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AULA 1 POLÍTICA INTERNACIONAL MODERNA E CONTEMPORÂNEA Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 2 INTRODUÇÃO Nesta aula, estudaremos o conceito de política internacional, bem como os principais elementos relacionados a ela, que são os atores e níveis de análise envolvidos. Em um segundo momento, verificaremos como cada uma das principais teorias de Relações Internacionais (RI) observa a política internacional, iniciando pelas teorias clássicas, o liberalismo, que a concebe como cooperativa, e a realista, que a analisa como conflituosa. Para finalizar, serão apresentados os elementos centrais das teorias neoliberal, da interdependência complexa e da teoria neorrealista das Relações Internacionais. TEMA 1 – CONCEITO DE POLÍTICA INTERNACIONAL E NÍVEIS DE ANÁLISE Para dar início ao debate desta disciplina, é preciso caracterizar a política internacional, que se refere às ações que ocorrem na ordem global. Importante compreendermos que o objeto das Relações Internacionais (RI) é o sistema internacional, formado por uma série de atores, entre os quais os mais importantes são os Estados. Contudo, existem outros relevantes, como as instituições interestatais, as Organizações Não Governamentais Internacionais (ONGIs), as empresas transnacionais, os grupos terroristas e paramilitares, os partidos políticos e a Igreja. Desse modo, o que define o sistema internacional é o seu caráter anárquico, ou seja, a ausência de uma autoridade soberana acima dos Estados com legitimidade para assegurar a ordem nele. Essa combinação entre a dimensão interestatal, que é o objeto central da política internacional, e a transnacional, que inclui outros atores, determina a dificuldade em se determinarem as RI como uma ciência ou disciplina autônoma das demais áreas de conhecimento como a História, o Direito e a Economia. Podemos afirmar que a definição mais aceita de política internacional é a de um sistema no qual os Estados exercem relações sem uma autoridade superior a eles que administra esses relacionamentos, o que passou a ser aceito a partir do Sistema de Paz de Westfália, firmado após a conclusão da Guerra dos Trinta Anos na Europa. Essa disciplina estuda, então, acontecimentos internacionais históricos que acontecem para além das fronteiras dos Estados e possuem impacto sobre as decisões nacionais. Entre os temas englobados, podemos citar 3 a segurança dos Estados, a economia política internacional, os fenômenos de guerra e paz e crises, assim como as relações diplomáticas. A primeira cátedra da disciplina de Política Internacional foi criada em 1919, na Universidade de Gales, em Aberystwyth, denominada Cátedra Woodrow Wilson; na sequência, outras também foram formadas na Inglaterra e nos Estados Unidos. Isso demonstra o surgimento da disciplina de Relações Internacionais no período entre guerras, que ganhou autonomia em relação às outras. Para os autores realistas, como Raymond Aron, a política internacional foca a busca para alcançar o poder, o que garante a sobrevivência dos Estados, configurando um sistema internacional conflituoso, pois há uma luta constante entre os Estados para defender interesses estatais. A característica específica dessa política é a possibilidade de se recorrer ao uso da força militar e bélica. Já para os teóricos liberais, a política internacional é ordenada por instituições internacionais que induzem os Estados a cooperarem e a limitarem seus comportamentos egoístas. Para os estudiosos das Relações Internacionais, é fundamental levar em conta a concepção de nível de análise, o qual define o foco da investigação, ou seja, em que direção o analista deve olhar para explicar a realidade internacional. São quatro os níveis de análise das RI (Sarfati, 2005): i. o individual, com ênfase sobre a natureza humana do indivíduo (boa ou má) para analisar os comportamentos estatais; ii. o societal, que se atém sobre os grupos de interesse para explicar um acontecimento; iii. o estatal, que se centra no comportamento do Estado para investigar as RI ou supraestatal, quando há atores supranacionais como a União Europeia; iv. o da estrutura internacional, com foco sobre as características do sistema internacional, conflituoso ou pacífico. Portanto, dependendo do nível de análise adotado, a explicação para o fenômeno da política internacional será diferente. Assim, cada teoria de RI possui as próprias ontologias, epistemologias e metodologias, o que auxilia os pesquisadores em seu trabalho de inferência sobre a realidade internacional. Importante ressaltar que as teorias servem para fornecer ao analista de Relações Internacionais ferramentas teóricas e metodológicas com vistas a explicar os fenômenos da política internacional que são vários, como a guerra, a paz e a cooperação. 4 TEMA 2 – O LIBERALISMO E A POLÍTICA INTERNACIONAL O paradigma liberal é uma das correntes dominantes na Teoria das Relações Internacionais. Essa perspectiva explica vários fenômenos das RI e se tornou uma base central para a análise da política internacional e da organização da economia e da sociedade. A premissa surgiu no princípio da Idade Moderna, após o fim do Iluminismo, e assinalava que os indivíduos, baseados na razão, conduzem as próprias vidas, sem a intervenção de terceiros como o Estado. Dessa forma, na economia, esse paradigma defende a não interferência do Estado na economia, considerando uma suposta lei natural do equilíbrio entre oferta e demanda de bens, o que impediria as crises econômicas. O liberalismo clássico surgiu como teoria das Relações Internacionais após a Primeira Guerra Mundial, quando floresceu um cenário de crença nas instituições e na racionalidade dos atores. A teoria liberal se consolidou com um discurso do presidente norte-americano Woodrow Wilson ao Congresso, inspirado nas ideias da “Paz Perpétua” de Kant, e se alicerçava na necessidade e na crença de que uma Segunda Guerra Mundial poderia ser evitada. Woodrow Wilson propôs a ruptura com os princípios que estabeleciam as relações entre os Estados europeus. Segundo ele, os princípios que deveriam prevalecer eram a autodeterminação dos povos (estabilidade do sistema) e a segurança coletiva, que previa uma reação automática e conjunta dos Estados em caso de surgimento de uma ameaça à paz internacional. O discurso de Wilson ao congresso norte-americano forneceu as bases para o pensamento liberal, e o pensador apresentou o que considerava os 14 pontos que assegurariam a paz. O último deles preconizava a criação de uma associação geral de nações, de acordo com convenções específicas, com objetivo de oferecer garantias mútuas de independência política e de integridade territorial aos grandes e pequenos Estados. Esse argumento deu suporte à criação da Liga das Nações, fundada em 1919 pelo Tratado de Versalhes. Nessa organização, o sistema de segurança coletiva tomaria o do balanço de poder, em que os Estados se ameaçam constantemente realizando acordos para expandir suas alianças e equilibrar poder, impedindo o surgimento de uma potência mais poderosa que as demais (Nogueira; Messari, 2005). 5 Com a criação da Liga ou Sociedade das Nações, a concepção universalista manifestada pelo ex-presidente Woodrow apresentou resultados concretos. Porém, havia pontos controversos, como o de que a Carta da Liga das Nações não demonstrava a igualdade entre todos. Ademais, considera-se que a Liga fracassou, pois sua existência não evitou o conflito (a Segunda Guerra Mundial) e a corrida armamentista entre as potências. Argumenta-se que o que levou ao seu insucesso foi que os países só cumpriam os tratados à risca quando consideravam mais benéficos para si e o fato de os Estados Unidos, os idealizadores da Liga, não terem aderido à Sociedade das Nações. O sistema também não foi universal: 63 países fizeram parte, e17 deixaram a organização. A decisão de punir com o uso da força, em caso de ameaça à paz, que seria interpretada pelo Conselho de Segurança, nunca foi utilizada. Durante sua existência, o mecanismo de balanço do poder reinou, pois foi o momento em que mais estabeleceram-se pactos bilaterais e concretos entre Estados (Nogueira; Messari, 2005). Mesmo com o fracasso da Liga e seu encerramento em 1939 com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, ela deu as bases para a ideia de organização universal voltada à paz e foi o embrião da criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945. Com o insucesso da Liga, o pensamento liberal demonstrou sinais de desgaste e gradativamente foi sendo substituído pelo paradigma realista, durante a Guerra Fria (Sarfati, 2005). Pode-se observar que o liberalismo prevê uma política internacional baseada na cooperação entre os Estados, na autoajuda, na força das instituições e das regras para garantia da ordem e da prevalência da cooperação. Preconiza também uma atuação limitada do Estado na economia, que não deve impedir o funcionamento normal dele. TEMA 3 – O REALISMO E A POLÍTICA INTERNACIONAL A teoria realista das Relações Internacionais surgiu após a Segunda Guerra Mundial com o objetivo de entender o processo de guerras constantes entre os Estados. Existem diferenças entre os autores da escola, porém o realismo clássico apresenta algumas concepções gerais, como a ideia de o Estado definir seus interesses em termos de poder, do Estado como o único ator das RI e da inexistência de preceitos morais nas relações entre Estados. 