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Psicopatia e Identificação de Expressões Faciais Emocionais

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799 
 
PSICOPATIA E IDENTIFICAÇÃO DE EXPRESSÕES FACIAIS 
EMOCIONAIS 
 
Caio Fernando de Carvalho1 
Caroline de Cássia Francisco Buosi Velasco 2 
 
Resumo: O presente artigo buscou investigar as capacidades dos psicopatas no reconhecimento de 
expressões faciais de emoções básicas (alegria, surpresa, medo, nojo, raiva e tristeza), buscando 
identificar se há alguma diferença entre eles e os indivíduos que não tem esse diagnóstico. Isso se 
torna relevante, pois entender como psicopatas reconhecem emoções expressas pela face pode se 
mostrar uma valiosa ferramenta complementar no diagnóstico desse transtorno, o que poderia tornar 
mais fácil o acesso a tratamento para psicopatas encarcerados. Para tanto, foi realizada uma pesquisa 
bibliográfica em diversas bases indexadoras para levantamento desses estudos. Concluiu-se que a 
maioria dos estudos revisados aponta um déficit dos psicopatas no reconhecimento do medo e tristeza, 
além de alguns artigos citarem outras emoções ou até mesmo a ausência de déficits em psicopatas 
comparados a não psicopatas. Foram levantadas hipóteses sobre a influência de algumas regiões 
cerebrais, como o córtex pré-frontal ventromedial, na presença de resultados tão distintos nos 
diferentes estudos. Esses contrastes também foram explicados através das diferenças metodológicas 
entre as pesquisas. 
 
Palavras-chave: Expressões Faciais de Emoções. Psicopatia. Funcionamento 
Cerebral. 
 
 
1 Introdução 
A temática da universalidade das expressões faciais emocionais foi objeto de 
debate na comunidade científica durante muitas décadas. Um consenso sobre essa 
questão só foi atingido após a pesquisa de Ekman e Friesen (1971) com os membros 
da tribo “Fore” de Papua-Nova Guiné, a qual havia tido um contato ínfimo com a 
cultura ocidental, que conseguiram identificar emoções da mesma forma que pessoas 
de todo o mundo. 
A partir de então, diversos outros estudos foram realizados buscando 
compreender as capacidades de identificação das expressões faciais das seis 
emoções básicas (alegria, surpresa, medo, nojo, raiva e tristeza) em indivíduos com 
 
1 Acadêmico do curso de Psicologia da UNIVEL – Centro Universitário UNIVEL. E-mail: 
caio_fernando.2002@outlook.com. 
2 Professora do curso de Direito e de Psicologia da UNIVEL – Centro Universitário UNIVEL. Doutora 
em Psicologia Experimental PUC/SP e Mestre em Direito pela UFPR. Psicóloga e bacharel em 
Direito. Email: carolinebuosi@univel.br 
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diferentes diagnósticos, como por exemplo, esquizofrenia (MANDAL, PANDEY e 
PRASAD, 1998), autismo (HARMS, MARTIN e WALLACE, 2010; CASTELLI, 2005) e 
diferentes lesões cerebrais (ADOLPHS et al., 1996). O mesmo foi feito com indivíduos 
psicopatas, dando origens a teorias divergentes sobre as capacidades dessa 
população no reconhecimento das emoções expressas pela face. 
De maneira semelhante, o presente artigo visou investigar se indivíduos 
psicopatas apresentam a mesma capacidade de um indivíduo sem esse diagnóstico 
na identificação de expressões faciais emocionais. 
Esta pesquisa demonstra sua importância cientifica quando se observa a 
dificuldade existente no diagnóstico do psicopata, de modo que uma maior 
compreensão da capacidade de processamento de emoções expressas facialmente 
pode se mostrar como um complemento para os métodos de diagnósticos já 
existentes. Essa melhoria no diagnóstico poderia aperfeiçoar o sistema prisional 
brasileiro, facilitando o acesso do psicopata ao tratamento e a uma possível 
reabilitação. A nível pessoal, o presente artigo é motivo de extrema satisfação para 
estes pesquisadores, uma vez que as expressões faciais de emoções foram um dos 
primeiros contatos de um destes com a psicologia. 
A metodologia do presente artigo consistiu em pesquisa bibliográfica em 
diversas bases indexadoras, bem como pesquisa exploratória, uma vez que esta é 
ainda uma pesquisa inicial sobre essa temática e que pode ser bastante aprofundada 
com outros estudos. 
 
