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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ANAMNESE Todos os elementos são importantes: identificação, antecedentes pessoais e familiares, hábitos de vida, condições socioeconômicas e culturais do paciente. IDADE Anomalias congênitas predominam em crianças e jovens, bem como episódios iniciais da febre reumática. Doença de Chagas e HAS são mais frequentes dos 20-50 anos. DAC (angina e IAM) é mais comum acima da 5ª década de vida. SEXO Lesões mitrais ocorrem mais em mulheres jovens, enquanto aterosclerose coronária é predominante no sexo masculino até os 45 anos – a partir dessa idade a incidência se torna igual em ambos os sexos. RAÇA Anemia falciforme é mais predominante na raça negra. HAS, além de ser mais frequente nos negros, aparece em faixas etárias mais baixas e apresenta evolução grave. PROFISSÃO Pacientes cardíacos que exercem profissões que exigem esforço físico intenso é mais frequente o aparecimento de IC. Atividades acompanhadas de estresse emocional ou que o provocam constituem fator importante na HAS e na cardiopatia isquêmica. NATURALIDADE E LOCAL DE RESIDÊNCIA Relacionam-se com as doenças endêmicas, salientando-se em determinadas regiões a alta incidência da doença de Chagas. ANTECEDENTES PESSOAIS Destacam-se a relação entre infecções estreptocócicas, principalmente da bucofaringe, e lesões orovalvares de etiologia reumática. Há uma relação entre alimentação rica em lipídios e aterosclerose, entre lesões renais e HAS e entre perturbações emocionais e manifestações cardiovasculares de ansiedade e/ou depressão. HÁBITOS DE VIDA Destacam-se o tabagismo, o alcoolismo e o sedentarismo, relacionados com o aparecimento de aterosclerose e HAS. CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS Influenciam nas doenças do coração. Doença reumática é mais frequente em pessoas de renda mais baixa (más condições alimentares e habitacionais ou falta de tratamento precoce). Péssimas condições das habitações rurais e da periferia das cidades estão entre as causas determinantes da endemia chagásica. SINAIS E SINTOMAS Serão analisados: dor cardíaca, palpitações, dispneia, tosse e expectoração, chieira, hemoptise, desmaio, alterações do sono, cianose, edema, astenia e posição de cócoras. DOR PRECORDIAL ! Não é sinônimo de dor cardíaca, pois pode ter origem no coração e em outros órgãos/estruturas. ❖ A dor relacionada com o coração e aorta compreende a de origem isquêmica, pericárdica e aórtica. Na avaliação semiológica da dor precordial, são importantes: ❖ Localização ❖ Irradiação ❖ Caráter ❖ Intensidade ❖ Duração ❖ Frequência ❖ Fatores desencadeantes/agravantes ❖ Fatores atenuantes ❖ Sintomas concomitantes DOR NA ISQUEMIA MIOCÁRDICA Tem origem na hipóxia celular -> desequilíbrio entre oferta e consumo de O2. A causa mais comum é aterosclerose coronária, assumindo características especiais na angina de peito e no IAM. LOCALIZAÇÃO A localização mais típica é a retroesternal, podendo ser sentida à esquerda ou, mais raramente, à direita da linha esternal. Pode ser restrita a uma pequena área ou ocupar toda a região precordial. A dor perimamilar ou por debaixo do mamilo quase nunca é de origem cardíaca, podendo ser emocional ou provocada por osteoartrite, distensão estomacal ou do ângulo esplênico. IRRADIAÇÃO A irradiação está relacionada com a intensidade da dor -> quanto mais intensa, maior a probabilidade de irradiar-se. A dor por obstrução de uma artéria coronária pode ter diversas irradiações: ❖ Pavilhões auriculares ❖ Maxilar inferior ❖ Nuca ❖ Região cervical ❖ MMSS ❖ Ombros Semiologia do Sistema Cardiovascular Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Região epigástrica ❖ Região interescapulovertebral