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Lei nº 12.846/13 Decreto nº 8.420/15 Regulamentação Federal ESTRUTURA DO DECRETO Aspectos Gerais Sanções • Multa: Regras para o Cálculo Acordo de Leniência Programa de Integridade (Compliance) Cadastros Nacionais 1 2 3 4 5 1 –ASPECTOS GERAIS 1.1 RESPONSABILIDADE OBJETIVA da Pessoa Jurídica - Responsabilização objetiva administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública. - A Responsabilidade Objetiva NÃO EXCLUI a responsabilidade individual de dirigentes ou administradores. 1 –ASPECTOS GERAIS 1.2 CONDUTAS – Constituem atos lesivos à administração pública (Exs. do art. 5º da Lei): • prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida; • subvencionar a prática dos atos ilícitos ; • frustrar ou fraudar o caráter competitivo de procedimento licitatório; • fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente; • obter vantagem ou benefício indevido de modo fraudulento; • manipular ou fraudar o equilíbrio econômico- financeiro dos contratos celebrados com a administração pública; • dificultar atividade de investigação ou fiscalização. 1 –ASPECTOS GERAIS 1.3 RESPONSABILIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 1.3.1 - PROCESSO DE APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE – PAR - Processo apuração das violações da Lei 12.846/13 + a inidoneidade da Lei nº 8.666/93 + outras penalidades similares (RDC, pregão); - Prazo para conclusão do processo: 180 dias, prorrogáveis; - Pedido de Reconsideração com efeito suspensivo . 1 –ASPECTOS GERAIS 1.3 RESPONSABILIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 1.3.2 - COMPETÊNCIA para instaurar e julgar o processo: - Administração Direta - Ministro de Estado; - Administração Indireta - autoridade máxima da entidade; - CGU: competência concorrente para instaurar, avocar e julgar. 1.4 - DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: Efeito das sanções, impostas à Pessoa Jurídica, aos administradores e sócios, no caso de: - abuso de direito, ou - confusão patrimonial. 1 –ASPECTOS GERAIS - MULTA de 0,1% a 20% do faturamento bruto do exercício anterior ao PAR, excluídos os tributos + - PUBLICAÇÃO EXTRAORDINÁRIA da decisão administrativa sancionadora + - PROIBIÇÃO DE CONTRATAÇÃO 2 - SANÇÕES: Resultado da SOMA (FASE 1) e SUBTRAÇÃO (FASE 2) de percentuais incidentes sobre o faturamento bruto da empresa PISO E TETO (FASE 3): Calibragem do valor calculado TE TO P IS O 2.1- MULTA: REGRAS PARA O CÁLCULO FASE 1 – SOMA 2.1.1 - MULTA: REGRAS PARA O CÁLCULO ( + ) 1% a 2,5% 1% a 2,5% 1% a 4% 1% 5% 1 % - R$ 1,5 mi 2% - R$ 10 mi 3% - R$ 50 mi 4% - R$ 250 mi 5% - R$ 1 bilhão Valor total dos contratos mantidos ou pretendidos Reincidência FATORES DE AGRAVAMENTO Continuidade no tempo Tolerância da direção da empresa Interrupção de obra ou serviço público Situação econômica positiva da empresa FASE 2 – SUBTRAÇÃO 2.1.2 - MULTA: REGRAS PARA O CÁLCULO ( - ) 1% 1,5% 1% a 1,5% 2% 1% a 4% FATORES DE ATENUAÇÃO Não consumação da infração Ressarcimento dos danos causados Grau de colaboração da empresa Comunicação espontânea Existência de programa de integridade PISO: o maior valor entre: • a vantagem auferida; e • 0,1% do faturamento bruto, excluídos os tributos TETO: o menor valor entre: • 20% do faturamento bruto, excluídos os tributos; • 3 vezes o valor da vantagem pretendida/auferida FASE 3 – PISO E TETO (CALIBRAGEM) 2.1.3 - MULTA: REGRAS PARA O CÁLCULO Não sendo possível utilizar o faturamento, o valor da multa será fixado entre R$ 6.000,00 e R$ 60.000.000,00 2.2 - VANTAGEM AUFERIDA OU PRETENDIDA * CONCEITO * Ganhos derivados do ato lesivo Valor pago ou prometido a agentes públicos ou a terceiros Custos e despesas legítimos VANTAGEM REQUISITOS: ― Ser a primeira a se manifestar em caso de cartel ― Cessar a prática da irregularidade investigada ― Admitir a participação na infração ― Cooperar com as investigações ― Fornecer informações que comprovem a infração 3 – ACORDO DE LENIÊNCIA RESULTADOS esperados com o acordo: ― Identificação dos demais envolvidos ― Obtenção célere de provas do ato ilícito Dever de reparação integral do dano Competência exclusiva da CGU no âmbito do Poder Executivo Federal 3 – ACORDO DE LENIÊNCIA Possíveis BENEFÍCIOS para a empresa: ― Isenção da obrigatoriedade de publicar a decisão punitiva ― Isenção da proibição de receber do Poder Público (inclusive bancos) incentivos, subsídios, empréstimos, etc ― Redução da multa em até 2/3 ― Isenção ou atenuação da proibição de contratar com a Administração Pública (inidoneidade) Negociações em até 180 dias, prorrogáveis Empresas - perda dos benefícios em caso de descumprimento Previsão de adoção de programa de integridade (compliance) 3 – ACORDO DE LENIÊNCIA É UM PROGRAMA ESPECÍFICO PARA PREVENÇÃO, DETECÇÃO E REMEDIAÇÃO DOS ATOS LESIVOS PREVISTOS NA LEI 12.846/13. FOCO: - Ocorrência de suborno e - Fraudes nos processos de licitações e execução de contratos. 