 
2 Desenvolvimento 
Os próximos subcapítulos trazem uma revisão bibliográfica a respeito das 
capacidades de psicopatas no reconhecimento de expressões faciais emocionais. 
Serão apresentadas algumas estruturas cerebrais responsáveis pelo processamento 
das informações emocionais expressas pela face, relacionando-as com as alterações 
cerebrais observadas em psicopatas. Em seguida as informações encontradas nessa 
etapa da pesquisa serão comparadas às principais teorias sobre esse aspecto da 
cognição social dos psicopatas. 
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2.1 Estruturas cerebrais envolvidas no reconhecimento de expressões faciais 
de emoções 
Adolphs et al. (1996) realizaram testes com pacientes portadores de diferentes 
lesões em ambos os hemisférios cerebrais e concluíram que lesões no hemisfério 
esquerdo não causavam nenhum prejuízo no reconhecimento das expressões faciais 
emocionais. Em contrapartida, lesões diversas no hemisfério direito causavam déficits 
no reconhecimento de diferentes emoções. 
Constatou-se que duas regiões corticais estavam fortemente relacionadas a 
deficiências na identificação de expressões faciais de medo: o córtex parietal inferior 
direito, e a superfície medial do córtex infracalcarino direito (ADOLPHS et al., 1996). 
Outra região profundamente associada à detecção do medo é o lobo temporal anterior 
direito (ADOLPHS et al., 2000). 
A amígdala esquerda e os giros temporais inferior e médio apresentam 
respostas a expressões faciais de tristeza. Estímulos faciais de raiva geram respostas 
no córtex orbitofrontal direito. Já o córtex cingulado anterior e o polo temporal direito 
são ativados tanto por faces de raiva quanto de tristeza (BLAIR et al., 1999). Pacientes 
com lesões na amígdala também têm prejuízos no reconhecimento de expressões 
faciais de medo (ADOLPHS et al., 1994 apud BLAIR et al., 1999; CALDER et al., 1996 
apud BLAIR et al., 1999; BROKS et al., 1998 apud BLAIR et al., 1999). 
Segundo Phillips et al. (1997 apud ADOLPHS, TRANEL e DAMASIO, 2003), 
regiões do córtex insular são ativadas quando uma expressão facial de nojo é 
identificada. Além disso, lesões na ínsula causam deficiências na experiência e na 
detecção do nojo, o que sugere que essa área esteja fortemente vinculada ao 
processamento de expressões faciais emocionais de nojo (CALDER et al., 2000 apud 
ADOLPHS, TRANEL e DAMASIO, 2003). Embora os gânglios da base não tenham 
apresentado ativação em pessoas sendo expostas a expressões faciais de nojo 
durante exames de imagem por ressonância magnética (PHILLIPS et al., 1997 apud 
BLAIR et al., 1999), pacientes acometidos pela doença de Huntington, que danifica os 
gânglios da base, também sofrem déficits no reconhecimento do nojo 
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(SPRENGELMEYER et al., 1996 apud BLAIR et al., 1999; GRAY et al., 1997 apud 
BLAIR et al., 1999). 
Noestudo de Adolphs et al. (1996) nenhum dos pacientes com lesões cerebrais 
apresentou qualquer deficiência no reconhecimento de expressões faciais de alegria. 
No entanto, a região do sulco do cíngulo apresenta atividade durante o 
reconhecimento de expressões de alegria (KESLER-WEST et al., 2001 apud BATTY 
e TAYLOR, 2003; PHILLIPS et al., 1998 apud BATTY e TAYLOR, 2003). 
Uma última região relevante é o córtex pré-frontal ventromedial. Danos a essa 
estrutura estão relacionados a prejuízos no reconhecimento de expressões faciais de 
emoções (HORNAK et al., 2003 apud WOLF et al., 2014; HEBERLEIN et al., 2008 
apud WOLF et al., 2014; TSUCHIDA e FELLOWS, 2012 apud WOLF et al., 2014). 
Constatou-se que pacientes com lesões nessa estrutura apresentam menor fixação 
nos olhos de pessoas durante o reconhecimento de expressões faciais de emoções 
em relação a indivíduos saudáveis ou com lesões em outras regiões do cérebro. Essa 
menor fixação nos olhos foi detectada com maior intensidade principalmente durante 
reconhecimento de expressões de medo. Resultados semelhantes foram obtidos 
durante o reconhecimento de faces neutras e de nojo (WOLF et al., 2014). 
Apesar de todas as estruturas acima citadas participarem do reconhecimento 
de expressões faciais emocionais, é importante ressaltar que elas não são as únicas 
envolvidas no processo. “Reconhecer uma emoção a partir de estímulos envolve 
múltiplos processos cognitivos, dependendo das demandas e restrições da tarefa 
utilizada para avaliar esse reconhecimento” (ADOLPHS et al., 2000, p. 2688, tradução 
nossa), de forma que as interações entre diferentes regiões do cérebro durante a 
identificação de expressões faciais de emoções são altamente complexas. 
 