CARÁTER/QUALIDADE A dor anginosa é quase sempre do tipo constritivo, tendo o paciente sensação de que algo aperta o tórax ou a região retroesternal. Para caracterizá-la, o paciente leva a mão fechada ao peito. Costuma ser descrita como “aperto”, “opressão”, “peso”, “queimação” e “sufocação”. Pode ter também a sensação de nó na garganta, como se tivesse sendo estrangulado. ❖ A mesma sensação pode ser percebida nas áreas de irradiação da dor. DURAÇÃO A dor da angina no peito tem duração curta, em geral de 2-3min, raramente ultrapassando 10min -> isso porque a origem é apenas hipóxia miocárdica, sem alteração necrobiótica. Na angina instável, a dor é mais prolongada, podendo durar 20min (já há alterações histológicas). No IAM, quando ocorrem alterações necróticas, a dor dura mais de 20min, podendo chegar a horas. INTENSIDADE A intensidade da dor varia de acordo com o grau de comprometimento isquêmico, podendo ser classificada: ❖ Dor leve -> quando o paciente a sente, mas não se fixa nela. É relatada como sensação de peso ou desconforto. ❖ Dor moderada -> quando incomoda muito o paciente e agrava com os esforços. ❖ Dor intensa -> inflige grande sofrimento, obrigando o paciente a ficar o mais quieto possível, já que a dor agrava com esforços ou movimentos. É acompanhada de sudorese, palidez, angústia e sensação de morte iminente. FATORES DESENCADEANTES/AGRAVANTES A dor da angina no peito ocorre quase que invariavelmente após esforços, mas pode ser desencadeada por todas as condições que aumentam o trabalho cardíaco -> emoções, taquicardia, frio ou refeição copiosa. ❖ No IAM, a dor costuma ter início com o paciente em repouso. FATORES ATENUANTES O alívio da dor pelo repouso é uma das características fundamentais da angina no peito. O uso de vasodilatadores coronários (nitratos) também faz a dor desaparecer. ❖ Na angina clássica, a dor leva de 3-4min para desaparecer após uso de nitratos -> se levar mais tempo, pode ser angina instável. Dor da pericardite aguda pode ser amenizada ou cessar quando o paciente inclina o tórax para a frente ou o comprime com um travesseiro. SINTOMAS CONCOMITANTES Precordialgia intensa, acompanhada de náuseas, vômitos e sudorese fria, sugere infarto agudo do miocárdio. Dor precordial durante crise de palpitações pode decorrer de isquemia provocada por taquiarritmia. EXAME FÍSICO INSPEÇÃO E PALPAÇÃO Realizadas simultaneamente porque os achados semióticos tornam-se mais significativos quando analisados em conjunto. Deve ser analisado: abaulamento, ictus cordis, batimentos, movimentos visíveis ou palpáveis e pesquisa de frêmito cardiovascular. ABAULAMENTO A observação da região precordial deve ser feita em duas incidências: ❖ Tangencial -> examinador em pé do lado direito do paciente. ❖ Frontal -> examinador fica junto aos pés do paciente, que permanece deitado. O abaulamento dessa região pode indicar aneurisma da aorta, cardiomegalia, derrame pericárdico e alterações da própria caixa torácica. Cardiopatias congênitas e lesões valvares reumáticas são as causas mais frequentes de abaulamento precordial -> é a dilatação do VD que determina o abaulamento. ICTUS CORDIS É analisado na inspeção e na palpação, investigando-se localização, extensão, mobilidade, intensidade e tipo da impulsão, ritmo e frequência. A localização varia de acordo com o paciente. Deslocamento do ictus cordis -> indica dilatação e/ou hipertrofia do VE, como ocorre em estenose e insuficiência aórtica, insuficiência mitral, hipertensão, miocardiopatias e algumas cardiopatias congênitas. É necessário avaliar a extensão do ictus cordis, procurando determinar quantas polpas digitais são necessárias para cobri-lo -> normalmente, 1-2 polpas digitais. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Nos casos de hipertrofia ventricular, são necessárias 3 polpas ou mais. Quando há grande dilatação e hipertrofia, o ictus cordis pode chegar a abarcar toda a palma da mão. Mobilidade do ictus cordis -> primeiramente, marca-se o local do choque com o paciente em decúbito dorsal. Depois,o paciente adota os decúbitos laterais (direito e esquerdo), e o examinador marca o local do ictus nessas posições. ❖ Normalmente -> choque da ponta desloca-se 1-2cm. ❖ Sínfise pericárdica -> ictus não se desloca. Intensidade do ictus cordis -> é avaliada mais pela palpação do que pela inspeção. Para fazê-la, repousa-se a palma da mão sobre a região dos batimentos. ❖ Na hipertrofia VE se constatam choques de ponta bem vigorosos. Tem-se um ictus cordis difuso quando sua área corresponde a 3 ou mais polpas digitais; e ictus cordis propulsivo quando a mão que o palpa é levantada a cada contração. ! Ritmo de galope pode ser reconhecido com facilidade pela palpação do precórdio. BATIMENTOS/MOVIMENTOS Alguns batimentos podem ser visíveis/palpáveis. Retração sistólica -> aparece em casos de hipertrofia direita. Durante a sístole, em vez de um impulso, o que se percebe é uma retração. Levantamento em massa do precórdio (impulsão sistólica) -> ocorre na hipertrofia VD e é percebido como impulso sistólico que movimenta uma grande área da parece torácica. Choque valvar -> quando as bulhas cardíacas se tornam hiperfonéticas, podem ser sentidas pela mão como um choque de curta duração. FRÊMITO CARDIOVASCULAR Correspondem aos sopros. Sensação tátil determinada por vibrações produzidas no coração ou nos vasos. Ao encontrar um frêmito, 3 características devem ser investigadas: ❖ Localização (usa como referência as áreas de ausculta) ❖ Situação no ciclo cardíaco ❖ Intensidade (avaliada em cruzes 1-4) AUSCULTA Em uma ausculta cardíaca correta, todo o precórdio e as regiões circunvizinhas precisam ser auscultados. Os focos servem como pontos de referência porque encontram-se neles informações mais pertinentes às valvas. Foco mitral -> 5º espaço intercostal esquerdo na linha hemiclavicular e corresponde ao ictus cordis. Foco pulmonar -> 2º espaço intercostal esquerdo, junto ao esterno. É nesse foco em que se têm as condições ideais para análise dos desdobramentos da 2ª bulha pulmonar. Foco aórtico -> 2º espaço intercostal direito, justaesternal. Foco tricúspide -> base do apêndice xifoide, ligeiramente para a esquerda. Outras áreas e adjacências do precórdio devem ser auscultadas: ❖ Borda esternal esquerda (entre o foco pulmonar e tricúspide) ❖ Borda esternal direita (vai do foco aórtico ao 5º espaço intercostal direito) ❖ Regiões infra e supraclaviculares ❖ Regiões laterais do pescoço ❖ Regiões interescapulovertebrais O médico e o paciente devem posicionar-se comodamente no momento da ausculta, que será efetuada com o paciente nas posições deitada, sentada e em decúbito lateral esquerdo. ❖ Às vezes, usa-se outra posição na qual o paciente se põe de pé, debruçando-se sobre a mesa de exame ou sobre o próprio leito. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA A posição padrão é o decúbito dorsal com a cabeça apoiada em um pequeno travesseiro, com o tórax completamente descoberto. O médico fica do lado direito, de pé ou sentado, conforme a altura da cama ou da mesa de exame. Quando há hipofonese das bulhas ou quando se quer tornar mais nítidos os sons originados na base do coração, solicita-se ao paciente que assuma a posição de pé, debruçando-se sobre a mesa de exame. As solicitações feitas ao paciente devem ser claras. Assim, quando se deseja que ele altere seu modo de respirar, isso deve ser feito em linguagem simples e clara. ❖ Quando se deseja, por exemplo, que o paciente faça uma expiração forçada, a melhor maneira de obtê-la será pedir-lhe que esvazie o peito, soprando todo o ar que for possível. BULHAS CARDÍACAS 1ª BULHA (B1 - TUM) Fechamento das valvas mitral e tricúspide, o componente mitral antecedendo o tricúspide. A 1ª bulha coincide com o ictus cordis e com o pulso carotídeo. É de timbre mais grave e seu tempo de duração é um pouco maior que o da 2ª bulha. Em condições normais, a 1ª bulha tem maior intensidade no foco mitral. ! Sístole -> intervalo entre B1 e B2. Diástole -> intervalo entre B2 e B1. 