4 – PROGRAMA DE INTEGRIDADE (COMPLIANCE) Elementos principais: Confiável e efetivo (força coercitiva em caso de infrações) Estruturado de acordo com o risco da empresa e verificação da efetividade no caso concreto Aplicável a todos os empregados, inclusive dirigentes Sistema de auditoria interna Canal de denúncia e treinamento de funcionários sobre o código de conduta Microempresas e Empresas de Pequeno Porte - tratamento diferenciado com redução das formalidades e dos parâmetros de avaliação 4 – PROGRAMA DE INTEGRIDADE (COMPLIANCE) 4.1 - PARÂMETROS PARA AVALIAÇÃO: • Comprometimento da alta direção, incluídos os conselhos. • Existência de procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no âmbito de processos licitatórios, na execução de contratos administrativos ou em qualquer interação com o setor público, ainda que intermediada por terceiros, tal como pagamento de tributos, sujeição a fiscalizações, ou obtenção de autorizações, licenças, permissões e certidões. • 4.1 - PARÂMETROS PARA AVALIAÇÃO: • Exemplos – Existência e Efetividade de: • Canais de denúncia de irregularidades; • Medidas disciplinares; • Procedimentos de prevenção, detecção e remediação dos danos gerados; e • Procedimentos de interrupção de irregularidades ou infrações. Os cinco pilares do Programa de Integridade 1º: Comprometimento e apoio da alta direção; 2º: Instância responsável pelo Programa de Integridade; 3º: Análise de perfil e riscos; 4º: Estruturação das regras e instrumentos; e 5º: Estratégias de monitoramento contínuo. Os cinco pilares do Programa de Integridade 1. Comprometimento e apoio da alta direção O compromisso com a ética e integridade deve ser demonstrado ao público interno - funcionários e dirigentes – evidenciando a seriedade do Programa e a obrigatoriedade de se seguirem as regras. O mesmo compromisso deve estar claro também para terceiros, clientes e sociedade em geral. Os cinco pilares do Programa de Integridade 2. Instância responsável pelo Programa de Integridade A instância responsável pelo programa de integridade deve dispor de recursos financeiros, materiais e humanos suficientes, além de independência e autonomia para exercer suas atividades. Os cinco pilares do Programa de Integridade 3. Análise de perfil e riscos Análise de Perfil : • estrutura organizacional (hierarquia interna, processo decisório); • nível de interação com a administração pública: autorizações, licenças e permissões, quantitativo e os valores de contratos, a frequência e a relevância da utilização de terceiros; • participaçõessocietárias na condição de controladora, controlada, coligada ou consorciada. Os cinco pilares do Programa de Integridade 3. Análise de perfil e riscos Avaliação de Riscos: mercados onde a empresa atua (cultura local, nível de regulação estatal, histórico de corrupção). Essa avaliação deve considerar principalmente a probabilidade de ocorrência de fraudes e corrupção e o impacto desses atos lesivos nas operações da empresa. Com base nos riscos identificados, serão desenvolvidas as regras, políticas e procedimentos para prevenir, detectar e remediar a ocorrência dos atos indesejados. Os cinco pilares do Programa de Integridade 4. Estruturação das regras e instrumentos 4.1. Padrões de ética e de conduta: o código de ética ou de conduta deve mencionar as políticas da empresa para prevenir fraudes e ilícitos, especificando as condutas não aceitas. Exemplos de vedações : - prática de fraudes em licitações e contratos; - oferecimento de vantagem indevida a licitante concorrente; - embaraço à ação de autoridades fiscalizatórias. Os cinco pilares do Programa de Integridade 4. Estruturação das regras e instrumentos 4.2. Regras, políticas e procedimentos para mitigar os riscos Relacionamento com o setor público - exemplos: - vedação à combinação com concorrentes e de criação de jogo de planilhas. - limitação a discricionariedade de funcionários responsáveis por operações sensíveis. - adoção de parâmetros bem definidos para a tomada de decisões. Os cinco pilares do Programa de Integridade 4. Estruturação das regras e instrumentos 4.2. Regras, políticas e procedimentos para mitigar os riscos Relacionamento com terceiros - exemplos: • previsão de rescisão contratual caso a contratada pratique atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira; • pagamento de indenização em caso de responsabilização da empresa contratante por ato do contratado. Os cinco pilares do Programa de Integridade 4. Estruturação das regras e instrumentos 4.3. Canais de denúncias, Comunicação e Treinamento Canais de denúncia e de políticas de proteção – com regras de anonimato, confidencialidade e proibição de retaliação a denunciantes - para garantir a possibilidade de reportar casos suspeitos. Canais de orientação para casos práticos e esclarecimento em relação aos aspectos do Programa de Integridade. Os canais devem ser gratuitos e de fácil acesso a todos na empresa e abertos a terceiros e ao público. Os cinco pilares do Programa de Integridade 4.4. Medidas Disciplinares As punições previstas devem ser proporcionais ao tipo de violação e ao nível de responsabilidade dos envolvidos. Percepção de que as normas valem para todos e que todos estão sujeitos a medidas disciplinares. 