2.2 Alterações no funcionamento e nas estruturas cerebrais de psicopatas em 
relação a não psicopatas 
Primeiramente, se faz necessário diferenciar psicopatas “bem sucedidos” de 
psicopatas “mal sucedidos”: segundo Widom (1978 apud YANG et al., 2010), os mal 
sucedidos são aqueles que possuem um histórico de crimes, enquanto os bem 
sucedidos não apresentam nenhuma condenação criminal. 
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De acordo com Raine et al. (2004 apud YANG et al., 2010), psicopatas mal 
sucedidos apresentam uma grande assimetria no hipocampo, o que não acontece 
com psicopatas bem sucedidos ou não psicopatas. O hipocampo é altamente 
conectado com o córtex pré-frontal e com a amígdala (LAAKSO et al., apud GLENN e 
RAINE, 2008), estruturas que, como citado anteriormente, são intimamente 
relacionadas ao reconhecimento de expressões faciais emocionais. 
Psicopatas mal sucedidos apresentam uma diminuição na espessura e no 
volume de substância cinzenta nos córtices orbitofrontal e frontal médio em relação a 
indivíduos em esse diagnóstico. Eles também possuem uma diminuição bilateral no 
volume da amígdala em relação a não psicopatas. Nenhuma deficiência no córtex pré-
frontal ou na amígdala é apresentada por psicopatas bem sucedidos em relação a 
indivíduos normais (YANG et al., 2010). 
Ademais, o córtex orbitofrontal apresenta uma ativação menor em psicopatas 
durante condicionamento do medo (VIET et al., 2002 apud GLENN e RAINE, 2008; 
BIRBAUMER et al., 2005 apud GLENN e RAINE, 2008). A amígdala também tem uma 
menor ativação diante de estímulos emocionais em detentos psicopatas do que em 
indivíduos normais (KIEHL et al., 2001 apud GLENN e RAINE, 2008). As disfunções 
apresentadas na amígdala podem ser responsáveis por uma deficiência no 
reconhecimento de expressões faciais de tristeza e medo, enquanto as anomalias no 
córtex orbitofrontal podem causar prejuízos na identificação de expressões de raiva. 
No entanto, alguns estudos indicam que, durante a realização de tarefas 
emocionais, áreas cognitivas superiores do cérebro de psicopatas, como o córtex pré-
frontal dorsolateral, apresentam um aumento na ativação (KIEHL et al., 2001 apud 
GLENN e RAINE, 2008; RILLING et al., 2007 apud GLENN e RAINE, 2008; GORDON, 
2004 apud GLENN e RAINE, 2008; INTRATOR et al., 1997 apud GLENN e RAINE, 
2008), o que sugere a possibilidade de que psicopatas usem mais recursos cognitivos 
no processamento de informações emocionais do que outros indivíduos (KIEHL et al., 
2001 apud GLENN e RAINE, 2008). Isso significa que o processamento apropriado 
desse tipo de informação na psicopatia necessita de um componente racional, não 
dependendo somente de processos cerebrais involuntários. 
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Em um estudo com detentos psicopatas e não psicopatas, Motzkin et al. (2011) 
concluíram que, quanto maior o grau de psicopatia de um sujeito, menor a integridade 
estrutural de seu fascículo uncinado direito, uma conexão de substância branca 
existente entre o córtex pré-frontal ventromedial e o lobo temporal anterior. Além 
disso, foi observada uma menor conectividade entre o córtex pré-frontal ventromedial 
e a amígdala. Como tanto a amígdala quanto o lobo temporal anterior direito 
apresentam ativação durante o reconhecimento de expressões faciais de medo, além 
de o último também atuar na detecção de raiva e tristeza (ADOLPHS et al., 2000; 
BLAIR et al., 1999), é possível inferir que a psicopatia esteja relacionada a déficits no 
reconhecimento dessas emoções, devido à fragilidade da conexão entre essas 
regiões. 
É importante destacar que as diferenças nos cérebros de psicopatas e 
indivíduos sem esse diagnóstico não se limitam às estruturas apresentadas acima. 
 
