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Staphylococcus APRESENTAÇÃO O gênero Staphylococcus recebeu sua nomenclatura em virtude do aspecto das suas células em microscopia, cocos em aglomerados. Esse grupo bacteriano compreende dezenas de espécies que têm como hábitat a pele e mucosas do homem e de outros animais. Algumas espécies possuem a capacidade de produzir toxinas e enzimas, em especial Staphylococcus aureus, e são causa de infecções importantes de pele e tecidos moles. Nesta Unidade de Aprendizagem você vai estudar as características deste grupo, principais espécies, assim como a relação com doenças e sua identificação laboratorial. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as principais espécies do gênero Staphylococcus.• Listar os processos infecciosos e locais anatômicos de isolamento dos Staphylococcus.• Reconhecer as principais metodologias de identificação laboratorial dos Staphylococcus.• DESAFIO As piodermites são condições infecciosas da pele, geralmente com formação de coleções de pus causadas por bactérias, principalmente os cocos gram-positivos. Nesse contexto, um homem de 52 anos, diabético, foi encaminhado ao laboratório para realização de exame microbiológico de lesão eritematosa infiltrada e com uma pústula na coxa direita. O homem relatou que havia suspeitado de ter sido picado por algum inseto, mas com a piora e dor no local procurou um médico. Foram coletadas amostras da pústula e realizado exame bacteriológico e bacterioscópico. Nas imagens abaixo estão representadas a cultura em ágar sangue e o bacterioscópico da pústula. Desse modo, responda aos seguintes questionamentos: a) Qual a sua suspeita de bactéria isolada? b) Como você pode confirmar a espécie bacteriana suspeita? c) Quais complicações podem ocorrer por esta bactéria? INFOGRÁFICO A primeira etapa para identificação de um Staphylococcus é verificar sua morfologia ao Gram e a presença da enzima catalase. Para a identificação das espécies pode ser necessário um grande painel de testes. Veja no Infográfico a seguir, um resumido esquema de identificação. CONTEÚDO DO LIVRO O gênero Staphylococcus é constituído por pelo menos 40 espécies. Quase todos os indivíduos sofrem algum tipo de infecção causada por S. aureus durante a vida, cuja gravidade varia de uma intoxicação alimentar ou infecção cutânea de pouca importância até infecções graves e potencialmente fatais. Para saber mais, acompanhe a leitura do trecho Estafilococos da obra Microbiologia Médica, que serve como base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. Tradução Cláudio M. Rocha-de-Souza Pesquisador visitante do Instituto de Tecnologia de Imunobiológicos Bio-Manguinhos — FIOCRUZ. Doutor em Microbiologia Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Revisão técnica desta edição José Procópio Moreno Senna Pesquisador da vice-diretoria de desenvolvimento tecnológico do Instituto de Tecnologia de Imunobiológicos Bio-Manguinhos — FIOCRUZ. Professor da disciplina de Bacteriologia do Mestrado Profissional em Tecnologia de Imunobiológicos Bio-Manguinhos — FIOCRUZ. Doutor em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). M626 Microbiologia médica de Jawetz, Melnick e Adelberg [recurso eletrônico] / Geo. F. Brooks ... [et al.] ; [tradução: Cláudio M. Rocha-de-Souza ; revisão técnica: José Procópio Moreno Senna]. – 26. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8055-335-2 1. Microbiologia. I. Brooks, Geo. F. CDU 579 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB10/2052 13Esta� lococos C A P Í T U L O Os estafilococos são células esféricas gram-positivas, geralmente dispostas em cachos irregulares semelhantes a cachos de uvas. Crescem rápido em muitos tipos de meio de cultura e são me- tabolicamente ativos, fermentando carboidratos e produzindo pigmentos que variam do branco ao amarelo intenso. Alguns são membros da microbiota normal da pele e das mucosas dos seres humanos; outros causam supuração, formação de absces- sos, várias infecções piogênicas e mesmo septicemia fatal. Com frequência, os estafilococos patogênicos hemolisam o sangue, coagulam o plasma e produzem uma variedade de enzimas e to- xinas extracelulares. O tipo mais comum de intoxicação alimen- tar é causado por uma enterotoxina estafilocócica termoestável. Os estafilococos desenvolvem rapidamente resistência a nume- rosos antimicrobianos, resultando, assim, problemas na conduta terapêutica. O gênero Staphylococcus é constituído por pelo menos 40 es- pécies. As quatro espécies de importância clínica encontradas com maior frequência são o Staphylococcus aureus*, o Staphylo coccus epidermidis, Staphylococcus lugdunensis e o Staphylococ cus saprophyticus. O S. aureus é coagulase-positivo, o que o distingue das outras espécies; é um importante patógeno para os seres humanos. Quase todos os indivíduos sofrem algum tipo de infecção causada por S. aureus durante a vida, cuja gravida- de varia de uma intoxicação alimentar ou infecção cutânea de pouca importância até infecções graves e potencialmente fatais. Os estafilococos coagulase-negativos são membros da microbio- ta humana normal, e às vezes causam infecções frequentemen- te associadas a dispositivos e aparelhos implantados, tais como próteses de articulações, cateteres