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1 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia 2 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia SUMÁRIO ANATOMIA RENAL .................................................................................................................................... 4 FISIOLOGIA RENAL................................................................................................................................... 7 HEMODIÁLISE .......................................................................................................................................... 12 EPIDEMIOLOGIA DA DOENÇA RENAL CRÔNICA NO BRASIL ........................................................... 15 TERAPIAS DIALÍTICAS ATUAIS ............................................................................................................. 21 GLOMERULOPATIAS .............................................................................................................................. 30 INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO.......................................................................................................... 32 INCIDÊNCIA .............................................................................................................................................. 32 NEFROPATIA DE REFLUXO ................................................................................................................... 36 NEFRITE LÚPICA ..................................................................................................................................... 39 NEFROPATIA DIABÉTICA ....................................................................................................................... 41 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ................................................................................................. 44 NEFROLITÍASE ........................................................................................................................................ 47 INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA ............................................................................................................. 52 TRATAMENTO ......................................................................................................................................... 52 MÉTODOS DIALÍTICOS NA INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA .............................................................. 53 DOENÇA RENAL CRÔNICA .................................................................................................................... 54 PRINCÍPIOS BÁSICOS............................................................................................................................. 58 APARELHO PARA HEMODIÁLISE.......................................................................................................... 60 ÁGUA PARA HEMODIÁLISE ................................................................................................................... 62 ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE .......................................................................................... 65 DIALISADORES ....................................................................................................................................... 67 MEMBRANAS ........................................................................................................................................... 68 REUTILIZAÇÃO DE DIALISADORES ...................................................................................................... 69 CUIDADOS COM O DIALISADOR ........................................................................................................... 69 SOLUÇÕES ESTERILIZANTES ............................................................................................................... 70 TÉCNICA DE REPROCESSAMENTO ...................................................................................................... 70 ANTICOAGULAÇÃO ................................................................................................................................ 71 SELEÇÃO DO ANTICOAGULANTE ........................................................................................................ 72 COAGULAÇÃO DO CIRCUITO EXTRACORPÓREO .............................................................................. 72 AÇÕES DE ENFERMAGEM ..................................................................................................................... 73 COMPLICAÇÕES DURANTE A HEMODIÁLISE ..................................................................................... 74 AÇÕES DE ENFERMAGEM ..................................................................................................................... 75 CONTROLE DE INFECÇÕES NA UNIDADE DE HEMODIÁLISE ........................................................... 76 INFECÇÃO RELACIONADA À CONTAMINAÇÃO DAS SOLUÇÕES DE DIÁLISE ............................... 77 3 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia INFECÇÃO RELACIONADA AO ACESSO VASCULAR PARA HD ........................................................ 77 INFECÇÕES VIRAIS EM UNIDADE DE HD ............................................................................................. 78 ENFERMAGEM NO REUSO DE DIALISADORES ................................................................................... 82 FUNÇÕES DO ENFERMEIRO .................................................................................................................. 82 FUNÇÕES DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM ......................................................................................... 84 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA HEMODIÁLISE ................................... 85 AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA ............................................................................................................ 90 SELEÇÃO DO RECEPTOR ...................................................................................................................... 92 DOADOR CADÁVER ................................................................................................................................ 92 DOADOR VIVO ......................................................................................................................................... 92 PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO DO RECEPTOR DE RIM DE DOADOR CADÁVER ............................. 93 AVALIAÇÃO DO DOADOR VIVO ............................................................................................................ 96 PREPARO DO PACIENTE ..................................................................................................................... 100 COMPLICAÇÕES DO TRANSPLANTE RENAL .................................................................................... 100 DISFUNÇÃO INICIAL DO ENXERTO ..................................................................................................... 100 REJEIÇÃO DO ENXERTO ...................................................................................................................... 101 TIPOS DE REJEIÇÃO............................................................................................................................. 101 COMPLICAÇÕES TARDIAS .................................................................................................................. 104 COMPLICAÇÕES INFECCIOSAS .......................................................................................................... 106 COMPLICAÇÕES CIRÚRGICAS ............................................................................................................ 106 ENFERMAGEM NO TRANSPLANTE COM DOADOR VIVO ................................................................. 108 ENFERMAGEM NO TRANSPLANTE COM DOADOR CADÁVER ........................................................ 111 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................113 4 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Anatomia Renal Os rins são órgãos pares com formato semelhante a um grão de feijão. A coloração é marrom-avermelhada, envolvidos por uma resistente cápsula fibrosa. Sua localização é retroperitoneal, ou seja, estão posicionados atrás do revestimento peritoneal da cavidade abdominal, um de cada lado da coluna vertebral, paralelo ao músculo psoas maior. Quando estamos em pé sua margem superior está ao nível da primeira vértebra lombar e a inferior, na altura da quarta vértebra lombar. Eles se deslocam com a respiração cerca de 1,9 cm, atingindo até 4,1 cm de deslocamento durante a inspiração profunda. O órgão direito é um centímetro menos que o esquerdo e encontra-se levemente mais inferior. A medida de um rim adulto varia de 11 a 13 cm de comprimento, a largura está entre 5 e 7,5 cm, a espessura entre 2,5 e 3 cm e o peso está entre 125 a 170 gramas, em pessoas do sexo masculino, e entre 115 a 155 gramas em pessoas do sexo feminino. Há tendência à diminuição do peso com a idade. Em recém-natos o peso varia de 13 a 44 gramas. A variação de tamanho dos rins está mais associada à superfície corporal do que a outros fatores, tais quais etnias, sexo ou idade. O nível de hidratação do organismo e a pressão arterial também provocam alteração no tamanho do rim. 5 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Relações anatômicas dos rins com a estrutura musculoesquelética em uma visão posterior da região lombar. *Extraído de RIELLA, M.C. Princípios de nefrologia e distúrbios do equilíbrio hidroeletrolíticos. Porto Alegre, 2008. Na porção medial interna de cada rim está localizado o hilo renal, onde se observam a artéria e a veia renal, além de vasos linfáticos, plexos nervosos e o ureter, que se expande para o interior do seio renal, formando a pelve. É envolto por uma cápsula de tecido conjuntivo e apresenta uma região mais externa (córtex renal) e uma estrutura triangular (medula renal) localizada profundamente no interior do rim. Na medula renal podem ser observadas estruturas em forma de cones, as pirâmides renais. Cada pirâmide é separada de outra pelas colunas renais, que são projeções do córtex renal. A extremidade inferior da pirâmide, denominada ápice, está voltada em direção à pelve renal, responsável pela coleta da urina produzida pelo rim e que forma a extremidade superior do ureter. As margens, em forma de taça da pelve renal, que coletam a urina formada pelo rim. Figura -Rim direito seccionado em vários pontos expondo o parênquima e a pelve renal. *Extraído de RIELLA, M. C. Princípios de nefrologia e distúrbios do equilíbrio hidroeletrolíticos. Porto Alegre, 2008. 