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2012 GeoGrafia aplicada ao Turismo Prof. Vinicius De Lucca Filho Copyright © UNIASSELVI 2012 Elaboração: Prof. Vinicius De Lucca Filho Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 910 D366g De Lucca Filho, Vinicius Geografia aplicada ao turismo / Vinicius De Lucca Filho. Indaial : Uniasselvi, 2012. 211 p. : il ISBN 978-85-7830- 565-9 1. Geografia; 2. Turismo. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título III apresenTação Caro(a) acadêmico(a)! A atividade turística é um amálgama de atividades e ocupações, como hotelaria, alimentação fora do lar, construção civil, empresas de elaboração de projetos de planejamento, captação de recursos, transportes, entretenimento, organização de eventos, pesquisa, segurança, educação no setor, entre outras. Além disso, o Estado envolve-se na atividade por meio de políticas públicas e investimentos em espaços para eventos, infraestrutura básica – saneamento, segurança, vias, entre outras questões. A atividade impacta os destinos - social, cultural, política e economicamente - em qualquer região em que se faz presente. Naturalmente que tais impactos são positivos e negativos para as localidades. É possível amenizarmos os impactos negativos e potencializarmos os positivos? É possível fazermos da atividade turística uma atividade inclusiva? Quais as possibilidades de contribuição que a geografia pode ceder ao turismo? As questões acima estão presentes na presente obra, que tem como objetivo principal perceber a complexidade do espaço geográfico e suas relações com a atividade turística, para, a partir daí, buscar na geografia a teoria e os instrumentos práticos que auxiliam no planejamento e no estudo do turismo. Além do objetivo principal, outros objetivos norteiam as três unidades que compõem a obra. As relações entre as informações cartográficas, o clima, aspectos de recepção e emissão da demanda turística, os processos de urbanização fomentados pelo turismo e a sustentabilidade – que deve perpassar cada processo do planejamento e da realização da atividade turística - são encontrados aqui. Prof. Vinicius De Lucca Filho IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO ........................................... 1 TÓPICO 1– NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA ............................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 A GEOGRAFIA DO TURISMO ......................................................................................................... 3 3 MÉTODOS DE ANÁLISES GEOGRÁFICAS ................................................................................. 8 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 9 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 10 TÓPICO 2 – TURISMO E ESPAÇO ...................................................................................................... 11 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 11 2 CONCEITOS ESSENCIAIS ................................................................................................................ 11 3 TURISMO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ................................................................................ 12 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 18 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 19 TÓPICO 3 – CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO ............................................................ 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS ....................................................................................... 22 3 GEOPROCESSAMENTO .................................................................................................................... 34 3.1 O GPS ................................................................................................................................................. 35 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 37 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 38 TÓPICO 4 – CLIMA E TURISMO ........................................................................................................ 39 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39 2 CLIMA ..................................................................................................................................................... 39 2.1 OS PRINCIPAIS CLIMAS DO MUNDO ...................................................................................... 43 3 AS RELAÇÕES ENTRE CLIMA E TURISMO ................................................................................ 44 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 47 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 52 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 53 TÓPICO 5 – RELEVO E TURISMO ..................................................................................................... 551 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55 2 CONCEITO DE RELEVO .................................................................................................................... 55 3 O RELEVO BRASILEIRO ................................................................................................................... 56 4 TURISMO E RELEVO .......................................................................................................................... 58 4.1 MUNDO ............................................................................................................................................ 58 RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 67 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 68 sumário VIII UNIDADE 2 – ESPAÇOS, CIDADES E TURISMO URBANO ....................................................... 69 TÓPICO 1 – ESPAÇO URBANO ........................................................................................................... 71 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 71 2 CONCEITOS DE ESPAÇO URBANO .............................................................................................. 71 3 A CIDADE .............................................................................................................................................. 73 4 EQUIPAMENTOS URBANOS .......................................................................................................... 76 5 MOBILIÁRIO URBANO ..................................................................................................................... 81 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 83 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 84 TÓPICO 2 – TURISMO URBANO ..................................................................................................... 85 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 85 2 CONCEITO DE TURISMO URBANO ............................................................................................. 85 3 TURISMO E REGENERAÇÃO URBANA ....................................................................................... 88 4 E O TURISMO NA REGENERAÇÃO URBANA? ......................