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Luis Guilherme Gimenez de Souza Proteção de Sistemas Elétricos © 2016 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Editoração Produção de Materiais Didáticos Capa Toninho Cartoon Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE Luís Guilherme Gimenez de Souza Graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Londrina (2008) e mestrado em Engenharia Elétrica pela Uni- versidade Estadual de Londrina (2012). Durante a graduação e a pós-graduação, participou de projetos de pesquisa na área aeroes- pacial financiados pela Agência Espacial Brasileira, como o desen- volvimento de um instrumento para aquisitar acelerações residuais de uma plataforma de microgravidade impulsionada por foguete de sondagem. Com ênfase em medidas elétricas, instrumentação, eletrônica, desenvolvimento de sistemas embarcados e placas de circuito impresso, exerce a profissão de engenheiro. Ministra aulas no curso de pós-graduação lato sensu em Sistemas Eletrônicos Embarcados, da Universidade Estadual de Londrina, e na gradua- ção EAD nos cursos de Engenharia Elétrica e Engenharia Civil, da Universidade de Uberaba, no polo de Maringá-PR. Sobre os autores Sumário Capítulo 1 A importância da proteção de sistemas elétricos de potência, transformadores redutores de tensão e filtro ....................15 1.1 A importância da proteção de sistemas elétricos de potência ........................ 17 1.1.2. Aspectos considerados na proteção ..................................................... 20 1.1.3. Análise generalizada da proteção ......................................................... 21 1.1.4. Características gerais dos equipamentos de proteção ........................ 22 1.2. Transformadores redutores de tensão e filtro ................................................ 24 1.2.1 Transformadores de corrente ................................................................. 25 1.2.1.1 Características construtivas dos Transformadores de corrente ......... 26 1.2.1.2 Simbologia e convenções ................................................................... 33 1.2.1.3 Classificação de um TC ...................................................................... 35 1.2.1.4 Exatidão .............................................................................................. 36 1.2.1.5 Operação do secundário de um TC .................................................... 37 1.2.2 Transformadores de potencial ............................................................... 38 1.2.2.1 Transformador de potencial do tipo indutivo ....................................... 38 1.2.2.2 Transformador de potencial do tipo capacitivo ................................... 39 1.2.2.3 Simbologia e convenções ................................................................... 40 Capítulo 2 Relés de sobrecorrente e suas aplicações ....................43 2.1 Relés de sobrecorrente e suas aplicações ..................................................... 46 2.1.1. Princípios básicos ................................................................................. 48 2.1.2. Tipos de relés de sobrecorrente ........................................................... 53 2.2.1. Aspectos construtivos ........................................................................... 54 2.2.1.2. Estático ............................................................................................... 56 2.2.1.3. Digital .................................................................................................. 56 2.2.2. Atuação do circuito a proteger .............................................................. 60 2.2.2.2. Indireta ................................................................................................ 60 2.2.3. Instalação .............................................................................................. 61 2.3. Ajuste ........................................................................................................ 62 2.3.1. Relé de sobrecorrente instantâneo (50) ............................................... 63 2.3.2. Relé de sobrecorrente temporizado (51) .............................................. 64 2.4. Relé direcional (67) .................................................................................. 66 Capítulo 3 Relés de distância e suas aplicações ............................73 3.1 Desenvolvimento ............................................................................................. 76 3.1.1. Entendendo o funcionamento de um relé de distância ........................ 78 3.2. Relés de Distância Eletromecânicos ............................................................. 82 3.1. Tipos de relés de distância eletromecânicos ........................................... 84 3.1.1. Relé de distância à impedância ou Relé OHM ..................................... 84 3.1.2. Relé de Distância à Reatância .............................................................. 87 3.1.3. Relé de Distância à Admitância ou Relé MHO ..................................... 89 3.2. Indicações dos Relés de Distância ................................................................. 91 3.3. Relé de distância digital ................................................................................. 92 3.3.1. Unidade de medida de distância........................................................... 93 3.3.2. Unidade de supervisão para frente e para trás .................................... 93 3.4. O que pode causar perturbação de medição ................................................. 95 Capítulo 4 Teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção ........................................................................97 4.1 Teleproteção ..................................................................................................... 101 4.1.1 Introdução .............................................................................................. 101 4.2 Tipos de teleproteção ....................................................................................... 102 4.2.1 Onda portadora ...................................................................................... 102 4.2.2 Fibra óptica ............................................................................................. 103 4.2.3 Telefonia ................................................................................................. 103 4.3 Tipos de transferências em teleproteção......................................................... 104 4.3.1 Transferência de disparo direto de subalcance (DUTT) ........................ 104 4.3.2 Transferência de disparo permissivo de subalcance (PUTT) ............... 104 4.3.3 Transferência de disparo permissivo de sobrealcance (POTT) ............ 105 4.4 Coordenação .................................................................................................. 105 4.4 Introdução ........................................................................................................ 105 4.5 Coordenação de proteção ............................................................................... 106 4.6 Princípios básicos de proteção ........................................................................ 109 4.6.1 Princípio da Quantidade......................................................................... 109 4.6.2 Princípio da Localidade ..........................................................................110 4.6.3 Princípio da Retaguarda ........................................................................ 112 4.6.4 Princípio da Sensibilidade ...................................................................... 112 4.6.5 Princípio da Suportabilidade .................................................................. 112 4.6.6 Princípio da Seletividade ........................................................................ 113 4.7 Procedimentos de seletividade que podem ser aplicados em uma instalação elétrica .................................................................................... 114 4.7.1 Seletividade Amperimétrica ................................................................... 114 4.7.2 Seletividade Cronométrica ..................................................................... 117 4.7.3 Seletividade Lógica ................................................................................ 118 Capítulo 5 Proteção de transformadores.........................................123 5.1 Relés de proteção de transformadores ........................................................... 129 5.1.1 Classificação quanto ao tipo de acionamento ....................................... 129 5.1.2 Indireta .................................................................................................... 129 5.2 Classificação quanto ao tipo de temporização ................................................ 130 5.3 Classificação quanto à função de proteção .................................................... 130 5.4 Classificação quanto à tecnologia ................................................................... 131 5.4.2 Estáticos ................................................................................................. 132 5.4.3 Digitais .................................................................................................... 132 5.5 Proteção diferencial do transformador ............................................................ 132 5.5.1 Relé diferencial comum .......................................................................... 134 5.5.2 Relé diferencial percentual..................................................................... 134 5.6 Proteção de sobrecorrente de fase e neutro ................................................... 139 5.6.1 Sobrecorrente temporizada e instantânea de fase................................ 139 5.6.2 Sobrecorrente temporizada e instantânea de neutro ............................ 140 5.7 Outros equipamentos de proteção para transformadores .............................. 142 5.7.1 Proteção contra falha de disjuntor 5.7.2 Proteção de carcaça do transformadores ............................................. 143 5.7.3 Proteção contra sobretensão ................................................................. 144 5.7.4 Relé de bloqueio .................................................................................... 144 5.7.5 Relé de temperatura .............................................................................. 144 5.7.6 Válvula de alívio de pressão .................................................................. 145 5.7.7 Relé Buchholz ........................................................................................ 145 Capítulo 6 Proteção de geradores e proteção de barramentos ......149 6.1 Proteção de geradores .................................................................................... 152 6.1 Introdução.................................................................................................. 152 6.2 Proteção de geradores .................................................................................... 156 6.2.1 Proteção diferencial do estator contra curto-circuito ............................. 156 6.2.2 Proteção diferencial do estator contra curto-circuito entre espiras ....... 157 6.2.3 Proteção diferencial do estator contra falta à terra ................................ 158 6.2.4 Proteção de retaguarda do estator por meio de relés de sobrecorrente . 159 6.2.5 Proteção contra circuito aberto no estator ............................................. 159 6.2.6 Proteção contra sobreaquecimento do estator ...................................... 160 6.2.7 Proteção contra sobretensão ................................................................. 160 6.2.8 Proteção do rotor contra curto-circuito no campo ................................. 161 6.2.9 Proteção contra aquecimento do rotor devido à corrente desequilibrada do estator .............................................................. 161 6.2.10 Proteção contra perda de excitação ou de campo .............................. 162 6.2.11 Proteção contra perda de sincronismo ................................................ 163 6.2.12 Proteção contra aquecimento do rotor devido à sobre-excitação ....... 163 6.2.13 Proteção contra vibração ..................................................................... 164 6.2.14 Proteção contra motorização ............................................................... 164 6.2.15 Proteção contra sobrevelocidade ........................................................ 164 6.2.16 Proteção contra sobreaquecimento dos mancais ............................... 165 6.2.17 Proteção de barramentos .................................................................... 166 6.3 Configurações de barramentos ....................................................................... 169 6.4 Tipos de proteção de barramentos .................................................................. 170 6.4.1 Proteção diferencial de barras ............................................................... 170 6.4.2 Releamento diferencial com relés de sobrecorrente ............................. 171 6.4.3 Releamento diferencial percentual ........................................................ 172 6.4.5 Releamento diferencial com acopladores lineares ................................ 172 6.4.6 Proteção diferencial combinada ............................................................. 172 6.4.7 Proteção de retaguarda ......................................................................... 173 6.4.8 Proteção de massa ou dispersão pela carcaça ..................................... 174 6.4.9 Proteção por comparação direcional ..................................................... 175 Capítulo 7 Funções de proteção aplicáveis a motores trifásicos de grande porte .................................................................177 7.1 Funções de proteção aplicáveis a motores trifásicos de grande porte ........... 180 7.2. Proteção térmica (Função 49) ........................................................................ 183 7.3. Proteção de sobrecorrente ............................................................................ 184 7.3.1. Proteção de sobrecorrente instantânea (Função 50) ........................... 185 7.3.2. Proteção de sobrecorrente temporizada (Função 51) .......................... 185 7.4. Proteção de sobrecorrente de terra (Função 50 GS) ..................................... 186 7.5. Proteção de desbalanço de corrente ou corrente de sequência negativa (Função 46) ..................................................................... 189 7.6. Proteção diferencial para motor (87 M) ......................................................... 190 7.7. Critérios de aplicação de funções de proteção de motores trifásicos............ 192 7.7.1. Baixa tensão com potência nominal até 55 kW .................................... 193 7.2. Baixa tensão com potência nominal entre 55 kW e 150 kW .......................... 194 7.3. Média tensão com potência nominal entre 150 kW e 1.200 kW .................... 195 7.4. Média tensão com potência nominal entre 1.200 kW e 1.500 kW ................. 196 7.5. Média tensão com potência nominal acima de 1.500 kW .............................. 198 Capítulo 8 Novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência .................................................2038.1 Desenvolvimento dos dispositivos de proteção .............................................. 206 8.1.1 Histórico .................................................................................................. 206 8.1.2. Estático .................................................................................................. 206 8.1.3. Digital ..................................................................................................... 207 8.2 Tendências modernas na proteção de sistemas ............................................. 210 8.2.2. Novas ferramentas utilizadas em proteção .......................................... 211 8.2.2.2. Redes neurais artificiais (RNA) .......................................................... 212 8.3. IEC 61850 ....................................................................................................... 213 8.4. Smart Grid ....................................................................................................... 215 8.4.1. Smart Grid no mundo ............................................................................ 221 Conclusão ........................................................................................229 O conteúdo abordado nesta disciplina é de grande importância para a formação do(a) aluno(a), visto que a proteção de sistemas elétri- cos de potência é observada no cotidiano do engenheiro eletricis- ta, da geração ao consumo. Assim, devido à grande relevância do tema, é importante destacar que o estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência não deve ser restrito ao conteúdo apresentado neste material. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento. Capítulo I – A importância da proteção de sistemas elétricos de po- tência, transformadores redutores de tensão e filtro – aborda a im- portância da proteção de sistemas elétricos de potência no cenário brasileiro, os aspectos considerados na proteção, assim como na análise e nas características generalizadas da proteção, e os trans- formadores redutores de tensão com base nas normas vigentes. Capítulo II – Relés de sobrecorrente e suas aplicações – apresenta o relé de sobrecorrente com relação ao seu tipo de atuação, curvas características de tempo, características construtivas e instalação, além de aplicação e conceitos básicos para ajuste da corrente de acionamento. Capítulo III – Relés de distância e suas aplicações – apresenta o funcionamento do relé de distância com a análise de seu funciona- mento no sistema de proteção, de forma geral e em sua utilização como proteção de linhas de transmissão ou sistema de potência. Apresentação Capítulo IV – Teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção – aborda a teleproteção e a coordena- ção da proteção de SEPs que atuam na proteção com objetivo de aumentar a confiabilidade do sistema de energia, melhorando o desempenho da proteção, ou seja, operam como guardiões de um complexo sistema de transmissão. Capítulo V – Proteção de transformadores – apresenta o estudo de proteção de transformadores, em que o método de proteção diferencial do transformador consegue limitar a área de atuação para o componente em questão, com objetivo principal de detectar falhas internas do transformador, além de outros equipamentos uti- lizados para complementar a proteção dos transformadores, como proteção contra falha de disjuntor, contra sobretensão, de carcaça do transformador, bloqueio, temperatura, pressão e falta de óleo. Capítulo VI – Proteção de geradores e proteção de barramentos – aborda as formas mais recorrentes, na literatura, das proteções em geradores e barramentos nos sistemas elétricos de potência, bem como as linhas de potência e transmissão. Capítulo VII – Proteção de motores de indução de grande porte – apresenta o estudo de proteção de motores de indução de grande porte, a importância da proteção térmica dos motores devido à de- terioração do sistema de isolamento de seus enrolamentos com o aumento da temperatura e, dentre tantas opções de proteção para motores, orientam-se o estudo e a aplicação das funções com rela- ção à tensão e à potência do motor a ser protegido. Capítulo VIII – Novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência – abordadas algumas novas tecnologias aplicadas na proteção de sistemas de potência, além das derivações ou conse- quências dessas tecnologias em outras áreas, como o conceito de smart grid, que apresenta uma mudança no padrão do setor elétri- co e torna o sistema energético mais interativo. Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução A importância da proteção de sistemas elétricos de potência, transformadores redutores de tensão e filtro Capítulo 1 Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) ao Capítulo I – A importância da proteção de sistemas elétricos de potência, transformadores redutores de tensão e filtro –, que inicia o estudo do conteúdo referente à disciplina Proteção de Sistemas Elétricos. O conteúdo da disciplina abordará a importância da proteção de sistemas elétricos de potência (SEP), transformadores redutores de tensão e filtro, relés de sobrecorrente e distância com suas respectivas aplicações, teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção, proteção de transformadores, geradores, barramentos e motores de indução de grande porte, além de novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência. Neste capítulo, será abordada a importância da proteção de sistemas elétricos de potência no cenário brasileiro, com informações atualizadas que enfatizam a necessidade de contínuos estudo, projeto e atualização do SEP. Dentre as justificativas para isso, podem ser citados os diversos eventos conhecidos como blecautes ou “apagões” relacionados à falta de planejamento, investimento, manutenção ou operação. De forma breve, serão abordados os aspectos considerados na proteção, assim como na análise e nas características generalizadas da proteção. As partes constituintes de um sistema 16 UNIUBE • Obter uma visão geral de proteção de sistemas elétricos. • Caracterizar um TC. • Conhecer os tipos de TCs existentes. • Caracterizar um TP. • Conhecer os tipos de TPs existentes. • Estabelecer analogia entre TC e TP. Objetivos elétrico de proteção e suas respectivas funções serão abordadas nos próximos capítulos. O estudo acerca dos elementos de proteção de um sistema elétrico de potência tem início com os transformadores redutores de tensão e filtro. O conteúdo aborda as características do transformador de corrente (TC) e do transformador de potencial (TP), tendo como objetivo caracterizar e mostrar os tipos existentes com base nas normas vigentes NBR 6856 e NBR 6855. É importante destacar que o estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência não deve ser restrito ao material ou ao conteúdo apresentado aqui. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento, principalmente quando o assunto abordado é de interesse ou de grande utilidade para o(a) aluno(a). UNIUBE 17 • A importância da proteção de sistemas elétricos de potência • Aspectos considerados na proteção • Análise generalizada da proteção • Características gerais dos equipamentos de proteção • Transformadores redutores de tensão e filtro • Transformadores de corrente • Transformadores de potencial Esquema A importância da proteção de sistemas elétricos de potência 1.1 Prezado(a) aluno(a), podemos observar que, segundo Tolmasquim, Guerreiro e Gorini (2007, p. 47), desde a Revolução Industrial, a competitividade econômica dos países e a qualidade de vida de seus cidadãos são intensamente influenciadas pela energia. Nesse contexto, as economias que melhor se posicionam quanto ao aces- so a recursos energéticos de baixo custo e de baixo impacto am- biental obtêm importantes vantagens comparativas. De acordo com dados do Ministério de Minase Energia (BRASIL, 2016, on-line), a oferta interna de energia brasileira para o ano de 2016 foi estimada em 286 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep). Desse total, 43,9% são de energia renovável; esse indicador faz da matriz energética brasileira uma das mais limpas do mundo. 18 UNIUBE Um dos ramos da matriz energética é a energia elétrica, cuja par- ticipação dentre as energias renováveis é de, aproximadamente, 79,3%; sendo que a fonte hidráulica corresponde a 66,2% da ma- triz de energia elétrica. Dados da Resenha Mensal de Energia Elétrica (2017, on-line) indi- cam uma queda de 0,9% no consumo de energia elétrica em 2016, em relação ao ano de 2015, somando 460.001 Gigawatts-hora (GWh). No total do país, o consumo foi de 4.401 GWh menor, sen- do que a contração nas classes industrial e comercial foi parcial- mente amenizada pelo desempenho das residências e de outros consumos, que, conjuntamente, expandiram 2.655 GWh. A geração e a transmissão de 98% da energia elétrica do Brasil são realizadas pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), coorde- nado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) e regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Com a interligação das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da re- gião Norte, a matriz energética tem ganhos em conjunto e explora a diversidade entre os regimes hidrológicos das bacias. Contudo, mesmo com a interligação das regiões, nos últimos anos, foram observados diversos eventos que afetaram o fornecimento e a distribuição de energia elétrica no país, também conhecidos como ble- cautes. Retirando-se os eventos ocasionados pelo baixo nível dos re- servatórios de água ou eventos naturais, grande parte dos problemas observados é relacionado a falhas em dispositivos e operações. Os sistemas elétricos de potência (SEP) são planejados, constru- ídos e operados de modo a disponibilizar energia com qualidade, confiabilidade e continuidade. Os SEP, no entanto, estão diaria- mente sujeitos a incidentes que podem causar distúrbios ou, até mesmo, a interrupção de seu funcionamento. UNIUBE 19 Figura 1.1 - Iniciando os estudos Fonte: Hongqi Zhang, 123RF. Dentre as diversas causas que podem provocar distúrbios ou in- terrupções no funcionamento dos sistemas elétricos de potência (SEP), podem-se citar eventos naturais (descargas atmosféricas, catástrofes naturais etc.), falhas na operação, falhas em seus dis- positivos (geradores, transformadores, chaves de manobra, barra- mentos, cabos, relés, disjuntores, motores, isoladores etc.). Tais incidentes podem prejudicar todos os sistemas que estejam interligados, sendo necessário o isolamento da parte afetada, com o objetivo de minimizar os danos e manter a maior parte possí- vel dos SEP em funcionamento. Assim, para assegurar qualidade, confiabilidade e continuidade no fornecimento de energia, faz-se necessário um sistema de proteção eficaz. 20 UNIUBE 1.1.2. Aspectos considerados na proteção Segundo Caminha (1977, p. 5), na proteção de um sistema elétrico, devem ser examinados três aspectos: • Operação normal. • Prevenção contra falhas elétricas. • Limitação dos defeitos devido às falhas. Como operação normal, admite-se o sistema ausente de falhas nos equipamentos, os erros de operação ou as falhas aleató- rias. A prevenção contra falhas elétricas pode ser observada por meio de previsão de isolamento adequado, coordenação do isolamento, uso de cabos para-raios e baixa resistência do pé-de-torre, apropriadas instruções de operação e manutenção etc. A limitação dos efeitos devido às falhas inclui limitação da magnitude da corrente de curto-circuito, projeto capaz de su- portar os efeitos mecânicos e térmicos das correntes de defei- to, existência de circuitos redundantes e geradores de reserva, existência de relés, disjuntores e outros dispositivos com capa- cidade suficiente de interrupção. Monitorar dados para verificar a efetividade do sistema implemen- tado e, posteriormente, as causas das falhas, a frequente análise acerca das mudanças no sistema com os consequentes reajustes e a reorganização do esquema operativo também são formas de prevenir falhas elétricas e limitar seus defeitos. UNIUBE 21 1.1.3. Análise generalizada da proteção Segundo Caminha (1977, p. 6), em um sistema, encontram-se os seguintes tipos de proteção: • Contra incêndio. • Por relés e fusíveis. • Contra descargas atmosféricas e surtos de manobra. Um estudo de proteção deve considerar as características elétricas do sistema de potência, como a natureza das faltas, a sensibilidade para instabilidade do sistema, as condições de operação, as carac- terísticas gerais dos equipamentos, dentre outras. Outro item importante é o fator econômico da proteção, devido ao cus- to do equipamento principal em relação ao custo relativo do sistema de proteção. Não dificilmente são observados equipamentos eletromecâ- nicos e estáticos que estão em funcionamento e são mantidos devido ao custo da substituição e da adequação do sistema de proteção. A facilidade de manutenção e de acomodação dos equipamentos, a distância entre os pontos e a necessidade de infraestrutura são características físicas que também são consideradas durante o es- tudo de proteção. Assim, o correto projeto do sistema de proteção proporciona redu- ção no custo de reparação dos estragos, mitigação da probabilida- de de propagação do defeito e consequente contenção da falha, redução no tempo de inatividade do equipamento e necessidade 22 UNIUBE de equipamentos redundantes, além da intrínseca perda de renda e de indicadores de continuidade estabelecidos pela Aneel. 1.1.4. Características gerais dos equipamentos de proteção Segundo Cotosck (2007, p. 28) e Caminha (1977, p.7), os relés de proteção, principais equipamentos de proteção dos sistemas elétricos, têm como função principal a retirada rápida do elemento quando ele está em curto-circuito ou em operação anormal de fun- cionamento, impedindo que o problema se propague ou interfira na correta operação de outros elementos do sistema. Assim, podem-se listar as funções básicas de um sistema de proteção: • Assegurar a integridade física de operadores, usuários do sis- tema e animais. • Evitar ou minimizar danos materiais. • Retirar e isolar um equipamento ou parte do sistema que apresente defeito. • Diminuir as despesas com manutenção e melhorar a continui- dade do serviço. Segundo Cotosck (2007, p. 29), a proteção de um SEP deve apre- sentar as seguintes características: UNIUBE 23 • Confiabilidade - probabilidade de o sistema de proteção fun- cionar com segurança e corretamente, sob todas as circuns- tâncias operativas. • Seletividade - isolar somente o trecho ou o equipamento defeituoso. • Sensibilidade - operar para a menor anormalidade no siste- ma elétrico, para cuja detecção tenha sido projetado, evitando que o defeito adquira maior proporção. • Velocidade - isolar o circuito protegido tão logo exista o defei- to para cuja detecção tenha sido projetado. Como função secundária, os relés podem informar a devida locali- zação da falta, com o objetivo da rápida manutenção do elemento causador da falta e, portanto, o rápido religamento. O registro das grandezas analógicas e digitais permitem a análise da falta e a atuação da proteção. Os equipamentos de proteção podem ser separados em prote- ção primária ou principal e em proteção secundária ou de re- taguarda. A proteção primária ou principal é aquela em que o elemento de seccionamento encontra-se na conexão entre dois elementos, possibilitando a retirada somente do elemento da fal- ta em questão. Uma zona de proteção separada é estabelecida em torno de cada elemento. A proteção secundária ou de retaguarda é aquela localizada na zona adjacente à zona primária, ajustada para operar na manutenção da proteção primária ou na falha desta. A proteção de retaguarda pode 24 UNIUBE ser local, caso se encontre na mesma subestação da proteção pri-mária, ou remota, caso se encontre em outra subestação. Figura 1.2 - Zonas de proteção de um sistema elétrico de potência Fonte: Caminha (1977, p. 8). 