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Era Azul o Amor

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Era Azul o Amor 
Anjo Noturno 
 
Era azul o amor. Azul infinito, cor do céu e parecia com a aurora da manhã. O 
amor via a vida pela verdade das coisas, eu cismava que a verdade era um fardo, mas não 
fazia meias cerimônias, nem confidenciava. Mas, via que o amor se resumia na sua 
própria verdade. Seu olhar muitas vezes parado no mesmo lugar, mostrava como se tudo 
estivesse as mil maravilhas. E na verdade estava. Ele, sempre nos doava sorrisos alegres, 
sem ressalvas, zombando dos incrédulos. O amor ver o mundo melhor que a nossa ânsia 
descontrolada pela felicidade, eu tentava justificar meu contrassenso. Ele atravessa as 
barreiras e alcança dentro, onde tudo é um turbilhão e beija o belo. O amor não acaricia 
a superfície. Ele chega bem dentro de nós e nos eleva. 
O amor sonhava sempre, eu acreditava nisso. Vencia o cansaço das horas 
rápidas, deixando a felicidade invadi-lo por completo. Ele acolhia essa visão sem 
espanto. Deliciava o infinito com grande ânimo. O que ele não sentia, fantasiava. 
Inventava momentos incríveis, pois o amor era azul como o fundo do mar. E todo mar é 
mágico por ser grande demais. Tudo cabe dentro do amor: esperança, sonhos, 
felicidades e sorrisos soltos. Há de se contar os desassossegos que as decepções 
amorosas provocam. Nunca soube se alguém que conheceu o amor, foi feliz 
eternamente, mas ele sempre foi feliz. Sei que muitos o desprezava, enquanto lastimava 
a perda, enquanto se perdia entre um mar de sentimentos controversos, de paixões 
proibidas e dúvidas. E feliz devia ser, sem tamanha decepção, diante deste olhar de 
tristeza. Ele parecia conhecer até o que vinha acontecer, antes mesmo do acontecido. 
Nunca mostrava outra coisa além do seu sorriso doce de felicidade. 
Ao ficar diante do amor nos sentimos acuado, um grão de arei perdido em seus 
olhos. Se alguém nos encara nos pluraliza. Passamos a ser um par. Somos dois, um 
diante do outro, mas diante do amor eu só consegui ser um, pois ser dois é ter um 
amante para amar, para aventurar, outro ser para as errâncias. E ele perdoa sempre. 
Todo ser precisa de uma alma gêmea, que complete o sentido da vida. Há sempre 
alguém escondido dentro de nós, que nos acende em segredo. Só aqueles que tem um 
amor azul não cogita isso. Ao ficar em frente do amor, ele nos limita, nos faz solitário. E 
nos sentimos desamparados, sem janelas para fugas. 
Dizem que ele viaja mundos encantados, desconhecidos da humanidade, um 
outro infinito. Busca levar sempre o sorriso verdadeiro, a felicidade completa, não há 
meio termo para ele. Tudo é ou não é. Ninguém esgota a felicidade, mesmo não tendo 
o melhor olhar. Mas, nós humanos sempre olhamos e não notamos, nem acreditamos 
no que vemos. E o amor sempre quer que vejamos com os olhos de dentro, que não era 
uma meia verdade o sentimento. Apesar que, logo após os sorrisos, esquecemos tudo, 
não enxergamos a beleza do cintilar do sol, nem se o amor do passado ou do presente 
era real. Confundimos o sentimento muito facilmente, o que nos torna imperfeitos, de 
olhos cegos. Amor jamais se prostra a infelicidade, sempre belo pulsa como o oceano. 
Temos medo da palavra amor. É tão profunda. Parece feita de pontas 
pontiagudas. A palavra amor não permite indecisão, daí não conhecer a dor. O amor, se 
existe, deve ser transbordante demais. Maior que o mar, o mar tem extensão e o amor 
não. O amor não possui divisa. O amor não permite interpelar. O amor é um sentimento, 
um laço. Ele invade. E no fundo sempre acreditamos mais no amor de mentira, do que 
no amor de verdade. Com o amor da mentira vemos encantos. 
Por isso, fomos educado por vias das dúvidas. Quando nos apaixonamos, por vias 
das dúvidas não nos entregamos. Mas, por via das dúvidas vivemos cada instante feliz. 
Quando nós entregamos de uma vez. Por vias das dúvidas ficamos com o pé atrás. Mas, 
por via das dúvidas acreditamos que é real. A dúvida sempre nos libertou. Os seres que 
cismam ter encontrado o verdadeiro amor, assustam. Daí o porquê do gostar do amor 
de mentiras. Ele sempre dúvida de tudo e se ver silencia, guarda para si. Na verdade, ele 
escolhe o que ver. Quando negamos que nunca conhecemos o amor é porque já o 
vivemos. É impossível desvê-lo 
O amor descansa no pulsar do coração e se embala delicadamente como se o 
mundo fosse um céu perfeito. Balança leve para não perder o ritmo. Acomoda um 
secreto respeito com o silencio. Aprendemos muito com ele, que o silencio cura tudo. 
O silencio destrói todos os labirintos. Não existe um só ruído que o amor não conheça. 
Muitas das vezes o silencio mistura com a dúvida que povoa os corações de papel 
estilizado. Às vezes ele tem o gosto dos mais lindos sonhos que acariciam e nos cobre 
de alegrias. E se era por demais imenso o sonho, o silencio exalava o perfume das 
orquídeas que enfeitava a sala do peito. 
Quando estamos envolvidos pelo amor, dispensamos a tristeza. Levantamos os 
olhos e buscamos outras loucuras. O silencio não ouvi, tudo é um bilhete para novas 
andanças amorosas. E nós buscamos desvendar os mares que o amor povoa, os céus 
que ele atravessa, as estrelas que ele contempla, o coração em que deita. E todo nosso 
esforço se torna pequeno diante de toda a grandiosidade, beleza do amor. Então 
abraçamos o amor de mentira, sem necessitar de sentimento. Pois, estamos envolvido 
de endurecimento que percorria toda alma. 
E um dia sem querer, o amor, não esse amor de mentiras, o amor azul, cor de 
mar, cor de céu. O amor azul que acredita na verdade das palavras, na verdade das 
ações, na verdade do sentimento. Que acredita assim, como acreditamos em Deus. Nos 
leva a acreditar que onde havia tristeza, não há mais, onde havia dor só existe sorriso, 
onde havia tristeza só existe luz. 
O amor azul nos deixa uma herança, ternos de linhos engomados no guarda-
roupa, eternos como o sentimento que ferve no peito.

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