU, com a determinação do direito ao veto. Defendeu-se que a ação coletiva 
só deve acontecer quando há unanimidade entre as potências. Ainda foi acordado 
que a nova organização precisava de instrumentos de coação mais eficazes e, 
desse modo, as resoluções do Conselho de Segurança se tornaram obrigatórias. 
O Conselho de Segurança passou a deter amplo poder para julgar o que é uma 
ameaça à paz. O art. 42 da Carta prevê uso da força em última instância (Silva; 
Culpi, 2017). 
No que tange ao comércio, foi estabelecida, na segunda fase da 
globalização, uma estrutura comercial cujos acordos entre Estados baseavam-se 
na gradativa eliminação das barreias ao comércio. Em 1947, foi criado o GATT 
(Acordo Geral de Tarifas e Comércio), uma organização internacional com 23 
países e que hoje conta com mais de uma centena de países. Desse modo, a 
liberalização do comércio internacional não pode ser vista como um processo 
linear, pois desde o estabelecimento do GATT até a criação da Organização 
Mundial do Comércio (OMC) em 1994, se passaram quase cinquenta anos e 
foram realizadas uma série de Rodadas Comerciais (Culpi, 2016). 
TEMA 3 – ACORDO DE BRETTON WOODS E SUAS INSTITUIÇÕES: FMI E 
BANCO MUNDIAL 
Podemos assinalar que a Segunda Fase da globalização ocorreu após o 
fim da Segunda Guerra Mundial, com a assinatura dos acordos de Bretton Woods. 
Depois da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se encontram em posição 
privilegiada por se tornarem fornecedores de produtos e investimentos para os 
países europeus devastados pela guerra. O fim da Segunda Guerra Mundial foi 
ainda mais crucial para os Estados Unidos, que se tornaram os grandes 
patrocinadores financeiros da recuperação da Europa, com o estabelecimento do 
 
 
6 
Plano Marshall. No entreguerras, houve criação de sistemas comerciais 
preferenciais, contudo o nacionalismo preponderava (Culpi, 2016). 
A liberalização comercial, que deu início à segunda fase da globalização, 
foi possível a partir da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos se 
tornaram o líder hegemônico. Uma análise do fim desse confronto demonstra que 
os acordos de Bretton Woods garantiram uma reorganização do sistema 
internacional que promoveu um período de intensa prosperidade ao capitalismo, 
que durou até a década de 1990 e ficou conhecida como a Era de Ouro do 
capitalismo. Na reunião Bretton Woods, que ocorreu em 1946, foram firmadas 
normas e criadas instituições que asseguraram uma organização ao sistema 
financeiro internacional com capacidade de contornar as restrições impostas pelos 
elementos do sistema anterior. 
O acordo de Bretton Woods baseava-se em três

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