intravasculares, especialmen- te em pacientes muito jovens, idosos e imunocomprometidos. Cerca de 75% dessas infecções causadas por estafilococos coa- gulase-negativos devem-se ao S. epidermidis; as infecções cau- sadas por Staphylococcus lugdunensis, Staphylococcus warneri, Staphylococcus hominis e outras espécies são menos comuns. O S. saprophyticus representa uma causa relativamente comum de infecções do trato urinário em mulheres jovens, embora ra- ramente causem infecções em pacientes hospitalizados. Outras espécies são importantes na medicina veterinária. Morfologia e identifi cação A. Microrganismos típicos Os estafilococos são células esféricas com cerca de 1 µm de diâ- metro, dispostas em cachos irregulares (Figura 13.1). Também * N. de R.T. A espécie Staphylococcus. aureus é composta por duas subes- pécies: Staphylococcus aureus, subespécie aureus e Staphylococcus aureus, subespécie anaerobius. são observados como cocos isolados, aos pares, tétrades e ca- deias em culturas líquidas. Os cocos jovens são fortemente gram-positivos; com o envelhecimento, muitas células tornam- se gram-negativas. Os estafilococos são imóveis e não formam esporos. Sob a influência de fármacos, como a penicilina, os estafilococos sofrem lise. As espécies Micrococcus assemelham-se frequentemente aos estafilococos, sendo encontradas em forma de vida livre no ambiente e formando agrupamentos regulares de quatro (tétrades) ou oito cocos. Suas colônias podem ser amarelas, vermelhas ou alaranjadas. Os micrococos raramente estão as- sociados a doenças. B. Cultura Os estafilococos crescem rapidamente na maioria dos meios bacteriológicos, em condições aeróbias ou microaerofílicas. Crescem com mais rapidez ainda a 37°C, mas formam melhor o pigmento à temperatura ambiente de 20 a 25°C. As colônias em meio sólido são arredondadas, lisas, elevadas e brilhantes (Fi- gura 13.2). Em geral, o S. aureus forma colônias acinzentadas a amarelo-douradas intensas. No isolamento primário, as colônias de S. epidermidis costumam ser de cor cinza a branca; muitas colônias só apresentam pigmento após incubação prolongada. Não há produção de pigmento em condições anaeróbias ou em caldo. Vários graus de hemólise são provocados pelo S. aureus e ocasionalmente por outras espécies. As espécies de Peptostrepto coccus e Peptoniphilus, que são cocos anaeróbios, frequentemen- te assemelham-se aos estafilococos quanto a sua morfologia. O gênero Staphylococcus contém duas espécies, S. saccharolyticus e S. aureus subespécieanaerobius, que inicialmente só crescem em condições de anaerobiose, mas tornam-se aerotolerantes em subculturas. Esse fenômeno pode também ser observado, mais raramente, em algumas amostras de S. epidermidis. C. Características de crescimento Os estafilococos produzem catalase, o que os distingue dos es- treptococos, eles fermentam lentamente muitos carboidratos, produzindo ácido láctico, mas não gás. A atividade proteolítica varia bastante de uma cepa para outra. Os estafilococos pato- gênicos produzem muitas substâncias extracelulares, que serão discutidas adiante. Os estafilococos mostram-se relativamente resistentes a ressecamento, calor (suportam temperatura de 50°C duran- te 30 min.) e cloreto de sódio a 9%, porém são rapidamente inibidos por certas substâncias químicas, como, por exemplo, hexaclorofeno a 3%. 200 SEção III Bacteriologia Os estafilococos exibem sensibilidade variável a muitos an- timicrobianos. A resistência pode ser causada por diferentes mecanismos: 1. A produção de β-lactamase, sob o controle dos plasmí- deos, é comum e torna os microrganismos resistentes a muitas penicilinas (penicilina G, ampicilina, ticarcilina, piperacilina e similares). Os plasmídeos são transmitidos por transdução e talvez também por conjugação. 2. A resistência à nafcilina (bem como à meticilina e à oxaci- lina) independe da produção de β-lactamase. A resistência à nafcilina é codificada e regulada por uma sequência de genes encontrados em uma região do cromossomo cha- mado cassete cromossômico estafilocócico (staphylococcal cassette chromosome mec [SCCmec]). O gene mecA nesse locus codifica especificamente uma proteína de ligação à penicilina (protein binding penicillin [PBP]) de baixa afini- dade (PBP2a), que é responsável pela resistência. Existem 12 tipos diferentes de SCCmec. Os tipos I, II e III estão associados a infecções adquiridas em hospitais e podem conter genes que codificam resistência a outros antimi- crobianos. O SCCmec tipo IV tem sido encontrado prin- cipalmente em cepas de S. aureus resistentes à meticilina adquiridas na comunidade (CA-MRSA), e tende a ser me- nos resistente e mais transmissível. Esse tipo de SCCmec também foi responsável por surtos epidêmicos na última década nos EUA e em alguns países da Europa. Outros ti- pos têm a sua distribuição limitada em diferentes localiza- ções geográficas no mundo. 