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COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Wagner da Silveira Assunção Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências sobre o comportamento de compra do consumidor Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as mudanças recentes no macroambiente de marketing. Verificar as influências dessas mudanças no comportamento de com- pra dos consumidores. Apresentar e discutir as novas práticas de marketing decorrentes dessas influências. Introdução Neste capítulo, você vai estudar as mudanças recentes no macroambiente de marketing. Além disso, vai ver como essas variáveis externas incon- troláveis podem influenciar o comportamento de compra dos consumi- dores. Por fim, vai verificar que é necessário prever essas alterações nos planejamentos de marketing e discutir novas práticas para lidar com elas. As mudanças no macroambiente de marketing O ambiente de marketing é formado por variáveis internas, que são controlá- veis, e variáveis externas, que são incontroláveis. Esse ambiente é constituído ainda pelo microambiente e pelo macroambiente. A seguir, você vai conhecer melhor cada um dos ambientes que compõem o macroambiente de marketing, bem como as principais mudanças que eles vêm sofrendo. Ambiente demográfico Os desdobramentos demográfi cos costumam ocorrer em um ritmo previsível. O principal deles, também monitorado por profi ssionais de marketing, é a po- pulação. Monitorá-la envolve acompanhar o tamanho e a taxa de crescimento populacional de diferentes cidades, regiões e países. Também é necessário considerar a distribuição das faixas etárias e sua composição étnica, os graus de instrução, os padrões familiares e as características das diferentes regiões. Ambiente econômico O poder de compra em uma economia depende da renda, dos preços, da pou- pança, do endividamento e da disponibilidade de crédito. Como a recente crise econômica demonstrou, as tendências que afetam o poder de compra podem ter forte impacto nos negócios, especialmente no caso de produtos dirigidos a consumidores de alto poder aquisitivo e a consumidores sensíveis ao preço. Ambiente sociocultural Como você sabe, a partir de seu ambiente sociocultural você absorve, quase inconscientemente, a visão de mundo que defi ne suas relações consigo mesmo, com as outras pessoas, as organizações, a sociedade, a natureza e o universo. Outros aspectos interessantes para os profissionais de marketing são a persistência dos valores culturais centrais e a existência de subculturas. Ambiente natural Regulamentações ambientais atingiram duramente certos setores. As siderúr- gicas e as empresas de serviços públicos tiveram de investir bilhões de dólares em equipamentos de controle de poluição e em combustíveis menos nocivos ao meio ambiente. Assim, se tornaram parte do cotidiano os carros híbridos, os vasos sanitários e chuveiros com menor fl uxo de água, os alimentos orgânicos e os prédios “verdes”. Grandes oportunidades aguardam aqueles que forem capazes de conciliar prosperidade e proteção ambiental. Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... 2 Ambiente tecnológico Está na essência do capitalismo ser dinâmico e tolerar a destruição criativa da tecnologia como o preço a ser pago pelo progresso. Os transistores afetaram a indústria de válvulas, os automóveis afetaram as estradas de ferro, a televisão afetou os jornais e a internet afetou ambos. Quando setores estabelecidos combatem ou ignoram as novas tecnologias, seus negócios entram em declínio. A Tower Records, por exemplo, foi bastante advertida de que seu negócio de varejo de música seria afetado por downloads pela internet (bem como pelo número crescente de varejistas de desconto). Sua falta de resposta a essa questão levou à liquidação de todas as suas lojas físicas locais em 2006. Ambiente político-legal O ambiente político-legal é formado por leis, órgãos governamentais e grupos de pressão que infl uenciam várias organizações e indivíduos. Às vezes, esses setores criam novas oportunidades de negócios. As leis que tornaram a reci- clagem obrigatória, por exemplo, deram um grande incentivo à indústria de reciclagem e incitaram a criação de dezenas de novas empresas que fabricam produtos a partir de materiais reciclados. Como afirma Farias, Duschitz e Carvalho (2015, p. 188), a partir dos anos 1980 surgiram alguns estudos que buscaram antecipar esse tipo de mudança, como Megatrends, de John Naisbitt, ou O Relató rio Popcorn, elaborado pela consultora Faith Popcorn. Segundo Farias, Duschitz e Carvalho (2015, p. 188), esses trabalhos apre- sentam e diferenciam tendências e megatendências: Para Popcorn (1993), uma tendência permanece ativa por muito tempo (em média por dez anos) em diferentes áreas do mercado e pode ser confirmada por diversos indicadores que surgem ao longo do