6 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia A menor unidade do rim é o néfron, formado por uma parte inicial dilatada, o corpúsculo de Malpighi, ao qual se seguem o túbulo contorcido proximal, a parte espessa e delgada da alça de Henle, o túbulo contorcido distal e o ducto coletor. Cada néfron nasce no glomérulo, que é um novelo de capilares recobertos por células epiteliais que têm por função a filtração do sangue. O glomérulo é formado pela invaginação de um tufo de capilares para o interior da extremidade dilatada do néfron, a cápsula de Bowman. O líquido da cápsula de Bowman flui para um segmento contorcido, o túbulo contorcido proximal. O túbulo contorcido proximal termina no segmento delgado do ramo descendente da alça de Henle. Figura- Relações entre os vários segmentos do néfron e o córtex e a medula renal. *Extraído de RIELLA, M.C. Princípios de nefrologia e distúrbios do equilíbrio hidroeletrolíticos. Porto Alegre, 2008. 7 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia O ramo ascendente da alça de Henle termina em outro segmento contorcido, o túbulo contorcido distal. Os túbulos distais formam os ductos coletores, que passam através do córtex e da medula renal e se esvaziam na pelve do rim, nos ápices das pirâmides medulares. Os glomérulos são compostos de três camadas filtradoras: endotélio capilar, epitélio e membrana basal. A membrana glomerular é responsável pela filtração, permitindo a passagem do líquido e de pequenas moléculas e bloqueando o acesso de moléculas maiores como células sanguíneas e a albumina. Fisiologia Renal O sistema urinário desempenha diversas funções essenciais para a homeostasia do organismo. Assim, o rim possui basicamente duas funções: endócrina, mesmo não sendo uma glândula endócrina, e homeostática, que se configura com a sua principal função. A realização da função endócrina do rim é sabida, porém, as estruturas renais envolvidas nesse processo são desconhecidas. Estima-se que esteja no córtex renal, no complexo justaglomerular, a porção secretora do rim. Quadro Funções do rim Formação da urina; Excreção de produtos residuais; Regulação de eletrólitos; Controle do equilíbrio hídrico; Controle da pressão arterial; Clearance renal; Regulação da produção de eritrócitos; Síntese de vitamina D ativa; Secreção de prostaglandina. 8 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Função endócrina O rim secreta a renina, substância responsável pela ativação do sistema Reninaangiotensina II através da ação enzimática sobre a reação de transformação de angiotensinogênio em angiotensina I, que por sua vez transforma-se em angiotensina II sob ação da enzima conversora de angiotensina (ECA) que também atua hidrolisando a bradicinina. A Angiotensina II possui diversas formas de atuação. Quadro Atuação da Angiotensina II Modifica a ação renal, promovendo maior ação de vasoconstricção das arteríolas eferentes no rim, aumentando assim a filtração glomerular; Influencia o córtex da adrenal, levando à produção de aldosterona que, por sua vez, age nos túbulos renais estimulando a retenção e absorção de sódio; Aumenta a absorção de água, através de mecanismos osmóticos, como consequência há um aumento da pressão arterial; Promove redução do ritmo de filtração glomerular contraindo as células mesangiais, diminuindo a área de filtração glomerular; Secreta o 1,25 dihidroxi-calciferol, importante para a absorção de cálcio no túbulo renal e no depósito de cálcio no osso; Secreta eritropoetina, fator de crescimento com ação de estímulo da medula óssea em produzir glóbulos vermelhos. Função homeostática Dentre as formas pelas quais os rins desempenham a regulação do equilíbrio no organismo observa-se: Manutenção da tonicidade - ocorre em função da excreção de água e solutos, formando um gradiente osmolar adequado entre os compartimentos intra e extracelulares, ou seja, em equilíbrio osmótico; 9 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Regulação da concentração de íons – com o auxílio da excreção de água e solutos as concentrações de sódio, potássio, cloreto, bicarbonato, magnésio e fosfato são reguladas; Manutenção do pH – a manutenção do pH ocorre na ação conjunta de rins e pulmões que possuem a capacidade de excretar H+ e reabsorver HCO-3; Manutenção da concentração de nutrientes – através da reabsorção tubular, nutrientes, como a glicose, por exemplo, são reabsorvidos ao invés de ser eliminados pela urina, caso estejam em níveis mais baixos que os desejados; Eliminação de escórias – produtos do metabolismo como ureia, ácido úrico e timina são excretados na urina. Além disso, são eliminadas drogas e outras substâncias tóxicas presentes nos alimentos. Clearance ou depuração plasmática geral É a capacidade renal para depurar solutos a partir do plasma. A coleta de urina de 24 horas é o teste primário do clearance renal para avaliação da função excretora do rim. O clearance dependede vários fatores. Utiliza-se a medição do clearance de creatinina, de modo mais particular, para investigar as alterações na depuração renal dessa substância, indicativo de alteração na função renal. Quadro Fatores que interferem no clearance Velocidade de filtração glomerular da substância; Quantidade de substância reabsorvida pelos túbulos; Quantidade de substância secretada para o interior dos túbulos. A creatinina é o produto residual do metabolismo da creatina, presente nas fibras dos músculos esqueléticos. Ela é filtrada pelo glomérulo, atravessa os túbulos e é excretada na urina. Por essa razão, o clearance de creatina é utilizado para monitorar a função renal, pois à medida que a função renal diminui, diminui também o clearance de creatinina. O clearance de creatina é também uma boa medida do ritmo de filtração glomerular (RFG), calcula-se utilizando uma fórmula matemática. 10 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Quadro Fórmula do clearance de creatinina (volume da urina [ml/min] x creatinina urinária [ mg/dL] Creatinina sérica (mg/dL) Néfron É subdivido em duas porções interrelacionadas: Porção circulatória: composta pela arteríola aferente, glomérulo e arteríola eferente; Porção urinária, composta pela cápsula de Bowman, túbulos renais e ducto coletor. É a arteríola aferente a responsável por fornecer fluxo de sangue aos capilares glomerulares, formando um líquido sem proteínas, o ultrafiltrado, que escoa para a cápsula de Bowman, transpassando a barreira dos vasos glomerulares, a barreira justaglomerular. O ultrafiltrado possui concentração igual a do plasma, excetuando-se a presença de proteínas. O líquido atravessa o capilar e chega à cápsula de Bowman ganhando os túbulos renais, formando então a urina. O capilar glomerular é constituído de três estruturas: Endotélio; Membrana basal; Diafragma A estrutura do capilar do glomérulo representa a barreira pela qual o plasma atravessa formando o ultrafiltrado. Porém, apenas uma fração do plasma é filtrada e, associado a isso, existem substâncias que são reabsorvidas, total ou parcialmente, pelos túbulos renais e podem contribuir em pequena parte na composição final da urina. 11 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Mecanismos básicos da formação da urina A filtração glomerular não depende apenas da membrana capilar, mas também de uma somatória de pressões que estão vinculadas ao glomérulo renal: Pressão hidrostática capilar (PHC) - pressão do sangue que chega às arteríolas aferentes e tende a deslocar líquido do capilar para o espaço de Bowmann. A PHC é muito alta no glomérulo, pois as distâncias entre a aorta e a artéria renal e entre a artéria renal e a arteríola aferente são curtas; não existe resistência ao fluxo de sangue da aorta abdominal até a arteríola aferente e a arteríola eferente tem diâmetro menor que a aferente, dificultando o escoamento sanguíneo e deixando o glomérulo repleto de sangue, levando a um maior PHC. A PHC varia entre 80 e 85 mmHg; Pressão de Bowmann - exercida pelo líquido formado previamente no espaço de Bowmann, tendendo a retê-lo neste local. Esta é a pressão de Bowmann (pB) e ela varia entre 5 e 15 mmHg; Pressão efetiva de filtração - a somatória das pressões, denominada pressão efetiva de filtração (PEF), a pressão efetiva de filtração é de aproximadamente 40 mmHg e é dada pela seguinte equação: PEF = Phc – Ponc – PB. Teorias Miogênica (localizada nas artérias renais) Segundo esta teoria, um aumento no Pam provocaria um estímulo da musculatura lisa da arteríola aferente, o que levaria a uma vasoconstricção, causando a redução do fluxo de filtração glomerular. Por outro lado, uma queda na Pam provocaria relaxamento da musculatura da arteríola aferente com consequente vasodilatação, provocando um aumento do fluxo de filtração glomerular. 