6 Essa teoria preconiza também a política internacional como belicosa e com uma tendência constante à guerra, ou seja, a ausência da paz e a existência de um processo de equilíbrio de poder que evita processos contínuos de guerra. Nesse sentido, os Estados estariam sempre defendendo seus interesses nacionais e buscando sua sobrevivência, o que levaria a um conflito constante. Os autores realistas surgem baseados em seu posicionamento científico, com o objetivo de mostrar a política internacional como ela realmente é, e não como deveria ser, como faz a teoria liberal. Para Edward Hallett Carr (2001), que fundou a disciplina, nenhuma utopia política alcançará êxito, desde que seja resultado da realidade política. Os autores clássicos, como Hobbes e Maquiavel, forneceram elementos teóricos importantes para se pensar a ideia de luta pelo poder. Ambos acreditavam que a natureza humana é egoísta e que por isso os Estados agem fundamentados em cálculos de custo-benefício. Carr apresentou importante crítica ao pensamento liberal, considerado ingênuo por ele e distante da realidade, pois na política internacional reinam a anarquia e o conflito, e a cooperação é autointeressada e não baseada na racionalidade ou nos valores morais dos Estados. Carr contribuiu para a construção teórica do realismo, a partir da elaboração de seu livro, Vinte anos de crise: 1919-1939. O autor apresentou uma crítica profunda ao pensamento teórico anterior, o liberal, desenvolvendo, juntamente com Morgenthau, uma nova forma de compreender a política internacional. Morgenthau (2003) concebeu os seis princípios que embasaram o pensamento realista, ao passo que Aron defendeu que o conflito é uma constante na política internacional, devido à anarquia, ou seja, em função da ausência de uma autoridade superior aos Estados que posa organizar o sistema internacional. Os seis princípios são: 1) a ação do Estado deve analisada pelos atos políticos e impactos no sistema; 2) o interesse deve ser compreendido em termos de poder; 3) o interesse definido em termos de poder é uma categoria universalmente válida, mas não tem significado permanente; 4) há uma tensão entre os valores morais e a necessidade de uma ação política efetiva; 5) os valores morais de um Estado não devem ser definidos como padrões morais universais; e 6) existe uma diferença entre o realismo político e as demais escolas de RI. Carr (2001, p. 33) indicou os erros da visão baseada na universalidade dos valores, em uma lei moral natural e na criação de uma autoridade superior aos Estados para administrar as RI. Segundo o autor, a Liga das Nações representou 7 os equívocos do pensamento liberal, pois foi a primeira tentativa de padronizar os problemas internacionais pelo prisma da racionalidade, e ela falhou nessa tarefa (Carr, 2001, p. 40). O mecanismo de segurança coletiva, no qual se sustentava a organização, fracassou, o que foi comprovado pelo número crescente de acordos bilaterais. Portanto, Carr (2001, p. 44) constatou que o desenrolar dos fatos demonstrou o fim da Liga como instrumento de estabilização e ordem política. Carr (2001) finaliza sua obra apontando que era preciso rejeitar a visão de embasar a moral internacional em uma harmonia de interesses, que é irreal. A adoção desse paradigma só foi possível no século XIX pela prosperidade econômica. Contudo, na prática, constatava-se apenas uma harmonia de interesses entre os Estados aptos. TEMA 4 – INTERDEPENDÊNCIA COMPLEXA E A POLÍTICA INTERNACIONAL Os autores da interdependência complexa argumentam que as relações entre os Estados são marcadas pela dependência mútua assimétrica entre as partes. O uso correto da interdependência revela-se para essa perspectiva como um dos principais recursos de poder dos atores estatais e não estatais, como as Organizações Não Governamentais e as empresas transnacionais, o que seria fundamental para entender a política internacional. Keohane e Nye (2001) defendem que o papel do Estado seria gerir as relações entre os seres humanos para assegurar maior quantidade de trocas e cooperação, a partir do estabelecimento de regras. Os autores assinalam que a anarquia está presente no cenário internacional, porém argumentam sobre a possibilidade do progresso e da paz por meio do comércio livre e da democracia. Para eles, a guerra não ocorreria em um contexto de comércio justo que permitisse contatos entre as culturas (Keohane; Nye, 2001). Os autores buscam compreender o papel exercido pelas instituições internacionais como facilitadoras da cooperação entre os Estados. A interdependência complexa envolve episódios com efeitos recíprocos entre Estados e demais atores não estatais, que são produtos das trocas internacionais, de pessoas, serviços, bens e capital. Keohane e Nye (2001) determinam que existe interdependência quando há custos e restrições significativos que são resultados das trocas entre países, mesmo que sejam assimétricos. Essa interdependência promove uma redução do poder do Estado, que não significa 8 que irá desaparecer, mas que seu poder e autonomia foram limitados pelo surgimento de novos atores poderosos. A respeito da concepção de poder para a teoria da interdependência complexa, esta é diferenciada em relação às teorias tradicionais que o relacionavam à força militar. Contudo, para Keohane e Nye (2001), os meios que geram as capacidades de poder estão mais complexos, o que exige uma revisão no conceito de poder. Para tanto, promovem uma distinção entre duas formas de poder: i) o poder dos meios, que é a capacidade de um ator levar os demais à realizar algo que eles não fariam; e ii) o poder dos resultados, que representa o controle do ator sobre os resultados. Portanto, apesar da dificuldade de calcular e medir o poder, este é entendimento para a teoria da interpendência complexa como o controle dos meios e o potencial para influenciar os resultados. Keohane e Nye (2001) desenvolvem um modelo para a construção de um tipo ideal de política, baseado na concepção de interdependência complexa. Para os autores, o cenário que melhor explicaria a realidade internacional apresenta as seguintes características: o Estado não é o único ator das RI; não existe uma hierarquia entre os temas;e a força não é um instrumento eficaz para atingir objetivos. Esse modelo possui três condições, entendidas como os fundamentos da interdependência. A primeira é a existência de canais múltiplos que vinculam as sociedades, podendo ser interestaduais, transgovernamentais e transnacionais; a segunda relaciona-se à agenda das relações interestaduais, formada por inúmeros temas, e não apenas a questão militar como prioridade, sem uma hierarquia entre as temáticas; e a terceira é que a força militar não é adotada pelos governos quando a interdependência predomina. TEMA 5 – TEORIA NEORREALISTA E A POLÍTICA INTERNACIONAL O fundador da teoria neorrealista foi Kenneth Waltz, em seu livro Theory of International Politics. O neorrealismo foi elaborado com vistas a superar as limitações do realismo e também do neoliberalismo. O momento da Guerra Fria presenciou o aparecimento de novas correntes teóricas, que buscavam explicar o contexto do período, como o neorrealismo Entre 1945 e 1989, houve muitos momentos de tensão entre as duas potências – a então União Soviética e os Estados Unidos –, com testes nucleares e ameaças constantes. Esses acontecimentos fizeram Waltz (2002) pensar em 9 sua teoria, que tem como base a concepção de anarquia no sistema internacional. De acordo com ele, as relações internacionais são compostas por partículas de governos e mescladas por partes de comunidade que agem em um sistema anárquico (Waltz, 2002, p. 75). Sua obra consolidou o pressuposto do realismo sobre a centralidade do Estado como ator das RI e da busca pela sobrevivência do Estado na agenda internacional. Waltz (2002) também rebateu as críticas proferidas por Keohane e Nye em sua obra Poder e Interdependência. Ele parte da ideia de que é necessário concentrar a análise no nível do sistema, e não no comportamento dos Estados, como fazia a teoria realista. Segundo Waltz (2002), não se entende a política internacional analisando os atributos (capacidades militares e econômicas do Estado); deve-se focar em como as interações entre Estados no sistema impacta as ações de cada um. Assim, não devemos apenas analisar as políticas domésticas ou externas de cada Estado, mas como o sistema internacional exerce influência sobre elas (Pereira, 2016). Para essa teoria, a política internacional não é entendida como um somatório dos comportamentos e políticas externas e internas dos Estados. Os aspectos domésticos, conforme assinala Waltz (2002), não explicam o sistema internacional, e visualizá-lo com base nesses aspectos provoca generalizações que são inválidas e simplistas. Portanto, as características de cada unidade não são relevantes para explicar a política internacional, porque o que leva os Estados a agirem são as posições das unidades umas em relação às outras no sistema. Importante destacar que a estrutura só se altera quando há mudanças significativas nas posições de cada Estado, cujos comportamentos são determinados pela estrutura. Segundo salienta Waltz (2002, p. 116), “o conceito de estrutura baseia- se no fato de as unidades justapostas e combinadas de maneira diferente produzirem diferentes resultados”. A concepção de estrutura é entendida sob três princípios: i) princípio ordenador sistêmico, que é a ideia da anarquia como algo determinante; ii) as especificações das funções das unidades; e iii) a distribuição das capacidades relativas. Sobre o segundo aspecto, há uma diferença entre os Estados, pois a hierarquia gera relações de superioridade e subordinação. Desse modo, a distinção entre os Estados não se relaciona às suas funções, que são sempre as 10 mesmas, porque a anarquia induz à coordenação entre as unidades, o que resulta em uma semelhança em termos de função. Waltz (2002) reconhece que existem outros atores além do Estado, mas estes são os mais importantes, que compõem a estrutura. Essa estrutura