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Luis Guilherme Gimenez de Souza Proteção de Sistemas Elétricos © 2016 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Editoração Produção de Materiais Didáticos Capa Toninho Cartoon Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE Luís Guilherme Gimenez de Souza Graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Londrina (2008) e mestrado em Engenharia Elétrica pela Uni- versidade Estadual de Londrina (2012). Durante a graduação e a pós-graduação, participou de projetos de pesquisa na área aeroes- pacial financiados pela Agência Espacial Brasileira, como o desen- volvimento de um instrumento para aquisitar acelerações residuais de uma plataforma de microgravidade impulsionada por foguete de sondagem. Com ênfase em medidas elétricas, instrumentação, eletrônica, desenvolvimento de sistemas embarcados e placas de circuito impresso, exerce a profissão de engenheiro. Ministra aulas no curso de pós-graduação lato sensu em Sistemas Eletrônicos Embarcados, da Universidade Estadual de Londrina, e na gradua- ção EAD nos cursos de Engenharia Elétrica e Engenharia Civil, da Universidade de Uberaba, no polo de Maringá-PR. Sobre os autores Sumário Capítulo 1 A importância da proteção de sistemas elétricos de potência, transformadores redutores de tensão e filtro ....................15 1.1 A importância da proteção de sistemas elétricos de potência ........................ 17 1.1.2. Aspectos considerados na proteção ..................................................... 20 1.1.3. Análise generalizada da proteção ......................................................... 21 1.1.4. Características gerais dos equipamentos de proteção ........................ 22 1.2. Transformadores redutores de tensão e filtro ................................................ 24 1.2.1 Transformadores de corrente ................................................................. 25 1.2.1.1 Características construtivas dos Transformadores de corrente ......... 26 1.2.1.2 Simbologia e convenções ................................................................... 33 1.2.1.3 Classificação de um TC ...................................................................... 35 1.2.1.4 Exatidão .............................................................................................. 36 1.2.1.5 Operação do secundário de um TC .................................................... 37 1.2.2 Transformadores de potencial ............................................................... 38 1.2.2.1 Transformador de potencial do tipo indutivo ....................................... 38 1.2.2.2 Transformador de potencial do tipo capacitivo ................................... 39 1.2.2.3 Simbologia e convenções ................................................................... 40 Capítulo 2 Relés de sobrecorrente e suas aplicações ....................43 2.1 Relés de sobrecorrente e suas aplicações ..................................................... 46 2.1.1. Princípios básicos ................................................................................. 48 2.1.2. Tipos de relés de sobrecorrente ........................................................... 53 2.2.1. Aspectos construtivos ........................................................................... 54 2.2.1.2. Estático ............................................................................................... 56 2.2.1.3. Digital .................................................................................................. 56 2.2.2. Atuação do circuito a proteger .............................................................. 60 2.2.2.2. Indireta ................................................................................................ 60 2.2.3. Instalação .............................................................................................. 61 2.3. Ajuste ........................................................................................................ 62 2.3.1. Relé de sobrecorrente instantâneo (50) ............................................... 63 2.3.2. Relé de sobrecorrente temporizado (51) .............................................. 64 2.4. Relé direcional (67) .................................................................................. 66 Capítulo 3 Relés de distância e suas aplicações ............................73 3.1 Desenvolvimento ............................................................................................. 76 3.1.1. Entendendo o funcionamento de um relé de distância ........................ 78 3.2. Relés de Distância Eletromecânicos ............................................................. 82 3.1. Tipos de relés de distância eletromecânicos ........................................... 84 3.1.1. Relé de distância à impedância ou Relé OHM ..................................... 84 3.1.2. Relé de Distância à Reatância .............................................................. 87 3.1.3. Relé de Distância à Admitância ou Relé MHO ..................................... 89 3.2. Indicações dos Relés de Distância ................................................................. 91 3.3. Relé de distância digital ................................................................................. 92 3.3.1. Unidade de medida de distância........................................................... 93 3.3.2. Unidade de supervisão para frente e para trás .................................... 93 3.4. O que pode causar perturbação de medição ................................................. 95 Capítulo 4 Teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção ........................................................................97 4.1 Teleproteção ..................................................................................................... 101 4.1.1 Introdução .............................................................................................. 101 4.2 Tipos de teleproteção ....................................................................................... 102 4.2.1 Onda portadora ...................................................................................... 102 4.2.2 Fibra óptica ............................................................................................. 103 4.2.3 Telefonia ................................................................................................. 103 4.3 Tipos de transferências em teleproteção......................................................... 104 4.3.1 Transferência de disparo direto de subalcance (DUTT) ........................ 104 4.3.2 Transferência de disparo permissivo de subalcance (PUTT) ............... 104 4.3.3 Transferência de disparo permissivo de sobrealcance (POTT) ............ 105 4.4 Coordenação .................................................................................................. 105 4.4 Introdução ........................................................................................................ 105 4.5 Coordenação de proteção ............................................................................... 106 4.6 Princípios básicos de proteção ........................................................................ 109 4.6.1 Princípio da Quantidade......................................................................... 109 4.6.2 Princípio da Localidade ..........................................................................110 4.6.3 Princípio da Retaguarda ........................................................................ 112 4.6.4 Princípio da Sensibilidade ...................................................................... 112 4.6.5 Princípio da Suportabilidade .................................................................. 112 4.6.6 Princípio da Seletividade ........................................................................ 113 4.7 Procedimentos de seletividade que podem ser aplicados em uma instalação elétrica .................................................................................... 114 4.7.1 Seletividade Amperimétrica ................................................................... 114 4.7.2 Seletividade Cronométrica ..................................................................... 117 4.7.3 Seletividade Lógica ................................................................................ 118 Capítulo 5 Proteção de transformadores.........................................123 5.1 Relés de proteção de transformadores ........................................................... 129 5.1.1 Classificação quanto ao tipo de acionamento ....................................... 129 5.1.2 Indireta .................................................................................................... 129 5.2 Classificação quanto ao tipo de temporização ................................................ 130 5.3 Classificação quanto à função de proteção .................................................... 130 5.4 Classificação quanto à tecnologia ................................................................... 131 5.4.2 Estáticos ................................................................................................. 132 5.4.3 Digitais .................................................................................................... 132 5.5 Proteção diferencial do transformador ............................................................ 132 5.5.1 Relé diferencial comum .......................................................................... 134 5.5.2 Relé diferencial percentual..................................................................... 134 5.6 Proteção de sobrecorrente de fase e neutro ................................................... 