2ª BULHA (B2 - TA) Fechamento das valvas aórtica e pulmonar. Ouve-se o componente aórtico em toda a região precordial, enquanto o ruído originado na pulmonar é auscultado no foco pulmonar e borda esternal esquerda. No foco aórtico e na ponta do coração, a 2ª bulha é sempre única pelo fato de se auscultar nesses focos somente o componente aórtico. Em condições normais, o componente aórtico precede o pulmonar. A 2ª bulha vem depois do pequeno silêncio, seu timbre é mais agudo, soa de maneira mais seca. Designada pelo TA. DESDOBRAMENTO FISIOLÓGICO DA 2ª BULHA Na inspiração, o componente pulmonar sofre um retardo que é suficiente para perceber, nitidamente, os dois componentes. Quando a bulha está desdobrada, seu ruído corresponde ao TLA. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O grau de desdobramento varia de indivíduo para indivíduo, e é observado em quase todas as crianças. 3ª BULHA (B3 - TU) Ruído protodiastólico de baixa frequência. Se origina das vibrações da parede ventricular subitamente distendida pela corrente sanguínea na cavidade durante o enchimento ventricular direito. ❖ 3ª bulha cardíaca normal -> crianças e adultos jovens. É mais audível na área mitral, com o paciente em decúbito lateral esquerdo e com a campânula do estetoscópio. É expressa por um TU. 4ª BULHA (B4) Ruído débil que ocorre no fim da diástole ou pré-sístole. Busca desaceleração do fluxo sanguíneo mobilizado pela contração atrial de encontro à massa sanguínea existente no interior do ventrículo, no final da diástole. LOCALIZAÇÃO DOS FENÔMENOS ESTETOACÚSTICOS Quando se faz a ausculta do coração e se encontram outros sons que não sejam as bulhas, cumpre localizá-los exatamente na revolução cardíaca, tomando por base a 1a e a 2a bulha. Para isso, dividem-se a sístole e a diástole nas seguintes partes: ❖ Protossístole -> terço inicial da sístole. ❖ Mesossístole -> terço médio da sístole. ❖ Telessístole -> terço final da sístole. ❖ Protodiástole -> terço inicial da diástole. ❖ Mesodiástole -> terço médio da diástole. ❖ Telediástole -> terço final da diástole. RITMO E FREQUÊNCIA CA RDÍACA Após reconhecer a 1ª e 2ª bulha, deve-se determinar o ritmo do coração e o número de batimentos por minuto -> FC. ❖ 2 bulhas -> ritmo de 2 tempos ou binário. ❖ 3º ruído -> ritmo de 3 tempos ou tríplice: TUM-TA-TU-TUM-TA- TU-TUM-TA-TU. ! Para determinar FC, conta-se 1min inteiro. ❖ Normal -> 60-100 bpm/min. ❖ Bradicardia -> < 60. ❖ Taquicardia -> > 100. ARRITMIAS CARDÍACAS Para o diagnóstico clínico das arritmias, é necessário considerar as manifestações subjetivas e as objetivas diretamente relacionadas com elas e as manifestações que decorrem de eventuais distúrbios hemodinâmicos por elas causados. RITMO DE GALOPE Lembram o ruído das patas de um cavalo galopando. A expressão é: PA-TA-TA, ou seja, PA-TA-TA-PA-TA-TA-PA-TA-TA. É mais audível quando se apoia o receptor, de preferência o de campânula, com suavidade sobre a parede torácica. ❖ Às vezes, esse ritmo é mais palpável do que audível. ALTERAÇÕES DAS BULHAS CARDÍACAS DESDOBRAMENTO DA 1ª BULHA Se amplo, é justo levantar a suspeita de bloqueio de ramo direito. Retarda a contração ventricular direita, atrasa o fechamento da valva tricúspide. Em vez do TUM-TA-TUM-TA-TUM-TA, ouve-se uma sequência de ruídos -> TLUM-TA-TLUM-TA-TLUM-TA. MASCARAMENTO DA 1ª BULHA Sopro sistólico de regurgitação. Tem início junto com a 1ª bulha, recobrindo-a e estendendo-se até o fim da sístole. 