1.2. Transformadores redutores de tensão e filtro Esta seção trará os elementos de proteção utilizados atualmente para se fazer medições seguras e confiáveis em linhas de transmis- são ou sistemas de potência, sem que esses elementos apresen- tem a mesma ordem de grandeza dos elementos a serem medidos. Os transformadores, de forma geral, são elementos que indu- zem energia ou potencial elétrico de um circuito para outro, sendo UNIUBE 25 isolados eletricamente, mas acoplados magneticamente. Assim, é possível isolar sistemas de alta potência, como linhas de transmis- são, para sistemas com potencial muito menor. A relação de grandezas entre entrada e saída do transformador é proporcional à quantidade de espiras das bobinas de um lado do transformador relacionada à quantidade de bobinas do outro lado, cuja indução é realizada por meio de um núcleo ferromagnético. Essa relação entre as bobinas possibilita induzir energia ou po- tencial elétrico com ordem de grandeza diferente no secundário de um transformador, característica que o torna capaz de dife- rentes atuações em sistemas de proteção. Serão abordados dois tipos de transformadores: o Transformador de Corrente (TC) e o Transformador de Potencial (TP). 1.2.1 Transformadores de corrente O transformador de corrente, como característica de funcionamento, tem induzido, no seu circuito secundário, uma corrente proporcional à corrente que passa pelo enrolamento primário. Essa relação de espi- ras entre primário e secundário faz com que o TC seja capaz de medir grandes quantidades de corrente por meio de uma relação que, geral- mente, leva a corrente no secundário a ter um valor padrão. O primário de um TC possui um número de espiras reduzido, muitas vezes, apresentando apenas uma espira ou mesmo uma barra de cobre, enquanto o seu secundário apresenta uma quantidade de espiras para que a corrente induzida seja de 5 A, usualmente (NBR 6856). 26 UNIUBE Aparelhos como amperímetros, medidores de energia, medido- res de potência e relés de indução utilizam transformadores de corrente, pois tais equipamentos devem apresentar baixa resis- tência elétrica. A corrente que deve ser medida é elevada e circula nos enrola- mentos primários, gerando um fluxo magnético, induzindo forças eletromotrizes no secundário; essa transformação é denominada conversão eletromagnética. Para obter uma corrente baixa no cir- cuito secundário que possibilite medição sem risco ao operador, faz-se necessária uma relação de transformação. Por exemplo, ao se deparar com um TC com informação de relação de transformação nominal igual a 20, se o primário apresentar uma corrente de 100 A, em seu secundário, teremos uma corrente de 5 A. Essa relação pode ser escrita como 100/20 = 5 A, sendo que o primeiro elemento “100” é a corrente no primeiro circuito (primário), “20” é a transformação nominal do TC, resultando, na corrente do secundário, o valor esperado de 5A. 1.2.1.1 Características construtivas dos Transformadores de corrente Os elementos que constituem um TC dependem inteiramente de sua finalidade, apresentando modificações em suas estruturas, de- pendendo do local que será aplicado. Os tipos e as características estão descritos a seguir. • TC tipo Barra UNIUBE 27 Seu enrolamento primário é uma barra fixada mediante o núcleo do transformador, que, por sua vez, o envolve. Figura 1.3 - Esquema de um TC tipo barra Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.15). • TC tipo Bucha É feita a bucha dos equipamentos com os transformadores e disjun- tores e esses elementos funcionam como enrolamento primário. Essa bucha é constituída de um núcleo em forma de anel (toroidal). 28 UNIUBE Figura 1.4 - Esquema de um TC tipo bucha Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.16). • TC tipo Enrolado Esse TC é requisitado quando a relação de transformação é inferior a 200/5. Seu enrolamento primário é constituído de uma ou mais es- piras, dependendo da relação exigida entre primário e secundário. UNIUBE 29 Figura 1.5 - Esquema de um TC tipo enrolado Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.15). • TC tipo Janela O próprio condutor forma o circuito primário e é dado o nome “jane- la” pelo seu meio isolante entre o primário e o secundário ser o ar. O TC tem como característica uma abertura no meio, por onde se passa o condutor. 30 UNIUBE Figura 1.6 - Esquema de um TC tipo janela Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.15). • TC de núcleo dividido Semelhante ao TC tipo janela, porém com seu núcleo podendo ser basculante, permitindo circundar o condutor, que será o enrola- mento primário, por meio da abertura de parte do núcleo. Figura 1.7 - Esquema de um TC de núcleo dividido Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.16). UNIUBE 31 • TC com vários enrolamentos primários Tem como característica vários enrolamentos primários que são separados e isolados entre si, apresentando apenas um enrola- mento secundário. Figura 1.8 - Esquema de um TC com vários enrolamentos primários Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.17). • TC com vários núcleos secundários Como o próprio nome diz, tem dois ou mais enrolamentos secundá- rios, todos montados isoladamente e com núcleo próprio. O comum a todos os secundários é o condutor tido como primário. 32 UNIUBE Figura 1.9 - Esquema de um TC com vários núcleos secundários Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.17). • TC com vários enrolamentos secundários Transformador que tem um núcleo comum envolvido pelos enrola- mentos primários e dois ou mais enrolamentos secundários, cada um desses isolado entre si. Os enrolamentos secundários podem ser ligados em paralelo ou em série, aumentando as possibilidades de relações entre primário e secundário. Figura 1.10 - Esquema de um TC com vários enrolamentos secundários Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.18). UNIUBE 33 • TC tipo derivação no secundário Apresenta um núcleo envolvido por ambos enrolamentos, primário e secundário, com o secundário tendo uma ou mais derivações. O enrolamento primário pode conter um ou mais enrolamentos, sendo garantida a classe de exatidão desse transformador apenas para a derivação que tiver o maior número de espiras. Figura 1.11 - Esquema de um TC tipo derivação no secundário Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.18). 1.2.1.2 Simbologia e convenções Para que o transformador não sofra ou não tenha capacidade de exercer suas funções, é necessário que seu circuito primário, que irá receber a corrente de carga, tenha compatibilidade com tal cor- rente. Usualmente, para o enrolamento secundário, são utilizadas correntes nominais iguais a 5A e, em casos especiais, a fim de reduzir a queda de tensão nos fios de interligação, adota-se uma corrente nominal de 1A (NBR 6856). A norma que regulamenta e fixa as características dos TCs é a NBR 6856, que se destina ao desempenho desses TCs no serviço 34 UNIUBE de medição e proteção. A seção 81, NBR 6856/81, apresenta sim- bologias que definem as relações de correntes de um TC. Essas simbologias são representadas a seguir: Símbolo Função e exemplo : Denotar relações nominais dos TCs, por exemplo: 300:1. - Para enrolamentos diferentes, usa-se o hífen para sepa- ração das correntes nominais, por exemplo: 300-5 A (um enrolamento primário e um secundário), 300-300-5 A (dois enrolamentos primários e um secundário), 300-5-5 A (um enrolamento primário e dois enrolamentos secundários). x Separar correntes nominais quando se tem mais de um enrolamento primário, por exemplo: 300 x 60-5 A (correntes primárias nominais cujos enrolamen- tos podem ser ligados em série ou paralelo). / Quando há derivações, tanto no primário quanto no enro- lamento secundário, usa-se a barra para separar tais cor- rentes, por exemplo: 300/400-5 A ou 300-5/5 A (em que o primeiro exprime derivações no enrolamento primário e osegundo derivações no enrolamento secundário). Quadro 1.1 - Sinais para representação de correntes nominais e relações nominais Fonte: NBR 6856. Saiba mais A NBR 6856 apresenta a simbologia, as condições gerais e as es- pecificidades do uso dos TCs, bem como os documentos que com- plementam e englobam os elementos que constituem os cenários de sua atuação. Fonte: NBR 6856. UNIUBE 35 1.2.1.3 Classificação de um TC Transformadores de corrente podem ser classificados para serviço de medição e para proteção, bem como por classe e por exatidão. Na forma de medição e para proteção, a característica principal é transformar grandes cargas de corrente ou energia do primário em quantidades possíveis de serem usadas para medição ou aciona- mento de circuito protetor no secundário. Os TCs de medição transformam a corrente no enrolamento secun- dário, em geral, até 5 A, em que instrumentos podem aferir os valo- res sem que tenham conexão elétrica com o primário da instalação. Já os TCs de proteção fornecem, pelo circuito secundário, corren- tes que possibilitam o acionamento de relés que protegem o sis- tema, garantindo a segurança dos operadores e facilitando opera- ções de manutenção de componentes, como resposta ao sinal de uma variação dada como de falha. Pelo fato de acionarem relés, os TCs de proteção não devem saturar para correntes de elevado valor, como acontece nos TCs de medição. Esse fato ocasionaria sinais de corrente duvidosos para a ação dos relés, causando atuação indevida por parte desse componente. Importante Como já deve ter pensado, não deve-se utilizar um TC de medi- ção junto com um TC de proteção e vice-versa. São construídos transformadores de correntes com vários núcleos, uns destinados à proteção e outros à medição, mas nunca utilizar os dois tipos de transformadores juntos. 36 UNIUBE Os TCs de proteção apresentam classes que são caracterizadas pela impedância de enrolamento no secundário. São duas classes: • Classe A: TCs cujo enrolamento secundário tem reatância que deve ser apreciável. Enquadram-se nessa classe todos os TCs, exceto aqueles com núcleo toroidal ou de bucha. • Classe B: TCs cujo enrolamento secundário tem reatância des- prezível em relação à reatância total do circuito. Enquadram- se nessa classe os TCs com núcleo toroidal e de bucha. 1.2.1.4 Exatidão A exatidão em TCs denota, nominalmente, o erro esperado do transformador, considerando a relação de transformação e a de- fasagem entre a corrente no enrolamento primário e secundário. Para algumas aplicações, os erros de exatidão devem se enqua- drar conforme valores mostrados a seguir: • 0,1: Aferição e calibração de instrumentos de medida de laboratório. • 0,3: Alimentação de medidores de demanda e consumo ativo e reativo. • 0,6: Alimentação de medidores para acompanhamento de custos industriais. • 1,2: Alimentação de registradores gráficos, amperímetros e relés de impedância, diferenciais, distância e direcionais. • 3,0: Alimentação de relés de ação direta. UNIUBE 37 1.2.1.5 Operação do secundário de um TC Quando há carga ou corrente no primário e uma corrente nula no secundário, ou seja, um circuito aberto, não existirá o efeito de desmagnetização dessa corrente e a corrente de excitação será a própria corrente de entrada. Esse evento causa um fluxo magné- tico extremamente elevado no núcleo, que permite o aquecimento excessivo do núcleo magnético, que, por sua vez, pode ocasionar problemas de isolamento e o curto-circuito do primário com o se- cundário e com o terra. Outra preocupação com o circuito secundário aberto é a força ele- tromotriz induzida nesse enrolamento que, devido ao seu valor ele- vado, pode causar perigo ao operador. A forte magnetização do nú- cleo poderá alterar as características de funcionamento e precisão para as quais o TC foi projetado. Para evitar tais problemas, na necessidade de trocar o elemento medidor acoplado ao secundário, ou qualquer alteração, deve-se curto-circuitar os terminais do secundário com um condutor de bai- xa impedância, como um fio de cobre. Parada para reflexão Com todos os problemas mencionados que o secundário aberto de um TC pode ocasionar, seria uma solução o uso de um fusível? Não é aconselhável a utilização de um fusível para curto-circuitar o secundário de um TC, pois o secundário torna-se um circuito aber- to se, por algum motivo, ocorrer a queima do fusível. 38 UNIUBE 1.2.2 Transformadores de potencial É possível fazer a analogia entre transformador de corrente e trans- formador de potencial de tal forma que o primeiro é relacionado à cor- rente e o segundo, à tensão. Assim, os transformadores de potencial apresentam enrolamento primário e secundário, mas com a finalida- de de transformar grandes tensões em tensões menores, para serem medidas ou usadas por aparelhos de medição e proteção. TPs permitem que instrumentos de medição e proteção funcionem sem a necessidade de apresentar características de isolação elétri- ca da rede a qual estão ligados no enrolamento primário. Esse fator faz com que o preço de aparelhos de medição seja muito menor do que aqueles necessários para medir os valores integrais da rede. Em geral, a construção desses transformadores é projetada na forma de um enrolamento primário com muitas espiras e um enrolamento se- cundário com uma quantidade menor de espiras, calculado para a ten- são desejada. Normalmente, são utilizadas tensões de 115 V ou 115/√3 V, mas, em aparelhos antigos, podem ser encontradas tensões secun- dárias de 110 V, 120 V ou 125 V (NBR 6855). Nesses valores de tensão inferiores, os instrumentos de medição e proteção, como voltímetros, relés de tensão, bobinas de tensão e medidores de energia, podem trabalhar de forma satisfatória e com baixa tensão de isolação, reduzindo o custo desses instrumentos. 1.2.2.1 Transformador de potencial do tipo indutivo Para uma tensão de até 138 kV, opta-se pelos transformadores de potencial do tipo indutivo, por terem seu custo inferior ao do tipo capacitivo. A construção desses TPs do tipo indutivo é realizada UNIUBE 39 por um núcleo de ferro-silício envolto pelo enrolamento primário e secundário, isolados um do outro. Existem três grupos de ligações possíveis nos TPs indutivos, cujas características dependem da utilização, da tensão que suportada e da ligação dos enrolamentos. A NBR 6855, norma que regulamenta as especificações de TPs indutivos, classifica esses grupos das seguintes formas: • Grupo 1 - para sistemas de até 34,5 kV e ligação entre fases. Deve ser capaz de suportar tensões de até 10% de sobrecar- ga continuamente. • Grupo 2 - projetado para ligação entre fase e neutro de siste- mas diretamente aterrados. • Grupo 3 - projetado para ligação entre fase e neutro de sistemas em que não se garante a eficiência de aterramento do sistema. Saiba mais A NBR 6855 fixa as características de desempenho de transfor- madores de potencial indutivos destinados a serviços de medição, controle e proteção. Fonte:Elaborado pelo autor. 1.2.2.2 Transformador de potencial do tipo capacitivo Para tensões iguais ou superiores a 138 kV, os TPs do tipo ca- pacitivo são construídos com a utilização de dois conjuntos de 40 UNIUBE capacitores que fornecem um divisor de tensão. O TP é composto por um divisor capacitivo ligado entre fase e terra. As células do divisor capacitivo que formam o condensador são ligadas em série e o conjunto fica imerso no interior de um invólucro. As classificações dos TPs capacitivos são de acordo com o erro que introduzem nos valores medidos no secundário, ou seja, sua exatidão. Para se determinar a classe de exatidão de um TP ca- pacitivo, são realizados ensaios com carga e vazio, com valores padronizados por norma. Segundo a NBR 6855, as classes de exatidão podem ser de 0,1, 0,3, 0,6 e 1,2. Os ensaios para determinação da classe de exatidão compreendem o TP capacitivo atuar sob tensão nominal, 90% da tensão nominal e 110% da tensão nominal.1.2.2.3 Simbologia e convenções Assim como nos TCs, a NBR 6855 define a simbologia dos TPs, como é mostrado a seguir: UNIUBE 41 Símbolo Função e exemplo : Denotar relações nominais dos Tps, por exemplo: 120:1. - Para enrolamentos diferentes, para separação das relações nominais e tensões primárias, por exemplo: 13.800-115 V. x Separar tensões primárias nominais quando se tem mais de um enrolamento primário, por exemplo: 6.900 x 13.800-115 V (tensões primárias nominais cujos enro- lamentos podem ser ligadas em série ou paralelo). / Quando há derivações, tanto no primário quanto no en- rolamento secundário, a barra é utilizada para separar tais tensões, por exemplo: 13.800-115/115/3 (em que exprime derivações no enrolamento secundário). Quadro 1.2 - Sinais para representação de tensões nominais e relações nominais Fonte: NBR 6855. Nos próprios TPs, existem letras identificando os terminais de liga- ção, tanto no primário quanto no secundário. Essas letras indicam a polaridade para a qual foram construídas e seus respectivos índi- ces: H1 e H2 (primário), X1 e X2 (secundário). Considerações finais Neste capítulo, conseguimos, caro(a) aluno(a), abordar a impor- tância da proteção de sistemas elétricos de potência no cenário brasileiro, com informações atualizadas que enfatizam a necessi- dade de contínuos estudo, projeto e atualização dos SEP. Dentre as justificativas para isso, podem ser citados os diversos eventos conhecidos como blecautes ou “apagões” relacionados à falta de planejamento, investimento, manutenção ou operação. 42 UNIUBE De forma breve, foram abordados os aspectos considerados na proteção, assim como na análise e nas características generaliza- das da proteção. O estudo acerca dos elementos de proteção de um sistema elétrico de potência teve início com os transformadores redutores de tensão e filtro. O conteúdo abordou as características do transformador de corrente (TC) e do transformador de potencial (TP) com base na norma vigente NBR 6856. O transformador de corrente, como característica de funcionamento, tem induzido no seu circuito secundário uma corrente proporcional à corrente que passa pelo enrolamento primário. Essa relação de espiras entre primário e secundário faz com que o TC seja capaz de medir gran- des quantidades de corrente por meio de uma relação que geralmente leva a corrente no secundário a ter um valor padrão, usualmente 5 A. As características construtivas e a utilização de diversos tipos de TCs foram explicadas juntamente com a simbologia, a classifica- ção e a exatidão desse elemento. Observou-se a importância de curto-circuitar o secundário de um TC para que ele opere correta- mente, não causando risco ao operador ou alterando suas carac- terísticas de funcionamento e precisão. Para o transformador de potencial, realizou-se uma analogia com o transformador de corrente, de tal forma que o TC é relacionado à corrente e o TP, à tensão. Assim, os transformadores de potencial apresentam enrolamento primário e secundário, mas com a finali- dade de transformar grandes tensões em tensões menores, para serem medidas ou usadas por aparelhos de medição e proteção. A construção dos transformadores de potencial indutivos e capa- citivos, suas aplicações e características próprias foram listadas com base na NBR 6856. Assim, cabe ao projetista analisar qual a aplicação e determinar o modelo a ser utilizado. Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução Relés de sobrecorrente e suas aplicações Capítulo 2 Querido(a) aluno(a), neste capítulo – Relés de sobrecorrente e suas aplicações –, continuaremos o estudo do conteúdo referente à disciplina Proteção de Sistemas Elétricos. O conteúdo da disciplina abordou, até o presente capítulo, a importância da proteção de sistemas elétricos de potência (SEP), transformadores redutores de tensão e filtro. Ainda serão abordados os tópicos de relés de sobrecorrente e distância com suas respectivas aplicações, teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção, proteção de transformadores, geradores, barramentos e motores de indução de grande porte, além de novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência. Neste capítulo, inicia-se o estudo dos principais equipamentos dos sistemas elétricos, o relé de proteção. Responsável pela retirada rápida do elemento em curto-circuito ou em operação anormal, observa-se que o relé é o dispositivo sensor responsável por comandar a abertura do disjuntor quando um sistema elétrico protegido opera em condições anormais de funcionamento. Para padronizar os dispositivos de proteção, a norma ANSI/IEEE C37.2 é apresentada e será utilizada neste • Conhecer os princípios básicos de um relé de sobrecorrente. • Compreender as curvas características de tempo em relés de sobrecorrente. Objetivos e nos próximos capítulos quando um novo dispositivo for apresentado para estudo. O relé de sobrecorrente, foco deste capítulo, tem seus tipos de atuação (instantâneo e temporizado) abordados juntamente com as suas curvas características de tempo. O modelamento dessa característica comenta acerca das curvas desenvolvidas por fabricantes de equipamentos de proteção ou normatizadas por entidades, como as normas IEC 60255- 151 e IEEE C37.112. A seção relacionada aos tipos de relés de sobrecorrente aborda as características construtivas, de atuação e instalação, além de aplicação e conceitos básicos para ajuste da corrente de acionamento. O relé de sobrecorrente direcional, um relé de sobrecorrente com características de identificação do sentido de fluxo de energia, é abordado com o objetivo de melhorar a proteção do SEP e as condições para sua coordenação. É importante destacar que o estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência não deve ser restrito ao material ou ao conteúdo aqui apresentado. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento, principalmente quando o assunto abordado é de interesse ou de grande utilidade para você. 1. RELÉS DE SOBRECORRENTE E SUAS APLICAÇÕES 1.1. Princípios básicos 1.2. Tipos de relés de sobrecorrente 1.2.1. Aspectos construtivos 1.2.1.1. Eletromecânico 1.2.1.2. Estático 1.2.1.3. Digital 1.2.2. Atuação do circuito a proteger 1.2.2.1. Direta 1.2.2.2. Indireta 1.2.3. Instalação 1.2.3.1. Primário 1.2.3.2. Secundário 1.3. Ajuste 1.3.1. Relé de sobrecorrente instantâneo (50) 1.3.2. Relé de sobrecorrente temporizado (51) 1.3.2.1. Relé de sobrecorrente temporizado de tempo definido 1.3.2.2. Relé de sobrecorrente temporizado de tempo inverso 1.4. Relé direcional Esquema • Identificar os tipos e as tecnologias de relés de sobrecorrente. • Noção básica de ajuste de relés de sobrecorrente. 46 UNIUBE Como visto anteriormente, a limitação dos efeitos devido às falhas inclui a existência de relés, disjuntores e outros dispositivos com capacidade suficiente de interrupção, além da limitação da magni- tude da corrente de curto-circuito e de outras características defini- das em projeto. Segundo Cotosck (2007, p.28) e Caminha (1977, p.7), os relés de proteção, principais equipamentos de proteção dos sistemas elé- tricos, têm como função principal a retirada rápida do elemento quando este está em curto-circuito ou operação anormal de fun- cionamento, impedindo que o problema se propague ou interfira na correta operação de outros elementos do sistema. Assim, o relé é o dispositivo sensor responsável por comandar a abertura do disjuntor quando um sistema elétrico protegido opera em condições anormais de funcionamento. Durante seu funcionamento, o relé recebe informações do sistema elétrico protegido sob a forma de corrente e tensão provenientes dos transformadores de corrente (TC) e de tensão (TP). Por meio da combinação dessas grandezas, são obtidas informações de po- tência, impedância ou ângulo de fase. O relé deverá atuar de modo a realizar a operação para a qual foi projetado e configurado,caso seja sensibilizado pelas condições anormais de funcionamento apresentadas pelo sistema protegido. A atuação desse componente é caracterizada pelo envio de um si- nal que resultará na combinação das seguintes ações: sinalização (alarme), bloqueio ou abertura de disjuntores. Assim, o comando Relés de sobrecorrente e suas aplicações2.1 UNIUBE 47 de abertura ou disparo do disjuntor realizado pelo relé isola a parte defeituosa do sistema. Segundo Mamede Filho e Mamede (2011, p. 256), o relé represen- ta uma gama numerosa de equipamentos e dispositivos, com as mais diferentes formas de construção e operação, para aplicações diversas, dependendo da importância do porte e da segurança da instalação considerada. Parada obrigatória Devido à grande quantidade de dispositivos e suas respec- tivas características, a ANSI (American National Standards Institute) e o IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers) padronizaram, na norma C37.2, os códigos dos dispo- sitivos de proteção. Assim, tais equipamentos são referidos por nú- meros, com sufixos de letras quando necessário, de acordo com as funções que realizam, e utilizados em esquemas de conexão encontrados em manuais de instruções e em especificações. A seguir, o Quadro 2.1 apresenta alguns códigos e as respectivas descrições funcionais padronizados, lembrando que a lista comple- ta com códigos, descrição funcional e sufixos pode ser encontrada na norma ANSI / IEEE C37.2: 48 UNIUBE Código Descrição funcional 1 Elemento principal 2 Função de partida/fechamento temporizado 4 Contator principal 6 Disjuntor de partida 21 Relé de distância 50 Relé de sobrecorrente instantâneo com diversas possibilida- des de sufixos, como N (neutro) e BF (falha de disjuntor) 51 Relé de sobrecorrente temporizado com diversas possibili- dades de sufixos, como N (neutro) e GS (sensor de terra) 52 Disjuntor de corrente alternada 67 Relé direcional de sobrecorrente 87 Proteção diferencial com as diversas possibilidades de sufixos, como B (barra), T (transformador), G (gerador) e L (linha) 89 Chave seccionadora Quadro 2.1 - Código e descrição funcional de dispositivos de proteção Fonte: ANSI/IEEE C37.2. 2.1.1. Princípios básicos Os relés de sobrecorrente constituem um dos tipos de função de proteção e têm como grandeza de atuação uma ou mais corretes dentre as correntes de fase ou a corrente de neutro do sistema. A atuação do relé ocorrerá quando a corrente atingir um valor igual ou superior ao ajuste previamente estabelecido. No caso de serem usados para proteção de circuitos primários, os relés de sobrecor- rente são ligados de forma indiretapor meio de transformadores de corrente (TC) (ALMEIDA, 2008, p. 33). UNIUBE 49 A atuação do relé pode acontecer da forma instantânea (função 50) ou temporizada (função 51), dependendo da necessidade, e podem ser de fase ou de terra. Assim, os relés de fase são utiliza- dos para proteção contra curtos que envolvam mais de uma fase (curtos trifásico, bifásico e bifásico-terra), enquanto o relé de terra, para proteção contra curtos fase-terra. Quanto ao tempo de atuação dos relés de sobrecorrente, são uti- lizadas curvas características desenvolvidas por fabricantes de equipamentos de proteção ou normatizadas por entidades, como IEC e IEEE. Essas curvas são a forma utilizada pelos equipamen- tos para detectar uma falha e, a partir da corrente percorrida no relé por um determinado tempo, eliminá-la. Segundo Cotosck (2007, p.32), os relés de sobrecorrente podem ope- rar com característica de tempo definido ou com característica inversa. A Figura 2.1 a seguir ilustra a curva característica de tempo definido, em que o relé opera após o tempo de atuação (Ta) para qualquer valor de corrente maior ou igual à corrente mínima de atuação (Imin). Figura 2.1 - Curva característica de tempo definido Fonte: Guarani (2007, p. 16). 50 UNIUBE A Figura 2.2 ilustra a curva característica de tempo inverso, em que o relé opera após intervalos de tempo decrescentes com os valores de corrente maiores ou iguais que a corrente mínima de atuação (corrente de partida ou “starting current”). Figura 2.2 - Curva característica de tempo inverso Fonte: Guarani (2007, p. 16) As curvas de tempo inverso são classificadas em três grupos: normalmente inversa (NI), muito inversa (MI) e extremamente inversa (EI). A Figura 2.3 ilustra o comportamento de cada uma dessas curvas. UNIUBE 51 Figura 2.3 - Curvas características normalmente inver- sa (NI), muito inversa (MI) e extremamente inversa (EI) Fonte: Almeida (2008, p. 45). A equação que define tais curvas apresenta pequenas variações entre os modelos usuais de alguns fabricantes, IEC 60255-151 e IEEE C37.112, conforme comentado anteriormente. Seguindo a norma IEC 60255151, por exemplo, essas curvas são definidas a partir de equações exponenciais do tipo: Sendo que: k1 e k2 são constantes que definem os grupos NI, MI e EI da curva característica. 52 UNIUBE I é corrente que chega ao relé por meio do secundário de um TC. IS é corrente de ajuste ou de partida. TMS são valores numéricos responsáveis por deslocar as curvas características ao longo do eixo do tempo. Grupo k1 k2 Normalmente inversa 0,14 0,02 Muito inversa 13,5 1 Extremamente inversa 80 2 As curvas características de tempo inverso são traçadas em gráfico dilog (log x log) e, como ilustrado na Figura 2.4, com o valor de início no eixo das abscissas comumente em 1,5x( I / IS). Usualmente, os catálogos disponibilizam 10 curvas com valores de TMS. A Figura 2.4 ilustra a equação e as curvas com característica normalmente inversa (NI) de um relé. UNIUBE 53 Figura 2.4 - Equação e curvas características de tempo normalmente inversa Fonte: Relés…, [2017], on-line. Ampliando o conhecimento As normas IEC 60255-151 e IEEE C37.112 apresentam as para- metrizações das curvas características dos relés de sobrecorrente e outras informações importantes para aumentar o conhecimento acerca do tema. 2.1.2. Tipos de relés de sobrecorrente Os relés de sobrecorrente podem ser caracterizados, com relação ao tempo de atuação, em instantâneo ou temporizado, como vis- to anteriormente. Outras classificações desses relés consideram aspectos construtivos, atuação do circuito a proteger e instalação. 