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manifestacao _prescricao _art _28_lei_11343 (1)

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EXMA. SRA. DRA. JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE ILHÉUS-BA.
Ref. Proc. nº XXXXXX 
Trata-se de Procedimento de Apuração de Ato Infracional instaurado em face do adolescente XXXXXX, pela prática de ato infracional análogo àquele disposto no art. 28 da Lei 11.343/06.
Da análise detida dos autos, observa-se que o fato supostamente ocorreu em 28 de janeiro de 2018, sendo a Representação recebida em 07 de fevereiro de 2018.
Apesar do viés pedagógico das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, indiscutível que também possuem uma conotação punitiva, com o fito de demonstrar ao adolescente em desacordo com a lei que aquela conduta não é aceita pela sociedade.
Agir com rapidez é pressuposto de eficácia para qualquer medida de caráter pedagógico. A própria Constituição Federal estabelece no art. 227, § 3º, inc. V que o direito à proteção especial abrangerá a obediência aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa de liberdade. Também, o ECA dispõe, no inc. VI do par. único do art. 100 que a intervenção deve ser precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada tão logo que a situação de perigo seja conhecida.
O tempo para pessoas em desenvolvimento (crianças e adolescentes) é bastante distinto em relação a adultos. Isso tem que ser levado em conta na aplicação das medidas. Até mesmo os mandados de busca e apreensão têm prazo de validade determinado, conforme art. 47 da Lei n.º 12.594/12.
Portanto, indiscutível que o exercício desta pretensão pedagógico-punitiva está condicionada à prescrição. Em relação a isto, já há entendimento sumulado no Superior Tribunal de Justiça (n. ° 338), cujo verbete se extrai:
A prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas.
A forma de calcular a prescrição não está prevista no Estatuto e decorre de construção jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.
O STJ, em regra, não se utiliza dos prazos estabelecidos para os crimes nas leis penais. Ou seja, não são levadas em consideração as penas máximas em abstrato. A Corte, em não havendo aplicação de prazo máximo de sujeição, se vale da tabela de contagem de prazos da parte geral do Código Penal (art. 109), com o tempo máximo de cumprimento da medida socioeducativa de internação previsto no estatuto.
Assim, levando-se em conta que o tempo máximo de internação é de 03 (três) anos (§ 3º do art. 121 do ECA), utilizando-se do artigo 109 do Código Penal, tem-se que a pretensão punitiva/socioeducativa do estado deveria ser exercitada em 08 (oito) anos. Ocorre que, tratando-se de indivíduos com idade inferior a 21 (vinte e um) anos, deve ser aplicada a redução prevista no art. 115 do CP. Portanto, reduzido o prazo à metade, tem-se que a prescrição seria de 04 (quatro) anos. Repisa-se, para as hipóteses de ausência de aplicação de prazo fixo. 
Entrementes, em obediência ao princípio da proporcionalidade, o STJ entende que, sendo fixado o prazo para aplicação da medida socioeducativa ou se, para o crime análogo, a pena cominada for igual ou inferior a dois anos, deve-se considerar tais parâmetros. Caso dos autos. 
O crime análogo em testilha prescreve em dois anos (art. 30 da Lei 11.343/2006). Ademais o dispositivo da legislação especial (art. 28 da Lei 11.343/2006) não prevê aplicação de pena privativa de liberdade, tampouco prisão em flagrante, da pessoa imputável. Forçoso, portanto, concluir, precipuamente à vista dos autos, que desproporcional seria a aplicação da medida extrema de internação e, por conseguinte, o prazo prescricional de 04 (quatro) anos conforme explanado alhures.