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 95 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 96 TÓPICO 3 – TIPOS DE TURISMO URBANO ................................................................................... 97 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 97 2 TURISMO CULTURAL ....................................................................................................................... 97 3 TURISMO DE EVENTOS .................................................................................................................103 4 TURISMO RELIGIOSO ....................................................................................................................106 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................110 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111 TÓPICO 4 – IMAGEM DA CIDADE E TURISMO ........................................................................113 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113 2 IMAGEM ..............................................................................................................................................113 3 CITYMARKETING ..............................................................................................................................115 4 A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM ....................................................................................................117 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................119 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................127 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................128 UNIDADE 3 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE ......................................................................129 TÓPICO 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE ..........................................................................131 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131 2 CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE ......................................................................................131 3 TURISMO SUSTENTÁVEL .............................................................................................................136 4 A CAPACIDADE DE CARGA ..........................................................................................................141 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................144 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................145 TÓPICO 2 – CERTIFICAÇÃO E TURISMO ....................................................................................147 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147 2 CARACTERÍSTICAS DA CERTIFICAÇÃO .................................................................................147 3 VANTAGENS DA CERTIFICAÇÃO ..............................................................................................148 3.1 NORMAS ISO .................................................................................................................................149 3.2 COMPOSIÇÃO DA FAMÍLIA ISO 9000 .....................................................................................149 IX 3.3 A ISO 14000 .....................................................................................................................................150 4 OUTRAS CERTIFICAÇÕES UTILIZADAS NO SETOR TURÍSTICO ...................................150 4.1 O PROGRAMA HÓSPEDE DA NATUREZA ............................................................................150 4.2 CERTIFICAÇÃO PARA TURISMO DE AVENTURA ..............................................................152 4.3 CERTIFICAÇÃO E EVENTOS .....................................................................................................153 4.4 CERTIFICAÇÃO E ALIMENTAÇÃO .........................................................................................154 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................155AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................156 TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS TURÍSTICAS .....................157 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157 2 ASPECTOS QUE CONTRIBUEM PARA QUE AS EMPRESAS TURÍSTICAS ALCANCEM NÍVEIS DE SUSTENTABILIDADE ......................................................................157 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................164 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................165 TÓPICO 4 – DO CONSUMO AO TURISMO DE EXPERIÊNCIA...............................................167 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167 2 CONSUMO ..........................................................................................................................................167 3 GLOBALIZAÇÃO E TURISMO ......................................................................................................169 4 TURISMO DE EXPERIÊNCIA .........................................................................................................171 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................175 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................176 TÓPICO 5 – REDES E TURISMO ......................................................................................................177 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................177 2 REDES ...................................................................................................................................................177 3 ALIANÇAS ESTRATÉGICAS ..........................................................................................................181 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................185 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................189 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................190 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................191 X 1 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender a finalidade da geografia e a sua relação com o turismo; • analisar as interferências do turismo no espaço geográfico; • conhecer as representações cartográficas e a sua utilização para o turismo; • relacionar os elementos climáticos com os tipos de turismo. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades que o/a ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos. TÓPICO 1 – NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA TÓPICO 2 – TURISMO E ESPAÇO TÓPICO 3 – CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO TÓPICO 4 – CLIMA E TURISMO TÓPICO 5 – RELEVO E TURISMO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA 1 INTRODUÇÃO O que é “Geografia do Turismo”? Quais as relações entre a geografia e o turismo? Tais temas serão tratados no presente tópico. A geografia estuda um espaço específico – o espaço geográfico. “Para estudá-lo, desenvolveu, ao longo de sua história, um conjunto de teorias e conceitos que permitem compreender o mundo em que vivemos em diferentes escalas, tanto no tempo quanto no espaço” (CAVALCANTI, 2003 apud ALMEIDA; GUERREIRO; FIORI, 2007, p. 8). Unindo-se ao pensamento acima, cabe observarmos Santos (2002), quando diz que o espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem. O autor considera que a “natureza natural” é intocada pelo homem e a natureza social ou artificial é aquela em que o homem teve contato e que está em permanente construção, sendo (re)construída a cada momento. Santos (1988, p. 26-27) expõe que: O espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento. O conteúdo (da sociedade) não é independente da forma (os objetos geográficos), e cada forma encerra uma fração do conteúdo. O espaço, por conseguinte, é isto: um conjunto de formas em movimento. As formas, pois, têm um papel na realização social. Vamos estudar um pouco mais sobre o assunto? 2 A GEOGRAFIA DO TURISMO A geografia tem vivenciado, nestas últimas décadas: algumas inovações na perspectiva de abordagem do seu objeto de estudo: o espaço geográfico. Isto se deve, em parte, ao desenvolvimento de pesquisas nas áreas de saúde, meio ambiente, turismo, entre outras que, embora interfiram na organização e reestruturação espacial, não despertavam o interesse do profissional de geografia (SOUZA JUNIOR; ITO, 2005, p. 116). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO 4 A preocupação com a geografia do turismo é antiga, como relata Rodrigues (1999, p. 1), quando afirma que o termo “Geografia do Turismo” data de 1905. “Face às incidências espaciais do turismo, o tratamento geográfico do fenômeno vem se tornando cada vez mais destacado. Rodrigues (1999, p. 1) ainda escreve que o: estudo do turismo no âmbito da geografia acentua-se a partir da década de 1960, tendo em vista o acelerado desenvolvimento do fenômeno ligado à prosperidade econômica que marcou o período de pós-guerra nos países centrais do capitalismo. Albach (2011) fez um quadro interessante, mostrando alguns autores e temas que se preocupam com as relações entre geografia e turismo – perceba a grande variedade de temas abordados: QUADRO 1 – TEMAS DA RELAÇÃO GEOGRAFIA E TURISMO Autores Temas JAFARI E RITCHIE (1981) - Identificação e análise de regiões turísticas funcionais. - Previsão do volume de viagens entre origens. CAZES (1992) - A temática da distribuição da atividade turística no espaço (comportamentos da demanda, estratégias de localização, prob- lemas de distância etc.). - A temática da produção espacial turística (representação, per- cepção, formas, modelos de ordenação, paisagens construídas etc.). - A temática sobre a articulação espacial do sistema turístico com o sistema local (processo de turistificação, impactos no território etc.). VERA et al. (1997) Em leitura mundial: - Na Alemanha: prioridade a aspectos morfológicos (paisagem) e sociais. - Na França: turismo internacional, modelos de pequena e grande escala. - Nos Estados Unidos e Reino Unido: recreação em áreas rurais e naturais e generalização dos temas de planejamento. KNAFOU (1999) - - Territórios sem turismo. - Turismo sem territórios. - Territórios turísticos. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA 5 GOLDNER, RITCHIE, MCINTOSH (2002) - Localização de áreas turísticas. - Deslocamentos de pessoas em função das localidades turísticas. - Mudanças que a atividade traz para a paisagem por causa das estruturas turísticas. - Dispersão do planejamento físico do desenvolvimento turístico e dos problemas econômicos, sociais eculturais. RODRIGUES (2001) Dimensão espacial do turismo; fundamentos geográficos do tur- ismo; ecoturismo; turismo ambiental; meio ambiente e turismo; gestão ambiental; avaliação de impactos ambientais em áreas turísticas; turismo, espaço, paisagem; turismo: potencialidades e impactos; estrutura e planejamento de unidades de conservação; ecossistemas brasileiros: potencialidades e conflitos; turismo e desenvolvimento sustentável; planejamento e gestão sustentável do turismo; dentre outros. PEARCE (2003) - Os padrões de distribuição espacial da oferta. - Os padrões de distribuição espacial da demanda. - A geografia dos centros de férias (veraneio). - Os movimentos e fluxos turísticos. - O impacto do turismo. - Os modelos de desenvolvimento do espaço turístico. CORIOLANO E MELLO E SILVA (2005) Espaço geográfico, organização espacial, tempo, espaço rural e urbano, lugar, território, territorialidades, território turístico, desterritorializar e reterritorializar, paisagem, produção espacial, técnica, natureza, patrimônio histórico e artístico, sentimento de patrimônio, comunidade, turismo comunitário, arranjo pro- dutivo, litoral, região, regionalização, cidade, cultura, mundo, local, população, rede, relação sociedade/natureza e unidade geoambiental. FONTE: Albach (2011) “O conceito de turismo é o centro de inúmeras discussões entre pesquisadores e instituições. Visões economicistas, sociais, culturais, ecológicas e holísticas discutem qual conceito é mais adequado à atividade” (DE LUCCA FILHO, 2005, p. 24). Para Sampaio, Gândara e Mantovanelli Júnior (2004 apud DE LUCCA FILHO, 2005, p. 24): UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO 6 O crescimento da atividade turística, e sua complexidade como fenômeno, demandam uma análise da mesma dentro de uma perspectiva mais ampla, que considere de forma equânime os aspectos econômicos, ambientais e sociais, pois somente desta forma será possível uma aproximação mais ampla e concreta de seus reais impactos, positivos e negativos, considerando sempre que uma aproximação parcial e relativizada sempre comprometerá a percepção do todo e distorcerá a compreensão do fenômeno de forma indelével. O turismo, como um campo específico de estudo, tem diversas definições, como a de Hunzilker e Krapf (apud FÜSTER, 1985), que o conceituam como “fenômeno originado pelo deslocamento e permanência de pessoas fora do seu local habitual de residência, desde que tais deslocamentos não sejam utilizados para o exercício de uma atividade lucrativa principal, permanente ou temporária”. [...] Mathieson e Wall (1982) consideram o turismo como um movimento temporário de pessoas para destinos fora dos seus locais normais de trabalho e de residência, as atividades desenvolvidas durante sua permanência nesses destinos e as facilidades criadas para satisfazer as suas necessidades. [...] Sobre os eventuais problemas gerados pela atividade turística, Lins (2000, p. 66) observa que: se o turismo agrava problemas existentes (e produz novos problemas) e se esse agravamento representa ameaça tanto à qualidade de vida da população quanto à sustentabilidade do próprio turismo, promover o combate aos efeitos deletérios da sua expansão constitui processo fundamental. FONTE: De Lucca Filho (2005, p. 24-25) Outros críticos à atividade levantam questões como: O caráter mercadológico e fetichista [...]. O turismo vem ganhando força nos discursos e nas práticas do Estado neoliberal [...]