54 UNIUBE 2.2.1. Aspectos construtivos 2.1.1. Eletromecânico Um relé de sobrecorrente mecânico é projetado, elaborado e cons- truído com base nos movimentos mecânicos provenientes de aco- plamentos elétricos e magnéticos. Utilizando os princípios de atra- ção e indução eletromagnética, os relés eletromecânicos foram os primeiros relés utilizados em sistemas de proteção. O relé de atração eletromagnética é simples, com funcionamento similar ao de um eletroímã. Quando uma corrente com valor su- perior circula pelo solenoide, o dispositivo acoplado ao solenoide é deslocado e promove o fechamento do contato de forma instan- tânea, sem retardo proposital na atuação. A Figura 2.5 ilustra o mecanismo de funcionamento do relé de atração eletromagnética. Figura 2.5 - Mecanismo de funcionamento do relé de atração eletromagnética Fonte: Cotosck (2007, p. 36). UNIUBE 55 O relé de indução eletromagnética utiliza o mesmo princípio de um motor elétrico. A corrente que circula nos polos produz um fluxo magnético defasado e, consequentemente, induz uma corrente no disco. A interação do fluxo com a corrente no disco resulta em um torque que rotaciona essa estrutura e promove o fechamento do seu contato móvel, possibilitando alterar o tempo de fechamento dos contatos por meio da modificação do tempo de seu percurso. A Figura 2.6 ilustra o mecanismo de funcionamento do relé de indu- ção eletromagnética. Figura 2.6 - Mecanismo de funcionamento do relé de indução eletromagnética Fonte: Cotosck (2007, p. 36). 56 UNIUBE 2.2.1.2. Estático Com o advento dos dispositivos eletrônicos, o relé deixou de apre- sentar movimentação mecânica em seumecanismo de atuação e todos os comandos e as operações são realizados eletronicamen- te. Em comparação ao modelo eletromecânico, o relé estático é mais rápido, sensível e preciso, apresenta menor tamanho, consu- mo e grau de manutenção. Contudo, devido a sua sensibilidade, o relé estático pode operar indevidamente em virtude de variações de pequenos transientes quando aplicados para proteção de SEP ou industriais. Além disso, a grande maioria desses relés controla um relé auxiliar mecânico para abertura ou fechamento. Enquanto os problemas dos relés estáticos eram efetivamente re- solvidos, os relés digitais dominaram o mercado devido às carac- terísticas e funções, substituindo os relés eletromecânicos e estáti- cos em novos projetos e atualização de aplicações. 2.2.1.3. Digital Um relé digital utiliza como base o microprocessador, cuja flexibilidade permite ao mesmo relé exercer diferentes funções, como: controle, armazenamento dos dados amostrados, informação de eventos e di- ferentes funções de proteção. Assim, dentro da capacidade ou da dis- ponibilidade de hardware do relé, a alteração de parâmetros e funções é realizada mediante programas computacionais (software). Segundo Almeida (2008, p.35), com relação aos relés eletromecâ- nicos, os relés digitais apresentam as seguintes vantagens: UNIUBE 57 • Automonitoramento (autodiagnóstico). • Detecção e diagnóstico de faltas. • Permite o desenvolvimento de novas funções e métodos de proteção. • Compartilha dados por meio das redes de comunicação. • Proporciona melhor interface homem x máquina (IHM). • Permite redução das interferências do meio ambiente sobre as condições operativas dos equipamentos. • Redução nos custos, conforme a tecnologia é disseminada. O modelo digital apresenta, contudo, vida útil reduzida (10 a 15 anos), quando comparado ao modelo eletromecânico (acima de 30 anos), além de estar sujeito à interferência eletromagnética e tor- nar-se obsoleto de forma rápida, devido ao avanço no desenvolvi- mento de novos hardwares para os relés. Como comentado anteriormente, o relé digital pode apresentar di- ferentes funções integradas com o sistema de energia elétrica, que variam com o modelo, mas pode-se listar: • medição, controle, automação e proteção. • comunicação com outros pontos do sistema. • interface homem-máquina. • aquisição, processamento e armazenamento de dados. 58 UNIUBE • análise de sequência de eventos. • ações de controle de sistema. • montagem de registros dos dados adquiridos. • elaboração de relatórios. O relé digital possibilita uma grande variedade de funções e curvas de proteção para as três fases de um sistema trifásico em um único equipamento, algo impossível com o relé eletromecânico. Assim, os intervalos de coordenação podem ser reduzidos, resultando em eliminação mais rápida do defeito, aumento da confiabilidade ao sistema, redução das taxas de interrupção de energia etc. Devido à medição de corrente e tensão, configuração da lógica de proteção e armazenamento serem digitais, a utilização de relé di- gital facilita a aplicação da teleproteção por meio dos sistemas de comunicação entre relés. A Figura 2.7 ilustra o relé digital Siemens 7SJ61, como exemplo. UNIUBE 59 Figura 2.7 - Relé digital Siemens 7SJ61 Fonte: Siemens ([2017], on-line). Saiba mais Com base no exemplo, verifique maiores informações acerca do relé digital Siemens 7SJ61 em seu manual – disponível em: <ht- tps://www.downloads.siemens.com/download-center/Download. aspx?pos=download&fct=getasset&id1=DLA06_745> – e em tuto- riais de testes, como indicado em CONPROVE (2014). Fonte: Elaborado pelo autor. 60 UNIUBE 2.2.2. Atuação do circuito a proteger 2.2.2.1. Direta O relé de sobrecorrente é classificado como de atuação direta do circuito a proteger quando a ação de proteção ocorre diretamente no dispositivo que realiza a abertura ou o fechamento dos polos do disjuntor. Desse modo, o próprio relé libera a energia a ser utilizada na ação de abertura ou fechamento. 2.2.2.2. Indireta O relé de sobrecorrente é classificado como de atuação indireta quando não atua diretamente no dispositivo que realiza a abertura ou o fechamento dos polos do disjuntor. A atuação desse relé limi- ta-se a fechar ou a abrir um contato que ativa, energiza ou transfe- re para outro circuito a responsabilidade de providenciar o aciona- mento do disjuntor. Para aplicação indireta, é comum a utilização de um circuito de cor- rente contínua alimentado por baterias para acionamento do disjun- tor. A Figura 2.8 ilustra um esquema de atuação indireta de relé. UNIUBE 61 Figura 2.8 - Esquema de atuação indireta de relé Fonte: Almeida (2008, p. 39). 2.2.3. Instalação 2.2.3.1. Primário O relé que apresenta sua bobina magnetizante conectada direta- mente à rede é denominado relé primário. Essa bobina, contudo, apresenta o mesmo potencial da rede e deve suportar a corrente de curto-circuito, colocando em risco a segurança do operador e dificultando as tarefas de inspeção, manipulação e manutenção. Esse relé é utilizado principalmente em circuitos terminais de car- gas industriais por ser simples, robusto e barato. 62 UNIUBE 1.2.3.2. Secundário O relé que apresenta sua bobina magnetizante conectada por meio do enrolamento secundário de um transformador de corrente (TC) é denominado relé secundário. Nesse caso, o relé não apresen- ta elevados níveis de tensão e corrente, trabalhando com maior índice de segurança para o operador e podendo ser aplicado em diferentes sistemas elétricos. 2.3. Ajuste A corrente de ajuste dos relés de sobrecorrente depende de seus aspectos construtivos. Os relés eletromecânicos dependem de al- terações físicas em seus componentes, como ajuste na mola de operação, variação do entreferro ou da bobina magnetizante. Nos relés estáticos, a alteração pode ser realizada com a variação dos elementos do seu circuito. Para os relés digitais, os ajustes são re- alizados por meio de aplicativo ou software (ALMEIDA, 2008. p.40). Como comentado anteriormente, o relé eletromecânico é composto por partes móveis e depende do comportamento de muitos elemen- tos para sua correta operação, como atrito, temperatura, umidade, desgaste etc. Descartando tais fatores, existe um valor mínimo de campo magnético necessário para produzir uma força magnética com mesma intensidade da força mecânica de retenção, colocando o relé no início de sua operação; esse valor é denominado limiar de operação do relé. Sabendo-se da existência dos fatores que influenciam o funcionamen- to do relé, considera-se uma margem de segurança na definição da corrente mínima de ajuste, de forma a garantir o seu acionamento. UNIUBE 63 Por outro lado, os relés digitais não dependem do comportamento dos mesmos elementos, limitando o ajuste à programação via sof- tware das especificações da curva de operação e lógica de controle. Um termo comum no ajuste de relés de sobrecorrente é TAPE, defi- nido como a escala de corrente escolhida no relé, também conheci- do como a corrente de ajuste do relé. Assim, para manter a mesma força necessária para deixar o relé no limiar de operação para di- versos valores de corrente de TAPE do relé, o ajuste da corrente de atração é realizado pela mudança de tape da bobina magnetizante. O múltiplo (M) do tape indica quantas vezes a corrente de defeito é maior que a corrente relativa ao tape adotado e é definido como: A menor corrente capaz de fazer o relé operar é denominada cor- rente de pick-up, deixando o relé no limiar de operação, sendo con- siderada como a corrente efetiva de ajuste do relé. Por outro lado, a maior corrente capaz de iniciar o processo de desoperação do relé é denominada corrente de drop-out. 1.3.1. Relé de sobrecorrente instantâneo (50) Como comentado anteriormente, o relé de sobrecorrente instantâ- neo atua sem o retardo intencional, ou seja, seu tempo de atuação é relacionado à movimentação dos seus mecanismos de operação.64 UNIUBE Devido ao relé não apresentar tempo de retardo, o seu ajuste deve ser realizado de forma a evitar a atuação de outros relés a jusante (relés que estejam mais próximos da carga final). Assim, calcula- se a corrente de ajuste do relé de sobrecorrente instantâneo para que exista seletividade e de modo que não ocorra sobreposição da zona de atuação. Geralmente, a corrente do relé instantâneo é ajustada para 85% do curto-circuito trifásico da linha de transmissão protegida, ou seja: 2.3.2. Relé de sobrecorrente temporizado (51) Como comentado anteriormente, o relé de sobrecorrente tempori- zado atua com o retardo intencional, podendo ser de tempo defini- do ou de tempo inverso. 2.3.2.1. Relé de sobrecorrente temporizado de tempo definido A atuação dos relés de tempo definido ocorre após tempo previa- mente escolhido de acordo com a coordenação implementada. De coordenação simples, a utilização de relés de tempo definido utiliza o relé mais próximo da carga final com o menor ajuste de tempo possível, enquanto aqueles mais próximos das fontes de tensão apresentam incremento de Δt a cada relé a montante (relés que estejam mais próximos da fonte de tensão). UNIUBE 65 Contudo a utilização desse tipo de coordenação apresenta tempo de operação elevado (o circuito demora para desarmar) para cor- rentes provenientes de um curto-circuito próximo a uma fonte de tensão, justamente onde são mais perigosos. 2.3.2.2. Relé de sobrecorrente temporizado de tempo inverso Os relés de sobrecorrente temporizados de tempo inverso uti- lizam uma curva de atuação, não um tempo fixo ou definido, relacionada com as características e condições de coordenação dos relés. Dentro das possibilidades de curvas (inversa, muito inversa e extremamente inversa), encontram-se diferentes incli- nações referentes às características individuais de cada fabri- cante, da norma relacionada, diferentes comprimentos da linha de transmissão e outras. Segundo Almeida (2008, p.44), a escolha do grau de inclinação da curva é determinada pelos comprimentos das linhas protegidas. As linhas curtas são associadas a uma característica extremamente inversa ao relé de sobrecorrente, visto que o nível de curto-circuito é praticamente o mesmo ao longo de toda a linha. As característi- cas muito inversa e inversa são relacionadas às linhas de compri- mento médio e longo, respectivamente. Dentre os modelos com diferentes aspectos construtivos apresen- tados, sabe-se que os relés eletromecânicos não apresentam bom desempenho no fechamento do seu contato para o intervalo de múltiplos de 1,0 a 1,5. Para evitar que o relé opere nessa região, ajusta-se a corrente do relé (pick-up) segundo a equação: 66 UNIUBE O fator 1,5 que multiplica a corrente nominal de carga deixa uma fol- ga para possíveis flutuações e transferência de carga ou manobras na configuração da rede sem a atuação do relé. Escolhendo uma corrente de ajuste com valor próximo ao limite inferior da equação, aumenta-se a garantia de atuação na faixa de alcance de sua pro- teção, pois o relé terá um ajuste maior que seu limiar de operação para uma mínima corrente de curto-circuito. No outro termo da equação, o fator 1,5 que divide a corrente de cur- to-circuito mínimo garante que a menor corrente de curto-circuito seja 1,5 vezes o limiar da operação. Ampliando o conhecimento Outros tipos de relé de sobrecorrente apresentam grande importân- cia e são amplamente utilizados na proteção de sistemas elétricos, como o relé de sobrecorrente temporizado com elemento instantâ- neo e o relé de sobrecorrente de neutro (sequência zero). Busque em bibliografias, como Kindermann (1999), o conteúdo relacionado a tais dispositivos, aplicações, critérios de ajustes e outros. 2.4. Relé direcional (67) O relé de sobrecorrente direcional apresenta sensibilidade ao sen- tido do fluxo de energia em relação a sua referência de polarização UNIUBE 67 previamente estabelecida, permitindo uma melhor proteção do SEP e das condições para sua coordenação. Assim, o relé direcional necessita de uma grandeza utilizada como referência de polarização, geralmente a tensão, e uma grandeza de operação, função normalmente exercida pela corrente. A comparação fasorial das posições relativas da referência de po- larização e da grandeza de operação definem a derecionalidade do relé, produzindo o sentido do fluxo de energia de operação ou do curto-circuito. Como a tensão é comumente utilizada como refe- rência de polarização, a corrente, a grandeza de operação, VPOL e IOP serão adotados para a análise do diagrama vetorial (fasorial) de funcionamento do relé direcional, como na Figura 2.9. Figura 2.9 - Diagrama vetorial (fasorial) de funcionamento de um relé direcional Fonte: Guarani (2007, p. 20). A Figura 2.9 ilustra um diagrama fasorial com ângulo de máximo torque (sensibilidade máxima) igual a τ, sempre relacionado à ten- são de polarização (referência), e a linha do conjugado nulo (região de não atuação) é localizada 90° dessa linha. 68 UNIUBE Como as condições de operação do relé direcional dependem da polaridade dos circuitos de tensão e corrente, amostrados por seus respectivos TP e TC, sua conexão com um sistema elétrico trifásico pode ser realizada de diversas maneiras. O tipo de conexão, ligação ou polarização é determinado pelo ân- gulo entre a tensão de referência de polarização e a corrente do cir- cuito de operação. Considerando o sistema com fator de potência unitário e sequência positiva (direta), os tipos de polarização mais comuns são: quadratura ou 90°, 60° e 30°. Utilizando a tensão da fase A (VAN) como referência para o diagrama fasorial, a tensão de polarização em quadratura (90°) é dada por A Figura 2.10 ilustra o diagrama fasorial da polarização em qua- dratura, juntamente com seu diagrama unifilar, em que é possível observar o ângulo de defasagem de 90° entre VBC e VAN. UNIUBE 69 Figura 2.10 - Diagrama fasorial da polarização em quadratura e diagrama uni- filar de conexão do relé de sobrecorrente direcional para essa conexão Fonte: Guarani (2007, p. 21). Utilizando o mesmo raciocínio, para os relés direcionais de outras fases, é necessário realizar a devida rotação das fases. Assim, por exemplo, o relé diferencial da fase C polarizado em quadratura uti- liza a tensão de polarização VAB. Utilizando novamente a tensão da fase A (VAN) como referência para o diagrama fasorial, a tensão de polarização a 60° do relé di- recional de fase A é dada por (VAN + VBN) ou –VCN. Do mesmo modo, a tensão de polarização a 30° do relé direcional de fase A é dada por VAC. 70 UNIUBE Saiba mais Procure desenvolver o diagrama fasorial e o diagrama unifilar de conexão do relé de sobrecorrente direcional para as polarizações a 60° e 30°. Fonte: Elaborado pelo autor. A Figura 2.11 ilustra uma configuração em anel, sendo que a coor- denação da proteção utiliza unidades direcionais em cadeia dupla, exceto para os relés da fonte. As setas sobre cada uma das repre- sentações dos relés indicam para qual sentido de corrente os relés apresentam sensibilidade. Figura 2.11 - Diagrama unifilar de um sistema em anel com falta no ponto P Fonte: Duarte (2013, p. 31). Considerando os tempos de atuação dos relés TF < TE <... < TA < T1 e Ta < Tb <... < T2, caso ocorra uma falha no ponto P, observa- se que a corrente de falha I’P percorre os relés de sobrecorrente UNIUBE 71 direcionais A, B, C, D e E. O mesmo acontece com a corrente de falha IP, mas relacionada ao relé de sobrecorrente direcional f. Assim, o relé f atuará devido à corrente IP, enquanto o relé E atuará devido à corrente I’P, resultando na abertura desses dois disjunto- res e isolando o ponto de falha (P). Por serem direcionais, os relés que atuam nos disjuntores a, b, c, d e e não são sensíveis à cor- rente de falta I’P. De forma análoga e independente do seu valor, o relé que atua no disjuntor F não é sensível à corrente de falta IP. Considerações finaisNeste capítulo, caro(a) aluno(a), abordamos a utilização do relé de sobrecorrente como elemento básico para a realização da proteção de um sistema elétrico de potência (SEP) e de sua designação dentro da norma de dispositivos de proteção ANSI/IEEE C37.2. Nessa mesma tabela, foram destacados elementos que serão utili- zados nos próximos capítulos e que, também, apresentam grande importância para a proteção de SEP. Devido às suas características, os relés de sobrecorrente instantâ- neo (50) e temporizado (51) foram foco neste estudo. Com opções de curvas características de tempo definido e inverso, observou- se a caracterização e a existência de diferenças em tais parâme- tros segundo dados de fabricantes e das normas IEC 60255-151 e IEEE C37.112. Com relação aos tipos de relés de sobrecorrente, foram considera- dos os aspectos construtivos (eletromecânico, estático e digital), a atuação do circuito a proteger e a instalação do dispositivo. 72 UNIUBE A sessão de ajuste da corrente de pick-up para atuação do relé de sobrecorrente abordou conceitos básicos e comentou acerca da corrente de ajuste para os relés de sobrecorrente instantâneo, temporizado de tempo definido e de tempo inverso. Mesmo não sendo abordado no conteúdo, foi solicitado o estudo do relé de sobrecorrente temporizado com elemento instantâneo (51/50) e do relé de sobrecorrente neutro (sequência zero), devido à grande im- portância e à ampla utilização deles. Ao final do capítulo, foi abordado o relé de sobrecorrente direcional, item de grande importância para a proteção de sistemas elétricos de potência, como na configuração de ligação em anel. De grande importância, observou-se a polarização do relé direcional por meio da análise do diagrama fasorial (vetorial) das grandezas de polari- zação e operação. A utilização de um rápido exemplo ao final do capítulo concluiu o raciocínio desenvolvido a respeito do tema e observou-se a neces- sidade de um estudo detalhado acerca da coordenação de siste- mas de proteção. Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução Relés de distância e suas aplicações Capítulo 3 Olá, aluno(a). Neste capítulo – Relés de distância e suas aplicações – continuaremos o estudo do conteúdo referente à disciplina Proteção de Sistemas Elétricos. O conteúdo da disciplina abordou, até o presente capítulo, a importância da proteção de sistemas elétricos de potência (SEP), transformadores redutores de tensão e relés de sobrecorrente. Ainda serão abordados os tópicos de relés de distância e sua aplicação, teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção, proteção de transformadores, geradores, barramentos e motores de indução de grande porte, além de novas tecnologias aplicadas na proteção de sistemas de potência. Neste capítulo, será apresentado o funcionamento de um relé de distância com a análise de seu funcionamento no sistema de proteção, de forma geral e em sua utilização como proteção de linhas de transmissão ou sistema de potência. Dentre os relés de distância, são objetos de estudo os tipos eletromecânico (impedância e reatância) e digital. Para os relés de distância eletromecânicos, são apresentadas e estudadas curvas características para os tipos à impedância e à reatância, além de algumas equações dos modelos com seus torques e funcionamentos. 74 UNIUBE Conhecendo-se os princípios de funcionamento de um relé de distância, o relé de distância digital é caracterizado por suas funções que vão da proteção, medição, monitoramento a compensações no tempo de fechamento de disjuntores em sua lógica de proteção. Assim, os relés de distância digitais são equipamentos de alto desempenho e apresentam interface por software dedicado. Contudo, para todo o sistema que necessita realizar medições ou amostragem de sinais, nos sistemas elétricos de potência, existem fatores que causam perturbações e, consequentemente, podem prejudicar o bom funcionamento de dispositivos e sistemas de proteção. Alguns erros de medida são encontrados na utilização desses relés, os quais serão listados ao final do capítulo. Vale destacar que o estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência não deve ser restrito ao material ou ao conteúdo apresentado. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento, principalmente quando o assunto abordado é de interesse ou de grande utilidade para você. UNIUBE 75 • Aprender o que é e como se comporta um relé de distância. • Distinguir e entender os diferentes tipos de relés. • Identificar qual relé eletromecânico é mais indicado para situações diversas. • Conhecer as causas de perturbação nas medições des- ses aparelhos. 1. Entendendo o funcionamento de um relé de distância 2. Relés de Distância Eletromecânicos 2.1. Tipos de relés de distância eletromecânicos 2.1.1. Relé de distância à impedância ou Relé OHM 2.1.2. Relé de Distância à Reatância 2.1.3. Relé de Distância à Admitância ou Relé MHO 2.2. Indicações dos Relés de Distância 3. Relé de distância digital 3.1. Unidade de medida de distância 3.2. Unidade de supervisão para frente e para trás 4. O que pode causar perturbação de medição Objetivos Esquema 76 UNIUBE Caro(a) aluno(a), relés são elementos constituídos de bobinas de tensão e corrente, armadura de ferro e um disco de indução, fazen- do com que sua aplicação seja como um interruptor, no caso, um interruptor eletromecânico em que a corrente elétrica que passa pela bobina cria um campo magnético que atrai a chave, a ala- vanca ou o tipo de elemento mecânico que será responsável pela mudança de estado, aberto ou fechado, mudando o caminho que a corrente seguiria. O nome relé de distância é dado pois são elementos capazes de determinar a impedância quando há ocorrência de curto-circuito, a impedância é diretamente proporcional à distância entre o ponto de instalação do relé e o ponto de defeito, por isso o seu nome. A característica que torna esses elementos tão importantes para sistemas de proteção é o fato de serem isolados, primário e se- cundário, acarretando, assim, grande confiabilidade e seguran- ça para linhas de transmissão e para a necessidade de opera- ções de manutenção. Um modelo muito confiável de proteção é o que compara a cor- rente que entra em circuitos, ou equipamentos protegidos, com a corrente que sai deles. Porém, quando se fala em linhas de transmissão, o comprimento dos condutores, geralmente bastan- te longos, inviabiliza a prática de comparar a corrente que entra na linha com a corrente que sai. Os relés de distância comparam a corrente no local onde eles são instalados com a tensão tam- bém local, ambas no início da linha, da fase correspondente, ao invés de fazer a comparação inviável da corrente do início com a do final da linha, como antes dito. Desenvolvimento3.1 UNIUBE 77 Da comparação entre V (tensão) e I (corrente), resulta Z (impedân- cia), na relação a seguir: Z = V/I Para exemplificar a relação de tensão e corrente com a distância onde um defeito pode ocorrer, supomos, na figura a seguir, uma rede monofásica em que circula uma corrente I; P é o ponto onde o relé é posicionado, D, onde ocorre o defeito e z, a impedância de cada condutor PD. Figura 3.1 - Exemplo de medição dos relés de distância Fonte: Caminha (1977, p. 50). 78 UNIUBE Simplificando, vamos supor que o defeito é franco ou metálico, sen- do possível desprezar a resistência do arco (r = 0). Com isso, te- mos as tensões em e D1 e D2: V V V V V V V V VP P P P D D D D P= − = −( ) + −( ) + −( )1 2 1 1 1 2 2 2 = + +z I r I z I* * * , ou V zIP = 2 (pois r = 0) ou seja, 2z V IP= / Dessa forma, pode-se dizer que, nesse caso, em um curto-circuito no ponto D, a impedância aparente no ponto P é igual à impedân- cia do anel PDD P1 1 2 2 . Como é de conhecimento, z=ρl/s, portanto, a impedância (z) da linha é proporcional ao comprimento (l) dela, comparando-se, assim, as grandezas de tensão e correntecom o ponto de aplicações do relé (CAMINHA, 1977). 3.1.1. Entendendo o funcionamento de um relé de distância Para melhor entender o funcionamento de um relé de distância, usaremos a imagem da Figura 3.2, simulando um defeito na linha e o que aconteceria nesse exposto. UNIUBE 79 Figura 3.2 - Representação de falha em um sistema de potência Fonte: Relés… ([2016], on-line, p. 3). Na Figura 3.2, observamos um defeito no ponto P, localizado na linha L3. Acerca desse acontecimento, podemos considerar: • Tensão nula no ponto P no momento em que o defeito ocorre. • Correntes I1 e I2, que circulam nas linhas L1 e L3, constantes. • Tensão crescente no sentido do ponto de defeito à fonte G1 e à fonte G2, desprezando resistência de arco. • Assim como a tensão, a impedância cresce do ponto de defei- to à fonte G1 e à fonte G2. 80 UNIUBE A atuação dos relés, independente se são eletromecânicos ou digi- tais, respeitará os aspectos funcionais indicados no fluxograma da Figura 3.3 e será da seguinte forma: • Início da contagem do tempo. • Atuação da unidade de seleção de fases. • Acionamento das unidades direcionais e de medida. • A unidade direcional abre ou fecha seus contatos dependen- do dos valores de tensão de polarização e corrente de defeito vindas da unidade de seleção. • A unidade de medida aquisita os valores de tensão e corrente de defeito vindas da unidade de seleção. UNIUBE 81 Figura 3.3 - Fluxograma dos aspectos funcionais dos relés de distância Fonte: Relés… ([2016], on-line, p. 5). 82 UNIUBE Com a lógica definida no projeto de proteção, os relés atuarão da seguinte forma: • O primeiro relé a operar será o R3, pois a impedância vista por ele é menor do que a vista pelos demais relés. • Em seguida, operará o relé R4. • O relé R1, considerado de segunda contingência, acionará apenas na falha de operação do conjunto relé R3 e o disjuntor da barra B. • Os relés R2 e R3 devem ser equipados com unidades direcio- nais, para que apenas o R3 opere. • Com a unidade direcional, evitaria que o relé R2, que vê a mesma impedância que o relé R3, funcionasse, acarretando desenergização das linhas L4 e L5 desnecessariamente. 3.2. Relés de Distância Eletromecânicos Em sua forma geral, os relés eletromecânicos são constituídos de uma armadura de ferro, disco de indução e bobinas de tensão e corrente. Cada relé possui duas ou mais unidades ôhmicas que utilizam a impedância (R + jX), medida do início da linha, local de instalação dos relés de distância ao ponto de defeito. A unidade ôhmica apresenta um torque expresso pela equação a seguir: T K I K V I cos K= × − × × × −( )−1 2 2 3ϕ θ Sendo que: UNIUBE 83 I : corrente do circuito. ϕ: ângulo de defasagem entre e. θ: ângulo de projeto do relé. K3 : constante de mola de restrição. Quando se analisa, na posição de equilíbrio, limite de atuação, em que T = 0 e K3 , tem-se: K K V I cos1 2 = × −( )ϕ θ Com V / I correspondendo à impedância, temos: K K Z cos1 2 = × −( )ϕ θ A representação dessa equação, no plano R-X, indica o lugar ge- ométrico para o torque nulo do relé, como mostrado na Figura 3.4. O semiplano inferior, abaixo da reta representada, denota onde o torque é positivo, e o semiplano superior, onde o torque é negativo. Valores de torque são importantes para os ajustes dos relés de distância, delimitando sua região de operação e de não operação, como será visto adiante. 84 UNIUBE Figura 3.4 - Representação geométrica das características de distância Fonte: Relés… ([2016], on-line, p. 8). 3.1. Tipos de relés de distância eletromecânicos 3.1.1. Relé de distância à impedância ou Relé OHM São, por definição, relés de sobrecorrente com restrição por ten- são. Apresentam o seguinte torque: T K V K I K= − × + × −1 2 2 2 3 Na posição de equilíbrio, tem-se: Z K K = 2 1 UNIUBE 85 Isso nos dá suas curvas características, como mostrado na se- guinte figura: Figura 3.5 - Características dos relés de distância para e constantes Fonte: Relés… ([2016], on-line, p. 9). Os relés são, portanto, ajustados para um certo valor de impedân- cia (Z), referente ao comprimento da linha que deverá ser protegi- da. Qualquer valor menor ou igual ao valor ajustado fará com que o relé seja ativado. Na prática, um relé de impedância é constituído de diversas partes, por exemplo: • Unidade de partida, geralmente direcional. • Unidades de medida de impedância de alta velocidade, geral- mente três (Z1- Z2-Z3 e T1-T2-T3). 