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A função social do conheciemento histórico

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TEORIA DA 
HISTÓRIA E 
HISTORIOGRAFIA 
Eduardo Pacheco Freitas
A função social do 
conhecimento histórico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar a edificação do processo da consciência histórica.
  Reconhecer as identidades individual e coletiva.
  Descrever as elaborações teóricas do tempo e da memória nos tempos 
históricos.
Introdução
A história é um ramo do conhecimento humano que apresenta diversas 
particularidades. Em primeiro lugar, seu objeto de estudo — o passado 
— é problemático, por não ser diretamente acessível ao historiador. 
Portanto, o historiador trabalha a partir de fontes, que são vestígios de 
outros tempos que chegaram aos dias atuais e podem ser analisados, 
descritos, interpretados e comunicados pelo pesquisador por meio de 
uma narrativa.
No entanto, a história não é uma forma de conhecimento que simples-
mente revela a erudição do historiador, sem conexão alguma com o con-
texto no qual se situa. Na verdade, é possível afirmar que o conhecimento 
histórico possui uma função social. Seu ensino serve para a formação da 
identidade e para a constituição de cidadãos críticos, por meio do aprendi-
zado da história e da memória. É via conhecimento histórico que o ser hu-
mano pode se situar no espaço e no tempo, sendo capaz de compreender 
o mundo onde vive. Em suma, o conhecimento histórico cria a consciência 
histórica, isto é, o conhecimento do passado, que orienta o presente e 
projeta o futuro, na formação das identidades individuais e coletivas.
Neste capítulo, você vai aprender como ocorre a edificação do pro-
cesso da consciência histórica, bem como reconhecer as identidades 
coletivas e individuais inerentes a ele. Além disso, também conhecerá 
as elaborações teóricas do tempo e da memória nos tempos históricos.
O processo de formação da consciência histórica
Certamente você já deve ter ouvido alguém falar que a história não “serve 
para nada”. No senso comum, frequentemente existe a ideia de que apenas 
disciplinas como português e matemática são importantes, pois seriam as 
únicas úteis para o trabalho. Porém, nada está mais distante da realidade do 
que essa ideia de a história não ter valor. Muito pelo contrário, a história é uma 
das ciências mais importantes, justamente por estudar o que o ser humano 
já fez e, assim, mostrar quem ele é. Dessa forma, a história como disciplina 
tem uma função social, que, a partir da formação da consciência histórica, 
promove o desenvolvimento de cidadãos críticos.
Conhecimento histórico e formação 
de cidadãos críticos
Afi nal, por que estudamos história? Essa é uma questão que perpassa gerações 
e é respondida de diversas maneiras com o passar do tempo ou de acordo com 
a sociedade que faz a indagação. No entanto, existe atualmente um possível 
consenso sobre qual a necessidade e a importância de se estudar e produzir 
conhecimento histórico. A resposta sem dúvida alguma passa pela formação dos 
cidadãos, mas necessariamente levando em conta seu desenvolvimento crítico 
como ser humano, de forma que cada um possa se apropriar das experiências 
do passado para pensar o presente e projetar o futuro. 
Estudar história é indagar ao mesmo tempo os sentidos da vida individual e 
da coletividade no decorrer do tempo. Não é à toa que Marc Bloch (2001, p. 67) já 
pontuava que a história é a “[...] ciência dos homens no tempo”. Portanto, é dessa 
forma que a história contribuirá para a localização do ser humano nesse mundo. 
É ela que pode fornecer as coordenadas necessárias para a orientação de cada 
um de nós na própria vida, enquanto seres sociais e históricos que somos, afinal.
É importante saber ler a história criticamente. Vejamos o caso das chamadas 
histórias nacionais, por exemplo, que narram o processo de construção das nações. 
Não raro esse tipo de história é apologética, com o intuito de gerar uma identidade 
nacional. Portanto, há a glorificação de um passado mítico, supostamente comum 
a todos os habitantes da nação, fato que desconsidera que qualquer coletividade 
humana é heterogênea, com diferentes grupos, uns privilegiados, outros opri-
midos. Nesse sentido, é possível dizer que uma nação possui muitos passados.