. O turismo se desenvolve apropriando-se e expropriando comunidades tradicionais, transformando os lugares em “paraísos artificiais”, fazendo com que se viva a partir da imagem, isto é, o espaço torna-se mercadoria a ser contemplada e consumida passivamente. (NOGUEIRA; ROCHA, 2010, p. 25). Jafar Jafari (apud BENI, 2001, p. 36) introduziu um conceito holístico de turismo em que aborda seus fenômenos, suas relações e seus efeitos na área de origem dos turistas. “Turismo é o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes físico, econômico e sociocultural da área receptora”. TÓPICO 1 | NOÇÕES GERAIS DE GEOGRAFIA 7 Para definirmos o que é turismo para a geografia, optamos pela definição proposta por Cruz (2001, p. 5), que o identifica como, “antes de mais nada, uma prática social, que envolve o deslocamento de pessoas pelo território e que tem no espaço geográfico seu principal objeto de consumo”. O turismo deve ser compreendido também como uma atividade socioeconômica, à medida que gera a produção de bens e serviços para o indivíduo, visando à satisfação de necessidades básicas (e desejos), como a de alimentação, hospedagem, transporte e complementares, como lazer, assumindo lugar de destaque na economia do país, de uma região ou localidade. O turismo se desenvolveu, ao longo da história, a partir de deslocamentos de diversas ordens, somente sendo reconhecido “enquanto atividade coprodutora do espaço geográfico” (MACHADO 2000 apud SANTOS, 2005, p. 73). No século XX, quando foi impulsionado pelo advento das revoluções tecnológicas e dos meios de transporte, o seu desenvolvimento está atrelado à melhoria dos meios de locomoção, à expansão urbana e à ascensão do capitalismo, principalmente a partir de meados do século XX. A Revolução Industrial (século XIX) promoveu modificações econômicas – e consequentemente sociais – e a consolidação do capitalismo – que fomentaram a atividade turística (inclusive no Brasil, como a regulamentação das férias dos trabalhadores - Decreto federal no 4.982//925). (SANTOS, 2005). Ainda sobre as mudanças relacionadas ao turismo no século XX, Becker (1996 apud SANTOS, 2005, p. 74) observa que: no período pós-guerra é que houve uma mudança importante para o turismo, marcada pela massificação, pela regulação do trabalho, na limitação de seu tempo, nas férias, na aposentadoria, na sociedade de massa de consumo, nos transportes desenvolvidos, como o avião, e aí sim o turismo, realmente, apresentou essa característica de massificação. É importante observarmos o que nos conta Milton Santos (1993, p. 36 apud SANTOS (2005, p. 74): após a Segunda Guerra Mundial, a integração do território se torna viável, integração esta que se iniciara com as estradas de ferro que até então ligavam as áreas produtoras com os portos de exportação. Estas estradas, entretanto, eram em sua maior parte desconectadas. A interligação toma um novo impulso com a construção das estradas de rodagem, que põem em contato as diversas regiões entre si e, sobretudo, com o polo mais dinâmico do país, eixo Rio–São Paulo, o que redunda na execução de um ousado programa de infraestruturas. Esse período duraria até fins da década de 1970. O golpe de Estado de 1964 aparece como um marco, pois foi o ciclo militar que criou as condições de uma rápida integração do país a um movimento de internacionalização que aparecia como irreversível, em escala mundial. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO 8 3 MÉTODOS DE ANÁLISES GEOGRÁFICAS O turismo é um agente transformador do espaço geográfico e uma atividade complexa. Devemos ter como base de análise para esta temática na geografia o conceito de formação socioespacial (FSE), proposto por Milton Santos (1977). Ou seja: cada região possui suas particularidades, sejam elas físicas ou sociais. E se cada região possui suas especificidades, deve, portanto, ser analisada em sua totalidade, tendo em vista sua formação espacial. Vieira e Pereira (1997) nos mostram que tal método possibilita conhecer uma sociedade em sua totalidade e em suas frações, e tal perspectiva reintroduz na geografia uma interpretação totalizadora manifestadanos escritos de Marx (as “múltiplas determinações”), que amplia as possibilidades das análises, pois considera o estudo dialético entre elementos naturais e humanos e insere estes elementos em diversas escalas (mundial, nacional, regional, local), o que permite compreender que uma determinada realidade tem sua explicação num universo mais amplo. (VIEIRA E PEREIRA, 1997). Para Mamigonian (1996, p. 202): Milton Santos percebeu que formação social e geografia humana não coincidem completamente, não pelas teorias que embasam aquela categoria marxista e esta área do conhecimento acadêmico, e mais pela prática indispensável de localização da geografia, nem sempre usada nos estudos de formação social, daí ter proposto a categoria formação socioespacial. Como várias das atividades turísticas estão diretamente ligadas à exploração de paisagens naturais e seus impactos socioambientais, deve-se utilizar outra categoria de análise: a de geossistema, proposta e aperfeiçoada pelo geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro (2000 apud SOUZA; BASTOS, 2010). Ambos os conceitos aqui sugeridos são passíveis de serem utilizados. Na prática, um estudo de viabilidade ambiental de um empreendimento turístico requer o uso do conceito de geossistema, mas se esse estudo necessitar saber a viabilidade socioeconômica, cabe o uso da FSE, para possibilitar o estudo da totalidade das variáveis envolvidas. É importante salientar que tanto uma forma de análise quanto outra não despreza a importância dos diferentes problemas que envolvem a atividade. 9 Neste tópico você estudou: ● As relações entre a geografia e o turismo. ● Os temas de estudo e os métodos de análises geográficas que podem ser aplicados ao turismo. ● Que a atividade turística recria/refaz o espaço – e que tal interação é o escopo do estudo geográfico aplicado ao turismo. ● Que o método de formação socioespacial nos dá instrumentos para avaliar de forma totalizadora para conhecermos a sociedade. RESUMO DO TÓPICO 1 10 Quais são os principais temas relacionados ao turismo que a geografia aborda atualmente? AUTOATIVIDADE 11 TÓPICO 2 TURISMO E ESPAÇO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como visto no tópico anterior, “a geografia estuda um espaço específico – o espaço geográfico. Para estudá-lo, desenvolveu, ao longo de sua história, um conjunto de teorias e conceitos que permitem compreender o mundo em que vivemos em diferentes escalas, tanto no tempo quanto no espaço” (CAVALCANTI, 2003 apud ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 8). O espaço geográfico é fruto da combinação de elementos físicos, biológicos e humanos. A dinâmica de um espaço geográfico precisa ser compreendida à luz dos processos sociais, sem esquecer as características naturais (definidor) que oferecem a base para seu desenvolvimento. Assim, o espaço é a cristalização do tempo e da história. Essa visão é interdisciplinar e multidisciplinar, para a percepção da totalidade. Ao introduzir a dimensão espacial, demonstra a impossibilidade de compreensão da sociedade sem referência ao espaço, pois toda formação econômico-social é espacial e temporalmente determinada. 