139 5.6.1 Sobrecorrente temporizada e instantânea de fase................................ 139 5.6.2 Sobrecorrente temporizada e instantânea de neutro ............................ 140 5.7 Outros equipamentos de proteção para transformadores .............................. 142 5.7.1 Proteção contra falha de disjuntor 5.7.2 Proteção de carcaça do transformadores ............................................. 143 5.7.3 Proteção contra sobretensão ................................................................. 144 5.7.4 Relé de bloqueio .................................................................................... 144 5.7.5 Relé de temperatura .............................................................................. 144 5.7.6 Válvula de alívio de pressão .................................................................. 145 5.7.7 Relé Buchholz ........................................................................................ 145 Capítulo 6 Proteção de geradores e proteção de barramentos ......149 6.1 Proteção de geradores .................................................................................... 152 6.1 Introdução.................................................................................................. 152 6.2 Proteção de geradores .................................................................................... 156 6.2.1 Proteção diferencial do estator contra curto-circuito ............................. 156 6.2.2 Proteção diferencial do estator contra curto-circuito entre espiras ....... 157 6.2.3 Proteção diferencial do estator contra falta à terra ................................ 158 6.2.4 Proteção de retaguarda do estator por meio de relés de sobrecorrente . 159 6.2.5 Proteção contra circuito aberto no estator ............................................. 159 6.2.6 Proteção contra sobreaquecimento do estator ...................................... 160 6.2.7 Proteção contra sobretensão ................................................................. 160 6.2.8 Proteção do rotor contra curto-circuito no campo ................................. 161 6.2.9 Proteção contra aquecimento do rotor devido à corrente desequilibrada do estator .............................................................. 161 6.2.10 Proteção contra perda de excitação ou de campo .............................. 162 6.2.11 Proteção contra perda de sincronismo ................................................ 163 6.2.12 Proteção contra aquecimento do rotor devido à sobre-excitação ....... 163 6.2.13 Proteção contra vibração ..................................................................... 164 6.2.14 Proteção contra motorização ............................................................... 164 6.2.15 Proteção contra sobrevelocidade ........................................................ 164 6.2.16 Proteção contra sobreaquecimento dos mancais ............................... 165 6.2.17 Proteção de barramentos .................................................................... 166 6.3 Configurações de barramentos ....................................................................... 169 6.4 Tipos de proteção de barramentos .................................................................. 170 6.4.1 Proteção diferencial de barras ............................................................... 170 6.4.2 Releamento diferencial com relés de sobrecorrente ............................. 171 6.4.3 Releamento diferencial percentual ........................................................ 172 6.4.5 Releamento diferencial com acopladores lineares ................................ 172 6.4.6 Proteção diferencial combinada ............................................................. 172 6.4.7 Proteção de retaguarda ......................................................................... 173 6.4.8 Proteção de massa ou dispersão pela carcaça ..................................... 174 6.4.9 Proteção por comparação direcional ..................................................... 175 Capítulo 7 Funções de proteção aplicáveis a motores trifásicos de grande porte .................................................................177 7.1 Funções de proteção aplicáveis a motores trifásicos de grande porte ........... 180 7.2. Proteção térmica (Função 49) ........................................................................ 183 7.3. Proteção de sobrecorrente ............................................................................ 184 7.3.1. Proteção de sobrecorrente instantânea (Função 50) ........................... 185 7.3.2. Proteção de sobrecorrente temporizada (Função 51) .......................... 185 7.4. Proteção de sobrecorrente de terra (Função 50 GS) ..................................... 186 7.5. Proteção de desbalanço de corrente ou corrente de sequência negativa (Função 46) ..................................................................... 189 7.6. Proteção diferencial para motor (87 M) ......................................................... 190 7.7. Critérios de aplicação de funções de proteção de motores trifásicos............ 192 7.7.1. Baixa tensão com potência nominal até 55 kW .................................... 193 7.2. Baixa tensão com potência nominal entre 55 kW e 150 kW .......................... 194 7.3. Média tensão com potência nominal entre 150 kW e 1.200 kW .................... 195 7.4. Média tensão com potência nominal entre 1.200 kW e 1.500 kW ................. 196 7.5. Média tensão com potência nominal acima de 1.500 kW .............................. 198 Capítulo 8 Novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência .................................................2038.1 Desenvolvimento dos dispositivos de proteção .............................................. 206 8.1.1 Histórico .................................................................................................. 206 8.1.2. Estático .................................................................................................. 206 8.1.3. Digital ..................................................................................................... 207 8.2 Tendências modernas na proteção de sistemas ............................................. 210 8.2.2. Novas ferramentas utilizadas em proteção .......................................... 211 8.2.2.2. Redes neurais artificiais (RNA) .......................................................... 212 8.3. IEC 61850 ....................................................................................................... 213 8.4. Smart Grid ....................................................................................................... 215 8.4.1. Smart Grid no mundo ............................................................................ 221 Conclusão ........................................................................................229 O conteúdo abordado nesta disciplina é de grande importância para a formação do(a) aluno(a), visto que a proteção de sistemas elétri- cos de potência é observada no cotidiano do engenheiro eletricis- ta, da geração ao consumo. Assim, devido à grande relevância do tema, é importante destacar que o estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência não deve ser restrito ao conteúdo apresentado neste material. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento. Capítulo I – A importância da proteção de sistemas elétricos de po- tência, transformadores redutores de tensão e filtro – aborda a im- portância da proteção de sistemas elétricos de potência no cenário brasileiro, os aspectos considerados na proteção, assim como na análise e nas características generalizadas da proteção, e os trans- formadores redutores de tensão com base nas normas vigentes. Capítulo II – Relés de sobrecorrente e suas aplicações – apresenta o relé de sobrecorrente com relação ao seu tipo de atuação, curvas características de tempo, características construtivas e instalação, além de aplicação e conceitos básicos para ajuste da corrente de acionamento. Capítulo III – Relés de distância e suas aplicações – apresenta o funcionamento do relé de distância com a análise de seu funciona- mento no sistema de proteção, de forma geral e em sua utilização como proteção de linhas de transmissão ou sistema de potência. Apresentação Capítulo IV – Teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção – aborda a teleproteção e a coordena- ção da proteção de SEPs que atuam na proteção com objetivo de aumentar a confiabilidade do sistema de energia, melhorando o desempenho da proteção, ou seja, operam como guardiões de um complexo sistema de transmissão. Capítulo V – Proteção de transformadores – apresenta o estudo de proteção de transformadores, em que o método de proteção diferencial do transformador consegue limitar a área de atuação para o componente em questão, com objetivo principal de detectar falhas internas do transformador, além de outros equipamentos uti- lizados para complementar a proteção dos transformadores, como proteção contra falha de disjuntor, contra sobretensão, de carcaça do transformador, bloqueio, temperatura, pressão e falta de óleo. Capítulo VI – Proteção de geradores e proteção de barramentos – aborda as formas mais recorrentes, na literatura, das proteções em geradores e barramentos nos sistemas elétricos de potência, bem como as linhas de potência e transmissão. Capítulo VII – Proteção de motores de indução de grande porte – apresenta o estudo de proteção de motores de indução de grande porte, a importância da proteção térmica dos motores devido à de- terioração do sistema de isolamento de seus enrolamentos com o aumento da temperatura e, dentre tantas opções de proteção para motores, orientam-se o estudo e a aplicação das funções com rela- ção à tensão e à potência do motor a ser protegido. Capítulo VIII – Novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência – abordadas algumas novas tecnologias aplicadas na proteção de sistemas de potência, além das derivações ou conse- quências dessas tecnologias em outras áreas, como o conceito de smart grid, que apresenta uma mudança no padrão do setor elétri- co e torna o sistema energético mais interativo. Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução A importância da proteção de sistemas elétricos de potência, transformadores redutores de tensão e filtro Capítulo 1 Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) ao Capítulo I – A importância da proteção de sistemas elétricos de potência, transformadores redutores de tensão e filtro –, que inicia o estudo do conteúdo referente à disciplina Proteção de Sistemas Elétricos. O conteúdo da disciplina abordará a importância da proteção de sistemas elétricos de potência (SEP), transformadores redutores de tensão e filtro, relés de sobrecorrente e distância com suas respectivas aplicações, teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção, proteção de transformadores, geradores, barramentos e motores de indução de grande porte, além de novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência. Neste capítulo, será abordada a importância da proteção de sistemas elétricos de potência no cenário brasileiro, com informações atualizadas que enfatizam a necessidade de contínuos estudo, projeto e atualização do SEP. Dentre as justificativas para isso, podem ser citados os diversos eventos conhecidos como blecautes ou “apagões” relacionados à falta de planejamento, investimento, manutenção ou operação. De forma breve, serão abordados os aspectos considerados na proteção, assim como na análise e nas características generalizadas da proteção. As partes constituintes de um sistema 16 UNIUBE • Obter uma visão geral de proteção de sistemas elétricos. • Caracterizar um TC. • Conhecer os tipos de TCs existentes. • Caracterizar um TP. • Conhecer os tipos de TPs existentes. • Estabelecer analogia entre TC e TP. Objetivos elétrico de proteção e suas respectivas funções serão abordadas nos próximos capítulos. O estudo acerca dos elementos de proteção de um sistema elétrico de potência tem início com os transformadores redutores de tensão e filtro. O conteúdo aborda as características do transformador de corrente (TC) e do transformador de potencial (TP), tendo como objetivo caracterizar e mostrar os tipos existentes com base nas normas vigentes NBR 6856 e NBR 6855. É importante destacar que o estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência não deve ser restrito ao material ou ao conteúdo apresentado aqui. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento, principalmente quando o assunto abordado é de interesse ou de grande utilidade para o(a) aluno(a). UNIUBE 17 • A importância da proteção de sistemas elétricos de potência • Aspectos considerados na proteção • Análise generalizada da proteção • Características gerais dos equipamentos de proteção • Transformadores redutores de tensão e filtro • Transformadores de corrente • Transformadores de potencial Esquema A importância da proteção de sistemas elétricos de potência 1.1 Prezado(a) aluno(a), podemos observar que, segundo Tolmasquim, Guerreiro e Gorini (2007, p. 47), desde a Revolução Industrial, a competitividade econômica dos países e a qualidade de vida de seus cidadãos são intensamente influenciadas pela energia. Nesse contexto, as economias que melhor se posicionam quanto ao aces- so a recursos energéticos de baixo custo e de baixo impacto am- biental obtêm importantes vantagens comparativas. De acordo com dados do Ministério de Minase Energia (BRASIL, 2016, on-line), a oferta interna de energia brasileira para o ano de 2016 foi estimada em 286 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep). Desse total, 43,9% são de energia renovável; esse indicador faz da matriz energética brasileira uma das mais limpas do mundo. 18 UNIUBE Um dos ramos da matriz energética é a energia elétrica, cuja par- ticipação dentre as energias renováveis é de, aproximadamente, 79,3%; sendo que a fonte hidráulica corresponde a 66,2% da ma- triz de energia elétrica. Dados da Resenha Mensal de Energia Elétrica (2017, on-line) indi- cam uma queda de 0,9% no consumo de energia elétrica em 2016, em relação ao ano de 2015, somando 460.001 Gigawatts-hora (GWh). No total do país, o consumo foi de 4.401 GWh menor, sen- do que a contração nas classes industrial e comercial foi parcial- mente amenizada pelo desempenho das residências e de outros consumos, que, conjuntamente, expandiram 2.655 GWh. A geração e a transmissão de 98% da energia elétrica do Brasil são realizadas pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), coorde- nado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) e regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Com a interligação das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da re- gião Norte, a matriz energética tem ganhos em conjunto e explora a diversidade entre os regimes hidrológicos das bacias. Contudo, mesmo com a interligação das regiões, nos últimos anos, foram observados diversos eventos que afetaram o fornecimento e a distribuição de energia elétrica no país, também conhecidos como ble- cautes. Retirando-se os eventos ocasionados pelo baixo nível dos re- servatórios de água ou eventos naturais, grande parte dos problemas observados é relacionado a falhas em dispositivos e operações. Os sistemas elétricos de potência (SEP) são planejados, constru- ídos e operados de modo a disponibilizar energia com qualidade, confiabilidade e continuidade. Os SEP, no entanto, estão diaria- mente sujeitos a incidentes que podem causar distúrbios ou, até mesmo, a interrupção de seu funcionamento. UNIUBE 19 Figura 1.1 - Iniciando os estudos Fonte: Hongqi Zhang, 123RF. Dentre as diversas causas que podem provocar distúrbios ou in- terrupções no funcionamento dos sistemas elétricos de potência (SEP), podem-se citar eventos naturais (descargas atmosféricas, catástrofes naturais etc.), falhas na operação, falhas em seus dis- positivos (geradores, transformadores, chaves de manobra, barra- mentos, cabos, relés, disjuntores, motores, isoladores etc.). Tais incidentes podem prejudicar todos os sistemas que estejam interligados, sendo necessário o isolamento da parte afetada, com o objetivo de minimizar os danos e manter a maior parte possí- vel dos SEP em funcionamento. Assim, para assegurar qualidade, confiabilidade e continuidade no fornecimento de energia, faz-se necessário um sistema de proteção eficaz. 20 UNIUBE 1.1.2. Aspectos considerados na proteção Segundo Caminha (1977, p. 5), na proteção de um sistema elétrico, devem ser examinados três aspectos: • Operação normal. • Prevenção contra falhas elétricas. • Limitação dos defeitos devido às falhas. Como operação normal, admite-se o sistema ausente de falhas nos equipamentos, os erros de operação ou as falhas aleató- rias. A prevenção contra falhas elétricas pode ser observada por meio de previsão de isolamento adequado, coordenação do isolamento, uso de cabos para-raios e baixa resistência do pé-de-torre, apropriadas instruções de operação e manutenção etc. A limitação dos efeitos devido às falhas inclui limitação da magnitude da corrente de curto-circuito, projeto capaz de su- portar os efeitos mecânicos e térmicos das correntes de defei- to, existência de circuitos redundantes e geradores de reserva, existência de relés, disjuntores e outros dispositivos com capa- cidade suficiente de interrupção. Monitorar dados para verificar a efetividade do sistema implemen- tado e, posteriormente, as causas das falhas, a frequente análise acerca das mudanças no sistema com os consequentes reajustes e a reorganização do esquema operativo também são formas de prevenir falhas elétricas e limitar seus defeitos. UNIUBE 21 1.1.3. Análise generalizada da proteção Segundo Caminha (1977, p. 6), em um sistema, encontram-se os seguintes tipos de proteção: • Contra incêndio. • Por relés e fusíveis. • Contra descargas atmosféricas e surtos de manobra. Um estudo de proteção deve considerar as características elétricas do sistema de potência, como a natureza das faltas, a sensibilidade para instabilidade do sistema, as condições de operação, as carac- terísticas gerais dos equipamentos, dentre outras. Outro item importante é o fator econômico da proteção, devido ao cus- to do equipamento principal em relação ao custo relativo do sistema de proteção. Não dificilmente são observados equipamentos eletromecâ- nicos e estáticos que estão em funcionamento e são mantidos devido ao custo da substituição e da adequação do sistema de proteção. A facilidade de manutenção e de acomodação dos equipamentos, a distância entre os pontos e a necessidade de infraestrutura são características físicas que também são consideradas durante o es- tudo de proteção. Assim, o correto projeto do sistema de proteção proporciona redu- ção no custo de reparação dos estragos, mitigação da probabilida- de de propagação do defeito e consequente contenção da falha, redução no tempo de inatividade do equipamento e necessidade 22 UNIUBE de equipamentos redundantes, além da intrínseca perda de renda e de indicadores de continuidade estabelecidos pela Aneel. 