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CASO PRÁTICO – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE O governo brasileiro, preocupado com os índices crescentes de ataques terroristas no mundo, vinculou-se à Convenção sobre os Direitos Humanos das Vítimas de Atividades Terroristas, convenção internacional, de âmbito multilateral, que estabelece restrições aos direitos dos presos condenados por crimes resultantes de atividades terroristas. O Presidente da República assinou o tratado e o enviou ao Congresso Nacional, conforme disposição do art. 49, I, da Constituição Federal, e não de acordo com o §3º do Art. 5º dessa Carta, e, em poucos meses, o Congresso Nacional aprovou o texto do tratado na forma de decreto legislativo. Após isso, o Presidente da República editou decreto promulgando e ratificando o tratado. Já estando internamente em vigor o referido decreto, percebeu-se que vários juízes, em todo o território nacional, aplicavam plenamente o art. 22 do tratado, no qual se lê: “as presas condenadas por crimes resultantes de atividades de terrorismo, logo após darem à luz, deverão deixar seus filhos sob a responsabilidade de entidade pública de assistência social até que cumpram integralmente a pena. Visando a impossibilitar, de algum modo, a aplicação do referido artigo, sob o argumento de sua inconstitucionalidade, o presidente de um partido político com representação no Congresso Nacional procurou, em nome do partido, os serviços advocatícios de um(a) profissional, pretendendo uma solução urgente e uniforme para o caso, de modo que, com apenas uma ação, seja alcançado efeito para todos os indivíduos no território brasileiro. Na qualidade de advogado(a) contratado(a) pelo partido político mencionado nessa situação hipotética, redija a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), atentando, necessariamente para os seguintes aspectos: a) competência do órgão julgador; b) legitimidade ativa; c) fundamentação jurídica; d) argumentos a favor da inconstitucionalidade do mencionado art.22; e) requisitos formais da peça judicial proposta. EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARTIDO POLÍTICO, com representação no Congresso Nacional, pessoa jurídica de direito privado, por seu Diretório Nacional, inscrito no CNPJ sob o nº..., com sede na Rua..., nº..., bairro..., cidade..., UF, CEP..., por seu advogado (instrumento procuratório anexo), com escritório profissional na Rua..., onde receberá as comunicações processuais (art. 77, V, CPC), vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 102, I, “a” da Constituição Federal e Lei 9869/99, propor AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE em face do art. 22 da Convenção sobre os Direitos Humanos das Vítimas de Atividades Terroristas, que foi ratificada e internalizada pelo Presidente da República e pelo Congresso Nacional por meio do Decreto..., pelos motivos a seguir expostos. I – DO OBJETO DA AÇÃO O governo brasileiro, preocupado com os índices crescentes de ataques terroristas no mundo, vinculou-se à Convenção sobre os Direitos Humanos das Vítimas de Ataques Terroristas, convenção internacional, de âmbito multilateral, que estabelece restrições aos direitos dos presos condenados por crimes resultantes de atividades terroristas. O Presidente da República, após assinar o tratado, o enviou ao Congresso Nacional, que aprovou o texto do tratado na forma de decreto legislativo. Na sequência o Presidente da República editou decreto promulgando e ratificando referido tratado. O art. 22 do tratado preceitua que: “as presas condenadas por crimes resultantes de atividades de terrorismo, logo após darem à luz, deverão deixar seus filhos sob a responsabilidade de entidade pública de assistência social até que cumpram integralmente a pena”. Esse artigo tem sido plenamente aplicado por vários juízes, em todo o território nacional. Referida norma, como será demonstrado no decorrer desta petição, viola o conteúdo de dispositivo da Constituição Federal e, por esta razão, deverá ser declarada inconstitucional. II – DA COMPETÊNCIA Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição Federal, sendo sua atribuição, nos termos do art. 102, I, “a”, CF/88, processar e julgar originariamente a Ação Direta de Inconstitucionalidade