2 CONCEITOS ESSENCIAIS Precisamos conhecer alguns conceitos para seguirmos adiante. Segundo Santos (apud PEREIRA, 2003), o processo histórico é responsável pela formação socioespacial atual, ou seja, a materialidade concreta expressa no espaço: A relação dialética entre os elementos naturais e humanos, em diferentes escalas (mundial, nacional, regional e local), propicia uma interpretação totalizadora manifestada por Marx como múltiplas determinações (ao mesmo tempo que permite analisar a especificidade de cada lugar histórica e geograficamente, sem desprezar o conhecimento do conjunto. É um enfoque globalizante, ou seja, a visão holística de algo, fundamental para que se chegue à essência). O concreto (realidade) é a síntese de múltiplas determinações. (PEREIRA, 2003, p.101). Segue uma lista dos conceitos mais utilizados na geografia – e necessários ao estudo do turismo (CAVALCANTI, 2003 apud ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 8). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO 12 Lugar: podemos dizer que se trata do espaço familiar ao indivíduo, denominado espaço vivido, onde experienciamos a vida. Seria uma parcela do espaço e particularidades devem ser compreendidas na mundialidade, ou seja, um problema local deve ser analisado como problema global. Paisagem: para a geografia, esse conceito permite a observação de aspectos visíveis dos fatos, fenômenos e acontecimentos geográficos. O geógrafo Milton Santos a definia não só como tudo aquilo que a visão abarca do ponto de vista da forma e do volume das formas concretas, mas também por cores, sons, movimentos, odores e outros atributos sensoriais. É um conceito relacionado ao campo da percepção, sendo esta uma habilidade do processo seletivo de apreensão da realidade. Pode ser classificada em: natural ou artificial e cultural (ou humanizada). Região: trata-se de um espaço concreto, dotado de características espaciais capazes de torná-lo homogêneo internamente, mas distinto de outros espaços. Está associado à localização e à extensão de um fato ou fenômeno. Em outro sentido, pode ser atribuída à região a característica de unidade administrativa, cuja hierarquização se dá pela divisão regional. Um exemplo seria a divisão do território brasileiro em cinco regiões, proposta do IBGE (regiões sul, sudeste, norte, nordeste e centro-oeste). Território: constituem parcelas do espaço que são apropriadas pelos seres humanos de forma concreta ou abstrata (por interesses políticos, econômicos ou por representações, por exemplo). Um território é delimitado por fronteiras, redes e nós, limites, continuidades e descontinuidades, domínios material e não material. Esses limites estão associados às áreas de influência (de poder ou política) de grupos humanos, sendo entendido como um campo de forças que envolve relações de poder. 3 TURISMO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO O turista modifica o espaço, criando-os e recriando-os. A dinâmica social do turismo gera a apropriação dos espaços, causando transformações territoriais por meio da incorporação e desagregação de espaços novos e antigos. Novos espaços são incorporados à prática do turismo, enquanto antigos são total ou parcialmente abandonados, perdendo sua antiga função. Tais transformações têm como principais elementos motivadores de sua ação o ganho financeiro e os modismos. Existem ainda ações que visam devolver espaços a comunidades tradicionais – ou evitar que tais espaços sejam modificados por agentes externos à comunidade. TÓPICO 2 | TURISMO E ESPAÇO 13 ESTUDOS FU TUROS O turismo de base local, fincado na rotina da população autóctone, será observado com detalhes ainda na Unidade 3. Almeida (2004, p. 1) observa que: Os núcleos receptores de turistas têm as mais variadas transformações socioespaciais: infraestruturas montadas e/ou apropriadas em função da acessibilidade dos visitantes; infraestrutura de hospedagem, de alimentação, lazer e de serviços em geral. O turismo é capaz de reorganizar sociedades inteiras para que ele possa acontecer, mormente apoiado por políticas ditas de desenvolvimento que “redescobrem” regiões eleitas como turistificáveis. O mercado liderado pelos agentes promotores do desenvolvimento da atividade turística tem, na iniciativa privada, seu principal ator, composto por empreendedores responsáveis pela turistificação dos lugares através de seus investimentos (CRUZ, 2003). Não podemos esquecer que, além do setor privado, o Estado atua como importante incentivador desse processo e, como tendência atual, existem as parcerias público-privadas (PPP), quando os dois atores agem em conjunto. Tais investimentos são responsáveispela transformação do território, por meio de uma série de mudanças estruturais que são impostas ao espaço, como demonstra Cruz (2003, p. 13): Como tais objetos não podem ser “lançados no território” aleatoriamente, são, necessariamente, acompanhados por infraestruturas de saneamento básico, energia, telefonia e acesso. Esse conjunto de “objetos turísticos” e “objetos-suporte” (infraestrutura de saneamento, energia e viária), quando somado à presença do turista, configura, materializa o lugar turístico. Rodrigues (1999, p. 3) observa que: a dificuldade para conceituar o espaço turístico está basicamente em captar o peso ou a força que esta atividade exerce na produção do espaço. Distinguem-se os espaços de vocação turística, como os parques nacionais, onde apesar do turismo ser uma atividade intensamente explorada, não foi esta que os produziram. Por outro lado, encontram-se espaços produzidos pelo turismo e para o turismo, apesar da ausência de quase todos os fatores apontados como favoráveis para a produção do espaço turístico. Las Vegas é excelente exemplo. Localiza-se em pleno deserto de Nevada, cujo índice pluviométrico pouco ultrapassa 100 mm anuais, distante mais de 500 km de Los Angeles e quase 1.000 km de São Francisco, dois UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO 14 grandes centros urbanos da Califórnia, que além de se comportarem com os polos emissores, funcionam também na captação e distribuição da demanda turística de Las Vegas, proveniente do mundo todo. Considerando os princípios da Geografia Clássica, seu “sítio” e sua “posição geográfica” são completamente desfavoráveis, e, entretanto, constitui o maior centro internacional do jogo, captando uma enorme soma de recursos financeiros. De fato, a questão conceitual é bastante discutida. Outro conceito que temos que abordar é o de “atrativo turístico”. Vejamos o que escreveu Cruz (2003, p. 9): O atrativo turístico é uma definição complexa, pois depende da significação do que atrai o turista para um lugar ou não e essa definição varia no espaço e no tempo, pois é um elemento cultural da sociedade. O que é atrativo turístico hoje pode não ter sido no passado, como exemplo do turismo praticado nas comunidades do Rio de Janeiro (os safáris urbanos na Rocinha). Outro exemplo bem claro de como o atrativo turístico modifica a organização do espaço é a cidade de Florianópolis (SC), onde, até meados do século XX, a praia era tida como lugar de trabalho e não de lazer, com reflexos diretos nos tipos de construções: as mais antigas, que resistiram às mudanças do tempo, foram construídas de costas para o mar, valorizando a visão da rua; já as