Um exemplo que deixa isso muito claro diz respeito à conquista da América 
pelos europeus — no caso do território que viria a se tornar o Brasil, pelos 
portugueses. Esse processo de forma alguma foi pacífico ou sem violência, 
A função social do conhecimento histórico2
causando, inclusive, genocídio. As populações indígenas foram quase que 
totalmente exterminadas. Da mesma forma, não é possível narrar a história do 
país sem incluir a escravidão africana, que ao longo de quase quatro séculos 
trouxe da África milhões de homens, mulheres e crianças, que encontraram 
aqui uma vida de abuso e sofrimento. Pois estes são elementos que estão na base 
da construção da nação brasileira e que nos ajudam entender a desigualdade 
e a violência existentes no país.
Outro exemplo importante é que, até algumas décadas atrás, a história era 
escrita sem personagens femininas, como se as mulheres jamais tivessem realizado 
qualquer atividade importante na experiência histórica da humanidade. Somente 
nos últimos anos, quando os direitos das mulheres se tornaram um assunto a ser 
discutido com mais seriedade, é que a historiografia passou a inclui-las, surgindo 
até mesmo um ramo específico conhecido como “história das mulheres”.
É assim que os historiadores, em conexão com a disciplina ensinada em 
sala de aula, devem ter em mente a construção de uma história que demonstre a 
pluralidade do ser humano e de sua experiência ao longo do tempo. Os grupos 
historicamente oprimidos devem seu passado contado e incluso na busca de 
uma história que faça sentido e que exerça sua função social de promover o 
pensamento crítico. A produção do conhecimento histórico deve atender a 
esses critérios para que as novas gerações conheçam o passado, de modo a 
refletirem sobre o presente e projetarem o futuro.
Marc Baldó, professor espanhol de história contemporânea, defende que os historia-
dores saiam dos ambientes acadêmicos e divulguem o conhecimento histórico que 
produzem de maneira mais intensiva na sociedade. Afinal, a história tem sua função 
social e deve chegar ao grande público. Na entrevista disponível no link a seguir, você 
conhecerá o pensamento e as propostas do professor.
https://qrgo.page.link/PfCAM
Formação de sentido e consciência histórica
Rüsen (2014) propõe uma disciplina que estabeleça a conexão entre a história 
como disciplina acadêmica e a história ensinada em sala de aula: a “didática 
da história”. Esta, por sua vez, teria como objeto a formação de consciência 
3A função social do conhecimento histórico
histórica, que é “[...] a forma de consciência temporal humana, na qual a expe-
riência do passado enquanto história é interpretada para o presente” (RÜSEN, 
2014, p. 97). Ou seja, na história, enquanto formadora de consciência histórica, 
são interpretados e debatidos os acontecimentos históricos — consideradas 
as cargas de sentidos e interpretações acumuladas pela historiografi a — à luz 
do presente e das questões atuais.
Para o autor, as narrativas históricas “[...] podem gerar regras de ação 
abstratas a partir de acontecimentos concretos do passado e aplicá-las ao 
acontecimento atual e às expectativas de futuro (historia magistra vitae — 
história mestra da vida)” (RÜSEN, 2014, p. 99). Portanto, a história, ao ser 
ensinada, tem em vista produzir conhecimento histórico que responda questões 
cotidianas em busca de orientações para a vida, para ações visando o futuro. 
Ainda segundo Rüsen (2014, p. 103), a orientação tem a ver com a memoração 
histórica, isto é, com o processo de formação de sentido, através do ato de 
narrar histórias e interpretar a experiência temporal, que “[...] torna o passado 
tão presente que ele se torna proveitoso à vida”. 
