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PROJETO E ANÁLISE DE PONTES SÉRGIO MARQUES FERREIRA DE ALMEIDA PREFÁCIO O conteúdo deste livro se inspirou na experiência didática, obtida através dos cursos de Pontes, Sistemas Hiperestáticos, Estruturas Pré-Fabricadas e Patologia das Estruturas, ministrados na Universidade Federal Fluminense, e na experiência profissional do autor, na elaboração de projetos de pontes e viadutos por mais de 30 anos. Tendo em vista a extensão da matéria que o assunto abrange, decidiu-se organizar a publicação em dois volumes, separando-se a superestrutura (lajes, vigas e transversinas) da meso-estrutura (aparelhos de apoio, pilares e fundações). Assim, este primeiro volume compreende o estudo da superestrutura de pontes e viadutos. No Capítulo 1 são introduzidas as definições, classificações e conceitos gerais sobre as pontes. O Capítulo 2 apresenta os elementos necessários ao projeto das pontes e viadutos. O Capítulo 3 apresenta os sistemas estruturais mais adotados para as obras de Arte Especiais. As seções transversais dos tabuleiros são estudadas no Capítulo 4. Os principais Sistemas Construtivos adotados correntemente no Brasil são apresentados e discutidos no Capítulo 5. O Capítulo 6 trata das dimensões mínimas e recomendadas das diversas peças estruturais da superestrutura. O Capítulo 7 trata do cálculo estático das vigas principais; nele são expostos alguns dos métodos de distribuição transversal das cargas móveis. O cálculo das solicitações seccionais no vigamento principal provenientes das cargas permanentes e móveis é feito através de um dos métodos clássicos da hiperestática e também por meio de modernos programas de computador, para análise de estruturas reticulares. Em reconhecimento à importância que tiveram no passado, para a simplificação dos cálculos, são apresentadas as tabelas de George Anger para cálculo de ordenadas de linhas de influência das solicitações seccionais nas vigas principais. O Capítulo 8 trata do estudo da fadiga nas armaduras embutidas no concreto que é feito pelas normas EB3/67, NBR-7187 e pela última revisão da NBR-6118. Neste capítulo, são feitas comparações numéricas de casos reais pelas normas citadas e também pelo Código Modelo do CEB de 1990. O dimensionamento e o detalhamento das armaduras das vigas, apresentado no Capítulo 9, está de acordo com as recomendações da última revisão da NBR-6118. Apresenta-se também, no Capítulo 10, o cálculo das lajes moldadas no local através das tabelas de Rüsch. O cálculo das lajes de continuidade é apresentado no Capítulo 11 por meio de processo aproximado manual, sendo também indicados os modelos para análise através de programas de estruturas reticuladas. As lajotas pré-moldadas compõem o Capítulo 12, onde são apresentados tanto os aspectos de cálculo como os de execução. O Capítulo 13 é dedicado ao projeto, cálculo e detalhamento das transversinas. O Capítulo 14 trata dos aspectos geométricos relativos a Pontes pré-moldadas ou pré-fabricadas situadas em trechos de curva em planta e com greide em rampa ou em concordância parabólica. Finalmente o Capítulo 15 apresenta de forma sucinta tópicos sobre o concreto protendido, tendo em vista a extensão do assunto, que sozinho justificaria um livro próprio. Este último capítulo foi introduzido pela importância que o assunto assume no projeto e na construção de Pontes e Viadutos já a bastante tempo. A título de exemplo, a partir do Capítulo 7 desenvolve-se o projeto de uma ponte de concreto armado, com sistema estrutural em viga contínua de três vãos e dois balanços. Escrever um livro sobre pontes é uma tarefa de alto risco, devido a grande quantidade de conhecimentos envolvidos. Tem-se a impressão que ele nunca se encerrará. Para que pudéssemos não diria encerra-lo, porém interrompe-lo tivemos que abrir mão da PROJETO E ANÁLISE DE PONTES SÉRGIO MARQUES FERREIRA DE ALMEIDA transmissão de conhecimentos mais profundos sobre o concreto protendido e as estruturas metálicas, que tornariam o livro extremamente volumoso. Niterói, 25 de agosto de 2007. Sérgio Marques Ferreira de Almeida PROJETO E ANÁLISE DE PONTES SÉRGIO MARQUES FERREIRA DE ALMEIDA AGRADECIMENTOS O autor, mesmo correndo o risco de incorrer em omissões, não pode deixar de expressar o seu agradecimento e reconhecimento a muitos professores e profissionais que contribuíram de forma decisiva para sua formação profissional e didática. Em primeiro lugar aos meus Pais, Eugênio e Lia, pela formação que me proporcionaram, ressaltando desde minha mais tenra idade a importância da dedicação aos estudos. Em seguida ao grande professor e engenheiro José Luiz Cardoso, diretor da empresa José Luiz Cardoso Engenharia e Projetos Ltda, onde iniciei em 1975, como estagiário, a minha vida profissional, e que tive como mestre no curso de pós-graduação em estruturas no ano de 1977. Ao professor Paulo Sérgio Soares Amélio da Universidade Federal Fluminense, cujo incentivo me conduziu a vida acadêmica. Ao engenheiro Waldir José de Mello, Diretor Técnico da Empresa Engenheiros Associados Ltda, com quem convivi por mais de dezoito anos, pela oportunidade de atuar em diversos projetos de importantes pontes e principalmente pelo privilégio de compartilhar de seus conhecimentos. Ao amigo e engenheiro Nelson de Araújo Lima que me transmitiu, alem de conhecimentos específicos da matéria, ensinamentos fundamentais de conduta profissional. Ao amigo e engenheiro Jairo Roberto Campo e Santos (em memória), pelo harmonioso convívio e pelo intercâmbio de conhecimentos durante mais de dez anos de atuação conjunta em projetos importantes. Aos engenheiros Arnaldo Fainstein e Benjamin Ernani Diaz, que pela atuação como fiscais por vários anos em diversos projetos que desenvolvi para o antigo DNER e para ENGEFER, contribuíram com suas análises para o meu aperfeiçoamento profissional. Ao engenheiro Marcio Martins (em memória), diretor da M. Martins Engenharia e Comércio Ltda, que pela confiança depositada proporcionou a oportunidade de desenvolver diversos projetos importantes para sua respeitada empresa. Ao Engenheiro Jorge Mesquita, Coordenador de Projetos da VALEC, pela confiança, amizade e rico convívio profissional na área de Ferrovias. Aos amigos Professores e Engenheiros Eduardo Valeriano Alves e Ricardo Valeriano Alves por todo incentivo, e colaboração em alguns capítulos deste Livro. A Doutora em Engenharia Civil e ex-professora Substituta da UFRJ e da UFF, Mayra Soares Pereira Lima Perlingeiro pelo incansável e dedicado trabalho de revisão e editoração de todo o texto, sem o qual este livro não teria sido possível. As Professoras Regina Helena Ferreira de Souza e Flávia Mool de Souza Judice Doutoras em Engenharia Civil, pela colaboração na revisão de alguns capítulos. Ao amigo, ex-professor e colega de Departamento, Professor Magno José Hecksner pelo incentivo, sugestões e o competente trabalho de revisão final do texto. Ao competente desenhista projetista Francisco Sérgio, colaborador e amigo a mais de 25 anos, pela elaboração da maioria dos desenhos deste livro. Agradeço a Universidade Federal Fluminense, aos professores do Departamento de Engenharia Civil e aos meus alunos e ex-alunos, pelo enorme carinho que sempre me dispensaram dentro e fora da sala de aula. Finalmente agradeço ao grande professor Humberto de Lima Soriano pela recomendação para publicação deste livro a excelente editora Ciência Moderna. O agradecimento final dirijo, ao meu filho André, colaborador insuperável não só nas tarefas do escritório, mais principalmente na coordenação e intermediação junto a Editora da revisão deste livro. Pela experiência que os anos me proporcionaram, estou consciente das falhas e omissões que podem conter o livro, mesmo assim corro com prazer este risco, e desde já agradeço a todos aqueles que as detectarem e as levarem ao conhecimento do autor parafuturos aperfeiçoamentos. Os livros, como os homens envelhecem. Nestes tempos de frenético desenvolvimento tecnológico, este corre o risco de cedo envelhecer. Porém, se durante sua PROJETO E ANÁLISE DE PONTES SÉRGIO MARQUES FERREIRA DE ALMEIDA existência, contribuir de alguma forma para o desenvolvimento de alunos e engenheiros, o autor já se sentirá recompensado. Dedico este livro a minha esposa e companheira de todos os momentos Vera e aos meus filhos André e Fernanda, pela compreensão extremada diante dos longos períodos roubados do convívio familiar pelas múltiplas atividades acadêmicas e profissionais por mim exercidas. O autor CAPÍTULO 1 PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 2 CAPÍTULO 1 CONCEITOS GERAIS _____________________________________________________________________ 1.1 Introdução A elaboração de projetos de grandes estruturas de Pontes e Viadutos exige do engenheiro um conjunto bastante amplo de conhecimentos, não só na área estrutural, mas também conhecimentos de hidrologia, topografia, geotecnia, projeto geométrico de estradas, sistemas construtivos, materiais de construção e fundações. Na área estrutural são necessários sólidos conhecimentos de isostática, hiperestática, resistência dos materiais, dimensionamento e detalhamento de concreto armado e protendido, estruturas metálicas e de madeira, análise matricial de estruturas e modelagem de estruturas em programas de análise estrutural. Pode-se se dizer, portanto, que se trata de projeto multidisciplinar no âmbito da Engenharia Civil. De toda forma, um único engenheiro bem formado e dedicado pode reunir este conjunto de conhecimentos ao longo de sua carreira. Em algumas obras com problemas mais complexos, principalmente na área de fundações, deve-se recorrer a consultores especializados. Em projetos especiais, como os de Pontes Estaiadas ou Pênseis são necessários conhecimentos adicionais de dinâmica de estruturas, análise não-linear, elementos finitos, teoria da semelhança para execução de modelos reduzidos, etc. Assim, para a elaboração deste tipo de projeto, deve-se mobilizar um grupo de engenheiros das diversas especialidades, coordenados por um experiente engenheiro da área de projetos de pontes. Em um curso de graduação, não se pode pretender abranger todos os aspectos relativos ao projeto de pontes, por razões óbvias, porém, procura-se fornecer as informações mínimas necessárias para que o aluno possa, com esforço próprio e treinamento em escritórios de projeto especializados, complementar e desenvolver tais conhecimentos. 