86 UNIUBE • Unidade de temporização. • Unidade de bandeirola (sinalização) e selagem (bloqueio de contatos). De posse dessas informações, é possível ter a representação grá- fica desse relé: Figura 3.6 - Características do relé de distância Fonte: Relés… ([2016], on-line, p. 10). A Figura 3.6 apresenta um círculo com centro na origem, em que Z1- Z2-Z3 são unidades de medida, e T1-T2-T3 são as unida- des de temporização, e as regiões superiores e inferiores, torque UNIUBE 87 positivo e torque negativo (restrição), são delimitadas pela posição de equilíbrio. O ângulo de torque máximo é ajustado em fábrica com um ângulo, geralmente, de 75º, corrente em atraso da tensão. Se for preciso outro valor, pode-se ajustar conforme necessidade. Quando existir, ao longo do sistema, um transformador de potên- cia, seu valor ôhmico pode ser calculado pela fórmula: Z V Z Pt nt tr nt = × ×10 2 Em que: Vnt: Tensão nominal primária do transformador (KV). Pnt: Potência nominal do transformador (KVA). Ztr: Impedância percentual do transformador (%). 3.1.2. Relé de Distância à Reatância Por definição, esse relé é de sobrecorrente com restrição direcio- nal, com uma equação de torque da forma: T K I K VIcos K= − −( ) −1 2 2 3ϕ θ Devido à ocorrência de curto-circuito e do defeito correspondente, seu funcionamento baseia-se no fluxo produzido pelos enrolamentos 88 UNIUBE de tensão e corrente. Fazendo-se θ = 90º e considerando condição equilíbrio, ou seja, T = 0 e despreza-se K = 3, temos: K K Z cons1 2 90= × −( )ϕ Como, cos senϕ ϕ−( ) =90 tem-se: K K Z sen1 2 = × ϕ Portanto: K K X1 2 = Como mostrado na Figura 3.7, essa equação forma uma reta para- lela ao eixo dos em R-X. Figura 3.7 - Curva característica para um relé de distância à reatância Fonte: Relés… ([2016], on-line, p. 18). UNIUBE 89 Segundo literatura, a resistência de arco no caso de uma falta entre duas fases de uma linha de transmissão de 69 kV pode ser dada pela equação: R L Ia a cc = ×287 1 4, Sendo: La: Comprimento do arco (cm); LCC: Corrente de curto-circuito (A). Importante Para não causar confusão em suas buscas, em diversas literaturas, além da utilização da palavra “torque” para expressar a equação do relé característico, também se encontra a palavra “conjugado”, que são sinônimas. 3.1.3. Relé de Distância à Admitância ou Relé MHO Por definição, é um relé direcional com restrição por tensão. A equação característica de seu conjugado fica na forma: T K V K V I cos K= − × + × × × −( )−1 2 2 3θ ϕ 90 UNIUBE Nas condições de equilíbrio, no limite de seu ponto de operação, temos T=0 e K3= 0. A e. A partir disso, temos: V I K K cos= × −( )2 1 θ ϕ Logo: Z K K cos= × −( )2 1 θ ϕ A curva característica dessa equação é expressa por meio de uma representação polar de uma circunferência, em que o torque po- sitivo é encontrado em pontos na região situada no interior dessa circunferência e o torque negativo, em pontos fora desse limite. Figura 3.8 - Características do relé à distância por admitância Fonte: Relés… ([2016], on-line, p. 20). UNIUBE 91 O relé de distância à admitância é constituído, normalmente, pela unidade de partida direcional e pela unidade de medida de admi- tância, composto por três unidades: M1, M2, M3 . 3.2. Indicações dos Relés de Distância Referentes as suas vantagens de aplicação, os diferentes relés são indicados segundo necessidades físicas ou para amenizar proble- mas que podem ser encontrados no ambientea serem instalados. Dessa forma, segue parâmetros e relés indicados para suas apli- cações em campo: • Relé de Impedância ou Relé OHM - para a proteção de linhas de comprimento médio considerando o seu nível de tensão. Por exemplo, no caso de uma linha de transmissão de 230 KV, con- sidera-se comprimento médio a distância igual a 200 Km. • Relé de Reatância - para a proteção de linhas de transmissão de comprimento curto, haja vista seu nível de tensão, em que a re- sistência tem valor apreciável em relação à indutância, e os arcos voltaicos não podem ser desconsiderados. Foram desenvolvidos para reduzir o efeito do arco no ponto de balanço do relé, quando ocorre defeito, e são bastante afetados por oscilações. • Relés de Admitância ou MHO - em relação a seu nível de ten- são, são indicados para a proteção de linhas de transmissão consideradas de comprimento longo, ou seja, para linhas lon- gas e de mais alta tensão. São muito afetados pela resistên- cia de arco voltaico, entretanto, são insensíveis à oscilações do sistema, sendo usados na prática de proteção de linhas. 92 UNIUBE 3.3. Relé de distância digital Os relés de distância digitais apresentam funções que vão da pro- teção, medição, monitoramento até compensações no tempo de fechamento de disjuntores em sua lógica de proteção. São equipa- mentos de alto desempenho com interfaces por software dedicado. Dica É importante saber a diferença entre um sistema automatizado e um sistema digitalizado. Sistema automatizado não tem a ca- pacidade de armazenar informação, apenas traduz para alguma forma, por exemplo, quando os relés de proteção de uma subes- tação são do tipo eletromecânicos, eletrônicos ou, até mesmo, digitais e são acoplados a transdutores, conectando esses ele- mentos a um computador que transmite o que está acontecendo a um quadro luminoso, sonoro ou qualquer tipo de sinalização no quadro de comando. Ou seja, o transdutor apenas transforma va- lores de corrente, tensão ou potência em sinais elétricos reconhe- cíveis. No sistema digitalizado, entende-se que os relés aplicados são do tipo numérico; os disjuntores, as chaves de abertura têm comando motorizado e são submetidos a um programa opera- cional dedicado, todos em um sistema comum e específico para armazenar e, dependendo do sistema, tomar medidas cabíveis referentes ao histórico de dados ou à necessidade Fonte: adaptada de Mamede (2007). UNIUBE 93 3.3.1. Unidade de medida de distância O relé de distância digital tem, geralmente, quatro zonas de pro- teção independentes e pode ter as características dos três relés eletromecânicos apresentados anteriormente: • Características de impedância - utilizadas para medir as dis- tâncias de faltas. • Característica de reatância - utilizada para fazer ajuste do sistema. • Característica de admitância - os relés são polarizados pela corrente de sequência positiva à fase considerada. 3.3.2. Unidade de supervisão para frente e para trás Esses relés de distância apresentam uma unidade de monitora- mento da sobrecorrente que, por sua vez, supervisiona a operação das unidades de medida de distância, estabelecendo um valor mí- nimo de corrente de atuação. Essas unidades não têm a função de detectar a direção da falta, mas de coordenar o ajuste de direção do relé, visto que são unidades de sobrecorrente, sensibilizadas pela corrente de fase ou entre fases cujo valor supere o valor ajustado. Resumo das vantagens dos relés digitais frente aos eletromecânicos: • Conexão com sistema de informação central controlado de pontos remotos. • Armazenamento de informações referentes a eventos do sis- tema elétrico. 94 UNIUBE • Menor espaço ocupado em painéis de comando. • Ajustes de características operacionais realizados sem desligamento. • Ajustes de características operacionais realizados de pontos remotos. • Sistema de autossupervisão. Pelas características apresentadas, esses relés são de grande im- portância para projetistas dos sistemas de proteção e seletividade. O uso de relés de distância digitais é muito comum, visto que são sistemas robustos e que conseguem tomar decisões, em suas uni- dades centrais de controle, quase em tempo real. O ajuste desses relés deverá ser realizado para que seja obtido o torque positivo para valores de impedância abaixo dos valores ajustados. Relembrando Torque positivo: região de operação. Torque negativo: região de não operação. UNIUBE 95 3.3.4. O que pode causar perturbação de medição Como em todos os sistemas de medições, existem fatores que cau- sam perturbações e, consequentemente, podem prejudicar o bom funcionamento de dispositivos e de sistemas de proteção. Segundo Mamede Filho (2007), alguns erros de medida são encontrados na utilização desses relés, como quedas de tensões, impedâncias além das consideradas, dentre outros. Nos relés de distância, os erros podem ocorrer devido a razões como: • Inexistência ou insuficiência de transposição dos condutores da linha, ou seja, desequilíbrio entre fases e fase e neutro (5- 10% de erro esperado). • Variação da impedância ao longo das linhas em paralelo cau- sada, por exemplo, pela não homogeneidade do solo ou vias férreas paralelas ao percurso da linha. • Erros referentes aos redutores de medida de corrente e ten- são devido à saturação de seus núcleos e mudanças de suas características iniciais com exposição contínua a correntes de defeito (erro de 3% ou mais). • Erros devido a variações climáticas, à temperatura do am- biente e às condições de resfriamento dos condutores, outros fatores climáticos são direção e velocidade do vento. • A construção do relé. Por mais que os relés sejam feitos da mes- ma forma, com os mesmos componentes, pela mesma empre- sa, existem pequenas diferenças nas construções e, por sua vez, pequenas variações na medição de cada um deles. 96 UNIUBE Para a correta operação, relés de distância modernos necessitam de compensações intrínsecas que permitam resultar em medidas confiáveis, mesmo levando em conta todos esses erros que são, de certa forma, inevitáveis e inerentes à cada relé de distância. Considerações Finais Neste capítulo, prezado(a) aluno(a), pudemos ter uma ideia intro- dutória dos sistemas utilizados para a proteção de linhas de trans- missão, com o foco nos relés de distância. Esses elementos são de grande importância, tornando seguro e eficiente os sistemas de proteção no conjunto de barramentos, disjuntores, transformadores dentre outros elementos que contemplam as linhas de transmissão. De forma geral, vimos os tipos de relés de distância existentes, bem como suas características construtivas e técnicas, as quais delimitam qual aparelho deve ser utilizado em cada situação para prover o melhor desempenho e a redução de erros nos sistemas de grande potência. Observou-se que todos os aparelhos que têm a função de medi- ção, ou atuação segundo alguma medição, sofrem interferências, sejam elas causadas por efeitos naturais, características físicas do ambiente e climáticas ou por problemas advindos de erros huma- nos, como projeto do sistema sem atender às necessidades dos elementos que nele atuam. Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução Teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção Capítulo 4 Em sistemas elétricos de potência (SEP), temos várias formas de proteção e requisitos necessários para se operar com operadoras e distribuidoras de energia elétrica. Dentro desses requisitos e necessidades, é saliente ter sistemas de proteção eficientes e confiáveis que, ao menor sinal de problema na linha, atuem de forma a diminuírem ou evitarem prejuízos, tanto financeiros quanto de falta de energia. Neste capítulo, vamos ver os sistemas de teleproteção e de coordenação da proteção de sistemas elétricos de potência. Esses dois elementos que atuam na proteção tem como características aumentar a confiabilidade do sistema de energia, melhorar o desempenho da proteção, ouseja, atuar como guardiões de um complexo sistema de transmissão. Como dado técnico importante, destacamos que toda a carga transmitida por FURNAS é monitorada, em tempo real, por mais de 900 equipamentos de teleproteção, que operam associados aos painéis de proteção instalados nas casas de controle ou de relés, situados nas subestações. Os painéis de proteção analisam os parâmetros de segurança operacional dos elementos que compõem o sistema elétrico de potência, como transformadores, disjuntores, capacitores etc., e acionam, em situações anormais, os equipamentos de teleproteção, que, por sua vez, entram em ação em frações de segundo, evitando, assim, danos maiores ao sistema de transmissão. Para a proteção de sua malha de transporte de energia, FURNAS utiliza de quatro a oito equipamentos por cada circuito. O país tem, hoje, mais de 176 mil km de linhas, o que o coloca entre os quatro maiores no ranking mundial em extensão na área de transmissão. Desse total, 18.717 km fazem parte da rede básica de FURNAS, configurada em linhas com tensões de 138, 230, 345, 500, 750 e ± 600 kV, que passam por oito estados e o Distrito Federal. Por elas, transitaram no ano passado 179,5 TWh de energia. Além disso, a capacidade de transformação das subestações alcançou o total de 91.797 MVA, 6,7% a mais que o registrado em 2002 (TRANSMISSÃO..., 2004). Figura 4.1 - Linhas de transmissão Fonte: ILYA AKINSHIN, 123RF. UNIUBE 99 Podemos ver, por esses dados, a importância de se manter um sistema confiável e seguro. Nas redes de transmissão atuais, quase todas as subestações são monitoradas e controladas on-line, por Sistemas de Gerenciamento de Energia. As principais linhas de transmissão, geralmente, são equipadas com cabos de fibra óptica, em sua maioria, integrados a cabos aéreos OPGW (optical groundwire), em que as subestações são acessadas por meio de sistemas de comunicação de alta velocidade. Segundo Caminha (1977, p. 198), “um sistema elétrico deve ser equipado com diversos dispositivos protetores, estrategicamente situados, destinados a protegê-lo efetiva e seguramente contra todos os defeitos de isolamento ou outros funcionamentos anormais”. Em capítulos anteriores, pudemos ver vários dispositivos de proteção, como relés, fusíveis, transformadores, dentre outros. Esses elementos não atuam de forma independente, ao contrário, nos sistemas elétricos industriais, esses elementos devem ter relações entre si, de modo que uma anormalidade do sistema possa ser isolada e, rapidamente, removida sem que outras, em sequência, sejam afetadas. Ou seja, os elementos desse capítulo nos mostrarão como os dispositivos protetores devem ser coordenados para uma operação seletiva e eficiente. Dessa forma, nessas condições, podemos dizer que tanto o sistema de teleproteção quanto o de coordenação têm por finalidade isolar a parte defeituosa tão próximo quanto possível de sua origem e fazer o isolamento no mais curto tempo, sempre visando à redução de danos. 100 UNIUBE • Contextualizar a importância dos sistemas de proteção em linhas de transmissão. • Entender os conceitos de teleproteção e coordenação de proteção. • Aprender os tipos de teleproteção e suas formas de atuação. • Conhecer os princípios que regem a coordenação de proteção. 4 Teleproteção 4.1 Introdução 4.2 Tipos de teleproteção 4.2.1 Onda portadora 4.2.2 Fibra óptica 4.2.3 Telefonia 4.3 Tipos de transferências em teleproteção 4.3.1 Transferência de disparo direto de subalcance (DUTT) 4.3.2 Transferência de disparo permissivo de subalcance (PUTT) 4.3.3 Transferência de disparo permissivo de sobrealcance (POTT) 4.4 Coordenação 4.4 Introdução 4.5 Coordenação de proteção 4.6 Princípios básicos de proteção. Objetivos Esquema UNIUBE 101 4.6.1 Princípio da Quantidade 4.6.2 Princípio da Localidade 4.6.3 Princípio da Retaguarda 4.6.4 Princípio da Sensibilidade 4.6.5 Princípio da Suportabilidade 4.6.6 Princípio da Seletividade 4.7 Procedimentos de seletividade que podem ser aplicados em uma instalação elétrica 4.7.1 Seletividade Amperimétrica 4.7.2 Seletividade Cronométrica 4.7.3 Seletividade Lógica 4.8 Conclusão 4.9 Referências Teleproteção4.1 4.1.1 Introdução Os equipamentos de teleproteção são considerados os guardiões de um complexo sistema de transmissão, haja vista que conse- guem cobrir grandes extensões de linhas de transmissão e atuam de forma rápida e segura. A velocidade de comunicação e a confiabilidade são fatores extre- mamente importantes quando se fala em comunicação e proteção. Os equipamentos de teleproteção, de diferentes tipos, que veremos a seguir, têm essas características importantes, desempenhando o papel de proteção de maneira muito eficaz. 102 UNIUBE A tecnologia e a utilização de teleproteção abrangem extensões bastante grandes, extremidades de linhas entre subestações, por exemplo. Devido a essas grandes extensões, podem ocorrer pro- blemas de sincronismo e de correto funcionamento das funções desses equipamentos. Assim, quando instalados os elementos de proteção, são feitos testes em pontos diferentes do sistema e ob- servam-se se os equipamentos “enxergam”, trocam informações e executam procedimentos adequados entre si perante o mesmo problema, validando, desse modo, a funcionalidade. Para esses testes, muitas vezes, é utilizado o GPS, fazendo testes de ponta a ponta, de modo a simular situações em que ocorreriam faltas, de forma a parecerem reais. No sistema de teleproteção, os sinais são transferidos de um ponto a outro ponto, extremos de uma linha de transmissão, mediante meios de comunicação diferentes, como veremos a seguir. 4.2 Tipos de teleproteção 4.2.1 Onda portadora Onda portadora ou comunicação carrier tem seu funcionamento baseado em transferência de uma corrente de baixa tensão, alta frequência e baixa intensidade, variando de 20 a 400 KHz entre seus terminais da linha de transmissão. Essa corrente é transmitida pelo próprio condutor da linha de transmissão. Esse sistema de onda portadora é composto, geralmente, pelos elementos seguintes: UNIUBE 103 • Transmissor - receptor. • Capacitor de acoplamento. • Filtro de onda. O Transmissor-receptor, como o próprio nome diz, envia um sinal de alta frequência sempre que receber uma informação do sistema de proteção. Esse sinal, por sua vez, chega ao capacitor de acopla- mento e repassa à linha de transmissão. O capacitor trabalha, tam- bém, como um filtro, deixando passar correntes de alta frequência e bloqueando as corrente de baixa frequência. Por sua vez, o filtro de onda separa as corrente de alta frequência, a onda portadora, e as de baixa frequência, correntes de carga. 4.2.2 Fibra óptica Esse tipo de teleproteção é feito por meio de um cabo de fibra ópti- ca instalado no interior do cabo de potência da linha de transmissão. Porém tanto a teleproteção de fibra óptica quanto a onda portadora têm o problema de dependerem intimamente da integridade da linha de transmissão para que possam funcionar de maneira correta. 4.2.3 Telefonia Diferente dos anteriores, os sistemas de teleproteção por telefonia ou mesmo por internet não dependem da integridade da linha de transmissão e têm sido amplamente empregados na atualidade. 104 UNIUBE 4.3 Tipos de transferências em teleproteção 4.3.1 Transferência de disparo direto de subalcance (DUTT) Esse tipo de transferência utiliza a zona de subalcance, primeira zona, para acionar a transmissão de um sinal de alta frequência para o terminal remoto. Nesse terminal, remoto, teremos a abertura do terminal, comandada pelo receptor. O defeito na linha de transmissão será evidenciado e eliminado instantaneamente, pois qualquer defeito na linha estará sob a vigi- lância desse sistema. 4.3.2 Transferência de disparo permissivo de subalcance (PUTT) Como o nome evidencia, também é utilizada a primeira zona, su- balcance, que aciona a transmissão do sinal de alta frequência para o terminalremoto, porém, diferente do anterior, a recepção desse sinal somente fará com que os terminais se abram instanta- neamente se a segunda zona desse sistema elétrico de potência mandar o sinal confirmando que há, realmente, um problema na primeira zona, evitando, assim, um acionamento devido a ruídos ou a qualquer interferência. Assim como o anterior, esse esquema proporciona a abertura ins- tantânea dos disjuntores ao sinal de defeito interno da linha. UNIUBE 105 4.3.3 Transferência de disparo permissivo de sobrealcance (POTT) Diferente do PUTT, esse esquema tem a atuação dos disjuntores feita pela segunda zona, ao invés da primeira zona. A diferença de ser realizada a atuação pela segunda zona, para todos os defeitos internos à linha, é que a liberação será mandada e feita instanta- neamente pela segunda zona e, por consequência, pela primeira zona também. 4.4 Coordenação 4.4 Introdução Os sistemas de proteção em sistemas elétricos de potência (SEP) são formados por dispositivos de proteção que visam, como função prin- cipal, proteger pessoas e/ou equipamentos em contato com sistemas elétricos. Para a funcionalidade adequada, esses elementos devem ter uma ordem de atuação, bem como um padrão de funcionamento, ou seja, uma ordem descoordenada ou independente de elementos não traria os benefícios necessários para um sistema de proteção. Logo, faz-se importante a organização e o alinhamento dos disposi- tivos de proteção, para assegurar sua eficácia na forma e como será feita a proteção dos elementos visados. A essa proteção designamos o nome de Coordenação da proteção (SILVA, 2012). Para um sistema operar com Coordenação de proteção, deve-se garantir, simultaneamente: • proteção dos equipamentos e das pessoas. 106 UNIUBE • proteção de retaguarda de dispositivos de proteção. • seletividade entre dispositivos de proteção. Em resumo, torna-se necessário locar, especificar e fornecer a po- sição dos dispositivos de proteção para atingir os aspectos ante- riormente mencionados, sempre visando à confiabilidade, à veloci- dade, à economia e à seletividade desse sistema de proteção. Para se fazer uma coordenação de sistemas elétricos de potên- cia com o melhor desempenho possível, primeiramente, faz-se um estudo da coordenação necessária, visando uma metodologia de coordenação da proteção e tendo como orientação os princípios de coordenação, ambos veremos a seguir (SILVA, 2012). 4.5 Coordenação de proteção A técnica, metodologia, para realizar a coordenação do sistema de pro- teção engloba uma série de procedimentos para tornar possível e abran- ger os requisitos de um sistema de coordenação de proteção, mencio- nados na introdução. Silva (2012) destaca os procedimentos que se destinam ao melhor desempenho dos equipamentos de proteção: • tipo de equipamento a proteger. • tipo de equipamento de proteção disponível. • índice de vulnerabilidade do sistema elétrico de potência a falhar. • recurso financeiro disponível. UNIUBE 107 Dentro dessas variáveis, é possível tomar várias ações em decorrên- cia de suas prioridades ou necessidades, tornando evidente, assim, que um sistema de proteção deve ser feito para cada necessidade de projeto, sempre se orientando pelos requisitos necessários citados. Idealmente, seria melhor, e mais fácil, se cada situação tivesse apenas uma solução, sendo viável para todas as situações seme- lhantes, porém anos de conhecimentos adquiridos por engenheiros de proteção e estudos de casos propiciaram a formulação de uma metodologia de coordenação de proteção. A metodologia ou técnica de coordenação apresenta a discussão acerca de como organizar os princípios básicos de proteção, con- sagrados na literatura técnica, para servir na orientação e na exe- cução de uma coordenação do sistema de proteção efetiva. De forma ideal, uma metodologia eficaz para se ter a melhor co- ordenação do sistema de proteção seria transformar a técnica de coordenação em fluxograma e criar um programa computacional para indicar a resposta. Isso foi realizado em meados da década de 60 e, desde então, muitos outros programas apareceram. Esses programas têm seu valor na velocidade de resposta e dão um norte para o projetista, porém não devem ser utilizados como certos, haja vista a infinidade de variáveis locais e alguns problemas que esses softwares não podem prever, como: • qual o melhor, mais adequado, dispositivo a ser usado? • qual o dispositivo mais econômico? • em qual local deve-se instalar o dispositivo de proteção? • qual ajuste deve ser adotado pelo dispositivo de proteção? 108 UNIUBE Figura 4.2 - Eletricista em trabalho Fonte: DMITRY KALINOVSKY, 123RF. Portanto, atualmente, ainda não se fez um software capaz de ad- quirir informações gerais do local em que se deve instalar e de como se instalar, não podendo tomar decisões que apenas os pro- jetistas conseguem. Como essa necessidade do melhor projeto é necessária e ainda não dispomos de um software capaz de nos dar a resposta, a literatura traz os princípios básicos de proteção que foram con- solidados ao longo do tempo e da experiência, gerando uma cultura na área de proteção. UNIUBE 109 4.6 Princípios básicos de proteção Os princípios básicos de proteção foram levantados para nortear e lembrar aos projetistas os fatores necessários que todo projeto deve ter, não necessariamente cobrindo todos, mas sempre lem- brando da necessidade de se avaliar todos. Um projeto de coordenação de sistemas de proteção deve abran- ger os seguintes princípios: • Princípio da Quantidade. • Princípio da Localidade. • Princípio da Retaguarda. • Princípio da Sensibilidade. • Princípio da Suportabilidade. • Princípio da Seletividade. Como já mencionado, esses princípios servem como orientação, a decisão que deve ser tomada cabe ao engenheiro projetista. 4.6.1 Princípio da Quantidade Segundo Silva (2012), esse princípio vem afirmar que todo equi- pamento deve ter, no mínimo, um dispositivo de proteção contra 110 UNIUBE sobrecorrente e, no mínimo, um contra sobretensão. Esse tipo de dispositivo é chamado de dispositivo de proteção principal. Dependendo da aplicação, é necessário mais de um dispositivo de proteção principal por sistema de proteção proposto. Antigamente, a quantidade de dispositivos principais ao longo de uma linha era maior, tendo sempre mais de um dispositivo para cobrir todo o sis- tema elétrico de potência. Com o avanço da tecnologia, hoje, é possível ter apenas um dispositivo de proteção principal, sendo ca- paz, sozinho, de monitorar várias anormalidades simultaneamente e proteger toda uma linha. 4.6.2 Princípio da Localidade O princípio de localidade diz respeito ao local em que o dispositivo de proteção principal deve ser colocado, sendo esse o mais pró- ximo possível do equipamento a ser protegido. Esse fator permite facilidade maior na localização da falta e, portanto, facilidade em restaurar o sistema elétrico de potência com menor quantidade de equipamentos desligados. Para exemplificar e justificar esse princípio, tomamos como base a seguinte figura: UNIUBE 111 Figura 4.3 - Exemplo do princípio de localidade Fonte: SILVA (2012, p.12). A figura anterior exemplifica um sistema elétrico de potência com topologia radial de distribuição em média tensão. Analisando a figura, notamos que, para uma falta nas linhas L1 ou L2, haverá sobrecorrente proveniente das duas fontes, que exige a presen- ça de proteção D2 e D3, que isolam uma das linhas e permitem a continuidade de fornecimento à carga. Para uma falta em L3, a proteção D5 é suficiente para eliminar a falta. Porém o princípio não é rígido. Imagine que a linha L3 é muito comprida e o dis- positivo de proteção D5 não é suficiente para detectar a falta na barra 4, temos a justificativa de um dispositivo D6 na chegada da linha L3 na barra 4; pensando em outra possibilidade, teríamos a necessidade de deslocar até o dispositivo de proteção D5 para efetuar o religamentoapós reparo. 112 UNIUBE 4.6.3 Princípio da Retaguarda O princípio da Retaguarda afirma que todo dispositivo de prote- ção principal deve ter, ao menos, um outro dispositivo de proteção operando em sua retaguarda, de modo que, ocorrendo a falha do dispositivo de proteção principal, a proteção de retaguarda garante a proteção do equipamento a ser protegido. Esse princípio está intimamente ligado à confiabilidade do dispositi- vo de proteção e ao custo desse sistema, vendo se a necessidade é real frente ao custo desse aparato (SILVA, 2012). 4.6.4 Princípio da Sensibilidade Esse princípio denota que o dispositivo de proteção deve atuar sempre que houver menor condição anormal do equipamento pro- tegido ou situação que o coloque em risco, ou seja, o dispositivo de proteção deve ser sensível ao menor valor de anormalidade. Além desse estado alerta de anormalidade, o dispositivo de pro- teção deve permitir que o equipamento protegido opere em todas as suas funcionalidades de forma plena, ou seja, no modo normal, emergencial e transitório esperado e especificado para sua catego- ria e atuação. 4.6.5 Princípio da Suportabilidade Segundo Silva (2012), esse princípio diz que o dispositivo de prote- ção deve atuar o mais rápido possível sempre que houver condições UNIUBE 113 anormais no aparelho a ser protegido, em que os limites de supor- tabilidade do equipamento protegido não sejam ultrapassados. Esses limites que devem ser protegidos são informações técnicas obtidas com o fabricante do equipamento. São limites máximos dos valores de corrente e tensão admissíveis pelo tempo máximo de exposição a essas características, ou seja, o quanto o equipamen- to é capaz de suportar. A forma como esses dados são aquisitados, geralmente, são na forma de gráficos, as chamadas curvas de suportabilidade; com o auxílio dessas curvas, o projetista analisa e determina o tempo má- ximo em que o equipamento pode ficar exposto para determinada anormalidade. Esse valor de tempo sempre deve ser superior ao tempo de atuação do sistema de proteção. 4.6.6 Princípio da Seletividade Refere-se ao princípio em que todos os dispositivos de proteção mais próximos do local de falta devem atuar o mais rápido possí- vel para isolar essa falta. Essa forma de seleção, quando há falta, garante que outros setores, subsequentes a esse, não sejam afe- tados juntamente. Esse princípio engloba a necessidade de ter uma visão maior do conjunto dos dispositivos no sistema elétrico de potência, eviden- ciando um olhar mais criterioso do projetista. Uma coordenação bem feita garante a retirada de operação da menor quantidade de equipamentos e garante uma possível continuidade da operação do sistema elétrico. 114 UNIUBE Para melhor entender: a Seletividade é a característica que o sistema elétrico de potência deve ter quando submetido a correntes anormais, fazendo atuar os dispositivos de proteção de maneira a desenergizar somente as partes do circuito que efetivamente foram afetadas. 4.7 Procedimentos de seletividade que podem ser aplicados em uma instalação elétrica Os procedimentos de seletividade que podem ser aplicados em uma instalação em sistemas elétricos de potência são: • Seletividade amperimétrica. • Seletividade cronológica. • Seletividade lógica. A seguir, serão melhores explicados esses tipos de seletividade. 