Se compreendermos a “[...] história como grandezaorientadora da práxis 
vital” (RÜSEN, 2014, p. 100), teremos melhores condições de entender o que 
é de fato a consciência histórica. Para isso, é importante termos em mente 
que a consciência histórica humana atua em três modos: funcional, reflexivo 
e pragmático. O primeiro deles diz respeito às instituições culturais onde os 
seres humanos são “construídos”; já o modo reflexivo tem a ver com a elabo-
ração interpretativa e representativa do passado, ou seja, um posicionamento 
consciente perante a experiência do tempo. A escola é uma dessas instituições 
culturais que fornecem a consciência histórica. É a partir do modo reflexivo que 
a história deixa de ser premissa e passa a ser o término da formação histórica 
de sentido, encaminhando assim ao último modo, o pragmático, que serve 
como diretriz ao que queremos extrair da experiência histórica com vistas ao 
presente e ao futuro (RÜSEN, 2014). 
Para finalizar, chegamos ao ponto principal, o aprendizado histórico, 
que se dá na “formação de sentido” que “[...] pode ser explicitada concei-
tualmente como a interconexão complexa de quatro atividades mentais: 
experimentar, interpretar, orientar e motivar” (RÜSEN, 2014, p. 267). 
Como resultado, a experiência do passado é interpretada e atualizada como 
história, derivando daí a formação histórica de sentido. A consciência his-
tórica tem a ver com o desenvolvimento da capacidade de interpretação do 
tempo. Assim, o aprendizado histórico, além de proporcionar a aquisição 
de competências experienciais, orientadoras e motivadoras, promove a 
A função social do conhecimento histórico4
aquisição daquele elemento que é central neste processo: a competência 
interpretativa. Dessa forma, a narrativa histórica atuaria como um “[...] 
processo de constituição de sentido da experiência do tempo” (RÜSEN, 
2011, p. 95).
Para ampliar seus conhecimentos sobre a teoria da consciência histórica, como 
pensada pelo alemão Jörn Rüsen, assista à conferência “Historiografia e pesquisa a 
partir da teoria da consciência histórica na Alemanha”, realizada pelo professor Dr. 
Marcelo Fronza.
https://qrgo.page.link/EPrrQ
Consciência histórica e as identidades 
individual e coletiva
Você já deve ter se deparado em algum momento com as velhas perguntas 
“quem somos, de onde viemos e para onde vamos”. Muitas vezes, elas podem 
nos parecer engraçadas, como uma brincadeira a respeito das especulações 
fi losófi cas sobre a vida. No entanto, se você analisar a questão mais de perto, 
irá perceber que, em boa medida, essas perguntas retratam muito bem o que 
é que a consciência histórica, a qual, em última análise, tem a ver com o 
problema da identidade, seja coletiva ou individual.
Identidades emergentes nas memórias históricas
Imagine por um momento se a cada dia você acordasse a não lembrasse de 
nada que havia ocorrido no dia anterior, nem em todos os outros. A vida se 
tornaria impossível, não é mesmo? Isso comprova que o ser humano é o que 
é em grande parte pela sua experiência acumulada, pelos conhecimentos que 
adquiriu, por tudo que fez e viveu. Isso certamente ocorre no nível indivi-
dual. Porém, se você considerar a questão mais de perto, perceberá que esse 
cenário acontece também no âmbito da coletividade. Uma sociedade ou um 
grupo social qualquer não pode existir enquanto agrupamento que possui suas 
próprias regras, suas tradições e seus conhecimentos sem que o passado, ou 
5A função social do conhecimento histórico
sua memória, exerça um papel preponderante nas atividades do presente e nas 
concepções do porvir. Em resumo, todos esses elementos giram em torno de 
uma relação principal: a do passado com a formação da identidade.
De acordo com Pais (1999, p. 1):
Sem consciência histórica sobre o nosso passado (e antepassados...) não 
perceberíamos quem somos. Esta dimensão identitária — quem somos? 
— emerge no terreno de memórias históricas partilhadas. Por isso, o sen-
timento de identidade — entendida no sentido de imagem de si, para si e 
para os outros — aparece associado à consciência histórica, forma de nos 
sentirmos em outros que nos são próximos, outros que antecipam a nossa 
existência que, por sua vez, antecipará a de outros. Ao assegurar um senti-
mento de continuidade no tempo e na memória (e na memória do tempo) a 
consciência histórica contribui, deste modo, para a afirmação da identidade 
— individual e coletiva.