4.5. Ações de Remediação Detecção de Ilícitos com interrupção das irregularidades e reparar os danos. Os cinco pilares do Programa de Integridade 5. Estratégias de monitoramento contínuo Plano de monitoramento para verificar a efetiva implementação do Programa de Integridade e possibilitar a identificação de pontos falhos, analisando: • as tendências verificadas nos pedidos de orientação e nas reclamações dos clientes/fornecedores da empresa; e • as informações obtidas mediante o canal de denúncias. Como a empresa está respondendo às questões identificadas durante o processo de monitoramento? Cadastros nacionais únicos na internet - Cadastro Nacional de Empresas Punidas – CNEP, e Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas – CEIS. 5 – CADASTROS NACIONAIS Núcleo de Ações de Prevenção - NAP/CGU-RS nap.cgurs@cgu.gov.br (51) 34552741 CONTROLADORIA REGIONAL DA UNIÃO NO RS jusbrasil.com.br 7 de Outubro de 2022 Lei anticorrupção Apresentação do assunto Publicado por Carlos Otaviano Brenner de Moraes há 8 anos 1.323 visualizações A Lei nº 12.846/13, em vigor desde o início de 2014, batizada "Lei Anticorrupcao", centraliza seus comandos normativos e punitivos nas pessoas jurídicas, impondo-lhes responsabilidade objetiva administrativa e civil pelos atos lesivos à administração pública cometidos em seu proveito ou benefício, exclusivo ou não. Sua natureza não é a de uma lei penal, que incrimine fatos, crie novas penas ou aumente sanções criminais já previstas em outras, muito embora setores da doutrina insistam em emprestar-lhe tal aspecto. Também não é uma lei que qualifique fatos de hediondos ou algo assemelhado, como se isso fosse suficiente e eficaz para inibir a ocorrência do ilícito - em tramitação no Congresso Nacional, projeto de lei para incluir o crime de corrupção no rol dos crimes hediondos. Mas é uma lei que, pelo rigor de suas disposições, prestígio e poder que reconhece e outorga aos órgãos de controle dos três níveis da administração pública, possui aptidão jurídica para prevenir e punir a corrupção, as fraudes nas licitações e os ilícitos em contratos contra o poder público. Geralmente, as pessoas jurídicas, principais beneficiárias pela corrupção no setor público, via-de-regra não recebem a devida punição da ordem jurídica. Tradicionalmente são protegidas, imunes e https://carlosotaviano.jusbrasil.com.br/ https://carlosotaviano.jusbrasil.com.br/ http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035665/lei-12846-13 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035665/lei-12846-13 impunes, pela responsabilização aos seus representantes ou dirigentes, de cunho estritamente pessoal. Nas situações em que sofrem reprimenda por fraudes em licitações públicas ou improbidades administrativas em concurso com agentes públicos, ficam apenas proibidas de contratar com o poder público ou desprestigiadas pela declaração de inidoneidade, sanções nem sempre proporcionais ao elevado grau de lesividade dos fatos de que são e mereceriam ser juridicamente responsabilizadas. A corrupção, fenômeno que também se dá nas relações dentro do setor privado, tem seu maior cenário de ocorrência no setor público, quando produz perniciosos efeitos à sociedade, ao desenvolvimento e à credibilidade do país. Os recursos públicos são desviados da finalidade social a que se destinam, as cidades e suas obras sofrem as consequências disso, a população deixa de receber os serviços estatais essenciais à melhoria da qualidade de suas vidas, a concorrência torna- se desleal, prejudicando a livre iniciativa e a igualdade de oportunidades. Não fosse o bastante para ditar o seu enérgico combate, desestimula o investimento estrangeiro, compromete o desenvolvimento e afeta a credibilidade do Brasil. Precisa ser combatida por todos. MISSÃO DA NOVA LEI Nessa perspectiva de combate à corrupção, lei têm a missão de "reforçar" a proteção jurídica da administração pública frente aos ataques a que está exposta realizados em benefício ou proveito de pessoas jurídicas (art. 1º). Reforçar no sentido de "acrescer" à proteção jurídica já existente. Exatamente por isso, a aplicação das sanções nela previstas não impede ou afeta a punição pelos atos de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), pelas fraudes nos procedimentos licitatórios (nº 8.666/93), pelos ilícitos em contratos com a administração pública (art. 30) ou pelos crimes de seus membros ou representantes tipificados na legislação penal. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104098/lei-de-improbidade-administrativa-lei-8429-92 A administração pública, que assim tem sua proteção jurídica reforçada relativamente aos atos de corrupção, não é apenas a nacional ou brasileira - União Federal, estados-membros e municípios. A tutela legal também alcança a administração pública estrangeira por atos lesivos cometidos no Brasil e, inclusive, no exterior. O art. 28 da lei prevê o suborno transnacional, o que permite, pela aplicação extraterritorial da norma, a punição de atos de corrupçãopor pessoas jurídicas nacionais realizados fora do país, e, por força do seu art. 5º, administração pública estrangeira engloba todos os órgãos e entidades estatais ou representações diplomáticas de país estrangeiro, de qualquer nível ou esfera de governo, as pessoas jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público de país estrangeiro, e as organizações públicas internacionais, por expressa equiparação (art. 5º, §§ 1º, 2º e 3º). SIGNIFICADO DE RESPONSABILIDADE OBJETIVA O “reforço jurídico” em que consiste e significa a missão da Lei Anticorrupcao, encontra na responsabilidade objetiva, administrativa e civil, seu principal instrumento de efetivação (art. 2º). Responsabilidade objetiva é uma forma de responsabilização sem culpa, que não depende de um nexo subjetivo, como relação psíquica, entre o agente e o fato, no sentido de consciência e vontade em realizá- lo visando proveito próprio à custa de lesão à administração pública. Basta a relação causal objetiva – o ato de corrupção e o benefício ou proveito em favor da pessoa jurídica, independentemente da concreta obtenção do benefício visado pelo ato ilícito (art. 3º, § 1º). A responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito (art. 3º), e é independente desta (§ 1º do art. 3º). PESSOAS JURÍDICAS DESTINATÁRIAS http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035665/lei-12846-13 As destinatárias do seu regramento punitivo são as pessoas jurídicas em geral, ou seja, as sociedades empresárias e as sociedades simples, personificadas ou não, as fundações, as associações de entidades ou de pessoas e as sociedades estrangeiras que tenham sede, filial ou representação no território brasileiro, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente. Os entes que não tenham personalidade serão representados pela pessoa a quem couber a administração de seus bens (arts. 1º, § 1º, e 26, § 1º). Enganam-se, pois, aqueles que pensam seja uma lei exclusivamente direcionada às pessoas jurídicas que operem apenas ou preferencialmente com o poder público. Bem verdade, as pessoas jurídicas que têm no poder público o principal cliente e fazem da corrupção uma estratégia de expansão dos seus negócios correm maiores riscos. Mas, e é importante salientar, toda e qualquer pessoa jurídica está sujeita aos seus ditames. Tamanho é o feixe de relações das pessoas jurídicas com o poder público, especialmente pela burocracia ainda intensa, elevada quantidade e sobreposição de normas de regulamentação e de órgãos de controle e fiscalização, que a lei poderá apanhar fundações, institutos, órgãos de classe, associações comerciais, clubes sociais, entidades representativas das indústrias, sociedades de profissionais e até condomínios por atos ilícitos próprios ou de terceirizados. Considerando a responsabilização objetiva que impõe, será irrelevante, como inibidor à incidência e aplicação das penalidades, o argumento de desconhecimento, de falta de ciência e aquiescência do proprietário, dirigente ou do órgão controlador da empresa, sociedade, associação, instituto ou da pessoa jurídica em geral, com a corrupção consumada ou tentada. Suficiente tenha sido o ato realizado em proveito ou benefício da pessoa jurídica, exclusivo ou não – pode ter sido também em proveito pessoal do agente do ato. Assim, poderá ser o ato de corrupção de um simples despachante encarregado da aprovação do plano de combate a incêndio da entidade, ou o de um renomado escritório de contabilidade, ou de advocacia, na busca de resolução de uma infração tributária atribuída à pessoa jurídica cliente, por exemplo. Também de referir, por expressa disposição (art. 4º, §§ 1º e 2º), as alterações contratuais eventualmente ocorridas após a prática do fato ilícito não elidem a respectiva responsabilidade e punição. Apenas na fusão e incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas decorrentes de atos e fatos ocorridos antes da data da fusão ou incorporação (salvo se houver simulação ou evidente intuito de fraude). As sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito do respectivo contrato, serão solidariamente responsáveis pela obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado. FATOS