3. Nos EUA, o S. aureus e o S. lugdunensis são considerados sensíveis à vancomicina se a concentração inibitória míni- ma (CIM) for ≤ 2 µg/mL; de sensibilidade intermediária se a CIM for de 4 a 8 µg/mL; e resistente se a CIM for ≥ 16 µg/mL. Cepas do S. aureus com sensibilidade interme- diária à vancomicina foram isoladas no Japão, nos EUA e em alguns outros países. Essas cepas são conhecidas como VISA (vancomycinintermediate S. aureus). Em geral, essas cepas de S. aureus têm sido isoladas de pacientes com in- fecções complexas que receberam terapia prolongada com vancomicina. Às vezes há falha do tratamento com vanco- micina. O mecanismo de resistência está associado a uma síntese aumentada de parede celular e alterações na parede celular, e não é provocado pelos genes van encontrados nos enterococos. As cepas de S. aureus com suscetibilida- de intermediária à vancomicina costumam ser resistentes à nafcilina, mas em geral são sensíveis a oxazolidinonas e a quinupristina/dalfopristina. 4. Desde 2002, diversas cepas de S. aureus resistentes à vanco- micina (VRSA) foram isoladas de pacientes nos EUA. Essas amostras continham o gene de resistência à vancomicina vanA dos enterococos (Cap. 14) e o gene mecA de resistên- cia à nafcilina (ver anteriormente). Essas cepas eram sensí- veis a outros antimicrobianos. A resistência à vancomicina é uma grande preocupação no mundo inteiro. 5. A resistência mediada por plasmídeos às tetraciclinas, eritromicinas, aminoglicosídeos e outros fármacos é fre- quente nos estafilococos. 6. O termo “tolerância” implica que os estafilococos são ini- bidos, mas não destruídos por um fármaco — isto é, exis- te uma grande diferença entre a concentração inibitória mínima e a concentração bactericida mínima de um anti- microbiano. Os pacientes com endocardite causada por S. aureus tolerante podem apresentar uma evolução clínica prolongada em comparação com os pacientes que têm en- docardite provocada por S. aureus totalmente suscetível. Às vezes, a tolerância pode ser atribuída à ausência de ati- vação das enzimas autolíticas na parede celular. fiGura 13.1 Coloração do Staphylococcus aureus pelo método de Gram mostrando cocos gram-positivos em pares, tétrades e cachos. Amplificação original de 1.000 vezes. (Cortesia de L. Ching.) fiGura 13.2 Colônias de Staphylococcus aureus em uma placa de ágar-sangue após incubação de 24 horas. As colônias amarelo-acinzen- tadas apresentam 3 a 4 mm de diâmetro em uma placa de 10 cm. As colônias são cercadas por zonas claras de β-hemólise de cerca de 1 cm de diâmetro. (Cortesia de H. Reyes.) CAPÍTULo 13 Estafilococos 201 D. Variação Uma cultura de estafilococos contém algumas bactérias que diferem da maioria da população na expressão de determi- nadas características da colônia (tamanho, presença de pig- mento, ocorrência de hemólise), na elaboração de enzimas, na resistência a fármacos e na patogenicidade. A expressão dessas características in vitro é influenciada pelas condições de cres- cimento: quando o S. aureus resistente à nafcilina é incuba- do a 37°C em ágar-sangue, um em cada 107 microrganismos expressa resistência à nafcilina; quando incubado a 30°C em ágar contendo cloreto de sódio a 2 a 5%, um em cada 103 mi- crorganismos expressa tal resistência; esse fenômeno é também conhecido como resistência heterogênea. Estrutura antigênica Os estafilococos contêm polissacarídeos e proteínas antigêni- cas, bem como outras substâncias importantes na estrutura da parede celular. O peptidoglicano, um polímero de polissacarí- deos contendo subunidades ligadas, proporciona o rígido exo- esqueleto da parede celular. O peptidoglicano é destruído por ácido forte ou por exposição à lisozima, sendo importante na patogênese da infecção, pois induz a produção de interleucina 1 (pirogênio endógeno) e de anticorpos opsônicos pelos mo- nócitos. Além disso, pode atuar como quimioatraente para os leucócitos polimorfonucleares, apresenta atividade semelhante a uma endotoxina e ativa o complemento. Os ácidos teicoicos, que são polímeros polirribitol-fosfato, são ligados cruzadamente ao peptidoglicano e podem ser an- tigênicos. Em pacientes com endocardite ativa causada por S. aureus, pode-se verificar a presença de anticorpos contra o áci- do teicoico detectáveis por difusão em gel. A proteína A é um componente da parede celular de amos- tras de S. aureus, sendo caracterizada como uma proteína de superfície dentro do grupo de adesinas, denominadas, compo- nentes de superfície microbiana reconhecedores de moléculas adesivas de matriz (microbial surface components recognizing adhesive matrix molecules [MSCRAMMs]). A fixação bacte- riana à célula hospedeira é mediada por MSCRAMMS, sendo estes importantes fatores de virulência. A proteína A liga-se à porção Fc das moléculas de IgG, exceto IgG3. A porção Fab da IgG ligada à proteína A permanece livre para combinar-se com um antígeno específico. A proteína A tornou-se um importan- te reagente em imunologia e na tecnologia laboratorial diag- nóstica. Assim, por exemplo, a proteína A, ligada a moléculas de IgG dirigidas contra um antígeno bacteriano específico, aglutina bactérias que apresentam esse antígeno em sua super- fície (“coaglutinação” [clumping factor]). Outro importante MSCRAMM é o fator de agregação* presente na superfície da parede celular. O fator de agregação se liga, de forma não enzi- mática, ao fibrinogênio e a plaquetas, resultando em agregação da bactéria. Existem muitos outros MSCRAMMs para serem descritos (ver referências) que desempenham importantes fun- çõesna colonização e invasão de S. aureus. A maioria das amostras clínicas