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APOSTILA-INTRODUCAO-A-CIENCIA-GEOGRAFICA

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1 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO A CIÊNCIA GEOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
2 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4 
2 GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA ............................................................................. 5 
2.1 A gênese da ciência geográfica ......................................................................... 6 
2.2 Elementos do pensamento científico geográfico ............................................... 9 
3 O ESPAÇO GEOGRÁFICO COMO ELEMENTO FUNDANTE DA CIÊNCIA ..... 15 
4 A GEOGRAFIA CLÁSSICA ................................................................................ 20 
4.1 A geografia tradicional e os aspectos fundantes: natureza, homem e 
economia ............................................................................................................... 21 
5 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA NO BRASIL................................ 24 
5.1 A história da geografia no Brasil ...................................................................... 25 
6 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IBGE E A GEOGRAFIA BRASILEIRA ............. 30 
7 A GEOGRAFIA COMO DISCIPLINA OBRIGATÓRIA NO ENSINO 
FUNDAMENTAL E NO ENSINO MÉDIO .............................................................. 33 
8 LEITURA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO ATRAVÉS DAS CATEGORIAS: LUGAR, 
PAISAGEM E TERRITÓRIO ................................................................................. 37 
8.1 Categoria – Lugar ............................................................................................ 39 
8.2 Categoria – Paisagem ..................................................................................... 41 
8.3 Categoria – Território ....................................................................................... 43 
9 GEOPOLÍTICA BRASILEIRA ............................................................................. 46 
10 A GEOPOLÍTICA BRASILEIRA DURANTE A DITADURA MILITAR ................ 50 
11 AS POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS PARA A AMAZÔNIA .................................. 57 
11.1 Os rumos da geopolítica para o Atlântico Sul ................................................ 59 
12 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL ............................................. 61 
12.1 Crescimentos das cidades no contexto brasileiro .......................................... 62 
3 
 
 
13 ARRANJO ESPACIAL NO INTERIOR DAS CIDADES ................................. 68 
14 FORMAÇÃO DAS CIDADES EMPRESARIAIS ............................................. 71 
15 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 75 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Prezado aluno! 
 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as 
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão 
respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
5 
 
 
 
2 GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 
 
 
 
Suportegeográfico.com.br 
 
 
Atualmente a geografia é uma ciência consolidada. Ela pode ser definida 
como o estudo das relações entre os seres humanos e o espaço onde vivem. Foi 
no século XIX que a geografia passou a ser considerada uma ciência. Nas 
universidades da Europa, ela ganhou importância e se tornou uma disciplina, 
principalmente, devido aos estudos dos geógrafos alemães Alexander Von 
Humboldt e Karl Ritter e dos geógrafos franceses Eliseé Reclus e Vidal de La 
Blache. O principal objeto de estudo da geografia é o espaço geográfico (SAGAH, 
2021).
Vagner
Destacar
6 
 
 
2.1 A gênese da ciência geográfica 
 
 
Origemgeografia.com.br 
 
 
A geografia pode ser compreendida como uma ciência da Terra, ou seja, que 
descreve a Terra. Além disso, a mesma se apresenta como um ramo do 
conhecimento científico. A sua gênese ocorreu na Antiguidade Clássica. Assim, a 
geografia nasceu com os gregos, que foram os primeiros a registrar a 
sistematização do conhecimento dessa ciência. Desde a Antiguidade, os gregos 
começaram a qualificar as informações da superfície terrestre. Contudo, o saber 
geográfico é mais antigo ainda do que os filósofos da Grécia Antiga: as sociedades 
primitivas já se preocupavam com o conhecimento da superfície terrestre. Nas 
pinturas rupestres, havia uma compreensão da vida que levava em conta aspectos 
geográficos (SAGAH, 2021). 
7 
 
 
Moreira (2010) esclarece que a geografia é uma forma particular de 
conhecimento. Estrabão (64 a.C.– 24 d.C.) foi um dos primeiros pensadores da 
geografia e se dedicou a refletir sobre os ocupantes da Terra, os oceanos, a 
vegetação e o homem que a cultiva. Para ele, o homem, a terra, a vida e a felicidade 
se articulam na totalidade, no tempo e no espaço. Os estudos produzidos por 
Estrabão foram fundantes e essenciais para o desenvolvimento do saber 
geográfico. 
É importante considerar ainda Immanuel Kant (1724–1804), que organiza o 
seu pensamento a partir da filosofia grega. Assim, com Sócrates, a “unidade de 
natureza” incorporava as atividades humanas no conhecimento de mundo. Já com 
Xenófanes, as atividades econômicas foram essenciais, e com Platão as questões 
políticas foram marcadas. Porém, para Kant, o auge do pensamento geográfico 
ocorreu com os filósofos modernos, como Francis Bacon (1521–1626), René 
Descartes (1596–1650) e Carolus Linnaeus (1707–1778). Esses filósofos fizeram 
com que Kant desenvolvesse as suas ideias sobre o conhecimento geográfico, ou 
a geografia física, precisamente pela perspectiva das ciências naturais (SALES, 
2013). 
Kant foi professor de geografia física na Universidade de Konigsberg, na 
Prússia, atual Alemanha. Em 1770, ele já considerava o aspecto racional na questão 
do método. Kant compreendia que a razão era dada pela razão pura e que o 
conhecimento era dado pela experiência, pelos sentidos e sensações. A discussão 
sobre o método em Kant influenciou o desenvolvimento da ciência. Assim, Kant 
dividiu as ciências em empíricas e racionais (teóricas). Ele considerava a geografia 
como uma ciência, de acordo com as distinções entre ela e ciências como a 
antropologia, a história e a física. 
Para Kant, a geografia física é a primeira parte do conhecimento do mundo, 
ou seja, um conhecimento útil em todas as circunstâncias da vida. É importante 
você considerar que “[...] o curso de geografia física dado por Kant influenciou, de 
forma direta e indireta, diversos viajantes que catalogaram o novo mundo, entre eles 
Humboldt” (SALES, 2013, p. 187). 
8 
 
 
 
 
 
 
Pereira (1988) esclarece que, mesmo com o desenvolvimento da cartografia 
durante as grandes descobertas dos séculos XV e XVI, até o século XVIII, os 
trabalhos geográficos seguiam muitos dispersos, sem qualquer padronização ou 
sistematização das ideias. A abundância de temas e a descontinuidade das 
informações tornava impossível tratar a geografia como uma ciência, como um 
saber autônomo. Somente no final do século XVIII chegou ao fim o longo período 
inicial e preparatório da geografia e a sua pré-história.No século XIX, a geografia 
buscou status científico, especialmente na Alemanha. Entretanto, só recentemente 
ela encontrou elementos para o seu nascimento como ciência. 
9 
 
 
 
 
 
 
 
2.2 Elementos do pensamento científico geográfico 
 
Na Idade Moderna, com as mudanças econômicas, sociais e culturais, a 
maneira de explicar as relações entre a natureza e a sociedade foi afetada. Logo, 
também foi alterado o conceito de geografi a. Nesse período, eram buscadas 
explicações mais profundas para as relações entre a Terra e os astros, entre as 
condições naturais e as sociedades capitalistas (PEREIRA, 1988). 
Antes, na Idade Média, a geografia era utilizada especialmente para 
desenhar roteiros, direcionando a análise de astros, a cartografia e a astronomia. 
Como você pode notar, havia confusão entre a geografia, a cartografia e a 
astronomia. Além disso, quase não se traçavam relações com a sociedade. No 
período contemporâneo, a geografia está ligada às explicações dos fenômenos 
físicos e políticos na sociedade capitalista. Assim, houve uma evolução e hoje não 
se consideram apenas as descrições, mas as explicações dos fenômenos e a sua 
distribuição (PEREIRA, 1988). 
Vagner
Destacar
10 
 
 
No final do século XIX e início do século XX, surgiram inúmeras publicações 
produzidas por geógrafos. Com a institucionalização da geografia acadêmica nas 
universidades europeias, houve uma evolução da ciência, que passou a estudar “a 
distribuição, na superfície do globo, dos fenômenos físicos, biológicos e humanos, 
[bem como] a causa dessas distribuições e as relações locais destes fenômenos”. 
Não se tratava mais de apenas descrever, mas de explicar os fenômenos. Com 
essas características, a geografia ficou conhecida como uma ciência de síntese. 
Nesse sentido, trabalhava com os elementos das demais ciências (antropologia, 
biologia, história, física), aprofundando o seu próprio desenvolvimento como 
ciência. Atualmente, a geografia se define como o ramo do saber científico que se 
dedica ao estudo das relações entre a sociedade e a natureza, ou ao estudo do 
modo como a sociedade organiza o espaço terrestre (PEREIRA, 1988). 
Segundo Mormul e Rocha (2013), no final do século XIX, a ciência geográfica 
se originou na Alemanha, com Von Humboldt (1769–1859) e Karl Ritter (1779– 
1859). A partir deles, se estabeleceu a base científica da geografia. Humboldt não 
tinha formação em geografia; ele era botânico. Logo, a sua contribuição foi 
importante para a consolidação da ciência. As disciplinas que hoje compõem a 
geografia, como a biogeografia, a climatologia e geologia, foram criadas a partir de 
Humboldt. Já Ritter, com formação em ciências humanas e história, procurou 
explicar a evolução da humanidade relacionado os povos aos aspectos naturais. 
Ele descrevia sobretudo a sociedade, mas já fazia certas relações com os aspectos 
políticos e econômicos. Foi assim que a geografia passou a se consolidar como uma 
ciência. 
11 
 
 
 
 
 
Ritter, um dos grandes nomes da ciência geográfica. Fonte: Marzolino/Shutterstock.com 
 