PUNÍVEIS Os fatos que seleciona e tipifica (art. 5º), por reputá-los lesivos ao patrimônio público nacional ou estrangeiro, aos princípios da administração pública ou aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, são os seguintes: (a) prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada; (b) financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo subvencionar a prática dos atos ilícitos; (c) utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados; (d) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público; (e) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório público; (f) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo; (g) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente; criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação pública ou celebrar contrato administrativo; obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações ou prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos instrumentos contratuais; (h) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebrados com a administração pública; (i) dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional. PENALIDADES COMINADAS As penalidades estabelecidas podem ser aplicadas pela própria administração (federal, estadual e municipal) ou apenas pela via judicial. São, portanto, segundo a fonte de sua incidência, classificáveis em penalidades administrativas e penalidades judiciais, aplicáveis, conveniente registrar, isolada ou cumulativamente, e não excluem a obrigação da reparação integral do dano causado (art. 6º, § 3º). As penalidades administrativas, da alçada da administração pública lesada, no nível federal, estadual ou municipal, são as seguintes: (a) multa, no valor de 0,1% a 20% do faturamento bruto do último exercício anterior ao da instauração do processo administrativo, excluídos os tributos, a qual nunca será inferior à vantagem auferida, quando for possível sua estimação (art. 6º, inc. I); caso não seja possível utilizar o critério do valor do faturamento bruto, a multa será de seis mil a sessenta milhões de reais (art. 6º, § 4º); e (b) publicação extraordinária da decisão condenatória (art. 6º, inc. II), na forma de extrato de sentença, a expensas da pessoa jurídica, em meios de comunicação de grande circulação na área da prática da infração e de atuação da pessoa jurídica ou, na sua falta, em publicação de circulação nacional, bem como por meio de afixação de edital, pelo prazo mínimo de trinta dias, no próprio estabelecimento ou no local de exercício da atividade, de modo visível ao público, e no sítio eletrônico na rede mundial de computadores (art. 6º, § 5º). As penalidades que dependem de decisão judicial e que podem incidir de forma isolada ou cumulativa, através do ajuizamento de ações com o trâmiteda ação civil pública (art. 21), pelas advocacias públicas ou órgãos de representação judicial da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, ou pelo Ministério Público (art. 19, caput), são as seguintes: (a) perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé (art. 19, I); (b) suspensão ou interdição parcial de suas atividades (art. 19, II); (c) proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo mínimo de um e máximo de cinco anos (art. 19, IV); e (d) dissolução compulsória da pessoa jurídica quando comprovado ter sido a personalidade jurídica utilizada de forma habitual para facilitar ou promover a prática de atos ilícitos, ou ter sido constituída para ocultar ou dissimular interesses ilícitos ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados (art. 19, incs. I a IV). OUTROS TEMAS Dosimetria das penas (art. 7º), compliance (art. 7º, VIII) e acordo de leniência (art. 16) são outros importantes temas da lei, e serão examinados oportunamente, em artigos específicos. Pretendeu-se, neste, a apresentação do assunto. Disponível em: https://carlosotaviano.jusbrasil.com.br/artigos/152713598/lei-anticorrupcao Informações relacionadas Hermes Junior Artigos • há 5 anos A responsabilização das pessoas jurídicas que contratam com a Administração Pública na Lei Anticorrupção RESUMO Mais conhecida como Lei Anticorrupção, a Lei n°. 