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Classificação e identificação bacteriana APRESENTAÇÃO O avanço no conhecimento da genômica e proteômica enriqueceu em muito nosso conhecimento a respeito dos seres vivos, entretanto trouxe diversos paradoxos no agrupamento e na classificação destes. Rotineiramente a aplicação de técnicas avançadas não está disponível na maioria dos laboratórios, e a identificação das bactérias se dá por provas fenotípicas metabólicas e pela morfologia celular e das colônias. Há uma grande diversidade de meios e prova bioquímica, as quais podemos submeter os microrganismos. Assim sendo, é necessário que o farmacêutico desenvolva uma interpretação crítica dos achados e direcione os testes de acordo com uma suspeita inicial. Nesta Unidade de Aprendizagem você estudará como classificar os microrganismos relevantes e quais as principais técnicas utilizadas para a identificação destas bactérias. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Listar os principais grupos de bactérias de relevância clínica.• Identificar os testes fenotípicos utilizados para agrupamento de bactérias.• Reconhecer as principais características morfológicas de cultivos bacterianos.• DESAFIO O trato genital feminino possui uma microbiota rica e variada. Dentre as bactérias colonizadoras se destacam as produtoras de ácido lático, os Lactobacillus, que propiciam um meio ácido, o qual é uma barreira de defesa para bactérias infecciosas. Outros microrganismos também podem ser encontrados normalmente e em menor quantidade fazendo parte desta microbiota, como: Candida, Enterococcus, Corynebacterium, Streptococcus e Staphylococcus. Os Streptococcus do grupo B (Streptococcus agalactiae) são encontrados na microbiota vaginal de aproximadamente 20% das mulheres. Entretanto a presença desta bactéria na microbiota vaginal em mulheres gestantes é um fator determinante para a infecção do recém-nascido. Durante o pré-natal, gestantes na 35ª a 37ª semana são submetidas a uma pesquisa de colonização por S. agalactiae no canal vaginal. Neste exame um swab com secreção é coletado e inoculado em meios de cultura adequados para crescimento de S. agalactiae, como o ágar sangue. Porém, devido à diversidade de bactérias que podem ser encontradas no canal vaginal e que se desenvolvem em meio ao ágar sangue, é necessário identificar as colônias suspeitas. Desse modo, diga como pode ser realizada a identificação de S. agalactiae em amostras de secreção vaginal. INFOGRÁFICO No infográfico estão representados os principais grupos bacterianos de relevância clínica de acordo com sua morfologia celular e algumas características metabólicas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! CONTEÚDO DO LIVRO Acompanhe um trecho da obra Técnicas básicas de laboratório clínico, de Barbara Estridge e Anna Reynolds, onde são abordadas aspectos referentes a identificação bacteriana, como: precauções de segurança, avaliação de qualidade e demais itens. Boa leitura. Tradução: Ana Lucia Peixoto de Freitas Professora Adjunta do Departamento de Análises da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mestre em Microbiologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Doutora em Ciências Médicas pela UFRGS Beatriz A. Rosário Graduada em Farmácia Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ex-professora Substituta de Controle de Qualidade da Faculdade de Farmácia da UFRJ Joiza Lins Camargo Chefe da Unidade de Bioquímica e Imunoensaios do Serviço de Patologia Clínica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Mestre em Bioquímica Clínica pela Universidade de Londres Doutora em Ciências Médicas: Endocrinologia pela UFRGS Simone Martins de Castro Professora Adjunta do Departamento de Análises da Faculdade de Farmácia da UFRGS Farmacêutica-Bioquímica Responsável Técnica do Laboratório de Referência em Triagem Neonatal do RS – HMIPV – PMPA Mestre em Farmacologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Doutora em Ciências Biológicas (Bioquímica) pela UFRGS E82t Estridge, Barbara H. Técnicas básicas de laboratório clínico [recurso eletrônico] / Barbara H. Estridge, Anna P. Reynolds ; tradução: Ana Lucia Peixoto de Freitas ... [et al.] ; revisão técnica: Afonso Luis Barth, Suzane Silbert. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2011. Editado também como livro impresso em 2011. ISBN 978-85-363-2536-1 1. Farmacologia. 2. Laboratório farmacêutico. I. Reynolds, Anna P. II. Título. CDU 615.12 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB-10/Prov-009/10 OBJETIVOS DA LIÇÃO Após concluir esta lição, o estudante será capaz de: ■ Selecionar uma colônia isolada para executar a coloração de Gram. ■ Usar o microscópio para identificar organismos Gram-positivos e Gram-negativos. ■ Explicar como realizar os testes da catalase e da coagulase em organismos Gram-positivos. ■ Explicar como relatar a identificação presuntiva de organismos Gram-positivos e Gram-negativos. ■ Discutir o uso de sistemas manuais e automatizados para identificação de bactérias. ■ Executar o teste suscetibilidade a antibióticos por disco-difusão. ■ Interpretar os resultados do teste de suscetibilidade a antibióticos por disco-difusão. ■ Discutir as precauções de segurança que devem ser observadas ao realizar a identificação bacteriana e o teste de suscetibilidade a antibióticos. ■ Discutir os procedimentos de avaliação da qualidade que devem ser seguidos na realização da identifi- cação bacteriana e do teste de suscetibilidade a antibióticos. ■ Definir os termos do glossário. GLOSSÁRIO coliforme – determinadas bactérias Gram-negativas intestinais, incluindo a Escherichia coli. concentração inibitória mínima (CIM) – a menor concentração de um antibiótico capaz de inibir o cres- cimento de um microrganismo. pleomórfico – que tem formas variadas. teste da catalase – teste usado para diferenciar entre Streptococcus e Staphylococcus sp. teste da coagulase – teste para diferenciar entre Staphylococcus aureus e outras espécies de Staphylococcus. Identificação Bacteriana e Teste de Suscetibilidade a Antibióticos LIÇÃO 7-9 686 UNIDADE 7 Microbiologia Clínica Básica INTRODUÇÃO Identificar bactérias e determinar sua suscetibilidade a antibióti- cos são passos importantes para o diagnóstico e o tratamento de infecções bacterianas. Por exemplo, quando uma cultura de uri- na fornece uma contagem de colônias considerada clinicamente significativa, em geral se dá seguimento ao exame, realizando a identificação e o teste de suscetibilidade do microrganismo. A identificação envolve a realização da coloração de Gram de uma colônia isolada para determinar se o organismo é Gram-positivo ou Gram-negativo. Após a determinação da reação de Gram e da morfologia, são executados testes bioquímicos para identifi- cação do microrganismo. Ainda que a identidade do organismo dê ao médico orientação sobre que antibióticos são mais indica- dos para o tratamento, o teste de suscetibilidade aos antibióti- cos deve ser executado para confirmar qual o antibiótico efetivo contra o organismo. IDENTIFICAÇÃO BACTERIANA Precauções de segurança Os procedimentos usados na identificação de bactérias e na determinação da suscetibilidade a antibióticos expõem o técnico aos organis- mos e a reagentes usados para os testes. Todas as normas de se- gurança, incluindo as precauções-padrão e as técnicas assépticas, devem ser seguidas para prevenir contaminação do técnico, do ambiente e de outras pessoas que trabalham no laboratório. Deve ser usado equipamento de proteção individual (EPI). As bulas de medidas de segurança que acompanham os reagentes devem ser lidas por todos que os usam. Avaliação da qualidade Identificação bacteriana e testes de suscetibi- lidade a antibióticos precisos são essenciais para a administração do tratamento correto. A políticade avaliação da qualidade da instituição deve ser segui- da. Não devem ser usados reagentes, equipamentos ou materiais além do prazo de validade. As instruções do fabricante para o uso de sistemas de identificação bacteriana e a interpretação da sus- cetibilidade a antibióticos devem ser seguidas. Os organismos de controle devem ser testados a intervalos determinados, para asse- gurar que os discos de antibióticos e os reagentes estão atuando conforme esperado. Em culturas de urina inadequadamente coletadas, podem crescer três ou mais organismos diferentes, tornando difícil de- terminar qual deles é o causador da infecção. Muitos laborató- rios têm uma política de, nesses casos, realizar