de S. aureus é dotada de cápsulas de origem polissacarídica que inibem a fagocitose por leucócitos polimorfonucleares, a não ser que haja anticorpos * N. de R.T. O fator de agregação também é denominado coagulase ligada. específicos. Pelo menos 11 sorotipos já foram identificados, onde os sorotipos 5 e 8 são responsáveis pela maioria das infec- ções. Esses tipos capsulares são alvos para vacinas conjugadas. Testes sorológicos apresentam utilidade limitada na indentifi- cação dos estafilococos. Enzimas e toxinas Os estafilococos podem causar doença em virtude de sua capa- cidade de multiplicação e ampla disseminação nos tecidos, bem como pela produção de muitas substâncias extracelulares, algu- mas delas enzimas e outras consideradas toxinas, embora pos- sam atuar como enzimas. Muitas das toxinas estão sob o controle genético dos plasmídeos; outras podem estar sob controle tanto cromossômico quanto extracromossômico. Em outros casos, o mecanismo de controle genético não está bem definido. A. Catalase Os estafilococos produzem catalase, que converte o peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. O teste da catalase diferen- cia os estafilococos, que são positivos, dos estreptococos, que são negativos. B. Coagulase e fator de agregação S. aureus produz coagulase, uma proteína semelhante a enzima que coagula o plasma oxalatado ou citratado na presença de um fator contido no soro. A coagulase liga-se à protrombina e, juntas, tornam-se enzimaticamente ativas, iniciando a po- limerização da fibrina. A coagulase pode depositar fibrina na superfície dos estafilococos, alterando talvez sua ingestão por células fagocíticas ou sua destruição no interior dessas células. A produção de coagulase é considerada sinônimo de potencial patogênico invasivo. O fator de agregação (clumping factor), outro exemplo de MSCRAMM (ver anteriormente) é responsável pela aderência dos microrganismos ao fibrinogênio e à fibrina. Quando mistu- rados com o plasma, os S. aureus formam agregados. O fator de agregação é distinto da coagulase. Uma vez que induz uma forte resposta imunogênica do hospedeiro. Esse antígeno tem sido in- vestigado como possível candidato vacinal, porém até o momen- to nenhuma vacina humana baseada nesse fator está disponível. C. outras enzimas Outras enzimas produzidas pelos estafilococos são a hialuro- nidase, ou fator de propagação; estafiloquinase, que provoca fibrinólise, mas tem ação muito mais lenta que a estreptoqui- nase; proteinases; lipases; e β-lactamase. D. Hemolisinas A α-hemolisina é uma proteína heterogênea que atua em um largo espectro de membranas das células eucarióticas. A β-toxina degrada a esfingomielina sendo, portanto, tóxica pa- ra muitos tipos de célula, inclusive os eritrócitos humanos. A δ-toxina é heterogênea, dissociando-se em subunidades em detergentes não iônicos. Desestrutura membranas biológicas e pode ter um papel nas doenças diarreicas causadas por S. aureus. A γ hemolisina é uma leucocidina que lisa leucócitos sendo composta por duas proteínas denominadas S e F. Essa hemolisina pode interagir com duas proteínas, compreendendo 202 SEção III Bacteriologia a leucocidina de Panton-Valentine (PVL) (ver adiante), para formar seis potenciais toxinas de dois componentes. Todas es- tas seis toxinas proteicas são capazes de lisar de maneira efi- ciente os leucócitos pela formação de poros nas membranas intracelulares, o que aumenta a permeabilidade dos cátions. Isso leva a uma liberação maciça de mediadores inflamatórios, como a IL 8, leucotrienos e histamina, que são responsáveis por necrose e inflamação grave. E. Leucocidina de Panton-Valentine A toxina PVL do S. aureus possui dois componentes que ao contrário das hemolisinas codificadas cromossomicamente são codificadas por um fago móvel. Essa toxina pode destruir os leucócitos humanos e de coelhos. Os dois componentes, desig- nados como S e F, atuam sinergisticamente na membrana dos leucócitos, como descrito anteriormente para a γ toxina. Esta toxina constitui um importante fator de virulência em infec- ções causadas por CA-MRSA. Ambos os grupos de hemolisi- nas são regulados pelo gene agr (ver adiante). F. Toxinas esfoliativas As toxinas epidermolíticas do S. aureus são compostas por duas proteínas de massa molecular (MM) igual. A toxina es- foliativa A (esfoliatina) é codificada pelo gene eta localizado em um fago, sendo termoestável (resiste a fervura por 20 mi- nutos). A esfoliatina B é mediada por plasmídeo, sendo ter- molábil. Essas toxinas epidermolíticas produzem descamação generalizada na síndrome estafilocócica da pele escaldada por dissolução da matriz mucopolissacarídica da epiderme. Estas toxinas são superantígenos. G. Toxina da síndrome do choque tóxico A maioria das cepas de S. aureus isoladas de pacientes com a síndrome do choque tóxico produz uma toxina denominada toxina da síndrome do choque tóxico 1 (toxic shock syndrome toxin1 [TSST 1]), semelhante à enterotoxina F. A TSST 1 é o protótipo de um superantígeno (Cap. 8). Essa toxina se liga a molécula de histocompatibilidade principal classe II (major histocompatibility complex [MHC] classe II), levando à estimu- lação das células T, que promove as inúmeras manifestações da síndrome do choque tóxico. A toxina está