1.2 Generalidades O projeto das pontes e dos viadutos insere-se num projeto mais amplo que é o projeto das rodovias e ferrovias. Assim, para se projetar adequadamente pontes e viadutos são necessários conhecimentos sólidos do traçado geométrico das estradas. No caso de obras em trechos curvos, o projeto pode ser bem mais trabalhoso, tanto no que diz respeito ao cálculo estrutural quanto na definição das fôrmas de obras pré-moldadas. São ainda requeridos conhecimentos de hidrologia para correta definição dos vãos e comprimento total da ponte, e de geotecnia para escolha do melhor partido de fundação. Finalmente, é importante observar que para o correto dimensionamento e detalhamento das armaduras das peças estruturais é fundamental o domínio das técnicas do concreto armado e do concreto protendido, bem como o conhecimento das técnicas construtivas. 1.3 Definições Denomina-se por Obras de Arte Especiais toda construção que se destina a transpor um obstáculo – rios, braços de mar, lagoas, depressões do terreno, vales, etc. – garantindo a continuidade da via. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 3 Como exemplos de Obras de Arte Especiais, citam-se os pontilhões, as pontes, os viadutos e as passarelas. São também consideradas Obras de Arte Especiais os túneis que vencem os obstáculos através da perfuração dos mesmos.Dessa forma, os viadutos substituem aterros enquanto os túneis os cortes. Bueiro Classificado como Obra de Arte Corrente, é uma estrutura construída sob aterro e destinada a dar vazão a pequeno curso de água. A Figura 1.1 ilustra a fôrma típica de um bueiro celular de concreto armado. GREIDE DA ESTRADA N.A. BUEIRO Figura 1.1 - Fôrma de bueiro celular de concreto armado Pontilhão É uma obra de arte destinada a vencer um curso d’água utilizando um único vão de até 10 m, com superestrutura quase sempre composta por laje maciça. É importante ressaltar que o custo por m2 desse tipo de obra é muito elevado devido aos encontros, por isso, seu emprego é bastante restrito. Na Figura 1.2, observa-se a fôrma típica de um pontilhão em laje maciça apoiado em encontros de pedra argamassada. ENCONTRO ( ESTRUTURA CARA ) L < 10 B TABULEIRO GREIDE DA ESTRADA ATERROATERRO H H 2 m N.A. Figura 1.2 - Detalhe de um pontilhão PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 4 Ponte É uma obra de arte destinada a vencer um curso d’água (rio, canal, braço de mar, lagoa etc), utilizando um ou mais vãos superiores a 10 m, conforme ilustra a Figura 1.3. BASE ALARGADA FUSTE DO TUBULÃO 3 2 L BAL L BALL VÃO > 10 m APARELHO DE APOIOPILAR TABULEIRO ( SUPERESTRUTURAL ) ATERRO Figura 1.3 - Detalhe de uma ponte Viaduto É uma obra de arte destinada a transpor obstáculos não constituídos por água, ou seja, por rodovias, vales, ruas, etc. Viadutos extensos, em centros urbanos, são denominados Elevados. 1.4 Classificação das Pontes e Viadutos 1.4.1 Quanto à Utilização: � Rodoviárias; � Ferroviárias; � Rodo-ferroviárias; � Passarelas de pedestres. 1.4.2 Com Relação ao Material Utilizado: A escolha do material mais adequado dependerá do caráter da obra, provisório ou permanente, da grandeza do vão, do sistema construtivo, da agressividade do meio ambiente, da disponibilidade do material na região e do fator econômico. Pode ser: PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 5 � Madeira; � Aço; � Concreto armado e protendido; � Mista – neste caso podem ser de concreto/aço; concreto/madeira ou aço/madeira. As pontes de madeira são, geralmente, obras provisórias devido à pequena vida útil do material. Sua utilização deve estar condicionada à existência, na região em questão, de reservas de madeira que permitam o seu emprego. Pesquisas atuais estão sendo dirigidas à produção de madeiras resistentes aos agentes agressivos, com o objetivo de tornar estas obras definitivas. 1.4.3 Quanto ao Sistema Estrutural: � em Laje; � em Arco; � em Viga Reta ou Curva; � em Quadro Rígido; � Estaiadas; � Pênsil. Atualmente, os sistemas estaiados já estão introduzidos no Brasil e existem pelo menos quinze pontes em execução ou prontas. Os dispositivos de ancoragem para os estais já estão sendo fabricados no país, assim como o aço especial para fabricação das cordoalhas que compõem os estais. Além disso, os escritórios de cálculo brasileiros já se encontram capacitados a desenvolver projetos de tal natureza. Pode-se dizer, portanto, que foi atingida a auto-suficiência nessa modalidade de ponte. Os sistemas pênseis ainda não são de utilização corrente no país, só existindo duas obras nesta modalidade, todas duas antigas e com limitada capacidade de carga. 1.5 Elementos Constituintes de Pontes A estrutura de uma ponte pode ser subdividida em quatro partes: superestrutura, mesoestrutura, infraestrutura e encontros. Cada uma dessas partes, por sua vez, é constituída por elementos, conforme apresentado a seguir: PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 6 - Lajes; - Vigas principais (longarinas); Superestrutura - Transversinas; - Cortinas;- Guarda-corpo, - Guarda-rodas. - Aparelhos de apoio; Mesoestrutura - Travessas; - Vigas de amarração; - Pilares. - Sapatas, blocos; Infraestrutura - Tubulões; (Fundações) - Estacas; - Blocos de coroamento. Encontros A Figura 1.4 mostra um esquema geral das partes constituintes de um projeto de pontes. SUPERESTRUTURAENCONTRO MESOESTRUTURA INFRAESTRUTURA Figura 1.4 - Elementos constituintes das pontes PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 7 A seguir, apresentam-se figuras ilustrativas de elementos constituintes das pontes e viadutos. A intenção é familiarizar o leitor com as várias soluções apresentadas ao longo do texto, mostrar em detalhe os diversos componentes estruturais das pontes, além de desenvolver sua capacidade de visualização dos desenhos. A Figura 1.5 ilustra as diversas peças estruturais que constituem um tabuleiro de ponte rodoviária. ELEVAÇÃO EM CORTE CORTE EM PLANTA LAJE DE TRANSIÇÃO VIGAS PRINCIPAIS ABA DA CORTINA LAJE VIGA PRINCIPAL TRANSVERSINA DE APOIO TRANSVERSINA CORTINA CORTINA TRANSVERSINA DE APOIO INTERMEDIÁRIA TRANSVERSINA INTERMEDIÁRIA MÍSULASLAJE DE TRANSIÇÃO ABA DA CORTINA Figura 1.5 - Elementos constituintes de tabuleiro de ponte rodoviária Na Figura 1.6, apresentam-se os detalhes da seção transversal de uma ponte rodoviária de concreto armado estruturada por duas vigas ligadas pela laje e por transversinas. SEÇÃO TRANSVERSAL NO VÃO VIGA PRINCIPAL LAJEGUARDA-RODAS TRANSVERSINA PAVIMENTAÇÃO DRENOMÍSULA Figura 1.6 - Seção transversal em duas vigas ligadas pela laje PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 8 A Figura 1.7 mostra um detalhe da seção transversal de uma viga caixão. Nessa figura, podem ser vistas as lajes superior e inferior da seção caixão e as mísulas. Esse tipo de seção é indicado para pontes em concreto protendido e pontes curvas. Vê-se, ainda, as vigas principais, a pavimentação, os guarda-rodas e os drenos. LAJE INFERIOR MÍSULA PAVIMENTAÇÃO VIGA PRINCIPAL GUARDA-RODAS LAJE SUPERIOR DRENO MÍSULA Figura 1.7 - Seção transversal em caixão celular A Figura 1.8 ilustra a seção transversal de uma obra projetada com vigas pré- moldadas. Essa solução de tabuleiro é indicada para obras longas, com grande altura de pilares ou para obras com cronograma de execução apertado. A solução economiza fôrmas e dispensa o escoramento. Nessa mesma figura, pode-se ver a laje estrutural, a transversina, a travessa de apoio, os aparelhos de neoprene e os guarda-rodas. Travessa Laje Transversina Guarda-rodas Vigas pré-moldadas Aparelho de apoio Figura 1.8 - Seção transversal de obras com vigas pré-moldadas A Figura 1.9 mostra um detalhe da seção transversal de uma viga pré-moldada no meio de um vão. Este tipo de viga será estudado em detalhe no capítulo 5, onde serão tratados os sistemas construtivos. Como será visto, este tipo de viga não conduz a boa estética da obra, porém a economia propiciada pelo seu uso tem predominado sobre os aspectos estéticos. Este fato deve ser repensado principalmente nas obras urbanas, onde a ponte ou viaduto deveria fazer jus a sua denominação - Obra de Arte Especial -. Em todo o mundo a preocupação com a estética das pontes tem aumentado, principalmente pelo retorno financeiro proporcionado pelo turístico direcionado para visitação de obras com arquiteturas arrojadas. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 9 Talão superior Alma da viga Talão inferior Figura 1.9 - Detalhe de uma viga pré-moldada A Figura 1.10 mostra um detalhe do guarda-rodas padrão do DNIT. Guarda-rodas Figura 1.10 - Guarda-rodas padrão DNIT A Figura 1.11 mostra a seção transversal de uma ponte com tabuleiro misto em vigas metálicas e laje de concreto. Esse tipo de tabuleiro é muito utilizado em pontes na Amazônia, em função da falta de brita na região e da dificuldade de transporte de vigas pesadas em rodovias não pavimentadas, ou para reduzir os prazos de execução. Vigas Metálicas Figura 1.11 - Seção transversal utilizando vigas metálicas PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 10 A Figura 1.12 mostra o detalhe de um aparelho de neoprene fretado em elevação. Esses aparelhos de apoio são utilizados para romper a ligação rígida entre as vigas e os pilares da ponte. A presença destes aparelhos, evita o surgimento de solicitações horizontais elevadas nos pilares provenientes das cargas verticais e das movimentações horizontais do tabuleiro oriundas da retração e deformações imediatas e lentas do concreto, além das movimentações relativas à variação ambiental de temperatura. BORRACHA DE NEOPRENE CHAPA DE AÇO Figura 1.12 - Detalhe do aparelho de apoio de neoprene A Figura 1.13 apresenta uma vista longitudinal da fôrma de um encontro pesado. Os encontros são estruturas de acesso às pontes e são obrigatórios em obras ferroviárias. Nessa figura, podem ser vistas a laje de transição, a cortina, as abas laterais, um septo intermediário que é uma transversina, a parede frontal, as paredes laterais, os blocos de fundação, as vigas de amarração, os tubulões e a laje do encontro. Laje de Transição Cortina Guarda-Rodas Septo Intermediário Parede Frontal Paredes Laterais Abas Laterais Viga de Amarração Blocos Tubulões Laje de Transição Cortina Guarda-Rodas Septo Intermediário Parede Frontal Paredes Laterais Abas Laterais Viga de Amarração Blocos Tubulões Figura 1.13 - Vista longitudinal de um encontro pesado PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 11 A Figura 1.14 apresenta uma vista da seção transversal da fôrma do encontro pesado mostrado na figura anterior. Os elementos indicados na Figura 1.13 são mostrados sob outro ângulo. Bloco Laje do encontro Cortina Septo intermediário BlocoViga de Amarração Tubulões Guarda-rodas Parede Lateral Parede Lateral Figura 1.14 - Seção transversal de um Encontro pesado A Figura 1.15 mostra uma vista longitudinal de um encontro leve com seus respectivos elementos. Os encontros leves são bem mais econômicos que os encontros pesados. O encontro está assente em bloco de estacas metálicas. Este tipo de solução não é ideal. É utilizada geralmente para agilizar a execução da obra de arte, tendo em vista que independe da execução prévia dos aterros de acesso. Quando adotada, estes aterros devem ser executados dentro da melhor técnica para minimizar os empuxos de terra nos pilares e nas fundações. A solução ideal é implantar o fundo dos blocos dos encontros nas banquetas dos aterros de acesso e cravar as estacas apenas após a execução destes aterros. Como alternativa segura pode-se conter frontal e transversalmente os aterros com estruturais de arrimo, como por exemplo, muros em terra armada. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 12 Guarda-rodas Aba Lateral Laje de Transição Cortina Estacas Metálicas Viga de amarração Pilar Bloco do encontro Bloco de coroamento de estacas Figura 1.15 - Detalhe de um encontro leve A Figura 1.16 apresenta uma vista longitudinal de uma obra que foi reforçada com estacas raízes. As estacas raízes são muito utilizadas em reforços de fundações. A versatilidade de aplicação destas estacas aliada a confiabilidade estrutural que apresentam, garantem a elas um espaço ímpar no campo do reforço de fundações. Sua execução elimina vibrações elevadas, sempre presentes em soluções com estacas cravadas, reduzindo assim os risco de colapso da estrutura durante os arriscados trabalhos de reforço. Embora não seja o caso da figura 1.16, a manutenção preventiva das estruturas das pontes e viadutos ainda é relegada a segundo plano em nosso País. Por isso, os reforços mais radicais, portantomais caros, tem sido uma constante. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 13 ESTACA RAIZ Ø=32cm ARGAMASSA ESTRUTURAL SOB PRESSÃO fck>20MPa TRECHO ENCAMIZADO Figura 1.16 - Detalhe de obra com pilar circular assente sobre tubulão e reforçado com estacas raizes A Figura 1.17 mostra o detalhe de uma ponte projetada com pilar maciço e estacas escavadas. Travessa Pilar maciço Estacas escavadas Figura 1.17 - Detalhe de ponte com pilar maciço e estaca escavada PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 14 Finalmente, a Figura 1.18 mostra o detalhe de um guarda-corpo utilizado em uma ponte com viga caixão provida de passeios para pedestres. Guarda-Corpo Figura 1.18 - Detalhe do guarda-corpo 1.6 Algumas Regras Básicas para o Bom Desenvolvimento dos Projetos Apresentam-se a seguir com conjunto de atitudes profissionais voltadas aos alunos e aos engenheiros menos experientes com o único intuito de ajudá-los no desenvolvimento e contratação de seus projetos: 1. Só aceitar projetos de obras sobre as quais tenha domínio completo; 2. Avaliar se seu escritório está dimensionado para o tamanho do projeto; 3. Verificar se o prazo é compatível; 4. Conferir todos os elementos necessários ao projeto e requisitar a tempo os faltantes ou incompletos; 5. Contratar consultores competentes nas áreas em que for necessário; 6. Ouvir o construtor sobre suas expectativas e recursos disponíveis para a obra; 7. Só iniciar os cálculos definitivos e os desenhos de armação, após a completa definição dos desenhos de fôrmas; 8. Acompanhar todo o cálculo computacional por meio de cálculos simplificados, de preferência manuais, para aferir os resultados do computador. Estes modelos simplificados deverão contemplar as variáveis mais relevantes do problema; 9. Adotar uma única unidade de força ou tensão em todo o projeto. Trabalhar com unidades sobre as quais tenha ordem de grandesa; 10. Acompanhar, passo a passo, o trabalho dos engenheiros auxiliares menos experientes e não delegar tarefas acima de suas reais capacidades; 11. Adotar um sistema de correção rigoroso, não o dos cálculos, mas principalmente dos desenhos; PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 15 12. Interagir com a fiscalização desde as primeiras decisões de concepção da estrutura, para evitar desgastes e perda de serviços; 13. Não utilizar as Normas Técnicas como regra absoluta e infalível, elas possuem erros e não contemplam todos os casos do dia-a-dia; 14. Procurar notícias ou visitar a construção para verificar a sua qualidade e compatibilidade com o projeto. Sempre que possível, inclua no preço a assistência técnica; 15. Manter-se sempre atualizado e aberto aos avanços técnicos, encarando as críticas e comentário ao projeto de forma construtiva; 16. Remunerar os profissionais da equipe de forma compatível e justa; 17. Respeitar rigorosamente os prazos contratuais; 18. Cuidar com esmero da apresentação dos trabalhos; 19. Cobrar preços compatíveis com trabalho, a dificuldade envolvida e com a responsabilidade inerente a um projeto estrutural. Lembre-se que um bom projeto é sempre o melhor seguro de uma obra. Reunir em um projeto todas estas condições seria o ideal, muitas das vezes a realidade nos impele a abrir mão de algum dos itens citados. Porém nunca se deve abrir mão daqueles que resultem na insegurança da obra ou na sua durabilidade. Até porque o próprio mercado é seletivo, e desobediências sistemáticas aos demais itens repercutirão negativamente em curto prazo, dificultando a contratação de novos serviços. O desenvolvimento de projetos difere bastante do trabalho de pesquisa pura. Na elaboração de projetos a repetição de procedimentos já dominados é comum. Porém cada projeto deve ser encarado como único e com o mesmo entusiasmo, para que assim ele se torne melhor que o anteriormente desenvolvido. Para finalizar pode-se dizer que o momento da concepção é fundamental, porém se não se tratar as demais etapas do projeto com a mesma importância, esta aberto o caminho para o insucesso. CAPÍTULO 2 PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 17 CAPÍTULO 2 ELEMENTOS NECESSÁRIOS AO PROJETO DE UMA PONTE _____________________________________________________________________ 2.1 Introdução Antes da concepção do projeto de uma ponte ou de um viaduto são necessários diversos elementos de campo e de escritório. Esses elementos podem ser divididos em: topográficos, de via, geométricos, hidrológicos, geotécnicos, de carregamento e, são apresentados, sucintamente, a seguir. 2.2 Elementos Topográficos Os elementos topográficos necessários ao projeto de uma ponte consistem na planta topográfica e no perfil longitudinal da estrada (greide) e do terreno. Eles são obtidos através de levantamentos de campo. A planta topográfica deve ter curvas de nível de metro em metro e deve estar na escala de 1:1000, sendo que a ideal é a de 1:500. Além disso, ela deve ter uma largura de 100 m e um comprimento de no mínimo 200 m antes e 200 m depois da obra (Figura 2.1). Atualmente, como os desenhos topográficos são digitalizados em AUTOCAD, a escala não é importante, a não ser para impressão, pois através do recurso de zoom, tem- se a precisão que se deseja. 50 4 9 48 47 46 48 49 50 51 52 53 200m 10 0m OBRA R IO 200m(OBRA)L(OBRA)L (OBRA)L Figura 2.1 - Faixa de cobertura da planta topográfica O perfil longitudinal deve ser obtido por levantamento de 20 em 20 m e deve prolongar-se por pelo menos 200 m além de cada extremidade da obra. Além disso, deve ser feito em uma escala vertical de 1:50 e em uma escala horizontal de 1:500. No perfil longitudinal, devem constar o greide da estrada, com todos os elementos necessários ao projeto e o perfil do terreno, com a respectiva batimetria do rio. A Figura 2.2 ilustra o projeto geométrico em perfil de uma ponte, com o perfil do terreno e a batimetria do rio. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 18 ESCALA H1:1000/V1:100 PERFIL LONGITUDINAL PONTE SOBRE O RIO SARAPUÍ L=140,00m 5, 45 0 27 0+ 11 ,5 0 5, 24 0 26 3+ 11 ,5 0 3, 82 3 4, 16 6 4, 50 9 4, 85 1 5, 14 8 5, 33 1 5, 44 9 5, 45 0 5, 45 0 5, 45 0 5, 45 0 5, 45 0 5, 45 0 5, 45 0 5, 45 0 5, 45 0 5, 45 0 5, 45 0 5, 39 9 5, 33 3 5, 15 5 4, 86 7 4, 53 5 4, 20 2 3, 86 9 3, 53 6 3, 20 3 2, 87 1 5, 27 1 P IV -2 71 +4 ,0 0 5, 28 0 P IV -2 63 + 16 ,0 0 4, 88 6 P T V -2 71 + 19 ,0 0 5, 45 0 P C V -2 70 + 9, 00 i=0,00000m/m L=118,00 m e=0,129 Y=30.0 5, 45 0 P T V -2 64 + 11 ,0 0 4, 90 1 P C V -2 63 + 1, 00 i=0,03328m/m L=81,00 m e=0,125 Y=30.0 3, 48 0 27 4+ 0, 00 2, 20 5 25 9+ 0, 00 275274273272271270269268267266265264263262261260259 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 P C V -2 60 +1 0, 00 P IV -2 67 + 10 ,0 0 P T V -2 74 + 10 ,0 0 Figura 2.2 - Projeto em perfil com terreno e batimetria do rio 2.3 Elementos de Via 2.3.1 Classificação das Rodovias O Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER, atual DNIT,aprovado no ano de 1999, classifica as rodovias brasileiras segundo sua função e suas características técnicas. 2.3.1.1 Classificação Funcional As rodovias brasileiras são classificadas, hierarquicamente, em subsistemas, de acordo com a função que exercem e o nível de serviço que oferecem. Elas podem ser enquadradas em três subsistemas: • Sistema Arterial; • Sistema Coletor; • Sistema Local. Sistema Arterial O Sistema Arterial cumpre a função de proporcionar alto nível de mobilidade para grandes fluxos de tráfego, promover a ligação de cidades, integrar municípios, estados e países vizinhos. O sistema arterial se subdivide em principal,primário e secundário. A definição destas subdivisões do sistema arterial foge ao objetivo deste livro, portanto não será abordada. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 19 Sistema Coletor O Sistema Coletor tem a função de atender ao tráfego intermunicipal com velocidades mais moderadas e complementar o sistema arterial. O sistema coletor também se subdivide em coletor primário e secundário. Da mesma forma, estas subdivisões não serão aqui abordadas. Sistema Local O Sistema Local é constituído por rodovias de pequena extensão que proporcionam os acessos ao tráfego intra-municipal de pequenas cidades e áreas rurais à rodovias de nível superior, contidas no sistema coletor secundário. 2.3.1.2 Classificação Técnica Em função da posição hierárquica que ocupa no sistema funcional, do volume médio diário de tráfego que atende, do nível de serviço que oferece, além de outros fatores, as rodovias são classificadas em Classes de Projeto. Estas Classes de Projeto são definidas em função das características técnicas apresentadas pela rodovia. São definidas, então, cinco classes de rodovias, numeradas de 0 a IV, correspondendo os menores números às características técnicas mais exigentes. As características técnicas definem o nível de serviço da rodovia que varia da letra A até a letra F. O nível de serviço é tanto melhor quanto mais rigorosas são as características técnicas da rodovia. A principal característica técnica definida para a rodovia é sua velocidade diretriz. Em função dela e do relevo do terreno, são definidas as demais características técnicas. A utilização de cada uma dessas classes fica a critério dos órgãos com jurisdição sobre o trecho da obra em questão. Considerações Gerais Um dos principais aspectos a ser considerado na classificação técnica é, certamente, o operacional, representado principalmente pelo tráfego. Para tanto, foi adotado, como critério de classificação, o volume de tráfego que deverá utilizar a rodovia de 10 a 20 anos após sua abertura ao tráfego. A composição do tráfego, bem como a categoria funcional de uma via, poderão também influenciar a classificação técnica em casos específicos. Outro aspecto importante é o fator econômico representado pelo custo de construção. Este é influenciado fundamentalmente pelo relevo da região, sendo o relevo tradicionalmente dividido em plano, ondulado e montanhoso. A classe atribuída a uma rodovia também poderá decorrer de decisões, que se situam no âmbito mais elevado da política de transportes ou de desenvolvimento nacional. Em um extremo, situam-se rodovias do mais alto nível, com mais de uma pista, interseções em desnível e controle total de acesso de veículos e bloqueio total de pedestres. Essas vias serão, a seguir, denominadas ‘vias expressas’. Em outro extremo, colocam-se as denominadas “rodovias pioneiras” (Exemplo BR-230). Essas rodovias obedecem às decisões de colonização e integração de áreas com diminuta ocupação humana, objetivando o seu desenvolvimento. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 20 2.3.1.3 Classes de Projeto As classes de projeto adotadas, encontram-se resumidas a seguir: Classe 0 Via Expressa: rodovia do mais elevado padrão técnico, com pista dupla e controle total de acesso. O critério de seleção dessas rodovias será o de decisão administrativa dos órgãos competentes. Classe I As vias integrantes dessa classe são subdivididas em vias de Classe IA (pista dupla) e Classe IB (pista simples): a) Classe IA – Rodovia com pista dupla com controle parcial de acesso. b) Classe IB – Rodovia com pista simples, de elevado padrão, suportando volumes de tráfego, projetados para o 10º ano, após a abertura ao tráfego, compreendidos entre os seguintes limites: • Limite inferior: 200 veículos horários de projeto ou volume diário de 1.400 veículos; • Limite superior: volume horário abaixo de 5.500 veículos/dia, em região plana com excelentes condições de visibilidade ou abaixo de 1.900 veículos/dia, se tratar de região levemente ondulada com más condições de visibilidade. Classe II Rodovia de pista simples, suportando volumes de tráfego, conforme projetados para o 10º ano, após a abertura ao tráfego, compreendidos entre os seguintes limites: • Limite inferior: volume médio diário de 700 veículos; • Limite superior: volume médio diário de 1.400 veículos mistos. Classes III Rodovia de pista simples, suportando volumes de tráfego, conforme projetados para o 10º ano, após abertura ao tráfego, compreendidos entre os seguintes limites: • Limite inferior: volume médio diário de 300 veículos; • Limite superior: volume médio diário de 700 veículos. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 21 Classe IV Rodovia de pista simples, com características técnicas suficientes para atendimento mínimo do tráfego previsto no seu ano de abertura. Geralmente, não é pavimentada e faz parte do sistema local, compreendendo as estradas vicinais e, eventualmente, rodovias pioneiras. Dependendo do comportamento dos volumes de tráfego, a rodovia poderá se enquadrar em uma das classes convencionais. Em função do tráfego previsto, são definidas duas subclasses: a) Classe IV-A – Tráfego diário médio de 50 a 200 veículos no ano de abertura. b) Classe IV-B – Tráfego médio menor do que 50 veículos no ano de abertura. As principais características das classes descritas e os critérios de enquadramento são apresentados no manual – Classes de Projeto e Critérios de Classificação Técnica. 2.3.1.4 Relação entre a Classe Funcional e a Classe de Projeto O Quadro 2.1 relaciona as Classes Funcionais e as Classe de Projeto Quadro 2.1 - Relação entre a Classe Funcional e Classe de Projeto Sistema Classes Funcionais Classe de Projeto Principal Classe 0 e I Primário Classe I Arterial Secundário Classe I e II Primário Classe II e III Coletor Secundário Classe III e IV Local Local Classe III e IV As rodovias pioneiras, assim chamadas as rodovias que objetivam integração e colonização de regiões a serem povoadas e desenvolvidas, deverão, em planta, ser projetadas de acordo com a classe a que, no futuro venham a pertencer, podendo, porém, ter uma construção progressiva, em que as demais características poderão ser de classe inferior. É comum, nestas rodovias, projetar-se as pontes com pequena largura, prevendo-se o seu alargamento futuro. Assim, o projeto destas obras deve prever detalhes específicos para permitir, com simplicidade construtiva, o alargamento futuro. As rodovias vicinais integram o Sistema Coletor Secundário ou o Sistema Local. O Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER apresenta vários quadros com as diversas características técnicas para cada Classe de Rodovia. Como não é este o objetivo do livro, apresenta-se aqui, apenas no Quadro 2.2, o correspondente às rodovias de Classe I. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 22 Quadro 2.2 - Características técnicas de rodovias de CLASSE I Região Características Plana Ondulada Montanhosa Velocidade Diretriz 100 km/h 80 km/h 60 km/h Dist. mínima de Visibilidade: - desejável - absoluta 210 m 155 m 140 m 110 m 85 m 75 m Dist. Mínima de Visibilidade de ultrapassagem 680 m 560 m 420 m Raio mínimo de curva horizontal ( e = 10%) 345 m 210 m 115 m Taxa máxima de superelevação 10 % 10 % 10 % Rampa máxima 3 % 4,5 % 6 % Valor mínimo de K para curvas verticais: - desejável - absoluto 107 58 48 29 18 14 Valor mínimo de K para curvas verticais côncavas: - desejável - absoluto 52 36 32 24 17 15 Largura da faixa de rolamento 3,60 m 3,60 m 3,60 m Largura mínima de acostamento externo 3,5 m 2,5 m 2,5 m GabaritoVertical mínimo 5,50 m 5,50 m 5,50 m Afastamento lateral mínimo do bordo do acostamento: obstáculos contínuos obstáculos isolados 0,50 m 1,50 m 0,50 m 1,50 m 0,50 m 1,50 m Largura do canteiro central: - mínimo absoluto - desejável 3 – 7 m 10 m 3 – 7 m 10 m 3 – 7 m 10 m Para definição das características técnicas das demais Classes de Rodovias consultar o Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER. 2.3.1.5 Características Técnicas para Definição das Classes de Projeto As características técnicas que definem as Classes de projeto são: PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 23 • Velocidade diretriz; • Raio mínimo; • Rampa máxima; • Largura da pista; • Distância de visibilidade; • Superlargura; • Superelevação. Apresentam-se, a seguir, as considerações sobre estas características técnicas que constam do Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER, aprovado em 21 de dezembro de 1999. Velocidade Diretriz A velocidade diretriz é a principal caracteística técnica que determina o nível de serviço e a Classe do Projeto rodoviário. A maioria das demais características de uma rodovia fica condicionada pelo relevo da região e pela velocidade diretriz. A velocidade diretriz é a velocidade selecionada para fins de projeto da via e que condiciona certas características da mesma, tais como: superelevação e distância de visibilidade, das quais depende a operação segura e confortável dos veículos. É a maior velocidade com que um trecho viário pode ser percorrido com segurança, quando o veículo estiver submetido apenas às limitações impostas pelas características geométricas. O Quadro 2.3 resume os valores das velocidades diretrizes a serem adotadas para as diferentes classes de projeto. Um dos principais fatores que governam a adoção de valores para a velocidade diretriz é o custo de construção resultante. Velocidades diretrizes elevadas requerem características físicas e geométricas mais amplas – principalmente, no que se refere às curvas verticais e horizontais e aos acostamentos - que, salvo condições muito favoráveis, elevam o custo de construção substancialmente. Essa elevação de custo, porém, será tanto menos pronunciada quanto mais favoráveis forem as características físicas do relevo, principalmente a topografia, mas, também, a geotécnica, a drenagem, etc. Além disso, nos trechos percebidos pelos usuários como mais favoráveis, haverá uma inevitável tendência espontânea dos motoristas de aumentar a velocidade. Esse fato deverá ser reconhecido, adotando-se valores - principalmente de curvatura horizontal e vertical e da distância de visibilidade - correspondentes às velocidades diretrizes mais elevadas. O mesmo vale para os trechos onde se deseja proporcionar a distância de visibilidade de ultrapassagem. No Quadro 2.3 são apresentadas as velocidades diretrizes em função do relevo e da classe da rodovia conforme o Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER, para novos traçados. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 24 Quadro 2.3 - Velocidades Diretrizes Básicas para novos Traçados Velocidade Diretrizes (km/h) Relevo Classes de Projeto Plano Ondulado Montanhoso Classe 0 120 100 80 Classe I 100 80 60 Classe II 100 70 50 Classe III 80 60 40 Classe IV 80-60 60-40 40-30 Raio Mínimo de Curvatura Horizontal Os raios mínimos de curvatura horizontal são os menores raios que podem ser percorridos com a velocidade diretriz e à taxa máxima de superelevação, em condições aceitáveis de segurança e de conforto de viagem. Os valores mínimos dos raios para o projeto geométrico de rodovias rurais, em função de diferentes taxas máximas de superelevação ‘emáx’, encontram-se resumidos no Quadro 2.4. Entretanto, na medida do possível, deverá ser objetivada a utilização de valores acima desses mínimos. Quadro 2.4 - Raios mínimos em função das taxas de superelevação máximas V (km/h) emáx (%) 30 40 50 60 70 80 90 100 120 4 30 40 100 150 205 280 355 595 755 6 25 55 90 135 185 250 320 530 665 8 25 50 80 125 170 230 290 375 595 10 25 45 75 115 155 210 265 345 540 12 20 45 70 105 145 195 245 315 490 Os valores apresentados foram calculados pela expressão (2.1) e arredondados para fins de projeto. ( )máxmáx 2 mín fe127 V R +⋅ = (2.1) onde: R é raio de curvatura em metros; V é velocidade diretriz, em km / h; PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 25 emáx é a máxima taxa de superelevação adotada em (m/m); fmáx é o máximo coeficiente de atrito transversal admissível entre o pneu e o pavimento (adimensional). O Quadro 2.5 apresenta os valores de f (fmáx) adotados para as vias principais. Quadro 2.5 - Valores máximos de f adotados para as vias principais Vdiretriz 30 40 50 60 70 80 90 100 120 fmáx 0,20 0,18 0,16 0,15 0,15 0,14 0,14 0,13 0,11 Rampas Máximas O valor de rampa máxima da rodovia está diretamente ligado a sua capacidade de tráfego e ao seu custo. A fixação das rampas máximas deve atender a estes dois fatores, procurando o ponto ideal da relação benefício / custo. Os valores das rampas máximas em função da classe da rodovia e da topografia da região estão apresentados no Quadro 2.6. Quadro 2.6 - Rampas máximas Relevo Classe de Projeto Plano Ondulado Montanhoso Classe 0 3% 4% 5% Classe I 3% 4,5% 6% Classe II 3% 5% 7% Classe III 3% 6% 8% Classe IV-A 4% 6% 8% Classe IV-B 6% 8% 10% * (*) Extensão de rampa acima de 8% será desejavelmente limitada a 300 m contínuo. Largura das Faixas de Rolamento A faixa de rolamento consiste em uma faixa longitudinal da pista, designada e projetada para uma fila de veículos em movimento contínuo. A pista de rolamento consiste da parcela da área pavimentada da plataforma, designada e projetada para a utilização pelos veículos em movimento contínuo. (Não havendo pavimento, a pista e o acostamento, se confundem com a plataforma.) A largura da faixa de rolamento, de modo geral, é obtida adicionado-se à largura do veículo de projeto adotado a largura de uma faixa de segurança, função da velocidade diretriz e do nível de conforto que se deseja proporcionar ao usuário. Os valores obtidos situam-se entre 2,50 m e 3,60 m. A necessidade de evitar desuniformidade nas larguras das faixas, quando comparadas com trechos viários PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 26 existentes, antecedentes ou subseqüentes ao trecho em projeto, também influi na determinação da largura. Normalmente, nas vias de padrão mais elevado, a mesma largura deve ser mantida em todo projeto, inclusive naqueles segmentos com características tais que impliquem em uma redução da velocidade diretriz. Por outro lado, a largura das faixas poderá ser reduzida ao longo de um sub-trecho de transição, quando a via em projeto tiver prosseguimento através de uma via com largura de faixa inferior. Como a largura da pista também tem influência sobre a capacidade da via, larguras reduzidas, além de proporcionarem economias muito pequenas, só se justificam em vias com baixos volumes de tráfego e, principalmente, com menor participação de veículos comerciais. Por outro lado, no caso de trechos em regiões sensivelmente planas e com grande participação de veículos comerciais, principalmente se forem de mão dupla, um pequeno aumento na largura da pista, de custo desprezível, contribui muito para a segurança do tráfego. Os valores básicos recomendados para a largura de uma faixa de rolamento pavimentada, ressalvadas as observações acima, constam no Quadro 2.7. Quadro 2.7 - Larguras das faixas de rolamento Largura de uma faixa (m) Classe de Projeto Plano Ondulado Montanhoso Classe 0 3,60 3,60 3,60 Classe I 3,60 3,60 3,50 Classe II 3,60 3,503,30* Classe III 3,50 3,30* 3,30 Classe IV-A** 3,00 3,00 3,00 Classe IV-B** 2,50 2,50 2,50 * Preferencialmente 3,50 m quando esperada alta percentagem de veículos comerciais. ** Os valores referentes à Classe IV são baseados no “Manual de Rodovias Vicinais” BIRD/BNDE/DNER-1976. Distância de Visibilidade A distância de visibilidade busca garantir a ultrapassagem segura e a parada com conforto e segurança dos veículos que trafegam na rodovia. Na fixação desta distância, considera-se a situação mais desfavorável que corresponde à pista molhada. A distância de visibilidade pode ficar prejudicada por curvas verticais convexas de comprimento insuficiente ou obstáculos laterais, tais como, taludes de corte muito próximos a pista. O Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER define três tipos básicos de distâncias de visibilidade. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 27 • Distância de visibilidade de parada; • Distância de visibilidade de tomada de decisão; • Distância de visibilidade de ultrapassagem. Distância de visibilidade de parada: A distância de visibilidade de parada, é definida no item 5.3.1 do Manual do DNER. São definidas distâncias de visibilidade de parada desejável e mínima. A primeira é definida para a velocidade diretriz e a segunda para a velocidade média da rodovia. A relação entre velocidade diretriz e velocidade média é definida no Quadro 5.3.3.1 do Manual e reproduzida no Quadro 2.8 a seguir. Quadro 2.8 - Relação Velocidade Diretriz × Velocidade Média Vdiretriz 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 Vmédia 30 38 46 54 62 71 79 86 92 98 A expressão geral para cálculo da distância de visibilidade é dada por: ( )[ ]if255 V V7,0d 2 +⋅ +⋅= (2.2) sendo: d - distância de visibilidade, em m; V - velocidade diretriz ou velocidade média em km/h; f - coeficiente de atrito entre pneus e pista no caso de pista molhada; i - declividade do greide em m / m. Os valores de “f” estão reproduzidos na Tabela 5.3.1.2 do manual para os casos de velocidade diretriz e média, que não será aqui apresentada. O manual apresenta ainda tabelas para valores de “d” considerando vários valores de V, f e i. Distância de tomada de decisão: Distância de tomada de decisão é a distância necessária para que o motorista tome consciência de uma situação potencialmente perigosa, inesperada ou difícil de perceber e execute a manobra necessária com eficiência e segurança. O Quadro 5.3.3.2 do Manual, reproduzido aqui através do Quadro 2.9 apresenta os valores das distâncias de tomada de decisão para simples parada e desvio de obstáculo em função da velocidade diretriz. Este quadro foi elaborado com base na Tabela III.3 do Manual da AASHTO (AMERICAN ASSOCIATION OF STATE HIGHWAY AND TRANSPORTATION OFFICIALS). PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 28 Quadro 2.9 - Distância de tomada de decisão Velocidade Diretriz (km/h) 40 50 60 70 80 90 100 110 120 Simples parada 50 75 95 125 155 185 225 265 306 Desvio de obstáculo 115 145 175 200 230 275 315 335 375 Distâncias de visibilidade de ultrapassagem: A distância de visibilidade de ultrapassagem a ser empregada, para fins de projeto, deve ser calculada com base na distância necessária para completar com segurança as manobras necessárias à ultrapassagem. As fórmulas, que não serão aqui apresentadas, consideram a situação mais simples de um único veículo ultrapassando outro, em uma rodovia de uma pista com dois sentidos de tráfego. O Quadro 5.3.3.1 do Manual, apresentado aqui no Quadro 2.10, indica as distâncias de visibilidade de ultrapassagem, em função de diversos valores da velocidade diretriz. Quadro 2.10 - Distâncias de visibilidade de ultrapassagem Vdiretriz (km/h) 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 Distância de ultrapassagem (m) 30 38 46 54 62 71 79 86 92 98 Superlargura Quando um veículo está em curva, por ele ser rígido e não poder acompanhar a curvatura da estrada, é necessário aumentar a largura da pista para que a distância mínima entre veículos permaneça igual a que existia nos trechos em tangente. Há também que se levar em conta, que o motorista tem mais dificuldade de avaliar distâncias transversais em curva, o que exige um aumento das distâncias de segurança em tangente. Este acréscimo de largura da pista, nos trechos de curva necessário à manutenção das condições de segurança e conforto dos trechos em tangente, é denominado de superlargura. O dimensionamento da superlargura é função da largura básica da pista, do tipo de veículo, do raio da curva e da velocidade diretriz. As expressões de dimensionamento não serão aqui apresentadas, porém quando estas conduzem a valores muito pequenos, adota-se como mínimo o valor de 40 cm. Nos casos de curvas circulares dotadas de curvas de transição, com o eixo se situando no meio da pista, o valor da superlargura será distribuído ao longo da transição, de duas maneiras possíveis: metade para cada lado da pista ou toda do lado interno. No caso de curvas não dotadas de clotóides, a superlargura será disposta do lado interno da curva. A sua distribuição deverá ser feita parte na tangente e parte na curva, paralelamente, com comprimento de transição da superelevação. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 29 No Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER são apresentadas tabelas com os valores da superlargura para diversos raios de curvas e velocidades diretrizes. Como estas tabelas são muito extensas, apresenta-se, a seguir, no Quadro 2.11, apenas uma parte do quadro referente à situação de duas faixas, com largura de 7,20 m e veículo de projeto CO. O veículo de projeto CO representa os veículos comerciais rígidos (não articulados) compostos de unidade tratora simples. Estes abrangem os caminhões e ônibus convencionais normalmente de dois eixos e seis rodas. Esta é a definição do item 5.2.4 (Veículos Tipo) do Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais. Seu comprimento e largura totais são, respectivamente, 9,10 m e 2,60 m. Quadro 2.11 - Valores da superlargura de projeto Pista de duas faixas – Largura = 7,20 m – Veículo de projeto = CO V/R 135 140 145 150 155 160 165 40 0,40 0,40 0,40 0,40 0,40 0,40 dispensada 50 0,60 0,60 0,60 0,60 0,40 0,40 0,40 60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 70 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 Sendo, V a velocidade diretriz em km/h e R o raio da curva em m. Superelevação Nos trechos em curva das rodovias, os veículos ficam submetidos a uma força radial à curva, com sentido voltado para a sua parte externa, que tende a impelir o veículo para fora de sua trajetória. Esta força denominada força centrífuga, é dada por: R v.m F 2 .cent = (2.3) sendo: m - massa do veículo; v - velocidade do veículo; R - Raio da curva. Para contrabalançar esta força, inclina-se a pista transversalmente em relação à horizontal, de forma que a componente do peso do veículo, paralela ao eixo transversal da pista, aja em sentido contrário ao da força centrífuga. Esta componente horizontal do peso do veículo equilibra-o por meio da força de atrito entre os pneus e o pavimento. A Figura 2.3 ilustra as forças atuantes em um veículo descrevendo trajetória curva em pista com declividade transversal. A componente horizontal do peso do veículo é transmitida à ponte pelo atrito dos pneus com o pavimento. Este coeficiente de PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 30 atrito é considerado para o caso de pista molhada, e seus valores estão disponíveis no Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER. α α α P v² Pf cos g R R 1.0 e P sin Figura 2.3 - Forças atuantes em um veículo descrevendo trajetória curva em pista com declividade transversal Esta declividade transversal, quando supera o valor mínimonecessário para drenagem do pavimento, normalmente fixado em 2%, é chamada de superelevação. O ponto mais baixo da seção transversal inclinada é sempre o bordo interno da curva. Como as considerações do Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER, com relação à superelevação são muito extensas, serão abordados aqui apenas os pontos principais. Necessidade de Superelevação Para cada valor de velocidade diretriz existe um valor de raio de curva a partir do qual a força centrífuga é tão pequena que não causa desconforto ao motorista, pondendo-se, assim, dispensar a superelevação. O Quadro 2.12 apresenta os valores dos raios R em função da velocidade diretriz acima dos quais a superelevação é dispensável. Quadro 2.12 - Valores de R acima dos quais a superelevação é dispensável V (km/h) 30 40 50 60 70 80 100 >100 R(m) 450 800 1250 1800 2450 3200 4050 5000 Os valores acima são apenas indicativos de ordem de grandeza. Superelevação Mínima O valor da superelevação mínima é o correspondente ao valor da declividade da pista necessária para drenagem das águas que é de 2%. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 31 Superelevação Máxima A superelevação, que será adotada nas curvas, tem influência sobre a segurança e o conforto de viagem. A principal característica a ser inicialmente estabelecida é a taxa máxima de superelevação. Esta é restringida por diversos fatores, tais como: • Grande possibilidade do fluxo de tráfego operar a velocidade bem abaixo da velocidade diretriz (com reflexos principalmente sobre veículos altos), devido à freqüência de veículos comerciais, condições de rampa e congestionamento; • Velocidade diretriz e a classe de projeto; • Comprimento de transição da superelevação com viabilidade prática, principalmente nos casos de curvas reversas e pistas com muitas faixas; • Razões econômicas, visando, por exemplo, poupar estruturas existentes e reduzir os custos de construção e manutenção. Por outro lado, valores mais elevados para a taxa máxima de superelevação permitem a adoção de menores raios, aumentando a viabilidade de traçado condicionado por severas restrições operacionais ou topográficas. Os valores práticos recomendados encontram-se no Quadro 2.13. Quadro 2.13 - Taxas máximas de superelevação - emáx Característica da Rodovia emáx Nos casos de melhorias e correção de situações perigosas com pouca incidência de veículos lentos 12% Rodovias Classe 0 e Classe I em regiões planas e onduladas 10% Rodovias Classe I em regiões montanhosas 8% Rodovias com urbanização adjacente ou com freqüência de interseções 6% Em situações extremas com intensa ocupação do solo 4% Valores da Superelevação para Raios Acima dos Mínimos Para o raio mínimo permitido para uma velocidade diretriz, adota-se a superelevação máxima correspondente (v. Quadro 2.4). Para valores de raios superiores aos mínimos, pode-se reduzir a superelevação conforme os itens 5.4.5.5 e 5.4.5.6 do Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais do DNER. Nestes itens são apresentados ábacos para cálculo da superelevação correspondente. Implantação da Superelevação A Figura 2.4 indica a forma de implantação da superelevação em um trecho de rodovia composto de uma seqüência de tangente, espiral e curva circular. A mesma figura indica a forma de implantação da superlargura. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 32 Tangente Seção normal 1 % 8 % 8 % 1 % 0 % 1 % 1 % 1 % L Es pi ra l EspiralST = Superlargura Bordo interno Bordo de referência ∆ Bordo externo CS circular Curva SC T Ta ng en te TS Seção normal Figura 2.4 - Implantação da superelevação Comprimento de Transição da Superelevação Por definição, o comprimento de transição da superelevação L inicia no ponto onde toda, ou pelo menos parte da pista, tem (ou teria) sua seção no plano horizontal e termina no ponto onde for atingida a superelevação final a ser mantida constante no trecho circular. Por extensão do conceito, denomina-se de comprimento de transição da tangente T, a extensão que antecede o comprimento de transição da superelevação e ao longo da qual, nos casos em que for necessário, se processa a rotação da pista (ou parte dela) até tornar sua seção horizontal. O comprimento de transição da tangente T será obtido a partir do valor do comprimento de transição da superelevação L adotado, de forma a manter a mesma PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 33 rampa de superelevação. O valor T será obtido por regra de três, ou seja, o valor de T é proporcional a superelevação da curva circular “e”. Assim: e dtL T ×= (2.4) Se houver curva de transição em espiral, L será Lc, sendo Lc o comprimento da espiral. Caso a declividade transversal da pista na tangente seja 2%, o comprimento T será dado por: e L2 T ×= (2.5) Os comprimentos de transição da superelevação para projeto deverão ser arredondados para valores múltiplos de 10 m, para facilidade de cálculo e locação. 2.4 Elementos Geométricos Como as Obras de Arte Especiais fazem parte de uma rodovia ou ferrovia, o projetista de pontes deve conhecer os fundamentos básicos do projeto geométrico de estradas. Os elementos geométricos compreendem o greide ou traçado vertical, o traçado em planta e os gabaritos rodoviários e ferroviários. Apresentam-se, a seguir, alguns aspectos relativos a estes elementos baseados no Manual para Projeto Geométrico de Estradas Rurais do Departamento Nacional de Estradas Rurais do atual DNIT, antigo DNER. 2.4.1 Greide O projeto geométrico em perfil ou greide é composto por trechos retos em nível ou em rampas, concordados entre si por curvas verticais. Devem ser evitadas pequenas variações nos valores destas rampas. A sucessão de pequenas lombadas e depressões também deve ser evitada, pois oculta veículos nos pontos baixos, causando a falsa impressão de possibilidade de ultrapassagem. Em função da classe da rodovia, são fixadas rampas máximas que não devem ser exageradamente baixas em regiões onduladas ou montanhosas por motivos econômicos, nem muito altas, por reduzir a velocidade diretriz e, conseqüentemente, a capacidade da rodovia. No Quadro 2.6 deste capítulo, são apresentados os valores das rampas máximas para rodovias em função do relevo da região e da classe da rodovia. Cabe aqui lembrar que para alguns sistemas construtivos de pontes, como o de vigas pré-moldadas lançadas com treliça tipo SICET (v. Capítulo 5), o valor máximo de rampa admitido por motivos operacionais é de 6%. Para o traçado do greide, a concordância vertical é normalmente feita por meio de parábolas do 2o grau, conforme indica a Figura 2.5. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 34 P C V - E S T . C O T A P IV - E S T . C O T A P T V - E S T . C O T A PIV Y/2Y/2 1i (%) 2i (%) máxe Figura 2.5 - Concordância vertical do greide Sendo: i (%) – inclinação percentual; PCV – Ponto de Concordância Vertical; PIV – Ponto de Inflexão Vertical; PTV – Ponto de Tangência Vertical. Para a perfeita caracterização da geometria das pontes e viadutos, as cotas do greide devem ser fornecidas na pavimentação e em osso (ou seja, na parte superior da laje, abaixo do pavimento). Além disso, para a caraterização da estrada, devem ser fornecidas as cotas de terraplenagem (na divisa da estrada com a ponte) e a cota de boleto do trilho, caso seja uma obra ferroviária (Figura 2.6). pavimento laje estrada ponte cota de terraplenagem boleto de trilho cota de cota de pavimentação cota em osso PERFIL LONGITUDINAL Figura 2.6 - Cotas do greide Deve-se ressaltar ainda, que a concordância vertical pode ser feita através de parábolas simples ou a de parábolas compostas. Nas parábolas compostas, a distânciaentre o PCV e o PIV é diferente da distância entre o PIV e o PTV. Elas são PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 35 normalmente utilizadas em alças de viadutos urbanos onde existe falta de espaço para a concordância vertical. É apresentada na Figura 2.7 uma concordância vertical em parábola simples, com todos os elementos necessários ao cálculo das cotas do greide, em um ponto qualquer da parábola. y y e PIVe di (%) i (%) P C V -E S T C O T A P IV -E S T C O T A P T V -E S T C O T A /2 /2 n n 2 1 máx Figura 2.7 - Concordância com parábola simples São as seguintes as expressões que permitem o cálculo das cotas do greide nas regiões de concordância vertical em parábola simples: Propriedade da parábola: ( ) 2 2 n máx n 2 y d e e = (2.6) Logo, tem-se: ( ) 8 y %i%ie 21 máx ⋅−= (2.7) máx 2 n n ey d2 e ⋅ ⋅= (2.8) Portanto, a cota em um ponto “n” qualquer é dada por: nn ed%iPTV acotn acot ±⋅±= (2.9) Na Figura 2.8 é apresentada uma concordância vertical em parábola composta. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 36 e PIV d e d e Y n1 n2 y1 y2 n1 máx n2 i (%)2 i (%)1 P C V -E S T C O T A P IV -E S T C O T A P T V -E S T C O T A Figura 2.8 - Concordância com parábola composta São as seguintes as expressões para cálculo das cotas do greide nas regiões de concordância vertical em parábola composta: ( )%i%i. y2 y.y e 21 21máx −= (2.10) máx 2 1 1n 1n ey d e ⋅ = (2.11) máx 2 2 2n 2n ey d e ⋅ = (2.12) São também utilizadas concordâncias verticais em curva circular, porém, não são de uso freqüente. Em pontes executadas pelo método dos balanços sucessivos devem ser evitados greides em nível, pois estes ressaltam as possíveis deformações passíveis de ocorrer com este processo construtivo. Na Figura 2.9 são indicadas as cotas de elevação que devem constar do projeto em cada linha de apoio. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 37 COTA (TOPO DO PILAR) CUNHA DE APOIO COTA (LAJE EM OSSO) COTA (FUNDO DO BLOCO) COTA (ASSENTAMENTO DA BASE) Figura 2.9 - Cotas de elevação na linha de apoio Na Figura 2.10 é apresentado o detalhe da cunha de regularização utilizada em obras em rampa. b 5+ i%.bminímo 5 cm i% fundo da viga Figura 2.10 - Detalhe de cunha de regularização 2.4.2 Traçado em Planta O traçado em planta é composto por trechos em tangente, em espiral e em círculo. A espiral de Cornu ou Clotóide é utilizada como curva de transição entre os trechos em tangente e em círculo, pois proporciona a variação gradativa do raio de PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 38 curvatura, minimizando o efeito da força centrífuga sobre os veículos. Para curvas circulares com raios de curvatura grandes, pode-se dispensar a utilização de espirais de transição. O Quadro 2.14 apresenta os valores dos raios em função da velocidade, acima dos quais pode-se dispensar as curvas de transição. Quadro 2.14 - Raios mínimos para dispensar transição V (km/h) 30 40 50 60 70 80 90 100 120 R (m) 170 300 500 700 950 1200 1550 1900 2800 Para o traçado em planta, são recomendados raios mínimos de curvatura horizontal, que são os menores raios que podem ser percorridos com a velocidade diretriz e à taxa máxima de superelevação. No Quadro 2.2 deste capítulo são apresentados os raios mínimos recomendados pelo Manual para Projeto Geométrico de Estradas Rurais do DNER em função da velocidade diretriz e da superelevação máxima. No projeto de ferrovias é comum a utilização de parábolas cúbicas como curvas de transição entre os trechos em tangente e curva circular. No caso de rodovias com pistas duplas, separadas por canteiros centrais, onde normalmente a linha base do traçado encontra-se no eixo do canteiro, o cálculo geométrico em planta exige cuidado, pois a curva paralela à espiral não é uma espiral. O cálculo analítico deve ser feito por iterações sucessivas, admitindo-se que a paralela à espiral seja também uma espiral. Quando se utiliza o programa AUTOCAD, para evitar cálculos analíticos, deve- se traçar as espirais por pontos calculados analiticamente, de acordo com as expressões que são apresentadas a seguir, pois as mesmas não estão disponíveis no programa. Os pontos notáveis do traçado em planta são: • TS – Tangente / Espiral • SC – Espiral / Círculo • CS – Círculo / Espiral • ST – Espiral / Tangente A Figura 2.11 ilustra os elementos desta curva de transição, cujo desenvolvimento analítico mostra-se a seguir: PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 39 s S y y x dy dx dl s S SC TS c R ρ Lc L Figura 2.11 - Trecho de concordância horizontal Cálculo do raio em um ponto qualquer da espiral de Cornu: l Κ=ρ (2.13) onde: K é uma constante; l é a distância do ponto em que se calcula o raio até a origem da espiral (TS). A equação (2.13) traduz a proporcionalidade entre o raio e a distância em relação ao TS. Considerando-se as condições de contorno: ∞=ρ⇒= 0l cc lRKRll ⋅=⇒=ρ⇒= Logo: clRl ⋅=⋅ρ (2.14) Portanto: l l.R c=ρ (2.15) Cálculo do ângulo central em um ponto qualquer da espiral: PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 40 ρ =⇒⋅ρ= dldsdsdl (2.16) Fazendo (2.15) em (2.16), tem-se: l lc.R dl ds= (2.17) Como: ∫= s 0 dss (2.18) Substituindo-se (2.17) em (2.18) e resolvendo a integral, tem-se: c 2 lR2 l s ⋅⋅ = (2.19) A determinação das coordenadas x e y da curva espiral pode ser feita da seguinte forma: ( )ssendldx ⋅= e, (2.20) ( )scosdldy ⋅= (2.21) Desenvolvendo-se em série (2.20) e (2.21), tem-se: ++−= .... 440 s 14 s1. 3 ls x 42 (2.22) ++−= .... 