apenas a contagem de colônias, não continuando a processar o material. O manual de procedimento operacional-padrão (POP) de cada instituição deve ser seguido. Coloração de Gram e resultado de meios seletivos Observações do crescimento nas placas de ágar-sangue (AS) e dos meios seletivo ou indicador fornecem pistas sobre o tipo de organismo presente. Organismos Gram-negativos crescem tanto em AS como em EMB e MacConkey (MAC). Organismos Gram-positivos crescem apenas em AS (Fig. 7-51). O exame microscópico feito a partir de uma colônia confirma a reação de Gram e revela ou confirma a morfologia bacteriana – coco ou bastonete (bacilo). Também podem ser observadas característi- A B FIGURA 7-51 Crescimento bacteriano em meios seletivos: (A) Escherichia coli (Gram-negativo) e (B) Staphylococcus aureus (Gram-positivo) inoculados em placas dividas de ágar-sangue (lado esquerdo da placa) e MAC (lado direito da placa). O ágar-sangue permite o crescimento de ambos os organismos; o MAC é seletivo para Gram-negativos. (Cortesia de Remel, Inc., Lenexa, KS.) 687LIÇÃO 7-9 Identificação Bacteriana e Teste de Suscetibilidade a Antibióticos cas de crescimento, como, por exemplo, se o organismo cresce em agrupamentos ou cadeias ou se é pleomórfico, isto é, tem várias formas. Identificação de bactérias Gram-positivas Se o coco isolado é Gram-positivo, deve ser feito o teste da ca- talase para determinar se pertence ao gênero Staphylococcus ou Streptococcus. Estafilococos são catalase positivos, enquanto es- treptococos são catalase negativos. Se o teste de catalase for posi- tivo e os organismos são cocos Gram-positivos com agrupamento em cacho de uva, um teste da coagulase pode ajudar a diferen- ciar Staphylococcus aureus de outras espécies de Staphylococcus. Testes de aglutinação de látex também podem ser usados para identificar S. aureus. Teste da catalase Para realizar o teste da catalase, uma pequena porção de uma colônia, apanhada com um bastão estéril, é colocada em contato com uma gota de peróxido de hidrogênio (água oxigenada) a 3% sobre uma lâmina. O técnico deve ter cuidado para não pegar o meio de ágar-sangue, pois a hemoglobina do sangue vai reagir e causar uma reação falso-positiva. Se aparecerem bolhas dentro de 10 segundos, o organismo é catalase-positivo e pode ser presuntivamente identificado como pertencente ao gênero Staphyloccus (Fig. 7-52). Dependendo da política da instituição em relatar resultados, o laudo pode ser: “cocos Gram-positivos, catalase-positivos, morfologicamente se- melhantes a Staphylococcus”. O teste positivo de catalase deve ser seguido pelo teste de coagulase. A ausência de bolhas, teste de catalase negativo, é indicati- vo de Streptococcus. O resultado pode ser relatado como “cocos Gram-positivos, catalase-negativos, morfologicamente semelhan- tes a Streptococcus”. Teste da coagulase O teste da coagulase é usado para diferenciar S. aureus de ou- tros estafilococos. Estafilococos patogênicos produzem a enzima coagulase, que faz o fibrinogênio do plasma coagular. O teste da coagulase pode ser executado em lâmina ou em tubo, mas o mé- todo em tubo é mais confiável. Testes de coagulase em lâmina ne- gativos devem ser confirmados pelo teste de coagulase em tubo. Uma pequena quantidade da cultura é misturada com o plas- ma de coagulase comercial (plasma de coelho) em uma lâmina ou em um tubo pequeno. A lâmina é examinada quanto à presença de aglutinação, que é o resultado positivo. O tubo inoculado é incubado a 37°C e observado de hora em hora, para ver se o plas- ma formou um coágulo de fibrina ou se solidificou (Fig. 7-53). A conferência a cada hora é importante porque alguns S. aureus também podem produzir uma enzima que dissolve o coágulo, causando um resultado falso-negativo. Um teste de coagulase-positivo pode ser relatado como “co- cos Gram-positivos, coagulase-positivos, morfologicamente se- melhantes a Staphylococcus”. Essa é a identificação presuntiva de S. aureus. Um organismo coagulase-negativo pode ser relatado como “cocos Gram-positivos, coagulase-negativos, morfologicamente semelhantes a Staphylococcus”. Esse resultado indica que o or- ganismo não é S. aureus, mas pode ser S. saprophyticus, um or- ganismo Gram-positivo comumente envolvido em infecções