2ª BULHA CARDÍACA Posição das valvas no início do seu fechamento constitui como o fator principal. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Quanto maior a distância percorrida por elas, mais intenso será o ruído. Decresce o débito ventricular -> valvas de mantêm próximas nomomento em que seu fechamento inicia -> ruído de menor intensidade. ❖ Ex.: extrassístoles, estenose aórtica, estenose pulmonar e miocardiopatias. Ao contrário, nas condições em que há um aumento do débito cardíaco (persistência do canal arterial e comunicação interatrial), pode ocorrer hiperfonese da 2ª bulha na área pulmonar. Condições anatômicas das valvas -> valvas calcificadas movimentam pouco, produzindo ruído de pequena intensidade. ❖ Ex.: estenose aórtica calcificada -> o componente aórtico da 2ª bulha torna-se praticamente inaudível. ❖ Ex.: defeitos congênitos -> soldadura das valvas que as impedem de se movimentar amplamente. Aumento de pressão na aorta ou na pulmonar -> cúspides correspondentes se fecham com mais força. Hiperfonese de 2ª bulha na área correspondente. ❖ Ex.: HAS -> há hiperfonese da 2ª bulha na área aórtica. ❖ Ex.: hipertensão pulmonar -> ocorre um fato semelhante na área pulmonar. DESDOBRAMENTO DA 2ª BULHA Área pulmonar se ouvem os componentes aórtico e pulmonar. Desdobramento constante e variável, o desdobramento fixo e o desdobramento invertido ou “paradoxal” -> desdobramentos patológicos. Desdobramento constante -> pode ser de origem mecânica ou elétrica. Em vez de ouvir TUM-TA-TUM-TA-TUM-TA, ouve-se algo que pode imitar TUM-TLA-TUM-TLA-TUM-TLA. Desdobramento invertido -> pode ser observado no bloqueio do ramo esquerdo do feixe de His. Aparece na expiração. Pode ocorrer na estenose aórtica acentuada. 3ª E 4ª BULHA CARDÍACA Em algumas cardiopatias que apresentam shunt da esquerda para a direita, ou seja, CIA, CIV e persistência do canal arterial (PCA), existem alterações hemodinâmicas ou da própria estrutura da parede ventricular que dão origem a uma 3a bulha patológica. ❖ Não há diferenças estetoacústicas entre a 3a bulha fisiológica e a patológica. As condições que originam uma 4a bulha patológica são as lesões estenóticas das valvas semilunares, a hipertensão arterial, a DAC e as miocardiopatias hipertróficas, ou seja, todas as situações em que há diminuição da complacência ventricular. SOPROS São produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo. É quando o sangue, ao fluir, deixa de ser laminar e surgem vibrações que originam os ruídos -> sopros. CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS DOS SOPROS Para avaliar o sopro, é necessário investigar: situação no ciclo cardíaco, localização, irradiação, intensidade, timbre e tonalidade, modificação com a fase da respiração, com a posição do paciente e com o esforço. SITUAÇÃO NO CICLO CARDÍACO É essencial o reconhecimento das 1ª e 2ª bulhas. Na ausculta, é sugerido que o examinador palpe concomitantemente o pulso carotídeo e, por intermédio dele, determine o que é sistólico e o que é diastólico. Os sopros devem ser sistólicos, diastólicos e sistodiastólicos ou contínuos. SOPRO SISTÓLICO DE EJEÇÃO São causados por estenose da valva aórtica/pulmonar e se originam durante o período de ejeção ventricular. Começa centésimos de segundos após a 1ª bulha (fase de contração isovolumétrica). Pressão intraventricular se eleva e as valvas atrioventriculares se fecham, dando origem à 1ª bulha. Contudo, a pressão intravascular (aorta e pulmonar) ainda está mais elevada que a pressão dentro dos ventrículos, e por isso a aórtica e pulmonar continuam fechadas sem que haja saída de sangue dos ventrículos -> percebe-se o sopro após a 1ª bulha. A pressão interventricular ultrapassa a pressão intra-aórtica e intrapulmonar -> sangue começa a ser expulso dos ventrículos. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA A princípio, a ejeção é lente, passando a ser máxima na mesossístole e voltando a reduzia ne telessístole -> sopro em crescendo-decrescendo. SOPRO SISTÓLICO DE REGURGITAÇÃO É audível desde o início da sístole -> por isso aparece com a 1ª bulha, recobrindo-a e mascarando-a. Ocupa todo o período sistólico com intensidade quase igual e termina imediatamente antes da 2ª bulha ou pode recobri-la. Causado pela regurgitação de sangue dos ventrículos para os átrios -> insuficiência mitral/tricúspide, ou de um ventrículo para o outro quando existe comunicação entre eles. Fase de contração isovolumétrica é o período em que as valvas atrioventriculares estão se fechando -> pressão dentro dos ventrículos já está mais alta que nos átrios -> sangue regurgita para a câmara de menor pressão desde o início da sístole. SOPROS DIASTÓLICOS Aparecem durante a diástole e, conforme o momento em que nela se situam são classificados em: protodiastólico, mesodiastólicos e telediastólico ou pré-sistólicos. Ocorrem em dois grupos de afecções -> estenoses atrioventriculares e insuficiência das valvas aórtica e pulmonar. Estenoses atrioventriculares (mitral e tricúspide) -> ocupa a parte média da diástole – enchimento rápido dos ventrículos. Algumas vezes se prolonga, podendo sofrer um certo reforço no fim da diástole ou pré-sístole. O reforço pré-sistólico depende da contração atrial. Existe um nítido intervalo entre a 2ª bulha e o início desses sopros: pressões intra-atriais e intraventriculares são quase iguais e passa pouco sangue pelos orifícios valvares. São sopros de baixa frequência e tonalidade grave -> caráter de “ruflar”. Insuficiência das valvas sigmoides (aórtica e pulmonar) -> início imediato após a 2ª bulha – já é importante o gradiente de pressão entre os vasos da base (aorta e pulmonar) e os ventrículos. Podem ficar restritos à 1ª parte da diástole (Protodiástole) ou ocupar também a mesodiástole e telediástole. Alta frequência, decrescendo e tonalidade aguda -> essas qualidades dão a estes sopros caráter “aspirativo”. Sopros sistodiastólicos/contínuos -> durante toda a sístole diástole, sem interrupção, recobrindo e mascarando a 1ª e 2ª bulha. A parte sistólica desses sopros costuma ser mais intensa e mais rude. São designados sopros “em maquinaria” porque lembram o ruído de máquina a vapor em movimento. ❖ Presentes na persistência do canal arterial, nas fístulas arteriovenosas, nas anomalias dos septos aortopulmonares e no rumor venoso. LOCALIZAÇÃO Área em que é mais audível e, como pontos de referência, empregam-se as áreas de ausculta e as demais regiões. ! Localizar um sopro na área mitral, por exemplo, não significa que ele esteja sendo formado na valva mitral. A direção em que o sopro se irradia contribui para conhecer o local de origem dele. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA IRRADIAÇÃO Dois fatores influenciam na irradiação de um sopro: intensidade -> quanto mais intenso, maior a área em que será audível e direção da corrente sanguínea -> estenose aórtica, por ex., irradia para os vasos do pescoço porque o sangue que flui pela valva aórtica se dirige àquela direção. INTENSIDADE Transmissão das vibrações -> espessura da parede torácica e ocorrência de enfisema/derrame pericárdico. Mecanismo de formação do sopro -> velocidade do fluxo e volume de sangue que passa pelo local em que ele