4.7.1 Seletividade Amperimétrica Esse tipo de seletividade fundamenta-se no princípio de que as correntes de curto-circuito crescem à medida que o ponto de de- feito aproxima-se da fonte de suprimento. É aplicado aos sistemas de baixa tensão, nos quais essas impedâncias dos condutores são significativas. Em sistemas de transmissão de distâncias curtas, as correntes de defeito não apresentam grandes variações nos UNIUBE 115 diferentes pontos de falta, fator que dificulta a aplicação desses procedimentos. Para melhor exemplificar, atente-se à imagem a seguir: Figura 4.4 - Exemplo para seletividade Amperimétrica Fonte: Módulo..., [2017], on-line. Supondo uma corrente de defeito no ponto A da figura anterior, de va- lor e valores de ajustes das proteções em P1 e P2 iguais a e, respec- tivamente, a seletividade amperimétrica estará satisfeita se ocorrer: I p1 > Ics > Ip2 Para ajustar os valores da proteção, atuação dos equipamentos de 116 UNIUBE proteção, a primeira proteção a montante do ponto de defeito deve ser ajustada a um valor inferior à corrente de curto-circuito, carac- terizando-se dentro da zona protegida, ou seja: I p2 ≤ 0,8 x Ics E as proteções situadas fora da zona protegida devem ser ajusta- das com valores superiores à corrente de curto-circuito, ou seja: I p1 > Ics Com esses valores estipulados, temos uma proteção dos equipa- mentos de acordo com valores de corrente aquisitados. Relembrando Você já deve estar por dentro dos termos “jusante” e “montante”, mas, para recordar, aqui vai uma breve explanação: • dizer que um sistema de proteção está a montante refere-se à sua posição instalada, nesse caso, antes de outro elemento referido ou mais próximo da fonte de energia. • Dizer que um sistema de proteção está a jusante refere-se à sua posição instalada, nesse caso, depois de outro elemento referido ou mais próximo da carga final. UNIUBE 117 4.7.2 Seletividade Cronométrica Esse tipo de seletividade fundamenta-se no princípio de que a tem- porização do dispositivo de proteção próximo ao ponto de defei- to tenha valor inferior à temporização intencional do dispositivo a montante. Ou seja, se algum problema ocorrer, o equipamento de proteção deve atuar antes do dispositivo protegido ou do circuito. A diferença dos tempos de atuação é denominada intervalo de co- ordenação e deve corresponder ao tempo de abertura do disjuntor acrescido de um tempo de incerteza de atuação das proteções, valor assumido entre 0,3 e 0,5 segundos. Para melhor exemplificar, atente-se à figura a seguir: Figura 4.5 - Para exemplo da seletividade cronométrica Fonte: Módulo..., [2017], on-line. 118 UNIUBE Supondo um intervalo de coordenação de 0,4s, temos: • um curto-circuito na barra D resulta a corrente que atravessa as proteções em série com o circuito. • a proteção P4 tem um retardo próprio de 0,1s, que atua ins- tantaneamente na sua unidade. Já a proteção P3 tem um ajuste de 0,5s, enquanto P2 e P1 foram ajustadas para 0,9 e 1,3s, respectivamente. Em projetos industriais, a concessionária impõe condições de tempo na proteção de fronteira com a planta em função de seu esquema de seletividade. Esses fatores causam desvantagens na utilização da se- letividade cronométrica, devido à seletividade do projeto de proteção da indústria, prejudicando e alcançando tempos superiores àqueles admitidos na proteção de fronteira. Os valores de impedância nos di- ferentes barramentos apresentam diferenças apreciáveis, levando as correntes de curto-circuito a terem valores bastante diferentes. Esse aspecto leva ao superdimensionamento térmico dos dispositivos sec- cionadores, barramentos, cabos, dentre outros, já que os valores de tempo são diferentes, a exposição desses elementos, às vezes, é muito maior que a necessária, podendo acarretar mau funcionamento de cargas e danificar elementos do SEP. 4.7.3 Seletividade Lógica Só foi possível utilizar esse tipo de seletividade devido aos relés digitais, dando novo conceito à seletividade. UNIUBE 119 Esse tipo de seletividade é aplicado em unidades de sobrecorrente de fase e de neutro ou terra, tanto sistemas primários como se- cundários. Mais facilmente aplicado em sistemas radiais, pode ser aplicado, também, em sistemas em anel, se usado com relés de sobrecorrentes direcionais. Os princípios básicos de funcionamento dessa seletividade podem ser resumidos com a ajuda da figura a seguir: Figura 4.6 - Para exemplo da seletividade lógica Fonte: Módulo..., [2017], on-line. Podemos dizer, referente à figura, que: • a primeira proteção a montante do ponto de defeito é a única responsávelpela atuação do dispositivo de abertura do circuito. 120 UNIUBE • as proteções a jusante do ponto de defeito não receberão o sinal de mudança de estado. • as proteções a montante do ponto de defeito receberão os si- nais digitais de mudança de estado para bloqueio ou atuação. • cada proteção deve ser capaz de receber um sinal digital da proteção a sua jusante e enviar sinal digital à proteção a mon- tante, além disso, acionar o dispositivo de abertura do circuito. De outra forma, sabemos que, para as proteções ajustadas com tempo entre 50 a 100 ms, cada uma deve garantir a ordem de blo- queio durante um tempo definido pela lógica de seletividade. Supondo um curto-circuito na barra D, teremos a proteção P4, or- denando bloqueio de P3, por sua vez, P3 ordenando bloqueio da proteção P2, que, então, ordena bloqueio de P1. P4 faz atuar o dispositivo de abertura do circuito, após um tempo de disparo igual ao tempo de abertura do dispositivo de interrupção acrescido do tempo desejado para ajuste, valor entre 50 e 100 ms. Eventualmente, se P4 falhar, a abertura do dispositivo de prote- ção de retaguarda seria solicitada a atuar, ou seja, a proteção P3 atuaria. Supondo, agora, um curto-circuito na barra C, teríamos a prote- ção P4 não recebendo nenhuma informação das demais unidades. Por sua vez, a proteção P3 não recebe ordem de bloqueio de P4. Sem ordem de bloqueio, a proteção P3 faz atuar o dispositivo de abertura correspondente a um tempo de abertura do dispositivo UNIUBE 121 de interrupção acrescido ao tempo de ajuste de P3. Assim, P3, a seguir, ordena bloqueio da proteção P2, que, por sua vez, ordena bloqueio da proteção P1. Essas sequências de proteção garantem o melhor funcionamento do sistema elétrico de potência, protegendo-o e mantendo-o com menor número de desligamentos no percurso. Considerações Finais Em sistemas de proteção com teleproteção e coordenação de sis- temas de proteção são usados dispositivos detectores, disparado- res e interruptores que desligam os circuitos quando necessário. Sempre com as determinações das condições de operação (no- minal, máxima e mínima, de sobrecarga), de defeito (correntes de curto-circuito) e mesmo de situações excepcionais, como partida de motores, magnetização de transformadores etc., torna-se pos- sível formar um sistema de proteção eficiente e confiável. 122 UNIUBE UNIUBE 123 Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução Proteção de transformadores Capítulo 5 Olá, caro(a) aluno(a). No capítulo V – Proteção de transformadores –, continuaremos o estudo do conteúdo referente à disciplina Proteção de Sistemas Elétricos, com 8 capítulos ao total. O conteúdo da disciplina abordou, até o presente capítulo, a importância da proteção de sistemas elétricos de potência (SEP), os transformadores redutores de tensão e filtro, os relés de sobrecorrente e distância com suas respectivas aplicações, a teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção. Ainda serão abordados os tópicos de proteção de transformadores, geradores, barramentos e motores de indução de grande porte, além de novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência. Neste capítulo, inicia-se o estudo de proteção de transformadores, em que será possível observar que os elementos de proteção estudados nos capítulos anteriores conseguem suprir as necessidades básicas do sistema de proteção desejado. Os códigos dos elementos e a função individual podem ser observados na norma ANSI / IEEE C37.2. Os relés utilizados no sistema de proteção são caracterizados por tipo de acionamento (direto e indireto), temporização (instantâneo e temporizado), função de proteção e quanto à 124 UNIUBE tecnologia utilizada (eletromecânica, estática e digital). O método de proteção diferencial do transformador consegue limitar a área de atuação para o componente em questão ou para a região adjacente de interesse. Dentro dessa metodologia, observa-se a utilização de relé diferencial comum e de relé diferencial percentual. Tal metodologia tem como objetivo principal a detecção de falhas internas do transformador, como curto-circuito entre espiras e descargas parciais entre enrolamentos ou com a carcaça. A utilização do relé de sobrecorrente é uma das principais formas de proteger o transformador, atuando no momento em que a corrente que flui pelos seus terminais for maior que o especificado. A atuação do relé de sobrecorrente pode ser instantânea (função 50) ou temporizada (função 51). Outros equipamentos complementam a proteção dos transformadores, como proteção contra falha de disjuntor, contra sobretensão, de carcaça do transformador, bloqueio, temperatura, pressão e falta de óleo. Ressalta-se a importância da proteção de transformadores para o sistema elétrico, por isso existem muitos equipamentos e sistemas de proteção para que sempre opere de forma correta e segura. O estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência, contudo, não deve ser restrito ao material ou ao conteúdo aqui apresentado. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento, principalmente quando o assunto abordado é de seu interesse ou de grande utilidade. UNIUBE 125 • Conhecer os princípios básicos de proteção de transformadores. • Aplicar os dispositivos estudados anteriormente na pro- teção de transformadores. • Noção básica de ajuste de relés diferenciais na prote- ção de transformadores. • Verificar a importância de outros dispositivos na prote- ção de transformadores. 1. Relés de proteção de transformadores 1.1. Classificação quanto ao tipo de acionamento 1.1.1. Direta 1.1.2. Indireta 1.2. Classificação quanto ao tipo de temporização 1.2.1. Instantâneo 1.2.2. Temporizado 1.3. Classificação quanto à função de proteção 1.4. Classificação quanto à tecnologia 1.4.1. Eletromecânicos 1.4.2. Estáticos 1.4.3. Digitais 2. Proteção diferencial do transformador 2.1. Relé diferencial comum 2.2. Relé diferencial percentual 3. Proteção de sobrecorrente de fase e neutro 3.1. Sobrecorrente temporizada e instantânea de fase 3.2. Sobrecorrente temporizada e instantânea de neutro 3.3. Sobrecorrente temporizada e instantânea de terra de alta sensibilidade Objetivos Esquema 126 UNIUBE Um sistema elétrico de potência (SEP) é composto por três sub- sistemas: geração, transmissão e distribuição. Dentro do primeiro subsistema, encontram-se as usinas, cada uma com a sua fonte de energia: hidroelétricas, eólicas, termoelétricas (carvão, gás natural e nuclear), dentre outras. O subsistema de transmissão é composto pelas linhas de trans- missão propriamente ditas e pelas subestações de transformação, constituídas de transformadores e de equipamentos de proteção e controle. Tal subsistema tem como função conectar as usinas elé- tricas às regiões de consumo. O subsistema de distribuição, assim como o de transmissão, tam- bém é composto por condutores, transformadores e equipamentos de medição, controle e proteção. Contudo, a distribuição é mais ex- tensa e ramificada, conectando todos os consumidores (industriais e residenciais). Como visto, existe a necessidade de conectar os geradores e as cargas aos sistemas de transmissão e distribuição. Tal função é realizada pelo transformador, cuja função é compatibilizar os níveis de tensão e corrente em seus enrolamentos primário e secundário. 4. Outros equipamentos de proteção para transformadores 4.1. Proteção contra falha de disjuntor 4.2. Proteção de carcaça dos transformadores 4.3. Proteção contra sobretensão 4.4. Relé de bloqueio 4.5. Relé de temperatura 4.6. Válvula de alívio de pressão 4.7. Relé Buchholz UNIUBE 127 Figura 5.1 - Exemplo de transformador de alta tensão Fonte: MIPAN, 123RF. Figura 5.2 - Exemplo de transformador de pot Fonte: AROGANT, 123RF. 128 UNIUBE Os transformadores são equipamentos de grande importância para o sistema elétrico, por isso existem muitos equipamentos e siste- mas de proteção,para que sempre opere de forma correta e segu- ra. Segundo Nogueira e Alves (2009, p.133), a proteção envolve a adequada configuração elétrica do sistema e de equipamentos de proteção com os seguintes objetivos: • proteger o transformador de falhas do sistema elétrico; • proteger o transformador de avarias e falhas internas; • proteger o transformador de condições ambientais que afe- tem seu desempenho. O aumento da corrente de fase, o aumento da corrente diferencial e a formação de gás proveniente da vaporização do óleo isolante são utilizados para detectar um curto-circuito interno ou externo no transformador. Utilizam-se as seguintes proteções para combater esses elementos e detectar as correntes de curto-circuito: • proteção de sobrecorrente de fase; • proteção diferencial; • proteção contra aumento da pressão interna. A proteção é feita por relés, que são sensores que verificam, por ten- são ou por corrente, se há alguma falha no sistema a ser protegido. Segundo Bechara (2010, p. 81), dentro do universo amostral de transformadores elevadores, de transmissão e de subtransmissão, 69,6% dos casos analisados estão relacionados a danos nas bobi- nas, como curto-circuito em seus enrolamentos. Outros componen- tes também apresentam falhas: 16,3% são problemas de comuta- dor e 10,9% nas buchas. UNIUBE 129 Saiba mais Para melhor aprofundamento do assunto Transformadores, busque na literatura conteúdo relacionado a transformadores trifásicos e os principais esquemas de ligações de seus enrolamentos: estrela-es- trela (Y-Y), estrela-delta (Y-Δ), delta-estrela (Δ-Y), delta-delta (Δ-Δ) e delta-zigzag (Δ-zigzag). Cada topologia apresenta características próprias, sendo possível observar as vantagens e as desvantagens individuais, como o aterramento do neutro nas ligações em estrela (Y). A ligação em delta também é conhecida como ligação em triângulo. 5.1 Relés de proteção de transformadores Os relés de proteção de transformadores podem ser caracteriza- dos com relação ao seu tipo de acionamento, tipo de temporização, função de proteção e tecnologia. Lembrando que tais característi- cas são observadas em todos os sistemas de proteção. 5.1.1 Classificação quanto ao tipo de acionamento 5.1.1.1 Direta O relé é classificado como de atuação direta do circuito a proteger quando a ação de proteção ocorre diretamente no dispositivo que realiza a abertura ou o fechamento dos polos do disjuntor. Desse modo, o próprio relé libera a energia a ser utilizada na ação de abertura ou fechamento. 5.1.1.2. Indireta O relé é classificado como de atuação indireta quando não atua diretamente no dispositivo que realiza a abertura ou o fechamento dos polos do disjuntor. A atuação desse relé limita-se a fechar ou a 130 UNIUBE abrir um contato que ativa, energiza ou transfere para outro circuito a responsabilidade de providenciar o acionamento do disjuntor. Para aplicação indireta, é comum a utilização de um circuito de cor- rente contínua alimentado por baterias para acionamento do disjuntor. 5.2 Classificação quanto ao tipo de temporização 5.2.1 Instantâneo O relé com temporização instantânea atua sem o retardo intencio- nal, ou seja, seu tempo de atuação é relacionado à movimentação dos seus mecanismos de operação. 5.2.2 Temporizado Quando a grandeza monitorada ultrapassa o valor ajustado, o relé com essa característica entra em operação após determinado tem- po. O relé temporizado atua com o retardo intencional, podendo ser de tempo definido ou de tempo inverso. 5.3 Classificação quanto à função de proteção Os dispositivos de proteção de transformadores seguem a norma ANSI / IEEE C37.2 para identificação de sua função. Tais equipa- mentos são referidos por números, com sufixos de letras quando necessário, de acordo com as funções que realizam e utilizado em esquemas de conexão encontrados em manuais de instruções e em especificações. UNIUBE 131 Segue o quadro com algumas opções de códigos e a descrição funcional padronizadas; lembrando que a lista completa com códi- gos, descrição funcional e sufixos pode ser encontrada na norma ANSI / IEEE C37.2. CódigoDescrição funcional 50Sobrecorrente instantânea de fase 50NSobrecorrente instantânea de neutro (terra) 50GS Sobrecorrente instantânea de terra de alta sensibilidade (ground sensor) 50BFFalha de disjuntor 51Sobrecorrente temporizada de fase 51NSobrecorrente temporizada de neutro (terra) 51GS Sobrecorrente temporizada de terra de alta sensibilidade (ground sensor) 86Relé de bloqueio Quadro 5.1 - Código e descrição funcional de dispositivos de proteção Fonte: ANSI/IEEE C37.2 5.4 Classificação quanto à tecnologia 5.4.1 Eletromecânicos Um relé mecânico é projetado, elaborado e construído com base nos movimentos mecânicos provenientes de acoplamentos elé- tricos e magnéticos. Utilizando os princípios de atração e de in- dução eletromagnética, foram os primeiros relés utilizados em sistemas de proteção. 132 UNIUBE 5.4.2 Estáticos Com o advento dos dispositivos eletrônicos, o relé deixou de apre- sentar movimentação mecânica em seu mecanismo de atuação e todos os comandos e operações são realizados eletronicamente. Em comparação ao modelo eletromecânico, o relé estático é mais rápido, sensível e preciso, apresenta menor tamanho, consumo e grau de manutenção. 5.4.3 Digitais Um relé digital utiliza como base o microprocessador, cuja flexibi- lidade permite ao mesmo relé exercer diferentes funções, como: controle, armazenamento dos dados amostrados, informação de eventos e diferentes funções de proteção. Assim, dentro da ca- pacidade ou da disponibilidade de hardware do relé, a alteração de parâmetros e de funções é realizada por meio de programas computacionais (software). 5.5 Proteção diferencial do transformador A proteção diferencial tem como objetivo proteger o transformador contra faltas internas, como curto-circuito entre espiras e descar- gas parciais entre enrolamentos ou com a carcaça. A proteção diferencial é sensível à corrente de energização do trans- formador, sendo necessário o ajuste do relé diferencial para que não opere nessa condição. Essa mesma proteção não é sensibilizada UNIUBE 133 pelas correntes resultantes de faltas ocorridas fora da zona protegida. A zona protegida pode compreender somente o transformador de potência ou englobar parte dos circuitos primários e secundários do transformador. Qualquer falta dentro dessa área deve ser elimina- da pela proteção instantânea do relé diferencial. A lógica diferencial tem como base a Lei de Kirchhoff, equacionando as correntes que entram e que saem do equipamento. As correntes são monitoradas pelos TCs, que enviam os sinais de corrente para o relé, responsável pelo acionamento da proteção quando necessário. A Figura 5.3 ilustra o esquema de conexão dos TCs acoplados em série ao primário e ao secundário, em que a relação de transforma- ção do transformador é dada por N1 : N2. Figura 5.3 - Esquema básico de proteção de um transformador monofásico 134 UNIUBE Fonte: Nogueira; Alves (2009, p. 137). 5.5.1 Relé diferencial comum O esquema básico de proteção de um transformador de potência utilizando um relé diferencial comum é ilustrado na Figura 5.3 e funciona em conjunto com os relés de sobrecorrente instantâneo e temporizado. Analisando o circuito, no momento de um curto-circuito fora da área de proteção, a corrente que alimenta a falta passa por ambos os enrolamentos do transformador de potência. Consequentemente, a corrente nos secundários dos TCs serão as mesmas, a corrente diferencial será zero e o relé diferencial não atuará. Contudo, caso ocorra um curto-circuito dentro da área de proteção do relé, como entre o enrolamento primário do transformador de potência e a sua carcaça, a corrente I1 – I2, que passará na bobina diferencial, será diferente de zero, e a proteção atuará. 5.5.2 Relé diferencial percentual Para evitar interrupções inesperadas ou inapropriadas do trans- formadorde potência, deve-se restringir os relés quanto a faltas externas e permitir um ajuste mais sensível e rápido na operação para as faltas dentro da zona protegida. A configuração de um relé diferencial percentual instalado e transformador com topologia ∆-Y é ilustrada na Figura 5.4. UNIUBE 135 Figura 5.4 - Esquema de proteção diferencial per- centual em transformadores trifásicos Fonte: Nogueira; Alves (2009, p. 139). O nome de relé diferencial percentual deve-se ao fato do valor da res- trição imposta ao relé ser estabelecido como uma porcentagem da corrente de pick-up necessária para vencer o conjugado resistente (de restrição) e colocar o relé em operação. A inclinação caracterís- tica está relacionada ao valor do conjugado, podendo variar de 10% a 40%, e aumenta quando o relé se aproxima do limite de operação. Durante a operação normal do transformador ou em casos de faltas externas à área de proteção do relé, as correntes secundárias dos TCs (is1 e is2) são praticamente idênticas, desde que a relação de transformação dos TCs seja a mesma do transformador. Assim: N1 = n1 N2 = n2 136 UNIUBE Em que 1:n1 é a relação de transformação do transformador de corrente conectado ao lado primário e 1:n2 é a relação do transfor- mador de corrente conectado ao secundário. No caso de faltas internas, a diferença entre as correntes será ex- pressiva e provocará a sensibilização do relé. A corrente diferencial possibilita uma medida confiável da corrente de falta e pode ser escrita com base na Lei de Kirchhoff: ιd = ιs1 − ιs2 Sendo que id é a corrente diferencial, is1 é a corrente no secundário do TC do lado primário do transformador protegido, is2 é a corrente no secundário do TC do lado secundário do transformador protegido. Em um sistema real, contudo, são encontradas diversas e pro- váveis fontes de erros associadas à configuração do sistema de proteção. Dentre os diversos fatores, é possível listar os erros de relação de transformação dos TCs, o erro de medição, o erro das mudanças de taps, dentre outros. Como pequenas correntes diferenciais podem surgir em condições normais de operação, a imprecisão pode comprometer o funcionamen- to do sistema de proteção e ocasionar uma atuação indevida. Assim, define-se uma margem de segurança a partir da qual o relé deverá atuar, minimizando o problema observado, por meio das equações: ιd ≥ K ιd ≥ K" ιs1 + ιs2 2 UNIUBE 137 Em que K é a corrente mínima de operação e K” é a inclinação percentual diferencial, cujos valores típicos são 10%, 20% e 40%. Um relé ajustado para uma inclinação de 40% é muito menos sen- sível do que um relé ajustado para uma inclinação de 10%. A Figura 5.5 apresenta uma curva característica do relé diferencial, suas zo- nas de operação e restrição. Ajustes de restrição são apresentados para acomodar possíveis correntes diferenciais ocasionadas pelos erros previamente listados. Figura 5.5 - Curva característica da proteção diferencial Fonte: Nogueira; Alves (2009, p. 141). Considerando os principais erros proporcionados pela medição, a proteção diferencial percentual tem como objetivo fornecer um ajuste fino. A corrente mínima necessária para a sensibilização do 138 UNIUBE relé (corrente de pick-up) é dada por K e pode sofrer pequenos ajustes, para evitar a operação indevida do sistema de proteção, causados pela imprecisão dos TCs. Para os casos em que a relação de transformação dos TCs difere do transformador, o relé diferencial pode apresentar taps múltiplos para a medição das correntes do primário e do se- cundário, permitindo corrigir as diferenças entre as correntes secundárias dos TCs. Como as bobinas de retenção (restrição) são percorridas pela mé- dia das correntes passantes (ir), o relé diferencial não é sensibiliza- do por certas correntes diferenciais. ιr = ιs1 + ιs2 2 Além dos erros listados anteriormente, alguns tipos de manobras realizados no transformador e por situação de faltas próximas a esse elemento podem causar falsas correntes diferenciais. Devido ao seu valor elevado, essas correntes são elevadas o suficiente para provocar uma atuação indevida da proteção diferencial. Pode-se listar como principais causas para o surgimento dessas correntes: • Corrente de inrush. • Sobre-excitação do transformador. • Saturação dos TCs. UNIUBE 139 A corrente de inrush e a sobre-excitação do transformador produ- zem uma corrente distorcida, cuja consequência é a saturação do núcleo do TC de proteção. A forma de onda pode ajudar a diferen- ciar se o fenômeno observado é um dos itens citados ou, de fato, uma falta interna. 5.6 Proteção de sobrecorrente de fase e neutro A utilização do relé de sobrecorrente é uma das principais formas de proteger o transformador, atuando no momento que a corrente que flui pelos seus terminais for maior que o especificado. A atua- ção do relé de sobrecorrente pode ser instantânea (função 50) ou temporizada (função 51). 5.6.1 Sobrecorrente temporizada e instantânea de fase Os relés de sobrecorrente constituem um dos tipos de função de proteção e têm como grandeza de atuação uma ou mais dentre as correntes de fase do sistema. A atuação do relé ocorrerá quando a corrente atingir um valor igual ou superior ao ajuste previamente estabelecido. A atuação do relé pode acontecer de forma instantânea (50) ou tem- porizada (51) e são utilizados para proteção contra curtos que en- volvam mais de uma fase (curtos trifásico, bifásico e bifásico-terra). Quanto ao tempo de atuação dos relés de sobrecorrente, curvas características desenvolvidas por fabricantes de equipamentos de proteção ou normatizadas por entidades, como IEC e IEEE, são 140 UNIUBE utilizadas para tal determinação. Essas curvas são a forma utiliza- da pelos equipamentos para detectar uma falha e, a partir da cor- rente percorrida no relé por um determinado tempo, eliminá-la. As curvas de tempo inverso mais utilizadas são, normalmente, inversa (NI), muito inversa (MI) e extremamente inversa (EI). Para a proteção instantânea, utiliza-se uma unidade de sobrecor- rente com característica de atuação a tempo definido, possibilitan- do configurar um pequeno valor de tempo ou ajusta-lo igual a zero. 5.6.2 Sobrecorrente temporizada e instantânea de neutro Seguindo o mesmo princípio da proteção de fase, a atuação do relé ocorrerá quando a corrente de neutro atingir um valor igual ou superior ao ajuste previamente estabelecido, abrindo o disjuntor. A ligação do relé de sobrecorrente de neutro é realizada de forma que a soma das correntes no ponto comum dos transformadores de corrente das fases A, B e C resultam em uma corrente residual. A Figura 5.6 ilustra o esquema de ligação do relé de neutro. UNIUBE 141 Figura 5.6 - Esquema de ligação de um relé de neutro Fonte: Nogueira; Alves (2009, p. 153). 5.6.3 Sobrecorrente temporizada e instantânea de terra de alta sensibilidade Segundo Nogueira e Alves (2009, p.153), essa função utiliza um transformador de corrente toroidal, que envolve os três condutores de fase, sendo que o sinal resultante da somatória dessas corren- tes é enviado diretamente para a unidade de terra. A Figura 5.7 ilustra o esquema de conexão típico para essa função. 142 UNIUBE Figura 5.7 - Esquema de ligação de um relé de terra de alta sensibilidade Fonte: Nogueira; Alves (2009, p. 154). 5.7 Outros equipamentos de proteção para transformadores 5.7.1 Proteção contra falha de disjuntor Como visto anteriormente, os relés de sobrecorrente são sensibili- zados no caso de operação anormal, enviando um sinal de disparo para seu disjuntor associado. Todavia, no caso de falha de opera- ção do disjuntor, a função de falha de disjuntor é responsável por enviar um sinal de disparo para os disjuntores adjacentes situados à montante (sentido do gerador). Assim, o sinal de disparo enviado aos disjuntores de retaguarda provoca a abertura do circuito, eliminando o defeito no alimentador. UNIUBE 143 5.7.2 Proteção decarcaça do transformadores Para que exista a proteção do circuito elétrico de potência, todos os ele- mentos devem estar adequadamente isolados, de forma a não permiti- rem fugas de corrente. Na conexão da carcaça do transformador para a terra, deve-se instalar um TC conectado a um relé de sobrecorrente. Com tal proteção, no momento em que ocorrer um defeito interno envolvendo a carcaça do transformador, a corrente flui da carcaça para a terra e possibilita informar o operador sobre a falha ocorrida. Uma falha monofásica que não envolver a carcaça do transforma- dor não provocará a atuação desse relé. A Figura 5.8 ilustra o es- quema de um curto-circuito da bobina para a carcaça. Figura 5.8 - Esquema de um curto-circuito da bobina para a carcaça Fonte: Nogueira; Alves (2009, p. 155). 144 UNIUBE 5.7.3 Proteção contra sobretensão O isolamento dos enrolamentos do transformador é dimensionado para um determinado nível de tensão, mas pode ser degradado em caso de sobretensão prolongada. A proteção contra sobretensão está incluída na regulação e no controle, sendo raramente aplicada de forma direta. 5.7.4 Relé de bloqueio O relé de bloqueio tem por objetivo bloquear o fechamento do disjuntor quando recebe um sinal de disparo do relé de proteção corresponden- te. Após o acionamento desse elemento, é necessário que o operador realize o fechamento manual do disjuntor em campo. 5.7.5 Relé de temperatura Os relés de temperatura monitoram a temperatura interna do trans- formador, como a temperatura do óleo, dos enrolamentos e do aquecimento do núcleo, operando a abertura de disjuntores asso- ciados aos transformadores e acionando alarmes. A temperatura do óleo é analisada por uma sonda térmica imersa no óleo isolante localizada no topo do transformador. Devido à difi- culdade de mensurar diretamente a temperatura dos enrolamentos, utilizam-se a temperatura do óleo e o seu gradiente de temperatura para a estimação desse parâmetro. Segundo Nogueira e Alves (2009, p. 158), o gradiente de tempe- ratura é definido mediante a utilização de transformadores de cor- rente situados nas fases do transformador de potência. Os TCs UNIUBE 145 injetam uma corrente proporcional à corrente de carga em um cir- cuito basicamente resistivo, projetado para emular a temperatura do óleo entre a sonda e o enrolamento. A temperatura final percebi- da pelo relé é, então, função da temperatura do óleo e da corrente de carga do transformador. Esse método é conhecido como méto- do da imagem térmica. Caso haja ventilação forçada, esses sensores são utilizados para o seu acionamento. 