Está se tornando cada vez mais claro que o entendimento da neurobiologia 
da psicopatia vai muito além de identificar regiões do cérebro que possam 
estar envolvidas. Genética, neurotransmissores e hormônios impactam o 
funcionamento das estruturas cerebrais e a conectividade entre elas. Em 
pesquisas futuras será importante identificar como esses sistemas trabalham 
juntos para produzir a compilação única de traços e comportamentos 
característicos da psicopatia (GLENN e RAINE, 2008, n.p., tradução nossa). 
 
Dessa forma, possíveis diferenças no reconhecimento de expressões faciais 
emocionais na psicopatia podem estar relacionadas a fatores que não se limitam a 
diferenças em estruturas cerebrais. 
 
2.3 O reconhecimento de expressões faciais emocionais por psicopatas: 
estudos divergentes e diferenças metodológicas 
Os resultados encontrados em estudos realizados com psicopatas são bastante 
divergentes. Dolan e Fullam (2006) concluíram, após comparar as performances de 
presidiários não psicopatas e psicopatas no reconhecimento de expressões faciais 
das seis emoções básicas, que os últimos apresentam um déficit na detecção de 
tristeza. 
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Blair e Coles (2000, apud VASCONCELLOS et al., 2014) e Blair et al. (2001) 
encontraram deficiências no reconhecimento de expressões de tristeza e medo em 
crianças com tendências psicopáticas. Na pesquisa de Blair et al. (2001), os sujeitos 
eram expostos à uma espécie de animação composta de 21 fotografias representando 
uma mesma expressão facial em diferentes intensidades, de forma que uma fotografia 
era substituída por outra mais intensa a cada três segundos. A primeira fotografiaexibia uma expressão neutra, enquanto a última exibia a emoção com 100% de 
intensidade. Os sujeitos eram instruídos a informar a emoção apresentada assim que 
a reconhecessem, sem, no entanto, tentarem adivinhar. 
A pesquisa Blair et al. (2004 apud GLASS e NEWMAN, 2006), que se valeu de 
uma metodologia semelhante, recebeu algumas críticas. 
 
Pelo fato de a tarefa exigir que os participantes criassem hipóteses e então 
as modificassem enquanto a face continuava a se transformar, o 
desempenho pode ter dependido de uma habilidade de avaliar e modificar 
hipóteses referentes a expressões afetivas particulares (GLASS e NEWMAN, 
2006, p. 819, tradução nossa). 
 
Tentando superar esse problema metodológico, Glass e Newman (2006) 
desenvolveram uma tarefa de duas etapas. Na etapa de identificação, o participante 
deveria dizer, dentre um conjunto de quatro faces, a emoção representada por uma 
face designada por um número. Já na etapa de localização, uma palavra relacionada 
a uma emoção era exibida antes do conjunto de quatro faces, e o indivíduo deveria 
dizer qual face era relacionada à palavra dada. 
Após submeterem presidiários psicopatas a esses testes, Glass e Newman 
(2006) concluíram que nenhum prejuízo no reconhecimento de expressões faciais 
emocionais era encontrado em psicopatas em relação ao grupo de controle. 
Kosson et al. (2002) também fizeram experimentos com psicopatas 
encarcerados. Os sujeitos foram expostos a imagens de homens e mulheres 
apresentando expressões faciais de emoções. As imagens eram exibidas por um 
segundo. Após isso, os participantes tinham 2,5 segundos para determinar a emoção 
exibida, apertando teclas de um teclado relacionadas à emoção detectada. Cada 
indivíduo foi exposto a 30 imagens, cinco de cada emoção básica. 
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Foram reconhecidos prejuízos na percepção do nojo por psicopatas em relação 
ao grupo de controle. Além disso, constatou-se que psicopatas haviam se saído 
melhor do que não psicopatas no reconhecimento da raiva, principalmente quando 
dispuseram de alguma forma do hemisfério esquerdo do cérebro para realizar a tarefa, 
como responder com a mão direita, por exemplo. Segundo Kosson et al. (2002), esse 
resultado indica que a classificação de raiva dos psicopatas utiliza mais recursos do 
hemisfério esquerdo do que em não psicopatas. Essa conclusão se alinha com 
estudos que sugerem uma maior ativação do hemisfério esquerdo relacionada à raiva 
(HARMON-JONES e ALLEN, 1998 apud KOSSON et al., 2002; HARMON-JONES e 
SIGELMAN, 2001 apud KOSSON et al., 2002). 
Em uma revisão de literatura feita por Vasconcellos et al. (2014), nove dos 17 
artigos revisados, incluindo Blair et al. (2001), concluíram que traços antissociais 
estavam relacionados a deficiências no reconhecimento de medo. Ainda, cinco desses 
artigos, incluindo Blair et al. (2001), descreveram prejuízos na percepção de tristeza; 
três apontaram um desempenho pior no reconhecimento geral das emoções, sendo 
que em um deles não foi encontrada nenhuma diferença entre detentos psicopatas e 
não psicopatas; dois relataram déficits na detecção de nojo, incluindo Kosson et al. 
(2002); e um associou traços antissociais à atribuição de raiva a faces neutras. Por 
fim, um não encontrou diferenças nos desempenhos de psicopatas e não psicopatas 
(GLASS e NEWMAN, 2006). 
Vasconcellos et al. (2014) apontam que resultados tão divergentes podem 
derivar dos métodos bastante distintos utilizados por cada grupo de pesquisadores. 
Por exemplo, o tempo de exposição aos estímulos variou em boa parte dos estudos, 
sendo que, de acordo com Schyns, Petro e Smith (2009), um tempo de 200 ms é 
necessário e suficiente para a identificação de um estímulo de expressão facial (apud 
VASCONCELLOS et al., 2014). 
 