associada a febre, choque e comprometimento multissistêmico, inclusive erup- ção cutânea descamativa. O gene da TSST 1 é encontrado em cerca de 20% dos isolados de S. aureus, inclusive MRSA. H. Enterotoxinas Existem várias enterotoxinas (A-E, G-J, K-R e U, V) que são con- sideradas superantígenos semelhantes a TSST-1. Aproximada- mente 50% das cepas de S. aureus podem produzir uma ou mais enterotoxinas. As enterotoxinas são termoestáveis e resistem à ação das enzimas intestinais. Importante causa da intoxicação alimentar, as enterotoxinas são produzidas quando o S. aureus cresce em alimentos que contenham carboidratos e proteínas. A ingestão de 25 µg de enterotoxina B resulta em vômitos e diar- reia. É provável que o efeito emético da enterotoxina resulte da estimulação do sistema nervoso central (centro dos vômitos) após a toxina atuar sobre receptores neurais no intestino. Os genes da toxina esfoliativa, da TSST 1 e das enteroto- xinas estão em um elemento cromossômico chamado ilha de patogenicidade, que interage com elementos genéticos acessó- rios — bacteriófagos — para produzir as toxinas. Patogênese Os estafilococos, em particular o S. epidermidis, são membros da microbiota normal da pele humana, das vias respiratórias e do trato gastrintestinal. O estado de portador nasal do S. au reus é observado em 20 a 50% dos seres humanos. Os estafilo- cocos também são encontrados regularmente no vestuário, nas roupas de cama e em outros fômites em ambientes humanos. A capacidade patogênica de uma determinada cepa de S. aureus reside no efeito combinado dos fatores extracelulares e toxinas, juntamente com as propriedades invasivas da cepa. Em uma extremidade do espectro patológico encontra-se a intoxica- ção alimentar estafilocócica, atribuível meramente à ingestão de enterotoxina pré-formada; no outro extremo, estão a bacterie- mia estafilocócica e abscessos disseminados em todos os órgãos. O S. aureus patogênico e invasivo produz coagulase, ten- dendo a formar um pigmento amarelo e ser hemolítico. Os estafilococos não patogênicos e não invasivos, como o S. epi dermidis, são coagulase-negativos e tendem a ser não hemolí- ticos, raramente provocando supuração, mas podem infectar próteses ortopédicas ou cardiovasculares, ou causar doença em indivíduos imunossuprimidos. Podem ser refratários ao tra- tamento devido à formação de biofilmes. S. lugdunensis tem emergido como um patógeno associado a um espectro de in- fecções similar ao do S. aureus. Além disso, essas duas espécies compartilham características fenotípicas, como as hemolisinas e o fator de agregação. Em geral, o S. saprophyticusnão é pig- mentado, mostra-se resistente à novobiocina e não é hemolíti- co, e causa infecções das vias urinárias em mulheres jovens. Regulação dos determinantes da virulência A expressão dos determinantes de virulência em estafilococos é regulada por diversos sistemas sensíveis que reagem aos si- nais do ambiente. O primeiro desses sistemas consiste em duas proteínas (sistema de dois componentes), como, por exemplo, o gene regulador acessório (accessory gene regulator [agr]). Ou- tros dois sistemas incluem as proteínas de ligação a DNA (p. ex. proteínas sar) e os pequenos RNAs reguladores (microRNAs; p. ex. RNAIII). A ligação dos sensores a ligantes extracelulares específicos, ou a um receptor, resulta na cascata de fosforilação que leva à ligação do regulador a uma sequência de DNA es- pecífica, a qual leva posteriormente à ativação das funções de regulação-transcrição. Existem diversos sistemas regulatórios de dois componentes em S. aureus, como agr, o mais bem des- crito, saeRS, srrAB, arlSR e lytRS. Um resumo de como esses sistemas interagem está brevemente descrito a seguir. O gene regulador acessório (agr) é essencial no controle por quorum sensing da expressão gênica. Ele controla a expressão preferencial das adesinas de superfície (proteína A, coagulase e proteína de ligação ao fibrinogênio) e a produção de exoproteí- nas (toxinas tipo TSST 1), dependendo do momento da fase de crescimento (e, portanto, da densidade bacteriana). Em baixa densidade celular, o promotor P2 fica reprimido, e a transcrição da proteína transmembrana, AgrB; peptídeo CAPÍTULo 13 Estafilococos 203 precursor, AgrD; sensor transmembrana, AgrC; e o regulador da transcrição, AgrA, estão em baixos níveis. Como a densida- de celular aumenta durante a fase estacionária de crescimento, o sensor AgrC ativa o regulador AgrA, uma proteína de ligação ao DNA que ativa os promotores P2 e P3. O promotor P3 ini- cia a transcrição da δ hemolisina e um efetor chamado RNAIII, que reprime a expressão das adesinas de superfície e ativa a se- creção de exoproteínas em níveis transcricional e de tradução. Agr também é controlado positivamente por uma proteína de ligação ao DNA chamada SarA (codificada por sar) e possivel- mente por outros sistemas regulatórios. Comprovou-se que pelo menos quatro sistemas regulató- rios de dois outros componentes afetam a expressão dos genes de virulência, sendo chamados sae, exoproteínas de S. aureus; srrAB, staphylococcal respiratory response; arlS, sensor relacio- nado com o locus de autólise; e lytRS. Sae regula a expressão gênica em nível transcricional, sendo essencial para a produção de