de Lei ou ato normativo Federal, Estadual ou Distrital (no exercício da competência estadual do Distrito Federal) que seja contrário à Constituição Federal. Destarte, revela-se inequívoca a competência desta Suprema Corte para o julgamento da presente ação direta de inconstitucionalidade. III- DA LEGITIMIDADE ATIVA A legitimidade ativa para atuar no controle concentrado de constitucionalidade foi entregue a um rol taxativo, hoje presente no art. 103 da Constituição Federal. Em síntese, o Partido Político com representação no Congresso Nacional detém legitimidade para ajuizar a presente ação direta de inconstitucionalidade, em razão do disposto no art. 103, VIII, da CF e do art. 2º, VIII, da Lei 9868/99. Vale ressaltar que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que a representação no Congresso Nacional se aufere no momento da propositura da ação, tornando-se irrelevante a modificação desse estado no decorrer do processo, que, aliás, em função de seus contornos objetivos, não admite desistência, conforme determina o art. 5º da Lei 9868/99. O requisito da pertinência temática não precisa ser comprovado, visto que a Suprema Corte firmou entendimento no sentido de que o Partido Político com representação no Congresso Nacional é legitimado universal, isto é, pode ajuizar as ações do controle concentrado independentemente de comprovação da pertinência temática. Os legitimados universais possuem dentre as suas atribuições institucionais a de defender a ordem constitucional objetiva, nesse sentido o interesse de agir pode ser presumido. IV – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA (OU DO DIREITO) Primeiramente, insta destacar que a Convenção sobre Direitos das Vítimas de Atividades Terroristas, embora compreenda uma convenção internacional sobre direitos humanos, tem status de lei ordinária, visto que foi integrada em nosso ordenamento jurídico pelo rito ordinário, não se impondo quórum qualificado na forma do art. 5º, §3º, da CF, mas sim conforme as regras anteriores à EC 45/04, estando, portanto, sujeita ao controle de constitucionalidade. A inconstitucionalidade material evidencia-se quando o conteúdo do ato normativo entra em conflito com regras ou princípios estabelecidos na Constituição Federal. Tal inconstitucionalidade encontra-se presente no art. 22 da Convenção sobre os Direitos Humanos das Vítimas de Atividades Terroristas, visto que o referido dispositivo vai de encontro ao art. 5º, L, da CF. De acordo com o art. 5º, L, da CF, às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação. Nesse sentido, não há dúvida que o art. 22 da Convenção é inconstitucional, pois afronta dispositivo expresso na CF, ao dispor que “as presas condenadas por crimes resultantes de atividades de terrorismo, logo após darem à luz, deverão deixar seus filhos sob a responsabilidade de entidade pública de assistência social até que cumpram integralmente a pena”. Comprovada está a inconstitucionalidade do art. 22 da Convenção, cuja integração dá força e validade à Convenção, diante do disposto no art. 5º, L, da CF. Por fim, demonstrada a inconstitucionalidade do art. 22 da Convenção sobre Direitos das Vítimas de Atividades Terroristas, deve-se admitir a presente ADI, para que no mérito seja julgada procedente, declarando-se a inconstitucionalidade do referido dispositivo. V – DOS PEDIDOS Do exposto, requer-se:a) sejam intimados o Sr. Presidente da República e o Sr. Presidente do Congresso Nacional para, em 30 dias, prestarem informações que julgarem necessárias, de acordo com o que prevê o art. 6º, parágrafo único, da Lei 9868/99; b) seja ouvido o Advogado-Geral da União, no prazo de 15 dias, após o prazo das informações, conforme o art. 103, §3º, da CF e o art. 8º da Lei 9868/99; c) seja ouvido o Procurador-Geral da República, após a manifestação do AGU, também no prazo de 15 dias, conforme o art. 103, §3º, da CF e o art. 8º da Lei 9868/99. d) Ao final, no mérito, seja julgada procedente a ADI, declarando-se a inconstitucionalidade do art. 22 da Convenção sobre os Direitos Humanos das Vítimas de Atividades Terroristas, suspendendo definitivamente a vigência do respectivo artigo. Termos em que pede deferimento. Local e data ADVOGADO OAB Nº
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