é determinada pelos Estados com mais influência, devido às diferentes distribuições de poder no sistema internacional. Como as funções são as mesmas, as diferenças entre eles emergem, sobretudo, das capacidades variadas, ou seja, da distribuição de capacidades relativas. Assim, a comparação das capacidades de um número de unidades possibilita a mensuração do poder, pois o poder representa uma comparação das capacidades das unidades, e os Estados são posicionados de modo diferente na estrutura conforme o poder que possuem (Silva; Culpi, 2017). Portanto, a configuração do sistema internacional impacta as interações entre os Estados e seus atributos. A autonomia de cada Estado e a relação de determinação mútua entre eles criam uma estrutura na qual os resultados podem ser Estados que se limitam uns aos outros. Portanto, o conceito de estrutura permite a previsão dos efeitos sobre a organização dos sistemas de Estados e o modo como as estruturas e as unidades interagem (Silva; Culpi, 2017). Podemos intuir que, para investigar a ideia de estrutura, Waltz criou o princípio que orienta a disposição dos atores estatais. A disposição se modifica quando ocorrem alterações nas capacidades relativas dos Estados. As capacidades relativas são, segundo Waltz, os recursos militares e econômicos que cada Estado possui (Pereira, 2016). FINALIZANDO Nesta aula foi possível aprofundar o conhecimento sobre as definições a respeito da política internacional, bem como os atores e os níveis de análise a ela relacionados. Na sequência, verificamos como cada teoria interpreta a política internacional e, por fim, apresentamos as teorias liberal, realista, da interdependência complexa e neorrealista, focando em como entendem a lógica de poder entre os Estados. 11 REFERÊNCIAS ARON, R. Paz e guerra entre as nações. São Paulo: Funag, 2002. CARR, E. Vinte anos de crise (1919-1939). São Paulo: Funag, 2001. KEOHANE, R. O.; NYE, J. S. Power and Interdependence. New York: Longman, 2001. MORGENTHAU, H. J. A Política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. Brasília: UnB, 2003 NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais: correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. PEREIRA, A. E. Teoria das Relações Internacionais. Curitiba: Editora Intersaberes, 2016. SARFATI, G. Teorias de Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005. SILVA, C. C. V.; CULPI, L. A. Teoria de Relações Internacionais: origens e desenvolvimento. Curitiba: Editora Intersaberes, 2017. WALTZ, K. Teoria das Relações Internacionais. Edição portuguesa. Portugal: Gradiva, 2002. AULA 2 POLÍTICA INTERNACIONAL MODERNA E CONTEMPORÂNEA Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 2 INTRODUÇÃO Nesta aula, iremos estudar o começo da política internacional moderna, com o fim do período medieval, marcado pelo feudalismo. Abordaremos os aspectos históricos do início da Idade Moderna, destacando elementos sociais, religiosos, econômicos, políticos e culturais. Na segunda parte da aula, conheceremos as características do período mercantilista e da era dos descobrimentos e das grandes navegações. Entenderemos os elementos que permitiram a constituição dos Tratado de Paz de Westfália e depois verificaremos o conceito de ciclos hegemônicos, de Giovanni Arrighi, que explica o processo de transição de poder ao longo dos diversos períodos da política internacional. Para finalizar, vamos comparar os ciclos hegemônicos genovês e holandês em seus aspectos econômicos e políticos. TEMA 1 – INÍCIO DA IDADE MODERNA – ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS, POLÍTICOS E CULTURAIS A Idade Moderna é vista como uma oposição à Idade Média, considerada como uma Idade das Trevas, em que imperavam os feudos e o domínio cristão- católico. Durante a Idade Média, havia pouco desenvolvimento do capitalismo, e o poder político e econômico estava concentrado nas mãos da Igreja. A Idade Moderna surgiu como o momento de retomar aperspectiva de vida da Antiguidade greco-romana, tida como o auge cultural da humanidade. Foi durante a Idade Moderna que os europeus realizaram as grandes navegações e a expansão marítima, com transformações significativas na estrutura política e social e criando as condições para a dominação de continentes inteiros, como a África e a América. O poderio sobre essas regiões garantiu riquezas às classes dominantes europeias, estabelecendo as bases para que pudessem consolidar a forma de organização social e econômica para o resto do mundo. A expansão da forma de organização social se baseou no avanço do capitalismo, a partir da ideia de acumulação que era conquistada nesse momento por meio do comércio internacional. Ocorreu a mudança de uma produção material e agrária para outra, material mercantil e industrial, que fez crescer a 3 classe burguesa, que explorava o proletariado urbano. A primeira Revolução Industrial que teve início na Inglaterra se iniciou na Idade Moderna. Na questão cultural, a Idade Moderna foi marcada por uma produção muito rica, com o Renascimento nos séculos XV e XVI, e a retomada da herança greco- romana, além do pensamento iluminista do século XVIII. Esses momentos apresentaram transformações filosóficas, científicas e políticas de se entender o mundo. Na religião, ocorreu a Reforma Protestante, empreendida por Martinho Lutero no século XVI e que modificou o mundo cristão ocidental. Vale lembrar que o progresso do capitalismo foi possível graças ao protestantismo que, diferentemente da religião católica, via com bons olhos – e não como pecado – o enriquecimento pessoal. Em termos políticos, a Idade Moderna foi caracterizada pela instituição dos Estados nacionais na Europa. Nesse momento, apareceram as monarquias nacionais, formando estruturas políticas e administrativas centralizadas, em contraste à descentralização política na Idade Média. Essa estrutura político- administrativa permitiu o fortalecimento do capitalismo e do poder político da burguesia, que superou a nobreza aristocrática. O fim do predomínio da nobreza ficou evidente na Revolução Francesa, quando o Estado representativo burguês foi estabelecido, finalizando a Idade Moderna e dando lugar à Idade Contemporânea. TEMA 2 – O MERCANTILISMO E A ERA DOS DESCOBRIMENTOS Após o fim do feudalismo, surgiu a considerada primeira escola do pensamento econômico, o mercantilismo, que previa uma intervenção forte do Estado na economia, pois este deveria protegê-la e conduzir as atividades econômicas, mediante a prática do nacionalismo econômico. A riqueza deixou de ser vista como um pecado e passou a ser o objetivo do Estado. Para conseguir essa riqueza, o Estado deveria recorrer ao comércio internacional, garantindo uma balança comercial favorável, isto é, que o país exportasse mais do que importasse, o que permitiria uma entrada grande de metais preciosos. O que era considerado riqueza e tinha valor nesse momento era o metalismo, ou seja, o acúmulo de metais, o que motivou a busca por ouro e prata nas Américas e as grandes navegações. Com vistas a assegurar a balança comercial favorável, o Estado passou a taxar as importações, o que foi uma das primeiras medidas econômicas do Estado 4 moderno, a qual era uma política protecionista e visava também arrecadar recursos para o governo. O Estado também provocou uma redução das taxas de juro, que incentivavam a produção e o comércio, o que fez posteriormente surgir a indústria, gerando aumento do emprego e crescimento econômico das nações. O mercantilismo, mediante o envolvimento do Estado na economia, na figura dos reis, fortaleceu as monarquias, ocasionou o deslocamento da atividade econômica do Mediterrâneo para o Oceano Atlântico, uma ampliação do comércio, e permitiu o progresso científico e tecnológico. Esse sistema entrou em colapso com a libertação das colônias e o desenvolvimento intenso da indústria, a partir da Revolução Industrial, que deu origem ao capitalismo industrial conhecido por nós. Outro fenômeno importante que favoreceu a expansão do capitalismo na época foi o surgimento dos bancos já nas cidades-Estado italianas no século XIII. Eles permitiram tal expansão a partir da possibilidade de emprestar dinheiro a juros, o que foi criado pelos judeus pois estes podiam emprestar a juros aos católicos. Com os bancos, o Estado passou a exercer uma função de controlar as atividades de emissão da moeda, dos juros, do câmbio, exercendo as chamadas políticas monetária e fiscal. Em relação ao período dos descobrimentos e das grandes navegações, podemos afirmar que existiam vários fatores que propiciaram a expansão marítima e que [...] os impulsos fundamentais por trás do que se conhece como a “Era dos Descobrimentos” sem dúvida surgiram de uma mistura de fatores religiosos, econômicos, estratégicos e políticos, é claro que nem sempre dosados nas mesmas proporções [...]. (Boxer, 2002, p. 33) Importante lembrar que os portugueses foram os primeiros a se aventurar pelo Oceano Atlântico, movidos por interesses econômicos e políticos, sobretudo de busca de especiarias e enriquecimento, e também religiosos, que garantiriam a expansão da força da Igreja Católica. Nesse sentido, os europeus criaram uma tecnologia de navegação eficaz, que assegurou a realização de grandes expedições para o Novo Mundo. Isso favoreceu a realização de uma série de objetivos políticos, econômicos e religiosos mediante a conquista dessas novas terras fora da Europa (Koshiba; Pereira, 1996). 