Assim, o autor nos esclarece o que é identidade: é a visão que temos de 
nós mesmos, para nós e para os outros. Esse fenômeno ocorre não somente no 
âmbito individual, mas também na coletividade. Ou seja, não apenas o indivíduo 
expressa sua própria individualidade, mas igualmente esta é expressa pela 
sociedade na qual vive, ambas inter-relacionadas. Mas como essas identidades 
surgem? É precisamente por meio da consciência histórica, do conhecimento 
do passado em comum e da projeção do futuro que sabemos quem somos no 
presente, tanto individual quanto coletivamente.
A questão da identidade pode ser delimitada como uma construção 
social, tratando-se, portanto, de um processo a longo prazo, que vai de-
monstrar com o passar do tempo que a identidade tem a ver com um 
permanente diálogo com o outro. Pois essa é uma das maneiras iniciais 
de se pensar a identidade, tanto em nível individual quanto social: é o 
espelho do outro que pode ajudar a mostrar quem o sujeito é ou deixa de 
ser. É a partir das definições do outro que a identidade pode ser definida. 
Portanto, a identidade permanece em constante elaboração, moldando-se 
nessas relações de alteridade.
Inicialmente, no âmbito do Iluminismo, a identidade foi pensada como 
algo apenas individual, inerente ao indivíduo. Posteriormente, ela passou a 
ser concebida sociologicamente, pressupondo-se a interação entre a identidade 
interna que se relaciona o tempo todo com a externa, isto é, a identidade so-
cial. Na pós-modernidade, a identidade passa a ser vista como algo mutável, 
cambiável, que não é estático, estando em constante movimento, além de ser 
fragmentária e pode existir como diversas identidades que coexistem. Con-
A função social do conhecimento histórico6
tudo, uma questão central diz respeito à relação entre identidade e memória. 
Esta última é o referencial para a primeira. A identidade é construída sobre 
a memória, sobre o que é lembrado, sobre o que é esquecido e silenciado 
(SOUZA, 2014).
No link a seguir, você poderá assistir a um vídeo da mesa redonda com os professores 
Giovani José da Silva e Jean Carlo Moreno no X Seminário Nacional de Didática da 
História, ocorrido em 2018, em que são discutidas, dentre outros temas, a nova Base 
Nacional Comum Curricular (BNCC) e a didática da história.
https://qrgo.page.link/5Q4AG
Segundo Rüsen (2001), a relação entre o “ser” — entendido como a iden-
tidade — e o “dever” — a ação — é feita precisamente pela consciência 
histórica. Isso significa que a narrativa histórica, em sua operação de apanhar 
os eventos passados, acaba por criar a identidade dos indivíduos a partir das 
suas próprias experiências e da coletividade. Nesse processo, o presente é 
tornado inteligível, sendo-lhe conferida uma expectativa em relação ao futuro. 
Dessa maneira, a consciência histórica apresenta uma atribuição prática, que 
promove a identidade dos sujeitos e estabelece uma dimensão temporal na 
realidade vivida por eles. Assim, surge uma orientação que tem a capacidade 
de guiar a ação, mediadora da memoração da história.
Nesse sentido, fica evidente o papel central que uma formação sólida dos 
professores de história e o ensino desta disciplina adquirem na sociedade. Há uma 
relação direta entre o ensino de história, aprendizado de história e a construção 
de habilidades para orientação na vida de modo a promover uma identidade 
histórica coerente e estável. De acordo com Rüsen (2006, documento on-line):
O aprendizado histórico é uma das dimensões e manifestações da consciên-
cia histórica. É o processo fundamental de socialização e individualização 
humanae forma o núcleo de todas estas operações. A questão básica é como 
o passado é experienciado e interpretado de modo a compreender o presente 
e antecipar o futuro. Aprendizado é a estrutura em que diferentes campos de 
interesse didático estão unidos em uma estrutura coerente. Ele determina a 
significância do assunto da história da didática bem como suas abordagens 
teóricas e metodológicas específicas.