1.1.4. Características gerais dos equipamentos de proteção Segundo Cotosck (2007, p. 28) e Caminha (1977, p.7), os relés de proteção, principais equipamentos de proteção dos sistemas elétricos, têm como função principal a retirada rápida do elemento quando ele está em curto-circuito ou em operação anormal de fun- cionamento, impedindo que o problema se propague ou interfira na correta operação de outros elementos do sistema. Assim, podem-se listar as funções básicas de um sistema de proteção: • Assegurar a integridade física de operadores, usuários do sis- tema e animais. • Evitar ou minimizar danos materiais. • Retirar e isolar um equipamento ou parte do sistema que apresente defeito. • Diminuir as despesas com manutenção e melhorar a continui- dade do serviço. Segundo Cotosck (2007, p. 29), a proteção de um SEP deve apre- sentar as seguintes características: UNIUBE 23 • Confiabilidade - probabilidade de o sistema de proteção fun- cionar com segurança e corretamente, sob todas as circuns- tâncias operativas. • Seletividade - isolar somente o trecho ou o equipamento defeituoso. • Sensibilidade - operar para a menor anormalidade no siste- ma elétrico, para cuja detecção tenha sido projetado, evitando que o defeito adquira maior proporção. • Velocidade - isolar o circuito protegido tão logo exista o defei- to para cuja detecção tenha sido projetado. Como função secundária, os relés podem informar a devida locali- zação da falta, com o objetivo da rápida manutenção do elemento causador da falta e, portanto, o rápido religamento. O registro das grandezas analógicas e digitais permitem a análise da falta e a atuação da proteção. Os equipamentos de proteção podem ser separados em prote- ção primária ou principal e em proteção secundária ou de re- taguarda. A proteção primária ou principal é aquela em que o elemento de seccionamento encontra-se na conexão entre dois elementos, possibilitando a retirada somente do elemento da fal- ta em questão. Uma zona de proteção separada é estabelecida em torno de cada elemento. A proteção secundária ou de retaguarda é aquela localizada na zona adjacente à zona primária, ajustada para operar na manutenção da proteção primária ou na falha desta. A proteção de retaguarda pode 24 UNIUBE ser local, caso se encontre na mesma subestação da proteção pri-mária, ou remota, caso se encontre em outra subestação. Figura 1.2 - Zonas de proteção de um sistema elétrico de potência Fonte: Caminha (1977, p. 8). 1.2. Transformadores redutores de tensão e filtro Esta seção trará os elementos de proteção utilizados atualmente para se fazer medições seguras e confiáveis em linhas de transmis- são ou sistemas de potência, sem que esses elementos apresen- tem a mesma ordem de grandeza dos elementos a serem medidos. Os transformadores, de forma geral, são elementos que indu- zem energia ou potencial elétrico de um circuito para outro, sendo UNIUBE 25 isolados eletricamente, mas acoplados magneticamente. Assim, é possível isolar sistemas de alta potência, como linhas de transmis- são, para sistemas com potencial muito menor. A relação de grandezas entre entrada e saída do transformador é proporcional à quantidade de espiras das bobinas de um lado do transformador relacionada à quantidade de bobinas do outro lado, cuja indução é realizada por meio de um núcleo ferromagnético. Essa relação entre as bobinas possibilita induzir energia ou po- tencial elétrico com ordem de grandeza diferente no secundário de um transformador, característica que o torna capaz de dife- rentes atuações em sistemas de proteção. Serão abordados dois tipos de transformadores: o Transformador de Corrente (TC) e o Transformador de Potencial (TP). 1.2.1 Transformadores de corrente O transformador de corrente, como característica de funcionamento, tem induzido, no seu circuito secundário, uma corrente proporcional à corrente que passa pelo enrolamento primário. Essa relação de espi- ras entre primário e secundário faz com que o TC seja capaz de medir grandes quantidades de corrente por meio de uma relação que, geral- mente, leva a corrente no secundário a ter um valor padrão. O primário de um TC possui um número de espiras reduzido, muitas vezes, apresentando apenas uma espira ou mesmo uma barra de cobre, enquanto o seu secundário apresenta uma quantidade de espiras para que a corrente induzida seja de 5 A, usualmente (NBR 6856). 26 UNIUBE Aparelhos como amperímetros, medidores de energia, medido- res de potência e relés de indução utilizam transformadores de corrente, pois tais equipamentos devem apresentar baixa resis- tência elétrica. A corrente que deve ser medida é elevada e circula nos enrola- mentos primários, gerando um fluxo magnético, induzindo forças eletromotrizes no secundário; essa transformação é denominada conversão eletromagnética. Para obter uma corrente baixa no cir- cuito secundário que possibilite medição sem risco ao operador, faz-se necessária uma relação de transformação. Por exemplo, ao se deparar com um TC com informação de relação de transformação nominal igual a 20, se o primário apresentar uma corrente de 100 A, em seu secundário, teremos uma corrente de 5 A. Essa relação pode ser escrita como 100/20 = 5 A, sendo que o primeiro elemento “100” é a corrente no primeiro circuito (primário), “20” é a transformação nominal do TC, resultando, na corrente do secundário, o valor esperado de 5A. 1.2.1.1 Características construtivas dos Transformadores de corrente Os elementos que constituem um TC dependem inteiramente de sua finalidade, apresentando modificações em suas estruturas, de- pendendo do local que será aplicado. Os tipos e as características estão descritos a seguir. • TC tipo Barra UNIUBE 27 Seu enrolamento primário é uma barra fixada mediante o núcleo do transformador, que, por sua vez, o envolve. Figura 1.3 - Esquema de um TC tipo barra Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.15). • TC tipo Bucha É feita a bucha dos equipamentos com os transformadores e disjun- tores e esses elementos funcionam como enrolamento primário. Essa bucha é constituída de um núcleo em forma de anel (toroidal). 28 UNIUBE Figura 1.4 - Esquema de um TC tipo bucha Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.16). • TC tipo Enrolado Esse TC é requisitado quando a relação de transformação é inferior a 200/5. Seu enrolamento primário é constituído de uma ou mais es- piras, dependendo da relação exigida entre primário e secundário. UNIUBE 29 Figura 1.5 - Esquema de um TC tipo enrolado Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.15). • TC tipo Janela O próprio condutor forma o circuito primário e é dado o nome “jane- la” pelo seu meio isolante entre o primário e o secundário ser o ar. O TC tem como característica uma abertura no meio, por onde se passa o condutor. 30 UNIUBE Figura 1.6 - Esquema de um TC tipo janela Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.15). • TC de núcleo dividido Semelhante ao TC tipo janela, porém com seu núcleo podendo ser basculante, permitindo circundar o condutor, que será o enrola- mento primário, por meio da abertura de parte do núcleo. Figura 1.7 - Esquema de um TC de núcleo dividido Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.16). UNIUBE 31 • TC com vários enrolamentos primários Tem como característica vários enrolamentos primários que são separados e isolados entre si, apresentando apenas um enrola- mento secundário. Figura 1.8 - Esquema de um TC com vários enrolamentos primários Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.17). • TC com vários núcleos secundários Como o próprio nome diz, tem dois ou mais enrolamentos secundá- rios, todos montados isoladamente e com núcleo próprio. O comum a todos os secundários é o condutor tido como primário. 32 UNIUBE Figura 1.9 - Esquema de um TC com vários núcleos secundários Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.17). • TC com vários enrolamentos secundários Transformador que tem um núcleo comum envolvido pelos enrola- mentos primários e dois ou mais enrolamentos secundários, cada um desses isolado entre si. Os enrolamentos secundários podem ser ligados em paralelo ou em série, aumentando as possibilidades de relações entre primário e secundário. Figura 1.10 - Esquema de um TC com vários enrolamentos secundários Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.18). UNIUBE 33 • TC tipo derivação no secundário Apresenta um núcleo envolvido por ambos enrolamentos, primário e secundário, com o secundário tendo uma ou mais derivações. O enrolamento primário pode conter um ou mais enrolamentos, sendo garantida a classe de exatidão desse transformador apenas para a derivação que tiver o maior número de espiras. Figura 1.11 - Esquema de um TC tipo derivação no secundário Fonte: Ferreira; Oliveira (2013, p.18). 1.2.1.2 Simbologia e convenções Para que o transformador não sofra ou não tenha capacidade de exercer suas funções, é necessário que seu circuito primário, que irá receber a corrente de carga, tenha compatibilidade com tal cor- rente. Usualmente, para o enrolamento secundário, são utilizadas correntes nominais iguais a 5A e, em casos especiais, a fim de reduzir a queda de tensão nos fios de interligação, adota-se uma corrente nominal de 1A (NBR 6856). A norma que regulamenta e fixa as características dos TCs é a NBR 6856, que se destina ao desempenho desses TCs no serviço 34 UNIUBE de medição e proteção. A seção 81, NBR 6856/81, apresenta sim- bologias que definem as relações de correntes de um TC. Essas simbologias são representadas a seguir: Símbolo Função e exemplo : Denotar relações nominais dos TCs, por exemplo: 300:1. - Para enrolamentos diferentes, usa-se o hífen para sepa- ração das correntes nominais, por exemplo: 300-5 A (um enrolamento primário e um secundário), 300-300-5 A (dois enrolamentos primários e um secundário), 300-5-5 A (um enrolamento primário e dois enrolamentos secundários). x Separar correntes nominais quando se tem mais de um enrolamento primário, por exemplo: 300 x 60-5 A (correntes primárias nominais cujos enrolamen- tos podem ser ligados em série ou paralelo). / Quando há derivações, tanto no primário quanto no enro- lamento secundário, usa-se a barra para separar tais cor- rentes, por exemplo: 300/400-5 A ou 300-5/5 A (em que o primeiro exprime derivações no enrolamento primário e osegundo derivações no enrolamento secundário). Quadro 1.1 - Sinais para representação de correntes nominais e relações