12 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Teoria do metabolismo Uma redução do fluxo sanguíneo leva a um acúmulo de substâncias vasodilatadoras (principalmente cininas e prostaglandinas) que, por sua vez, provocam aumento do fluxo sanguíneo. O contrário também é verdadeiro, ou seja, um aumento do fluxo promove uma drenagem maior de substâncias vasodilatadoras diminuindo a vasodilatação do vaso. Isso provoca uma redução do fluxo sanguíneo. Teoria da mácula densa (controle local do RFG) A mácula densa encontra-se na porção final da alça de Henle, túbulo localizado entre as arteríolas aferente e eferente e pelo qual passa o filtrado glomerular. A mácula densa capta alterações na concentração de sódio, sendo que uma maior concentração de sódio no filtrado é entendida como um elevado RFG. Frente a esta situação, a mácula densa envia um estímulo para a arteríola aferente promovendo sua vasoconstricção, resultando em diminuição do fluxo sanguíneo e do RFG. Quando se trata de uma diminuição da concentração de sódio o inverso ocorre, tendo como resultado um aumento no RFG. Histórico da Diálise Hemodiálise Willen Kollf é considerado o “Pai da Diálise”, entretanto, diversos experimentos foram pré e pós-Kolff. Quadro ANO ACONTECIMENTO 1912 John Jacob Aerel, juntamente com Rowntree e Turner, do laboratório de farmacologia do John Abel Medical School de 13 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Baltimore, realizam a primeira diálise com sucesso em um animal vivo. 1913 John Jacob e seus colegas publicam a experiência realizada com a técnica de vividifusão, mais tarde chamada de hemodiálise. 1926 O médico, Georg Haas submete um paciente de 20 anos a uma sessão de diálise utilizando a técnica descrita por Aerel; A sessão dura 35 minutos e apresenta problemas ligados à anticoagulação e ao dialisador durante o procedimento*. 1937 William Thalhimer descobre o celofane como membrana dialisadora. 1940 Willen Kolff desenvolve um protótipo de rim artificial. 1943 Kolff realiza a primeira diálise em seres humanos, utilizando um tambor rotativo que continha um tubo de celofane enrolado em forma de hélice em torno de um eixo mergulhado em um grande reservatório contendo solução de diálise. 1946 John Merrill implementa o rim artificial em maior escala de uso; Nils Alwal introduz a tela de proteção; Willen Kolff usa celofane selada em fibra de vidro; Jack Leonards insere a placa de fluxo paralelo. 1948 É realizada a primeira hemodiálise em sistema complexo sem complicações, no Hospital Monte Sinai, em Nova Iorque. 1949 No Brasil, o médico Tito Almeida emprega um rim artificial para tratar um portador de Doença Renal Crônica. 1956 É lançado no mercado o primeiro dialisador do tipo ”coil descartável”. 1960 O primeiro “shunt” de teflon arteriovenoso é implantado em humano por Scribner e Wayne Quinton 1964 James Cimino desenvolve a técnica da fístula arteriovenosa utilizando a ceia arterializada, cuja técnica ainda é utilizada. * Mesmo tendo encontrado problemas durante a sessão, Haas repete o procedimento por mais três vezes. 14 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia As primeiras hemodiálises realizadas no Brasil tinham por finalidade o tratamento de pacientes com Insuficiência Renal Aguda. Somente na década de 60 a hemodiálise e a diálise peritoneal passam a ser modalidades de tratamento para a doença renal crônica. A partir de então, devido aos avanços tecnológicos e científicos, diversos modelos foram desenvolvidos. Diálise Peritoneal A história da Diálise Peritoneal se inicia com a publicação do trabalho de Putnam, no qual demonstra que o peritônio pode ser usado como uma membrana dialisadora. Porém, experimentos no campoda DP datam de pré-Putnam e se seguem até os dias atuais. Quadro ANO ACONTECIMENTO 1.500 a.C. Descrição da cavidade peritoneal em papiros. 1877 Wegner observa os princípios da osmose e da difusão. 1923 A diálise através da membrana do peritônio é utilizada pela primeira vez como procedimento terapêutico (Ganter). 1960 Scribner inicia a técnica da Diálise Peritoneal como manutenção de vida. 1964 O cateter de longa permanência é descoberto por Palmer, Quinton e Gray.* 1976 Nos Estados Unidos, Moncrief e Popovich criam a Diálise Peritoneal Contínua (CPD); O Sistema fechado com bolsas flexíveis para Diálise Peritoneal é desenvolvido; 1977 No Canadá, o médico Oreopoulus e seus colaboradores comprovam a eficácia da técnica da Diálise Peritoneal Contínua com o Sistema Standard.** 1978 Surge a Diálise Peritoneal Ambulatória Contínua (CAPD) 15 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia 1980 No Brasil, Miguel Riella, introduz o conceito da Terapia Ambulatorial Contínua e se torna pioneiro nesta modalidade. Daisy Pasqual, enfermeira, introduz o Programa Educacional que habilita e capacita o paciente e um membro da família para a realização em domicílio da CAPD. *Posteriormente este cateter foi modificado por Tenckhoff. **Nesta época a CAPD era conhecida por Sistema Standard. Este era composto por um único segmento de linha, que ao mesmo tempo conectava-se ao paciente e à bolsa de diálise. A partir dos anos 80 a evolução se desenvolve no aperfeiçoamento tecnológico dos sistemas de conexão de CAPD, o que fez diminuir a ocorrência de episódios de peritonites nos pacientes que estão sob esta modalidade terapêutica. Epidemiologia da doença renal crônica no Brasil A doença renal crônica (DRC) apresenta crescimento progressivo e em proporções epidêmicas, em todo o mundo, com elevadas taxas de mortalidade e morbidade. No Brasil ainda não existe um sistema nacional de registro que possa fornecer dados confiáveis do ponto de vista epidemiológico sobre a doença renal, como ocorre em determinados países como os Estados Unidos, que conta com o United States Renal Data System (USRD), que fornece informações precisas sobre o perfil da doença no país. Entretanto, inúmeros esforços são realizados para a coleta de dados sobre a DRC no Brasil, em especial o censo anual da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), que busca os dados diretamente das clínicas de terapia renal em todo o país. A doença renal em estágio terminal (DRET) é uma doença grave que no ano de 2000 teve sua taxa de mortalidade maior que a maioria dos casos mais letais de câncer. No Brasil, segundo dados do censo realizado em março de 2008 pela SBN, são 41.614 pacientes em diálise, sendo a maioria na região sudeste do país. 16 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Figura - Pacientes em diálise no Brasil, por região. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. Em março de 2008, a prevalência de pacientes em diálise por milhão da população (pmp) era de 470. Essa taxa segue apresentando um aumento progressivo nos últimos anos, chamando a atenção dos profissionais como um problema de saúde pública. 17 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Figura - Prevalência de pacientes em diálise no Brasil, de 1994 a 2008. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. Figura - Total de pacientes em tratamento dialítico no Brasil por ano. Fonte: Censo de diálise SBN 2008 O maior percentual de pacientes em diálise agrega a faixa etária compreendida entre 40 a 59 anos (43,7%). É importante destacar que 36,3% dos pacientes em diálise têm mais de 60 anos de idade, e que essa proporção tende a se elevar com o aumento 18 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia progressivo da expectativa de vida da população brasileira. Atualmente 57% dos pacientes em diálise são do sexo masculino e 43% do sexo feminino. Figura-Distribuição por sexo dos pacientes em diálise no Brasil. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. A prevalência de sorologia positiva para Hepatite B é de 1,9%, enquanto para Hepatite C se mostra bem mais frequente, atingindo o índice de 7,6%. A sorologia para HIV se mostra em 0,7%. Esses percentuais têm decaído ao longo dos anos em função de cuidados associados ao reuso de dialisadores e adoção de medidas de proteção na prática profissional. As comorbidades mais frequentes nos pacientes em diálise foram insuficiência cardíaca congestiva (10,4%), insuficiência coronariana (8,2%), doença venosa periférica (5,2%), infecções (3,9%), AVE (3,7%) e neoplasias (1,8%). O alto índice de doenças ligadas ao coração deve-se, principalmente, ao fato de a maioria dos pacientes em diálise apresentarem como doença de base a hipertensão arterial sistêmica (HAS), 35,8%. Entre as outras causas principais de DRC estão o diabetes mellitus (DM), 25,7% e as glomerulopatias (15,7%). A causa mais importante de DRC continua, ao longo dos anos, no Brasil, a HAS. Isto se deve, entre outros fatores, ao fato de muitos indivíduos não saberem que são hipertensos, o que os impede de adotar medidas de controle dos agravos em decorrência dos altos níveis pressóricos. 