α-toxina, β-hemolisinas e coagulase. Sua atividade indepen- de da atividade de agr. SrrAB é importante na regulação da ex- pressão dos fatores de virulência influenciados pelo oxigênio do ambiente. O locus arlSR é importante no controle da autóli- se e diminui a ativação do locus agr. O locus lytRS também está envolvido na autólise. Patologia O protótipo de uma lesão estafilocócica é o furúnculo ou ou- tros abscessos localizados. O S. aureus estabelecido em grupos, em um folículo piloso, provoca necrose tecidual (fator dermo- necrótico). A coagulase produzida coagula a fibrina ao redor da lesão e no interior dos vasos linfáticos, resultando na for- mação de uma parede que limita o processo, sendo reforçada pelo acúmulo de células inflamatórias e, posteriormente, de tecido fibroso. No centro da lesão, ocorre liquefação do tecido necrótico (intensificada por hipersensibilidade tardia), e o abs- cesso “aponta” na direção da menor resistência. A drenagem do líquido do centro do tecido necrótico é seguida de lento preenchimento da cavidade por tecido de granulação, com ci- catrização final. A supuração focal (abscesso) é típica da infecção estafilo- cócica. A partir de qualquer foco, os microrganismos podem propagar-se, através dos vasos linfáticos e da corrente sanguí- nea, para outras partes do corpo. A supuração no interior das veias, associada à trombose, constitui uma característica co- mum dessa disseminação. Na osteomielite, o foco primário de crescimento do S. aureus consiste, em geral, em um vaso san- guíneo terminal da metáfise de um osso longo, resultando em necrose do osso e supuração crônica. O S. aureus pode causar pneumonia, meningite, empiema, endocardite ou sepse, com supuração em qualquer órgão. Os estafilococos pouco invasi- vos estão envolvidos em muitas infecções cutâneas (p. ex., ac- ne, piodermatite ou impetigo). Os cocos anaeróbios (espécies de Peptostreptococcus) participam das infecções anaeróbias mistas. Os estafilococos também causam doença graças à elabo- ração de toxinas, sem infecção invasiva aparente. A esfoliação bolhosa — a síndrome da pele escaldada — é causada pela pro- dução de toxina esfoliativa. A síndrome do choque tóxico está associada à TSST 1. Manifestações clínicas A infecção estafilocócica localizada aparece em forma de “es- pinha”, infecção de folículo piloso ou abscesso. Em geral, ve- rifica-se intensa reação inflamatória localizada e dolorosa que sofre supuração central e cicatriza rapidamente quando o pus é drenado. A parede de fibrina e células em torno do centro do abscesso tende a impedir a disseminação dos microrganismos, não devendo ser rompida por manipulação ou traumatismo. A infecção por S. aureus também pode resultar da conta- minação direta de uma ferida, como, por exemplo, infecção estafilocócica pós-operatória da ferida ou infecção após trau- matismo (osteomielite crônica após fratura exposta, meningite após fratura do crânio). Se houver disseminação do S. aureus e bacteriemia, poderá ocorrer endocardite, osteomielite hematogênica aguda, menin- gite ou infecção pulmonar. O quadro clínico assemelha-se ao observado em outras infecções hematogênicas. A localização secundária em determinado órgão ou sistema é acompanhada de sinais e sintomas de disfunção orgânica, bem como intensa supuração focal. A intoxicação alimentar causada por enterotoxina estafilo- cócica caracteriza-se por um curto período de incubação (1 a 8 h), náuseas violentas, vômitos e diarreia, assim como rápida convalescença. Não ocorre febre. A síndrome do choque tóxico manifesta-se por início abrupto com febre alta, vômitos, diarreia, mialgias, erupção escarlatiforme e hipotensão, com insuficiência cardíaca e renal nos casos mais graves. Com frequência, esta síndrome ocorre até 5 dias após o início da menstruação em mulheres jovens que usam tampões higiênicos de alta absorção, mas também é observada em crianças e em homens com infecções de feridas por estafilococos. A síndrome pode ter recidiva. O S. aureus associado à síndrome do choque tóxico pode ser encontrado na vagina, em tampões higiênicos, feridas ou outras infecções localizadas, ou na garganta, mas praticamente nunca na cor- rente sanguínea. Exames diagnósticos laboratoriais A. Amostras São amostras apropriadas para cultivo: pus coletado por swab de superfície ou aspirado a partir de um abscesso, sangue, as- pirado traqueal ou líquido cerebrospinal para cultura, depen- dendo da localização do processo infeccioso. A nasofaringe anterior é a região para coleta de material por swab para deter- minação de colonização nasal tanto por cultura clássica quanto por testes de amplificação do ácido nucleico. B. Esfregaços Estafilococos típicos aparecem como cocos gram-positivos em aglomerados, em esfregaços corados de pus ou escarro. Não é possível distinguir os microrganismos saprofíticos (S. epider midis) dos patogênicos (S. aureus) nos esfregaços. C. Cultura As amostras semeadas em placas de ágar-sangue produzem colônias típicas em 18 horas a 37°C, porém a hemólise e a 204 SEção III Bacteriologia formação de pigmento podem não ocorrer em um prazo de alguns dias, sendo seu aparecimento ótimo à temperatura am- biente. O S. aureus, mas não outros estafilococos, fermenta o manitol. As amostras contaminadas com