do trato urinário (ITUs). Testes de aglutinação em látex Vários testes de aglutinação em látex estão disponíveis para con- firmar a identificação de S. aureus. Alguns exemplos são os kits Staphyloslide da BD BBL, o teste colorimétrico de látex da Fi- sher HealthCare e o Staphaurex da Remel (Fig. 7-54). Esses kits utilizam partículas de látex coradas, recobertas com fibrinogênio humano e IgG específica para proteína A encontrada em S. au- reus. Uma colônia suspeita de ser S. aureus é misturada com os reativos na lâmina do kit. Se for S. aureus, a coagulase vai reagir com o fibrinogênio e a IgG com a proteína A, causando aglutina- ção. As partículas de látex coradas fornecem uma reação positiva facilmente visível. A B FIGURA 7-52 Teste da catalase: (A) as bolhas indicam teste positivo; (B) a ausência de bolhas indica teste negativo. Staphylococcus spp. Identificação presuntiva de Staphylococcus aureus Incubar a 37°C por 4 horas Inocular o plasma com os cocos Gram-positivos catalase (+) A mistura permanece fluida, coagulase – A mistura coagula, coagulase + FIGURA 7-53 Esquema do teste da coagulase. 688 UNIDADE 7 Microbiologia Clínica Básica FIGURA 7-54 Kit para identificação de Staphylococcus aureus. (Cortesia de Remel, Inc., Lenexa, KS.) FIGURA7-55 Kit de teste de PBP2 para identificação de Staphylococcus aureus meticilina-resistente (MRSA). (Cortesia de Remel, Inc., Lenexa, KS.) T Ó P I C O S AT U A I S STAPHYLOCOCCUS AUREUS RESISTENTE A METICILINA No século XIX, cirurgias de grande porte passaram a ser mais frequentes nos hospitais, principalmente devido ao uso de anestésicos. Paralelamente, houve um aumento de mortalidade por infecções adquiridas no hospital. O agente etiológico mais frequente era Streptococcus pyoge- nes, mas o S. aureus também causava essas infecções. No final do século, quando os métodos antissépticos de Lis- ter foram implementados, a morte por infecção de tecidos diminuiu. Esse declínio continuou no século XX, com as infecções por S. aureus sendo a maior causa de mortalida- de relacionada a cirurgias. Na década de 1940, foi introduzida a penicilina, o antibiótico “milagroso”. Entretanto, por volta de 1950, apareceram cepas de S. aureus resistentes a penicilina que foram responsáveis por dificuldades adicionais nas infec- ções hospitalares. Uma cepa particularmente virulenta era prevalente em unidades neonatais. Por razões desconhe- cidas, essa cepa praticamente desapareceu em 1950, ten- do sido substituída por outra cepa resistente a penicilina menos virulenta. A capacidade de rápida adaptação das cepas de S. aureus foi demonstrada pelo desenvolvimento de resistência a antibióticos recém-introduzidos no uso médico, como estreptomicina, tetraciclina, cloranfenicol, eritromicina e outros. A comunidade médica ficou desiludida com a tera- pia antibiótica até que novas formas de penicilina, como a meticilina e a oxacilina, foram desenvolvidas. No de- correr dos anos seguintes, surtos de S. aureus resistentea meticilina (MRSA) foram relatados na Europa. As in- fecções mais graves eram tratadas com vancomicina, uma substância bastante tóxica. Então, na década de 1970, o número de infecções graves por MRSA cresceu de forma drástica, juntamente com o aumento de sua incidência na população hospitalizada. Em 1970, a incidência de MRSA nas fossas nasais de pacientes era de 8%, mas, por volta de 1977, essa incidência havia caído para 0,7%. Nos anos seguintes, a MRSA retornou de forma acentuada; nos anos 1980, uma nova cepa epidêmica apa- receu e espalhou-se por todo o mundo. O aumento conti- nuou durante o século XXI. Algumas cepas de MRSA ad- quiriram resistência a vancomicina. Apesar de rara, essa resistência causa grande preocupação na comunidade médica mundial, já que a vancomicina atualmente consti- tui a última linha de antibióticos contra MRSA. Resistência à meticilina em S. aureus ocorre devido à presença de uma proteína de parede celular chamada de proteína ligante de penicilina (PLP), que se liga com a penicilina e impede sua ação contra a bactéria. Testes rápidos para identificar S. aureus resistente a meticilina se baseiam na detecção dessa proteína (Fig. 7-55). Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) têm um papel ativo na investigação, na localização e na caracterização de cepas de MRSA. Tem sido obser- vado aumento da incidência de infecção em instituições de cuidados de saúde onde pacientes permanecem por longos períodos. Isso também ocorre em pacientes res- tritos ao leito não hospitalizados e que desenvolvem fe- ridas de decúbito. Para evitar a rápida disseminação da infecção para outros pacientes debilitados, é imperativo que seja realizada a troca de luvas e a lavagem de mãos cuidadosa entre os cuidados de diferentes pacientes. 689LIÇÃO 7-9 Identificação Bacteriana e Teste de Suscetibilidade a Antibióticos Identificação de bactérias Gram-negativas Para a identificação presuntiva de bacilos Gram-negativos, deve haver crescimento bacteriano em EMB ou MAC após incubação overnight. A coloração de Gram das bactérias que crescem em EMB ou MAC deve confirmar que se trata de bactérias Gram- -negativas, já que ambos os meios inibem o crescimento de orga- nismos Gram-positivos. Muitos microrganismos Gram-negativos apresentam colô- nias com aparência característica em meios seletivos e indicado- res. Klebsiella spp apresenta uma colônia mucoide, de coloração rósea. Escherichia coli forma colônias com brilho metálico es- verdeado em EMB (Fig. 7-56) e pode ser relatado como “bacilo Gram-negativo, coliforme por EMB”. Coliforme se refere a algu- mas bactérias Gram-negativas intestinais. O médico pode tratar o paciente com base nesses relatórios preliminares e depois conferir os resultados do teste de suscetibi- lidade a antibióticos para se assegurar que o antibiótico prescrito será efetivo. Porém, ele também pode solicitar uma identificação definitiva do organismo isolado. Sistemas manuais de identificação bacteriana Tanto sistemas manuais como automatizados são usados para identificar bactérias. Hospitais de grande porte e laboratórios de referência usam sistemas automatizados, por causa do grande volume de exames executados. Sistemas manuais são usados em laboratórios pequenos, com menor volume de trabalho ou como auxiliares para os sistemas automatizados em laboratórios maio- res. Sistemas manuais contêm vários testes bioquímicos em uma tira ou tubo (Fig. 7-57). Para inocular o sistema, pode ser usada uma colônia ou uma suspensão bacteriana do organismo. Tiras API para identificação microbiana O sistema API consiste em uma tira plana (galeria) com uma série de poços que contêm os reagentes dos testes para reações bioquí- micas, como fermentação de açúcares. Há vários tipos de galerias de API (Fig. 7-57A). Alguns exemplos são: API 20 E (Gram- -negativos), STAPH (estafilococos) e API 20 STREP (estrepto- cocos). Uma suspensão padronizada do organismo a ser testado é adicionada nos poços da galeria, que é então incubada durante o tempo determinado, normalmente 18 a 24 horas. O API 20 STREP pode ser lido após quatro horas e novamente após 24 ho- ras. As reações são anotadas, e o organismo é identificado com o auxílio de uma chave de identificação. Para controle de qualidade dos reagentes e das tiras, a companhia comercializa um kit, o API 20 E Reagent QC. Enterotube II O Enterotube II (BD BBL) é usado para a identificação rápida de bactérias Gram-negativas (Fig. 7-57B). O tubo contém 15 testes, incluindo fermentação de determinados açúcares e ou- tras reações bioquímicas. A inoculação é feita com uma única colônia, o sistema é incubado durante 18 a 24 horas a 37°C; de- pois é feita a leitura. O técnico registra os resultados das reações bioquímicas e usa um guia ou chave de interpretação para fazer a identificação. Sistemas automatizados de identificação bacteriana Três destacados sistemas automatizados incluem: MicroScan Walk-Away (Dade-Behring), o Phoenix (Becton Dickinson Diag- nostic Systems) e o VITEK-2 (bioMérieux). Esses equipamentos FIGURA 7-56 Aspecto metálico produzido por bactéria coliforme (meta- de direita da placa) crescendo em EMB. Tubo não inoculado Sem reação Tubo inoculado Reação positiva A B FIGURA 7-57 Sistemas manuais de identificação bacteriana: (A) sistema API; (B) Enterotube II. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. DICA DO PROFESSOR O vídeo descreve os passos para a identificação presuntiva dos principais grupos bacterianos através de testes para tal identificação. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) O teste da catalase é um método simples e rápido de avaliação fenotípica de alguns grupos microbianos. Selecione abaixo a afirmação que indica os gêneros diferenciados pelo resultado deste teste. A) Neisseria e Moraxella. B) Staphylococcus e Streptococcus. C) Listeria e Corynebacterium. D) Acinetobacter e Enterobacteriaceae. E) Lactobacillus e Streptococcus. 2) Algumas bactérias ao crescerem em meios suplementados com sangue podem produzir toxinas e substâncias que lisam as hemácias ou interagem com a hemoglobina presente no meio de cultura. Selecione abaixo a opção que relaciona de maneira adequada o tipo de hemólise com seu aspecto. A) Alfa-hemólise, lise total das hemácias, o meio de cultura fica transparente. B) Beta-hemólise, com ausência de hemólise, o meio de cultura permanece sem alterações. C) Beta-hemólise, lise total das hemácias, o meio de cultura fica transparente. D) Gama-hemólise, lise parcial das hemácias, o meio de cultura apresenta coloração esverdeada. E) Alfa-hemólise, ausência de hemólise, o meio de cultura permanece sem alterações 3) Durante a identificação das bactérias gram-negativas aeróbias, é essencial definir a reação ao teste da oxidase. Selecione abaixo qual a resposta mais adequada a respeito desse teste. A) Verifica a presença de um transportador de elétrons. B) O teste avalia a capacidade de utilizar citrato como fonte de carbono. C) Verifica a capacidade de degradação do peróxido de hidrogênio. D) Verifica a capacidade de acidificação de meios em anaerobiose. E) Verifica tolerância a altas concentrações de sais. 4) A presença de flagelos e observação da motilidade bacteriana é utilizada na identificação de diversas bactérias. Qual das informações abaixo NÃO é adequada de ser considerada para esta avaliação? A) Crescimento em meios semissólidos. B) Coloração pelo método de Ryu. C) Observação de suspensões bacterianas em lâmina e lamínula. D) A temperatura deve ser ajustada de acordo com o microrganismo. E) Crescimento difuso na superfície de um ágar. 5) Os meios OF (oxidação fermentação) são essenciais para a identificação de bacilos gram-negativos não fermentadores de glicose. A respeito destes testes, selecione a mais adequada.A) São utilizados apenas para avaliação da capacidade de fermentação e oxidação de glicose. B) Deve-se realizar o teste apenas em anaerobiose. C) Podemos observar bactérias que são negativas em meios OF glicose. D) O teste deve ser lido pela observação de crescimento no fundo do tubo. E) São testes indicados para identificação apenas de bactérias oxidase positiva. NA PRÁTICA Contratou-se um farmacêutico para auxiliar na rotina de microbiologia de um laboratório e ele observou que todos os testes de identificação estavam misturados numa estante do laboratório, deixando-o confuso. Então, resolveu organizar os testes de acordo com os principais grupos de microrganismos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Acompanhe a palestra ministrada pela Drª. Helena Homem de Mello (Especialista, Mestre e Doutora pela UFPR, Responsável Técnica pela NEWPROV Produtos para Laboratórios Ltda. Diretora do NEBaC - Núcleo de Estudos de Bacteriologia Clínica de Curitiba) e organizada pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná (CRF-PR) onde é abordada a temática de Identificação bacteriana no laboratório de Análises Clínicas de Médio a Pequeno porte. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Veja o vídeo Como realizar a Técnica de coloração de GRAM, onde explica-se a técnica propriamente dita e suas etapas, inclusive com demonstração laboratorial. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O livro Microscopia de luz em microbiologia: morfologia bacteriana e fúngica está dividido em duas partes, sendo que a primeira contempla os conceitos básicos de microbiologia e a descrição dos principais microrganismos, e a segunda traz ao leitor uma série de atividades relacionadas à manipulação desses microrganismos. No livro Microbiologia médica de Jawetz, Melnick & Adelberg traz uma apresentação sucinta, precisa e atua- lizada dos aspectos da microbiologia médica particularmente relevantes às áreas de infecções clínicas e quimioterapia.
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