 
Em meados do século XIX, a geografia estava ligada às explicações dos 
fenômenos físicos e políticos, todavia centrada nas filiações das sociedades 
geográficas e nas universidades. As filiações das sociedades geográficas foram 
importantes e entre elas se destacam: a Sociedade Geográfica de Paris (1821), a 
Sociedade Geográfica de Berlim (1928), a Real Sociedade de Geografia de Londres 
(1830), a Sociedade Russa de São Petersburgo (1845), a Sociedade Americana de 
Geografia de Nova Iorque (1852), a Sociedade Geográfica de Genebra (1858) e a 
Sociedade Geográfica de Madri (1876). 
A finalidade dessas sociedades estava relacionada com a entrada do 
capitalismo em uma nova fase. Nesse contexto, havia a necessidade de conhecer 
melhor os povos, territórios, recursos naturais e riquezas das nações. Para isso, 
eram financiadas viagens com exploradores naturalistas, com o objetivo de realizar 
e divulgar pesquisas. A divulgação ocorria por meio das revistas da época 
(MOREIRA, 2010). 
Na época, as sociedades geográficas eram encaradas como instituições de 
utilidade pública e também como incentivadoras da ciência geográfica. A Sociedade 
Geográfica de Paris foi a primeira a realizar expedições. A cartografia e a questão 
12 
 
 
militar foram aspectos que mobilizaram as viagens. Afinal, as informações trazidas 
pelos exploradores e naturalistas poderiam ser usadas para campanhas políticas 
francesas. Um dos maiores desejos dos franceses era criar um memorial 
geográfico, sobretudo com informações sobre a África e a Ásia. Por trás disso, 
estava a intenção de partilhar esses dois continentes para explorá-los (BIAGGI, 
2013). 
 
 
 
O desenvolvimento da geografia universitária coincide com o surgimento das 
sociedades geográficas. Ambos contribuíram para os elementos fundantes do 
pensamento geográfico e a consolidação da ciência. A geografia universitária 
acompanha as sociedades geográficas em sua evolução e em seus caminhos. 
Desse modo, em relação à geografia universitária, destacam-se: a geografia ou 
escola alemã e a geografia ou escola francesa (MOREIRA, 2010). 
Na geografia ou escola alemã foram importantes as contribuições de 
Alexander Humboldt e de Karl Ritter. Além disso, se destaca a contribuição do 
alemão Friedrich Ratzel (1844–1904). Ratzel ficou conhecido por dar enfoque maior 
ao homem em seus estudos. O interesse pelos aspectos expansionistas da 
Alemanha foi o que consolidou Ratzel na época. O alemão encarou a nova ciência 
a partir de motivações de natureza política. 
13 
 
 
Ratzel não era geógrafo de formação. Como zoólogo e etnógrafo, ele 
introduziu o homem no campo geográfico. Ele considerava que o homem pouco 
podia fazer diante das condições naturais, originando a teoria do determinismo 
geográfico. Isso levou os geógrafos alemães a racionalizar uma geografia que 
valorizava o determinismo geográfico juntamente ao pensamento filosófico e político 
alemão. Deve-se ressaltar que nesse momento se realizava a unidade política das 
várias Alemanhas em um império, sob o reino da Prússia (ANDRADE, 1987). 
A geografia ou escola francesa deu maior importância aos estudos 
geográficos após 1871, quando os franceses foram derrotados pelo exército 
alemão. Antes disso, a geografia fazia parte da disciplina de história. Com uma 
teoria própria, porém com muitas das características da escola alemã, os franceses 
tiveram dois grandes geógrafos na época, Eliseé Reclus (1830–1905) e Vidal de La 
Blache (1845–1918). No Brasil, o pensamento geográfico de ambos já era difundido. 
Reclus tinha posições políticas anarquistas e compartilhava dos ideais propostos 
na Comuna de Paris. Foi exiliado, porém contribuiu para a ciência geográfica 
moderna. Ele trouxe um novo olhar para a geografia social. A partir dele, surgiram 
novos temas e abordagens relativas à questão social, contribuindo para o campo 
específico da ciência geográfica (ANDRADE, 1987). 
Por sua vez, Vidal de La Blache realizou diversos estudos regionais, com 
ênfase nos estudos de áreas pequenas e homogêneas. Foi o primeiro professor de 
geografia da Universidade de Sorbonne, em Paris. Ele se dedicou a estudar a 
relação entre o homem e o meio, construída historicamente de forma diferenciada. 
Logo, procurou demostrar que o meio exercia influência sobre o homem, mas os 
homens tinham capacidade de modificar o meio. Foi daí que surgiu a teoria do 
possibilismo geográfico, em contradição ao determinismo geográfico (ANDRADE, 
1987). 
Segundo Andrade (1987), o possibilismo geográfico foi importante por 
orientar a política de recursos naturais do espaço francês. Essa teoria tinha como 
característica o fato de enfatizar a superioridade da raça branca em relação às raças 
dos nativos da África e da Ásia. Mormul e Rocha (2013) esclarecem que tanto o 
determinismo quanto o possibilismogeográfico, junto à ciência geográfica, foram 
14 
 
 
ideologicamente influenciados pelos interesses burgueses. O principal interesse, na 
maior parte das vezes, era produzir elementos indispensáveis à expansão do 
capitalismo e à formação de cidadãos adaptados às exigências do momento. 
Segundo Suertegary (2003), no decorrer da história da geografia, diversos 
autores refletiram sobre o determinismo e o possibilismo. No caso do determinismo 
geográfico, a natureza é entendida como a causa da organização social. Já no caso 
do possibilismo geográfico, o homem tem possibilidades de transformar a natureza. 
Essa transformação é realizada por meio do desenvolvimento técnico, e a relação 
entre a natureza e a sociedade é mediada pelo trabalho. 
As últimas décadas do século XIX foram marcadas por dois processos 
essenciais para a história do homem e da geografia. Um deles decorre do sistema 
capitalista, que gera uma intensa concentração de capital, gerando os grandes 
monopólios e a expansão territorial pelo imperialismo, que recebeu a contribuição 
das sociedades geográficas da época. O outro é a fragmentação do saber universal, 
ou seja, surgem novas disciplinas, entre elas a geografia. Os departamentos de 
geografia são criados nas universidades da Europa e, décadas mais tarde, nos 
Estados Unidos. Naturalmente, o primeiro processo não pode ser desvinculado do 
segundo (ANDRADE, 1987). 
15 
 
 
3 O ESPAÇO GEOGRÁFICO COMO ELEMENTO FUNDANTE DA CIÊNCIA 
 
 
 
Fonte: BrasilEscola.com.br 
 
 
Como já mencionado, a geografia se tornou uma ciência no fim do século XIX 
e no início do século XX. Primeiro, a geografia surgiu como disciplina nas 
universidades da Europa e depois ocorreu a constituição das sociedades 
geográficas, com os exploradores naturalistas que cooperaram com a ciência. O 
espaço sempre teve uma participação importante nos estudos geográficos, porém 
nem sempre as análises eram realizadas na sua totalidade. A dicotomia entre a 
geografia física e a geografia humana são entraves desde o início da ciência, e a 
relação entre sociedade e natureza jamais pode ser compreendida como algo 
fragmentado (CORRÊA, 2003). 
O espaço geográfico é uma porção específica da superfície da Terra 
identificada pela natureza, mas o homem também deixa as suas marcas nele. O 
homem transforma o espaço natural devido às suas necessidades. Assim, a 
geografia como ciência social tem como objeto de estudo a sociedade, que se refere 
à ação humana modelando a superfície terrestre. Além da categoria espaço, há 
16 
 
 
outras categorias em jogo, como: paisagem, região, lugar e território (CORRÊA, 
2003). Veja o Quadro, a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As categorias de análise da ciência geográfica e as suas características 
Fonte: Adaptado de Santos (2008). 
17 
 
 
O espaço e as correntes do pensamento geográfico são divididos em quatro 
momentos: a geografia tradicional, a geografia teorético-quantitativa, a geografia 
crítica e a geografia humanista/cultural. A seguir, você vai conhecer melhor cada 
uma dessas corrrentes. 
A geografia tradicional (1870–1950) antecede as mudanças das décadas 
de 1950 e 1970. Ela substitui a geografia clássica descritiva. Nesse período, o 
espaço não se constitui como um conceito-chave na geografia tradicional, por mais 
que estivesse presente nas obras de Ratzel de modo implícito. Nessa vertente da 
geografia, os conceitos de paisagem e região foram privilegiados e se estabeleceu 
a discussão sobre o objeto de estudo da geografia e a sua identidade em relação 
às demais ciências. Os conceitos de paisagem, região natural, região-paisagem e 
paisagem cultural foram alvos de debates e estavam presentes na maioria dos 
estudos da época. Ratzel utilizou dois conceitos geográficos: o de espaço vital e o 
de território, também fundante em seus trabalhos e com fortes raízes na ecologia 
(CORRÊA, 2003). 
Não se pode deixar de mencionar a população e os recursos naturais 
constituídos em determinado território. Portanto, “[...] o espaço transforma-se, 
através da política, em território, em conceito-chave da geografia” (CORRÊA, 2003, 
p. 18). 
 