microbiota mista po- dem sercultivadas em meio que contenha NaCl a 7,5%; o sal inibe a maior parte da microbiota normal, mas não o S. aureus. Utilizam-se ágar com manitol hipertônico ou meio cromogê- nico disponível comercialmente para rastreamento dos porta- dores nasais de S. aureus e pacientes com fibrose cística. D. Teste da catalase Teste usado para detectar a presença de enzimas citocromo oxi- dase. Deposita-se uma gota de solução de peróxido de hidrogênio a 3% sobre uma lâmina e acrescenta-se uma pequena quantidade do crescimento bacteriano na solução. A formação de bolhas (li- beração de oxigênio) indica resultado positivo no teste. E. Teste da coagulase O plasma citratado de coelhos (ou de seres humanos), diluído a 1:5, é misturado com um volume igual de caldo de cultura ou crescimento de colônias em ágar, sendo incubado a 37°C. Um tubo de plasma misturado com caldo estéril é incluído como controle. Se houver a formação de coágulos em 1 a 4 horas, o resultado do teste será positivo. Os estafilococos coagulase-positivos são considerados pa- togênicos para os seres humanos; entretanto, os estafilococos coagulase-positivos de cães (Staphylococcus intermedius) e gol- finhos (Staphylococcus delphini) raramente causam doença em seres humanos. As infecções de próteses podem ser causadas por microrganismos do grupo do S. epidermidis coagulase-negativo. F. Teste de sensibilidade Deve-se fazer o teste de microdiluição em caldo ou por difu- são em disco rotineiramente com estafilococos isolados de infecções clinicamente significativas. É possível prever a re- sistência à penicilina G pelo resultado do teste positivo para a β-lactamase; cerca de 90% de S. aureus produzem β-lactamase. A resistência à nafcilina (e à oxacilina, bem como à meticili- na) ocorre em cerca de 65% de S. aureus e aproximadamente 75% de S. epidermidis. A resistência à nafcilina (ou à oxacilina) correlaciona-se com a presença de mecA, o gene que codifica uma proteína de ligação à penicilina (PBP2a) que não é afe- tada por esses fármacos. O gene pode ser detectado por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR). A maior parte dos laboratórios clínicos usa métodos fenotípicos, como o rastrea- mento em placas de ágar contendo oxacilina. Os estafilococos que crescem em ágar Muller-Hinton contendo 4% de NaCl e 6 µg/mL de oxacilina, em geral, são positivos para o gene mecA e resistentes à oxacilina/nafcilina. Alternativamente, um teste para detecção do produto do gene mecA, a PBP2a, está dispo- nível comercialmente, sendo muito mais rápido que uma PCR para detecção de mecA ou outros testes para a resistência que empreguem meios de crescimento em ágar com oxacilina. G. Testes sorológicos e tipagem Os testes sorológicos para o diagnóstico de infecções por S. au reus têm pouco valor prático. Os padrões de sensibilidade a antibióticos mostram-se úteis na avaliação das infecções por S. aureus e para determinar se vários isolados do S. epidermidis de hemoculturas representam bacteriemia causada pela mesma cepa, disseminada por um ni- cho de infecção. As técnicas de tipagem molecular têm sido utilizadas para documentar a disseminação de clones do S. aureus produtores de doença epidêmica. A eletroforese em gel de campo pulsa- do (PFGE) e a tipagem por sequenciamento de múltiplos locus (MLST) são altamente discriminativas. Tratamento A maioria dos indivíduos abriga estafilococos na pele, no na- riz ou na garganta. Mesmo que fosse possível remover da pele os estafilococos (p. ex., no eczema), ocorreria reinfecção qua- se imediatamente por perdigotos. Como os microrganismos patogênicos se disseminam geralmente a partir de uma lesão (p. ex., furúnculo) para outras áreas da pele por meio dos dedos e das roupas, é importante proceder a uma rigorosa assepsia local para controlar a furunculose recidivante. As infecções cutâneas múltiplas graves (acne, furunculose) ocorrem mais frequentemente em adolescentes. Verifica-se a ocorrência de infecções cutâneas semelhantes em pacientes que recebem tratamento prolongado com corticosteroides. Na acne, as lipases dos estafilococos e das corinebactérias liberam ácidos graxos dos lipídeos e, assim, causam irritação tecidual. As tetraciclinas são utilizadas para tratamento a longo prazo. Abscessos e outras lesões supurativas fechadas são tratados por drenagem, que é essencial, e terapia com antimicrobianos, muitos dos quais exercem algum efeito contra os estafilococos in vitro, mas é difícil erradicar os estafilococos patogênicos dos indivíduos infectados, visto que os microrganismos desenvol- vem rapidamente resistência a muitos antimicrobianos, e os fármacos não conseguem atuar na parte necrótica central da lesão supurativa. Além disso, é difícil erradicar o estado de por- tador de S. aureus. A osteomielite hematogênica aguda responde satisfatoria- mente aos antimicrobianos. Na osteomielite crônica e recidivante, a drenagem cirúrgica e remoção do osso morto são acompanha- das de administração prolongada de fármacos apropriados, em- bora seja difícil erradicar os estafilococos infectantes. Oxigênio hiperbárico e aplicação de retalhos miocutâneos vascularizados ajudam na cicatrização em caso de osteomielite crônica. A bacteriemia, a endocardite, a pneumonia e outras