5 TEMA 3 – SISTEMA DE PAZ DE WESTFÁLIA, ESTADO NACIONAL E O PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO EUROPEU Para compreender as formas mais antigas e as contemporâneas de dominação, é importante entender o que é o Estado e como ele se origina. A esse respeito, Motta (1988, p. 16) comenta, baseado em Weber (1999), que: “O Estado forma-se mediante a dominação de uma sociedade por outra ou por uma parte de uma sociedade sobre os seus demais membros, a saber, a sociedade civil”. Assim, de acordo com o pensamento weberiano, o Estado se sustenta na dominação, que pode ocorrer por consentimento ou por coerção, ou seja, por uso da força e violência (Weber, 1999). Os Estados nacionais surgiram primeiramente com as cidades-Estado italianas, como Florença, Gênova e Veneza, e detinham monopólio de poder para garantir o comércio, imprimir moeda e recolher impostos a fim de financiar as guerras. Porém, o conceito clássico de Estado-nação apareceu em 1648, com a assinatura do Tratado de Westfália, o qual determina que um Estado, para ser considerado como tal, deve ter os seguintes atributos: território, população e governo (soberania). Os Estados modernos, no formato como conhecemos, que concentram poder na figura de um monarca, surgiram mais tarde, na França e na Inglaterra, no contexto das monarquias absolutistas, com a emancipação do mercantilismo e das grandes navegações. Após o fim da Guerra dos Trinta Anos, foram assinados 11 tratados que formalizaram a conhecida Paz de Westfália. A sociedade política medieval passou por uma derrocada, dando lugar ao Estado westfaliano, detentor das seguintes características: território, população e governo. Esse declínio da organização medieval representava que os Estados não estariam mais sujeitos ao poder do Imperador Fernando II e do papa, e passariam a ser vistos como uma autoridade suprema e soberana, isto é, sem um poder acima deles. Assim, o Estado que emergiu do Tratado de Westfália pode ser entendido definido como “a sociedade soberana, surgida com a ordenação jurídica cuja finalidade é regular globalmente a vida social de determinado povo, fixo em dado território e sob um poder” (Azambuja, 1971, p. 6). Os tratados da paz caracterizaram a documentação da existência de um Estado definido por uma unidade territorial, dotada de um poder soberano, umterritório e um povo. Em suma, pode-se definir o Estado como “uma organização política-jurídica de uma 6 sociedade para realizar o bem público, com governo próprio e território determinado” (Azambuja, 1971, p. 7). De acordo com Magnoli (2004), a Europa pós-medieval criou o Estado moderno, baseado em monarquias absolutas, em função da centralização do poder medieval. Isso possibilitou a organização da burocracia estatal pela instituição da cobrança de impostos, definição de fronteiras, formação de um corpo de funcionários burocráticos e do exército, permitindo a construção da concepção de soberania territorial. Desse modo, o poder dos monarcas gradativamente se emancipou da autoridade político-religiosa e passou a se concentrar na figura do rei e em seu governo. O rei assumiu a autoridade suprema acima de toda a população do país e não precisava mais agir por intermédio de terceiros. Essa transformação política fundamental marcou o advento da Era Moderna. Após o Congresso de Viena (1815), surgiu uma tentativa de restabelecer o regime que vigorava anteriormente e impedir o avanço do regime liberal internacional, que acabou incentivando ainda mais as independências na América Latina e o combate à colonização. Nesse sentido, houve a derrota definitiva do absolutismo e os resquícios medievais que permaneceram durante a Idade Moderna, como os direitos e privilégios da nobreza (Chinaglia; Viana, 2016). Ocorreu também a redefinição das fronteiras políticas da Europa, modificando o equilíbrio do poder e criando uma disputa pela hegemonia mundial, envolvendo, em um primeiro momento, as guerras anglo-holandesas e, depois, prolongando-se até o período napoleônico, com a disputa entre Inglaterra e França pela liderança europeia (Chinaglia; Viana, 2016). Observa-se nesse período o acirramento do debate religioso entre protestantes e católicos, com o reconhecimento do calvinismo. Dessa forma, o sistema de Westfália permitiu o surgimento de novas potências e fez crescer as rivalidades que geraram instabilidades constantes entre os Estados europeus, culminando nas guerras napoleônicas e na Primeira e Segunda Guerras Mundiais (Chinaglia; Viana, 2016). TEMA 4 – OS CICLOS HEGEMÔNICOS O conceito mais central da teoria de Arrighi é o de ciclos sistêmicos de acumulação. Ele se refere à concentração de poder em uma potência hegemônica, que alterna períodos de expansão material, isto é, de crescimento 7 produtivo e comercial, com momentos de ascensão financeira. Essa definição tem o objetivo de compreender como os regimes hegemônicos aparecem, se consolidam e depois desaparecem (Nogueira; Messari, 2005). O conceito de hegemonia de Gramsci é adaptado por Cox (1981) ao cenário internacional. O autor entende as características da hegemonia gramsciana, destacando que o conceito diz respeito à capacidade de as classes dominantes condicionarem o comportamento das dominadas. Nesse sentido, são duas as formas de manifestação da supremacia de um grupo social: a dominação e a liderança moral e intelectual. Dessa forma, entende a hegemonia com base na ideia de consentimento espontâneo das massas populares à direção dada à vida social pelo grupo dominante no âmbito internacional. A hegemonia pode ser definida, de acordo com Gramsci (1999), como uma combinação entre consenso (convencimento) e coerção (possibilidade de uso da força), o que leva o detentor desses dois elementos a ter uma posição privilegiada em relação aos demais. A hegemonia é uma relação na qual as potências assumem papel dirigente com base em uma combinação de recursos materiais, ideias e instituições que convençam os demais Estados das vantagens daquela ordem para o conjunto do sistema. De acordo com Arrighi (1996, p. 5), as crises hegemônicas possuem três características que se inter-relacionam: “intensificação da concorrência interestatal e interempresarial; a expansão dos conflitos sociais e o surgimento de novas configurações de poder”. Ele enfatiza que todos os processos de crise hegemônica, em que houve transição de poder entre líderes hegemônicos, foram marcados por um crescimento financeiro que levou à crise terminal da hegemonia (Arrighi, 1996). Portanto, o pensamento desse autor foca as relações entre os Estados, calcadas “não somente na dominação e no controle, mas na liderança, e na investigação da construção da hegemonia a partir de ciclos de acumulação capitalista” (Arrighi, 1996, p. 9). Arrighi (1996) assinala que as trocas de hegemonia acontecem de modo paralelo aos ciclos de expansão e crise econômica. Esses ciclos estão vinculados aos seguintes elementos: comércio, produção e tecnologia e capital financeiro. Por fim, o autor defende que os momentos de transições de hegemonia implicam uma reorganização e a alteração do sistema, que é adequado aos interesses da nova potência hegemônica (Arrighi, 1996). 8 Arrighi (1996, p. 6) aponta a existência de quatro ciclos sistêmicos de acumulação, quais sejam: o ciclo genovês, do século XV ao início do século XVII; ii) o ciclo holandês, do fim do século XVI até a maior parte do século XVIII; iii) o ciclo britânico, da segunda metade do século XVIII até o início do século XX; e iv) o ciclo norte-americano, iniciado no fim do século XIX e que prossegue na atual fase de expansão financeira do capitalismo. Na sequência, estudaremos os dois ciclos de concentração de poder nas mãos de uma hegemonia: o italiano, com ênfase em Gênova, e o holandês. TEMA 5 – OS CICLOS HEGEMÔNICOS GENOVÊS E HOLANDÊS Nos séculos XIII e XIV, a Península Itálica passou por um período de expansão de seu domínio comercial em função do controle das rotas de comércio asiáticas. Durante esse tempo, as quatro grandes cidades italianas – Florença, Gênova, Milão e Veneza – consolidaram uma relação de cooperação comercial, baseada em uma divisão das atividades comerciais e industriais entre si. Porém, a expansão financeira que ocorreu após a fase comercial não foi igual em todas as cidades. Arrighi (1996) identificou o primeiro ciclo sistêmico de destaque, o genovês (italiano), que se deu no período da Idade Média e foi diferenciado do cenário político da época por sua capacidade de flexibilização. Para Arrighi (1996), nas fases finais do estágio de expansão do comércio houve a tendência de se desenvolver uma série de acordos entre centros de acumulação, dado que a divisão do trabalho criava uma interdependência entre os atores. Arrighi (1996) estuda a origem do sistema financeiro, atribuindo a Florença e às guerras estatais a responsabilidade por sua criação. Isso ocorreu porque os judeus passaram a fazer empréstimos a juros e superaram a limitação imposta pelos dogmas católicos, criando os bancos como os conhecemos hoje. O autor apresentou o ciclo genovês, o qual foi possível pois os genoveses se aproveitaram da expansão comercial do começo ao fim. Ao contrário do capitalismo das demais cidades-Estado italianas que desenvolveram formas rígidas de acumulação, o capitalismo genovês criou modelos mais flexíveis, por meio de uma associação entre a classe mercantil e a aristocracia rural. Essa flexibilização garantiu a atividade bancária. O aproveitamento das altas finanças, originalmente uma invenção florentina, garantiu a Gênova a manutenção de capital excedente em estado de elevada liquidez. 