 
Vagner
Destacar
18 
 
 
A vertente teorético-quantitativa é baseada no positivismo lógico e 
promoveu profundas modificações na geografia em meados de 1950. A partir do 
raciocínio hipotético-dedutivo, adotou-se uma visão de ciência pela perspectiva das 
ciências da natureza. Assim, o “[...] espaço aparece, pela primeira vez na história 
do pensamento geográfico, como o conceito-chave da disciplina, os outros 
conceitos de lugar e território não são conceitos significativos na geografia teorético- 
quantitativa” (CORRÊA, 2003, p. 20). 
Nessa corrente geográfica, o espaço é considerado de duas formas não 
excludentes: as planícies isotrópicas e a representação matricial. A planície 
isotrópica se constitui na concepção de espaço derivada de um paradigma 
racionalista e hipotético-dedutivo. Todavia, utiliza modelos matemáticos para 
conhecer dados quantitativos como densidade demográfica, de renda e de padrão 
cultural. A ideia é adotar uma racionalidade econômica fundada na minimização dos 
custos e na maximização dos lucros ou da satisfação. Por sua vez, as 
representações matriciais podem ser compreendidas em relação aos meios 
operacionais que permitem extrair um conhecimento sobre localizações e fluxos, 
hierarquias e especializações funcionais, por exemplo (CORRÊA, 2003). 
A geografia crítica surge em 1970, fundamentada no materialismo histórico 
e na dialética. Logo, essa vertente procura romper com a geografia tradicional e 
com a geografia teorético-quantitativa. Nessa perspectiva, o espaço aparece como 
conceito-chave da geografia. A teoria marxista era discutida e relacionada às 
contradições dos países centrais e periféricos e às desigualdades entre esses 
grupos de países. O sistema capitalista é o objeto de análise dessa vertente. 
Por fim, a geografia humanista/cultural surge em meados de 1970. Essa 
perspectiva retoma os aspectos culturais e da história. Essa vertente, semelhante à 
geografia crítica, tem suas bases filosóficas especialmente na fenomenologia e no 
existencialismo (CORRÊA, 2003). 
19 
 
 
 
 
 
 
 
4 A GEOGRAFIA CLÁSSICA 
 
 
 
Educador.uol.com 
 
20 
 
 
Ao longo do tempo, a geografia clássica foi criando características próprias 
por meio de obras importantes como as dos alemães Carl Ritter e Alexander Von 
Humboldt, que podem ser considerados precursores dessa corrente. Por meio de 
suas bases fundamentadoras e de cunho determinista, esses autores possibilitaram 
avanços na história do pensamento geográfico (SAGAH, 2021). 
No século XVIII, época em que a geografia clássica se constituiu, o 
Iluminismo contribuiu para a liberdade e para o desenvolvimento intelectual e 
artístico, embasado pela filosofia de René Descartes. A evolução científica trouxe à 
tona novas informações, promovendo uma forma inédita de produzir ciência no 
Ocidente. A geografia não ficou de fora desse contexto. No começo, essa ciência 
organizava o conhecimento pela descrição dos fenômenos na superfície terrestre, 
considerando os elementos naturais. Contudo, após a geografia clássica, houve a 
transição para a geografia tradicional, surgindo um novo paradigma científico. 
(SAGAH, 2021) 
 
4.1 A geografia tradicional e os aspectos fundantes: natureza, homem e 
economia 
 
 
Coolclips.com 
21 
 
 
A geografia tradicional (1870–1950) se constituiu no período moderno, no 
panorama científico da Alemanha e da França. Esse contexto pode ser 
caracterizado pelo desenvolvimento do sistema capitalista (séculos XVIII e XIX). 
A geografia tinha como objetos de estudo a paisagem e a região. Ela estava 
relacionada ao determinismo e ao possibilismo geográfico, paradigmas que 
marcaram a geografia clássica e a geografia tradicional (SAGAH, 2021).Nesse período, os estudos se dedicavam às particularidades regionais. Os 
alemães se preocuparam com a descrição e a análise da paisagem em suas 
características naturais. Já entre os franceses a geografia da paisagem era 
considerada uma ciência de síntese. Dava-se grande importância à visualização da 
paisagem, tanto em seus aspectos físicos originais como nas marcas deixadas pelo 
homem (SAGAH, 2021) 
Segundo Côrrea (2000), nessa fase, o estudo da geografia incluiu debates 
que envolviam os conceitos de paisagem, região natural, gênero de vida e a 
diferenciação de áreas ou áreas regionais. Os geógrafos que seguiam os 
paradigmas deterministas, possibilistas, culturais e regionais foram os responsáveis 
por dar à geografia uma identidade que a diferenciava das demais ciências. 
Santos (2004) explica que a origem da geografia como disciplina foi marcada 
por características mais ideológicas do que filosóficas. A ideologia que estava em 
jogo era a produzida pelo capitalismo, ou seja, havia a necessidade de expansão 
da Europa para as Américas. Tal ideologia tinha como única proposição criar as 
condições para a expansão do comércio mundial. O excesso de produção e as 
crises sociais e econômicas que mexeram com os países interessados deveriam ter 
uma solução rápida para que eles não deixassem de acumular capital. Os países 
centrais deveriam garantir além-mar as matérias-primas necessárias à grande 
indústria e as terras necessárias à produção de alimentos. Nessa fase, a DIT 
estabelece o papel comercial de cada grande grupo de países. 
Assim, havia a necessidade de as economias periféricas se adaptarem às 
novas tarefas, assegurando a continuidade do projeto imperialista imposto pelos 
países europeus. Os geógrafos da época se dividiram em dois pontos de vista 
distintos. De um lado, estavam aqueles que lutavam por um mundo mais justo no 
qual o espaço seria organizado com o fim de oferecer ao homem mais igualdade, 
Vagner
Destacar
22 
 
 
sem os entraves da divisão das classes sociais. Era o caso de Élisée Reclus (1830– 
1905) e Camille Vallaux (1870–1945). De outro lado, havia aqueles que defendiam 
o colonialismo e o império do capital e reivindicavam a construção de uma geografia 
humana. Contudo, como a geografia foi considerada uma ciência tardiamente em 
relação às outras ciências, teve dificuldades de se desligar dos grandes interesses. 
Uma das grandes metas conceituais da geografia, na época, foi esconder o 
papel do Estado, bem como os das classes sociais, na organização socioespacial 
(SANTOS, 2004). 
A geografia clássica foi sistematizada por Alexander Von Humboldt (1769– 
1859) e Carl Rittter (1779–1859). A geografia tradicional positivista da era moderna, 
que demarca o período de 1870 a 1950, foi desenvolvida principalmente por Alfred 
Hettner (1859–1941), Friedrich Ratzel (1844–1904) e Vidal de La Blache (1845– 
1918). Esses grandes pensadores atuaram no período em que a geografia se 
institucionalizou como disciplina nas universidades europeias. Portanto, a geografia 
tradicional positivista sofreu forte influência das obras de Humboldt e Carl Ritter. 
 
 
 
23 
 
 
5 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA NO BRASIL 
 
 
 
BrasilEscola.com.br 
 
 
Neste capítulo, você vai estudar a institucionalização da geografia no Brasil. 
Essa história começa com a chegada dos portugueses, em 1500. Nesse período 
inicial, foram produzidas obras de descrição do território da colônia. Contudo, 
apesar desse início longínquo, a geografia brasileira obteve caráter científico 
somente após 1930, com a criação das universidades no País. Também foi nesse 
momento que surgiram a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e o Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 
Ainda nos anos 1930, o ensino gratuito se tornou obrigatório; posteriormente, 
a própria geografia se consolidou como uma disciplina indispensável. Porém, em 
2016, o Governo Federal apresentou a Lei nº 13.415, ainda em tramitação, que 
determina que a geografia não seja mais obrigatória no ensino médio, tornando-se 
optativa (SAGAH, 2021). 
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5.1 A história da geografia no Brasil 
 
 
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A geografia entra em cena no Brasil logo com a chegada dos portugueses, 
em 1500. Afinal, os europeus precisavam descrever a terra descoberta: era 
essencial mapear o território para poder explorá-lo. Alguns séculos depois, a 
geografia se introduz no Brasil como disciplina da educação básica. 
Segundo Araújo (2012), a história da educação brasileira se inicia com a 
chegada dos jesuítas, por volta de 1550. Como você sabe, a cultura europeia trazida 
pelos jesuítas e o encontro com os nativos que já habitavam o Brasil resultou em 
um choque de culturas. De um lado, estavam os jesuítas com o catolicismo; de 
outro, os nativos com as suas peculiaridades culturais, que incluíam língua, rituais 
e alimentos. A Companhia de Jesus foi a primeira organização a realizar ações de 
cunho educacional no Brasil, em meados do século XVI. Para isso, os jesuítas 
criaram instituições com um sistema escolar nas principais cidades da colônia. 
25 
 
 
Os jesuítas, contudo, não se limitaram ao ensino religioso, com os princípios 
de evangelização. A partir do momento em que a elite local foi adquirindo costumes 
aristocráticos de caráter europeu, a educação passou a incluir outros 
conhecimentos. Assim, os colégios foram criados para atender a uma pequena 
parcela da população. Ou seja, apenas os filhos da população pertencente às 
camadas sociais mais altas frequentavam as escolas. 
O primeiro plano de estudo criado pelos jesuítas foi elaborado pelo padre 
Manuel da Nóbrega (1517–1570) e teve o ensino de português como precursor. Aos 
poucos, outros saberes foram ganhando espaço, como a aula de gramática e os 
estudos voltados para as viagens à Europa. Na época, a geografia era considerada 
um saber pouco importante. Ela aparecia principalmente em textos literários que 
tinham as diferentes paisagens como enfoque (ARAÚJO, 2012). 
Segundo Oliveira (2011), em meados do século XVIII, no Brasil, a geografia 
foi inserida no currículo escolar oficial, influenciado pelos princípios iluministas 
vigentes na Europa, que valorizavam a nacionalidade. Assim, em 1837, com a 
criação do Colégio Pedro II, a geografia foi realmente reconhecida como uma 
disciplina autônoma. No Colégio Pedro II, os estudos foram divididos em dois ciclos. 
O primeiro tinha a duração de quatro anos e todos os alunos eram obrigados a 
frequentá-lo. Já o segundo ciclo tinha duração de três anos, era opcional e dava o 
direito de ingressar em cursos técnicos. Nesse contexto, a geografia surge como 
disciplina com o intuito de dar suporte para os alunos em relação à identidade 
nacional, reforçando a ideia do nacionalismo patriótico e incentivando o amor pela 
pátria. 
Assim, a geografia se estabelece como um campo rico do saber para a 
formação do cidadão e para a construção da identidade nacional. Na época, não 
eram precisamente professores formados em geografia que lecionavam a disciplina. 
Além disso, a grandeza do território brasileiro tinha importância fundamental, daí o 
destaque dado às descrições desse território. A grandeza representava a qualidade 
da nação, que futuramente iria prosperar, perspectiva que levava em conta o 
modelo europeu de economia e política (OLIVEIRA, 2011). 
26 
 
 
Segundo Saviani (2005), os estudos eram fundamentados em um ensino 
tradicional. Tal ensino ganhou força no Brasil a partir de 1759, quando começaram 
a ser implementadas as reformas pombalinas da instrução pública. Essas reformas 
se contrapõem ao predomínio das doutrinas religiosas e, com base nas ideias laicas 
inspiradas no Iluminismo, instituem o privilégio do Estado em matéria de instrução. 
Em 1808, começou a divulgação do método de ensino tradicional como oficial, a 
pedagogia tradicional predominou no Brasil até meados de1940. 
 