nominais Fonte: NBR 6856. Saiba mais A NBR 6856 apresenta a simbologia, as condições gerais e as es- pecificidades do uso dos TCs, bem como os documentos que com- plementam e englobam os elementos que constituem os cenários de sua atuação. Fonte: NBR 6856. UNIUBE 35 1.2.1.3 Classificação de um TC Transformadores de corrente podem ser classificados para serviço de medição e para proteção, bem como por classe e por exatidão. Na forma de medição e para proteção, a característica principal é transformar grandes cargas de corrente ou energia do primário em quantidades possíveis de serem usadas para medição ou aciona- mento de circuito protetor no secundário. Os TCs de medição transformam a corrente no enrolamento secun- dário, em geral, até 5 A, em que instrumentos podem aferir os valo- res sem que tenham conexão elétrica com o primário da instalação. Já os TCs de proteção fornecem, pelo circuito secundário, corren- tes que possibilitam o acionamento de relés que protegem o sis- tema, garantindo a segurança dos operadores e facilitando opera- ções de manutenção de componentes, como resposta ao sinal de uma variação dada como de falha. Pelo fato de acionarem relés, os TCs de proteção não devem saturar para correntes de elevado valor, como acontece nos TCs de medição. Esse fato ocasionaria sinais de corrente duvidosos para a ação dos relés, causando atuação indevida por parte desse componente. Importante Como já deve ter pensado, não deve-se utilizar um TC de medi- ção junto com um TC de proteção e vice-versa. São construídos transformadores de correntes com vários núcleos, uns destinados à proteção e outros à medição, mas nunca utilizar os dois tipos de transformadores juntos. 36 UNIUBE Os TCs de proteção apresentam classes que são caracterizadas pela impedância de enrolamento no secundário. São duas classes: • Classe A: TCs cujo enrolamento secundário tem reatância que deve ser apreciável. Enquadram-se nessa classe todos os TCs, exceto aqueles com núcleo toroidal ou de bucha. • Classe B: TCs cujo enrolamento secundário tem reatância des- prezível em relação à reatância total do circuito. Enquadram- se nessa classe os TCs com núcleo toroidal e de bucha. 1.2.1.4 Exatidão A exatidão em TCs denota, nominalmente, o erro esperado do transformador, considerando a relação de transformação e a de- fasagem entre a corrente no enrolamento primário e secundário. Para algumas aplicações, os erros de exatidão devem se enqua- drar conforme valores mostrados a seguir: • 0,1: Aferição e calibração de instrumentos de medida de laboratório. • 0,3: Alimentação de medidores de demanda e consumo ativo e reativo. • 0,6: Alimentação de medidores para acompanhamento de custos industriais. • 1,2: Alimentação de registradores gráficos, amperímetros e relés de impedância, diferenciais, distância e direcionais. • 3,0: Alimentação de relés de ação direta. UNIUBE 37 1.2.1.5 Operação do secundário de um TC Quando há carga ou corrente no primário e uma corrente nula no secundário, ou seja, um circuito aberto, não existirá o efeito de desmagnetização dessa corrente e a corrente de excitação será a própria corrente de entrada. Esse evento causa um fluxo magné- tico extremamente elevado no núcleo, que permite o aquecimento excessivo do núcleo magnético, que, por sua vez, pode ocasionar problemas de isolamento e o curto-circuito do primário com o se- cundário e com o terra. Outra preocupação com o circuito secundário aberto é a força ele- tromotriz induzida nesse enrolamento que, devido ao seu valor ele- vado, pode causar perigo ao operador. A forte magnetização do nú- cleo poderá alterar as características de funcionamento e precisão para as quais o TC foi projetado. Para evitar tais problemas, na necessidade de trocar o elemento medidor acoplado ao secundário, ou qualquer alteração, deve-se curto-circuitar os terminais do secundário com um condutor de bai- xa impedância, como um fio de cobre. Parada para reflexão Com todos os problemas mencionados que o secundário aberto de um TC pode ocasionar, seria uma solução o uso de um fusível? Não é aconselhável a utilização de um fusível para curto-circuitar o secundário de um TC, pois o secundário torna-se um circuito aber- to se, por algum motivo, ocorrer a queima do fusível. 38 UNIUBE 1.2.2 Transformadores de potencial É possível fazer a analogia entre transformador de corrente e trans- formador de potencial de tal forma que o primeiro é relacionado à cor- rente e o segundo, à tensão. Assim, os transformadores de potencial apresentam enrolamento primário e secundário, mas com a finalida- de de transformar grandes tensões em tensões menores, para serem medidas ou usadas por aparelhos de medição e proteção. TPs permitem que instrumentos de medição e proteção funcionem sem a necessidade de apresentar características de isolação elétri- ca da rede a qual estão ligados no enrolamento primário. Esse fator faz com que o preço de aparelhos de medição seja muito menor do que aqueles necessários para medir os valores integrais da rede. Em geral, a construção desses transformadores é projetada na forma de um enrolamento primário com muitas espiras e um enrolamento se- cundário com uma quantidade menor de espiras, calculado para a ten- são desejada. Normalmente, são utilizadas tensões de 115 V ou 115/√3 V, mas, em aparelhos antigos, podem ser encontradas tensões secun- dárias de 110 V, 120 V ou 125 V (NBR 6855). Nesses valores de tensão inferiores, os instrumentos de medição e proteção, como voltímetros, relés de tensão, bobinas de tensão e medidores de energia, podem trabalhar de forma satisfatória e com baixa tensão de isolação, reduzindo o custo desses instrumentos. 1.2.2.1 Transformador de potencial do tipo indutivo Para uma tensão de até 138 kV, opta-se pelos transformadores de potencial do tipo indutivo, por terem seu custo inferior ao do tipo capacitivo. A construção desses TPs do tipo indutivo é realizada UNIUBE 39 por um núcleo de ferro-silício envolto pelo enrolamento primário e secundário, isolados um do outro. Existem três grupos de ligações possíveis nos TPs indutivos, cujas características dependem da utilização, da tensão que suportada e da ligação dos enrolamentos. A NBR 6855, norma que regulamenta as especificações de TPs indutivos, classifica esses grupos das seguintes formas: • Grupo 1 - para sistemas de até 34,5 kV e ligação entre fases. Deve ser capaz de suportar tensões de até 10% de sobrecar- ga continuamente. • Grupo 2 - projetado para ligação entre fase e neutro de siste- mas diretamente aterrados. • Grupo 3 - projetado para ligação entre fase e neutro de sistemas em que não se garante a eficiência de aterramento do sistema. Saiba mais A NBR 6855 fixa as características de desempenho de transfor- madores de potencial indutivos destinados a serviços de medição, controle e proteção. Fonte:Elaborado pelo autor. 1.2.2.2 Transformador de potencial do tipo capacitivo Para tensões iguais ou superiores a 138 kV, os TPs do tipo ca- pacitivo são construídos com a utilização de dois conjuntos de 40 UNIUBE capacitores que fornecem um divisor de tensão. O TP é composto por um divisor capacitivo ligado entre fase e terra. As células do divisor capacitivo que formam o condensador são ligadas em série e o conjunto fica imerso no interior de um invólucro. As classificações dos TPs capacitivos são de acordo com o erro que introduzem nos valores medidos no secundário, ou seja, sua exatidão. Para se determinar a classe de exatidão de um TP ca- pacitivo, são realizados ensaios com carga e vazio, com valores padronizados por norma. Segundo a NBR 6855, as classes de exatidão podem ser de 0,1, 0,3, 0,6 e 1,2. Os ensaios para determinação da classe de exatidão compreendem o TP capacitivo atuar sob tensão nominal, 90% da tensão nominal e 110% da tensão nominal.1.2.2.3 Simbologia e convenções Assim como nos TCs, a NBR 6855 define a simbologia dos TPs, como é mostrado a seguir: UNIUBE 41 Símbolo Função e exemplo : Denotar relações nominais dos Tps, por exemplo: 120:1. - Para enrolamentos diferentes, para separação das relações nominais e tensões primárias, por exemplo: 13.800-115 V. x Separar tensões primárias nominais quando se tem mais de um enrolamento primário, por exemplo: 6.900 x 13.800-115 V (tensões primárias nominais cujos enro- lamentos podem ser ligadas em série ou paralelo). / Quando há derivações, tanto no primário quanto no en- rolamento secundário, a barra é utilizada para separar tais tensões, por exemplo: 13.800-115/115/3 (em que exprime derivações no enrolamento secundário). Quadro 1.2 - Sinais para representação de tensões nominais e relações nominais Fonte: NBR 6855. Nos próprios TPs, existem letras identificando os terminais de liga- ção, tanto no primário quanto no secundário. Essas letras indicam a polaridade para a qual foram construídas e seus respectivos índi- ces: H1 e H2 (primário), X1 e X2 (secundário). Considerações finais Neste capítulo, conseguimos, caro(a) aluno(a), abordar a impor- tância da proteção de sistemas elétricos de potência no cenário brasileiro, com informações atualizadas que enfatizam a necessi- dade de contínuos estudo, projeto e atualização dos SEP. Dentre as justificativas para isso, podem ser citados os diversos eventos conhecidos como blecautes ou “apagões” relacionados à falta de planejamento, investimento, manutenção ou operação. 