216 s 10 s1.ly 42 (2.23) 2.4.3 Gabaritos Os gabaritos de estradas de rodagem e de ferrovias encontram-se especificados nas normas de projetos de rodovias e ferrovias e, dizem respeito à altura e largura livres, que devem ser consideradas, para trânsito de veículos, por ocasião do projeto. Gabaritos Verticais e Horizontais O gabarito vertical adequado visa permitir aos caminhões, com altura dentro dos limites legais, a passagem por sob obras ou em passagens inferiores, sem redução de velocidade. O gabarito vertical deverá ser atendido em toda a largura possível de utilização normal da rodovia, incluindo-se os acostamentos. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 41 Para as rodovias federais classe I, é exigido, pelo Manual de Projeto de Obras de Arte Especiais do DNER (Atual DNIT) de 1996, uma altura de 6 m. Para as vias urbanas, tem-se, segundo a FUNDERJ, uma especificação de H= 4,50 m e, segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, H=5 m. Em certas situações, o gabarito vertical de 5,50 m é aceito pelo DNIT quando resultar em economia de comprimento de obra. Na Figura 2.12 está indicado o gabarito vertical de 6 m de altura. 40 250 360 360 250 40 H = 6 ,0 0 m PONTO MAIS ALTO GUARDA-RODAS Figura 2.12 - Gabarito vertical para Rodovias (dimensões em cm) Para as ferrovias, o gabarito referente à bitola larga (1,60 m) em tangente sobre pontes é o apresentado na Figura 2.13. 340 44 5 67 5 120 250 120 18 0 37 5 12 0 245 245 306 7575 490 VAGÃO 160 Figura 2.13 - Gabarito de Ferrovias (dimensões em cm) O gabarito de navegação corresponde à altura livre entre o nível máximo de água e o intradorso da superestrutura da ponte (H) e à largura livre entre faces de blocos e pilares (L) e depende do tipo de embarcação (Figura 2.14). As alturas e larguras são PROJETO E ANÁLISE DE PONTESSérgio Marques Ferreira de Almeida 42 fixadas pela capitania dos portos e alguns destes gabaritos são apresentados no Quadro 2.16. L H N.A.máx Figura 2.14 - Gabarito de navegação Quando não existe navegação no rio, a folga mínima entre o nível de máxima cheia e o intradorso da superestrutura é de: • 1 m para condições normais de escoamento; • 0,50 m no caso de remansos de barragem ou bacias de represamento, quando existe controle do nível de água máximo e não existe vegetação flutuante; • 2 m em casos de regime de rio torrencial e possibilidade de transporte superficial de vegetação flutuante. Quadro 2.15 - Gabaritos de navegação Navegação H (m) L (m) Chatas 4,00 10,00 Maior Porte 12,00 40,00 Transoceânica 55,00 250,00 Rodovias com taludes suaves, acostamentos e, quando for o caso, canteiros centrais largos têm sua segurança muito aumentada e proporcionam uma sensação de liberdade. Postes, pilares, defensas, guarda-corpos, muros, etc., quando situados muito próximos à pista, constituem pontos de perigo em potencial e tendem a diminuir a capacidade da via ao estimularem os motoristas a se afastarem deles. De fato, muitos motoristas tendem a desviar-se de sua trajetória normal ou a reduzir sua velocidade naqueles locais onde se verificam restrições, sejam reais ou apenas aparentes, ao percurso desembaraçado. Obstáculos de pequena altura e obstáculos contínuos exercem menores influências e restrições sobre o motorista, reduzindo o perigo de acidentes e a PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 43 necessidade de afastamento. Obstáculos contínuos de maior altura podem restringir a visibilidade. O critério geral mínimo é o da ausência de quaisquer obstáculos, inclusive defensas e bocas de lobo, na largura designada como acostamento. Por outro lado, as larguras estabelecidas para os elementos da seção transversal não deverão sofrer reduções para acomodar obstáculos laterais. A situação mais desejável é aquela em que qualquer obstáculo se encontre suficientemente afastado (0,50 m como mínimo absoluto) do bordo da largura normal pavimentada (pista + acostamento), para permitir que o veículo retorne à direção antes da colisão com o obstáculo. Nos casos onde for absolutamente inexeqüível, por razões técnicas e/ou econômicas, atender a esse critério, os acostamentos poderão ser reduzidos, distanciando ainda seu bordo no mínimo 0,50 m do obstáculo. Quando houver defensas enlaçando um obstáculo fixo, o obstáculo deverá se situar afastado da defensa o suficiente para atender à deflexão dinâmica intrínseca desta. Esses valores valem também quando da disposição de uma faixa adicional, por motivo de entrelaçamento, capacidade ou faixa para desaceleração/aceleração. Além disto, para atender às distancias de visibilidade em curva, poderão ser necessários maiores afastamentos. Em curvas, a linha de visão do motorista deve poder acompanhar, sem obstruções visuais, a corda do arco de curva, até interceptar a pista em um ponto à frente do veículo a uma distância igual à distância de visibilidade de ultrapassagem. Onde houver acostamentos, estes muitas vezes proporcionarão o afastamento necessário. Onde tal não ocorrer, outras medidas necessitarão ser tomadas, como por exemplo, deslocar a defensa do meio do canteiro para o lado interno da curva ou adotar um raio de curva suficientemente maior. 2.5 Elementos Hidrológicos Os elementos necessários à determinação de seção de vazão do rio, ou seja, que determinam o vão mínimo necessário, podem ser divididos em: • Área da bacia de contribuição do rio (km2); • Declividade do espelho d’água na região da obra (%); • Permeabilidade do terreno; • Velocidade da correnteza (m/s). • Levantamento topográfico pelo menos até 100 m a montante e a jusante; • Cota de máxima cheia registrada na região da obra; • Observação sobre erosão das margens e do leito; • Cota do nível d’água normal; • Cota do nível d’água mínimo. É importante que seja feito o levantamento das obras de arte que possam existir na mesma região, indicando seus comprimentos, número de vãos, comprimento de cada vão, etc. Além disso, é importante ressaltar que, quando se projeta uma ponte ao lado de PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 44 outra já existente, deve-se adotar a mesma modulação de vãos da obra existente, fazendo, assim, com que os pilares fiquem alinhados, o que evita a redução da seção de vazão do rio. A finalidade dos estudos hidrológicos é a determinação da descarga de projeto utilizada para os estudos hidráulicos que conduzirão a definição do comprimento mínimo sob este aspecto. A determinação da vazão, sempre que possível, será efetuada através do uso de dados fluviométricos que estejam disponíveis nas proximidades da futura obra. Na falta deste tipo de informação, normalmente existem e são utilizados três métodos recomendados pelas instruções de serviço de Órgãos contratantes, ou seja: � bacias até 1 km2 → Método Racional � bacias entre 1 km2 e 10 km2 → Método Racional acrescido de coeficiente de retardo � bacias maiores que 10 km2 → Método do Hidrograma Unitário Triangular Estes três métodos consideram como premissa básica que o máximo caudal ocorre quando toda a bacia está contribuindo, sendo este máximo igual a uma fração da precipitação média. O Método Racional citado anteriormente apresenta a seguinte expressão: AIC278,0Q ⋅⋅⋅= (2.24) onde: Q é a descarga de projeto, em m3/ s; C é o coeficiente adimensional de escoamento superficial (runoff), classificado em função do tipo de solo, da cobertura vegetal, da declividade média da bacia, etc; I é a intensidade média da precipitação sobre a bacia. Para a sua determinação, deve ser tomado o tempo de concentração da bacia e o tempo de recorrência adequado ao dispositivo a ser dimensionado. É expressa em mm/h; A é a área de bacia drenada, em km2; 0,278 é o fator de conversão de unidades. Quando se deseja a obtenção das descargas de pico das bacias com área superior a 1 km2 e até 10 km2, acrescenta-se à expressão do Método Racional um coeficiente de retardo, sendo, então, a expressão final estabelecida como se segue: σ⋅⋅⋅⋅= AIC278,0Q (2.25) com: σ = coeficiente de retardo, adimensional, expresso pela fórmula: A-0,1. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 45 Na determinação das vazões máximas das bacias, com áreas superiores a 10 km2, é recomendada com a utilização do Método do Hidrograma Triangular Unitário (MHTU), cuja conceituação é apresentada a seguir: pT A08,2 Q ⋅= (2.26) onde: Q é a descarga de pico para uma chuva efetiva de 1cm, em m3/s; A é a área da bacia, em km2; Tp é o tempo de pico, em h. O tempo de pico é determinado pela seguinte expressão: cp T6,02 t T ⋅+∆= (2.27) Com: 5 T t c=∆ (2.28) onde: ∆t é o tempo unitário, em h; Tc é o tempo de concentração, em h. A precipitação efetiva é determinada pela expressão proposta pelo U. S. Soil Conservation Service, em função do complexo solo-vegetação e da precipitação. A expressão tem o seguinte aspecto: 2,203 CN 20320 P 8,50 CN 5080 P q 2 e −+ +− = (2.29) onde: qe é a chuva efetiva, em mm; P é a precipitação, em mm; CN é o número de deflúvio que define o complexo solo-vegetação. A precipitação e a intensidade de chuva podem ser obtidas através do estudo apresentado pelo eng. Otto Pfafstetter, na publicação denominada “Chuvas Intensas no Brasil”, através de expressões específicas, em cada um dos 98 postos pluviométricos estudados ao longo do Brasil. PROJETO E ANÁLISE DE PONTES Sérgio Marques Ferreira de Almeida 46 No caso da não existência de posto próximo ao local do projeto, poderá ser utilizado o Método das Izosonas, desenvolvido no Brasil pelo eng. José
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