 
 
 
No Brasil, no final do século XIX, a base econômica era a monocultura, com 
o café em São Paulo e o leite em Minas Gerais. Logo, a economia do Brasil se 
mantinha concentrada na região Sudeste. Além disso, havia uma elite agrária 
detentora do poder econômico e político que também influenciava as tomadas de 
decisão, inclusive as relacionadas aos conteúdos que a população poderia 
aprender. A disciplina de geografia no Colégio Pedro II foi organizada com base 
nessa configuração social e econômica. Assim, as principais caraterísticas da 
pedagogia tradicional influenciaram as diversas áreas de conhecimento que já 
estavam instituídas como disciplinas oficiais, inclusive a geografia. 
No Quadro, a seguir, você pode ver as principais características da pedagogia 
tradicional. 
 
27 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado de Mizukami (1986). 
28 
 
 
A institucionalização da geografia científica se consolidou após a criação das 
universidades brasileiras como a Universidade de São Paulo (USP), em 1920, e do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 1938. Pierre Deffontaines (1894– 
1978) e Pierre Monbeig (1935–1946) foram os geógrafos franceses que 
praticamente institucionalizaram a geografia no Brasil. Em 1934, Pierre Deffontaines 
criou a Associação dos Geógrafos Brasileiros em São Paulo (AGB–SP). Essa 
associação promoveu um dos mais avançados desenvolvimentos de pesquisa 
geográfica do País (DANTAS, 2008). 
A partir da criação da Universidade de São Paulo, com a sua Faculdade de 
Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 
antiga Universidade do Brasil) e da Associação dos Geógrafos Brasileiros, 
idealizada por Pierre Deffontaines, a geografia começou a se institucionalizar por 
aqui (DANTAS, 2008). O ensino de geografia implementado em São Paulo e no Rio 
de Janeiro foi influenciado pela tradição francesa, portanto se fundamentou na 
história e na sociologia. 
Pierre Monbeig e Pierre Deffontaines foram convidados pelo também francês 
Emmanuel de Martonne para ajudar no processo de institucionalização da geografia 
no Brasil. Ambos davam maior enfoque à geografia regional e à área humana. 
Monbeig ensinou por cerca de 15 anos na Universidade de São Paulo e foi 
substituído por Deffontaines, que atuou por cinco anos. O geógrafo francês Francis 
Ruellan (1894–1974) e o geógrafo Josué de Castro (1908–1973), da área da 
geografia humana, também faziam parte do corpo docente. A influência francesa na 
geografia do Brasil se estenderia por mais de 20 anos, até cerca de 1950, sendo 
mais acentuada aqui do que na própria França. 
Segundo Andrade (1991), o geógrafo francês Delgado de Carvalho, autor do 
livro O Brasil Meridional, é considerado outro dos grandes precursores dos estudos 
da geografia científica no País. Ele também é considerado um dos primeiros 
geógrafos que contribuíram para a história do pensamento geográfico e para a 
institucionalização dessa disciplina, que passou a ser estudada em nível superior e 
a ser aplicada à problemática nacional. 
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6 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IBGE E A GEOGRAFIA BRASILEIRA 
 
 
 
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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é um dos mais 
importantes órgãos de planejamento territorial do Estado brasileiro. O IBGE foi 
criado pelo Decreto-Lei nº 218, de 1938, porém esse órgão já existia desde 1934 
sob a denominação Instituto Nacional de Estatística, com o apoio do Conselho 
Brasileiro de Geografia (CBG). Com a nova denominação, o IBGE foi 
estruturado pelas seguintes áreas de conhecimento: geografia, geodésia e 
cartografia (IBGE, 2017). 
Almeida (2001) explica que a criação do IBGE no Brasil teve a participação 
da União Geográfica Internacional (UGI) e do geógrafo francês Emmanuel de 
Martonne. O contato entre a geografia brasileira e a UGI aconteceu em meados de 
1931, na França, durante o Congresso da União. O delegado responsável por 
representar a Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi o professor Alberto José 
de Sampaio (1881–1946), naturalista especializado em fitogeografia, pesquisador 
do Museu Nacional e autor de várias obras sobre a vegetação brasileira. O professor 
contribuiu de forma muito atuante, chamando a atenção de Martonne, diretor do 
Instituto de Geografia da Universidade de Paris e presidente do Congresso Geral 
da União de Geografia Internacional. 
As articulações feitas no Congresso entre Sampaio e Martonne trouxeram o 
francês ao Brasil em 1933. Martonne se deu conta da oportunidade de organizar 
dois campos de estudos e de criar os institutos e as universidades no País. O 
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primeiro campo era a geografia física; Martonne percebeu o grande potencial da 
geografia tropical brasileira. E o segundo estava relacionado com os aspectos 
políticos e culturais. Com essas duas perspectivas, havia a necessidade de criar as 
principais associações e institutos (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 
Sociedade Brasileira de Geografia e Academia Brasileira de Ciências), que 
deveriam juntar esforços para a adesão do Brasil à UGI. 
O IBGE surgiu nesse contexto, como um órgão nacional que pertenceria ao 
governo central. Assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística foi criado 
com sede no Rio de Janeiro, em 1938. Ele foi idealizado sob a égide do presidente 
Getúlio Vargas (1882–1954), durante a ditadura do Estado Novo e a partir do 
Instituto Nacional Estatístico. Em meados de 1939, o IBGE começou a campanha 
de levantamento intensivo da divisão territorial do País, que tinha como finalidade a 
definição dos mapas dos municípios (IBGE, 2017). 
Em relação às atividades geodésicas realizadas pelo IBGE em 1939, o Brasil 
tinha de atualizar a sua carta geográfica. Na época, foram emitidas em torno de 602 
coordenadas levantadas em cidades e vilas de todo o País, por exemplo. De 1944 
até 1970, o IBGE estruturou o sistema geodésico brasileiro fundamentado no 
método de posicionamento clássico (triangulação, métodos astronômicos e 
poligonação geodésica), aplicado até meados dos anos 1990 com o recurso a 
equipamentos como teodolitos. Outro ponto importante foi a divisão regional do 
Brasil em Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul, proposta por Fábio 
Macedo Soares Guimarães, em 1970 (IBGE, 2017). 
Portanto, com o objetivo de promover e desenvolver o conhecimento 
territorial por meio de uma política de coleta de dados estatísticos, o IBGE foi o 
suporte da administração pública relacionada ao ordenamento territorial. Esse 
órgão formulou e criou políticas públicas para a organização das cidades e do meio 
ambiente, promovendo o desenvolvimento urbano e a sustentabilidade. A 
Universidade Federal do Rio de Janeiro formou muitos geógrafos que trabalharam 
no Instituto. Nesse sentido, o IBGE também recorria aos professores da UFRJ com 
o objetivo de lecionar cursos de férias para os professores de outros estados. Os 
mestres estrangeiros que por um bom período permaneceram no Brasil trabalhavam 
na Universidade e no IBGE (DANTAS, 2008). 
31 
 
 
Como já foi mencionado, o IBGE foi estruturado pelas seguintes áreas de 
conhecimento: geografia, geodésia e cartografia. O Decreto nº 327, de 1938, 
estabeleceu as ações de normatização da área de geodésia do IBGE para suprir o 
mapeamento do recenseamento geral de 1940 (IBGE, 2017). Nesse período, foram 
iniciados os trabalhos de levantamento das coordenadas geográficas das cidades 
brasileiras, prosseguindo com a estruturação das redes planimétrica, altimétrica e 
gravimétrica, que estabeleceram as bases para o mapeamento sistemático do País, 
realizado e organizado pela área de cartografia. 
Essa área, além de coordenar o sistema cartográfico brasileiro, imprime 
continuamente cartas e é também responsável pela elaboração cartográfica dos 
altas do IBGE. Outro aspectoimportante é a atuação dos técnicos que definem as 
políticas cartográficas, os seus parâmetros metodológicos e as escalas de 
representação dos trabalhos cartográficos. Além disso, o IBGE, junto às Forças 
Armadas, determinou os tipos de cartas especiais de trabalho que servem de base 
para as organizações militares. 
A área cartográfica também define com precisão os limites entre as principais 
unidades territoriais legalmente vigentes no País, tanto na escala municipal quanto 
na estadual. Em caso de litígios entre essas unidades, cabe aos cartógrafos do 
IBGE a determinação dos novos limites, que normalmente são arbitrados pelo Poder 
Judiciário. É também atribuição da área dar apoio técnico às operações de 
mapeamento das bases operacionais geográficas dos censos, principalmente 
oferecendo suporte técnico às prefeituras que não possuem pessoal qualificado 
para a confecção dos mapas (ALMEIDA, 2001). 
Em síntese, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, criado em 1938 
com sede no Rio de Janeiro, é um dos órgãos mais importantes do Brasil até hoje. 
No começo, o IBGE teve um papel importante tanto para a formação de professores 
e profissionais da geografia quanto para o levantamento estatístico do território do 
País. Atualmente, ele é um dos órgãos estatísticos nacionais mais importantes, 
realizando recenseamentos em todo o território brasileiro a cada 10 anos. 
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7 A GEOGRAFIA COMO DISCIPLINA OBRIGATÓRIA NO ENSINO 
FUNDAMENTAL E NO ENSINO MÉDIO 
 