7A função social do conhecimento histórico
Assim, no ensino de história, deve-se procurar retomar as vivências 
pessoais e coletivas dos alunos e professores, vendo-os como seres históricos 
que vivem em uma realidade analisável, que pode e deve ser retrabalhada 
objetivando sua conversão em conhecimento histórico — e, mais do que 
isso, em autoconhecimento. É dessa forma que os sujeitos encontrarão um 
sentimento de pertencimento “[...] numa ordem de vivências múltiplas e 
contrapostas na unidade e diversidade do real” (SCHMIDT; GARCIA, 2005, 
documento on-line).
Muitas vezes, os alunos podem não gostar de história; nesse caso, o que 
precisa ficar claro é que sem ela não é possível compreender o mundo em que 
vivemos. A história tem seu papel essencialmente social, pois a partir dos seus 
conteúdos, pode-se chegar-se à cidadania. Em primeiro lugar, a consciência 
histórica terá importância na formação da identidade, seja ela individual, co-
letiva, nacional etc. Como um segundo passo, o aprendizado histórico ajudará 
na consolidação dos valores democráticos, permitindo que os jovens estudantes 
tenham contato com sua própria herança histórico-cultural, bem como com 
a de outras pessoas, outros povos e outros contextos muito diferentes. Isso 
fará com que o estudante de história não seja contaminado por preconceitos, 
intolerância ou irracionalidade. A consciência histórica é uma das premissas 
básicas da civilização. Como acentua Rüsen (2006, documento on-line), a 
história é uma matéria de “[...] experiência e interpretação”, e a sua didática 
demonstra a conexão existente entre “[...] história, vida prática e aprendizado”, 
o que garantiria um novo sentido à expressão historia magistra vitae.
Elaborações teóricas do tempo 
e da memória na história
Memória, lugares de memória e memórias históricas
Para o historiador Jacques Le Goff (2003), o conceito de memória é “crucial” no 
seio das ciências humanas e da história. Seu signifi cado pode estar relacionado 
tanto a um fenômeno psicológico e individual quanto à vida em sociedade. A 
noção de memória varia de acordo com a presença ou não da escrita, e quando 
se torna objeto do Estado ou de outras instituições visando a preservação 
dos acontecimentos passados, produz documentos e monumentos. Portanto, 
a memória, enquanto fenômeno social, também é controlada em algum nível 
pelas forças dominantes. A memória está relacionada à ausência e, portanto, 
na mesma medida, às representações. O ato de memorar é indissociável da 
A função social do conhecimento histórico8
narrativa, possuindo dessa forma uma função social que corresponde à co-
municação entre sujeitos sobre um determinado objeto ausente.
Nos estudos historiográficos sobre as memórias históricas, é indispensável 
que se leve em consideração as diferenças relevantes que a memória, ou a 
memoração, apresenta em diferentes contextos históricos no tempo e no espaço. 
Segundo Le Goff (2003), existiram e existem sociedades com memória essen-
cialmente oral, enquanto outras possuíram ou possuem a memória estruturada 
sobre a escrita. A partir daí, o autor divide as memórias históricas em cinco 
os tipos, considerando também os momentos de transição entre a memória 
oral para a memória escrita.
A primeira delas seria a memória étnica, das sociedades ágrafas. Nessa 
modalidade, a memória coletiva se apresenta, sobretudo, como a narrativa dos 
mitos de origem. Já no tipo de memória que surge na passagem da Pré-história 
para a Antiguidade, ocorre a transição da oralidade à escrita. Nessa forma de 
memória, há grande destaque para a construção de monumentos, que, além da 
frequente motivação religiosa, tem por objetivo registrar os feitos da sociedade 
que os erige. No período medieval, com o predomínio do cristianismo, que se 
apresenta como uma religião da recordação (já que firmada teologicamente na 
história), a lembrança do sacrifício de Cristo e das vidas dos santos configura 
a forma da memória social desse época. O surgimento da imprensa, no século 
XV, opera uma transformação radical na memória ocidental. De modo similar, 
novas formas de comemoração acabam surgindo, como medalhas, festas 
cívicas no calendário, selos postais etc. Durante os processos revolucionários 
de 1789, foram criados arquivos nacionais e públicos, abrindo uma nova fase 
dos documentos da memória nacional (LE GOFF, 2003).