19 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Embora a prevalência de diabéticos tenha aumentado no Brasil (16,7% em 1999) muitos pacientes morrem antes de atingir o estágio terminal da doença renal. Nos Estados Unidos, cerca de 40% dos pacientes em diálise têm nefropatia diabética. Entre as glomerulopatias, a glomeruloesclerose segmentar e focal e a glomerulonefrite membranosa são as que, com frequência, levam os pacientes para a DRC. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. Com relação à modalidade de terapia renal substitutiva, cabe destacar que 89,4% estão sob a modalidade Hemodiálise e 10% recebem Diálise Peritoneal, sendo 4,9% em Diálise Peritoneal Automatizada (DPA), 5,3 em Diálise Peritoneal Ambulatorial contínua (CAPD) e 0,4% em Diálise Peritoneal Intermitente (DPI). O número de óbitos dos pacientes em diálise é 6.180 (15,2%), porém, estima-se que o número chegue a 13.338 óbitos/ano. A principal causa é dada por problemas cardiovasculares com 36,9% do número total de óbitos, seguida de infecções (26%) e causas cérebro- vasculares (9,9%). Outras causas ou causas desconhecidas agregam 27,2% do total de óbitos de pacientes em diálise no Brasil. 20 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Figura - Pacientes conforme a terapia de substituição renal. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. Figura -Distribuição do percentual de causa de óbito. Fonte: Censo de diálise SBN 2008 Estas informações são importantes para descrever a situação atual da DRC no Brasil, o que permite promover ações que melhorem a assistência ofertada a esses 21 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia pacientes. Além disso, esses dados servem para alertar para a importância da criação de um sistema de informações acerca da DRC constando de registro, análise e divulgação de dados epidemiológicos de pacientes portadores da DRC e em terapias renais substitutivas. Terapias Dialíticas Atuais O termo diálise descreve o transporte de água e solutos por meio de uma membrana semipermeável que pode ser artificial, como as membranas dos dialisadores empregados na Hemodiálise ou biológica, como o peritônio, na Diálise Peritoneal. A remoção de solutos durante a diálise ocorre por meio de dois princípios: difusão e ultrafiltração. Quadro Princípios de diálise Difusão: passagem de solutos do meio mais concentrado (plasma) para o menos concentrado (solução de diálise ou dialisato). Ultrafiltração (UF): filtração da água do plasma através da membrana dialítica.As moléculas, através de movimentos randômicos, colidem de maneira aleatória com a membrana semipermeável promovendo assim o transporte de solutos por difusão. Ao encontrar um poro por onde seja possível a passagem, a molécula atravessa a membrana. Para que isso ocorra, alguns fatores são levados em consideração como o peso da molécula, a resistência da membrana ao soluto além do gradiente de concentração dos meios envolvidos neste processo. Na ultrafiltração, o gradiente de pressão entre os dois lados da membrana, ou gradiente de pressão transmembrana (PTM), determina a velocidade de passagem de água de um lado para o outro. No caso de pressão hidráulica, ocorre a passagem de água do lado maior para o de menor pressão. Em se tratando de pressão osmótica, 22 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia ocorre o lado de maior osmolaridade. O transporte por convecção tem importante clínica quando grandes volumes de ultrafiltrado são obtidos em curto espaço de tempo. Por isso, na hemodiálise ou na diálise peritoneal, a convecção contribui pouco para o transporte de solutos. Esse tipo de transporte é importante na hemofiltração, na qual há significativa passagem de solutos acompanhando grandes volumes de UF. Hemodiálise É um método de terapia de substituição da função renal caracterizado pela circulação extracorpórea do sangue do paciente para ser ‘filtrado’ e ‘depurado’. Os objetivos da Hemodiálise (HD) consistem na extração de toxinas nitrogenadas do sangue e remoção do volume excessivo de água utilizando-se de alguns elementos. O sangue, contendo as toxinas e resíduos nitrogenados, é desviado do paciente para um aparelho, o dialisador, onde é limpo e, em seguida, devolvido ao paciente. Quadro Elemento Características Dialisador Também chamado de “capilar” ou “filtro”. Tubo cilíndrico contendo uma câmara externa, para passagem do dialisato, e uma câmara interna contendo fibras de membranas semipermeáveis por onde circula o sangue do paciente. Linha arterial Circuito tubular plástico que leva o sangue contendo as escórias do paciente para o dialisador, impulsionado através da bimba de sangue. Linha venosa Circuito tubular plástico que leva o sangue ‘filtrado’ do dialisador para o paciente. Possui um dispositivo de segurança de forma cilíndrica, que captura as bolhas de ar do sistema a fim de evitar embolia, o cata-bolhas. 23 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Máquina de diálise Também chamada de “rim artificial”. Máquina onde é realizada a HD, contém a bomba de sangue, aquecedor, monitor de pressão, temperatura, condutividade do dialisato, fluxo de dialisado e sangue, além de dispositivos de segurança. Normalmente funciona por proporção. Dialisato Também chamado de “banho de diálise”. Líquido estéril semelhante ao plasma sanguíneo que preenche e percorre a câmara externa do dialisador, em sentido contrário ao sangue (câmara interna), promovendo osmose. Agulha de fístula Arteriovenosa Agulhas especiais descartáveis para HD, com segmento longo, que permite sua conexão às linhas arterial e venosa a partir da punção da fístula. A difusão, a ultrafiltração e a osmose são os princípios da HD. A difusão é responsável pela remoção das toxinas. Isto ocorre pela movimentação da área mais concentrada (plasma) para a menos concentrada (solução de diálise ou dialisado). Quadro Características do dialisato Composição semelhante ao plasma. Dois tipos: Bicarbonato – diminui a acidose metabólica, reduzindo as alterações hemodinâmicas, não promove queda do PCO2 sanguíneo; a solução de bicarbonato tende a precipitar cálcio e bicarbonato, por isso deve-se ter rigorosa esterilização na máquina de diálise; Acetato - 24 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia O ajuste do banho de dialisado, por possuir características muito semelhantes ao plasma, é capaz de controlar os níveis dos eletrólitos no sangue do paciente. A difusão de grandes moléculas, como as proteínas e os eritrócitos, é impedida pela membrana semipermeável. Quadro Composição do dialisato para HD Na – 130/140 mEq/L; K – 1/ 2,5 mEq/L; Ca – 2,5/3,5 mEq/L; Mg – 1,0/ 1,5 mEq/L; Cloreto – Aprox. 106mEq/L; Glicose – 0/2,5 mEq/L*; Acetato ou Bicarbonato – Aprox. 36 mEq/L *Utiliza-se solução glicosada a fim de evitar a hipoglicemia durante a HD. Através da osmose, o excesso de água é removido através da movimentação da área de maior concentração (sangue) para a de menor concentração (o dialisato). A movimentação, sob alta pressão, da água para uma área de menor pressão é tida como ultrafiltração (UF), sendo esta mais eficaz na remoção da água que a osmose. A UF é realizada ao se aplicar uma força de aspiração na membrana de diálise. Esta força é aplicada para restabelecer o equilíbrio hídrico do paciente que, por si só, não é capaz de excretar a água em excesso. O dialisato é responsável pela manutenção do sistematampão do corpo. No procedimento é administrado anticoagulante, em geral heparina, para evitar a coagulação do sangue no circuito extracorpóreo. 25 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Dialisador ou Capilar Figura - Máquina de diálise e circuito extracorpóreo. O sangue, livre das escórias, é devolvido ao paciente que ao findar a sessão do tratamento tem restabelecido o sistema-tampão. Terapias contínuas lentas Essas terapias estão indicadas para pacientes que apresentam insuficiência renal aguda ou crônica e estão muito instáveis para realização de HD tradicional. As modalidades de terapias contínuas lentas são: Hemofiltração Arteriovenosa Contínua (CAVH) – Iniciou-se para tratamento de sobrecarga hídrica, em 1977. Nesta modalidade o sangue é circulado através de um filtro de pequeno volume e baixa resistência, 26 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia usando a própria pressão arterial do paciente em substituição a bombas, como na HD. Como é necessário um gradiente de pressão para a filtração contínua, geralmente é usado um cateter arterial inserido na artéria femoral do paciente como meio de ligação do sangue ao hemofiltro. O posicionamento na artéria femoral propicia o gradiente necessário nas pressões arterial e venosa. Logo após a filtragem o sangue retorna ao paciente através de cateter venoso. Como na CAVH não há gradiente de concentração para permitir a filtragem apenas do líquido, há perda de eletrólitos que são removidos juntamente com o líquido, portanto, os líquidos intravenosos podem ser administrados para repor a volemia perdida através do procedimento. Para a instalação da CAVH é necessária equipe de diálise treinada. O monitoramento, em geral, é realizado pelos profissionais da terapia intensiva; Hemodiálise Arteriovenosa Contínua (CAVHD) – semelhante à CAVH, porém, para fins de aceleração na depuração da ureia, conta um gradiente de concentração ao promover a circulação do dialisado em um lado de uma membrana semipermeável. Como na CAVH o fluxo sanguíneo depende da pressão arterial do paciente e a instalação requer equipe de diálise treinada. O monitoramento pode ser realizado pela equipe da terapia intensiva; Hemofiltração Venovenosa Contínua (CVVH) – empregada no tratamento da insuficiência renal aguda. Para