 
 
 
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O projeto de educação do Brasil tem uma base que remete aos diferentes 
contextos históricos do País, caracterizados pelas distintas situações políticas e 
econômicas pelas quais a sociedade nacional passou. Além disso, as tendências 
da educação brasileira sempre estiveram articuladas com o momento histórico e 
econômico mundial. 
No período anterior a 1930, não existia no Brasil um sistema formal e regular 
de ensino garantido pelo poder público para toda a população no território brasileiro. 
Entretanto, a geografia era considerada uma disciplina oficial desde 1837, quando 
foi implantada no Colégio Pedro II, um colégio muito tradicional e modelo de ensino, 
frequentado apenas pela elite da época. 
O currículo escolar já era estabelecido no Brasil para algumas áreas de 
conhecimento antes de 1930, desde a formação do sistema escolar de ordem 
religiosa. Tal sistema foi criado pelo padre Manuel da Nóbrega em meados de 1500 
e se estendeu até o final do século XVII. Contudo, com a revolução pombalina, foi 
constituído um ensino de caráter laico, com os conteúdos baseados nas cartas 
régias. Nesse contexto, o currículo aparece para garantir o ensino e a aprendizagem 
do conteúdo que o sujeito deveria conhecer. Essa é a base principal para que todos 
numa sociedade consigam ter um desenvolvimento social, cultural, político e 
econômico pleno. 
Segundo Rangel e Gouvea (2016), a geografia como disciplina escolar foi 
constituída em 1837 no Colégio Pedro II, como você já viu. A principal finalidade de 
instituir a disciplina era garantir a identidade da população, que deveria nutrir o amor 
à pátria, adquirindo certo nacionalismo. Além disso, o objetivo era capacitar 
politicamente a elite, para que ocupasse os principais e melhores cargos públicos 
do País. Outro fator importante para a inclusão da geografia no Colégio Pedro II foi 
o fato de que ela já era uma disciplina obrigatória no programa escolar francês. 
De acordo com Araújo (2012), no século XIX, a obra precursora da geografia 
brasileira foi Corografia Brasílica, do padre português Manuel Aires de Casal (1754– 
1821). Essa obra apresentava as principais descrições da colônia com base no 
interesse da Corte Portuguesa. Ela não tinha cunho didático escolar, logo, é 
considerada um dos textos fundamentais da geografia do Brasil. 
34 
 
 
Falar sobre o currículo no ensino de geografia requer entender o que significa 
currículo. Na verdade, a ideia de currículo é trabalhada por várias correntes do 
pensamento educacional, como você pode ver no Quadro, que apresenta três 
correntes importantes. A primeira é a que predominou no Brasil até meados de 1950 
e as outras duas fazem parte do pensamento educacional atual. 
 
 
Fonte: Adaptado de Rangel e Gouvea (2016). 
 
 
No Brasil, a geografia se disseminou por meio das reformas educacionais. 
Essa disciplina foi inserida no currículo escolar como disciplina obrigatória no ensino 
fundamental e no ensino médio. No Brasil Império (1822–1899), ocorreu a primeira 
tentativa de regulamentar o ensino básico, a Carta Constitucional de 1823 declara 
a instrução gratuita para todas as cidades. 
Em 1834, a primeira constituição brasileira foi reformulada. No campo 
educacional, a principal medida de impacto foi o direito adquirido pelas unidades 
políticas de legislar sobre o seu próprio sistema educacional. Os governos das 
províncias adquiriram a responsabilidade total pelo ensino elementar e médio. 
Assim, surgiram os primeiros liceus provinciais, situados nas capitais, como Rio 
Grande do Norte, Bahia, Paraíba e Rio de Janeiro. Contudo, foi apenas o Rio de 
35 
 
 
Janeiro, cidade que abrigava a Corte, que apresentou a divisão entre os níveis de 
estudo. Tal divisão foi feita no Colégio Pedro II (ARAÚJO, 2012). 
Segundo Araújo (2012, p. 94), por mais de 300 anos de colônia, “[...] não 
tivemos uma estrutura escolar para ser utilizada pelo povo: os jesuítas, durante esse 
tempo, mantiveram 17 seminários de formação de clérigos. Com a expulsão dos 
jesuítas, ficou a Colônia sem qualquer tipo de escola [...]”. Além disso, o Brasil criou 
cursos superiores sem curso elementar e médio, dificultando a consolidação da 
geografia como disciplina. Entre 1840 e 1889, “[...] as províncias criaram os liceus 
(rapazes) e as escolas normais (moças) e iniciaram a criação do curso elementar 
nas cidades e vilarejos (omissão total do poder central) somente por iniciativa 
particular [...]” (ARAÚJO, 2012, p. 94). 
Foi apenas em 1930, com a criação do Ministério da Educação (MEC), que 
foi possível inserir a geografia como disciplina obrigatória no ensino seriado, ou seja, 
no ensino fundamental e no ensino médio, para todos os sujeitos com idade de 
adquirir conhecimento. O MEC passa a agir intensamente de 1930 a 1962 (reformas 
Campos e Capanema), quando “[...] perde suas funções com a aprovação, pelo 
Congresso Nacional, da Lei de Diretrizes e Bases. Os estados começam [então] a 
ampliar a rede oficial de ensino Fundamental e Médio [...]” (ARAÚJO, 2012, p. 95). 
Como você pode notar, a institucionalização da geografia é recente, apesar 
de a necessidade de descrever e mapear o território nacional existir desde o Brasil 
colonial. Inicialmente colocada em pauta pelos jesuítas, pois a educação era sua 
incumbência, a geografia foi agregando aspectos mais generalistas. Com a criação 
do Colégio Pedro II, essa disciplina adquiriu um caráter elitista. 
Com as sucessivas reformas do ensino, a geografia foi paulatinamente 
inserida nos currículos, especialmente devido à necessidade de patriotismo e 
nacionalismo. Ela era vinculada à localização física e restrita de locais de 
conhecimento e cidades. Posteriormente, a disciplina passou a agregar a política 
humana e social. Isso ocorreu com a criação de órgãos estatísticos como o IBGE, 
que passaram a considerar os aspectos sociais e humanos e instituíram a geografia 
como ciência. Assim, ela foi incluída efetivamente nas academias. Como você viu, 
36 
 
 
a Universidade do Brasil, atual UFRJ, e a Universidade de São Paulo foram 
essenciais no processo de institucionalização da geografia. 
 
 
 
8 LEITURA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO ATRAVÉS DAS CATEGORIAS: 
LUGAR, PAISAGEM E TERRITÓRIO 
 
 
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Buscar a compreensão da realidade não é uma tarefa somente da Geografia, 
mas dos diversos ramos do saber científico. Surge assimuma questão: qual a 
contribuição da Geografia para o entendimento do mundo (realidade) em que 
vivemos? Como a Geografia, enquanto disciplina escolar, pode organizar seu corpo 
de conhecimentos e torná-lo acessível ao aluno, para que ele seja capaz de realizar 
uma leitura “correta” da realidade que o cerca? (BRASIL, 2000). 
A Geografia defronta-se assim com a tarefa de analisar o espaço geográfico 
como uma categoria para compreender a realidade. Com esta abordagem, o ensino 
da Geografia direcionado para o Fundamental confere ênfase ao estudo do meio 
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como resultante da ação do sujeito social responsável pela construção do lugar, da 
paisagem e do território (BRASIL, 2000). 
Tais categorias devem ser consideradas em suas inter-relações e conexões, 
dada à dinâmica do espaço geográfico o qual constitui uma categoria central da 
Geografia e, ao longo da história desta ciência, foi concebido de diversas maneiras. 
Porém, não é nosso escopo retomá-las (BRASIL, 2000). 
O espaço geográfico como objeto de estudo vai além da dinâmica do espaço 
físico e, hoje, o grande desafio que se coloca é compreender a inter-relação entre 
sociedade e natureza. Esta categoria deve ser analisada, transformada, criada e 
produzida pela sociedade à medida que o homem se apropria da natureza, que 
guarda a especificidade de ser permanentemente (re)elaborada pelo fazer humano. 
Assim, de acordo com o Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): “O espaço 
geográfico é historicamente produzido pelo homem, enquanto organiza econômica 
e socialmente sua sociedade” (BRASIL, 2000, p. 109). Nesta perspectiva, o espaço 
geográfico deve ser entendido como uma totalidade dinâmica em que interagem 
fatores naturais, socioeconômicos e políticos. 
No conceito de espaço geográfico está implícita a ideia de articulação entre 
natureza e sociedade. Na busca desta articulação, a Geografia tem que trabalhar, 
de um lado, com os elementos e atributos naturais, procurando não só descrevê- 
los, mas entender as interações existentes entre eles; e de outro, verificar a maneira 
pela qual a sociedade está administrando e interferindo nos sistemas naturais. Para 
perceber a ação da sociedade é necessário adentrar em sua estrutura social, 
procurando apreender o seu modo de produção e as relações socioeconômicas 
vigentes (BRASIL, 2000). 
Os estudos geográficos, ao possibilitarem a compreensão das relações 
sociedade-natureza, induzem à noção de cidadania, levando o aluno a analisar suas 
ações como agente ativo e passivo do meio ambiente e, portanto, capaz de 
transformar o espaço geográfico. Assim sendo, as práticas pedagógicas devem 
estar voltadas aos problemas da comunidade na qual os alunos estão inseridos, 
pois esta é a escala espacial local em que sua ação transformadora pode ser 
imediata. No que diz respeito à AÇÃO, há necessidade tanto de conhecimentos e 
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habilidades, quanto de execução de um processo que mude a percepção e a 
conduta, o qual passa pela sensibilização e afetividade (BRASIL, 2000). 
É necessário também que os professores estejam preparados para 
considerar no seu trabalho a própria dimensão individual dos seus alunos, pois “[...] 
mudar valores requer o alto conhecimento do indivíduo-sujeito” (CARVALHO, 2004, 
p. 42). 
 