período. Uma tendência é parte do todo. Assim, um profissional de marketing não deve seguir exclusi- vamente uma tendência, mas compreender que ela faz parte de um processo maior de transformação. As tendências devem ser vistas como uma forma de leitura das macromudanç as que ocorrem no mercado. Se a empresa puder relacionar o surgimento de uma tendência e seu impacto no ambiente de negócios, ela poderá́ ajustar seus produtos e serviços a essa tendência, o que certamente lhe dará́ uma vantagem sobre a concorrência. Por outro lado, as megatendências são, para Naisbitt e Aburdene (1990), gran- des mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas que se formam de maneira lenta e atingem as pessoas por um longo período de tempo (por mais 3Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... de dez anos). Na visão dos autores, essas “[...] megatendências não aparecem e desaparecem de uma hora para outra [...]” (NAISBITT; ABURDENE, 1990, p. 22). Ambos os autores acreditam que, sem um quadro de referência, é impos- sível compreender a imensa quantidade de informações a que as pessoas são expostas todos os dias. Assim, as megatendências exigem que os profissionais de marketing observem as mudanças a partir de um pensamento sistêmico. Kotler e Keller (2012, p. 76), por sua vez, falam de necessidades e tendências a serem abordadas pelos profissionais de marketing, fazendo distinção entre modismos, tendências e megatendências. Um modismo é “imprevisível, de curta duração e não tem significado social, econômico e político”. Uma empresa pode faturar com modismos como as sandálias Crocs, os bonecos Elmo TMX e os brinquedos Pokémon, mas o sucesso requer sorte e um bom senso de oportunidade. Uma tendência é um direcionamento ou uma sequência de eventos com certa força e estabilidade, mais previsível e duradoura do que um modismo; as ten- dências revelam como será o futuro e podem prover direção estratégica. Por exemplo, uma tendência à valorização da saúde e nutrição trouxe maior rigor às regulamentações governamentais e publicidade negativa para empresas que estimulam o consumo de comida pouco saudável. A Macaroni Grill reformulou seu cardápio, que passou a incluir mais opções de poucas calorias e baixo teor de gordura, após uma onda de má repercussão na imprensa: The Today Show se referiu ao sanduíche de frango e alcachofra da empresa como “o equivalente em calorias a 16 fudgesicles (sobremesa gelada feita de chocolate)” e, na lista anual dos restaurantes menos saudáveis, a Men’s Health declarou seu ravióli doce como a “pior sobremesa da América”. Uma megatendência é uma “grande mudança social, econômica, política e tecnológica [que] se forma lentamente e, uma vez estabelecida, passa a nos influenciar por algum tempo — de sete a dez anos, no mínimo”. As forças do macroambiente, que você pode ver na Figura 1, são mutáveis e devem ser observadas pelos profissionais de marketing, pois determinam as movimentações sociais e econômicas interligadas com o ambiente natural. Como exemplo disso,você pode observar que produtos feitos de couro de animais silvestres, antes tidos como símbolos de luxo e ostentação, são hoje substituídos por produtos de couro sintético e considerados algo não aceitá- vel. Além disso, outra mudança recente no macroambiente de marketing é a substituição do uso de e-mails por aplicativos de mensagens. Isso mostra que nada é definitivo: o próprio uso de e-mail veio para substituir o uso de cartas, que foram o principal meio de comunicação por longos anos. Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... 4 Figura 1. Fatores macroambientais. Influências sobre o comportamento de compra Como você viu, são vários os fatores de mudança observados no macroam- biente de marketing. Algumas dessas mudanças têm infl uenciado fortemente a escolha, a forma e a frequência de compra dos consumidores. Nos últimos anos, o ambiente tecnológico teve um destaque especial de- vido ao uso da internet. Como você sabe, ela revolucionou a comunicação, a propaganda e o entretenimento, transformando o modo como as pessoas se relacionam e consomem vários produtos e serviços. Em decorrência desses avanços, a sociedade também tem mudado, em parte pela facilidade e pela velocidade de acesso às informações, decorrentes do uso da tecnologia. Isso torna os consumidores mais exigentes e dá a eles voz ativa para influenciar uns aos outros. Os consumidores modernos e conectados buscam verdadeiras experiências de compra. Segundo Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017, p. 20), o mundo está mudando e a estrutura de poder está passando por alterações drásticas. A internet tem sido em grande parte responsável por essas mudanças. Hoje, o poder não está mais nos indivíduos, mas nos grupos sociais. 5Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... Você ainda pode considerar que: Esses movimentos alteraram radicalmente nosso mundo, levando a uma realidade na qual as forças horizontais, inclusivas e sociais sobrepujam as forças verticais, exclusivas e individuais, e comunidades de consumidores tornaram-se cada vez mais poderosas. Agora elas são muito ruidosas. Não têm medo das grandes empresas e marcas. Adoram compartilhar histórias, boas e ruins, sobre suas experiências de consumo. (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2017, p. 21) Todo esse empoderamento do consumidor tem mudado as relações com marcas tradicionais. Além disso, novas marcas estão surgindo, já adotando uma nova postura diante desse consumidor altamente conectado. Mesmo os que ainda não estão conectados, ou são conectados em menor grau, são beneficiados por essa nova forma de atuação das empresas. Considere, por exemplo, um consumidor que tenha a necessidade de comprar uma nova televisão. Ele poderá usar um computador conectado à internet, em casa ou no trabalho, para pesquisar modelos e preços. Ao decidir, irá buscar uma loja física para concluir sua compra. Já os consumidores mais conec- tados poderão planejar uma viagem de final de ano com a família usando o smartphone para adquirir passagens aéreas, contratar hospedagem e pesquisar passeios locais, contratando guias. E, no dia da viagem, usarão um aplicativo de transporte de passageiros para o traslado até o aeroporto. Enfim, todo esse processo pode ser feito por meio do smartphone. Portanto, essas mudanças influenciam diretamente o comportamento do consumidor e forçam as em- presas a buscarem novas formas de relacionamento com seus clientes. O varejo tem sentido a mudança do comportamento de compra dos con- sumidores, que buscam novas formas e práticas para a compra, e não mais uma experiência presa às lojas físicas tradicionais. Por isso, as empresas estão investindo cada vez mais no omnicanal, que é a integração de vários canais com o uso da tecnologia, oferecendo uma nova experiência de compra aos consumidores. O omnicanal é diferente do multicanal, que apenas buscava ofertar de várias formas o mesmo produto ao consumidor, sem integração e com competição interna. Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... 6 As novas realidades do marketing Como refl exo de todas essas mudanças ocorridas na sociedade, as empresas têm buscado novas práticas de marketing. Assim, elas se adaptam e inovam cada vez mais, mesmo porque há um aumento signifi cativo na concorrência e os consumidores estão cada vez mais exigentes e integrados, trocando experiências de compras e tornando-se consultores uns dos outros. Kotler e Keller (2012) apresentam o que chamam de “as principais 12 forças sociais que estão criando novos comportamentos e oportunidades”. A seguir, você pode conhecer melhor cada uma delas: Rede de tecnologia da informação: os avanços tecnológicos originaram uma Era da Informação. Nesse período, a tendência é haver níveis de produção mais precisos, comunicações mais direcionadas e preços mais consistentes. Globalização: com a evolução da tecnologia, os transportes, a expedição e a comunicação se simplificaram, o que facilitou os negócios interna- cionais. Para os consumidores, ficou mais simples comprar produtos de empresas estrangeiras. Além disso, as viagens internacionais não param de crescer e cada vez mais pessoas trabalham e tiram férias em outros países. Desregulamentação: diversos países desregulamentaram alguns setores a fim de aumentar a concorrência e as oportunidades de crescimento econômico. Os Estados Unidos, por exemplo, flexibilizaram leis que restringiam serviços financeiros, telecomunicações e fornecimento de energia elétrica. Com isso, a ideia é dar vez à maior concorrência. Privatização: diversos países privatizaram empresas estatais com o intuito de melhorar sua eficiência. É o caso da empresa de teleco- municações chilena Telefónica CTC e da companhia aérea britânica British Airways. Concorrência ampliada: a concorrência entre marcas domésticas e internacionais trouxe crescimento das despesas de marketing e diminui- ção das margens de lucro. Além disso, muitas empresas que fabricam produtos sofisticados foram suplantadas por varejistas poderosos que comercializam suas próprias marcas. Nesse contexto, muitas marcas fortes se tornaram megamarcas e se estenderam por diversos setores, o que representa uma considerável ameaça competitiva. 7Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... Convergência setorial: as barreiras que separam os setores estão cada vez mais tênues, e isso se intensifica à medida que as empresas percebem que há mais oportunidades na intersecção entre dois ou mais setores. Como exemplo, você pode considerar os setores de informática e de eletrônicos de consumo, que estão convergindo. É o que acontece, entre outras empresas, com Apple e Sony, que lançam diversos produtos de entretenimento, como televisores e tocadores de áudio digital. A tecnologia digital tem alimentado essa convergência maciça. Transformação no varejo: você já deve ter percebido que lojas físicas enfrentam a concorrência crescente de empresas de venda por catá- logo, anúncios diretos ao consumidor veiculados em jornais, revistas e televisão e, mais recentemente, lojas on-line. Para reagir, diversos varejistas buscam atrair clientes por meio da implementação de outros serviços, como cafeterias, demonstrações de produtos e shows. Assim, eles oferecem não apenas uma variedade de produtos, mas uma expe- riência. Como exemplo, Kotler e Keller (2012, p. 11) citam a Dick’s Sporting Goods: [...] era uma única loja de artigos de pesca em Binghamton, Nova York, [e] transformou-se em uma rede de 300 lojas de artigos esportivos em 30 estados. Parte de seu sucesso se deve aos recursos interativos de suas lojas. Os clientes podem testar tacos de golfe em campos de prática cobertos, experimentar sapatos em uma pista específica para isso e praticar arco e flecha. Desintermediação: as primeiras empresas “ponto-com”, como Ama- zon.com e Yahoo!, inovaram trazendo a desintermediação na entregade produtos. Assim, elas modificaram o tradicional fluxo de bens por meio de canais de distribuição. Isso preocupou diversos produtores e lojas tradicionais, que decidiram reintermediar, adotando um modelo que reúne varejo real e virtual. Como você deve saber, muitos desses empreendimentos deram certo e se tornaram até mesmo mais lucrativos que as empresas digitais. Isso ocorreu pois eles possuíam mais recursos com que trabalhar, além de marcas fortes e reconhecidas. Maior poder de compra do cliente: o poder de compra dos consumi- dores cresceu bastante, em parte em decorrência da desintermediação. O telefone fixo, o celular e a internet hoje permitem consultar preços e especificações de produtos, além de fazer pedidos de qualquer lugar do mundo, 24 horas por dia, sete dias por semana. Desse modo, os consumidores podem contornar a limitação das ofertas de suas regiões. Nesse cenário, até os compradores de empresas podem realizar esse Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... 8 tipo de procedimento: os vendedores competem para capturar seus negócios. Além disso, as empresas podem se reunir a fim de agregar suas compras e conseguir preços melhores devido ao volume do pedido. Informação ao consumidor: as mais variadas informações estão à disposição dos consumidores contemporâneos. Pela internet, eles podem acessar, por exemplo, enciclopédias, informações médicas, resenhas de produtos e avaliações de filmes. Além disso, conexões pessoais e con- teúdos produzidos por usuários se multiplicam em sites e redes sociais como Facebook e YouTube. Você também já deve ter ouvido falar de sites de relacionamentos que investem em nichos, como o TripAdvisor, para amantes de viagens. Participação do consumidor: a voz ativa foi uma das grandes con- quistas dos consumidores nas últimas décadas. Em contrapartida, as empresas passaram a chamá-los para participar da criação e mesmo da comercialização de produtos: tudo para aumentar o sentimento de conexão e posse. Hoje, de acordo com Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017, p. 11), muitos “consumidores veem suas empresas favoritas como oficinas a partir das quais podem extrair as ofertas que quiserem”. Resistência do consumidor: uma tendência contemporânea é que os consumidores notem menos diferenças reais entre os produtos. Em decorrência disso, têm menos fidelidade às marcas e se tornam mais atentos ao preço e à qualidade, além de menos passivos frente a ações indesejadas de marketing. Como afirma Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017, p. 11): “Um estudo da Yankelovich identificou níveis recordes de resistência ao marketing por parte dos consumidores; a maioria relatou opiniões negativas sobre marketing e propaganda e declarou evitar produtos que recorrem a um marketing excessivo”. De acordo com o executivo de novos negócios da MarketPay, a experiência do usuário é a aposta do varejo em 2018. Confira no link a seguir. https://goo.gl/S1mxAC 9Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... Todas essas forças sociais que você acabou de ver mostram como o marke- ting precisa se adaptar para buscar novas oportunidades a fim de atender às necessidades do consumidor. Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017, p. 67) afirmam que, nesse mundo conectado, o conceito de mix do marketing (os quatro Ps, ou seja, produto, preço, praça e promoção) evoluiu e deve ser redefinido como os quatro Cs: consumidor, custo, conveniência e comunicação. Nessa adaptação para os quatro Cs, que considera uma economia digital, o primeiro C (consumidor) busca criar valor superior para os consumidores, customizando e personalizando produtos e serviços. Como os produtos ou serviços são flexibilizados em sua composição, os preços (custo, segundo C) também devem seguir esse conceito. Como você sabe, isso não é algo novo — já acontece nas redes hoteleiras, por exemplo —, portanto o preço precisa ser dinâmico e não mais estático. A conveniência (terceiro C) é a evolução do conceito de canais de distribuição, alterando inclusive antigos conceitos de posse e propriedade. Como exemplo, você pode considerar empresas como Airbnb e Uber. Além disso, num futuro muito próximo, ao adquirir um produto, os consumidores poderão imprimi-lo em impressoras 3D na sua residência. Essa técnica, aliás, já é usada em algumas áreas da saúde e em indústrias. Quanto à comunicação (quarto C), ela deixa de ser unilateral: os consu- midores não são mais passivos, mas se organizam em comunidades, com voz ativa individualmente ou em grupos. As empresas não devem se preocupar apenas em se comunicar com discursos adaptados às tendências, mas devem refletir seus valores tanto em seus produtos e serviços quanto em sua prática. O consumidor está alerta e sabe diferenciar discurso de realidade. Uma em- presa não pode, por exemplo, apenas dizer que é ecológica; isso deve estar em seu DNA de forma verdadeira. Os sistemas de avaliação de empresas como TripAdvisor demonstram como isso é possível e já influenciam a decisão de compra de vários consumidores pelo mundo. Como você viu, não é possível pensar o marketing como algo estável. O mundo mudou e está mais dinâmico e interligado. Hoje, você vive em uma era digital que influencia seu modo de comprar, sua maneira de se relacionar e, de modo geral, seu jeito de viver. Nesse contexto, cada vez mais valores pessoais, como o respeito ao meio ambiente, se tornam comuns na sociedade, forçando empresas a se adequarem a essa nova realidade. Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... 10 Consumidores mais ecológicos O marketing ecológico diz respeito a iniciativas estratégicas das empresas para fornecer aos clientes mercadorias ecologicamente corretas. Muitos consumidores, preocupados com tudo, desde a pureza do ar e da água à procedência da carne e do salmão, acreditam que todas as pessoas podem fazer diferença no meio ambiente. Por exemplo, aproximadamente metade dos adultos americanos agora recicla garrafas de refrigerante e jornais, e os consumidores europeus são até mais ecológicos. A lei exige que os alemães reciclem garrafas, e a União Europeia não permite importação de carne vermelha de animais criados com hormônios artificiais de crescimento. A demanda por produtos ecológicos tem sido uma dádiva para as empresas que os fornecem. As empresas estimulam os consumidores a substituir suas antigas máquinas de lavar roupas e louças por modelos que economizam água e energia e a investirem em sabão em pó sem fosfato e baterias recarregáveis sem mercúrio. Novos mercados estão surgindo para produtos de construção, embalagens, produtos de papel e até suéteres e tênis reciclados, bem como para eletrodomésticos, iluminação e sistemas de aquecimento e refrigeração eficientes em residências e escritórios. Para embarcar na onda ecológica, a linha de salgadinhos Sun-Chip, da Frito-Lay, passou a usar energia solar em uma de suas oito instalações de produção para aproveitar a energia do sol na fabricação de seus produtos. Esses produtos e iniciativas ecológicos prenunciam um modelo de negócio complexo. Eles são bons para os negócios? Como você sabe, algumas opções ecológicas são mais caras do que os produtos e iniciativas tradicionais. Os consumidores estão interessa- dos ou dispostos a pagar preços mais altos por produtos ecológicos? As empresas de fato estã o interessadas em melhorar o meio ambiente? Ou estã o promovendo dissimuladamente produtos ou serviç os como ecoló gicos com o objetivo de obter aprovaç ã o pú blica e aumentar as vendas, em vez de melhorar o meio ambiente? Esse tipo de exploraç ã o é tã o comum, que até deu origem a um novo termo: lavagem verde (greenwashing). Os consumidores precisam questionar se a empresa está gastando uma quantidade significativamente maior de tempo e dinheiro apenas para anunciar que é ecoló gica e atua em favor do meio ambiente ou se está de fato gastando esses recursos em práticas ambientalmente responsá veis. Fonte: Grewal (2016, p. 109). 11Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... FARIAS, C. V. S.; DUSCHITZ, C.; CARVALHO, G. M. Marketing aplicado. Porto Alegre: Bookman, 2015. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 4.0: do tradicional ao digital. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. KOTLER, P.; KELLER, K. K. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Edu- cation do Brasil, 2012. Mudanças recentes no macroambiente de marketing e suas influências... 12
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