5.7.6 Válvula de alívio de pressão A válvula de alívio de pressão tem como função eliminar a sobre- pressão interna causada pela própria operação do transformador, sendo instalada em seu tanque principal. A utilização de diversas válvulas de alívio de pressão pode ser necessária dependendo das dimensões do transformador. 5.7.7 Relé Buchholz O relé Buchholz é um relé detector de gases utilizado em transfor- madores de potência equipados com tanque conservador de óleo, sendo instalado na tubulação que conecta os tanques principal e conservador. Sua função é monitorar o acúmulo de gases e o fluxo de óleo entre os tanques, verificando se o funcionamento está den- tro da normalidade. Em situações normais de operação, o relé detector de gases está preenchido por óleo. Sua atuação ocorre quando detec- ta surtos de escoamento do óleo ou acúmulo de gases, sendo 146 UNIUBE indicada a utilização de relés Buchholz com duas boias para transformadores maiores. O aquecimento do óleo isolante resulta na sua decomposição em gases no interior do tanque principal, que se acumularão no topo do conservador de óleo, pressionando o óleo presente no conser- vador para baixo. Tais condições resultam no acúmulo de gases na câmara do relé, fazendo com que seu acionamento alerte uma possível sobrecarga ou excesso de pressão. A detecção nos surtos de escoamento do óleo opera a abertura dos disjuntores associados ao transformador de potência, visto que o aumento da pressão interna a valores críticos pode causar danos severos à estrutura do tanque, rompendo-o. Além das situações anteriores, em caso de baixo nível de óleo, o relé Buchholz realiza o desligamento do transformador e faz soar o alarme. Considerações Finais Neste capítulo, querido(a) aluno(a), abordamos a proteção de trans- formadores e, para tal, os dispositivos utilizados. Os relés de proteção de transformadores foram classificados quanto ao tipo de acionamen- to, ao tipo de temporização, à função de proteção e tecnologia. A proteção do transformador envolve a adequada configuração elétrica do sistema e de equipamentos de proteção com objetivos de proteger o transformador de falhas do sistema elétrico, ava- rias e falhas internas e de condições ambientais que afetem o seu desempenho. UNIUBE 147 O aumento da corrente de fase, o aumento da corrente diferencial e a formação de gás proveniente da vaporização do óleo isolante são utilizados para detectar um curto-circuito interno ou externo no transformador. O método de proteção diferencial do transformador consegue limitar a área de atuação para o componente em questão ou para a região adjacente de interesse. Dentro dessa metodologia, observa-se a utili- zação de relé diferencial comum e de relé diferencial percentual. Tal metodologia tem como objetivo principal a detecção de falhas internas do transformador, como curto-circuito entre espiras e des- cargas parciais entre enrolamentos ou com a carcaça. Contudo, deve-se atentar aos diversos erros associados à confi- guração do sistema de proteção. Dentre os diversos fatores, são listados os erros de relação de transformação dos TCs, medição, mudanças de taps (quando possível), dentre outros. Essa impre- cisão pode comprometer o funcionamento do sistema de proteção e ocasionar uma atuação indevida, sendo necessário utilizar uma margem de segurança a partir da qual o relé deverá atuar, minimi- zando o problema observado. Os relés de sobrecorrente são uma das principais formas de prote- ger o transformador, atuando no momento em que a corrente que flui pelos seus terminais for maior que o especificado. A atuação do relé de sobrecorrente pode ser instantânea (função 50) ou tempo- rizada (função 51), monitorando a corrente de fase, neutro e terra. Outros equipamentos complementam a proteção dos transfor- madores, como proteção contra falha de disjuntor, contra so- bretensão, de carcaça do transformador, bloqueio, temperatura, pressão e falta de óleo. 148 UNIUBE UNIUBE 149 Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução Proteção de geradores e proteção de barramentos Capítulo 6 A criticidade de falhas e falta s de energia em elementos do sistema elétrico de potência é grande, por isso, protegê-los desses fenômenos é de extrema importância e vital para a longevidade e o correto funcionamento desses elementos. Neste capítulo, veremos as formas mais recorrentes, na literatura, das proteções em geradores e barramentos nos SEPs, bem como as linhas de potência e transmissão. Antigamente, os geradores tinham o único e exclusivo uso para usinas de geração de energia elétrica e sua preocupação era com o engenheiro projetista do sistema de proteção da própria concessionária. Com o passar dos anos, geradores foram sendo utilizados em instalações industriais e comerciais, como forma de suprir eventuais falhas do fornecimento de energia elétrica das concessionárias, de modo a diminuir gastos, ou seja, gerando sua própria energia em horários de pico, de forma paralela à rede, temporária ou permanentemente. Essa ampliação da quantidade de produtores independentes conectados ao sistema elétrico levou ao maior estudo e aprimoramento do conhecimento da proteção dos geradores, 150 UNIUBE criando-se, assim, várias maneiras de se proteger, desde o equipamento à forma de como a energia é gerada. Como veremos mais adiante, praticamentetodos os elementos que compõem os grandes geradores, se não providos de um sistema eficaz de proteção, podem gerar problemas. Veremos que esses problemas podem ser desde uma rápida falta de sincronismo e trabalhando como um motor, consumindo energia ao invés de gerar, a um superaquecimento e, posteriormente, dependendo do tempo de exposição, à inutilidade do gerador durante períodos críticos de uso. Também, como citado, veremos o barramento, item que conecta vários elementos em um sistema elétrico de potência nas entradas e nos quadros de potência. Desde os anos 30, a ideia de proteger os barramentos foi aumentando, levantando mudanças importantes, sejam elas na forma de melhoria na segurança do próprio barramento, de proteção contra disparos inesperados, de rapidez na atuação dos sistemas de proteção e de cargas cada vez maiores de grandes subestações e usinas. • Conscientizar o aluno acerca da importância de prote- ger os elementos dos sistemas de potência. • Indicar as melhores formas de se proteger geradores e barramentos contra as possíveis falhas, de acordo com a literatura. • Aprofundar o conhecimento da utilização de elementos de proteção. Objetivos UNIUBE 151 6. PROTEÇÃO DE GERADORES E PROTEÇÃO DE BARRAMENTOS 6.1 Introdução 6.2 Proteção de geradores 6.2.1 Proteção diferencial do estator contra curto-circuito (diferencial longitudinal) 6.2.2 Proteção diferencial do estator contra curto-circuito entre espiras 6.2.3 Proteção diferencial do estator contra falta à terra. 6.2.4 Proteção de retaguarda do estator por meio de relés de sobrecorrente. 6.2.5 Proteção contra circuito aberto no estator 6.2.6 Proteção contra sobreaquecimento do estator 6.2.7 Proteção contra sobretensão 6.2.8 Proteção do rotor contra curto-circuito no campo 6.2.9 Proteção contra aquecimento do rotor devido à corrente desequilibrada do estator 6.2.10 Proteção contra perda de excitação ou de campo 6.2.11 Proteção contra perda de sincronismo 6.2.12 Proteção contra aquecimento do rotor devido à sobre- excitação 6.2.13 Proteção contra vibração 6.2.14 Proteção contra motorização 6.2.15 Proteção contra sobrevelocidade 6.2.16 Proteção contra sobreaquecimento dos mancais Esquema 152 UNIUBE 6.2.17 Proteção de barramentos 6.3 Configurações de barramentos 6.4 Tipos de proteção de barramentos 6.4.1 Proteção diferencial de barras 6.4.2 Releamento diferencial com relés de sobrecorrente 6.4.3 Releamento diferencial percentual 6.4.5 Releamento diferencial com acopladores lineares 6.4.6 Proteção diferencial combinada 6.4.7 Proteção de retaguarda 6.4.8 Proteção de massa ou dispersão pela carcaça 6.4.9 Proteção por comparação direcional 6.5 Conclusão 6.6 REFERÊNCIAS1.1. 6.1.1 Introdução Para Caminha (1977), em SEP, sistema elétrico de potência, os ele- mentos mais caros dos sistemas são os geradores. Além de serem os mais caros, são os que mais sofrem com intempéries, muitas vezes, mais do que as falhas de tensão e os problemas causados nas linhas de transmissão. Com todos esses aspectos de importância e de preço dos gera- dores, fabricantes de geradores oferecem sugestões de proteções em seus catálogos de produtos, como mostrado na Quadro 6.1. Proteção de geradores6.1 UNIUBE 153 Proteção do gerador, em geral Tipo de proteção indicada Regime nominal MW <1 ≥1 ≥10 >100 Diferencial - - x x Terra restrita - - x x Falta entre espiras do estator - - - x Sobrecorrente com restrição por tensão x x - - Sobrecarga x x x x Sobretemperatura (detetor) - x x x Corrente de sequência negativa - - x x Perda de carga - - - x Antimotorização (perda de vapor) x x x x Perda de campo - - x x Perda de sincronismo - - - x Sobrevelocidade (má- quinas hidráulicas) x x x x Sobretensão (idem) x x x x Proteção do rotor e mancais Tipo de proteção indicada Regime nominal MW <1 ≥1 ≥10 >100 Falta à terra - - x x Perda de campo - - x x Indicador de vibração - - x x Temperatura do mancal - - x x Isolamento do mancal - - - x 154 UNIUBE Proteção só atuando alarmes ou desligamentos também Condição anormal verificada, em função da máquina motriz A vapor, refrigerada a Hidráulica Ar H Alarme Baixo vácuo no condensador x x - Anormal pressão, temperatura ou densidade do H - x - Baixa pressão de óleo do mancal x x x Alta temperatura no enrolamento do transformador do bloco GT x x x Alta temperatu- ra no mancal - - x Pressão de óleo do regulador - - x Falta de água de refrigeração - - x Alta temperatura do ar no estator - - x Falha de abertu- ra de válvula - - x Relé de Buchholz dos transformadores x x x Temperatura do óleo dos transformadores x x x Falha no regula- dor de tensão x x x Falta à terra do rotor x x x Falta de campo x x x Baixa tensão nas baterias x x x UNIUBE 155 Desligamento Faltas no estator x x x Curto-circuito nos transformadores x x x Sobretensão e/ou sobrevelocidade x x x Quadro 6.1 - Indicações para proteção de gerado- res com base na potência e no tipo de turbina Fonte: Caminha (1977, p.110). As faltas que um gerador pode sofrer podem ser do tipo falha de isolamento e a de condições anormais, sendo que a primeira con- duz a um curto-circuito de alguma natureza, entre espiras, fase- terra, trifásica ou fase-fase, e a segunda, a vibrações, sobrecarga, desequilíbrio da carga do estator etc. Para um sistema de proteção eficiente, espera-se que a proteção do gerador possa: • ser rápida, a fim de reduzir os estragos dos elementos; • ter aterramento bem feito, limitando a corrente de defeito; • ter insensibilidade a faltas externas, fora da zona de proteção; • caracterizar e eliminar condições anormais quando perigosas. Portanto, para uma proteção eficiente de um gerador, devemos proteger o gerador, propriamente dito, a turbina, o conjunto gera- dor-turbina e seus auxiliares, como fonte de corrente contínua etc. Em resumo, teremos, para a proteção de um gerador, tipos de 156 UNIUBE proteção do estator, do rotor, de sobretensões, de perdas de exci- tação e/ou sincronismo, de vibrações, de sobrevelocidade, de sub- frequência, dentre outros (CAMINHA, 1977). A seguir, veremos algumas formas de proteção desses elementos, lembrando que, como existem diferenças de opinião acerca do que seria uma proteção suficiente do gerador e, também, do que seriam as tais “condições anormais”, veremos o que há na literatura para suprir essas falhas. 6.2 Proteção de geradores 6.2.1 Proteção diferencial do estator contra curto-circuito (diferencial longitudinal) Recomenda-se esse tipo de proteção para máquinas acima de 1 MVA, sendo obrigatória para geradores acima de 10 MVA. Em ge- radores acima de 10 MVA, o preço de aquisição e o esquema de ligação tornam necessária a proteção diferencial do estator contra curto-circuito, já os abaixo dessa faixa, geralmente, utilizam relés de sobrecorrente com restrição por tensão em seu lugar. Essa proteção, diferencial, age na ocorrência de curto-circuito en- tre duas fases. Caso haja o aterramento do neutro do gerador, a proteção funciona igualmente para faltas à terra, no entanto, nes- se caso, é convencional utilizar dispositivos de proteção particular contra defeitos à terra quando a impedância de aterramento é gran- de (CAMINHA, 1977). Quando assistido por relé auxiliar, alguns eventos acontecem como forma de aviso ou proteção, são esses: UNIUBE 157 • os disjuntores principal e de campo são desligados; • turbina é freada; • alarmes ópticos e acústico, junto à sinalização no painel; • proteção contra incêndio é acionada; Para os transformadores de corrente, existem algumas exigência, tais como: • fiação entre os transformadores de corrente e os relés deve ser simétrica e curta; • os relés devem ser alimentados por TC (transformador de cor- rente) exclusivo e posicionado o mais próximo dos terminais do gerador; • a interligação entre vários TCs deve ser realizada com fio de mesma seção que os fios de fase; • ligações dos TCsem estrela à terra devem ser feitas somente no lado da fase. 6.2.2 Proteção diferencial do estator contra curto-circuito entre espiras Esse tipo de proteção tem caído em desuso devido à qualidade das proteções e aos isolamentos mais modernos das espiras. Porém, nas grandes máquinas que têm fases subdivididas, por motivos construtivos, o curto-circuito entre espiras, devido ao defeito, é 158 UNIUBE detectado por relés de sobrecorrente ligados em conexão diferen- cial transversal. O ajuste do relé para corrente de desequilíbrio fica na faixa de maior ou igual a 5% da corrente nominal do gerador. Quando se tem um curto-circuito entre espiras, esse defeito logo passa para fase-fase, que, por sua vez, é detectado pela proteção diferencial longitudinal, que não pode ser dispensada (CAMINHA, 1977). 6.2.3 Proteção diferencial do estator contra falta à terra Essa proteção cobre, em média, de 80 a 90% do enrolamento, sendo que o neutro e o restante ficam desprotegidos. Mas nessa porcentagem do gerador desprotegida tem uma chance muito pe- quena de ocorrer faltas, não sendo de tanta importância. Uma falta à terra pode ser destrutiva para geradores devido à con- sequência da alta temperatura do arco voltaico; a corrente de falta é limitada por uma impedância colocada no neutro do gerador, que pode ser uma resistência, uma reatância, um transformador de dis- tribuição ou potencial (CAMINHA, 1977). A alta impedância de aterramento do neutro tem as seguintes finalidades: • limitar danos no ponto de defeito; • proteção contra descargas atmosféricas; • limitar esforços mecânicos; • limitar sobretensões transitórias. UNIUBE 159 6.2.4 Proteção de retaguarda do estator por meio de relés de sobrecorrente Nessa topologia de proteção, são utilizados, preferivelmente, 3 (três) transformadores de corrente (TCs), o mais próximo possível dos terminais do enrolamento. Porém também são utilizados, ao invés de TC, relés de sobrecorrente; estes ajustados para 1.3 a 1.4 vezes a corrente nominal e, de preferência, utilizando relés de tempo definido, podendo ser trabalhados na coordenação desse sistema de proteção. Na inexistência de TCs conectados nas extremidades do neutro dos enrolamentos do estator em estrela, ou do neutro inacessível, esses dispositivos serão atuados somente pela corrente de curto- circuito. Caso o neutro do gerador não seja aterrado, deve exis- tir uma proteção de sobrecorrente, porém, se o neutro é aterrado, para maior sensibilidade e velocidade, é necessário usar releamen- to de sobrecorrente direcional (CAMINHA, 1977). 6.2.5 Proteção contra circuito aberto no estator Essa proteção não é tão praticada, tendo em vista que o circuito aberto no estator raramente ocorre em máquinas bem construídas. Quando ocorre tal problema de circuito aberto, ou junta de alta re- sistência no enrolamento do estator, é muito difícil de detectá-lo antes mesmo que danos significativos tenham ocorrido. O uso de releamento de sequência negativa para proteção contra correntes desequilibradas contém a propriedade necessária para alertar o operador (CAMINHA, 1977). 160 UNIUBE 6.2.6 Proteção contra sobreaquecimento do estator O sobreaquecimento do estator tem duas causas mais prováveis: excesso de carga, ou seja, sobrecarga, e falha no sistema de refri- geração do gerador. Como forma de proteção, são utilizadas bobi- nas detectoras de temperatura ou, no caso de máquinas maiores, que têm bobinas bem distribuídas, termopares nas ranhuras do en- rolamento do estator para acionar o sistema de alarme. Em geradores até 30 MW, podem ser usados relés tipo réplica ou de imagem térmica, sendo energizados a partir de TC, transfor- mando a corrente do estator e variando resistências que, por sua vez, acionam o alarme. Fora as proteções ligadas ao sistema elétrico do gerador, é possí- vel utilizar dispositivos suplementares para monitorar a temperatu- ra do ar de refrigeração ou do óleo dos mancais, regulando para acionar quando a temperatura passar de 5 a 10ºC acima de valores de temperatura julgados normais (CAMINHA, 1977). 6.2.7 Proteção contra sobretensão Para Caminha (1977), essa proteção é recomendada para gerado- res acionados por turbinas hidráulicas ou a gás, podendo alcançar velocidades maiores que as nominais, consequentemente, sobre- tensão e perda de carga. A proteção, nesse caso, é dada por um regulador de tensão, o relé é alimentado por um transformador de potência, não o alimentador do regulador de tensão, em que esse relé introduzirá uma resistên- cia adicional no circuito de campo. UNIUBE 161 6.2.8 Proteção do rotor contra curto-circuito no campo O circuito de campo não é aterrado em sua operação, esse fato tor- na a primeira falta um tanto quanto insignificante ao funcionamento do gerador. Porém, com tensões sendo induzidas no campo devido a transitórios do estator, essa falta pode aumentar o esforço para a terra em outros pontos do campo, aumentando a probabilidade de um segundo aterramento. Quando um segundo defeito desse tipo ocorre, parte do enrolamento do campo é curto-circuitado, desequi- librando o fluxo no entreferro e criando forças magnéticas no rotor capazes de deformar o eixo e até quebra de mancais ou atrito entre rotor e estator no período de 30 minutos a duas horas. A proteção mais utilizada consta de um relé de sobretensão coloca- do entre o circuito de campo e a terra com injeção por fonte auxiliar (CAMINHA, 1977). 6.2.9 Proteção contra aquecimento do rotor devido à corrente desequilibrada do estator Os danos por desequilíbrio de corrente no estator são causados, principalmente, por: • falta de um polo do disjuntor ou abertura de uma fase da linha; • falta acarretando desequilíbrio próximo à central sem que os relés normais atuem prontamente; • falta em um dos enrolamentos do estator. 162 UNIUBE Devido às faltas citadas anteriormente, induz-se uma corrente de frequência dupla no rotor devido à corrente desequilibrada do es- tator. Dependendo do grau de desequilíbrio e do tempo de atua- ção desse desequilíbrio, o rotor sofre severo sobreaquecimento, podendo afrouxar cunhas e anéis de retenção do enrolamento. A proteção desse evento é realizada por um relé de tempo inverso, que faz atuar um disjuntor ou apenas opera um alarme prevendo desequilíbrios de pequena duração. O tempo para atuação desses relés é ajustado de acordo com a curva de tempo, fornecida pelas montadoras de geradores, em que o rotor pode suportar acima de uma temperatura dada como normal. Sempre ajustado com valores próximos da curva normal, como de 8 a 40% acima da corrente normal (CAMINHA, 1977). 6.2.10 Proteção contra perda de excitação ou de campo Alguns sistemas de potência não toleram a operação continuada de um gerador com baixa ou sem excitação; a inversão de fluxo do reativo reduz a tensão. Para um gerador síncrono, a perda ou a diminuição da excitação faz acelerar e operar como um gerador de indução, ao invés de fornecer corrente reativa à rede, ele consome. O desequilíbrio magnético causado pela falta de excitação provoca so- breaquecimentos perigosos e, por sua vez, sobrecorrente no estator. O equipamento mais indicado para essa falta é o relé direcional de distância alimentado pela tensão e pela corrente alternadas do gerador principal. Este, por sua vez, é mais seletivo que os relés de subcorrente, que também devem estar conectados ao circuito de campo para garantir melhor proteção (CAMINHA, 1977). UNIUBE 163 6.2.11 Proteção contra perda de sincronismo Alguns fatores, como defeitos de excitação ou causas externas, podem levar o gerador à perda de sincronismo, são eles: • abertura involuntária do disjuntor de campo; • rompimento de um condutor; • defeito no sistema de regulação; • curto-circuito na rede; • desligamento de um importante consumidor de carga indutiva; • conexão a uma longa linha em vazio. Essa proteção, na prática, não é frequentemente utilizada devido à proteção de perdade campo, que é obrigatória e, como anterior- mente citado, já supre essas faltas (CAMINHA, 1977). 6.2.12 Proteção contra aquecimento do rotor devido à sobre-excitação Segundo Caminha (1977), a proteção desse problema é feita indi- retamente pelo equipamento de proteção contra sobreaquecimen- to do estator ou, até mesmo, pela característica da excitação do equipamento. 164 UNIUBE 6.2.13 Proteção contra vibração O equipamento de proteção do rotor contra sobreaquecimento de- vido a correntes desequilibradas no estator faz o papel de minimi- zar ou mesmo eliminar essas vibrações (CAMINHA, 1977). 6.2.14 Proteção contra motorização Essa proteção é realizada com vistas à turbina, e não diretamente ao gerador. Ou seja, o fabricante indica tempos críticos de ope- ração em que poderia haver sério risco para a turbina ou indese- jável carga para a rede, resultando no gerador operando como motor, puxando energia. Relés monofásicos de potência inversa são regulados com valores de cerca de 0.5 a 3% da potência nominal e temporizados até mi- nutos dependendo das instruções e das orientações do fabricante (CAMINHA, 1977). 6.2.15 Proteção contra sobrevelocidade Uma chave centrífuga é fornecida junto à turbina ou ao regulador de velocidade. Também é utilizado um relé de sobrefrequência ajustado na ordem de 110 a 140%, que, respectivamente, são para valores em turbina a vapor e para turbina hidráulica (CAMINHA, 1977). UNIUBE 165 6.2.16 Proteção contra sobreaquecimento dos mancais Esse sobreaquecimento pode ser detectado utilizando sensores de temperatura de várias formas, como de bulbo termométrico, tipo resistência ou relé que detecte temperatura. A proteção, usualmente, aciona apenas alarme para que operadores averi- guem o estado do gerador. Como exemplo de todas essas proteções, a figura a seguir mostra uma proteção típica de um bloco turbogerador-transformador. Figura 6.1 - Proteção típica de um bloco turbogerador-transformador Fonte: Caminha (1977, p.113). 166 UNIUBE Segundo a imagem: Relé Buchholz Sobrevelocidade Vácuo na caldeira Relé de falha no campo Relé sequência negativa Relé sobretensão Relé de falta à terra no campo Relé de falta à terra restrito Relé diferencial, trafo serviço Relé diferencial bloco GT Temperatura do enrolamento Temperatura do óleo Regulador de tensão Relé de sobrecorrente Idem, de intertravamento Relé S. C. falta à terra Relé S. C. instantâneo Relé diferencial do gerador Relé diferencial da barra 6.2.17 Proteção de barramentos Os barramentos em SEP, sistemas elétricos de potência, têm a im- portante função de unir ponto de convergência entre pontos críti- cos, como: • Transformadores. UNIUBE 167 • Geradores. • Cargas. • Linhas de transmissão. Além dessa importante função crítica, os barramentos ficam, via de regra, na entrada de plantas e painéis, portanto, proteger esses elementos é de extrema importância. Os defeitos ou as proteções realizados de forma ineficiente podem prejudicar a integridade de todo o sistema, quer seja na segurança ou na operacionalidade dos sistemas unidos. Normalmente, a proteção de um barramento é realizada com um conjunto de transformadores de intensidade e relés de detecção de defeitos e ordem de disparo, visando proteger os aparelhos de co- mutação, a zona do barramento, os aparelhos que se acoplam ao barramento e os dispositivos, como os de corte e transformadores de subestações. Em geral, os defeitos em barramentos são raros; esse fato faz com que os relés que protegem o barramento possam ser solicitados de uma forma mais espaçada, porém bem especificada, para que erros, como disparos desnecessários, não ocorram. Quando protegido o barramento, essa zona de proteção, limitada, possibilita o desligamento, corte, de entradas ou saídas de possí- veis ligações afetadas sem que seja necessário desligar o barra- mento por completo. 168 UNIUBE A proteção dos barramentos deve: • operar apenas em defeitos internos; • operar apenas na zona do barramento afetada; • ser imune a operações erradas; • ter tempos de atuação curtos; • ser segura e confiável. Quando se projeta a proteção de um barramento, existem alguns fatores importantes a serem observados, tais como os valores má- ximos e mínimos das correntes, a localização da instalação, a ra- zão de transformação, a velocidade de operação, a precisão ne- cessária, as curvas de saturação, dentre outros. A seguir, podemos observar algumas configurações dos barramentos. UNIUBE 169 6.3 Configurações de barramentos Figura 6.2 - Configurações utilizadas nas proteções de barramentos Fonte: Santos, Marques e Forte ([2017], on-line, p. 6). 170 UNIUBE Figura 6.3 - Configurações usadas nas proteções de barramentos Fonte: Santos, Marques e Forte ([2017], on-line, p. 7). 6.4 Tipos de proteção de barramentos 6.4.1 Proteção diferencial de barras A possibilidade de fazer a proteção de barramentos com simples tipos de relés é um fator importante, tendo em vista as necessida- des afirmadas anteriormente. A conexão diferencial poderá ser fei- ta com relés de sobrecorrente simples, de sobretensão ou mesmo com relés diferenciais percentuais. UNIUBE 171 6.4.2 Releamento diferencial com relés de sobrecorrente Para esse tipo de proteção, temos algumas especificações básicas: • mesma relação nominal dos transformadores de corrente; • determinação da saturação de algum transformador de cor- rente se torna necessária; • nenhuma corrente de falha ou de carga deve fluir pela bobina do relé; • usar fiação de calibre grosso, mínimo 10 AWG; • usar, preferencialmente, relés de tempo inverso, ao invés de relés instantâneos, devido à pouca sensibilidade a correntes componentes de corrente contínua. • temporizar de 0.2 a 0.5 s a atuação, para deixar ultrapassar correntes de erro devido a transitórios. • interligar todos os neutros dos transformadores de corrente com fios isolados e de mesma bitola que os fios de fase e aterrar no mesmo e único ponto. Essas exigências e muitas outras são necessárias para utilizar relés de sobrecorrente na proteção de barramentos (CAMINHA, 1977). 172 UNIUBE 6.4.3 Releamento diferencial percentual Em faltas externas, tem-se esse tipo de proteção como uma solução ao problema de saturação de transformadores de corrente, proble- ma que pode ocorrer. Há, como desvantagem, pouca velocidade, ou seja, em sistemas que exijam um acionamento em alta veloci- dade, não poderiam atuar. É de costume utilizar relés com múltiplas bobinas de restrição, evitando, sempre, a utilização dos transfor- madores de corrente em paralelo, fator sempre problemático. 6.4.5 Releamento diferencial com acopladores lineares A utilização de transformadores de corrente com núcleo de ferro, com altas constantes de tempo, pode trazer transitórios e causar instabilidades no barramento. Para evitar esse acontecimento, usam-se transformadores de corrente toroidais sem núcleo de fer- ro, chamados acopladores lineares, em que as condições transitó- rias são eliminadas e não há correntes de magnetização. 6.4.6 Proteção diferencial combinada Há, ainda, a possibilidade de se combinar as proteções de barra e transformador, dependendo do arranjo encontrado. Porém esses arranjos podem agravar problemas, tornando as facilidades em desvantagens para o sistema. UNIUBE 173 Figura 6.4 - Proteção diferencial combinada barra-transformador Fonte: Caminha (1977, p. 164). 6.4.7 Proteção de retaguarda Para Caminha (1977), é o tipo de proteção em que a barra é inclu- ída dentro da zona de proteção de retaguarda dos relés utilizados. É um tipo de proteção bastante antigo, em que os relés, distantes dos circuitos, alimentam a própria barra. 174 UNIUBE Figura 6.5 - Proteção de retaguarda de barramento Fonte: Caminha (1977, p. 164). 6.4.8 Proteção de massa ou dispersão pela carcaça Usado especialmente em barramentos de subestações externas, blindados etc., este tipo de proteção faz com que um relé de sobre-corrente atue sobre um relé auxiliar, acionando os disjuntores liga- dos à barra, isolados da terra, exceto pelo primário de um TC, em que seu secundário alimenta um relé de sobrecorrente instantâneo sempre que ocorre falta à terra (CAMINHA, 1977). UNIUBE 175 Figura 6.6 - Proteção massa-cuba de barramentos em armários metálicos Fonte: Caminha (1977, p. 165). 6.4.9 Proteção por comparação direcional Esse tipo de proteção é de difícil aplicação em grandes sistemas elétricos de potência. Durante uma falta interna, a energia flui na di- reção da barra em todos os circuitos conectados; já quando há uma falta externa, o fluxo é na direção da barra e dos demais circuitos, com exceção do alimentador faltoso. Esses fatores dificultam ainda mais quando ocorrem em barramen- tos que unem redes de cabos, em que o efeito capacitivo também atua e por restrições à tensão necessárias, ou por relés direcionais de sequência negativa, que, por sua vez, são menos afetados com a corrente capacitiva (CAMINHA, 1977). 