modernas têm a frente orientada para o mar, explorando essa nova atividade inserida na prática social da região. Tais construções (arquitetura) modificam a paisagem ao longo do tempo. As paisagens transformadas exercem um papel fundamental na indução do turismo, pois esses elementos culturais tornaram- se um grande atrativo turístico e formam o que podemos chamar de paisagem turística, “que têm muito a ver como o que se habituou chamar de cultura de massa e, portanto, com o papel da mídia na homogeneização de gostos e na disseminação de padrões de consumo homogeneizados” (CRUZ, 2003, p. 10). Cabe ainda dizer que: nenhum lugar turístico tem sentido por si mesmo, ou seja, fora do contexto cultural que promove sua valorização, em dado momento histórico. Isso significa reconhecer, por exemplo, que as praias tropicais, colocadas hoje entre os mais importantes recursos turísticos, assim o são porque as sociedades construíram culturalmente sua valorização. Sem essa dimensão cultural, tais praias seriam – para o turismo – um recurso (ou um lugar) tal como qualquer outro recurso natural. (CRUZ, 2001, p. 8). Vale conferir o que fala Urry (2001 apud SÁ, 2005, p. 2) sobre ações preparadas exclusivamente para o turismo – inventadas ou pouco autênticas – são: os pseudoacontecimentos (atrações inventadas e com pouca autenticidade) e a bolha ambiental (sistema fechado que “protege” o turista da realidade local, composto por hotéis familiares de redes internacionais, ônibus com ar-condicionado, restaurantes de fast-food, guias de turismo bilíngues, etc.). Os espaços turísticos podem ser TÓPICO 2 | TURISMO E ESPAÇO 15 encenados, com uma autenticidade questionável - tanto as paisagens, quanto o comportamento das pessoas. (...) os conceitos não são necessariamente pejorativos, já que as culturas são constantemente reelaboradas, reinventadas e seus elementos e símbolos são reorganizados. Ou seja, não fica claro quando uma encenação destinada ao turista e aparentemente inautêntica, é diferente daquilo que ocorre de qualquer maneira em todas as culturas. Urry ainda aborda outros conceitos, como o processo de sacralização que torna um determinado artefato, natural ou cultural, um objeto sagrado do ritual turístico. Cabe ainda destacarmos alguns conceitos relacionados com o local em que o turismo é praticado: a) Turismo e cidade (turismo urbano): esse tipo de turismo apresenta o maior fluxo turístico atualmente, gerando uma grande concentração de serviços relacionados a essa atividade (hotéis, hospitais, bancos, comércio, locadoras, parques, bares, restaurantes), com as melhores vias de acesso (rodoviárias, aeroportos, rodovias, portos). O processo de urbanização, na grande maioria das vezes, é anterior aos fluxos turísticos, pois o processo de urbanização está ligado a outras atividades econômicas, mas há casos em que a atividade turística gera um processo de urbanização, na medida em que esta atividade vai se desenvolvendo, como no “caso de Cancun (México) ou Las Vegas (Estados Unidos)... Porto Seguro (Brasil)”. (CRUZ, 2003, p. 17). b) Turismo em áreas naturais (ecoturismo, turismo ecológico e turismo de natureza): tem ganhado importância nos últimos anos e está relacionado com a busca constante de uma parcela da sociedade por essa prática, na qual encontra uma possibilidade de entrar em contato com a natureza. As atividades mais comuns são os esportes de natureza, como o rafting, o rapel, o trekking, safáris, entre outras. Mas não é por acaso que se busca essa volta do homem ao contato com a natureza. Vejamos o que diz Cruz (2003, p. 18) a respeito: [...] há que se considerar que, de meados da década de 1970 para cá, ou seja, desde a realização da primeira conferência sobre meio ambiente, em Estocolmo (Suécia), em 1972, vimos assistindo a uma crescente atribuição de importância às questões ditas ambientais... É nessa atmosfera de resgate de natureza que se gesta o modismo em torno de tudo o que diz respeito a ambientes naturais. É nesse período que cresceram, também, em importância, as práticas de ecoturismo. Não por acaso, portanto, mas como mais um produto desse momento histórico. (CRUZ, 2003, p. 18). c) Turismo em espaços rurais: a prática do turismo rural tem uma relação direta, na maioria das vezes, com a vontade do homem da cidade de retornar às suas origens. A atual população urbana é fruto de diversos processos de migração que ocorreram durante as etapas de industrialização, em diferentes locais, e que, como bem sabemos, não aconteceram de forma homogênea e nem finalizaram por completo. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO 16 São percebidos outros tipos de espaços na literatura: Tipos de espaço (BENI, 2001): ● Espaço real: totalidade da superfície do planeta e a biosfera que o envolve. ● Espaço potencial: destinar ao espaço real uso diferente do atual. Possibilidades de uso de um território. ● Espaço cultural: parte que a ação do homem mudou a fisionomia original. ● Espaço natural adaptado: espécies naturais sob as condições que o homem fixou. ● Espaço artificial: tudo que foi feito pelo homem. ● Espaço naturalvirgem: sem vestígios da ação humana. ● Espaço turístico: resultado da presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos. Tipos de espaço turístico (MONTEJANO, 2001): ● Espaço de influência heliotrópica e talassotrópica: o sol e as praias são os fatores que desencadeiam a corrente turística. ● Espaços naturais: motivação e atrativo são atrativos naturais, que permitem estar em contato com a natureza e aproveitá-la para desenvolver atividades relacionadas com este meio. ● Espaços culturais: onde a história e a arte deixaram vestígios. ● Espaços antropológicos: onde o homem desenvolveu uma série de atividades culturais e antropológicas relacionadas com o artesanato, gastronomia, folclore. ● Espaços urbanos constituídos por núcleos urbanos grandes, médios ou pequenos, com muitos núcleos turísticos (polinucleares ou multiproduto), como é o caso de Paris, Londres, Nova York; ou mononucleares ou produto único, com um núcleo turístico, como cidades de peregrinação Lourdes, Fátima etc. Existem diversas maneiras de se estudar e delimitar uma unidade de paisagem geográfica. O mais importante é estabelecer critérios e compreender a interdependência de todos os elementos que a integram. Vejamos algumas etapas para um estudo da paisagem geográfica, que não precisam necessariamente seguir essa ordem: a) definição da escala de abordagem (espacial e temporal); TÓPICO 2 | TURISMO E ESPAÇO 17 b) descrição da topografia; c) caracterização da estrutura geológica, geomorfológica (relevo) e pedológica (solo): identificar problemas de erosão e usos do solo; d) caracterização climática (temperaturas médias, ocorrência de chuvas e ventos ao longo do ano e alterações observadas nos últimos anos); e) identificação da estrutura e fluxo de energia e matérias; f) identificação dos ecossistemas existentes; g) caracterização das formações vegetais predominantes: áreas de reflorestamento, áreas protegidas, recursos utilizados; h) inventário da fauna e cadeias alimentares; i) determinação do grau de interferência humana: agricultura (tipos de culturas, histórico dessas