12.846/2013 surgiu da necessidade do Estado de coibir atos corruptivos para atender a pressão popular e para ratificar tratados e convenções… Escola Brasileira de Direito Artigos • há 5 anos Quais os recursos cabíveis no processo penal? O recurso é o meio de impugnação da decisão judicial prolatada, é instrumento hábil a reformar uma decisão, buscando seu reexame, desde que tenha havido sucumbência, necessária ao surgimento do… Editora Revista dos Tribunais Doutrina • há 5 meses Temas Atuais de Direito Processual: Estudos em Homenagem ao Professor Eduardo Arruda Alvim A obra consiste em uma justa e merecida homenagem ao grande jurista Professor Eduardo Arruda Alvim.?Trata-se de um projeto que conta com a participação de renomados juristas, Ministros, Desembargadores, https://hermesddb.jusbrasil.com.br/ https://hermesddb.jusbrasil.com.br/ https://hermesddb.jusbrasil.com.br/artigos/540151595/a-responsabilizacao-das-pessoas-juridicas-que-contratam-com-a-administracao-publica-na-lei-anticorrupcao https://ebradi.jusbrasil.com.br/ https://ebradi.jusbrasil.com.br/ https://ebradi.jusbrasil.com.br/artigos/464889792/quais-os-recursos-cabiveis-no-processo-penal https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/ https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/ https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/doutrina/1481216024/temas-atuais-de-direito-processual-estudos-em-homenagem-ao-professor-eduardo-arruda-alvim Juízes, Advogados e Estudantes de Direito Processual, que contribuíram com profundos estudos versando os mais … Temas Atuais de Direito Processual: Estudos em Homenagem ao Professor Eduardo Arruda Alvim Doutrina • 2022 Editora Revista dos Tribunais 1. 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Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente para que seja instaurada investigação destinada a… https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/doutrina/1481216024/temas-atuais-de-direito-processual-estudos-em-homenagem-ao-professor-eduardo-arruda-alvim https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/doutrina/1481216024/temas-atuais-de-direito-processual-estudos-em-homenagem-ao-professor-eduardo-arruda-alvim https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/doutrina/secao/1481216062/1-admissibilidade-dos-meios-atipicos-de-citacao-no-processo-civil-brasileiro-parte-v-comunicacao-dos-atos-processuais-e-cooperacao-judiciaria https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/doutrina/1506551648/comentarios-a-nova-lei-de-improbidade-administrativa-lei-8249-1992-com-as-alteracoes-da-lei-14230-2021 https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/doutrina/1506551648/comentarios-a-nova-lei-de-improbidade-administrativa-lei-8249-1992-com-as-alteracoes-da-lei-14230-2021 https://thomsonreuters.jusbrasil.com.br/doutrina/secao/1506551689/art-14-capitulo-v-do-procedimento-administrativo-e-do-processo-judicial Resumo e comentários sobre a Lei de Lavagem de Dinheiro Antônio Milad Labaki Neto, Artigo, Mais lidos O presente artigo tem o objetivo de trazer, em resumo, breves comentários sobre a Lei de Lavagem de Dinheiro e sua importância para a efetividade do combate do crime organizado. A Lei de Lavagem de Dinheiro foi promulgada no ano de 1998, no momento em que todo o mundo debatia a importância de coibir o grande motivador do crime organizado, que é o resultado econômico do crime que o financia, normalmente materializado em pecúnia e bens móveis ou imóveis. A partir do momento em que um determinando país se preocupava em criar uma Lei de Lavagem de Dinheiro, em que além de criminalizar a conduta de ocultar o proveito financeiro do crime, buscava-se criar regras e deveres administrativos voltados à sua prevenção, foi possível constatar a sua importância para o combate a esta espécie de crime. A Lei de Lavagem de Dinheiro no Brasil (Lei nº 9.613/98) foi promulgada após nosso país ratificar a Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes (Decreto 154/91), aderindo ao compromisso mundial na criação de uma Lei de Lavagem de Dinheiro alinhada com as preocupações e demandas mundiais. A importância, a eficácia, a definição dos crimes antecedentes ao crime previsto na Lei de Lavagem de Dinheiro e suas mudanças com o advento da Lei nº 12.683/12, qual a pena, as etapas para a configuração do crime, serão tratados pontualmente abaixo. Qual é o conceito do crime esculpido na Lei de Lavagem de Dinheiro?: A Lei de Lavagem de Dinheiro não conceitua o que se entende por Lavagem de Dinheiro. Em seu artigo 1º, caput, a Lei de Lavagem de Dinheiro define o tipo penal, criminalizando a conduta de “Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. ”. Por mais que a Lei de Lavagem de Dinheiro não traga um conceito fechado para o crime, a sua tipificação legal sintetizada no artigo 1º da Lei 9.613/98 traz elementos relevantes para a sua delimitação. Qual é, então, a conceituação doutrinária do crime previsto na Lei de Lavagem de Dinheiro? Segundo a doutrina, a lei de lavagem de dinheiro estabelece como crime “o ato ou o conjunto de atos praticados por determinado agente com o objetivo de conferir aparência lícita a bens, direitos ou valores provenientes de uma infração penal.”[1]. Há quem conceitue lavagem de dinheiro, trazendo em sua definição as 3 etapas do crime, como é o exemplo de Rodolfo Tigre Maia, para quem o crime tipificado na Lei de Lavagem de Dinheiro pode ser entendido “como o conjunto complexo de operações, integrado pelas etapas de conversão (‘placcement’), dissimulação (‘layering’) e integração (‘integration’) de bens, direitos e valores, que tem por finalidade tornar legítimos ativos oriundos da prática de atos ilícitos penais, mascarando esta origem para queos responsáveis possam escapar da ação repressiva da Justiça.”