176 UNIUBE Considerações Finais Geradores e barramentos, assim como todos os elementos de um sistema elétrico de potência, têm uma função imprescindível de proverem energia, receberem e transmiti-la, respectivamente. Como pudemos ver neste capítulo, existem muitos problemas que podem ocorrer em geradores e barramentos e, assim como as fal- tas, a quantidade de formas de se proteger esses elementos tam- bém são grandes. A literatura, com o passar dos anos, apresenta cada vez mais práti- cas e pesquisas relacionadas à área de proteção de sistemas elétri- cos de potência, trazendo modelos consagrados como adequados quando se fala de formas de se proteger e de tipos característicos de faltas de alguns aparelhos. Porém esses modelos encontrados são base para que o engenheiro projetista do sistema de proteção desses elementos possa ter como se orientar e, também, como forma de checklist, para não esquecer nenhum possível problema. Assim, quem fará o melhor sistema de potência para as diversas variáveis que possam existir é, segundo a base de estudos, o en- genheiro projetista. A evolução e o aprimoramento dos elementos protetores vêm cres- cendo com o passar dos anos; a atualização e o conhecimento das novas maneiras de se fazer um sistema de proteção da melhor forma, ou seja, com menor custo e de maneira mais rápida, cabe aos estudiosos e sempre atentos a aprender essas novas técnicas. UNIUBE 177 Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução Proteção de motores de indução de grande porteCapítulo 7 Caro(a) aluno(a), o Capítulo VII – Proteção de motores de indução de grande porte – continua o estudo do conteúdo referente à disciplina Proteção de Sistemas Elétricos. O conteúdo da disciplina abordou, até o presente capítulo, a importância da proteção de sistemas elétricos de potência (SEP), transformadores redutores de tensão e filtro, relés de sobrecorrente e distância com suas respectivas aplicações, teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção, proteção de transformadores, geradores e barramentos. Ainda serão abordados os tópicos de proteção de motores de indução de grande porte, além de novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência. Neste capítulo, inicia-se o estudo de proteção de motores de indução de grande porte, em que será possível observar que os elementos de proteção estudados nos capítulos anteriores conseguem suprir as necessidades básicas do sistema de proteção desejado. Os códigos dos elementos e a função individual podem ser observados na norma ANSI/ IEEE C37.2. 178 UNIUBE O texto aborda a importância da proteção térmica dos motores devido à deterioração do sistema de isolamento de seus enrolamentos com o aumento da temperatura, evitando condições que possam resultar em sobrecarga térmica dos enrolamentos, pois condições severas podem resultar em danos aos motores, enquanto pequenas sobrecargas impactam na redução da vida útil do motor. Assim como em outros componentes de um sistema elétrico de potência, a proteção de sobrecorrente instantânea e temporizada fornece proteção para as faltas nos terminais e nos cabos de alimentação do motor e para as faltas internas do próprio motor, complementando a proteção térmica. Outras funções de proteção com aplicação em motores trifásicos de grande porte são estudadas, como a proteção de sobrecorrente de terra, de desbalanço de corrente ou de corrente de sequência negativa e diferencial para motor. Essa última é de grande importância para a proteção de motores de grande porte, justificando o custo da sua implementação. Dentre tantas opções de proteção para motores, orienta-se o estudo e a aplicação das funções com relação à tensão e à potência do motor a ser protegido. Lembrando que toda a proteção depende da análise do sistema, não sendo obrigatória a aplicação de todos os métodos indicados. O estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência não deve, contudo, ser restrito ao material ou ao conteúdo aqui apresentado. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento, principalmente quando o assunto abordado é de interesse ou grande utilidade para você, aluno(a). UNIUBE 179 • Conhecer os princípios básicos de proteção de motores trifásicos de grande porte. • Verificar a importância da proteção térmica para motores de grande porte. • Aplicar os dispositivos estudados anteriormente na proteção de motores. • Estudar os critérios de aplicação de funções de proteção de motores com relação à sua tensão e potência. 1. Funções de proteção aplicáveis a motores trifásicos de grande porte 2. Proteção térmica (Função 49) 3. Proteção de sobrecorrente 3.1. Proteção de sobrecorrente instantânea (50) 3.2. Proteção de sobrecorrente temporizada (51) 4. Proteção de sobrecorrente de terra (50 GS) 5. Proteção de desbalanço de corrente ou corrente de sequência negativa (46) 6. Proteção diferencial para motor (87 M) 7. Critérios de aplicação de funções de proteção de motores trifásicos 7.1. Baixa tensão com potência nominal até 55 kW 7.2. Baixa tensão com potência nominal entre 55 kW e 150 kW 7.3. Média tensão com potência nominal entre 150 kW e 1.200 kW 7.4. Média tensão com potência nominal entre 1.200 kW e 1.500 kW 7.5. Média tensão com potência nominal acima de 1.500 kW Objetivos Esquema 180 UNIUBE Com a necessidade do aumento do tempo de operação das plan- tas e dos processos produtivos em todas as áreas da indústria, a identificação e a correção de problemas são fundamentais para a elevação dos níveis de confiabilidade do sistema e o aumento dos lucros operacionais. Como os motores elétricos são responsáveis por grande parte dos acionamentos das máquinas encontradas nas plantas industriais, a sua proteção é fundamental para o bom andamento da produção, evitando danos ao equipamento, bem como paradas excessivas e prejudiciais aos processos. Além do custo do próprio motor, as perdas operacionais (perda de produção, matéria-prima, reparação da produção e atrasos) são evitadas ou reduzidas com a correta aplicação das funções de pro- teção, permitindo que as empresas sejam mais competitivas devi- do à redução dos custos. Assim, quando submetida a condições anormais de funcionamento, a proteção do motor elétrico deve operar dentro do especificado, prote- gendo o equipamento e maximizando o seu tempo de disponibilidade no sistema. Falhas na proteção também podem impactar a segurança das pessoas em contato com o motor (direto ou indireto). Funções de proteção aplicáveis a motores trifásicos de grande porte 7.1 A norma ANSI/IEEE C37.96 apresenta métodos de proteção para motores de corrente alternada, identificando e resumindo as fun- ções necessárias para a proteção adequada de motores com base em tipo, tamanho e aplicação. UNIUBE 181 A proteção deve ser projetada para apresentar confiabilidade do serviço, segurança e proteção do equipamentoa um custo razo- ável. Principalmente no caso de motores de grande porte, o fabri- cante do componente deve ser contactado para repasse de seus requisitos e características. Caso ocorra uma falha no motor, o reparo e a reinstalação do sis- tema de proteção devem ser revistos para contemplar o funcio- namento do equipamento de forma segura. Tais medidas podem resultar na adição de novos componentes de proteção e revisão do esquema de proteção, incluindo, no caso de substituição do motor, uma unidade com maior eficiência. Os dispositivos de proteção e suas respectivas características são padronizados pela norma ANSI/IEEE C37.2, referidos por um có- digo numérico e por sufixo alfabético de acordo com as funções que realizam. Segue o quadro com algumas opções de códigos e descrição funcional padronizadas: Quadro 7.1 - Códigos e descrição funcional de dispositivos de proteção utilizados em motores Código Descrição funcional 14 Subvelocidade 27 Subtensão 37 Subcorrente 38 Proteção de temperatura mancal (RTD) 46 Desbalanço de corrente ou corrente de sequência negativa 47 Sequência de fase incorreta ou reversão de fase 182 UNIUBE 48 Monitoramento de tempo de partida 49 Proteção térmica para motor 50 Sobrecorrente instantânea 51 Sobrecorrente temporizada 66 Inibição de repartida 86 Bloqueio de partida 87 Relé diferencial (M para motores) Fonte: Adaptado de Norma ANSI/IEEE C37.2. O sistema de proteção dos motores trifásicos devem prote- ger o motor durante seu estado normal de funcionamento, in- cluindo a partida, além das condições anormais de operação do sistema elétrico, do sistema mecânico ou do próprio motor (BULGARELLI, 2006, p. 20). Assim, devido à grande quantidade de parâmetros que devem ser observados, existem diversas funções de proteção para motores de corrente alternada. Contudo, dependendo do motor, a utilização de todas essas funções pode não ser necessária. A Figura 7.1 ilus- tra um exemplo de aplicação de relé de proteção multifunção a um motor de indução trifásico. UNIUBE 183 Figura 7.1 - Exemplo de aplicação de relé de prote- ção multifunção a um motor de indução trifásico Fonte: Bulgarelli (2006, p. 21). 7.2. Proteção térmica (Função 49) Uma causa comum de ocorrência de falhas e de redução da vida útil dos motores é a deterioração do sistema de isolamento de seus enrolamentos, podendo ser resultante da exposição dos enrola- mentos à umidade, à excessiva solicitação dielétrica ou térmica, aos danos mecânicos, dentre outros. A função da proteção térmica de um motor é evitar danos quando cargas mecânicas são aplicadas acima da capacidade nominal, com o motor em operação, e contra rotor bloqueado durante a partida do motor. Assim, a proteção térmica evita condições que possam 184 UNIUBE resultar em sobrecarga térmica dos enrolamentos, pois condições severas podem resultar em danos aos motores, enquanto peque- nas sobrecargas impactam na redução da vida útil do motor. Segundo Bulgarelli (2006, p. 22), um elemento de proteção de so- brecorrente de tempo inverso e outro de sequência negativa podem ser aplicados de forma a evitar o sobreaquecimento causado pelas condições de rotor travado e de correntes desbalanceadas em um motor. Nenhum desses elementos de proteção, porém, considera o histórico térmico do motor. Mesmo em funcionamento normal, um motor elétrico pode requerer potência acima da sua potência nominal, dependendo das neces- sidades momentâneas do seu trabalho. O aumento da temperatura dos enrolamentos do estator é consequência da sobrecarga do mo- tor, cuja vida útil é reduzida pelo aquecimento e pela deterioração do sistema de isolamento. A proteção térmica por meio dos métodos de detecção de sobrecarga ou sobretemperatura utiliza um relé do tipo imagem térmica (função 49), alimentado por TCs ou por sensores resistivos de temperatura (RTD). A forma mais adequada para a proteção térmica de um motor de grande porte ou de grande importância operacional utiliza ambos os métodos de proteção: medição de corrente e temperatura. 7.3. Proteção de sobrecorrente Os elementos de proteção de sobrecorrente fornecem proteção para as faltas nos terminais e nos cabos de alimentação do motor e para as faltas internas do próprio motor, complementando a pro- teção térmica. UNIUBE 185 7.3.1. Proteção de sobrecorrente instantânea (Função 50) Quando a finalidade da proteção é desligar o motor defeituoso o mais rapidamente possível, utiliza-se a proteção instantânea. A proteção contra curto-circuito entre fases para motores trifásicos deve ser considerada somente quando utilizar um disjuntor tripolar corretamente dimensionado para interromper as correntes de falta. O ajuste da proteção de sobrecorrente instantânea deve estar aci- ma da corrente de partida do motor, quando utilizada na proteção de curto-circuito do motor para falta entre fases. Geralmente, uti- liza-se o valor da corrente de pick-up no intervalo entre 1,2 e 1,5 na corrente do rotor bloqueado, com o objetivo de evitar o desli- gamento devido à corrente de partida, visto que faltas entre fases fornecem correntes maiores que a corrente de rotor bloqueado. 7.3.2. Proteção de sobrecorrente temporizada (Função 51) A proteção de sobrecorrente temporizada, mais especificamente os relés de sobrecorrente de tempo inverso, são utilizadas para a pro- teção do motor contra rotor bloqueado e emperramentos do rotor. No processo de partida e aceleração do motor elétrico, são veri- ficados elevados valores de corrente, também conhecidos como correntes de inrush, resultando no rápido aquecimento dos condu- tores. Essas correntes são de 5 a 7 vezes a corrente nominal do motor, enquanto o calor resultante é da ordem de 25 a 50 vezes o calor gerado em condições normais de funcionamento. Assim, para proteger o motor nas condições de rotor travado (na partida ou em funcionamento), são utilizadas as funções de 186 UNIUBE sobrecorrente temporizadas em complemento ou como função de retaguarda à função de proteção térmica. A condição de emperra- mento ocorre quando a carga mecânica excede a capacidade de torque máximo do motor, ocasionando uma corrente excessiva. O tempo de atuação da proteção de sobrecorrente temporizada deve ser maior que o tempo de atuação da função de sobrecorren- te instantânea, permitindo que a condição de emperramento mo- mentâneo do motor ou a anomalia do processo seja eliminado pelo próprio processo. Esse ajuste evita desligamentos desnecessários do motor causados pela atuação indevida ou prematura da prote- ção de sobrecorrente temporizada. Para a proteção de travamento do rotor, nos casos em que a cor- rente de fase exceder o ajuste de pickup da função, por um tem- po maior que o tempo de atuação previsto, o relé opera e o mo- tor é desligado. Os valores de alarme e trip para a proteção de sobrecorrente são de 1,25 a 1,35 o valor da corrente nominal do motor, sendo que o tempo de atraso é função dos tempos máxi- mos de rotor bloqueado em temperatura ambiente e de operação. Características do processo e casos particulares de aplicação po- dem alterar tais valores. 7.4. Proteção de sobrecorrente de terra (Função 50 GS) A maioria das falhas dos sistemas elétricos de potência é recorren- te de faltas entre fase e terra. Para a proteção contra curto-circuito à terra, podem ser utilizados: • TC de sequência zero conectado a um dispositivo de proteção com função de sobrecorrente instantânea de terra (50 GS). UNIUBE 187 • Três TCs de fase conectados residualmente a um dispositivo de proteção com a função de sobrecorrente temporizada de neutro (51 N). A proteção com o relé de função 50 GS apresenta um nível baixo para ajuste e não apresenta tempo de retardo. A conexão resi- dual 51 N utiliza ajuste mínimo de, aproximadamente, metade do valor do primário do TC, enquanto o tempo de retardo deve ser ajustado para evitar sinais de desligamento indevidos decor- rentes do desequilíbrio de correntes de saída dos TCs. Esses desequilíbriospodem ser resultado de características diferentes entre os TCs ou a sua saturação. Um método utilizado em sistemas industriais para proteção de grandes motores é composto pelas três fases, passando por den- tro de um TC toroidal, cujo fluxo magnético resultante das corren- tes induz a corrente de sequência zero disponibilizada na saída do secundário do TC. Esse método apresenta boa precisão e alta sensibilidade, mas, como os cabos alimentadores do motor neces- sitam passar dentro do TC, as dimensões dos cabos podem ser limitantes em sua utilização. A Figura 7.2 ilustra a proteção de so- brecorrente de terra com a utilização de um TC toroidal. 188 UNIUBE Figura 7.2 - Proteção de sobrecorrente de terra (50 GS) utilizando TC toroidal Fonte: Bulgarelli (2006, p. 31). Dentro da limitação devido à seção nominal dos cabos de alimen- tação, para motores com elevadas potências, é utilizado o arranjo de três TCs ligados de forma residual, e o relé de sobrecorrente instantânea (50 N) ligado ao neutro dos TCs. Tal relé deve ser ajus- tado com valor abaixo da corrente de carga do motor e acima de uma possível corrente residual falsa. UNIUBE 189 7.5. Proteção de desbalanço de corrente ou corrente de sequência negativa (Função 46) Outro fator que causa significativo aquecimento do motor elétrico são as componentes de sequência negativa de correntes desba- lanceadas. O ajuste da função de proteção para o desequilíbrio de corrente de fases e operação com falta de fase é baseado nos cálculos das correntes de sequência negativa. A operação monofásica na partida ou em operação (fase do motor aber- to), o curto-circuito entre enrolamentos, o transformador com uma fase primária em aberto e as tolerâncias de fabricação são os principais mo- tivos que causam desbalanço de correntes em motores elétricos. Tomando como exemplo a condição de fase do motor em aberto causada pela queima de um fusível, o motor com somente dois condutores de fase energizados não partirá e uma grande corrente de desequilíbrio será produzida. Caso a mesma falta seja obser- vada com o motor em funcionamento, a condição de desbalanço resulta em um componente de sequência negativo, que produz um fluxo em sentido contrário ao sentido de rotação do motor. Em ambos os casos, o rápido aquecimento pode danificar o motor em um curto período de tempo. Por esse motivo, é necessário que a função de proteção de desbalanço de corrente ou corrente de sequência negativa desligue rapidamente o motor. Assim, os elementos de proteção de sobrecorrente de sequência negativa não são sensibilizados para correntes de carga que este- jam balanceadas, permitindo que operem mais rapidamente e com maior sensibilidade para falta do tipo fase-fase. 190 UNIUBE Ampliando o conhecimento Devido à grande quantidade de parâmetros que devem ser obser- vados, existem diversas funções de proteção para motores de cor- rente alternada. Amplie seus conhecimentos estudando os méto- dos de proteção de inibição de partida (função 66), de proteção por monitoração do tempo de partida ou partida longa (função 48) e de proteção de subvelocidade (função 14). 7.6. Proteção diferencial para motor (87 M) A proteção diferencial de sobrecorrente de um motor compara o fluxo de corrente que entra no motor com a corrente do “neutro” do motor, sendo detectada como falta quando existir diferença entre as correntes medidas. Devido aos custos de implementação de técnicas de proteção mais sensíveis e elaboradas, a proteção diferencial é aplicada para motores de grande porte, de elevado custo de manutenção ou de grande importância na produção. Essa proteção aumenta a sensi- bilidade e a velocidade na operação da proteção de curto-circuito entre fases e para a terra, internos ao motor. Durante a operação normal de um motor trifásico, as correntes que entram nos enrolamentos do motor são iguais às que retornam dos enrolamentos (Lei de Kirchhoff). Contudo, quando tais correntes diferem, existe indicativo de fuga de corrente ou de falta dentro do motor (à terra ou entre fases). A técnica mais utilizada na proteção diferencial é o método do fluxo autobalanceado, apresentando elevada sensibilidade UNIUBE 191 e promovendo a proteção dos enrolamentos do motor com a utilização de um sobrecorrente instantâneo (função 87 M). Os TCs e o relé utilizados são os mesmos utilizados para a prote- ção instantânea de sobrecorrente de terra de sequência zero. A Figura 7.3 ilustra o esquema típico de proteção diferencial autobalanceada para motores. Figura 7.3 - Esquema típico de proteção diferencial autobalanceada para motores Fonte: Bulgarelli (2006, p. 37). Outra técnica utilizada na proteção diferencial é o método percen- tual, apresentando menor sensibilidade, quando comparado ao método autobalanceado, e permitindo estender a zona de proteção para os cabos de força dos circuitos alimentadores, além dos enro- lamentos do motor. 192 UNIUBE Os dois métodos de proteção diferencial comentados apresentam elevada sensibilidade e rápidos tempos de atuação, quando com- parados com outros métodos, evitando maiores danos ao motor e ao tempo de disponibilidade dele. Ampliando o conhecimento Devido à grande quantidade de parâmetros que devem ser ob- servados, existem diversas funções de proteção para motores de corrente alternada. Amplie seus conhecimentos estudando os mé- todos de proteção de subtensão (função 27) e proteção contra ro- tação ao contrário (back-spin). 7.7. Critérios de aplicação de funções de proteção de motores trifásicos Como comentado anteriormente, a definição de quais funções de- vem ser utilizadas na proteção de motores de indução trifásicos é relacionada à tensão de alimentação, potência nominal e aplicação do equipamento a ser protegido. Os critérios são orientados pela norma ANSI/IEEE C37.96, mas ou- tras funções de proteção específicas podem ser necessárias, de- pendendo da importância do motor ou do processo. Fatores como custo do motor, perdas referentes ao período de inatividade, tempo de manutenção e supervisão, dificuldade e custo de reparos deter- minam a importância do motor. UNIUBE 193 7.7.1. Baixa tensão com potência nominal até 55 kW Motores de indução trifásicos de baixa tensão (tensão nominal de 400 V) e potência nominal até 55 kW são, em geral, controlados por meio de contatores e alimentados a partir de painéis do tipo CCM (Centro de Controle de Motores), com tensão nominal de 480 V (BULGARELLI, 2006, p. 40). Caso não sejam utilizados módulos digitais e a aplicação de baixa tensão utilize relés de sobrecarga mecânicos, com o sistema dire- tamente aterrado e com partida direta na rede, normalmente, são aplicadas as seguintes proteções: • Proteção de sobrecarga realizada por relé térmico eletrome- cânico do tipo bimetálico. • Proteção de sobrecorrente para curto-circuito entre fases e para a terra. A proteção de sobrecorrente pode ser realizada por meio de fu- síveis, mas está em desuso devido às elevadas capacidades de corrente de curto-circuito dos atuais disjuntores. Para sistemas aterrados mediante a alta resistência e com corrente de falta limitada até 10 A, nenhuma proteção de falta de terra é nor- malmente utilizada. Nesse caso, utiliza-se um TC do tipo ground- sensor ligado a um relé com função de sobrecorrente instantânea de terra (50GS). Caso sejam utilizados módulos digitais, também conhecidos como “inteligentes”, para proteção e controle, é possível a implementação 194 UNIUBE de funções de proteção de motor adicionais àquelas implementa- das somente com relés térmicos bimetálicos. Dentre as funções, pode-se destacar as de subcarga, partidas frequentes, falta e des- balanço de fase, dentre outros. 7.2. Baixa tensão com potência nominal entre 55 kW e 150 kW Motores de indução trifásicos de baixa tensão (tensão nominal de 400 V) e potência nominal entre 55 kW e 150 kW são, em geral, controla- dos por meio de disjuntores abertos e alimentados a partir de painéisdo tipo CDC (Centro de Distribuição de Carga), com tensão nominal de 480 V (BULGARELLI, 2006, p.42). Utiliza-se, normalmente, um relé de proteção multifunção digital, alimentado por meio de transformadores de corrente (TCs) ins- talados nos circuito de alimentação do motor. Assim, para esses sistemas diretamente aterrados e com partida direta na rede, são aplicadas as seguintes proteções: • Proteção de sobrecorrente instantânea (50). • Proteção de sobrecorrente instantânea de falta à terra (50 GS). • Proteção de sobrecorrente temporizada (51). • Proteção térmica (49), com alarme prévio de sobrecarga. • Proteção de subcarga (37). • Proteção de subtensão (27), por meio do relé digital de prote- ção ou mediante a abertura do disjuntor por meio de bobina UNIUBE 195 de mínima tensão. • Proteção contra correntes de sequência negativa (46). • Proteção por supervisão de tempo de partida (48). • Inibição de repartida (66). • Função de bloqueio (86), residente em memória não volátil do relé digital de proteção. 7.3. Média tensão com potência nominal entre 150 kW e 1.200 kW Motores de indução trifásicos de média tensão (tensão nominal de 4.000 V) e potência nominal entre 150 kW e 1.200 kW são, em geral, controlados por meio de contatores isolados a SF6 ou a vácuo, sendo alimentados a partir de painéis do tipo CCM (Centro de Controle de Motores), com tensão nominal de 4.160 V (BULGARELLI, 2006, p. 43). Utiliza-se, normalmente, um relé de proteção multifunção digital com entradas de medição de corrente e tensão trifásicas e, em função da utilização de contatores como elemento de manobra, as funções de sobrecorrente devem ser desabilitadas ou bloqueadas. Tais considerações são relacionadas ao dimensionamento do con- tator não suportar correntes de curto-circuito, e sim as nominais. Assim, para esses sistemas diretamente aterrados mediante bai- xa resistência e com partida direta na rede, são aplicadas as se- guintes proteções: 196 UNIUBE • Proteção de sobrecorrente instantânea de falta à terra (50 GS). • Proteção térmica (49), com alarme prévio de sobrecarga. • Proteção de subcarga (37). • Proteção de subtensão (27), quando da utilização de circui- tos de controle alimentados em corrente contínua ao invés de controle alimentados pelo TP de comando. • Proteção contra correntes de sequência negativa (46). • Proteção contra desequilíbrio de tensão ou sequência de fase incorreta (47). • Proteção por supervisão de tempo de partida (48). • Inibição de repartida (66). • Função de bloqueio (86), residente em memória não volátil do relé digital de proteção. 7.4. Média tensão com potência nominal entre 1.200 kW e 1.500 kW Motores de indução trifásicos de média tensão (tensão nomi- nal de 4.000 V) e potência nominal entre 1.200 kW e 1.500 kW são, em geral, controlados por meio de contatores isolados a SF6 ou a vácuo, sendo alimentados a partir de painéis do tipo CDC (Centro de Distribuição de Carga), com tensão nominal de 4.160 V. (BULGARELLI, 2006, p.43) UNIUBE 197 Utiliza-se, normalmente, um relé de proteção multifunção digital com entradas de medição de corrente e tensão trifásicas. Para es- ses sistemas diretamente aterrados por meio de baixa resistência e com partida direta na rede, são aplicadas as seguintes proteções: • Proteção de sobrecorrente instantânea (50). • Proteção de sobrecorrente instantânea de falta à terra (50 GS). • Proteção de sobrecorrente temporizada (51). • Proteção térmica (49), com alarme prévio de sobrecarga. • Proteção térmica por medição de temperatura por RTDs (49T). • Proteção de subtensão (27). • Proteção de subcarga (37). • Proteção contra correntes de sequência negativa (46). • Proteção contra desequilíbrio de tensão ou sequência de fase incorreta (47). • Proteção por supervisão de tempo de partida (48). • Inibição de repartida (66). • Função de bloqueio (86), residente em memória não volátil do relé digital de proteção. • Proteção diferencial autobalanceada (87M). 198 UNIUBE 7.5. Média tensão com potência nominal acima de 1.500 kW Motores de indução trifásicos de média tensão (tensão nominal de 13.200 V) e potência nominal acima de 1.500 kW são, em geral, con- trolados por meio de contatores isolados a SF6 ou a vácuo, sendo alimentados a partir de painéis do tipo CDC (Centro de Distribuição de Carga), com tensão nominal de 13.800 V (BULGARELLI, 2006, p. 44). Utiliza-se, normalmente, um relé de proteção multifunção digital com entradas de medição de corrente e tensão trifásicas. Para es- ses sistemas diretamente aterrados por meio de baixa resistência e com partida direta na rede, são aplicadas as mesmas proteções dos motores alimentados pelos CDCs de 4.160 V e sistema de mo- nitoração de vibração da carcaça e mancais. Para motores com elevada potência ou importância operacional, são instalados sistemas de monitoração de descargas parciais, cuja função é acompanhar o estado do sistema de isolação dos enrolamentos do motor. UNIUBE 199 Figura 7.4 - Motor elétrico de grande potência utilizado para bombeamento de água Fonte: THANAWIT KONGKAEW, 123RF. 200 UNIUBE Considerações Finais Prezado(a) aluno(a), neste capítulo, abordamos a proteção de motores de indução de grande porte e, para tal, os dispositivos utilizados. As fun- ções de proteção de motores foram abordadas segundo a norma ANSI/ IEEE C37.96, que orienta a proteção de motores de corrente alternada. Observou-se a importância da proteção térmica dos motores devi- do à deterioração do sistema de isolamento de seus enrolamentos com o aumento da temperatura, evitando condições que possam resultar em sobrecarga térmica dos enrolamentos, pois condições severas podem resultar em danos aos motores, enquanto peque- nas sobrecargas impactam na redução da vida útil do motor. De forma complementar à proteção térmica, os elementos de pro- teção de sobrecorrente fornecem proteção para as faltas nos termi- nais e nos cabos de alimentação do motor e para as faltas internas do próprio motor. Outras funções de proteção com aplicação em motores trifásicos de grande porte foram estudadas, como a proteção de sobrecor- rente de terra, de desbalanço de corrente ou de corrente de sequ- ência negativa e diferencial para motor. A proteção diferencial para motor é muito importante para a pro- teção de motores de grande porte, justificando o custo da sua im- plementação. Tal metodologia tem como objetivo principal a detec- ção de falhas internas do motor, tanto no método autobalanceado quanto no método percentual. Os dois métodos de proteção diferencial apresentam elevada sensibilidade e rápidos tempos de atuação, quando compara- dos com outros métodos, evitando maiores danos ao motor e UNIUBE 201 ao tempo de disponibilidade dele. Justifica-se, assim, o custo de implementação para motores de grande porte ou com elevada importância no sistema. Dentre tantas opções de proteção para motores, orienta-se o estu- do e a aplicação das funções com relação à tensão e à potência do motor a ser protegido. Lembrando que toda a proteção depende da análise do sistema, não sendo obrigatória a aplicação de todos os métodos indicados. 