obtenção do fluxo sanguíneo é inserido um cateter venoso de duplo lúmen pelo qual o sangue é bombeado através de um hemofiltro e, logo após, devolvido ao paciente pelo mesmo cateter. Na CVVH os efeitos hemodinâmicos são mais tolerados e brandos, pois a remoção de líquidos PE é lenta e contínua. Quando comparada à CAVH, se mostra mais vantajosa pelo fato de não haver necessidade de acesso arterial e da equipe de diálise para instalação,que pode ser feita pela equipe da terapia intensiva; Hemodiálise Venovenosa Contínua (CVVHD) – é semelhante à CVVH, tendo o sangue bombeado através de um cateter venoso de duplo lúmen através de um hemofiltro e, em seguida, devolvido ao paciente pelo mesmo cateter. A CVVHD também agrega o gradiente de concentração a fim de 27 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia facilitar a remoção das escórias urêmicas do paciente. Os efeitos hemodinâmicos são leves e todo o processo pode ser feito pela equipe da terapia intensiva. Diálise Peritoneal É um método de substituição da função renal onde se utiliza a membrana peritoneal como filtro dialisador. A solução de diálise possui composição especial e é colocada na cavidade peritoneal, utilizando-se um cateter intra-abdominal. A perda de líquidos ocorre por UF osmótica, geralmente pela adição de glicose ao dialisato. A glicose é um agente osmoticamente ativo e permite a transferência das toxinas do sangue para a solução. A diálise peritoneal é uma modalidade de escolha para pacientes que não podem submeter-se à HD nem, tampouco, ao transplante renal. Pacientes que apresentam problemas como doença cardiovascular, hipersensibilidade e reações adversas ao anticoagulante heparina (de forma sistêmica), hipertensão grave, entre outros fatores, são candidatos a esta modalidade de tratamento. Para o tratamento crônico pode ser realizadas duas formas de DP: Diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD) – as infusões são realizadas pelo próprio paciente, de modo manual, em seu domicílio. São realizadas quatro trocas de solução por dia, com volume de infusão de 2 a 2,5 litros em cada uma (referência para pacientes adultos), com intervalo de 6 horas entre cada troca; Diálise peritoneal automática (APD) – as trocas são feitas utilizando uma máquina, a cicladora. Nesta modalidade as trocas noturnas possuem números variados enquanto, no período diurno, o paciente pode permanecer com o líquido na cavidade (diálise peritoneal contínua por cicladora - CCPD) ou drenar o líquido (diálise peritoneal noturna intermitente - NIPD). 28 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia http://nefroclinica-se.com.br/servicos Na DP os banhos se apresentam em bolsas plásticas transparentes, que são recebidas em casa. A composição da solução de diálise peritoneal envolve os seguintes componentes: sódio, magnésio, cálcio, lactato, cloro e um agente osmótico, geralmente a glicose que está disponível em três concentrações diferentes de dextrose monoidratada: 1,5%, 2,5% e 4,25% (Tabela 1). A glicose é facilmente absorvida, o que limita a capacidade de UF. Além disso, sua absorção gera complicações metabólicas, tais como hiperinsulinemia, hiperglicemia, dislipidemia e ganho de peso. O paciente ou o cuidador são treinados pela equipe de enfermagem especializada para realizar a conexão das bolsas e o cateter de maneira estéril. Este treinamento visa evitar a infecção do peritônio (peritonite). Tabela 1 Dextrose 1,5% 2,5% 4,25% Na (mEq/L) 132 132 132 K (mEq/L) 0 0 0 29 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Cl (mEq/L) 95 95 95 Ca (mEq/L) 3,5 3,5 3,5 Mg (mEq/L) 0,5 0,5 0,5 Lactato (mEq/L) 35 35 35 Glicose (mg/dL) 1.369 2.270 3.860 pH 5,2 5,2 5,2 Osmolaridade (mOsm/kg) 345 395 484 * Extraído de Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. Porto Alegre, 2006. O cateter utilizado na diálise peritoneal crônica é um tubo flexível que possui diversos poros na extremidade intra-abdominal, que deve permanecer livre na região pélvica. Sua porção média é implantada na parede abdominal através do cuff presente no corpo do cateter, o cuff de Dacron. Para o implante do cateter é fundamental uma equipe cirúrgica experiente, uma vez que a técnica empregada no implante influencia significativamente sua evolução ao longo do tempo. As complicações da DP são, em geral, simples. Porém quando não tratadas podem representar graves riscos ao paciente. As mais comuns são: Peritonite; Extravasamento do dialisato; Sangramento. Para evitar as complicações em decorrência de falhas assépticas durante as conexões das bolsas, o enfermeiro deve, constantemente, checar o modo pelo qual os pacientes estão realizando o procedimento e aplicar, sempre que necessário, novos treinamentos a fim de melhorar a capacidade do paciente ou cuidador lidar com as técnicas que visam diminuir os riscos de infecção e outras complicações. O monitoramento por parte da equipe e a observação e adoção das recomendações recebidas pela equipe multiprofissional são essenciais para manutenção e melhoria da qualidade de vida. 30 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Glomerulopatias Geralmente conhecidas como glomerulonefrites (GN), as glomerulopatias são doenças que acometem os glomérulos, pequenas massas arredondadas de novelos de alças capilares que se projetam no lúmen de um corpúsculo renal. São variadas e podem possuir natureza aguda ou crônica; podem ser inflamatórias ou não; algumas delas são tratáveis e outras não. Classificação Podem ser primárias, quando acontecem nos rins e acometem apenas esses órgãos, ou podem ser secundárias a patologias já existentes, dentre outras, o diabetes, hepatites, doenças autoimunes. Podem ser assintomáticas ou apresentar edema de membros inferiores, face ou edema de todo corpo e ainda sintomas urinários como diminuição do volume urinário. Ao exame de urina é possível observar a presença de hemácias (hematúria) e/ou de proteínas (proteinúria). Quadro Clínico Em alguns casos, como a doença de lesões mínimas, a glomerulosclerose segmentar e focal e a glomerulopatia membranosa podem ser observadas grandes perdas de proteína pela urina que, em geral, determinam síndrome nefrótica. Na síndrome nefrótica há um aumento na permeabilidade da membrana basal dos capilares que ocasiona proteinúria maciça (> 3,5g/24h/1,73m² de superfície corporal), sendo comum acompanhar-se de tendência a edema, hipoalbuminemia e hipercolesterolemia. Outras glomerulopatias têm apresentação mais aguda e frequentemente associam-se a déficit de função renal, como a glomerulonefrite difusa aguda (GNDA), embora possam ter um curso autolimitado, como costuma acontecer com a glomerulonefrite pós- estreptocócica. 31 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Diagnóstico A função renal no momento do diagnóstico pode estar normal ou, ainda, apresentar-se diminuída ou deficiente. Muitas vezes a biópsia renal é utilizada para a determinação do tipo de glomerulopatia, o que norteia a terapêutica que será empregada. O diagnóstico precoce é importante, pois o tratamento adequado pode controlar os sinais e sintomas e impedir a progressão da doença para insuficiência renal terminal. Tratamento Nos casos agudos, de modo geral, visam tratar os sintomas na tentativa de preservação da função renal e tratamento das complicações imediatas. A terapia farmacológica depende da causa da GN. Nos casos de GN aguda rapidamente progressiva podem ser prescritos corticosteroides, porém, na maioria dos casos, esses medicamentos não possuem valor positivo, podendo agravar a retenção de líquido e a hipertensão. Podem ser prescritos diuréticos de alça para controle de hipertensão. As proteínas da dieta são restringidas caso haja desenvolvimento de insuficiência renal e retenção de nitrogênio. Em casos crônicos, o tratamento é baseado na sintomatologia do paciente. O peso é monitorado diariamente e há prescrição de diuréticos para tratar a sobrecarga hídrica. As infecções do trato urinário devem ser tratadas a fim de evitar maiores complicações. Para manutenção da condição física do paciente e evitar as alteraçõeshidroeletrolíticas, a diálise é prescrita de modo precoce. Atenção de enfermagem Em pacientes agudos é importante orientar o paciente a seguir as recomendações médicas que incluem a ingestão abundante de carboidratos para diminuir o catabolismo de proteína, o consumo de líquidos de acordo com as perdas diárias. É importante, ainda, orientar o paciente e/ou cuidador quanto à importância do autocuidado seguro e efetivo em ambiente domiciliar. Em pacientes crônicos é importante atentar para as alterações no estado hidroeletrolítico do paciente bem como os sinais e sintomas de diminuição da 32 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia função renal. As alterações cardíacas e neurológicas devem ser observadas e tão logo comunicadas ao médico. O enfermeiro deve promover, para o paciente e familiar, ações de controle para a ansiedade que, em geral, encontra-se em níveis bastante elevados. Promover um espaço para troca de informações e sanar dúvidas pode auxiliar para eficácia desta ação. Infecção do Trato Urinário A infecção do trato urinário (ITU) se configura como um dos agravos mais frequentes na prática clínica, sendo observada na comunidade e em paciente hospitalizado, ocorrendo em todas as faixas etárias. Caracteriza-se pela presença de microrganismos nas vias urinárias, habitualmente bactérias, seja na bexiga, próstata, sistema coletor ou rins. Em geral são classificadas de acordo com sua localização como ITU inferior ou