culturas, grau de mecanização, origem das sementes, uso de agrotóxicos e adubos etc.), habitat, urbanização, atividades industriais (modo de produção, localização e tratamento de resíduos); j) identificação das espécies animais e vegetais ameaçadas ou em vias de extinção; k) análise dos recursos hídricos: quantos e quais são; qual a utilização desses recursos (irrigação, abastecimento, produção de energia, atividades de lazer), verificação da presença de vegetação ciliar, fauna aquática, assoreamento e substâncias poluentes; l) caracterização da estrutura e dinâmica da população; m) identificação das políticas de organização e gestão dos espaços; n) inventário dos valores culturais da sociedade; o) síntese das etapas anteriores. FONTE: Almeida; Guerrero; Fiori (2007, p. 13) Pela quantidade e tipo de variáveis a serem analisadas, pode-se constatar que tais análises devem ser realizadas por equipes multidisciplinares. Além disso, cabe sempre ressaltar que cada análise tem validade para determinado espaço geográfico em determinado período. ATENCAO 18 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico: ● Observamos conceitos e tipos de espaço. ● Verificamos como o turismo reconstrói o espaço. ● Observamos também alguns conceitos essenciais, como: “lugar” (espaço vivido); “paisagem” (aspectos visíveis dos fatos, fenômenos e acontecimentos geográficos); “região” (espaço concreto – associado à localização de um fato ou fenômeno – ou ainda unidade administrativa, por exemplo, a divisão do território brasileiro em cinco regiões); “território”, que são parcelas do espaço apropriadas pelos seres humanos de forma concreta ou abstrata, delimitado por fronteiras, redes e nós, limites, continuidades e descontinuidades, domínios material e não material. 19 Quais as principais modificações que o turismo impõe ao espaço geográfico? AUTOATIVIDADE 20 21 TÓPICO 3 CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO “A informação tem uma grande importância para o setor turístico” (DE LUCCA FILHO, 2005, p. 31). Ela serve tanto para os possíveis turistas (aqueles que estão escolhendo o destino), para os turistas que já decidiram o seu destino, os destinos que estão a caminho do destino e para o turista que já está no destino. O “uso” da informação na atividade turística tem aumentado. Porém, já em 170 a.C, Pausânias publicou dez volumes de um guia intitulado “Um Guia para a Grécia”, que descrevia as esculturas, lendas e mitos da região, tendo como público-alvo os romanos mais abastados, que viajavam com frequência, em especial para a Grécia e para o Egito (OMT, 2001). Na Idade Média, as peregrinações, viagens comerciais e descobrimentos geográficos estavam relacionados com a literatura de viagem, caracterizada por escritos que se referiam a rotas, destinos, mapas, características de determinadas regiões visitadas. O primeiro Guia Turístico de Santiago de Compostela, Espanha, foi escrito em 1140 pelo francês Aymeric Picaud, que descreveu suas viagens, a qualidade das terras e o seu relacionamento com as pessoas. (MONTEJANO, 2001). [...] Com o intuito de orientar viajantes, os guias de turismo surgiram na Alemanha, editados por Baedecker, no início do século XIX (FÜSTER, 1985). Atualmente ainda existe o Guia Baedecker, publicado em várias línguas. Outro pioneiro do setor foi Eugéne Fodor, que em 1936 editou um guia sobre a Europa, para ser utilizado por turistas britânicos. A necessidade de informação para o turista já existia na Europa Moderna, como atesta Burke (2003, p. 69-70): Todo turista sabe que, quanto maior a cidade, maior a necessidade de um guia, seja sob a forma de uma pessoa ou de um livro. No início da Europa moderna havia uma demanda de cicerones [...] e também de livros-guia. [...] No século XVIII, esses livros-guia passaram a acrescentar à descrição das igrejas e das obras de arte algumas informações práticas, do tipo como negociar com os condutores de cabriolés ou quais ruas deviam ser evitadas à noite. FONTE: De Lucca Filho (2005, p. 31) 22 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO O conceito da Cartografia, hoje aceito sem maiores contestações, foi estabelecido em 1966 pela Associação Cartográfica Internacional (ACI), e posteriormente, ratificado pela Unesco, no mesmo ano: “A Cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise de documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização”. O processo cartográfico, partindo da coleta de dados, envolve estudo, análise, composição e representação de observações, de fatos, fenômenos e dados pertinentes a diversos campos científicos associados à superfície terrestre. FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_ nocoes/introducao.html>. Acesso em: 6 mar. 2012. A cartografia é uma forma de comunicação que tem atuado na instrumentação do turismo praticamente desde o seu surgimento como atividade econômica. E assim como outras formas de comunicação com o turista, como os folhetos de divulgação e placas informativas que são disponibilizados nos espaços turísticos, os mapas devem orientar as pessoas na localização dos objetos e lugares de seu interesse. Em especial nas tarefas de planejamento e gestão do turismo, a cartografia pode constituir um instrumental extremamente útil nas etapas de diagnóstico, de implementação e de avaliação de uma atividade turística (OLIVEIRA, 2005, p. 2).Um dos principais componentes de qualquer guia turístico é o mapa. Como são feitos os mapas? E quais seus usos na atividade turística? 2 REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS Antes das representações cartográficas, é necessário conhecer o conceito de “escala”: ● Escala – com a necessidade de reduzir as proporções dos acidentes a representar, a fim de tornar possível a representação dos mesmos em um espaço limitado. Essa proporção é chamada de escala. FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_ nocoes/representacao.html>. Acesso em: 6 mar. 2012. “Quanto menor é a escala do mapa, maior será a porção de espaço abrangida. Consequentemente, os elementos representados terão um detalhamento menor” (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 26). TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO 23 FIGURA 1 – DIFERENÇAS DE ESCALAS A escala cartográfica pode ser representada de duas formas: Escala gráfica: “Consiste em um segmento de reta, dividido em espaços regulares, que mostra a relação entre a medida no mapa e a medida na realidade” (ALMEIDA; GUERREIRO; FIORI, 2007, p. 27). Exemplo: 1 cm no mapa = 1km no terreno real. FONTE: IBGE (2012) 24 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO FIGURA 2 – ESCALA GRÁFICA 0 50 100 150 KM FONTE: O autor FIGURA 3 – ESCALA GRÁFICA EM USO FONTE: Cantinho da Teodósia, 2012 Escala numérica: “É representada em forma de fração, onde o numerador indica uma unidade medida no mapa e o denominador indica o valor, na mesma unidade, medida no terreno real” (ALMEIDA; GUERREIRO; FIORI, 2007, p. 27). Numerador = 1 cm Denominador = 100.000 cm ou 1 km - 1:100.000 TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO 25 FIGURA 4 – ESCALA NUMÉRICA EM USO FONTE: IBGE (2012) “Para construir uma escala, geralmente utiliza-se o