9 Um fator relevante que permitiu a consolidação genovesa foi a criação de uma moeda boa, que fosse estável, e uma abundância de sistema de pagamentos. A crise de hiperacumulação de moeda, causada pelo fechamento de rotas comerciais, foi um dos motivos que levaram à redução da prevalência genovesa. A expansão materialista genovesa foi realizada por um agente dicotômico – um componente aristocrático territorialista (ibérico) que se especializou no fornecimento de proteção e na busca de poder – e pelaburguesia capitalista (genovesa), que se dedicou à compra e venda de mercadorias e à busca de lucro. Ambos se fortaleceram mutuamente ao desempenhar seus objetivos. Dessa forma, a saída da crise genovesa foi a vinculação de territorialistas, no caso a Espanha, com a burguesia mercantil (Lobato; Amin, 2015). Para Arrighi (1996), a expansão holandesa se deu devido a uma estratégia de conciliação de interesses de acumulação com os interesses territorialistas da Casa de Orange que deram origem às Províncias Unidas. A classe mercantil holandesa se aproveitou do comércio báltico para adquirir capital excedente, o qual era rapidamente convertido em fontes de renda. Os holandeses combinaram a autogestão do Estado com o intercâmbio político com governos estrangeiros. Uma das estratégias era transformar Amsterdã no centro do comércio europeu e do mundo e no mercado central de moeda da economia mundial. Além disso, criaram companhias de comércio que foram beneficiárias dos elementos anteriores. De acordo com Arrighi (1996), a razão do declínio da força comercial holandesa foi o mercantilismo industrial, o que acirrou a competição entre as nações territorialistas. Assim, a Holanda deixou o comércio para se dedicar às finanças, especialmente focando explorar a competição pelo capital circulante que as lutas interestatais geravam. Amsterdã foi substituído por Londres como entreposto de mercadorias e finanças. Segundo o autor, o ciclo de acumulação inglês só poderia ter sucesso se internalizasse as técnicas capitalistas de poder. Ele destaca que o divisor de águas entre a perda da hegemonia genovesa no setor das altas finanças e a ascensão holandesa foi a guerra de independência holandesa, da qual a Espanha Imperial saiu enfraquecida (Arrighi, 1996). A principal diferença entre o ciclo genovês e o holandês é que este último internalizou os custos de proteção. Em comparação, o sucesso do ciclo veneziano se assentava na intervenção do Estado, já o genovês se apoiava no capital. 10 O ciclo genovês controlava as redes de comércio, que se constituíam sólidas, por meio do vínculo a redes interestatais com o governo ibérico, as quais seus rivais venezianos não possuíam. O fator que permitiu o sucesso genovês, segundo Arrighi (1996), foi a externalização dos custos de proteção, porém também representava uma fragilidade, pois não tinham controle sobre essa proteção. Por sua vez, os holandeses detinham o controle e a autossuficiência necessários, o que permitiu que transformassem rapidamente sua supremacia no comércio em supremacia nas finanças. Os portugueses eram superiores em seu poderio naval, mas não conseguiram controlar todas as fontes de abastecimento tal qual fizeram os holandeses. O sucesso territorialista e comercial da Inglaterra fez com que muitos deslocassem o capital holandês para a bolsa de valores da Inglaterra, que era mais competitiva, o que minou a acumulação holandesa. SÍNTESE Nesta aula, foi possível aprofundar o conhecimento sobre os primórdios do período da Idade Moderna, com o colapso do período medieval. Apresentamos os elementos sociais, religiosos, econômicos, políticos e culturais desse processo de transição e início da Era Moderna. Também identificamos as características do período mercantilista, com forte centralização do poder nas mãos dos monarcas, e da era dos descobrimentos e das grandes navegações, que permitiu a expansão da influência europeia no mundo. Foi possível compreender a constituição dos Tratado de Paz de Westfália, que deu origem ao conceito de Estado-nação, formado por população, território e governo. Depois, conhecemos o conceito de ciclos hegemônicos, de Giovanni Arrighi, que explica o processo de transição de poder ao longo dos diversos períodos da política internacional, com a expansão material e depois financeira, momento em que ocorreu a crise do poder do líder hegemônico. Por fim, mostramos as diferenças entre os ciclos hegemônicos genovês e holandês em seus aspectos econômicos e políticos, demonstrando como cada um se manteve no poder em cada período. 11 REFERÊNCIAS ARRIGHI, G. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. São Paulo: UNESP/Contraponto, 1996. AZAMBUJA, D. Teoria Geral do Estado. Rio de Janeiro: Globo, 1971. BOXER, C. O império marítimo português. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. CHINAGLIA, P. H.; VIANA, W. C. Estado Westfaliano Versos Estado-Nação e seus reflexos nas colônias da América Latina. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL PENSAR E REPENSAR A AMÉRICA LATINA, 2., São Paulo, 17-21 out. 2016. Anais... São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016. Disponível em: <https://sites.usp.br/prolam/wp-content/uploads/sites/35/2016/12/CHINAGLIA- VIANA_SP04-Anais-do-II-Simposio-Internacional-Pensar-e-Repensar-a- Am%C3%A9rica-Latina.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2020. COX, R. W. Social Forces, States and World Orders: Beyond International Relations Theory. Millennium – Journal of International Studies, v. 10, n. 2, p. 126-155, 1981. GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. KOSHIBA, L.; PEREIRA, D. M. F. História do Brasil. São Paulo: Atual, 1996. LOBATO, L. C.; AMIN, M. M. Estado-nação e hegemonia no século XX sob a perspectiva da teoria dos ciclos hegemônicos de Arrighi. Revista de Geopolítica, v. 6, n. 1, p. 169-191, jan./jun. 2015. MAGNOLI, D. União Europeia: história e geopolítica. Rio de Janeiro: Moderna, 2004. MOTTA, F. C. P. As formas organizacionais do Estado. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 28, n. 4, p. 15-31, 1988. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 75901988000400003>. Acesso em: 9 mar. 2020. NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais: correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. SILVA, C. C. V.; CULPI, L. A. Teoria de Relações Internacionais: origens e desenvolvimento. Curitiba: Editora Intersaberes, 2017. 12 WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB, 1999. AULA 3 POLÍTICA INTERNACIONAL MODERNA E CONTEMPORÂNEA Prof. Ludmila Andrzejewski Culpi 2 INTRODUÇÃO Nesta aula, estudaremos os aspectos centrais relacionados à história moderna e contemporânea. Primeiramente, serão analisados os aspectos relacionados às duas revoluções que transforaram a forma de pensamento e de organização política e social, que foram a Revolução Francesa e a Revolução Americana. No segundo ponto, iremos tratar da importância do Império Napoleônico para a organização política europeia, assim como do encerramento desse período e da reorganização da Europa a partir do Congresso de Viena. Na sequência, iremos conhecer os elementos centrais da Revolução Industrial, que colocaram a Inglaterra como grande potência mundial à época. No quarto tema, trataremos dos episódios que culminaram na Primeira Guerra Mundial, e por fim estudaremos a situação política do Período Entreguerra, quando ocorreu a criação da Liga das Nações. TEMA 1 – ERA DAS REVOLUÇÃO: FRANCESA E NORTE-AMERICANA Importante destacar que as Revoluções Francesa e a Americana têm a mesma origem, ou DNA, porque foram frutos do Iluminismo, que provocou alterações na forma de pensar o mundo e a política. A difusão das ideias iluministas aconteceu na França, por meio da Enciclopédia, que era um manifesto do Iluminismo. O Iluminismo colocava a razão, e não mais a vontade de Deus, no centro das ideias. Nesse sentido, o profissionalismo, a liberdade e a igualdade deveriam se sobrepor à nobreza, ao privilégio real ou ao direito divino, o que enfraqueceu as monarquias. A Revolução Francesa de 1789 marcou o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea, em nível mundial, provocando a queda da monarquia, o enfraquecimento da Igreja e o fim da aristocracia.Os principais motivadores da Revolução Francesa foram o pensamento iluminista, a influência da Revolução Americana na economia e no imaginário da França, a desigualdade entre os diferentes grupos sociais, e a crise econômica profunda, que gerou fome, mortes e revolta. A Revolução Francesa pode ser compreendida como revolução política da burguesia, que no século XVIII tinha poderio econômico, mas não tinha envolvimento político. Nesse quesito, a Revolução Francesa extinguiu as bases 3 estruturais do Feudalismo e do Absolutismo, criando uma nova ordem capitalista, calcada na ideologia liberal (Silva; Silva, 2013). Conforme Bobbio (1992), a Revolução Francesa de 1789 representou uma guinada na história da humidade, porque assegurava a liberdade, a igualdade e a soberania popular, desbancando o Antigo Regime. Dessa forma, a Revolução Francesa permitiu o avanço do capitalismo, por sustentar a ideia do homem como centro do mundo (antropocentrismo) e a liberdade individual, que asseguravam a ideia de prosperidade individual e a busca pela acumulação, defendida pelo Protestantismo (Silva, 2018). Sobre a Guerra da Independência dos EUA, podemos dizer que ela foi um desencadeamento de fatos, como a busca da Inglaterra por expandir impostos em 1750 após a Guerra dos 7 anos com a França, que causou revolta nos colonos da Nova Inglaterra. Em setembro de 1773, os colonos representantes de todas as colônias se reuniram no Primeiro Congresso Continental, no qual solicitaram ao rei George III a independência. Porém, a revogação da independência não ocorreu; depois disso, foram enviadas tropas britânicas para um confronto com grupos de colonos armados, o que levou à criação de um Exército Continental Americano, conduzido pelo coronel George Washington. A guerra em si ocorreu em julho de 1776, após a entrega da Declaração da Independência à Inglaterra. A guerra se encerrou em 1781, quando os colonos, com apoio de França, Países Baixos e Espanha, derrotaram definitivamente