[2]. arrested official in handcuffs counting dollar banknotes. Concept of fraud, detention, crime and bribery Resumo das 3 etapas do crime previsto na Lei de Lavagem de Dinheiro: Em resumo, a Lei de Lavagem de Dinheiro prevê como crime o ato ou conjunto de atos praticados visando encobrir a origem criminosa de valores, direitos ou bem, assegurando-se, assim, a sua fruição pelo agente criminoso. É certo que a guarda e a manutenção de elevadas quantias em dinheiro em espécie traz inúmeras complicações, que partem do volume físico que ocupa às suspeitas que o transporte e o seu emprego na realização de transações comerciais levantam. Por este motivo é que a Lei de Lavagem de Dinheiro buscou reprimir todo o ato voltado a ocultar ou dissimular a sua origem ilícita, para que o proveito criminoso pudesse reintegrar-se no sistema financeiro regular, como se recurso lícito fosse. Tendo o crime de lavagem de dinheiro despertado a atenção das autoridades norte americanas durante a vigência da Lei Seca daquele país (1920 a 1933), fazendo “desenvolver um comércio ilegal de álcool, que ficou nas mãos de organizações criminosas, atingindo grandes proporções, culminando com a movimentação de vultosas quantias em dinheiro”[3], foi que se identificou as 3 etapas necessárias para a caracterização do crime, que foi sintetizada no placcement, layering e integration. A identificação das 3 etapas do crime de lavagem de dinheiro resultou do consenso do GAFI (Grupo de Ação Financeira), criado em 1989 pelo G7[4], em que inicialmente haveria a separação ou distanciamento dos proveitos ilícitos do agente (placcement, ocultação ou colocação), que na sequência são difundidos no mercado formal (layering, dissumulação ou mascaramento), para que possam ser integrados ao patrimônio do criminoso com aparência de licitude (integration, integração ou reciclagem). Em resumo, após o distanciamento do proveito criminoso do agente, a segunda fase se completará após a realização de diversas transações financeiras, com a pulverização dos valores no mercado nacional ou internacional, a fim de se impedir o rastreamento da sua origem ilícita, para que, ao final, o agente atinja seu objetivo final, que é fruir do lucro criminoso como se fosse ativo lícito. De acordo com a doutrina, “muitas vezes, a integração é feita por meio de investimentos, aquisições, compra de ativos. Podem ser criadas empresas ‘offshore’ que, na posse de tal numerário, investem em empresas de propriedade do agente, ou comprar parte do capital social. Com isso, os proveitos dos delitos antecedentes passam a integrar os bens do agente, que poderá deles dispor, sem que haja suspeitas de sua ilicitude.”[5]. Comentários à Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98) e às alterações trazidas pela Lei 12.683/12: Da necessidade de maior eficácia na prevenção à Lavagem de Dinheiro. Os presentes comentários à Lei de Lavagem de Dinheiro objetivam ressaltar o importante aprimoramento legislativo que a Lei 9.613/98 alcançou com a promulgação, quatorze anos depois, da Lei 12.683/12. Renato Brasileiro de Lima, ensina que “Grosso modo, foram 3 (três) as principais mudanças produzidas pela Lei nº 12.683/12: a) supressão do rol taxativo de crimes antecedentes (…); b) fortalecimento do controle administrativo sobre setores sensíveis à reciclagem de capitais; c) ampliação das medidas cautelares patrimoniais incidentes sobre a lavagem de capitais e sobre as infrações antecedentes (…)”[6]. A primeira grande alteração que a Lei 12.683/12 trouxe, foi a generalização dos crimes que a Lei de Lavagem de Dinheiro admitia como antecedentes à lavagem de dinheiro, em sua redação original, em rol taxativo. Essa modificação, em verdade, tem relação com a geração em que as Leis de Lavagem de Dinheiro espalhadas pelo mundo foram classificadas. Isso porque, inicialmente as primeiras Leis de Lavagem de Dinheiro, até por força da Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes, previa como crime antecedente somente o tráfico de drogas. Leis de Lavagem de Dinheiro com este formato foram classificadas doutrinariamente como de primeira geração. Entretanto, inicialmente a Lei 9.613/98 adotou o critério de segunda geração, alargando os crimes que poderiam ser admitidos como antecedentes à lavagem de dinheiro além do tráfico de drogas, sob a justificativa de que: “Embora o narcotráfico seja a fonte principal das operações de lavagem de dinheiro, não é sua única vertente. Existem outros ilícitos, também de especial gravidade, que funcionam como círculos viciosos relativamente à lavagem de dinheiro