Colaciona-se trecho de jurisprudência relacionada:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL. APLICAÇÃO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA SEM TERMO FINAL. ALEGADA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO SOCIOEDUCATIVA. NÃO OCORRÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. - O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. - Nos termos do enunciado n. 338 da Súmula do STJ, "a prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas". Diante disso, a jurisprudência desta Corte firmou o entendimento de que, uma vez aplicada medida socioeducativa sem termo final, deve ser considerado o período máximo de 3 anos de duração da medida de internação, previsto no art. 121, § 3º, do ECA, para o cálculo do prazo prescricional da pretensão socioeducativa. - Aplicando-se, por analogia, o prazo do art. 109, IV, do CP, que é de oito anos, reduzido pela metade, nos termos do art. 115, do mesmo diploma legal, o prazo prescricional consolida-se em 4 anos. - Os ora pacientes, em decorrência da prática de ato infracional análogo ao crime de estupro de vulnerável, tiveram a representação recebida em 11/12/2012 e a sentença foi proferida em 16/12/2014. Não evidenciada, portanto, a alegada prescrição da pretensão socioeducativa. - Habeas corpus não conhecido. (HC 340073, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 15/02/2016) Grifou-se.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. APLICAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA PELO PRAZO MÍNIMO DE 6 (SEIS) MESES. ATOS INFRACIONAIS EQUIPARADOS AOS DELITOS DE TRÁFICO DE DROGAS E RESPECTIVA ASSOCIAÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL DA PRETENSÃO SOCIOEDUCATIVA. 4 (QUATRO) ANOS. NÃO OCORRÊNCIA. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. É imperiosa a necessidade de racionalização do habeas corpus, a bem de se prestigiar a lógica do sistema recursal. 2. As hipóteses de cabimento do writ são restritas, não se admitindo que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao recurso cabível, vale dizer, o ordinário em habeas corpus. 3. No caso em que a medida socioeducativa tenha sido estabelecida sem termo final, ou seja, apenas com prazo mínimo de aplicação, impreterível considerar o prazo limite da medida de internação (3 anos - art. 121, § 3.°, do ECA) para o cálculo de prescrição da pretensão socioeducativa. (Precedentes). 4. O critério albergado por esta Corte para a aferição da prescrição da pretensão socioeducativa consiste na consideração da pena máxima prevista para o crime análogo ao ato infracional praticado, na medida em que o quantum de pena seja inferior ao prazo de internação, que é de três anos. In casu, tendo em vista que as penas máximas referentes aos crimes análogos aos atos infracionais superam o prazo de internação (3 anos), deve-se aplicar o art. 109, IV, do Código Penal, que estipula o prazo prescricional de 8 (oito) anos. Todavia, em razão da incidência da causa de diminuição do art. 115 do CP, o prazo prescricional consolida-se em 4 (quatro) anos. Portanto, diante da data do fato (22.5.2010) e do recebimento da representação (23.6.2010) até a publicação da sentença (16.9.2011), verifica-se que não se passaram mais de 4 (quatro) anos, contexto que não revela a incidência do instituto da prescrição. 5. Habeas corpus não conhecido. (HC n. 235.511/MG, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 1/3/2013) No caso do crime do art. 28 da Lei de Drogas, há previsão específica, contida no art. 30 da mesma Lei, estabelecendo o prazo prescricional de 2 anos para a imposição e execução das reprimendas. Sendo assim, a prescrição ocorre em 2 anos (art. 30, da Lei 11.343/06), reduzido pela metade (art. 115, do Código Penal), em razão da menoridade do réu, isto é, para 1 ano, lapso transcorrido entre o último marco interruptivo da prescrição, consistente da publicaçãoda sentença, em 06/02/2012 (fl. 04), e a presente data. Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial para declarar extinta a punibilidade do recorrente pela ocorrência da prescrição da pretensão socioeducativa, com fundamento no art. 107 IV, do Código Penal c/c os arts. 30, da Lei 11.343/06, e 115 do Código Penal. Grifou-se.
No caso em tela, considerando o marco interruptivo concernente ao recebimento da representação (07/02/2018) e o prazo prescricional a ser aplicado, qual seja o de dois anos, reduzido da metade ante a regra do art. 115 do CP, afigura-se perdida a pretensão socioeducativa do Estado. 
Dessa forma, é de ser declarada a perda da PRETENSÃO SOCIOEDUCATIVA, determinando-se, por via de consequência, o arquivamento destes autos, como se requer na oportunidade.
Ilhéus/BA, 05 de novembro de 2019.
Maria Amélia Sampaio Góes
Promotora de Justiça

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