infecções causadas por S. aureus exigem tratamento intravenoso prolon- gado com penicilina resistente à β-lactamase. Com frequência, a vancomicina é reservada para os estafilococos resistentes à naf- cilina. Nos últimos anos, o aumento da concentração inibitória mínima (MIC) à vancomicina, entre diversas cepas de MRSA isoladas de pacientes hospitalizados levaram os clínicos a pro- curar outras terapias. Os agentes alternativos para o tratamento de bacteriemias e endocardites por MRSA incluem novos an- timicrobianos, como a daptomicina, linezolida e dalfopristina- quinopristina (ver Cap. 28). Além disso, estes agentes podem ser bactericidas e oferecem alternativas quando alergias impedem o emprego de outros compostos ou quando ocorrer falha clí- nica no tratamento. Entretanto, o uso desses agentes deve ser discutido com os infectologistas e farmacêuticos, pois os efeitos colaterais e a farmacocinética são característicos de cada agente. DICA DO PROFESSOR Entre os Staphylococcus encontram-se os de coagulase negativa e positiva. Os staphylococcus denominados de coagulase negativa são patógenos oportunistas menos associados a processos infecciossos, ficando restritos a infecções relacionadas ao trato urinário no homem e na mulher, principalmente àquelas relacionadas ao uso de dispositivos médicos plásticos como cateteres e próteses. Quer saber, agora, quais são as características do staphylococcus de coagulase positiva? Acompanhe no vídeo a seguir, e saiba também quais são os processos infecciosos decorrentes de sua presença no organismo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Normas técnicas definem o limite de contaminação de alimentos com Staphylococcus aureus devido ao risco de intoxicação alimentar. Qual dos fatores de virulência citados abaixo está diretamente relacionado a esse quadro? A) Enzima coagulase. B) Toxina da síndrome do choque tóxico-1. C) Enterotoxinas. D) Leucocidina de Panton-Valentine. E) Toxinas epidermolíticas. 2) Selecione a conduta abaixo mais adequada ao isolar um Staphylococcus coagulase negativa de uma amostra de urina de uma paciente jovem com sintomas de infecção urinária. A) Provável contaminação da amostra, pois Staphylococcus são colonizantes da pele. B) Devemos realizar teste de suscetibilidade à novobiocina. C) Trata-se de uma infecção por Staphylococcus aureus. D) Não é possível, pois as espécies são inibidas pela ureia. E) Devemos realizar teste da catalase. 3) Os testes para identificação de S. aures podem ser realizados por diversas metodologias. Selecione abaixo a afirmação CORRETA sobre o que é detectado no teste da coagulase executado em lâmina ou em tubo, respectivamente.A) Fator de agregação e enzima livre. B) Fermentação do manitol e hemácias sensibilizadas. C) Partículas de látex sensibilizadas e desoxirribonuclease. D) Produção de desoxirribonuclease e enzima livre. E) Enzima livre e fator de agregação. 4) Em um exame microbiológico com crescimento de S. aureus, em qual das alternativas abaixo é mais provável de o isolamento estar relacionado com processo infeccioso? A) Secreção da nasofaringe. B) Fezes diarreicas. C) Swab superficial de pele. D) Sangue periférico. E) Líquido cefalorraquidiano de pacientes previamente hígidos. 5) A resistência a antimicrobianos tem sido uma grande preocupação quando tratamos de Staphylococcus. Selecione abaixo a alternativa que melhor se enquadra ao termo MRSA. A) Isolados de S. aureus que possuem penicilinases. B) Isolados que são resistentes ao tratamento com vancomicina. C) c) Isolados que apresentam fator de agregação. D) Isolados de S. aureus que possuem a proteína PBP2a. E) Isolados de S. epidermidis produtores de biofilmes. NA PRÁTICA Existem três objetivos principais em diagnosticar uma infecção estafilocócica invasiva: para confirmar se a infecção foi causada por uma bactéria S. Aureus e se as bactérias têm desenvolvido algum tipo de resistência a um ou mais antibióticos; para determinar a fonte da infecção e para determinar outras funções do corpo afetadas pela infecção. Na prática clínica, é comum que médico e responsável técnico dos resultados de exames troquem ideias frente a resultados duvidosos ou inconclusivos. Esse é o caso de Caio, um médico que, ao receber o resultado da cultura de sangue de um paciente internado, ficou em dúvida com o resultado e solicitou auxílio ao laboratório. Veja na imagem a seguir, a conversa entre os profissionais e o fechamento do diagnóstico. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Acompanhe por meio do vídeo Fatores envolvidos a adaptação de Staphylococcus Aureus resistentes uma entrevista com a Profa. Agnes Marie Sá Figueiredo, sobre suas pesquisas com staphilococcus aureus resistentes à meticilina e a questão do controle de infecções hospitalares. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Aprofunde os seus conhecimentos por meio do vídeo S. aureus onde é possível acompanhar Antonio Carlos Campos Pignatari, professor Titular de Infectologia da Unifesp, durante o 41º Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, falando sobre as controvérsias do diagnóstico das doenças causadas por Staphilococcus aureus. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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