superior. Quando associada à condição pré-existente a ITU pode ser complicada, aumentando assim o risco de falha na terapêutica empregada e o tempo de tratamento necessário. O microrganismo que mais frequentemente causa ITU é Escherichia coli. A ITU de repetição se deve a inúmeros fatores e deve ser investigada. Incidência É variável conforme a faixa etária, sendo mais comum no primeiro ano de vida no sexo masculino devido à maior incidência de má-formações congênitas do trato urinário. Na fase pré-escolar e no adulto a incidência é maior no sexo feminino com picos no início ou relacionado à atividade sexual, durante a gestação e na menopausa. Devido aos problemas relacionados à próstata a incidência no sexo masculino volta a aumentar na faixa etária compreendida entre 50 e 60 anos. A maior incidência no sexo feminino se deve a fatores anatômicos, além de possuir a uretra mais curta que os homens, há maior proximidade do ânus com a uretra e a cavidade vaginal, o que torna maior a possibilidade de colonização destes por enterobactérias que habitualmente causam ITU. 33 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Classificação Pode-se classificar o paciente com ITU de diferentes maneiras. A mais comum segue dois critérios: Presença de complicações; Localização da infecção. Uma forma de classificar as ITUs é de acordo com a presença ou ausência de complicações. Quadro Classificação da ITU quanto à presença de complicações ITU não complicada - mulheres (não grávidas); - sem alterações anatômicas do trato urinário; - sem alterações funcionais do trato urinário; - sem cateteres urinários; - sem alterações da imunidade; - adquirida na comunidade. ITU complicada - homens; - obstrução urinária; - alterações anatômicas do trato urinário; - alterações na função do trato urinário; - microrganismos resistentes; - corpo estranho; - imunossupressão; - cateteres urinários; - presença de cálculos urinários. Quanto à localização são classificadas em: ITUs inferiores - acometem bexiga e estruturas abaixo da bexiga. São mais comuns e incluem cistite, prostatite e uretrite. 34 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia ITUs superiores - acometem os rins e os ureteres. São menos comuns e incluem nefrite intersticial bacteriana ou pielonefrite (aguda ou crônica) e abscessos renais. Cistite: é uma ITU inferior comum, caracterizada pela invasão e aderência de microrganismos na bexiga, ocasionando uma resposta inflamatória. Clinicamente caracteriza-se por dificuldade na emissão de urina (disúria), emissão frequente de urina (polaciúria), tenesmo vesical e dor na região hipogástrica. Aproximadamente 30% das ITUs inferiores apresentam comprometimento alto oculto e o tratamento nestes casos deve ser feito para ITU superior. O diagnóstico de ITU superior oculta deve ser feito quando estiver presente uma das complicações mencionadas no Quadro ou idade avançada, infecção hospitalar, gestação, procedimento cirúrgico recente do trato urinário, história de ITU na infância, persistência de sintomas por sete dias ou mais, uso recente de antibióticos e diabetes melito. Uretrite: a disúria e polaciúria são abundantes, porém a urocultura se mostra negativa, e sedimento urinário normal ou com presença de leucócitos. É habitualmente associada às infecções por microrganismos não habituais e cistites não infecciosas. Pielonefrite: também chamada de nefrite intersticial bacteriana, caracteriza-se pela invasão de microrganismos no rim, gerando resposta inflamatória. Caracteriza-se por dor em flanco, presença do sinal de Giordano (sensibilidade na região lombar), febre, acompanhados de urocultura positiva. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico ocorre através de urocultura. A urina colhida deve ser, de preferência, a primeira do dia e a amostra deve ser obtida através do método do jato médio e colhida com assepsia em pacientes que não apresentem anormalidades funcionais do trato urinário. Caso não seja possível colher a primeira urina do dia, a amostra deve ser obtida com intervalo mínimo de duas horas após a última micção. A presença de nitrito no exame bioquímico da urina é específica para infecção do trato urinário. Indica a atividade redutora de nitrato causada por enterobactérias. 35 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Tratamento É realizado baseando-se na localização e presença de determinados fatores (Tabela 2). A recorrência de ITU pode se manifestar como recaída quando verificada a presença do mesmo microrganismo, que não foi efetivamente eliminado. Acontece até duas semanas após o fim do tratamento realizado. Quando ocorre um novo episódio de infecção, seja pelo mesmo microrganismo ou por outro diferente do causador da infecção anterior, chamamos de reinfecção. Nesse caso, os sintomas reaparecem num período maior que duas semanas após o fim do tratamento adotado. Tabela 2 Tratamento da ITU Tratamento Tipo ITU inferior ITU superior Comunitária Em gestantes Não complicada - 7 dias - norfloxacin - ácido pipemídico - cefuroxima - 14 dias - ciprofloxacin - 7 dias - cefalexina - cefuroxima - 14 dias* - cefalotina - cefuroxina - 7 dias - norfloxacin - ácido pipemídico - cefalexina - nitrofurantoína - cefuroxima - 14 dias* - ciprofloxacin *o administração deve ser iniciada por via endovenosa, passando a via oral quando da melhora do estado geral do paciente. ITU de repetição é uma condição comum em mulheres com investigação do trato urinário sem anormalidades devido à maior susceptibilidade de colonização vaginal, 36 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia mesmo em períodos assintomáticos. Há vários fatores de risco, entre eles estão o ato sexual; uso de contraceptivos com espermicida, no último ano; novo parceiro sexual no último ano; primeira infecção urinária antes dos 15 anos; mãe com história de infecção urinária; distância significativamente menor entre o ânus e a uretra; incontinência urinária depois da menopausa; resíduo pós-miccional; alteração do pH vaginal (associada a alterações hormonais). A repetição da ITU pode danificar os rins e por esta razão devem ser investigadas e tratadas. Diversasmedidas podem ser adotadas como profilaxia da repetição da ITU, como alteração do método contraceptivo, maior ingesta hídrica, micção pós-coital, quimioprofilaxia contínua e tratamento de episódios, quando aparecem, sem profilaxia nos intervalos. Nefropatia de Refluxo Através de uma anomalia congênita ocorre a passagem da urina da bexiga para o ureter promovendo sucessivas lesões glomerulares semelhantes às causadas pela pielonefrite crônica. Por conta das lesões há sempre perda focal ou difusa do parênquima renal. As cicatrizes provocadas por essas lesões são mais comuns nos polos renais superiores e inferiores e promovem a diminuição do tamanho do órgão. Classificação As cicatrizes renais englobam tanto alterações renais congênitas quanto as adquiridas. A maioria dos casos são identificados e classificados durante a avaliação do paciente que apresenta ITU 37 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Quadro Classificação das cicatrizes renais 1. Congênitas ou primárias: resultam da ação de condições atuantes no período intrauterino e se manifestam em áreas focais ou difusas de displasia renal; 2. Adquiridas: depende de ITU com febre podendo ou não apresentar refluxo vésico-ureteral. No Quadro são listados os fatores envolvidos na nefropatia de refluxo. Quadro Fatores etiopatogênicos envolvidos na nefropatia de refluxo - Refluxo intrarrenal - Infecção urinária - Pressão intravesical - Displasia Renal - Genéticos Incidência É uma das doenças mais frequentes em crianças, que se manifesta, geralmente, como ITU. Em 30% dos casos de ITU foi identificado o refluxo vesicoureteral. Estima-se que a nefropatia de refluxo acometa cerca de 1% a 2% dos lactentes normais. Ela é responsável por 15 a 30% dos casos de DRC em adultos e crianças. Diagnóstico Para o diagnóstico da nefropatia de refluxo são utilizados exames de imagem tais como: 38 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Cintilografia renal com DMSA (padrão para o diagnóstico da nefropatia de refluxo); Urografia excretora Ultrassonografia; Ressonância magnética. Tratamento O tratamento clínico pauta-se na quimioprofilaxia e na monitorização da função renal, seguindo os seguintes princípios: Quimioprofilaxia antimicrobiana prolongada e diária; Prevenção e tratamento da constipação intestinal; Realização de higiene perineal eficiente nas meninas; Tratamento da disfunção miccional, caso haja; Realização de exames de urina a cada dois a três meses, ou quando houver sinais ou sintomas de ITU; Avaliação por imagem, no diagnóstico e no seguimento, conforme evolução clínica; Monitorização clínica quanto ao aumento da pressão arterial. Também é adotado o tratamento endoscópico, as cirurgias aberta e laparoscópica como métodos de corrigir a disfunção. Existem alguns fatores que agregam o risco de aparecimento das cicatrizes renais. Quadro-Fatores de risco para cicatrizes renais - Início tardio do tratamento; - Baixa idade no início; - Infecções urinárias febris recorrentes; - Refluxo vesicoureteral primário; - Síndrome de disfunção das eliminações. 