42 UNIUBE De forma breve, foram abordados os aspectos considerados na proteção, assim como na análise e nas características generaliza- das da proteção. O estudo acerca dos elementos de proteção de um sistema elétrico de potência teve início com os transformadores redutores de tensão e filtro. O conteúdo abordou as características do transformador de corrente (TC) e do transformador de potencial (TP) com base na norma vigente NBR 6856. O transformador de corrente, como característica de funcionamento, tem induzido no seu circuito secundário uma corrente proporcional à corrente que passa pelo enrolamento primário. Essa relação de espiras entre primário e secundário faz com que o TC seja capaz de medir gran- des quantidades de corrente por meio de uma relação que geralmente leva a corrente no secundário a ter um valor padrão, usualmente 5 A. As características construtivas e a utilização de diversos tipos de TCs foram explicadas juntamente com a simbologia, a classifica- ção e a exatidão desse elemento. Observou-se a importância de curto-circuitar o secundário de um TC para que ele opere correta- mente, não causando risco ao operador ou alterando suas carac- terísticas de funcionamento e precisão. Para o transformador de potencial, realizou-se uma analogia com o transformador de corrente, de tal forma que o TC é relacionado à corrente e o TP, à tensão. Assim, os transformadores de potencial apresentam enrolamento primário e secundário, mas com a finali- dade de transformar grandes tensões em tensões menores, para serem medidas ou usadas por aparelhos de medição e proteção. A construção dos transformadores de potencial indutivos e capa- citivos, suas aplicações e características próprias foram listadas com base na NBR 6856. Assim, cabe ao projetista analisar qual a aplicação e determinar o modelo a ser utilizado. Luis Guilherme Gimenez de Souza Introdução Relés de sobrecorrente e suas aplicações Capítulo 2 Querido(a) aluno(a), neste capítulo – Relés de sobrecorrente e suas aplicações –, continuaremos o estudo do conteúdo referente à disciplina Proteção de Sistemas Elétricos. O conteúdo da disciplina abordou, até o presente capítulo, a importância da proteção de sistemas elétricos de potência (SEP), transformadores redutores de tensão e filtro. Ainda serão abordados os tópicos de relés de sobrecorrente e distância com suas respectivas aplicações, teleproteção de linhas de transmissão e coordenação de sistemas de proteção, proteção de transformadores, geradores, barramentos e motores de indução de grande porte, além de novas tecnologias aplicadas à proteção de sistemas de potência. Neste capítulo, inicia-se o estudo dos principais equipamentos dos sistemas elétricos, o relé de proteção. Responsável pela retirada rápida do elemento em curto-circuito ou em operação anormal, observa-se que o relé é o dispositivo sensor responsável por comandar a abertura do disjuntor quando um sistema elétrico protegido opera em condições anormais de funcionamento. Para padronizar os dispositivos de proteção, a norma ANSI/IEEE C37.2 é apresentada e será utilizada neste • Conhecer os princípios básicos de um relé de sobrecorrente. • Compreender as curvas características de tempo em relés de sobrecorrente. Objetivos e nos próximos capítulos quando um novo dispositivo for apresentado para estudo. O relé de sobrecorrente, foco deste capítulo, tem seus tipos de atuação (instantâneo e temporizado) abordados juntamente com as suas curvas características de tempo. O modelamento dessa característica comenta acerca das curvas desenvolvidas por fabricantes de equipamentos de proteção ou normatizadas por entidades, como as normas IEC 60255- 151 e IEEE C37.112. A seção relacionada aos tipos de relés de sobrecorrente aborda as características construtivas, de atuação e instalação, além de aplicação e conceitos básicos para ajuste da corrente de acionamento. O relé de sobrecorrente direcional, um relé de sobrecorrente com características de identificação do sentido de fluxo de energia, é abordado com o objetivo de melhorar a proteção do SEP e as condições para sua coordenação. É importante destacar que o estudo relacionado à proteção de sistemas elétricos de potência não deve ser restrito ao material ou ao conteúdo aqui apresentado. Utilize outros livros e busque maiores informações para ampliar o seu conhecimento, principalmente quando o assunto abordado é de interesse ou de grande utilidade para você. 1. RELÉS DE SOBRECORRENTE E SUAS APLICAÇÕES 1.1. Princípios básicos 1.2. Tipos de relés de sobrecorrente 1.2.1. Aspectos construtivos 1.2.1.1. Eletromecânico 1.2.1.2. Estático 1.2.1.3. Digital 1.2.2. Atuação do circuito a proteger 1.2.2.1. Direta 1.2.2.2. Indireta 1.2.3. Instalação 1.2.3.1. Primário 1.2.3.2. Secundário 1.3. Ajuste 1.3.1. Relé de sobrecorrente instantâneo (50) 1.3.2. Relé de sobrecorrente temporizado (51) 1.3.2.1. Relé de sobrecorrente temporizado de tempo definido 1.3.2.2. Relé de sobrecorrente temporizado de tempo inverso 1.4. Relé direcional Esquema • Identificar os tipos e as tecnologias de relés de sobrecorrente. • Noção básica de ajuste de relés de sobrecorrente. 46 UNIUBE Como visto anteriormente, a limitação dos efeitos devido às falhas inclui a existência de relés, disjuntores e outros dispositivos com capacidade suficiente de interrupção, além da limitação da magni- tude da corrente de curto-circuito e de outras características defini- das em projeto. Segundo Cotosck (2007, p.28) e Caminha (1977, p.7), os relés de proteção, principais equipamentos de proteção dos sistemas elé- tricos, têm como função principal a retirada rápida do elemento quando este está em curto-circuito ou operação anormal de fun- cionamento, impedindo que o problema se propague ou interfira na correta operação de outros elementos do sistema. Assim, o relé é o dispositivo sensor responsável por comandar a abertura do disjuntor quando um sistema elétrico protegido opera em condições anormais de funcionamento. Durante seu funcionamento, o relé recebe informações do sistema elétrico protegido sob a forma de corrente e tensão provenientes dos transformadores de corrente (TC) e de tensão (TP). Por meio da combinação dessas grandezas, são obtidas informações de po- tência, impedância ou ângulo de fase. O relé deverá atuar de modo a realizar a operação para a qual foi projetado e configurado,caso seja sensibilizado pelas condições anormais de funcionamento apresentadas pelo sistema protegido. A atuação desse componente é caracterizada pelo envio de um si- nal que resultará na combinação das seguintes ações: sinalização (alarme), bloqueio ou abertura de disjuntores. Assim, o comando Relés de sobrecorrente e suas aplicações2.1 UNIUBE 47 de abertura ou disparo do disjuntor realizado pelo relé isola a parte defeituosa do sistema. Segundo Mamede Filho e Mamede (2011, p. 256), o relé represen- ta uma gama numerosa de equipamentos e dispositivos, com as mais diferentes formas de construção e operação, para aplicações diversas, dependendo da importância do porte e da segurança da instalação considerada. Parada obrigatória Devido à grande quantidade de dispositivos e suas respec- tivas características, a ANSI (American National Standards Institute) e o IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers) padronizaram, na norma C37.2, os códigos dos dispo- sitivos de proteção. Assim, tais equipamentos são referidos por nú- meros, com sufixos de letras quando necessário, de acordo com as funções que realizam, e utilizados em esquemas de conexão encontrados em manuais de instruções e em especificações. A seguir, o Quadro 2.1 apresenta alguns códigos e as respectivas descrições funcionais padronizados, lembrando que a lista comple- ta com códigos, descrição funcional e sufixos pode ser encontrada na norma ANSI / IEEE C37.2: 48 UNIUBE Código Descrição funcional 1 Elemento principal 2 Função de partida/fechamento temporizado 4 Contator principal 6 Disjuntor de partida 21 Relé de distância 50 Relé de sobrecorrente instantâneo com diversas possibilida- des de sufixos, como N (neutro) e BF (falha de disjuntor) 51 Relé de sobrecorrente temporizado com diversas possibili- dades de sufixos, como N (neutro) e GS (sensor de terra) 52 Disjuntor de corrente alternada 67 Relé direcional de sobrecorrente 87 Proteção diferencial com as diversas possibilidades de sufixos, como B (barra), T (transformador), G (gerador) e L (linha) 89 Chave seccionadora Quadro 2.1 - Código e descrição funcional de dispositivos de proteção Fonte: ANSI/IEEE C37.2. 2.1.1. Princípios básicos Os relés de sobrecorrente constituem um dos tipos de função de proteção e têm como grandeza de atuação uma ou mais corretes dentre as correntes de fase ou a corrente de neutro do sistema. A atuação do relé ocorrerá quando a corrente atingir um valor igual ou superior ao ajuste previamente estabelecido. No caso de serem usados para proteção de circuitos primários, os relés de sobrecor- rente são ligados de forma indiretapor meio de transformadores de corrente (TC) (ALMEIDA, 2008, p. 33). UNIUBE 49 A atuação do relé pode acontecer da forma instantânea (função 50) ou temporizada (função 51), dependendo da necessidade, e podem ser de fase ou de terra. Assim, os relés de fase são utiliza- dos para proteção contra curtos que envolvam mais de uma fase (curtos trifásico, bifásico e bifásico-terra), enquanto o relé de terra, para proteção contra curtos fase-terra. Quanto ao tempo de atuação dos relés de sobrecorrente, são uti- lizadas curvas características desenvolvidas por fabricantes de equipamentos de proteção ou normatizadas por entidades, como IEC e IEEE. Essas curvas são a forma utilizada pelos equipamen- tos para detectar uma falha e, a partir da corrente percorrida no relé por um determinado tempo, eliminá-la. Segundo Cotosck (2007, p.32), os relés de sobrecorrente podem ope- rar com característica de tempo definido ou com característica inversa. A Figura 2.1 a seguir ilustra a curva característica de tempo definido, em que o relé opera após o tempo de atuação (Ta) para qualquer valor de corrente maior ou igual à corrente mínima de atuação (Imin). Figura 2.1 - Curva característica de tempo definido Fonte: Guarani (2007, p. 16). 