os ingleses na batalha de Yorktown. A metrópole reconheceu oficialmente a independência do novo país, somente dois anos mais tarde, e a primeira Constituição do novo país, com fortes influências iluministas, foi promulgada em 1788. Importante entender que a população dos EUA ainda se encontrava bastante dividida em suas lealdades nacionais, o que levou à Guerra Civil Americana, ou Guerra da Secessão, que ocorreu menos de um século depois. A guerra terminou formalmente em 1783, com a assinatura do Tratado de Paris, no qual a Inglaterra reconheceu a independência dos Estados Unidos da América (Silva, 2018). De acordo com Hobsbawm (1977, p. 76), a Guerra da Independência norte- americana pode ser vista como “a causa direta da Revolução Francesa”. Podemos verificar que a independência dos EUA teve uma repercussão no mundo todo, não só pela separação da Inglaterra, mas por proclamar ideais relacionados a 4 liberdade, vida, felicidade e igualdade entre os homens, que haviam sido construções do Iluminismo (Odalia, 2006). De modo diferenciado das revoluções que ocorreram na Europa, como a Reforma Protestante, a Revolução Inglesa de 1642, a Revolução Francesa e a Revolução Russa, que buscavam romper com um regime anterior, a Revolução Americana de 1776, combinando individualismo e historicismo, não tinha nenhum antigo regime a vencer. Embora essa revolução tenha provocado o rompimento da colônia com a metrópole, ela foi marcada pelo uso político-jurídico, por parte dos colonos americanos, do patrimônio de direitos e liberdades que passaram a ser apresentados na Constituição (Marques, 2006). TEMA 2 – IMPÉRIO NAPOLEÔNICO E CONGRESSO DE VIENA O Império Napoleônico começou em 18 de maio de 1804 e terminou em 14 abril de 1814. Essa forma de governo foi instituída após a nomeação de Napoleão Bonaparte como Imperador dos Franceses. Em 6 de novembro de 1804, o título seria confirmado por meio de um plebiscito. Em 2 de dezembro do mesmo ano, Napoleão Bonaparte foi coroado imperador em uma cerimônia na catedral de Notre Dame, em Paris, onde esteve presente o papa Pio VII. Entre as realizações do Primeiro Império Francês está a expansão do território e das ideias liberais. Em 1799, o General Napoleão Bonaparte retornou de sua campanha no Egito, e depois de um mês chegou ao poder. Com o apoio das tropas de granadeiros, deflagrou o golpe de Estado do “18 Brumário” (em 9 de novembro de 1799), e se tornou o “Primeiro Cônsul” da França. Domesticamente, Napoleão buscou legalizar sua posição, mantendo o senado e uma câmara de representantes. Em dois meses, formulou uma constituição que preservava todas as conquistas da burguesia revolucionária. Em 1799, quando assume o consulado, Bonaparte declarou que era preciso impor a paz “para acabar com a guerra da Revolução, assegurando independência e liberdade à França”, o que deveria ser feito mediante o uso de armas. Napoleão separou seu governo da Igreja, mesmo reconhecendo que o catolicismo era a religião predominante na França. Após consolidar as bases de seu governo, Napoleão convoca o povo às urnas; por meio do referendo de 1804, torna-se Napoleão I, Imperador da França. 5 Após a derrota na Batalha marítima de Trafalgar em 1805, Napoleão viu seu plano de invadir a Inglaterra fracassado. Em 1806, instaurou o Bloqueio Continental, que proibia o comércio com a Inglaterra, com o objetivo de enfraquecer o país e conquistar a Europa por terra. Entre os anos de 1805 e 1808, Napoleão expandiu o território de seu Império por toda a Europa, após sair vitorioso das guerras contra a Áustria e a Prússia. Podemos dizer que as reformas instituídas por Napoleão foram embasadas nos ideais da Revolução Francesa, o que culminou em apoio da burguesia ao seu poder. A França se desenvolveu nesse período, não apenas politicamente, mas economicamente, sendo que a produção têxtil duplicou. Para garantir esse crescimento, era necessário conquistar mercados para a exportação de manufaturas, assegurando o fornecimento de matérias-primas. A derrota do Império Napoleônico ocorreu depois da desastrosa invasão da Rússia, que contribuiu para o enfraquecimento de Napoleão, que sofreu exílio na Ilha de Elba, em 1814. Contudo, Napoleão fugiu de Elba e retomou o poder, por um período curto – seu novo governo durou apenas cem dias. A derrocada final de Napoleão ocorreu na Batalha de Waterloo, depois de ter retomado o poder em 1815, tendo sido exilado na Ilha de Santa Helena, onde morreu em 1821. Podemos assinalar que o principal resultado da expansão napoleônica foi a difusão das ideias revolucionárias por toda a Europa. Após a derrota napoleônica, as forças monarquistas europeias, na figura da Rússia, Prússia, Áustria e Inglaterra, se encontraram para redefinir a situação geopolítica europeia, de acordo com o que fora estabelecido antes da Revolução Francesa, no Congresso de Viena. O Congresso de Viena se pautava nos princípios de legitimidade da realeza, na restauração do absolutismo, no intervencionismo, onde ocorressem revoluções burguesas e populares, e no retorno ao panorama sócio-político e geográfico anterior a 1789. A Santa Aliança foi organizada pelos participantes no Congresso de Viena para assegurar bons resultados para a restauração monárquica, impedindo eventuais revoluções liberais na Europa e independências no continente americano. Nesse sentido, ela se caracterizou como uma aliança militar e política entre os regimes absolutistas europeus, com vistas a reprimir protestos liberais e a emancipação das colônias americanas. A Santa Aliança buscou reprimir movimentos revolucionários entre 1815 e 1830, porém a difusão das ideias revolucionárias foi irreversível. 6 TEMA 3 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E ASCENSÃO DA INGLATERRA COMO POTÊNCIA HEGEMÔNICA A Inglaterra ascendeu como potência líderno final do século XVIII, sobretudo em função da eclosão da Revolução Industrial. Na segunda metade do século XVIII, o sistema econômico mundial sofreu mudanças profundas, que tiveram início em 1780 na Inglaterra, e se propagaram ao longo do globo. esse momento ficou conhecido como Revolução Industrial, provocada pela introdução de máquinas nas indústrias, tendo como símbolo principal a máquina à vapor, criada pelo escocês James Watt, em 1769. Os setores da economia que mais se destacaram durante a Revolução Industrial inglesa foram o têxtil e a indústria de base, como a siderúrgica. As importações de tecidos ingleses na base de algodão cresceram em dez vezes entre 1750 e 1769, o que evidencia o sucesso econômico desse período na Inglaterra (Silva, 2018). É importante destacar que a Revolução Industrial foi um precedente para a passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial, com o predomínio do capitalista/burguês sobre o proletário, que é separado dos meios de produção (Marx; Engels, 1998). Houve um período de crescimento econômico da Inglaterra que perdurou até o período imediatamente anterior à Primeira Guerra Mundial, quando ocorre o fim do predomínio inglês. Esse período foi marcado pela mecanização da indústria, pelo poderio naval britânico, e pela construção das ferrovias. Pudemos observar a criação de uma economia global, interligada pelas ferrovias, que permitiu a ascensão inglesa e do capitalismo industrial e financeiro. A Revolução Industrial foi além da revolução da tecnologia, por contribuir para a separação entre as duas classes: a trabalhadora e a burguesa. A Inglaterra coordenou esse processo de industrialização, sendo responsável por uma grande parcela da produção de nível mundial (Braudel, 1992). Em termos sociais e humanos, o início do industrialismo promoveu grandes perdas, devido ao cercamentos e ao fechamento dos campos comunais, que obrigaram os campesinos a migrar para as cidades. Essas pessoas foram absorvidas pelas novas fábricas, porém as condições de vida nas cidades e de trabalho nas fábricas eram precárias, provocando quedas no padrão de vida (Silva, 2018). 7 Para Hobsbawn (1977), a Pax Britannica, em que predominou a hegemonia da Inglaterra, se iniciou com a assinatura do Congresso de Viena (1815), permanecendo até a Primeira Guerra Mundial. Para que um líder se consolide, segundo a teoria da Estabilidade hegemônica de Kindleberger, é necessário que tenha seguidores, que são criados por meios legais. O Acordo Cobden-Chevalier, entre França e Grã Bretanha, estabelece o princípio da nação mais favorecida. Nesse sentido, foram assinados mais acordos comerciais. O período entre 1873 e 1896 é de declínio britânico, devido ao crescente protecionismo do país (industrialização da Alemanha e dos EUA). A França também retornou ao protecionismo com a Tarifa Meline, de 1892. A Guerra de Tarifas no final do século XIX antecipou o conflito da Primeira Guerra, que encerrou o que restava de um regime liberal na Europa, com uma tentativa de retomá-lo em 1920. A Grande Depressão veio e forçou a Inglaterra a abandonar o livre comércio e a liderança que tinha, o que provocou a gradativa substituição da hegemonia britânica pela hegemonia dos EUA. TEMA 4 – PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi um dos episódios mais importantes da história contemporânea no século XX, não apenas pelos trágicos eventos, que envolveram milhões de pessoas, mas sobretudo pela memória desses eventos, que não resolveram questões políticas, econômicas e culturais, dando origem a outros conflitos durante o século XX. Podemos considerá-la uma guerra mundial, mesmo que tenha ocorrido apenas em solo europeu, pois marcou a história de todo globo e envolveu atores de diferentes continentes. O marco inicial da Primeira Guerra Mundial é o famoso assassinato do arquiduque herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, e de sua esposa Sofia, em Sarajevo, Bósnia, no