e à ocultação de bens, direitos e valores” (Exposição de Motivos, nº 21). Com a promulgação da Lei 12.683/12 o Brasil passou a adotar o critério de terceira geração com a eliminação do rol taxativo de crimes antecedentes na Lei de Lavagem de Dinheiro, passando “a prever que a lavagem de capitais estará caracterizada quando houver a ocultação ou dissimulação da natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de ‘infração penal’.” [7]. O segundo objetivo da Lei 12.683/12 foi intensificar as medidas administrativas na Lei de Lavagem de Dinheiro voltadas à prevenção do ato criminoso, com o objetivo de tornar mais eficiente a persecução penal, que até o momento mostrou número muito baixo de condenações, pois existindo mais alternativas para a identificação e a comunicação de operações suspeitas, a repressão judicial se tornava igualmente mais exitosa. Por fim, a Lei de Lavagem de Dinheiro ampliou o leque de possibilidade de imposição de medidas assecuratórias, visando garantir o sucesso do confisco de bens ou valores provindos de crime, admitindo-se, por exemplo, o sequestro de bens “existentes em nome de interpostas pessoas”, comumente conhecidas como “laranjas”, conforme art. 4º, caput, da Lei de Lavagem de Dinheiro. Qual a pena prevista na Lei de Lavagem de Dinheiro? Não é excessivo afirmar que a Lei de Lavagem de Dinheiro previu para o crime uma das mais gravosas penas do sistema penal pátrio. O crime previsto na Lei de lavagem de dinheiro ostenta como preceito secundário a pena de reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. É compreensível a intenção do legislador em coibir, de forma coordenada à tendência mundial, a lavagem de dinheiro da forma mais eficaz possível. Uma das funções da pena é a prevenção geral, isto é, quando o legislador prevê a pena ele na verdade está transmitindo uma mensagem visando inibir que os membros da sociedade pratiquem o comportamento tipificado. A gravidade da pena da Lei de Lavagem de Dinheiro fala muito sobre a habitual gravidade dos crimes antecedentes, geralmente praticados por organização criminosa estruturada, ou seja, quem normalmente se propõe a ocultar o proveito do crime é aquele criminoso que movimenta vultosas quantias, que são angariadas pela prática de crimes não menos graves. Ocorre que a magnitude da pena do crime de lavagem somada à opção da Lei 12.683/12 em incluir a Lei de Lavagem de Dinheiro pátria na terceira geração, admitindo-se toda e qualquer infração penal (crime ou contravenção penal), independentemente da sua gravidade, como crime antecedente, traz um paradoxo em nosso sistema. Exemplificando, da forma como está, a depender do caso concreto, seria possível que uma infração penal de menor potencial ofensivo ou mesmo uma contravenção penal seja apontado como crime antecedente de lavagem de dinheiro, que possui uma pena imensamente mais gravosa, expondo a risco a lógica do sistema e o critério da proporcionalidade. Em relação ao ponto, a doutrina adverte que “melhor teria andado nosso legislador se tivesse adotadoo mesmo critério da Convenção de Palermo, que demanda a existência de crimes antecedentes de alguma gravidade, indicando como ‘standard’ aqueles cuja pena máxima não seja inferior a 4 (quatro) anos.”[8]. Por fim, é certo que a Lei de Lavagem de Dinheiro desde a sua edição foi alvo de aperfeiçoamento que com certeza atingiu o efeito almejado, no sentido de criar mecanismos de prevenção da prática de lavagem de dinheiro através de um sistema financeiro de viés excessivamente fiscalizador, otimizando ainda o objetivo de descapitalização do crime organizado mediante o emprego bem sucedido de medidas cautelares patrimoniais, que garantem posterior confisco de bens, impedindo, assim, a sua perpetuação no seio social. Antonio Milad Labaki Neto Cláudia Seixas Sociedade de Advogados [1] DE LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada. 7ª ed. rev. atual. E ampl. Salvador: Jus Podivm. 2019. Pág. 594. [2] Lavagem de Dinheiro – lavagem de ativos provenientes de crime – Anotações às disposições da Lei 9.613/98. São Paulo. Malheiros. 2004. Pág. 53. [3] BADARÓ, Jennifer Falk. Dolo no crime de lavagem de dinheiro. Belo Horizonte: Editora D’Plácido. 2018. Pág. 111. [4] BADARÓ, Jennifer Falk. Dolo no crime de lavagem de dinheiro. Belo Horizonte: Editora D’Plácido. 2018. Pág. 114. [5] BADARÓ, Jennifer Falk. Dolo no crime de lavagem de dinheiro. Belo Horizonte: Editora D’Plácido. 2018. Pág. 115. [6] DE LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada. 7ª ed. rev. atual. E ampl. Salvador: Jus Podivm. 2019. Pág. 594. [7] DE LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada. 7ª ed. rev. atual. E ampl. Salvador: Jus Podivm. 2019. Pág. 595. [8] DE LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada. 7ª ed. rev. atual. E ampl. Salvador: Jus Podivm. 2019. Pág. 594.