8.1 Categoria – Lugar 
 
 
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O conceito de LUGAR sempre esteve presente na análise geográfica, 
sofrendo amplas considerações em diferentes épocas. Por muito tempo, a 
Geografia tratou o lugar com uma expressão do espaço geográfico sob uma 
dimensão pontual (localização espacial absoluta). Para ultrapassar esta ideia, a 
discussão de lugar tem sido realizada sob duas acepções: lugar e experiência, e 
lugar e singularidade (BRASIL, 2000). 
O lugar como experiência caracteriza-se principalmente pela valorização das 
relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao ambiente. 
Nesta linha de raciocínio, o lugar é resultado de significados construídos pela 
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experiência, ou seja, trata-se de referenciais afetivos desenvolvidos ao longo de 
nossas vidas. 
 
[...] lugar significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não 
se refere a objetos e atributos das localizações, mas a tipos de 
experiências e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e 
segurança (RELPH, 1979, p. 156). 
 
Sob esta interpretação, o lugar é diferente do espaço, posto que o primeiro é 
fechado, íntimo e humanizado, ao passo que o segundo seria qualquer porção da 
superfície terrestre, ampla e desconhecida. Assim, o lugar está contido no espaço. 
A categoria lugar encerra espaços com os quais os indivíduos têm vínculos 
afetivos, onde se encontram as referências pessoais e os sistemas de valores que 
induzem a diferentes formas de perceber e construir a paisagem, e o espaço 
geográfico. 
Na perspectiva de lugar e singularidade, o lugar é resultante, de um lado, de 
características históricas e culturais inerentes ao processo de formação, e de outro, 
da expressão da globalidade. Para Carlos (1996, p. 16), “O lugar se apresentaria 
como ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local enquanto 
especificidade concreta, enquanto momento”. A concepção de lugar, sob este ponto 
de vista, possui uma dimensão histórica que está relacionada com a prática 
cotidiana, sendo que o lugar surge do plano vivido. Ainda segundo a autora, pensar 
o lugar: 
 
[...] significa pensar a história particular (de cada lugar), se desenvolvendo, 
ou melhor, se realizando em função de uma cultura/tradição/língua/hábitos 
que lhe são próprios, construídos ao longo da história e o que vem de fora, 
isto é, que se vai construindo e se impondo como conseqüência do processo 
de constituição mundial. (CARLOS, 1996, p. 20). 
 
Diante do exposto, o lugar pode ter uma acepção a partir de visões subjetivas 
vinculadas às percepções emotivas, a exemplo do sentimento topofílico aos quais 
se refere Yu-Fu Tuan (1975, p. 1015), e outra, através do cotidiano compartilhado 
com diversas pessoas e instituições que nos levam à noção de “espaço vivido”. 
Pesquisas revelam que a categoria lugar é compreendida, pelos alunos das 
primeiras séries do Ensino Fundamental, a partir de experiências e de relações 
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afetivas. Neste sentido, no ensino, o conceito do lugar pode ser formado e/ou 
compreendido como espaço de vivência, onde estão inseridas suas necessidades 
existenciais, suas interações com os objetos e as pessoas, suas histórias de vida. 
Neste espaço vivido (lugar), onde os alunos têm contato e vislumbram 
relações locais e globais, pode-se perceber nitidamente uma imbricação dos 
conceitos paisagem e lugar, como nos mostra Cavalcanti (1998, p. 100): 
 
[...] na formação do raciocínio geográfico, o conceito de paisagem aparece 
no meu entendimento, no primeiro nível de análise do lugar, estando 
estreitamente com este conceito. É pela paisagem, vista em seus 
determinantes e em suas dimensões, que vivencia empiricamente um primeiro 
nível de identificação com o lugar. 
 
 
8.2 Categoria – Paisagem 
 
 
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A paisagem constitui uma categoria com caráter específico para a Geografia 
e distinto daquele utilizado pelo senso comum. Desde a sistematização do 
conhecimento geográfico, foram vários os conceitos de paisagem. Uma grande 
contribuição foi aquela dada por Paul Vidal de La Blache: paisagem é aquilo que 
“[...] o olho abarca com o olhar”. Entretanto, o percurso mais dinâmico do 
entendimento da paisagem reside na forma de interpretá-la, pois antes se 
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fundamentava apenas na descrição empírica dos seus elementos, e hoje, é 
acrescida de relações e conjunções de elementos naturais e tecnificados, 
socioeconômicos e culturais. 
A paisagem como objeto de estudo, ao longo dos dois primeiros ciclos do 
Ensino Fundamental, pode ser abordadaa partir da paisagem local e, neste sentido, 
os PCNs orientam os professores sobre os caminhos metodológicos, conforme o 
texto abaixo: 
 
O estudo da paisagem local não deve restringir à mera constatação e 
descrição dos fenômenos que a constituem. Deve-se também buscar as 
relações entre a sociedade e natureza que aí se encontram presentes 
situando-as em diferentes escalas espaciais e temporais, comparando-as, 
conferindo-lhes significados, compreendendo- as. Estudar a paisagem local 
ao longo do primeiro e segundo ciclos é aprender a observar e a 
reconhecer os fenômenos que a definem e suas características; descrever, 
representar, comparar e construir explicações, mesmo que aproximadas e 
subjetivas, das relações que aí se encontram impressas e expressas 
(BRASIL, 2000, p. 116). 
 
A paisagem conjuga o passado, o presente e nos aponta o futuro, em uma 
convivência de diferentes temporalidades que faz de cada uma delas única. 
Entendida como um produto social e histórico, ela retrata as sociedades que a 
construíram e a constroem. 
Paisagem é, portanto, visível e material, mas o processo de sua 
transformação nos revela grandes conflitos socioambientais. Portanto, ela não é 
estática, está em constante transformação. 
 
A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é 
formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, 
utilidade, ou por qualquer outro critério. A paisagem é sempre heterogênea. 
A vida em sociedade supõe uma multiplicidade de funções e quanto maior 
o número destas, maior a diversidade de formas e de atores. Quanto mais 
complexa a vida social, tanto mais nos distanciamos de um mundo natural 
e nos endereçamos a um mundo artificial. (SANTOS, 1996, p. 65). 
 
 
As categorias paisagem e território possuem uma relação bastante estreita. 
A paisagem, neste contexto, pode ser definida como uma unidade visível do 
território. Dito de outro modo, no território tem-se um conjunto de paisagens contidas 
nos limites político-administrativos, como por exemplo: cidade, estado e país. 
 
42 
 
 
8.3 Categoria – Território 
 
 
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Os estudos do território têm como base central as relações entre os agentes 
sociais, políticos e econômicos interferindo na gestão do espaço. Isto porque a 
delimitação do território está assentada nas relações de poder, domínio e 
apropriação nele contidas. 
O território configura-se como uma porção concreta do espaço geográfico, 
onde se revelam as diferenças de condições ambientais e de vida da população. 
 
Enfim, o território é fonte de recursos e só assim pode ser compreendido 
quando enfocado em sua relação com a sociedade e suas relações de 
produção, o que pode ser identificado pela indústria, pela agricultura, 
pela mineração, pela circulação de mercadorias etc., ou seja, pelas 
diferentes maneiras que a sociedade se utiliza para se apropriar e 
transformar a natureza (SPOSITO, 2004, p. 112-113) 
 
É o uso diferenciado do território que acaba conferindo-lhe enormes 
complexidades. Estas acabam retratando as diversidades culturais que, embora 
convivam mutuamente, buscam, na produção do território, o reconhecimento de 
suas especificidades. 
Vagner
Destacar
Vagner
Destacar
43 
 
 
A análise do processo de produção dos diferentes territórios deve enfocar o 
homem como sujeito produtor do espaço, contemplando o social, o cultural, o 
econômico, o político e os seus valores (BRASIL, 2000). 
No decorrer da história do pensamento geográfico, o território ganha 
diferentes tipos de abordagens, desde a representação de uma parcela do espaço, 
identificada pela posse e definida pela apropriação, até o importante papel dado à 
dominação. Ou seja, o território é dominado por uma comunidade ou por um Estado. 
A conotação política também ganha força nos estudos de Geopolítica (território = 
espaço nacional), significando área controlada por um Estado Nacional. O conceito 
de território se alarga permitindo explicar muitos fenômenos geográficos 
relacionados à organização da sociedade e suas interações com as paisagens 
(BRASIL, 2000). 
Procurando contribuir com a construção do conceito de território, em uma 
perspectiva geográfica, Sposito aponta dois caminhos possíveis; o primeiro, afirma 
o autor: 
 
[...] refere-se ao estabelecimento de redes de informação que, com o 
rápido desenvolvimento tecnológico, permitem a disseminação de 
informações em frações de tempo, tornando-se significativas por 
romperem com a barreira da distância-elemento fundamental para a 
apreensão do território em sua escala individual. Dessa maneira, os 
territórios perdem fronteiras, mudam de tamanho dependendo do domínio 
tecnológico de um grupo ou de uma nação, e mudam, conseqüentemente, 
sua configuração geográfica. (SPOSITO, 2004, p. 114) 
 
Complementando sua exposição, Sposito (2004, p. 115) acredita que: 
 
O segundo caminho pode ser aquele do questionamento da volta ao 
indivíduo e sua escala do cotidiano, como formas de apreensão das 
dimensões territoriais e da capacidade de projetar a liberdade como meio 
de satisfação das necessidades individuais. A casa, a rua, o ambiente de 
trabalho, os grupos de pessoas circundantes e tudo aquilo que faz parte 
do cotidiano torna-se elemento referencial para estudos dessa natureza. 
Nessa dimensão, o indivíduo pode ganhar em termos de inventividade e 
de solidariedades novas, tornando-a revolucionária porque é nesse nível 
que a liberdade se projeta, que a desregulamentação passa pela decisão 
da pessoa. 
 