se origina. ❖ Ex.: CIV de pequena magnitude com as grandes comunicações. Volume sanguíneo -> é pequeno, o sopro tem fraca intensidade, quando é grande, torna-se mais intenso. TIMBRE E TONALIDADE Relacionados com a velocidade do fluxo e com o tipo de defeito causador do turbilhonamento sanguíneo. Facilitam a diferenciação de alguns sopros -> 2 sopros diastólicos. ❖ Estenose mitral -> de baixa frequência, que pode lembrar o bater de asas de um pássaro (“ruflar”). ❖ Insuficiência aórtica -> de alta frequência, com intensidade que decresce tão abruptamente que lembra o ruído obtido ao fazer-se aspiração com a boca (“aspirativo”). RELAÇÃO DO SOPRO COM A FASE DA RESPIRAÇÃO Manobra de Rivero-Carvallo -> com essa manobra diferencia-se o sopro da insuficiência tricúspide ou da insuficiência mitral. Com o paciente em decúbito dorsal,coloca-se o receptor do estetoscópio na área tricúspide, pondo-se especial atenção na intensidade do sopro. Em seguida, solicita-se ao paciente que faça uma inspiração profunda, durante a qual o examinador procura detectar as modificações na intensidade do sopro. Se não houver alteração ou se o sopro diminuir de intensidade, diz- se que a manobra de Rivero-Carvallo é negativa. Neste caso, o sopro audível naquela área é apenas propagação de um sopro originado na valva mitral. Se, ao contrário, o sopro aumenta de intensidade, pode-se concluir que sua origem é no aparelho valvar tricúspide. Na inspiração profunda, há aumento da negatividade intratorácica, propiciando maior afluxo de sangue ao coração direito; se mais sangue chega ao ventrículo direito, haverá, ipso facto, maior refluxo de sangue para o átrio durante a sístole. Do ponto de vista estetoacústico, a consequência é a intensificação do sopro. Lesões aórticas -> os sopros tornam-se mais audíveis se o paciente fizer uma expiração profunda. RELAÇÃO DO SOPRO COM A POSIÇÃO DO PACIENTE Sopros da base do coração -> insuficiência aórtica, tornam-se mais nítidos estando o paciente na posição sentada com o tórax fletido para diante. O ruflar diastólico da estenose mitral fica mais intenso no decúbito lateral esquerdo. RELAÇÃO DO SOPRO COM O EXERCÍCIO Ao aumentar a velocidade sanguínea e estimular o sistema adrenérgico, determina quase sempre intensificação dos sopros. Estenose mitral -> se faz algum exercício, torna mais forte um ruflar que era de pequena intensidade com o paciente em repouso. SOPROS INOCENTES Sistólicos, de baixa intensidade (+ a ++), suaves, sem irradiação, mais audíveis na área pulmonar e região mesocárdica, com nítidas variações pelas mudanças de posição do paciente. Não são acompanhados de alterações das bulhas cardíacas e frêmito, não há evidências de dilatação e/ou hipertrofia das cavidades cardíacas. É mais frequente em crianças. TESTE DO CORAÇÃOZINHO As medidas de oximetria devem ser realizadas em dois sítios: na mão direita (medida pré-ductal) e em um dos membros inferiores (medida pós-ductal). TESTE NEGATIVO SpO2 maior ou igual a 95% e a diferença entre as medidas no membro superior direito e no membro inferior deve ser menor ou igual a 3%. ! Um teste do coraçãozinho negativo não exclui completamente a presença de cardiopatia congênita. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA TESTE POSITIVO SpO2 menor ou igual a 89% no membro superior direito ou no membro inferior. Nessa situação, o RN deverá ser reavaliado de forma minuciosa com ECO para confirmação diagnóstica. ! O RN não deve receber alta hospitalar antes que seja realizada essa etapa de avaliação cardiológica. TESTE DUVIDOSO SpO2 entre 90% e 94% ou uma diferença entre as medidas do membro superior direito e o membro inferior maior ou igual a 4%. Nessa situação, deve realizar novamente o teste após 1h por 2x.