39 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Atenção de enfermagem As ações de enfermagem, no que tange a nefropatia de refluxo, visam erradicar ou prevenir a recorrência de ITU. Para tanto é importante investir no planejamento de ações educativas de promoção da saúde que esclareçam os pacientes acerca da doença, seu tratamento e suas complicações. A promoção do autocuidado eficaz visa diminuir a ocorrência de ITU, com consequente queda nos níveis de lesão renal. Nefrite Lúpica O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença causada pelo distúrbio multifatorial e envolve susceptibilidade genética, fatores ambientais, fatores imnunoneuroendócrinos e fatores hormonais. A associação desses fatores provoca a produção exagerada de autoanticorpos. Esse aumento resulta na função anormal da célula T supressora, alteração da regulação imune e disfunção da resposta inflamatória. No LES a inflamação estimula os antígenos, que, por sua vez, estimulam anticorpos adicionais e o ciclo se repete. O comprometimento renal associado ao LES é um fator importante, geralmente de mau prognóstico da doença. Aproximadamente 90% dos pacientes com LES apresentam depósitos de imunocomplexos no tecido renal, a presença dessa lesão aumenta em até duas vezes a mortalidade nesses pacientes. Incidência A prevalência da nefropatia em paciente lúpicos é 90% maior para quem tem caráter polimorfo, e a morbimortalidade dos pacientes depende do tipo de comprometimento renal. A sobrevida dos pacientes com LES que apresentavam ou não comprometimento renal, nas últimas décadas, aumentou. Isto porque tratamentos mais efetivos que permitem o diagnóstico precoce têm sido empregados. 40 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Diagnóstico Normalmente a nefrite lúpica evolui a logo prazo, tendo episódios de recidivas e períodos de remissão. Um dos fatores importantes nesse pacientes é a detecção precoce de injúria renal. O exame do sedimento urinário, quando comparado aos exames anteriores, pode ser uma ferramenta importante na avaliação da função renal. Outros exames de avaliação da função renal são marcadores fracos da condição renal, podendo não revelar a real gravidade das lesões. Tratamento O prognóstico e tratamento da nefrite lúpica estão relacionados à lesão subjacente, ao grau de comprometimento da filtração glomerular e, possivelmente, aos índices de atividade e cronicidade revelados pela biópsia renal. Atenção de enfermagem Alguns dos problemas mais comuns nos pacientes lúpicos. O curso natural da doença, ou seu tratamento, pode provocar nos pacientes alterações na aparência que afetam diretamente o modo de vida destes indivíduos na medida em que promovem seu sofrimento. As alterações e a evolução imprevisível do LES exigem habilidades de avaliação e cuidados de enfermagem especializados e sensibilidade para as reações psicológicas do paciente. Os pacientes podem beneficiar-se da participação nos grupos de apoio através do recebimento de informações sobre a doença. 41 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Quadro Problemas comuns vivenciados pelos pacientes lúpicos Fadiga; Integridade cutânea prejudicada; Distúrbios da imagem corporal; Falta de conhecimento para as decisões sobre o autotratamento. Apoio social e dicas para monitoramento diário das condições individuais podem auxiliar o tratamento. Orientações para evitar a exacerbação ou a atividade da doença, como evitar a exposição ao sol e a luz ultravioleta ou se proteger com o uso de filtros solares e roupas. Nefropatia Diabética Uma complicação comum no diabetes mellitus (DM) é a doença renal provocada pelas alterações microvasculares ocasionadas no rim, a Nefropatia Diabética (ND). Incidência A ND é, ao lado da nefropatia hipertensiva, a principal causa de doença renal crônica em pacientes que ingressam nos programas de diálise em países desenvolvidos e, no Brasil, estudos recentes indicam progressão no número de pacientes diabéticos em hemodiálise, cerca de 26%. Classificação A albumina é uma das proteínas sanguíneas mais importantes que se extravasam para a urina. É baseando-se nos valores de excreção urinária dela que se classifica a ND em estágios (Tabela 3). 42 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Tabela 3 Valores de albuminúria utilizados no diagnóstico da ND Estágio Urina de 24 h (mg/24 h) Normoalbuminúria < 30 Microalbuminúria 30 a 299 Macroalbuminúria> 300 *Adaptada de American Diabetes Association. Nephropathy in Diabetes Care 2004; 27:S79-83 Normoalbuminúria: estágio em que se observa concentração normal de albumina na urina (< 30mg/24 h). Microalbuminúria: é o achado clínico mais precoce na ND é a microalbuminúria. Observa-se a presença de pequenas quantidades de albumina na urina, (30 a 299mg/24h), que métodos convencionais não são capazes de detectar. Constitui um fator de risco para doença arterial coronariana e para o aumento da mortalidade em pacientes com DM tipo 1 e nos que apresentam o tipo 2 da doença. É considerado um fator de risco para o desenvolvimento de macroalbuminúria, porém nem todos os pacientes progridem para esse estágio e alguns retornam para a normoalbuminúria. Macroalbuminúria: caracterizada pela presença de proteinúria, detectada tradicionalmente através de fitas reagentes que se tornam positivas a partir do valor de proteínas totais na urina equivalente a 500mg/24h. O controle da hiperglicemia e da HAS constitui um fator importante na redução do desenvolvimento da ND que tem a maior prevalência entre os negros, asiáticos e americanos nativos. 43 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Quadro Fatores de risco para ND Etnia Dislipidemia Tabagismo Proteinúria Fatores alimentares Hiperfiltração glomerular Tratamento e Prevenção O tratamento envolve a prevenção da instalação da ND, prevenção primária, medidas para evitar a progressão de microalbuminúria para macroalbuminúria, prevenção secundária e desaceleração na diminuição do ritmo de filtração glomerular na macroalbuminúria visando o impedimento do progresso para insuficiência renal terminal, prevenção terciária (Tabela 4). Tabela 4 Tratamento da ND Tratamento Complicação DM 1 DM 2 Microalbuminúria Persistente Proteinúria IECA IECA IECA Tratamento combinado com IECA, AAS, melhor controle de glicemia, PA, colesterolemia, HDL-colesterol e trigliceridemia. 44 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Atenção de enfermagem Como o tratamento do DM envolve a necessidade do conhecimento de uma série de conceitos além de habilidades para desenvolver ações do tratamento em longo prazo, é importante que o enfermeiro desenvolva, junto ao paciente e/ou familiar, atividade educativa que oriente questões sobre a doença, tratamento, complicações além de práticas saudáveis que o auxiliem no cotidiano crônico de saúde vivenciado. Alguns elementos são essenciais no plano educativo para o paciente, realizado pelo enfermeiro, entre eles: Informações acerca do DM (causa, tratamento, complicações...), a fim de reconhecer os déficits de conhecimento do paciente; Treinamento de habilidades necessárias para a realização de automedicação (insulinodependentes) e de verificação periódica da glicemia capilar; Orientações para o autocuidado (cuidado com a pele e pés); Orientações/esclarecimentos acerca das recomendações dietéticas; Monitoramento de possíveis complicações; Continuidade do cuidado. Hipertensão Arterial Sistêmica Ao ano no Brasil a hipertensão arterial sistêmica (HAS) é a principal causa de doença renal crônica em estágio terminal. Em síntese, é a HAS quem leva a maioria dos pacientes à necessidade de terapia de substituição renal. Além disso, para os pacientes portadores de doença renal crônica, a HAS representa um fator de risco importante para o desenvolvimento de doença cardiovascular, maior morbidade e mortalidade. Incidência No início da terapia renal substitutiva, cerca de 80% dos pacientes apresentam HAS. No Brasil, em 2008, 35,8% dos pacientes em diálise tem por doença de base a 45 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia hipertensão, os outros que apresentam este problema o têm como causa secundária em função de outra patologia ou lesão renal. Classificação A HAS é definida a partir de valores de pressão sistólica maior ou igual a 140 mmHg e pressão diastólica maior ou igual a 90 mmHg, em pessoas que não fazem uso de anti-hipertensivos. Diagnóstico Para firmar o diagnóstico do paciente é fundamental conhecer a história clínica do paciente para identificar fatores de risco, hábitos de vida que favorecem o surgimento de HAS; exame físico e avaliação laboratorial inicial do paciente hipertenso a fim de verificar o comprometimento de outros órgãos e sistemas e definir metas de prevenção e retardo da progressão da doença renal. A HAS é um fator que deve ser permanentemente avaliado. A avaliação se inicia pela investigação clínico-laboratorial que deve compreender as seguintes etapas: Verificação da elevação dos valores pressóricos e confirmação do diagnóstico; Avaliação a presença de lesões em órgãos-alvo; Identificação de fatores de risco para doenças cardiovasculares; Diagnóstico de doenças ligadas à hipertensão; Investigação da causa da hipertensão arterial (quando houver); 46 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Figura - Fluxograma de exame de urina para grupo de risco de DRC. *Extraído de Ministério da Saúde. Cadernos de atenção básica nº 15: Hipertensão Arterial Sistêmica Tratamento O tratamento da HAS pode ser de dois tipos: Não farmacológico: consiste no controle do excesso de peso, adoção de hábitos alimentares saudáveis, redução do consumo de bebidas alcoólicas, abandono do tabagismo, prática de atividades físicas regulares; Farmacológico: agentes anti-hipertensivos, esquemas terapêuticos (monoterapia ou terapia combinada), terapia antiagregante plaquetária. Os medicamentos anti-hipertensivos