Em uma perspectiva de ensino-aprendizagem, a categoria de análise do 
território não poderá ser entendida, discutida e interpretada se não antevermos sua 
importância social, já que é suporte e condição para que as relações sociais 
44 
 
 
continuem a se desenvolver. Outro pressuposto para o entendimento do território é 
considerá-lo como expressão da força política. Desse modo, trabalhar com esta 
categoria nas séries iniciais do Ensino Fundamental não pode significar a 
supervalorização do político em detrimento do social e, neste sentido, os PCNs nos 
colocam a seguinte ideia: 
 
[...] O território é uma categoria importante quando se estuda a sua 
conceitualização ligada à formação econômica e social de uma nação. 
Nesse sentido, é o trabalho social que qualifica o espaço, gerando o 
território. Território não é apenas a configuração política de um Estado- 
Nação, mas sim o espaço construído pela formação social. (BRASIL, 2000, 
p. 111). 
 
Um autor que contribui efetivamente para o avanço da construção do 
conceito de território é Souza (1995, p. 111), quando traz a seguinte reflexão: 
 
[...] assim como o poder não se circunscreve ao Estado nem se confunde 
com a violência e a dominação (vale dizer, com a heteronomia), da mesma 
forma o conceito de território deve abarcar infinitamente mais que o 
território do Estado-Nação. Todo espaço definido e delimitado por e a partir 
de relações de poder é um território, do quarteirão aterrorizado por uma 
gangue de jovens até o bloco constituído pelos países–membros da OTAN. 
 
Pelo exposto, observa-se que o território é uma categoria de análise que 
permite entendermos as relações sociais tecidas no decorrer da história. Visto deste 
modo, o território contempla uma dinâmica espacial em constante (re)organização. 
Para Santos: 
 
Seja qual for o país e o estágio do seu desenvolvimento, há sempre nele 
uma configuração territorial formada pela constelação de recursos 
naturais, lagos, rios, planícies, montanhas e florestas e também de 
recursos criados: estradas de ferro e de rodagem, condutos de toda 
ordem, barragens, açudes, cidades, o que for. É esse conjunto de todas as 
coisas arranjadas em sistema que forma a configuração territorial cuja 
realidade e extensão se confundem com o próprio território de um país. 
Tipos de floresta, de solo, de clima, de escoamento, são interdependentes, 
como também o são as coisas que o homem superpõeá natureza. Aliás, 
a interdependência se complica e completa justamente porque ela se dá 
entre as coisas que chamamos de naturais e as que chamamos de 
artificiais (1996, p. 75-76) 
 
Diante do exposto, a abordagem geográfica da realidade, ao ser efetuada 
com base nas diferentes categorias espaciais, deve ser assinalada como um 
processo de construção de conhecimento geográfico, ou seja, a partir da 
45 
 
 
compreensão de como essa realidade é construída, percebida e vivenciada, e não 
como conteúdos em si mesmos, com explicações simplistas e reducionistas. 
 
9 GEOPOLÍTICA BRASILEIRA 
 
 
 
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Polarização, bipolaridade, unipolaridade, multipolaridade — palavras que, 
apesar de atravessarem o cotidiano das pessoas hoje em dia, não são naturais da 
formulação das teorias da geopolítica, mas são uma dedução teórica das relações 
sociais que evoluíram bastante nos últimos séculos (FERNANDES, 2003). 
Ainda que a ideia de geografia política já fosse discutida desde, pelo menos, 
o século XVII, segundo Vesentini (2011), foi no transcorrer do século XIX, enquanto 
o pensamento geográfico era organizado como ciência moderna autônoma, que 
surgiram os primeiros escritos a cunharem o termo geopolítica, ao considerarem as 
relações de poder como uma instância de atores na produção do espaço. 
No texto Geografia Política, de 1897, Friedrich Ratzel descreve as relações 
sociais supranacionais sob a lógica evolucionista darwiniana, atribuindo 
naturalidade para as discrepâncias de poder entre as nações (FERNANDES, 2003). 
46 
 
 
A publicação de Ratzel ficaria mundialmente famosa também pela teoria do espaço 
vital, elaborada sobre uma estrutura de pensamento positivista que coloca a força 
do estado como totalmente dependente de três instâncias, todas elas consideradas 
pelo autor como atributos naturais: 
 
 do espaço: considerando sua forma, relevo, clima e disponibilidade de 
recursos naturais; 
 da posição geográfica: considerando as relações sociais 
estabelecidas entre o Estado e o seu meio circulante, tanto no âmbito 
do seu território como de territórios vizinhos; 
 do espírito do seu povo: considerando que alguns povos seriam 
naturalmente mais fortes e evoluídos do que outros. 
 
A efervescência das discussões sobre as relações de poder e a organização 
geográfica dos povos nas escolas de geografia da Europa começavam a pressionar 
os franceses, que, por meio da publicação de 1898, por Paul Vidal de la Blache, do 
volume La Géographie Politique: a propos des écrits de Frédéric Ratzel, colocam 
um olhar possibilista sobre essas tensas relações. Em oposição às publicações de 
autores alemães e ingleses sobre o tema, La Blache enxerga as relações sociais a 
partir dos grupos sociais, desvinculando a ideia de geografia política de qualquer 
naturalismo. Para o geógrafo francês, o espaço geográfico é objeto de uma nação, 
estando contidos nele o tempo histórico ali vivenciado e as ações humanas que o 
moldam, gerando, a partir daí, a necessidade de compreendê-lo com a 
sistematização do pensamento de uma geografia regional e não generalista 
(TEIXEIRA, 2020). 
No contexto imperialista do século XIX, foi fundamental para os Estados 
formar o seu entendimento sobre a geografia política, dando assim legitimidade à 
ocupação do seu território. Ao observar os diferentes entendimentos entre alemães 
e franceses, por exemplo, ficam mais claras as intencionalidades das decisões 
políticas adotadas posteriormente, no século XX, quanto à conquista de territórios. 
Em 1905 foi publicado o texto As Grandes Potências, de Rudolf Kjéllen, 
publicação que ganhou grande importância por cunhar, pela primeira vez, o termo 
47 
 
 
geopolítica. O autor sueco destaca a diferença entre os termos geopolítica e 
geografia política, apesar de o primeiro ser resultado de intensas discussões 
teóricas sobre o entendimento do segundo. Para Rudolf, a noção de geografia 
política estaria restrita às relações entre o território e o Estado, considerando a sua 
posição geográfica, suas fronteiras, etc. Já a geopolítica daria conta de formular 
teorias e estratégias políticas para obtenção e manutenção de poder sobre o 
território. 
Com a concepção de geopolítica proposta pelo autor sueco, não era mais o 
poder bélico ou a imponência territorial o que definia a hegemonia global das 
nações, mas sim a articulação de diferentes aspectos físicos, econômicos e sociais. 
Assim, a teoria de Kjéllen propõe a elucidação do cenário internacional de poder 
entre os países no início do século (TEIXEIRA, 2020). 
Além do hegemon histórico (os países denominados hegemons são aqueles 
que exercem a hegemonia em um ou mais setores globalmente) Reino Unido, pela 
sua expansão imperialista e pelo pioneirismo sobre a Revolução Industrial, o 
surgimento de outras potências passou a ser observado, como a nação habitante 
do território considerado o coração do mundo pelo autor inglês Halford Mackinder, 
em sua teoria geoestratégica denominada Heartland — a União das Repúblicas 
Socialistas Soviéticas (URSS). Os soviéticos ainda realizaram um grande feito no 
início do século, a II Revolução Industrial, baseada em um modelo de sociedade 
horizontalizado, de economia planificada e centralidade de poderes no Estado. 
(TEIXEIRA, 2020). Assim, o país socialista se alçou à condição de potência global 
e influenciou a organização estatal de vários países no mundo. 
Além desses países, a França — berço da revolução burguesa que mudou a 
lógica estrutural de poder intranacional, gênese do sistema político que tomaria 
grande parte do mundo ao longo dos séculos XIX e XX, a democracia representativa 
— aparece como uma das grandes economias do mundo e postulante a hegemon 
global por influenciar fortemente as sociedades ocidentais ao justificar a existência 
do Estado vinculando-o ao lema iluminista: liberdade, fraternidade e fraternidade. 
(TEIXEIRA, 2020). 
A Alemanha, desde a Primeira Guerra Mundial, teve seus planos 
expansionistas pautados nas teorias da geografia política de Ratzel e de seu 
48 
 