50 UNIUBE A Figura 2.2 ilustra a curva característica de tempo inverso, em que o relé opera após intervalos de tempo decrescentes com os valores de corrente maiores ou iguais que a corrente mínima de atuação (corrente de partida ou “starting current”). Figura 2.2 - Curva característica de tempo inverso Fonte: Guarani (2007, p. 16) As curvas de tempo inverso são classificadas em três grupos: normalmente inversa (NI), muito inversa (MI) e extremamente inversa (EI). A Figura 2.3 ilustra o comportamento de cada uma dessas curvas. UNIUBE 51 Figura 2.3 - Curvas características normalmente inver- sa (NI), muito inversa (MI) e extremamente inversa (EI) Fonte: Almeida (2008, p. 45). A equação que define tais curvas apresenta pequenas variações entre os modelos usuais de alguns fabricantes, IEC 60255-151 e IEEE C37.112, conforme comentado anteriormente. Seguindo a norma IEC 60255151, por exemplo, essas curvas são definidas a partir de equações exponenciais do tipo: Sendo que: k1 e k2 são constantes que definem os grupos NI, MI e EI da curva característica. 52 UNIUBE I é corrente que chega ao relé por meio do secundário de um TC. IS é corrente de ajuste ou de partida. TMS são valores numéricos responsáveis por deslocar as curvas características ao longo do eixo do tempo. Grupo k1 k2 Normalmente inversa 0,14 0,02 Muito inversa 13,5 1 Extremamente inversa 80 2 As curvas características de tempo inverso são traçadas em gráfico dilog (log x log) e, como ilustrado na Figura 2.4, com o valor de início no eixo das abscissas comumente em 1,5x( I / IS). Usualmente, os catálogos disponibilizam 10 curvas com valores de TMS. A Figura 2.4 ilustra a equação e as curvas com característica normalmente inversa (NI) de um relé. UNIUBE 53 Figura 2.4 - Equação e curvas características de tempo normalmente inversa Fonte: Relés…, [2017], on-line. Ampliando o conhecimento As normas IEC 60255-151 e IEEE C37.112 apresentam as para- metrizações das curvas características dos relés de sobrecorrente e outras informações importantes para aumentar o conhecimento acerca do tema. 2.1.2. Tipos de relés de sobrecorrente Os relés de sobrecorrente podem ser caracterizados, com relação ao tempo de atuação, em instantâneo ou temporizado, como vis- to anteriormente. Outras classificações desses relés consideram aspectos construtivos, atuação do circuito a proteger e instalação. 54 UNIUBE 2.2.1. Aspectos construtivos 2.1.1. Eletromecânico Um relé de sobrecorrente mecânico é projetado, elaborado e cons- truído com base nos movimentos mecânicos provenientes de aco- plamentos elétricos e magnéticos. Utilizando os princípios de atra- ção e indução eletromagnética, os relés eletromecânicos foram os primeiros relés utilizados em sistemas de proteção. O relé de atração eletromagnética é simples, com funcionamento similar ao de um eletroímã. Quando uma corrente com valor su- perior circula pelo solenoide, o dispositivo acoplado ao solenoide é deslocado e promove o fechamento do contato de forma instan- tânea, sem retardo proposital na atuação. A Figura 2.5 ilustra o mecanismo de funcionamento do relé de atração eletromagnética. Figura 2.5 - Mecanismo de funcionamento do relé de atração eletromagnética Fonte: Cotosck (2007, p. 36). UNIUBE 55 O relé de indução eletromagnética utiliza o mesmo princípio de um motor elétrico. A corrente que circula nos polos produz um fluxo magnético defasado e, consequentemente, induz uma corrente no disco. A interação do fluxo com a corrente no disco resulta em um torque que rotaciona essa estrutura e promove o fechamento do seu contato móvel, possibilitando alterar o tempo de fechamento dos contatos por meio da modificação do tempo de seu percurso. A Figura 2.6 ilustra o mecanismo de funcionamento do relé de indu- ção eletromagnética. Figura 2.6 - Mecanismo de funcionamento do relé de indução eletromagnética Fonte: Cotosck (2007, p. 36). 56 UNIUBE 2.2.1.2. Estático Com o advento dos dispositivos eletrônicos, o relé deixou de apre- sentar movimentação mecânica em seumecanismo de atuação e todos os comandos e as operações são realizados eletronicamen- te. Em comparação ao modelo eletromecânico, o relé estático é mais rápido, sensível e preciso, apresenta menor tamanho, consu- mo e grau de manutenção. Contudo, devido a sua sensibilidade, o relé estático pode operar indevidamente em virtude de variações de pequenos transientes quando aplicados para proteção de SEP ou industriais. Além disso, a grande maioria desses relés controla um relé auxiliar mecânico para abertura ou fechamento. Enquanto os problemas dos relés estáticos eram efetivamente re- solvidos, os relés digitais dominaram o mercado devido às carac- terísticas e funções, substituindo os relés eletromecânicos e estáti- cos em novos projetos e atualização de aplicações. 2.2.1.3. Digital Um relé digital utiliza como base o microprocessador, cuja flexibilidade permite ao mesmo relé exercer diferentes funções, como: controle, armazenamento dos dados amostrados, informação de eventos e di- ferentes funções de proteção. Assim, dentro da capacidade ou da dis- ponibilidade de hardware do relé, a alteração de parâmetros e funções é realizada mediante programas computacionais (software). Segundo Almeida (2008, p.35), com relação aos relés eletromecâ- nicos, os relés digitais apresentam as seguintes vantagens: UNIUBE 57 • Automonitoramento (autodiagnóstico). • Detecção e diagnóstico de faltas. • Permite o desenvolvimento de novas funções e métodos de proteção. • Compartilha dados por meio das redes de comunicação. • Proporciona melhor interface homem x máquina (IHM). • Permite redução das interferências do meio ambiente sobre as condições operativas dos equipamentos. • Redução nos custos, conforme a tecnologia é disseminada. O modelo digital apresenta, contudo, vida útil reduzida (10 a 15 anos), quando comparado ao modelo eletromecânico (acima de 30 anos), além de estar sujeito à interferência eletromagnética e tor- nar-se obsoleto de forma rápida, devido ao avanço no desenvolvi- mento de novos hardwares para os relés. Como comentado anteriormente, o relé digital pode apresentar di- ferentes funções integradas com o sistema de energia elétrica, que variam com o modelo, mas pode-se listar: • medição, controle, automação e proteção. • comunicação com outros pontos do sistema. • interface homem-máquina. • aquisição, processamento e armazenamento de dados. 58 UNIUBE • análise de sequência de eventos. • ações de controle de sistema. • montagem de registros dos dados adquiridos. • elaboração de relatórios. O relé digital possibilita uma grande variedade de funções e curvas de proteção para as três fases de um sistema trifásico em um único equipamento, algo impossível com o relé eletromecânico. Assim, os intervalos de coordenação podem ser reduzidos, resultando em eliminação mais rápida do defeito, aumento da confiabilidade ao sistema, redução das taxas de interrupção de energia etc. Devido à medição de corrente e tensão, configuração da lógica de proteção e armazenamento serem digitais, a utilização de relé di- gital facilita a aplicação da teleproteção por meio dos sistemas de comunicação entre relés. A Figura 2.7 ilustra o relé digital Siemens 7SJ61, como exemplo. UNIUBE 59 Figura 2.7 - Relé digital Siemens 7SJ61 Fonte: Siemens ([2017], on-line). Saiba mais Com base no exemplo, verifique maiores informações acerca do relé digital Siemens 7SJ61 em seu manual – disponível em: <ht- tps://www.downloads.siemens.com/download-center/Download. aspx?pos=download&fct=getasset&id1=DLA06_745> – e em tuto- riais de testes, como indicado em CONPROVE (2014). Fonte: Elaborado pelo autor. 60 UNIUBE 2.2.2. Atuação do circuito a proteger 2.2.2.1. Direta O relé de sobrecorrente é classificado como de atuação direta do circuito a proteger quando a ação de proteção ocorre diretamente no dispositivo que realiza a abertura ou o fechamento dos polos do disjuntor. Desse modo, o próprio relé libera a energia a ser utilizada na ação de abertura ou fechamento. 2.2.2.2. Indireta O relé de sobrecorrente é classificado como de atuação indireta quando não atua diretamente no dispositivo que realiza a abertura ou o fechamento dos polos do disjuntor. A atuação desse relé limi- ta-se a fechar ou a abrir um contato que ativa, energiza ou transfe- re para outro circuito a responsabilidade de providenciar o aciona- mento do disjuntor. Para aplicação indireta, é comum a utilização de um circuito de cor- rente contínua alimentado por baterias para acionamento do disjun- tor. A Figura 2.8 ilustra um esquema de atuação indireta de relé. UNIUBE 61 Figura 2.8 - Esquema de atuação indireta de relé Fonte: Almeida (2008, p. 39). 2.2.3. Instalação 2.2.3.1. Primário O relé que apresenta sua bobina magnetizante conectada direta- mente à rede é denominado relé primário. Essa bobina, contudo, apresenta o mesmo potencial da rede e deve suportar a corrente de curto-circuito, colocando em risco a segurança do operador e dificultando as tarefas de inspeção, manipulação e manutenção. Esse relé é utilizado principalmente em circuitos terminais de car- gas industriais por ser simples, robusto e barato. 62 UNIUBE 1.2.3.2. Secundário O relé que apresenta sua bobina magnetizante conectada por meio do enrolamento secundário de um transformador de corrente (TC) é denominado relé secundário. Nesse caso, o relé não apresen- ta elevados níveis de tensão e corrente, trabalhando com maior índice de segurança para o operador e podendo ser aplicado em diferentes sistemas elétricos. 