 
3 Conclusão 
Embora a universalidade das expressões faciais emocionais seja um consenso 
há relativamente pouco tempo, existe uma literatura vasta sobre o tema. Contudo, 
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segundo Dolan e Fullam (2006), no que tange às capacidades de psicopatas no 
reconhecimento dessas expressões, apenas alguns grupos de pesquisadores 
publicam a maioria dos estudos sobre o assunto, o que pode acarretar um viés 
inconsciente nos resultados. 
É possível destacar três problemas relacionados aos métodos utilizados na 
maioria das pesquisas: o tempo de exposição aos estímulos não é padronizado, sendo 
que um tempo de 200 ms seria ideal (SCHYNS, PETRO e SMITH, 2009 apud 
VASCONCELLOS et al., 2014); a grande maioria dos estudos conta apenas com 
psicopatas mal sucedidos, o que pode influenciar na precisão dos resultados, uma vez 
que psicopatas bem sucedidos e mal sucedidos apresentam diferenças cerebrais 
entre si; e poucos estudos contam com mulheres psicopatas em suas amostras, o que 
pode afetar as conclusões, uma vez que mulheres parecem ter uma maior precisão 
no reconhecimento de expressões faciais de emoções do que homens (EKMAN, 2006 
apud VASCONCELLOS et al., 2014). 
Apesar das ressalvas feitas acima, os estudos atuais indicam que boa parte 
dos materiais analisados demonstra psicopatas possuem um déficit no 
reconhecimento de medo e tristeza. Essas conclusões coincidem com as diferenças 
cerebrais encontradas em psicopatas em relação a indivíduos normais. 
Contudo, os estudos de Glass e Newman (2006) e Kosson et al. (2002) trazem 
resultados inesperados. O primeiro não apresenta diferenças no processamento de 
expressões faciais emocionais entre psicopatas e indivíduos normais, enquanto o 
segundo aponta déficits na detecção de nojo. Esses achados podem decorrer da 
menor conectividade entre o córtex pré-frontal ventromedial, que articula a atenção 
durante a tarefa do reconhecimento das expressões faciais, e outras regiões cerebrais 
responsáveis pela detecção de emoções específicas. 
Por fim, cabe destacar que é primordial que novas pesquisas acerca desse 
aspecto da cognição social dos psicopatas sejam realizadas, visto que um consenso 
sobre esse assunto ainda não foi alcançado. Fatores como maiores amostras de 
indivíduos e comparação entre psicopatas bem sucedidos e mal sucedidos são 
imprescindíveis para estudos futuros, bem com um melhor entendimento das 
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estruturas cerebrais relacionadas ao processamento das expressões faciais de 
emoções. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ADOLPHS, R. et al. Cortical Systems for the Recognition of Emotion in Facial Expressions. 
Journal of Neuroscience, v. 16, n. 23, p. 7678-7687, 1 de dezembro de 1996. Disponível 
em: <http://www.jneurosci.org/content/16/23/7678>. Acesso em 10 mai. 2019. 
 
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