 
“espaço vital”; no entanto, após sua derrota na Primeira Guerra, Karl Haushofer, 
general-geógrafo que teve importante papel nos ideais geopolíticos do país, passa 
a estimular o instinto de fronteira perdido do povo alemão. De acordo com Martin 
(1994, p. 42), “Interessado em criar um “lebensraum” (espaço vital) de dimensões 
mundiais para a Alemanha, Haushofer radicalizará algumas das formulações de 
Ratzel, sobretudo aquelas que concernem aos limites” (TEIXEIRA, 2020). 
Em meio às intensas disputas pela hegemonia mundial, a primeira metade 
do século XX foi marcada por grandes guerras protagonizadas pelas lideranças 
europeias, asiáticas e os Estados Unidos da América (EUA). Ao final da Segunda 
Grande Guerra, os EUA, economicamente fortalecidos, implementam o Plano 
Marshall — como estratégia de financiar a reconstrução dos países europeus, 
evitando a sua aproximação da URSS — e a Doutrina Truman — plano que 
autorizava e estimulava o envio de tropas militares estadunidenses para qualquer 
país do mundo que fosse considerado ameaçado pelos soviéticos. Essa corrida por 
estreitar relações com outras nações entre o país capitalista e o país socialista foi a 
tônica das décadas seguintes até o final do século XX (TEIXEIRA, 2020). 
No período pós-guerra (anos 1945 a 1960), o mundo observava a corrida 
pela hegemonia global entre EUA e URSS e a reconstrução do espaço europeu, 
arrasado por anos de guerra. A tendência dessa reconstrução era uma nova lógica 
de organização do espaço produtivo, descentralizando os polos científicos e 
industriais, dando fluidez para o capital aplicado no território de maneira a chegar 
em diferentes regiões dos países (TEIXEIRA, 2020). 
No Brasil, as décadas pós-guerra seguiram essa tendência mundial, de certa 
forma. Apesar de diferenças ideológicas, os governos dos presidentes eleitos EuricoGaspar Dutra e Getúlio Vargas — que se suicidou e deixou o poder para Juscelino 
Kubitschek — acabaram assumindo uma postura comum de expansionismo 
produtivo e uma certa descentralização das atividades. Adequar o cenário produtivo 
nacional aos parâmetros da Revolução Industrial era necessário para se lançar ao 
grupo de países hegemons, condição almejada pelo Brasil no período pós-guerra a 
partir da relação com os EUA durante a Segunda Grande Guerra. Para executar 
esse crescimento desconcentrado, foram lançados programas de desenvolvimento 
regional pelo país, muitos deles liderados por empresas e bancos públicos criados 
49 
 
 
e/ou fortalecidos nesse período (TEIXEIRA, 2020). 
Os anos de investimentos com dinheiro público e volumosos créditos 
internacionais não eram vistos com simpatia pelo Fundo Monetário Internacional 
(FMI) e pelo Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), braço 
do Banco Mundial, que tinha como grande investidor e líder os EUA, que colocavam 
em prática o Plano Marshall. A pressão desses órgãos internacionais era para que 
o Brasil cortasse investimentos diretos em infraestrutura e no setor produtivo, 
abrindo-se ao mercado internacional e a empresas estrangeiras. O período de 
governo de Juscelino Kubitschek (1956–1961) teve turbulências quanto a esse 
tema, levando o país a romper relações com o FMI em 1959 para que pudesse 
seguir o seu plano desenvolvimentista (TEIXEIRA, 2020). 
 
10 A GEOPOLÍTICA BRASILEIRA DURANTE A DITADURA MILITAR 
 
 
Em 31 de março de 1964, utilizando como motivo a Guerra Fria travada por 
capitalistas (EUA) e socialistas (URSS), as forças armadas brasileiras impediram 
que João Goulart assumisse o poder como presidente da república e, com apoio de 
agências financeiras internacionais, consumaram o golpe que impôs a ditadura 
militar conservadora no Brasil até o ano de 1985, fechando completamente o país 
para qualquer possibilidade de desenvolvimento autônomo ou em contato com os 
países socialistas (FERNANDES, 2003). 
Durante o golpe, o projeto de desenvolvimento regional arrojado, com 
objetivo de descentralizar a produção e o capital, foi imediatamente substituído por 
um modelo de desenvolvimento conservador e centralizador. Chamado de 
modernização conservadora, o projeto foi baseado na ampliação da industrialização 
de base de maneira massificada e na mecanização do campo para a produção de 
monoculturas, produzindo um modelo de Brasil que priorizava a concentração de 
capital e o abastecimento do mercado internacional. Nesse momento, os 
investimentos do Estado seriam endereçados ao Norte e ao Nordeste do país para 
produzir infraestrutura na tentativa de amenizar as dificuldades para a produção 
(FERNANDES, 2003). 
Logo no primeiro triênio sob comando militar, os brasileiros viram o salário 
50 
 
 
mínimo ter uma redução real de 25%, fruto de uma política de aceleração 
inflacionária que tinha como justificativa o combate às desigualdades de 
rendimentos, mas que acabou por achatar os ganhos dos trabalhadores e agravar 
as desigualdades. 
No cenário geopolítico, esse período foi de mudanças também no 
entendimento de funcionalidade da fronteira. O projeto de implantar um modelo de 
segurança nacional combatendo ideias não conservadoras impôs a necessidade de 
entender a zona de fronteira como marco puramente de limitação de território, não 
como um ambiente de integração entre nações. A criação da identidade brasileira 
na ditadura militar limitava os cidadãos como brasileiros ou não brasileiros 
(FERNANDES, 2003). 
A Doutrina de Segurança Nacional (DNS), teoria política elaborada pelo 
Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos ainda nos anos 1950, foi 
disseminada pela América Latina, chegando ao Brasil por meio da instalação da 
Escola Superior de Guerra (ESG). Ao serem adotadas as teorias desta corrente do 
pensamento geopolítico — e somadas àquelas já existentes no país, fortemente 
próximas às teorias de Kjéllen e Ratzel, tendo como signos de fortalecimento da 
soberania o tamanho do território nacional e a sua capacidade de expansão —, a 
geopolítica assumida pelo regime militar tinha como estratégia o distanciamento em 
relação aos países tidos como adversários e a ampliação e o fortalecimento das 
suas fronteiras. Assim como no Brasil, a DNS se espalhou pela América do Sul, 
onde esses ideais se tornaram o pensamento dominante, resultando em golpes 
militares também na Bolívia, no Chile, no Uruguai e na Argentina Em todos esses 
casos, ressalta Fernandes (2009, p. 837), “[...] a DSN fundamentava-se na 
necessidade da segurança nacional para a defesa dos valores cristãos e 
democráticos do mundo ocidental, era a resposta ao ‘comunismo ateu’, tendo como 
base um virulento anticomunismo [...]”. 
No que diz respeito ao desenvolvimento econômico, a DNS se constituiu em: 
 
[...] um instrumento utilizado pelos setores dominantes, associados ao 
capital estrangeiro, para justificar e legitimar a perpetuação por meios não 
democráticos de um modelo altamente explorador de desenvolvimento 
dependente [...] (ALVES, 2005 apud FERNANDES, 2009, p. 837). 
 
51 
 
 
É importante considerar que, para respaldar as teorias trazidas pela DNS por 
meio da ESG, houve um esforço por parte dos militares, disseminado para a 
sociedade, de flexibilização do conceito de comunismo, haja vista que é o 
anticomunismo o mote das suas ideias de segurança para as fronteiras e seu 
interior. De maneira geral, todos os grupos intelectuais, religiosos e organizações 
políticas de oposição ao regime militar passaram a ser caracterizados como 
comunistas, criando assim representantes deste “inimigo comum” se 
desenvolvendo dentro do próprio território, não havendo a necessidade de contato 
com a URSS ou qualquer outro país de regime socialista para justificar políticas de 
segurança para o território. Além disso, a construção de uma identidade nacionalista 
foi profundamente associada à popular seleção brasileira de futebol e trabalhada 
por meio da vinculação dos símbolos nacionais ao movimento pró-regime militar; as 
campanhas publicitárias bradavam palavras de ordem, colocando os opositores 
como apatrióticos (FERNANDES, 2003). 
De acordo com a teoria adotada pela ditadura militar no Brasil, elaborada pelo 
conselho de segurança estadunidense, o grande risco para a hegemonia dos países 
ocidentais e seus valores estaria ligada a uma possível expansão do comunismo, 
que se manifestaria por três possíveis formas de guerra (FERNANDES, 2003): 
 
 a guerra fria (formato travado entre EUA e URSS que consistia na 
dominação ideológica de territórios, não utilizando de força militar 
diretamente entre as nações combatentes); 
 a guerra generalizada (que subentende o conflito como permanente, 
sendo uma questão de sobrevivência o combate ao comunismo); 
 e a guerra revolucionária (movimentos reformistas ou de libertação 
nacional insurgentes). 
 
A lógica concebida pela DNS era de que o conflito com o “inimigo comunista” 
era iminente, podendo variar conforme a forma de organização e os objetivos do 
grupo opositor, mas sempre sendo identificado como uma “ameaça comunista”. 
Nesse sentido, vários países da América Latina viveram períodos de ditaduras 
militares que promoveram diversos conflitos políticos e populacionais na região. 
52 
 
 
 
 
Ditaduras militares na América Latina nos anos 1960 a 1970. 
Fonte: Fundação Getúlio Vargas (2016, documento on-line) 
 
 
Assim, a estruturação da geopolítica das zonas de fronteira seguiu este 
mesmo raciocínio (DNS), e, utilizando-se também das teorias de vivificação de 
fronteiras de Teixeira Soares, inicia-se em 1964 a construção da usina hidrelétrica 
de Itaipu, obra gigantesca na tríplice fronteira com Argentina e Paraguai, que tinha 
objetivos claramente ofensivos na disputa hegemônica na América do Sul. Como 
destaca Andersen (2008, p. 11): 
 
Não

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