2.3. Ajuste A corrente de ajuste dos relés de sobrecorrente depende de seus aspectos construtivos. Os relés eletromecânicos dependem de al- terações físicas em seus componentes, como ajuste na mola de operação, variação do entreferro ou da bobina magnetizante. Nos relés estáticos, a alteração pode ser realizada com a variação dos elementos do seu circuito. Para os relés digitais, os ajustes são re- alizados por meio de aplicativo ou software (ALMEIDA, 2008. p.40). Como comentado anteriormente, o relé eletromecânico é composto por partes móveis e depende do comportamento de muitos elemen- tos para sua correta operação, como atrito, temperatura, umidade, desgaste etc. Descartando tais fatores, existe um valor mínimo de campo magnético necessário para produzir uma força magnética com mesma intensidade da força mecânica de retenção, colocando o relé no início de sua operação; esse valor é denominado limiar de operação do relé. Sabendo-se da existência dos fatores que influenciam o funcionamen- to do relé, considera-se uma margem de segurança na definição da corrente mínima de ajuste, de forma a garantir o seu acionamento. UNIUBE 63 Por outro lado, os relés digitais não dependem do comportamento dos mesmos elementos, limitando o ajuste à programação via sof- tware das especificações da curva de operação e lógica de controle. Um termo comum no ajuste de relés de sobrecorrente é TAPE, defi- nido como a escala de corrente escolhida no relé, também conheci- do como a corrente de ajuste do relé. Assim, para manter a mesma força necessária para deixar o relé no limiar de operação para di- versos valores de corrente de TAPE do relé, o ajuste da corrente de atração é realizado pela mudança de tape da bobina magnetizante. O múltiplo (M) do tape indica quantas vezes a corrente de defeito é maior que a corrente relativa ao tape adotado e é definido como: A menor corrente capaz de fazer o relé operar é denominada cor- rente de pick-up, deixando o relé no limiar de operação, sendo con- siderada como a corrente efetiva de ajuste do relé. Por outro lado, a maior corrente capaz de iniciar o processo de desoperação do relé é denominada corrente de drop-out. 1.3.1. Relé de sobrecorrente instantâneo (50) Como comentado anteriormente, o relé de sobrecorrente instantâ- neo atua sem o retardo intencional, ou seja, seu tempo de atuação é relacionado à movimentação dos seus mecanismos de operação.64 UNIUBE Devido ao relé não apresentar tempo de retardo, o seu ajuste deve ser realizado de forma a evitar a atuação de outros relés a jusante (relés que estejam mais próximos da carga final). Assim, calcula- se a corrente de ajuste do relé de sobrecorrente instantâneo para que exista seletividade e de modo que não ocorra sobreposição da zona de atuação. Geralmente, a corrente do relé instantâneo é ajustada para 85% do curto-circuito trifásico da linha de transmissão protegida, ou seja: 2.3.2. Relé de sobrecorrente temporizado (51) Como comentado anteriormente, o relé de sobrecorrente tempori- zado atua com o retardo intencional, podendo ser de tempo defini- do ou de tempo inverso. 2.3.2.1. Relé de sobrecorrente temporizado de tempo definido A atuação dos relés de tempo definido ocorre após tempo previa- mente escolhido de acordo com a coordenação implementada. De coordenação simples, a utilização de relés de tempo definido utiliza o relé mais próximo da carga final com o menor ajuste de tempo possível, enquanto aqueles mais próximos das fontes de tensão apresentam incremento de Δt a cada relé a montante (relés que estejam mais próximos da fonte de tensão). UNIUBE 65 Contudo a utilização desse tipo de coordenação apresenta tempo de operação elevado (o circuito demora para desarmar) para cor- rentes provenientes de um curto-circuito próximo a uma fonte de tensão, justamente onde são mais perigosos. 2.3.2.2. Relé de sobrecorrente temporizado de tempo inverso Os relés de sobrecorrente temporizados de tempo inverso uti- lizam uma curva de atuação, não um tempo fixo ou definido, relacionada com as características e condições de coordenação dos relés. Dentro das possibilidades de curvas (inversa, muito inversa e extremamente inversa), encontram-se diferentes incli- nações referentes às características individuais de cada fabri- cante, da norma relacionada, diferentes comprimentos da linha de transmissão e outras. Segundo Almeida (2008, p.44), a escolha do grau de inclinação da curva é determinada pelos comprimentos das linhas protegidas. As linhas curtas são associadas a uma característica extremamente inversa ao relé de sobrecorrente, visto que o nível de curto-circuito é praticamente o mesmo ao longo de toda a linha. As característi- cas muito inversa e inversa são relacionadas às linhas de compri- mento médio e longo, respectivamente. Dentre os modelos com diferentes aspectos construtivos apresen- tados, sabe-se que os relés eletromecânicos não apresentam bom desempenho no fechamento do seu contato para o intervalo de múltiplos de 1,0 a 1,5. Para evitar que o relé opere nessa região, ajusta-se a corrente do relé (pick-up) segundo a equação: 66 UNIUBE O fator 1,5 que multiplica a corrente nominal de carga deixa uma fol- ga para possíveis flutuações e transferência de carga ou manobras na configuração da rede sem a atuação do relé. Escolhendo uma corrente de ajuste com valor próximo ao limite inferior da equação, aumenta-se a garantia de atuação na faixa de alcance de sua pro- teção, pois o relé terá um ajuste maior que seu limiar de operação para uma mínima corrente de curto-circuito. No outro termo da equação, o fator 1,5 que divide a corrente de cur- to-circuito mínimo garante que a menor corrente de curto-circuito seja 1,5 vezes o limiar da operação. Ampliando o conhecimento Outros tipos de relé de sobrecorrente apresentam grande importân- cia e são amplamente utilizados na proteção de sistemas elétricos, como o relé de sobrecorrente temporizado com elemento instantâ- neo e o relé de sobrecorrente de neutro (sequência zero). Busque em bibliografias, como Kindermann (1999), o conteúdo relacionado a tais dispositivos, aplicações, critérios de ajustes e outros. 2.4. Relé direcional (67) O relé de sobrecorrente direcional apresenta sensibilidade ao sen- tido do fluxo de energia em relação a sua referência de polarização UNIUBE 67 previamente estabelecida, permitindo uma melhor proteção do SEP e das condições para sua coordenação. Assim, o relé direcional necessita de uma grandeza utilizada como referência de polarização, geralmente a tensão, e uma grandeza de operação, função normalmente exercida pela corrente. A comparação fasorial das posições relativas da referência de po- larização e da grandeza de operação definem a derecionalidade do relé, produzindo o sentido do fluxo de energia de operação ou do curto-circuito. Como a tensão é comumente utilizada como refe- rência de polarização, a corrente, a grandeza de operação, VPOL e IOP serão adotados para a análise do diagrama vetorial (fasorial) de funcionamento do relé direcional, como na Figura 2.9. Figura 2.9 - Diagrama vetorial (fasorial) de funcionamento de um relé direcional Fonte: Guarani (2007, p. 20). A Figura 2.9 ilustra um diagrama fasorial com ângulo de máximo torque (sensibilidade máxima) igual a τ, sempre relacionado à ten- são de polarização (referência), e a linha do conjugado nulo (região de não atuação) é localizada 90° dessa linha. 68 UNIUBE Como as condições de operação do relé direcional dependem da polaridade dos circuitos de tensão e corrente, amostrados por seus respectivos TP e TC, sua conexão com um sistema elétrico trifásico pode ser realizada de diversas maneiras. O tipo de conexão, ligação ou polarização é determinado pelo ân- gulo entre a tensão de referência de polarização e a corrente do cir- cuito de operação. Considerando o sistema com fator de potência unitário e sequência positiva (direta), os tipos de polarização mais comuns são: quadratura ou 90°, 60° e 30°. Utilizando a tensão da fase A (VAN) como referência para o diagrama fasorial, a tensão de polarização em quadratura (90°) é dada por A Figura 2.10 ilustra o diagrama fasorial da polarização em qua- dratura, juntamente com seu diagrama unifilar, em que é possível observar o ângulo de defasagem de 90° entre VBC e VAN. UNIUBE 69 Figura 2.10 - Diagrama fasorial da polarização em quadratura e diagrama uni- filar de conexão do relé de sobrecorrente direcional para essa conexão Fonte: Guarani (2007, p. 21). Utilizando o mesmo raciocínio, para os relés direcionais de outras fases, é necessário realizar a devida rotação das fases. Assim, por exemplo, o relé diferencial da fase C polarizado em quadratura uti- liza a tensão de polarização VAB. Utilizando novamente a tensão da fase A (VAN) como referência para o diagrama fasorial, a tensão de polarização a 60° do relé di- recional de fase A é dada por (VAN + VBN) ou –VCN. Do mesmo modo, a tensão de polarização a 30° do relé direcional de fase A é dada por VAC. 70 UNIUBE Saiba mais Procure desenvolver o diagrama fasorial e o diagrama unifilar de conexão do relé de sobrecorrente direcional para as polarizações a 60° e 30°. Fonte: Elaborado pelo autor. A Figura 2.11 ilustra uma configuração em anel, sendo que a coor- denação da proteção utiliza unidades direcionais em cadeia dupla, exceto para os relés da fonte. As setas sobre cada uma das repre- sentações dos relés indicam para qual sentido de corrente os relés apresentam sensibilidade. Figura 2.11 - Diagrama unifilar de um sistema em anel com falta no ponto P Fonte: Duarte (2013, p. 31). Considerando os tempos de atuação dos relés TF < TE <... < TA < T1 e Ta < Tb <... < T2, caso ocorra uma falha no ponto P, observa- se que a corrente de falha I’P percorre os relés de sobrecorrente UNIUBE 71 direcionais A, B, C, D e E. O mesmo acontece com a corrente de falha IP, mas relacionada ao relé de sobrecorrente direcional f. Assim, o relé f atuará devido à corrente IP, enquanto o relé E atuará devido à corrente I’P, resultando na abertura desses dois disjunto- res e isolando o ponto de falha (P). Por serem direcionais, os relés que atuam nos disjuntores a, b, c, d e e não são sensíveis à cor- rente de falta I’P. De forma análoga e independente do seu valor, o relé que atua no disjuntor F não é sensível à corrente de falta IP. Considerações finais
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