mais eficazes no retardo da progressão da doença renal são os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), porém, seu uso é geralmente associado a alguma outra droga como diuréticos e propranolol. Deve-se monitorar o aumento de potássio e creatinina quando utilizado o IECA no tratamento da HAS. 47 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Quadro Objetivos da terapia anti-hipertensiva em portadores de DRC Reduzir a pressão arterial para níveis abaixo de 130 /85 mmHg; Diminuir o risco cardiovascular; Limitar a progressão da doença renal; Reduzir a proteinúria. Atenção de enfermagem A principal ação para controle da HAS e seus efeitos em outros órgãos e sistemas visando retardar a progressão da lesão renal provocada por níveis pressóricos elevados é a elaboração de estratégias para o controle rigoroso da pressão arterial. Tendo em vista esse princípio, cabe ao enfermeiro: 1. Capacitar a equipe de enfermagem; 2. Realizar consulta, abordando fatores de risco, tratamento não- medicamentoso, adesão e possíveis intercorrências ao tratamento; 3. Desenvolver atividades de promoção de saúde e atividades educativas individuais ou em grupo com os pacientes hipertensos; 4. Estabelecer estratégias que possam favorecer a adesão a grupos de hipertensos; 5. Repetir a medicação de indivíduos controlados e sem intercorrências; Nefrolitíase Também conhecido com cálculo renal ou pedra nos rins, é um problema comum que acomete cerca de 10% da população, sendo mais comum no sexo masculino (três homens para cada mulher), atingindo a faixa etária compreendida entre 20 e 50 anos. É mais frequente em países industrializados, países de clima tropical, pessoas com história de cálculos renais na família e cerca de quatro vezes mais comum em pessoas de etnia 48 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia branca. Constantemente observa-se a recorrência do problema em pacientes que, após o episódio de cálculo não se submeteram a nenhum tipo de tratamento. Cerca de50% desses pacientes apresentarão um novo episódio em até dez anos após o primeiro. Classificação Os cálculos são formados quando as concentrações de determinadas substâncias aumentam no organismo supersaturando a urina e envolvendo fatores como o pH urinário, a quantidade de substância e a força iônica (Tabela 5). Tabela 5 Fator de formação dos cálculos Características Oxalato de cálcio - Tipo mais comum, correspondendo a mais de 65% dos cálculos renais; - Isolado ou associado a fosfato; - Causado pelo aumento do cálcio urinário sem aumento nos níveis séricos de cálcio (hipercalciúria idiopática)*. Estruvita - Relacionados à infecção urinária por microrganismos produtores de urease; - Tipo mais comum de cálculos coraliformes; - Causado pela deposição de cristais de estruvita, produto da hidrólise da ureia provocada pela urease. Ácido úrico - Relacionado ao pH, baixa ingestão de líquidos e altos níveis de ácido úrico; - São invisíveis à radiografia quando estão associados a cálculos de oxalato de cálcio. 49 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Cistina - Ocorre em pacientes com uma doença autossômica recessiva ligada ao transporte renal e intestinal da cistina, a cistinúria. Cristais de Indinavir - Desenvolve-se durante o tratamento de pacientes com HIV1 com o medicamento sulfato de indinavir, um inibidor de protease. * Os fatores envolvidos na hipercalciúria envolvem o aumento da absorção intestinal do cálcio pelo intestino, o aumento da desmineralização óssea e a perda renal de cálcio. A supersaturação urinária é a principal condição para a formação de cálculo renal, considerando os principais mecanismos fisiopatogênicos. A formação do cálculo pode não ocorrer mesmo em situações onde haja a supersaturação da urina. Isto se deve à ação de substâncias inibidoras da cristalização que agem, principalmente, na superfície dos cristais, bloqueando as zonas de agregação de outros cristais. Os principais inibidores são o citrato, o pirosfato, o magnésio e os glicosaminoglicanos. Através das ligações destas substâncias os cristais têm seu crescimento bloqueado. A deficiência destes inibidores também pode ser um fator formador de cálculos em situações onde não há supersaturação ou fatores de risco associados. Quadro Fatores de risco para formação de cálculos urinários Distúrbios metabólicos Infecções urinárias Anormalidades anatômicas pH urinário Volume urinário Fatores dietéticos Causas idiopáticas Uso de medicamentos como sulfato de indinavir 50 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Quadro clínico As manifestações clínicas principais são dor, hematúria, obstrução e aumento do risco de infecção urinária. Entretanto, existem casos assintomáticos em que os cálculos são descobertos por ‘acidente’ durante a realização de exames para investigação de outros agravos. A dor em cólicas, popularmente conhecida como cólica renal, ocorre por conta de espasmo ureteral produzido pela passagem do cálculo ou coágulo que obstrui a mesma. Manifesta-se na região lombar, geralmente com início repentino e aumento progressivo, necessitando de analgesia potente, como morfina e derivados. Pode vir acompanhada de vômitos, agitação e íleo paralítico. Durante a passagem do cálculo pelo ureter é comum haver obstrução deste. Em geral, é temporária e/ou parcial, e não oferece maiores problemas ao paciente. Cálculos com menos de 5 mm normalmente são eliminados espontaneamente e a metade dos cálculos entre 5 e 7mm também são eliminados. Já os cálculos maiores que 7 mm são raramente eliminados. A desobstrução torna-se emergencial quando há infecção urinária. A obstrução crônica pode provocar perda da função renal irreversível. Tratamento O tratamento clínico envolve orientações dietéticas, reduzindo a ingestão de alimentos que contenham as substâncias formadoras do cálculo. No tratamento da cólica, na crise aguda, envolve analgesia e diminuição na ingestão de líquidos a fim de evitar o aumento da filtração renal, o que aumentaria a dor. Para dor leve e moderada são utilizados analgésicos e/ou antiinflamatórios não-esteroides (AINES) e em casos de dor intensa são utilizados morfina e seus derivados, além de outros opiáceos. No tratamento intervencionista a maior parte dos cálculos pode ser tratada de maneira não-invasiva através de litotripsia extracorpórea por ondas de choque (LECO), descartada a necessidade de anestesia e internação. A escolha do tratamento envolve fatores tais como: o tamanho do cálculo, sua composição e sua localização anatômica. Há alguns anos os cálculos eram tratados através de processos cirúrgicos, o que aumentava o risco de infecção e morbidades, além dos custos com o tratamento. Hoje a 51 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia cirurgia está indicada apenas para os casos em que outros tratamentos não são prescritos, pois não há possibilidade de erradicação voluntária do cálculo. Atenção de enfermagem As ações de enfermagem no tratamento e orientação dos pacientes com cálculos renais envolvem metas para alívio da dor e desconforto além de orientação para evitar novos episódios e complicações. No âmbito hospitalar as ações pautam-se na analgesia eficaz, no controle e registro de eliminações vesicais, bem como sua análise macroscópica (para verificar a eliminação de cálculos). Orientar o paciente quanto à possibilidade de mover os cálculos (quando possui tamanho que permita sua eliminação espontânea) através da deambulação. O enfermeiro deve conhecer a história do paciente, os fatores envolvidos na formação do cálculo e os meios de prevenir recidiva do problema. Para tanto é necessária a ação educativa do enfermeiro, fornecendo ao paciente e seus familiares informações acerca do problema e orientações para evitar a formação de novos cálculos. Quadro Evitando os cálculos renais recorrentes Seguir rigorosamente a dieta prescrita; Durante o dia, ingerir líquidos (de maneira ideal, água) a cada 1 a 2 horas; Beber dois copos de água na hora de dormir e um copo adicional a cada despertar noturno para evitar que a urina fique muito concentrada; Evitar atividades que provocam a sudorese excessiva e a desidratação; Evitar aumentos súbitos nas temperaturas ambientes que possam causar sudorese excessiva e desidratação; Contatar o médico-assistente ao primeiro sinal de uma ITU. *Extraído de SMELTZER, S.C.; BARE, B.G. Brunner & Suddarth. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. v.3, p.1420. 52 www.estetus.com.br Emergência em nefrologia Uma recomendação importante é manter a elevada ingestão de líquidos, preferencialmente água – dentro dos padrões de normalidade, cerca de 30ml/Kg/dia – pois se sabe que os cálculos se formam mais facilmente em urina concentrada. Insuficiência Renal Aguda É a perda súbita da função renal provocando o acúmulo de escórias no organismo. Possui diferentes causas: Pré-renais Hipovolemia: perdas gastrointestinais, desidratação, diuréticos, insolação, hemorragias importantes; Insuficiência Cardíaca: falência do coração, infarto agudo do miocárdio, sepse, arritmias, choque anafilático; Obstrução Arterial: trombose, aneurismas, embolias Renais: Isquêmicas: pielonefrite, rejeição do enxerto (transplante), necrose cortical, gestação; Nefrotóxicas: antibióticos, quimioterápicos, metais pesados, contraste iodado, alcoolismo, choque elétrico, intoxicação e hemólise; Pós-renais: obstruções por litíase, tumor ou traumatismo, aumento da próstata. Tratamento O tratamento da IRA tende restabelecer o equilíbrio
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