dia 28 de junho de 1914. O assassinato foi arquitetado por uma organização secreta nacionalista sérvia. Após esse acontecimento, que é considerado o estopim das rivalidades que já estavam acirradas entre as potências europeias, houve a formação de alianças entre as potências, com uma corrida armamentista generalizada. Na sequência, o Império Austro-Húngaro enviou um ultimato à Sérvia, que foi rejeitado. Em 28 de julho de 1914, o Império Austro-Húngaro, com apoio do Império Alemão, declarou guerra 8 à Sérvia, que era apoiada pelo Império Russo, que por sua vez era aliado da França, que tinha uma aliança com a Grã-Bretanha. Estavam formadas as duas alianças que protagonizaram a Primeira Guerra Mundial, à frente das Potências Centrais (Tríplice Aliança), que recebeu o apoio do Império Otomano e de sua rival, a frente das potências Aliadas (Tríplice Entente) (Burigana, 2014). Pode-se afirmar que nas primeiras semanas da guerra foi propagada a ideia de que a guerra seria rápida e bem-sucedida; contudo, a grande guerra durou quatro anos, causando rancores e feridas que iriam eclodir em outra guerra, apenas duas décadas depois. Já nas primeiras batalhas houve a percepção de que não seria uma guerra fácil e imediata. Foi formado um longo front de centenas de quilômetros, que criou a chamada guerra de posição ou de desgaste. Nesse local, a “guerra de trincheiras” caracterizou a guerra sangrenta e a carnificina. Somente em 1917 houve uma reviravolta importante na guerra, causada por duas situações, a Revolução Russa e a entrada dos Estados Unidos ao lado dos aliados, situações que provocaram mudanças políticas e militares na guerra. Nos meses de junho e julho de 1918, foram percebidos buracos no front, e as frentes começaram a se desfazer. A situação foi se tornando grave, desmobilizando os planos de batalha para a ofensiva alemã no primeiro semestre de 1919. Em novembro de 1918, o imperador Guilherme I deixou seu quartel- general para se refugiar na Holanda, como consequência do colapso da situação militar alemã e da propagação de revoltas em cidades alemãs e motins no exército e na marinha. No mesmo dia, com a assinatura do armistício pela Alemanha, ocorreu o final da Primeira Guerra Mundial, que impôs, a partir do Tratado de Versalhes, duras represálias à Alemanha, como a redução dos armamentos e do exército, assegurando a reorganização territorial da Europa (Burigana, 2014). A Grande Guerra, como ficou conhecida (de modo a diferenciá-la da Segunda Guerra Mundial), provocou o surgimento de um novo mundo, com a extinção de império seculares, que tinham sobrevivido às reformas e revoluções, com o surgimento de novos Estados e o aparecimento de novas potências de âmbito global. TEMA 5 – PERÍODO ENTREGUERRAS E A LIGA DAS NAÇÕES O Tratado de Versalhes, que colocou fim à Primeira Guerra e reorganizou a questão territorial da Europa, demandou a evacuação das tropas alemãs de vários locais, enfraquecendo a Alemanha, militar e economicamente. Em termos 9 econômicos, a Alemanha sofreu com a hiperinflação, o desemprego e o declínio econômico. Esses elementos contribuíram para o surgimento do pensamento nazista, que foi sustentado pelo remorso deixado pela Primeira Guerra Mundial em relação ao nacionalismo alemão. Esse pensamento contribuiu para a eclosão da Segunda Guerra Mundial. No Entreguerras, o Presidente dos EUA, Woodrow Wilson, propôs a ruptura com os princípios que estabeleciam as relações entre os Estados europeus. Segundo ele, os princípios que deveriam prevalecer eram a autodeterminação dos povos (estabilidade do sistema) e a segurança coletiva, prevendo uma reação automática e conjunta dos Estados em caso de ameaças à paz internacional. Uma consequência da Primeira Guerra Mundial foi a criação da Liga das Nações, com o objetivo de construir um organismointernacional capaz de encontrar uma solução diplomática para os conflitos, impedindo a eclosão de novas guerras. O discurso de Wilson para o congresso norte-americano forneceu as bases para o pensamento liberal. Nesse discurso, o pensador apresenta o que ele considerava 14 pontos principais para garantir a paz. O último deles previa a criação de uma associação geral de nações, de acordo com convenções específicas, com o objetivo de fornecer garantias mútuas de independência política e de integridade territorial aos grandes e pequenos Estados. Esse argumento deu as bases para a criação da Liga das Nações, fundada em 1919 pelo Tratado de Versalhes. Nessa organização, o sistema de segurança coletiva tomaria o do balanço de poder, em que os Estados se ameaçam constantemente, realizando acordos para expandir alianças e equilibrar poder, impedindo o surgimento de uma potência mais forte que as demais (Nogueira; Messari, 2005). A Liga das Nações foi a primeira organização internacional universal, em cuja carta expressava-se a vontade das potências de manter a lógica do Estado soberano e do ator central das RI. Buscava ser um projeto de transformação do sistema a partir da crença na razão, no progresso e na democratização das RI (crescente hegemonia norte-americana do pensamento). As funções centrais da Liga eram segurança; cooperação econômica, social e humanitária; e execução dos dispositivos dos Tratados de Versalhes. Um aspecto que foi contemplado foi a necessidade de inclusão dos Estados pequenos. A Liga existiu de 1919 a 1946, com sede em Londres, embora em 1939 já não funcionasse. Seu período mais 10 importante foi entre 1925 a 1929. A entrada da Alemanha ocorreu em 1926, mas não contou com a participação de EUA e URSS (Silva; Culpi, 2016). Como pontos de sucesso da Liga, podemos mencionar as sanções aplicadas contra a Itália; o fato de a China ter sido autorizada a sancionar o Japão em represália à ocupação da Manchúria; a mediação para encerrar a Disputa entre Grécia e Bulgária em 1925; e o papel negociador nos seguintes conflitos: Suécia e Finlândia (1820); Grécia e Itália (1923) e Bolívia e Paraguai (1933). Além disso, a Liga desenvolveu um conjunto de técnicas para a conciliação entre as partes e, em 1939, expulsou a URSS, como reação à invasão da Finlândia. Com a criação da Liga ou Sociedade das Nações, a concepção universalista, manifestada pelo ex-presidente WW, apresentou resultados concretos. Porém, havia pontos controversos, como o fato de que a Carta da Liga das Nações não demonstrava a igualdade entre todos. Ademais, considera-se que a Liga fracassou, pois sua existência não evitou o conflito (a Segunda Guerra Mundial) ou a corrida armamentista entre as potências. Argumenta-se que o fracasso resultou do fato de os países só terem cumprido os tratados à risca quando consideravam mais benéficos para si, além do fato de os EUA, os idealizadores da Liga, não terem aderido à Sociedade das Nações. O sistema também não foi universal: 63 países fizeram parte dele e 17 deixaram a organização. A decisão de punir com o uso da força, em caso de ameaça à paz, situação que seria interpretada pelo Conselho de Segurança, nunca foi levada à cabo. Durante a sua existência, o mecanismo de balanço do poder reinou, pois foi o momento em que mais se estabeleceram pactos bilaterais e concretos entre Estados (Nogueira; Messari, 2005). Apesar de sua derrota e encerramento em 1939 com a eclosão da 2ª. Guerra, a Liga deu as bases para a ideia de organização universal para a paz e foi o embrião da criação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945. Com o insucesso da Liga o pensamento liberal demonstrou sinais de desgaste e gradativamente foi sendo substituído pelo paradigma realista, durante a Guerra Fria (Sarfati, 2003). FINALIZANDO Nesta aula, aprofundamos nossos conhecimentos sobre a Revolução Francesa e a Revolução Americana, que contribuíram para o avanço do liberalismo e do capitalismo. No segundo tema, conhecemos os aspectos centrais 11 do Império Napoleônico e as consequências do Congresso de Viena, que deu nova força às monarquias da época. Depois, estudamos os aspectos centrais da Revolução Industrial, que fizeram com que a Inglaterra se tornasse a grande potência mundial do período. No quarto tema, vimos os episódios que levaram à eclosão da Primeira Guerra Mundial. No quinto, tratamos dos elementos políticos referentes ao Período Entreguerras e da constituição da Liga das Nações, que visava impedir conflitos e consolidar o princípio da Segurança Coletiva. 12 REFERÊNCIAS BOBBIO, N. A era dos direitos. 15. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992. BRAUDEL, F. História e Ciências Sociais: a longa duração. In: _____. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1992. BURIGANA, R. A Grande Guerra: a Primeira Guerra Mundial (1914-2014) – Evento e Memória. História Unicap, v. 1, n. 1, jan./jun. de 2014. HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções: Europa 1789-1848. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. MARQUES, R. História semântica de um conceito: A influência inglesa do século XVII e norte-americana do século XVIII na construção do sentido de Constituição como paramount law. Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 43, n. 172, out./dez. 2006. MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 1998. NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais: correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. ODALIA, N. A liberdade como meta coletiva. In: PINSKY, J.; PINSKY, C. B. (Orgs.). História da Cidadania. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 159-169. SILVA, O. As grandes revoluções do século XVIII e o Iluminismo. Revista Científica Eletrônica da Pedagogia, ano XVII, n. 30, jan. 2018. SILVA, C. C. V.; CULPI, L. A. Teoria de Relações Internacionais: origens e desenvolvimento. Curitiba: Editora InterSaberes, 2017. SILVA, K. V.; SILVA. M. H. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2013. AULA 4 POLÍTICA INTERNACIONAL MODERNA E CONTEMPORÂNEA Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, iremos estudar as causas e as consequências da Segunda Guerra Mundial, a política do período entreguerras, quando ocorreu a criação da Liga das Nações. Depois, iremos entender a criação da ONU e do sistema de comércio constituídos no pós-Segunda Guerra. Na sequência, iremos verificar os resultados dos Acordos de Bretton Woods no pós-Segunda Guerra. No quarto item, conheceremos a questão do estabelecimento da hegemonia nos EUA no pós-Segunda Guerra Mundial. No quinto item, verificaremos a questão do reestabelecimento do colonialismo, sobretudo no continente africano, o chamado neocolonialismo. TEMA 1 – SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS A Segunda Guerra Mundial pode ser vista como continuidade da primeira, porque envolveu sobretudo as potências europeias, com causas e atores similares, incluindo as alianças. Houve uma pequena trégua entre as guerras, que foi como uma “paz armada” no entreguerras, marcada pela Grande Depressão de 1929. Por mais que houvesse uma certa continuidade, ela teve características diferenciadas em relação à Primeira Guerra Mundial, sobretudo pela questão da crise econômica e pelo surgimento da URSS, que detinha um poderio econômico e militar na década de 1930. Sendo assim, a Segunda Guerra Mundial não foi considerada uma decorrência natural da Primeira, sendo que a Segunda poderia ter sido evitada. Os massacres de vidas ocorreram nas duas guerras, porém, de modo mais cruel na Segunda Guerra Mundial, com muito mais baixas de civis, sobretudo com a prática de assassinato de judeus pelas autoridades alemãs nazistas, que marcou o Holocausto. De acordo com Salvadori (2001), “a Segunda Guerra Mundial foi, antes do mais, um retrocesso históricoda humanidade em seu conjunto”. Na Segunda Guerra Mundial, diferente do que ocorreu durante a Primeira Guerra, com a Revolução Russa, a revolução social a precedeu na Espanha e na França, contudo ela fracassou, não tendo impedido a ascensão de governos fascistas e totalitaristas, que foram os grandes responsáveis pela eclosão e desumanidade do conflito. 3 Na Segunda Guerra Mundial, sessenta milhões de soldados pegaram em armas, e entre 45 e 50 milhões de pessoas, a maioria civis, foram mortas como resultado direto dos combates. Aproximadamente 30 milhões de pessoas foram mortas de modo indireto, devido a fatores resultantes da guerra, como doenças, fome e epidemias. Sendo assim, foram computadas oito vezes mais vítimas do que na Primeira Guerra Mundial, em apenas seis anos. Podemos ressaltar que a história não havia jamais testemunhado um morticínio dessa proporção (Arrighi, 1996). Portanto, a Segunda Guerra Mundial é considerada o conflito militar mais sangrento do todos os tempos. Em 1939, no seu começo, quando ocorreram declarações mútuas de guerra entre as grandes potências europeias, muitos países já estavam em guerra, como a Etiópia e a Itália na segunda guerra ítalo- etíope, e China e Japão na segunda guerra sino-japonesa. Já a guerra civil espanhola (1936-1939) envolveu diretamente Itália e Alemanha no apoio ao golpe militar de Franco contra a República, sendo que isso provocou o início imediato da guerra mundial. É importante destacar que esse conflito mundial envolveu as mais longínquas regiões do planeta, nos mares e na terra, tendo vários países de outros continentes enviado exércitos para combater em solo europeu. Sobre as causas da guerra, podemos indicar a intensa rivalidade entre os impérios coloniais velhos e ricos: a Grã-Bretanha e a França, com o apoio dos EUA e URSS, contra Alemanha e Itália, com apoio Japonês. As causas da guerra eram também relacionadas à estrutura do sistema internacional, com o fracasso da Liga das Nações. A Segunda Guerra Mundial foi um conflito interimperialista e contrarrevolucionário, sendo que o desmonte da União Soviética visava interromper o processo revolucionário iniciado em 1917 (Ferro, 1995). O projeto geral do nazismo para Europa Oriental e a URSS previa as mortes de dezenas de milhões de membros das raças consideradas inferiores (eslavos, principalmente, sem falar do total extermínio dos judeus, que eram uma numerosa minoria no Leste europeu), pela via da fome, para transformar esses imensos territórios em zonas de colonização pela Alemanha da raça ariana que era considerada por eles uma raça superior. Na Europa Oriental, os deslocamentos de pessoas realizados pelos governos de Hitler e Stalin entre 1939 e 1943 afetaram trinta milhões de pessoas, com muitas mortes. A execução dos planos de extermínio massivo dos nazistas 4 por meio da fome, que acabaram por ser impraticáveis, teria provocado um morticínio ainda maior do que o que ocorreu: “entre 1939 e 1942 dezenas de milhões de homens, mulheres e crianças foram tirados de suas casas; à deportação para o extermínio e para o trabalho deve-se acrescentar a deportação para reassentamento” (Arrighi, 1996). Assim, muitas pessoas morreram nos campos de concentração criados pelos nazistas TEMA 2 – FIM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, A CRIAÇÃO DA ONU E DO GATT Após o fim da Segunda Guerra Mundial, havia a necessidade de reorganizar a geopolítica mundial e global. Para tanto, foi criado um organismo que buscava assegurar a paz, que é a Organização das Nações Unidas – ONU (Arrighi, 1996). A ONU é uma organização criada em 1945 após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o intuito de promover a paz e a segurança internacional. É considerada o fórum mais importante para gerar normas e preservar valores internacionais, contudo, é considerada ineficaz em seus propósitos maiores, já que não consegue impedir que os Estados ajam de maneira unilateral (Culpi, 2016). Um dos objetivos da Carta da ONU é garantir a harmonização das condutas das nações, tornando-se importante espaço de troca de experiência entre os Estados membros. Dentre os principais exemplos disso podemos citar a questão dos princípios de direitos humanos consagrados pela ONU com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e respeitados pelos países (Culpi, 2016). Os acontecimentos que levaram à criação da ONU foram os seguintes: A Carta do Atlântico (EUA e Reino Unido), em 1941, ainda antes do fim da Segunda Guerra; Conferência de Washington de 1942 (26 países), em que foi assinada a Declaração das Nações Unidas; Conferência de Moscou de 1943, quando pela primeira vez se mencionou a necessidade da criação de um organismo internacional para garantir a paz; 5 Em 1944, ocorre o encontro de Dumbarton Oaks, em que foi criado o anteprojeto da ONU por URSS, EUA, China e Reino Unido; Em abril de 1945, a Conferência de Yalta, que põe fim definitivo a Segunda Guerra Mundial; Em junho de 1945, a Conferência de São Francisco, entre 50 países, em que finalmente é criada a ONU, com a Assinatura da Carta de São Francisco. Nesse encontro foi dada atenção ao papel especial das grandes potências na ONU, com a determinação do direito ao veto. Defendeu-se que a ação coletiva só deve acontecer quando há unanimidade entre as potências. Ainda foi acordado que a nova organização precisava de instrumentos de coação mais eficazes e, desse modo, as resoluções do Conselho de Segurança se tornaram obrigatórias. O Conselho de Segurança passou a deter amplo poder para julgar o que é uma ameaça à paz. O art. 42 da Carta prevê uso da força em última instância (Silva; Culpi, 2017). No que tange ao comércio, foi estabelecida, na segunda fase da globalização, uma estrutura comercial cujos acordos entre Estados baseavam-se na gradativa eliminação das barreias ao comércio. Em 1947, foi criado o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), uma organização internacional com 23 países e que hoje conta com mais de uma centena de países. Desse modo, a liberalização do comércio internacional não pode ser vista como um processo linear, pois desde o estabelecimento do GATT até a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1994, se passaram quase cinquenta anos e foram realizadas uma série de Rodadas Comerciais (Culpi, 2016). TEMA 3 – ACORDO DE BRETTON WOODS E SUAS INSTITUIÇÕES: FMI E BANCO MUNDIAL Podemos assinalar que a Segunda Fase da globalização ocorreu após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a assinatura dos acordos de Bretton Woods. Depois da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se encontram em posição privilegiada por se tornarem fornecedores de produtos e investimentos para os países europeus devastados pela guerra. O fim da Segunda Guerra Mundial foi ainda mais crucial para os Estados Unidos, que se tornaram os grandes patrocinadores financeiros da recuperação da Europa, com o estabelecimento do 6 Plano Marshall. No entreguerras, houve criação de sistemas comerciais preferenciais, contudo o nacionalismo preponderava (Culpi, 2016). A liberalização comercial, que deu início à segunda fase da globalização, foi possível a partir da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos se tornaram o líder hegemônico. Uma análise do fim desse confronto demonstra que os acordos de Bretton Woods garantiram uma reorganização do sistema internacional que promoveu um período de intensa prosperidade ao capitalismo, que durou até a década de 1990 e ficou conhecida como a Era de Ouro do capitalismo. Na reunião Bretton Woods, que ocorreu em 1946, foram firmadas normas e criadas instituições que asseguraram uma organização ao sistema financeiro internacional com capacidade de contornar as restrições impostas pelos elementos do sistema anterior. O acordo de Bretton Woods baseava-se em três
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