Nos dias de hoje, com o desenvolvimento das tecnologias da informação, a 
memória é preservada de maneiras inimagináveis até bem pouco tempo atrás, 
sem esquecermos dos outros avanços do último século, como a fotografia, o 
cinema, as gravações de áudio etc.
Um conceito importante dentro do âmbito das relações entre história e 
memória é o de “lugares de memória”, definido da seguinte forma pelo his-
toriados francês Pierre Nora (1993, documento on-line):
São lugares com efeito nos três sentidos da palavra, material, simbólico e 
funcional, simultaneamente, somente em graus diferentes. Mesmo um lugar 
de aparência puramente material, como um depósito de arquivo, só é lugar 
de memória se a imaginação o investe de uma aura simbólica. Mesmo um 
lugar puramente funcional, como um manual de aula, um testamento, uma 
associação de antigos combatentes, só entra na categoria se for objeto de um 
ritual. Mesmo um minuto de silêncio que parece um exemplo extremo de 
9A função social do conhecimento histórico
uma significação simbólica, é ao mesmo tempo o recorte material de uma 
unidade temporal e serve, periodicamente, para uma chamada concentrada 
da lembrança. Os três aspectos coexistem sempre.
Portanto, nem somente locais físicos como monumentos, museus ou memo-
riais podem ser considerados lugares que resguardam ou evocam memórias. 
As próprias criações não tangíveis da cultura, como os saberes, as práticas e 
os ritos, servem como locais privilegiados para a memoração social. A razão 
essencial para a existência dos lugares de memória é materializar o passado, 
permitir que o tempo pare, que o esquecimento seja bloqueado, que o imaterial 
seja materializado (NORA, 1993).
Com isso em mente, cumpre lembrar que é na memória que ocorre o 
encontro do momento com a duração; é a memória que refaz a experiência 
vivida do real. Dessa forma, o próprio ato de memorar em si carrega uma 
função social, que é a de fornecer ou propiciar as orientações para o agir:
Lembramos menos para conhecer do que para agir, sublinharam os autores 
modernos [Paul Ricoeur e Pierre Nora]. Nessa perspectiva, a memória é 
menos um entender o passado do que um agir; impossibilidade, portanto, de 
se cogitar uma memória desinteressada, voltada para o conhecimento puro e 
descompromissado do passado (SEIXAS, 2005, p. 53).
Barros (2009), baseado nos trabalhos de Maurice Halbwachs, afirma 
que é preciso estabelecer as diferenças entre memória e memória histórica. 
Esta última tem a ver com a memória que é partilhada entre todos os indi-
víduos de uma determinada sociedade. Ela se apresenta independente da 
historiografia elaborada pelos historiadores. Assim, a memória histórica 
é muito mais ampla, por exemplo, do que a memória autobiográfica, que 
se resume ao tempo de vida do indivíduo rememorado. Por sua vez, a 
memória histórica abrange um período muito maior de tempo, abarcando 
a vida desse indivíduo e talvez toda a existência da sociedade na qual ele 
se encontra inserido.
A memória como fonte histórica
Como vimos, a memória não é um processo exclusivamente restrito ao indi-
víduo, possuindo relações importantes com os modos como uma sociedade 
se constitui e refl ete sobre si mesma. No entanto, as característicaspecu-
liares da memória oferecem ao historiador novos desafi os e a necessidade 
A função social do conhecimento histórico10
de enfrentar questões diversas quando em comparação aos outros tipos de 
fontes. A memória é imprecisa e, além do que é lembrado, o trabalho com a 
memória deve atentar para seus silêncios e para as suas lacunas. Nos dias de 
hoje, os historiadores já não tem mais as pretensões da “história científi ca” do 
século XIX, de reproduzir literalmente os fatos sobre os quais se debruçam. 
Como impossibilidade metodológica, esse elemento acaba se impondo sobre 
a pesquisa histórica, fazendo com que os historiadores aceitem que seu objeto 
de estudo é, por sua natureza, calcado sobre vestígios e, portanto, lacunar e 
impreciso em grande parte das vezes. Tudo isso, quando tratamos da memória 
enquanto fonte histórica, cresce exponencialmente, impondo novos problemas 
frente aos historiadores.