202 UNIUBE UNIUBE 203 Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução Novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência Capítulo 8 Olá, querido(a) aluno(a). O Capítulo VIII – Novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência – finaliza nosso estudo do conteúdo referente à disciplina Proteção de Sistemas Elétricos. Nos conteúdos da disciplina, abordamos, até o presente capítulo, a importância da proteção de sistemas elétricos de potência (SEP), transformadores redutores de tensão e filtro, relés de sobrecorrente e distância com suas respectivas aplicações, teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção, proteção de transformadores, geradores, barramentos e motores de grande porte. Neste capítulo, serão abordadas algumas novas tecnologias aplicadasna proteção de sistemas de potência, além das derivações ou consequências dessas tecnologias em outras áreas. Inicialmente, é repassado o desenvolvimento dos dispositivos de proteção, sua evolução por meio das tecnologias disponíveis em cada período. Com o advento dos microprocessadores, a absorção dessa tecnologia pelos dispositivos utilizados na proteção de sistemas de potência culminou com o desenvolvimento dos dispositivos eletrônicos inteligentes (IEDs). Tais dispositivos são como computadores com alta capacidade de processamento, de tal forma que um único relé inteligente pode realizar diversas funções de proteção. A utilização de dispositivos inteligentes na proteção de sistemas 204 UNIUBE permitiu a utilização de métodos matemáticos e de ferramentas computacionais para o desenvolvimento de sistemas mais rápidos, precisos e exatos. Esses fatores aumentam a confiabilidade, a seletividade e a segurança da proteção. Contudo, devido à falta de norma regulamentadora, a comunicação entre dispositivos de diferentes fabricantes era inviável, em virtude dos protocolos proprietários utilizados em cada dispositivo, fato que proporcionou o desenvolvimento da norma IEEE 61850. O conceito de smart grid apresenta uma mudança no padrão do setor elétrico e torna o sistema energético mais interativo. A necessidade de incorporar novas fontes, introduzir novos consumidores e melhorar a eficiência e o dimensionamento da própria rede justifica a crescente aplicação de IEDs na proteção dos sistemas elétricos. O estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência, no entanto, não deve ser restrito ao material ou ao conteúdo apresentado. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento, principalmente quando o assunto abordado é de seu interesse ou de grande utilidade. UNIUBE 205 • Conhecer o histórico de desenvolvimento dos dispositivos de proteção. • Observar as características de um dispositivo eletrônico inteligente. • Verificar a tendência de métodos e de ferramentas utilizados na proteção de sistemas. • Conhecer a normatização do protocolo de comunicação IEC 61850. • Visão geral de Smart Grid. 1. Desenvolvimento dos dispositivos de proteção 1.1. Histórico 1.1.1. Eletromecânico 1.1.2. Estático 1.1.3. Digital 1.2. IED – Intelligent Electronic Device 1.3. Tendências modernas na proteção de sistemas 1.3.1. Métodos de detecção de falta 1.3.2. Novas ferramentas utilizadas em proteção 2. IEC 61850 3. Smart Grid 3.1. Smart Grid no mundo 3.2. Smart Grid no Brasil Objetivos Esquema 206 UNIUBE 1. Desenvolvimento dos dispositivos de proteção8.1 8.1.1 Histórico 8.1.1.1 Eletromecânico Os primeiros dispositivos de proteção de sistemas elétricos foram os relés eletromecânicos, com base nos movimentos mecânicos provenientes de acoplamentos elétricos e magnéticos. Utilizando os princípios de atração e de indução eletromagnética, o funciona- mento do relé eletromecânico realiza a movimentação de discos magnéticos ou de núcleos ferromagnéticos que, por sua vez, reali- zam a abertura ou o fechamento de contatos elétricos. Esses relés podem ser classificados de acordo com o propósito (proteção, contatos auxiliares) e com o mecanismo de ação (ar- madura de atracamento, disco de indução, bobina móvel, dentre outros) deles. Os relés eletromecânicos de contato móvel (arma- dura de atracamento) são utilizados para multiplicação de contatos e isolação galvânica, enquanto os demais tipos foram substituídos por equipamentos mais modernos. 8.1.2 Estático Com o desenvolvimento dos componentes eletrônicos na década de 1960, o processo de desenvolvimento de novos relés substituiu o uso das bobinas e dos ímãs dos relés eletromecânicos por dispo- sitivos eletrônicos com componentes analógicos. Devido à ausên- cia de partes móveis, tal relé foi denominado estático. UNIUBE 207 Os primeiros relés estáticos utilizavam dispositivos discretos, como transistores, diodos, resistores, capacitores e indutores, até que o desenvolvimento da eletrônica permitisse o processamento de sinais e a implementação de funções lógicas com a utilização de circuitos integrados lineares e digitais. Essa tecnologia não pro- porcionava várias funções no mesmo relé, sendo necessário vários equipamentos apropriadamente conectados para a realização de uma função complexa. 8.1.3 Digital Com o advento da microeletrônica, os relés estáticos foram substi- tuídos pelos relés digitais, cujo principal diferencial era a utilização de processamento digital para tratamento de variáveis analógicas. Contudo, devido à pequena capacidade de processamento dos dis- positivos existentes no período, os dispositivos apresentavam limi- tação quanto ao número de funções e aos tempos de amostragem do sinal analógico e de processamento digital. A programação do relé digital era realizada por meio de configura- ção com computador, mas o tempo de processamento das funções de proteção não permitia a execução de lógica, controle via rede, automonitoramento (autodiagnóstico), dentre outros. Com o avan- ço da tecnologia e da microeletrônica, os relés foram aperfeiçoados para relés microprocessados, também conhecidos como relés nu- méricos ou relés inteligentes (IED – Intelligent Electronic Device). 208 UNIUBE 8.1.2 IED – Intelligent Electronic Device O termo dispositivo eletrônico inteligente (IED) é amplamente utiliza- do na área de sistemas elétricos de potência (SEP) para descrever controladores baseados em microprocessadores. Em virtude das ca- racterísticas e das funções, esses dispositivos atendem aos requisitos necessários à proteção de sistemas elétricos, mas, internamente, são como computadores com alta capacidade de processamento. Figura 8.1 - Dispositivos eletrônicos inteligentes utilizados em uma subestação Fonte: PHADVENTURE, 123RF. Dentro das características e das funções desses dispositi- vos, podem-se listar o autodiagnóstico (automonitoramento), a UNIUBE 209 integração com softwares, a execução de lógicas internas, a in- terligação e a comunicação em rede, a sincronização de tempo, dentre outros. Assim, um único relé inteligente pode realizar di- versas funções de proteção. Com foco na automação da proteção de sistemas elétricos de po- tência, as características mais importantes dos dispositivos eletrô- nicos inteligentes são as capacidades de comunicação via rede, execução de lógicas internas de controle, automonitoramento e in- tegração com softwares. A configuração e o gerenciamento dos parâmetros dos equipamen- tos, a integração, o acesso remoto, a visualização das variáveis e dos valores instantâneos são realizados via software, por meio de aplicativos específicos de cada fabricante de IEDs. Dentro do software, é disponibilizado um ambiente para programação gráfica, com diversos blocos de funções, que possibilitam configurar as ló- gicas de um painel elétrico ou o sistema de automação para uma subestação dentro dos relés inteligentes. Os relés apresentam entradas analógicas e digitais, que ativam as funções programadas, assim como variáveis de controle internas e interfaces de comunicação. Essas interfaces permitem a integração dos dispositivos de campo com o supervisório. Por muito tempo, a comunicação entre dispositivos de diferentes fabricantes era inviável, devido aos protocolos proprietários utilizados em cada dispositivo, fato que proporcionou o desenvolvimento da norma IEEE 61850. 210 UNIUBE 8.2 Tendências modernas na proteção de sistemas 8.2.1. Métodos de detecção de falta Devido à evolução dos dispositivos de proteção, característica que compreende a utilização de microprocessadores nos relés, grande parte da tecnologia utilizada para a melhora do desempenho dos dispositivos eletrônicos inteligentes é proveniente de uso de técni- cas com base matemática para a proteção digital. Assim, a determinação de sinais e eventos com maior velocidade, precisão e exatidão proporciona benefícios parao sistema de pro- teção, aumentando a confiabilidade, a seletividade, a segurança etc. Dentre os métodos matemáticos utilizados, pode-se listar: • Mínimos Quadrados. • Transformada de Fourier. • Transformada Discreta de Fourier (DFT – Discrete Fourier Transform). • Transformada Rápida de Fourier (FFT – Fast Fourier Transform). • Função Walsh. • Filtro de Kalman. Alguns métodos são amplamente utilizados e conhecidos em to- dos os segmentos da engenharia, como Mínimos Quadrados e a UNIUBE 211 Transformada de Fourier. Por outro lado, a Função Walsh e o Filtro de Kalman sempre foram utilizados em áreas distantes da prote- ção de sistemas elétricos de potência, como Telecomunicação e Navegação Inercial. Utilizando como exemplo as áreas de aplicação citadas anterior- mente, a Função Walsh é utilizada para encontrar transposições de fios que minimizam a diafonia (interferência prejudicial no aco- plamento de circuitos de comunicação, de que resulta som confu- so). O Filtro de Kalman é utilizado para estimar valores a partir de um modelo dinâmico de um sistema corrompido por ruído branco, como observados em sistemas de navegação inercial. Devido ao poder de processamento dos IEDs, tais métodos foram apli- cados na proteção de SEP e permitiram a determinação de sinais e de eventos com maior velocidade, aumentando a precisão, a exatidão, a confiabilidade, a seletividade e a segurança do sistema de proteção. 8.2.2. Novas ferramentas utilizadas em proteção 8.2.2.1. Algoritmos genéticos (AG) Segundo Lopes (1999), um dos subproblemas do despacho de car- ga é a questão do comissionamento das unidades geradoras, ou seja, definir quantas e quais unidades devem ser utilizadas em um determinado momento. Tal preocupação é relacionada ao tempo necessário para colocar uma unidade geradora em funcionamento, visto que a velocidade de variação da demanda é muito maior. Outros aspectos, como número, capacidade, tipo e localização geográ- fica de cada unidade geradora, tempo de acionamento e desligamento, 212 UNIUBE capacidade e disponibilidade das linhas de transmissão, demanda e previsão de demanda, impõem mais restrições ao problema. A utilização das técnicas de algoritmos genéticos pode trazer uma economia considerável para as empresas do setor elétrico, princi- palmente quando são abordadas as usinas termoelétricas e seus elevados custos. De forma semelhante, a utilização de algoritmos genéticos têm apresentado excelentes resultados na localização ótima de sec- cionadores em redes de distribuição de baixa tensão, otimização da temporização de relés de proteção automáticos, dentre outros. 8.2.2.2. Redes neurais artificiais (RNA) Para a proteção do sistema elétrico de potência, são utilizados di- ferentes tipos de relés, com o objetivo de proteger um elemento específico. Uma das funções empregadas para a proteção das li- nhas de transmissão são os relés de distância, que observam a impedância entre a localização da falta e do relé para determinar se a falta é interna ou externa à sua zona de proteção. Por meio dos valores de tensão e de corrente trifásicos, o relé de distância detecta, classifica e localiza determinada falta, envian- do um sinal para o elemento seccionador desconectar a linha e eliminar a falta. Como no Brasil é utilizado o Sistema Interligado Nacional, o restante do sistema de transmissão pode operar dentro das condições normais de funcionamento. Assim, para implementar um modelo de proteção proposto para linhas de transmissão, é necessário: UNIUBE 213 • Detectar o defeito ou a situação de falta. • Definir as fases envolvidas na falta (classificação). • Localizar a falta. A utilização de redes neurais artificiais é um método alternativo para a proteção de linhas de transmissão, baseado em modelos que re- alizem suas funções em menor tempo, quando comparados aos dispositivos convencionais. Assim, trabalhando com a identificação e a classificação da informação em categorias, é possível detectar, classificar e localizar uma situação de falta mediante a capacidade de generalização, abstração e tolerância a falhas, características inerentes a um sistema de redes neurais (OLESKOVICZ; COURY; AGGARWAL, 2003) A ferramenta RNA é aplicada em diversas áreas dentro da proteção de sistemas elétricos de potência, como a correção de sinais distor- cidos pela saturação de transformadores de corrente, a supervisão no sistema de atividades de uma subestação, entre outras. 8.3. IEC 61850 Como comentado anteriormente, existe a necessidade de garantir a interoperabilidade entre os dispositivos eletrônicos inteligentes de diferentes fabricantes, permitindo o uso e a troca de dados, com o objetivo de realizar suas funcionalidades individuais e a correta cooperação entre IEDs. 214 UNIUBE Essa necessidade foi claramente observada durante o processo de implementação de automação de subestações, em que disposi- tivos de diferentes fabricantes deveriam ser integrados para o cor- reto funcionamento do sistema. Dessa forma, a norma IEC 61850 surge como requisito e especifica o protocolo de comunicação com funcionalidades comprovadas. O sistema elétrico de uma subestação equipado com dispositivos eletrônicos inteligentes e funcionando dentro das especificações da norma IEC 61850 utiliza uma rede local (LAN) como meio de co- municação. Tal característica permite a utilização da rede Ethernet para troca de informações por cabos ópticos, reduzindo a quantida- de de fios de cobre; enquanto a utilização do modelo OSI como base permite a divisão em camadas para obter melhor desempenho. Assim, em uma rede que utiliza a norma IEC 61850, a porta de comunicação Ethernet TCP/IP tem um endereço IP para comunica- ção entre IEDs, de forma que possam usufruir de todos os recursos disponíveis em um ambiente de rede Ethernet. Por trabalhar com o modelo TCP/IP, o dispositivo físico pode ser visto como Servidor e acessado por um cliente externo, separando as aplicações em três níveis hierárquicos: • Estação: mapear as camadas de comunicação TCP/IP, geren- ciar as mensagens GOOSE/GSSE e sincronização de tempo. • Vão: aplicação das funções do sistema. • Processo: valores analógicos de tensão e corrente amostra- dos por meio de trens de pulsos trafegando na rede, mensa- gens GOOSE/GSSE e sincronização de tempo. UNIUBE 215 Saiba mais A norma IEC 61850 é muito extensa, por se tratar de um manual de montagem e instalação de todos os padrões e protocolos necessá- rios para o seu correto funcionamento. Procure saber mais acerca do padrão proposto e de suas partes. 8.4 Smart Grid Métodos práticos, ferramentas e tecnologias baseados em avan- ços nos campos de computação, controle e comunicações estão permitindo que redes elétricas e outras infraestruturas se autorre- gulem localmente. O conceito de smart grid (SG), também chamado de redes elétricas inteligentes (REI), apresenta uma mudança no padrão do setor elé- trico e torna o sistema energético mais interativo. A necessidade de incorporar novas fontes, introduzir novos consumidores e melhorar a eficiência e o dimensionamento da própria rede justifica a cres- cente aplicação de IEDs na proteção dos sistemas elétricos. 216 UNIUBE Figura 8.2 - Ilustração das conexões de uma rede elétrica inteligente (smart grid) Fonte: NEYRO2008, 123RF. Para Rivera, Esposito e Teixeira (2013, p. 45), o conceito de smart grid pode apresentar algumas perspectivas: • Tecnológica. • Ambiental. • Socioeconômica. • Político-regulatória. UNIUBE 217 Segundo Amin e Wollenberg (2005, p. 1), rede elétrica inteligente é definida como “uma estrutura de rede elétrica em larga escala caracterizada por segurança, agilidade e resiliência/robustez que enfrenta novas ameaças e condições não previstas”. De acordo com essa definição, os dispositivos seriam capazes de comunicar e de cooperar dentro da mesma rede, permitindo a autoconfiguração dos elementos, de forma a suprir as necessidades do sistema. Assim,as smart grids têm como objetivo otimizar todo o sistema elétri- co e facilitar a implantação de novos fornecedores e consumidores na rede. Esse desenvolvimento é possível por meio do uso das tecnolo- gias de informação e comunicação, resultando na melhoria do monito- ramento, na gestão e na qualidade da energia ofertada. A implantação das redes elétricas inteligentes pode ser analisada em três áreas complementares e independentes: • Sistema elétrico (geração, transmissão e distribuição). • Medidores eletrônicos. • Centros consumidores. A implantação das REIs no sistema elétrico (geração, transmissão e distribuição) tem como objetivo agregar inteligência e promover robustez, segurança e agilidade na rede. Por sua vez, a implantação de medidores eletrônicos inteligentes agrega funcionalidades para os consumidores e para as conces- sionárias. Informações de tarifação e de consumo de energia por horário, dados de faturas anteriores e indicativos da qualidade da 218 UNIUBE energia disponibilizada pela concessionária permitem melhor con- trole por parte do consumidor. Para as concessionárias, é possível operações remotas (corte e religamento, por exemplo), novas for- mas de comercializar energia e a redução de custos operacionais. Figura 8.3 - Modelo de medidor eletrônico inteligente utiliza- do na implementação das redes elétricas inteligentes Fonte: CHRISTIAN DELBERT, 123RF. A utilização da inteligência nos centros consumidores é caracteri- zada pelo uso de eletrodomésticos e de dispositivos residenciais inteligentes, permitindo comunicação com o medidor e melhor ges- tão do consumo energético. A comunicação bidirecional de energia é realizada por meio da geração distribuída (solar, eólica, biomassa etc.) e do armazenamento de energia com o uso de carros elétricos. UNIUBE 219 Atualmente, as smart grids encontram-se em estágio de desen- volvimento, existindo grandes oportunidades para governos, con- cessionárias de energia, fornecedores de tecnologias, empresas e consumidores. Por exemplo, espera-se que a conclusão da insta- lação dos medidores inteligentes nos Estados Unidos e no Japão ocorra entre 2022 e 2030, mas não significa a implantação do con- ceito integral de smart grids. A ampliação das redes elétricas inteligentes para outros serviços públicos formariam as cidades inteligentes (smart cities), nas quais a infraestrutura de informação e automação permitiria o uso efi- ciente dos recursos e a melhoria na qualidade dos serviços. Desse modo, energia, água, gás, segurança, trânsito e saúde poderiam ser integrados ao sistema. A viabilidade do conceito “inteligente” é associada aos avanços tec- nológicos da eletrônica e à melhoria dos sistemas de controle. O con- ceito poderá ser estendido para ambientes, em que todos os objetos possam ser unicamente identificados, reconhecidos, localizados e endereçados, o que vem sendo chamado de Internet of Things (IoT – Internet das Coisas) (RIVERA; ESPOSITO; TEIXEIRA, 2013, p. 50). 220 UNIUBE Figura 8.4 - Redes elétricas inteligentes, cidades inteligentes e Internet das Coisas Fonte: Rivera, Esposito e Teixeira (2013, p. 50). Assim, todos os serviços e os sistemas podem ser fontes geradoras de dados, que, ao serem processados e tratados com inteligência, disponibilizam informações que podem auxiliar em diversas áreas: energia, água, gás, segurança, trânsito, saúde etc. Como as infor- mações também podem indicar necessidades, hábitos e interesses das pessoas, grandes corporações de tecnologia de informação e comunicação têm interesse no desenvolvimento dos sistemas “in- teligentes”, como Google, Intel e IBM. UNIUBE 221 Figura 8.5 - Os elementos de uma casa conecta- dos em rede - Internet das Coisas (IoT) Fonte: MACROVECTOR, 123RF. 8.4.1. Smart Grid no mundo A utilização das redes elétricas inteligentes é uma tendência mun- dial, mas as diretrizes de implantação consideram as diferentes re- alidades de cada país e consideram a multiplicidade de conceitos e benefícios. Nos Estados Unidos, a regulação da distribuição de energia elétrica é descentralizada, proporcionando diferentes estágios de implantação dos medidores inteligentes. Estados como Califórnia, Flórida, Colorado e Texas apresentam avançado estágio de aplicação das redes elétricas inteligentes devido ao grande número de medidores substituídos. 222 UNIUBE Dentre os fatores que motivam a implantação das redes inteligen- tes nos Estados Unidos, podem-se listar: • Agenda tecnológica para recuperação econômica. • Infraestrutura obsoleta. • Geração distribuída de energia. • Confiabilidade, segurança e eficiência do sistema. • Uso de veículos elétricos e híbridos. Na Europa, o parlamento europeu fixou como meta a implantação de 80% de medidores inteligentes até 2020, pois existe a necessi- dade de renovar a rede elétrica, aumentar a capacidade de gera- ção, controlar os preços da energia elétrica e implementar a inte- gração de fontes renováveis. Em 2010, 85% dos lares italianos dispunham de medidores in- teligentes, enquanto todos os lares da Suécia já apresentavam tal equipamento. Por outro lado, países como França, Espanha, Noruega e Holanda apresentam pequenos índices de substituição dos medidores para o modelo inteligente. Dentre os fatores que motivam a implantação das redes inteligen- tes na Europa, podem-se listar: • Integração de diversas fontes de energia renováveis. • Infraestrutura envelhecida. • Uso de veículos elétricos. UNIUBE 223 Na China, pretende-se substituir todos os 360 milhões de medi- dores até 2020. Dentre os fatores que motivam a implantação das redes inteligentes na China, podem-se listar: • Implantação de cidades inteligentes e protagonismo mundial em IoT. • Eficiência energética. • Diversificação energética. No Japão e na Coreia, as redes inteligentes estão em estágio de programas-piloto e há o objetivo de substituir toda a base até 2020. Dentre os fatores que motivam a implantação das redes inteligen- tes no Japão, podem-se listar: • Diversificação energética, devido aos acidentes nucleares. • Uso de veículos elétricos. • Implantação de cidades inteligentes. 8.4.2. Smart Grid no Brasil A implantação das redes elétricas inteligentes no Brasil ocorre de forma diferente da observada nos países desenvolvidos, pois apre- senta especificidades de países emergentes e necessidades pró- prias. Dentre outras características, destacam-se: 224 UNIUBE • Grande parte da energia elétrica é de fontes renováveis. • Integração das regiões por meio de linhas de transmissão (SIN). • Baixo consumo de energia per capta. • Elevado potencial de recursos renováveis e não renováveis não explorados. • Elevado valor da energia elétrica. Segundo Rivera, Esposito e Teixeira (2013, p. 54), devido a essa última característica, a política energética brasileira concentra es- forços para garantir o fornecimento de energia elétrica com tari- fas menores, sobrepondo-se à política industrial e tecnológica. Por outro lado, o fato de o Brasil apresentar recursos renováveis competitivos inibe o fomento a tecnologias de geração distribuída, como ocorre em países com baixa diversidade ou pouco potencial energético. A Figura 8.6 cita os principais motivadores para a implantação das redes elétricas inteligentes no Brasil. UNIUBE 225 Figura 8.6 - Principais motivadores para a implantação das REIs no Brasil Fonte: Rivera, Esposito e Teixeira (2013, p. 55). A utilização de dispositivos eletrônicos inteligentes (IEDs) para a formação das redes inteligentes traz melhorias em cada um dos motivadores observados na Figura 8.6. De forma rápida, pode-se listar as características a serem trabalhadas em cada um deles: • Eficiência energética e comercial: • Redução de perdas técnicas e comerciais. • Melhoria na qualidade da energia ofertada ao consumidor. • Gestão do horário de consumo de energia pelo consumidor. 226 UNIUBE • Aumento da confiabilidade do sistema elétrico: • Interoperabilidade entreos diversos componentes da rede e subestação. • Gestão de ativos. • Planejamento da capacidade de geração, transmissão e distribuição. • Segurança operacional e sistêmica: • Controle de acesso dos usuários de rede. • Redução de energia não distribuída e das perdas por fraudes. • Viabilizar a geração distribuída. • Gestão para contingências e autorrecomposição. • Sustentabilidade econômica e ambiental: • Diversificação dos negócios. • Novos serviços de valor agregado ofertados pela concessionária. A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica rea- lizou um estudo amplo para elaborar uma proposta para um plano nacional de migração para o conceito de redes elétricas inteligen- tes, cuja estimativa de investimento para implantação pode variar de R$ 46 bilhões a R$ 91 bilhões. UNIUBE 227 A conclusão desse estudo aponta que os custos são iguais ou su- periores aos benefícios, do ponto de vista dos consumidores e da concessionárias. Logo, é necessário um ajuste do plano regulatório para equacionar os incentivos, para que os benefícios sejam perce- bidos (RIVERA; ESPOSITO; TEIXEIRA, 2013, p. 59). Considerações finais O desenvolvimento de novas tecnologias, métodos e materiais é utilizado em diferentes áreas, mesmo que, inicialmente, tenham sido desenvolvidos para uma necessidade específica. Dessa for- ma, caro(a) aluno(a), a evolução dos dispositivos de proteção de sistemas elétricos de potência acompanhou o desenvolvimento dos componentes disponíveis na época, passando por relés eletro- mecânicos, estáticos, digitais e microprocessados. Com o advento dessa tecnologia, os elementos utilizados na prote- ção de SEP tornaram-se “inteligentes” (IEDs) e ampliaram a gama de características e funções disponíveis. A alta capacidade de pro- cessamento de tais dispositivos permite que um único relé inteli- gente realize diversas funções de proteção. Com tamanho poder de processamento digital de sinais e análise de dados, foi possível a utilização de métodos matemáticos e ferra- mentas computacionais para o desenvolvimento de sistemas mais rápidos, precisos e exatos. Tais fatores aumentam a confiabilidade, a seletividade e a segurança da proteção. A norma IEEE 61850 proporciona a comunicação entre dispositi- vos de diferentes fabricantes e utiliza o modelo OSI, consagrado pela comunicação TCP/IP em ambiente de rede Ethernet. Com as 228 UNIUBE características propostas na norma, os conceitos de smart grid (re- des inteligentes), smart cities (cidades inteligentes) e Internet of Things (Internet das Coisas) começam a ser aplicados. O conceito de smart grid apresenta uma mudança no padrão do se- tor elétrico e torna o sistema energético mais interativo. A necessi- dade de incorporar novas fontes, introduzir novos consumidores e melhorar a eficiência e o dimensionamento da própria rede justifica a crescente aplicação de IEDs na proteção dos sistemas elétricos. Dentre os custos e benefícios observados para a implementação das redes de energia inteligentes, foi apontado que os custos são iguais ou superiores aos benefícios, do ponto de vista dos consumi- dores e da concessionárias. Logo, é necessário um ajuste do plano regulatório para equacionar os incentivos, para que os benefícios sejam percebidos. CONCLUSÃO O conteúdo referente à disciplina Proteção de Sistemas Elétricos abordou a importância da proteção de sistemas elétricos de potên- cia (SEP), transformadores redutores de tensão e filtro, relés de sobrecorrente e distância com suas respectivas aplicações, tele- proteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção, proteção de transformadores, geradores, barramentos e motores de indução de grande porte, além de novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência. Iniciou-se o estudo abordando a importância da proteção de siste- mas elétricos de potência no cenário brasileiro, os aspectos consi- derados na proteção, assim como na análise e nas características generalizadas da proteção, os transformadores redutores de ten- são com base nas normas vigentes. Em seguida, foram apresentados o relé de sobrecorrente – seu tipo de atuação, curvas características de tempo, características construtivas e instalação, aplicação e ajuste – e o relé de distância, utilizado na proteção de linhas de transmissão. Abordou-se a teleproteção e a coordenação da proteção de SEPs que atuam na proteção, com o objetivo de aumentar a confiabili- dade do sistema de energia, melhorando o desempenho da prote- ção, ou seja, operam como guardiões de um complexo sistema de transmissão. Verificou-se que a proteção de transformadores utiliza o método de proteção diferencial, pois consegue limitar a área de atua- ção para o componente em questão, com o objetivo principal de detectar falhas internas do transformador. Também são utili- zados outros equipamentos para complementar a proteção dos transformadores, como proteção contra falha de disjuntor, contra sobretensão, de carcaça do transformador, bloqueio, temperatu- ra, pressão e falta de óleo. No capítulo seguinte, acerca da proteção de geradores e da pro- teção de barramentos, foram abordadas as formas mais recor- rentes, na literatura, das proteções em geradores e barramentos nos sistemas elétricos de potência, bem como as linhas de po- tência e transmissão. Para a proteção dos motores de indução, é orientado o estudo e a aplicação das funções com relação à tensão e à potência do motor a ser protegido, observando-se a importância da proteção térmica dos motores devido à deterioração do sistema de isolamento de seus enrolamentos com o aumento da temperatura. Com uma noção inicial acerca da proteção de sistemas elétricos de potência, da geração ao consumo, foi comentado a respeito das novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência e das consequências ou derivações dessas tecnologias em outras áreas, como os conceitos de smart grid e smart cities. Dessa forma, observou-se a importância da disciplina e do con- teúdo abordado para a formação do aluno, visto que a proteção de sistemas elétricos de potência é observada no cotidiano do engenheiro eletricista e, em breve, presente na vida da popu- lação em geral. Referências ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 06856 - Transformador de corrente. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 06855 - Transformadores de potencial indutivos. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. ALMEIDA, A. L. V. Ajuste e coordenação de relés de sobrecorrente. 2008. 89f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) - Curso de Engenharia Elétrica, Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. AMIN, S. M.; WOLLENBERG, B. F. Toward a smart grid. IEEE Power and Energy Magazine, v. 3, n. 5, p. 34-38, sep.-oct. 2005. AROGANT. Transformador de pot. 123RF. 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