Barros (2009, documento on-line), suscita questionamentos acerca das 
possibilidades do uso da memória como fonte para o trabalho do historiador:
Com relação ao aspecto da utilização da memória como “fonte histórica”, 
persiste ainda nos dias de hoje uma série de polêmicas com relação a como 
tratar a memória como fornecedora de materiais para a história, essa vista 
como ciência ou campo de saber que organiza o conhecimento sobre o passado 
ou sobre o homem no tempo. Como considerar a memória para a construção 
de uma interpretação histórica? Como utilizar fontes tidas como registros 
memorialistas, como as fontes orais, pelos historiadores?
Percebe-se, na citação acima, que Barros trata da história oral, método 
de pesquisa histórica que se utiliza de entrevistas com o objetivo de explorar 
memórias as mais diversas, desde pessoas que tenham vivido como atores em 
eventos históricos de grande vulto até meros observadores de acontecimentos 
que tenham passados despercebidos pela história.
O uso da memória como fonte histórica passou por diversas fases ao longo dos 
séculos. No século XVI, era bem aceita, com o frade franciscano Bernardino de Saha-
gún (1499–1590) entrevistando os povos nativos da América recém-conquistada 
pelos espanhóis, com o objetivo de conhecê-los melhor. No século XVIII, com o 
Iluminismo, os registros orais perderam credibilidade, devido às pretensões cientí-
ficas do período. Contudo, no século XIX, o historiador Jules Michelet (1798–1874) 
realizou um trabalho inédito e muito interessante, no qual entrevistou muitos 
franceses, com o objetivo de registrar suas impressões a respeito da Revolução 
Francesa (BARROS, 2009).
11A função social do conhecimento histórico
Há muitos séculos, as fontes orais, que são, em sua essência, memoria-
lísticas, vêm sendo utilizadas para a promoção de reflexões históricas. No 
século XVI, historiadores se valiam deste recurso para escrever e inter-
pretar a história. No entanto, com o surgimento da história positivista no 
século XIX, que considerava como fonte histórica somente os documentos 
escritos e de origem oficial, a história feita com base em depoimentos orais 
perdeu sua credibilidade. Somente a partir do século XX, sobretudo com o 
advento de tecnologias que permitem a gravação de voz, é que a oralidade 
voltou a fazer parte do arsenal de fontes do historiador. Segundo Barros 
(2009, documento on-line), “[...] como não se pretende recuperar os fatos, 
mas problematizar os fatos”, a utilização de fontes orais, ou seja, de fontes 
eminentemente estruturadas sobre a memória individual e social, tornou-se 
comum na historiografia, sobretudo a partir da década de 1980.
Assim, fica clara a relação entre a função social do conhecimento 
histórico, as identidades coletivas e individuais e a memória histórica. A 
primeira é inerente à história enquanto ramo do conhecimento, pois é este 
que dará as orientações para a vida humana. A memória cumpre um papel 
importante nesse aspecto, pois é ela que atua na formação da identidade. 
Sem o conhecimento do passado, seja em forma de história ou em forma 
de memória, a vida humana seria muito diferente da que conhecemos, 
senão impossível.
No Brasil, diversas instituições são voltadas à produção de conhecimento histórico 
com base na utilização da memória como fonte histórica. Em seus acervos, existem 
milhares de entrevistas sobre os mais diversos temas, abarcando desde personalidades 
do cinema e do campo das artes em geral até moradores das favelas do Rio de Janeiro. 
É um material riquíssimo, que registra as memórias de pessoas de todas as idades, 
gêneros, profissões e condições socioeconômicas. Os acervos são abertos para 
consulta pública e constituem uma vasta fonte para a pesquisa historiográfica. As 
instituições mais importantes onde você pode encontrar os registros memorialistas 
são: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Rio 
de Janeiro), Museu da Imagem e do Som (São Paulo), Museu da Maré (Rio de Janeiro) 
e Museu da Pessoa (São Paulo).
A função social do conhecimento histórico12
BARROS, J. A. História e memória — uma relação na confluência entre tempo e espaço. 
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