Sistema Métrico Decimal” (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 27) – quilômetro, hectômetro, decâmetro, metro, decímetro, centímetro, milímetro. É importante saber optar pela escala correta, pois, conforme Almeida, Guerrero e Fiori (2007, p. 27): a opção por uma ou outra escala de representação é muito importante, pois define a quantidade de informações e detalhes possíveis de ser representados no mapa. Se a realidade for pouco reduzida, poderemos representá-la com mais detalhes. Ao contrário, se tivermos que reduzir muito a realidade, só poderemos representar as informações mais importantes, desprezando os detalhes. Resumindo: Escala maior (denominador menor): mais detalhes representados. Escala menor (denominador maior): menos detalhes representados. Também é importante falarmos das coordenadas geográficas: 26 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO O homem começou a buscar uma forma de localização mais precisa que apontasse mais que uma direção e, com exatidão, um ponto na superfície terrestre. A partir daí que os gregos idealizaram um sistema de linhas imaginárias traçadas sobre a superfície terrestre. Essas linhas receberam os nomes de paralelos e meridianos. Ao se cruzarem, paralelos e meridianos indicam com exatidão o local de um determinado ponto na superfície terrestre. Esse sistema é conhecido como coordenadas geográficas (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 23). Como também é importante entender o que são paralelos e meridianos: Os paralelos são linhas paralelas ao Equador que indicam a latitude. No total, são 90 paralelos ao norte do Equador e 90 paralelos ao sul, num total de 180° de latitude. Os meridianos são semicírculos semelhantes ao Meridiano de Greenwich, que indicam a longitude. São 180 meridianos a leste de Greenwich e 180 a oeste, totalizando 360° de longitude. As coordenadas geográficas são sempre medidas em graus (símbolo°), minutos (símbolo’) e segundos (símbolo”) e a indicação N ou S para a latitude, e L ou O para a longitude (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 24-25). FIGURA 5 – MERIDIANOS E PARALELOS FONTE: Dreamtime (2012) Agora, podemos voltar às representações. Existem dois tipos de representação: por traço e por imagem. Vamos estudar alguns conceitos da representação por traço: • GLOBO – “representação cartográfica sobre uma superfície esférica, em escala pequena, dos aspectos naturais e artificiais de uma figura planetária, com finalidade cultural e ilustrativa” (IBGE, 1998, p. 23). TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO 27 FIGURA 6 – GLOBO TERRESTRE FONTE: Dreamtime (2012) • MAPA: de acordo com o IBGE (1998, p. 18), os mapas possuem as seguintes características: - representação plana; - geralmente em escala pequena; - área delimitada por acidentes naturais (bacias, planaltos, chapadas etc.), político-administrativos; - destinação a fins temáticos, culturais ou ilustrativos. FIGURA 7 – MAPA FONTE: IBGE (2012) 28 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO A partir dessas características pode-se generalizar o conceito: Mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na superfície de uma figura planetária, delimitada por elementos físicos, políticos e administrativos, destinada aos mais variados usos, temáticos, culturais e ilustrativos (IBGE, 2012). O mapa é uma imagem convencionada, codificada, que representa feições e características da realidade geográfica. O mapa não reproduz fielmente o terreno; ele é uma construção que seleciona alguns aspectos e os representa, fazendo uso de um sistema de símbolos. Os elementos espaciais da superfície terrestre escolhidos para serem representados no mapa (como objetos, fatos e relações) são transformados em símbolos e localizados no mapa a partir de um sistema de coordenadas que considera distâncias e direções. (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 20). Raisz (1969, p. 2) diz que o conceito elementar de um mapa é “uma representação convencional da superfície terrestre, vista de cima, na qual se colocam letreiros para sua identificação”. É importante na guerra e na paz que um soldado ou aviador americano seja capaz de ler um mapa francês ou que um montanhês canadense seja capaz de escalar os Andes usando um mapa chileno. Apesar de cada levantamento publicar uma legenda de símbolos, isto geralmente não se acha à mão (RAISZ, 1969, p. 94). • CARTA: suas principais características são: - representação plana; - escala média ou grande; - desdobramento em folhas articuladas de maneira sistemática; - limites das folhas constituídos por linhas convencionais, destinadas à avaliação precisa de direções, distâncias e localização de pontos, áreas e detalhes. FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_ nocoes/representacao.html>. Acesso em: 6 mar. 2012. Da mesma forma que da conceituação de mapa, pode-se generalizar que carta é: a representação no plano, em escala média ou grande, dos aspectos artificiais e naturais de uma área tomada de uma superfície planetária, subdividida em folhas delimitadas por linhas convencionais - paralelos e meridianos - com a finalidade de possibilitar a avaliação de pormenores, com grau de precisão compatível com a escala. (IBGE, 1998, p. 17). TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO 29 • PLANTA – “a planta é um caso particular de carta. A representação se restringe a uma área muito limitada e a escala é grande, consequentemente o número de detalhes é bem maior” (IBGE, 1998, p. 20). O outro tipo de representação cartográfica é a “por imagem”. Para facilitar, fizemos um quadro com as representações e suas características. São elas: QUADRO 2 – TIPOS DE REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS POR IMAGEM Representação Conceito MOSAICO É o conjunto de fotos de uma determinada área, recortadas e montadas técnica e artisticamente, de forma a dara impressão de que todo o conjunto é uma única fotografia. Pode ser de três tipos: 1) Controlado - é obtido a partir de fotografias aéreas submetidas a processos de correção para que a imagem resultante corresponda exatamente à imagem no instante da tomada da foto. Essas fotos são então montadas sobre uma prancha, onde se encontram plotados um conjunto de pontos que servirão de controle à precisão do mosaico. Os pontos lançados na prancha têm que ter o correspondente na imagem. Esse mosaico é de alta precisão. 2) Não controlado - é preparado por meio do ajuste de detalhes de fotografias adjacentes. Não existe controle de terreno e as fotografias não são corrigidas. É de montagem rápida, sem precisão. Para alguns tipos de trabalho ele satisfaz. 3) Semicontrolado - são montados combinando-se características do mosaico controlado e do não controlado. Por exemplo, usando-se controle do terreno com fotos não corrigidas; ou fotos corrigidas, mas sem pontos de controle. FOTOCARTA É um mosaico controlado, sobre o qual é realizado um tratamento cartográfico (planimétrico). ORTOFOTOCARTA É uma ortofotografia - fotografia resultante da transformação de uma foto original, que é uma perspectiva central do terreno, em uma projeção ortogonal sobre um plano - complementada por símbolos, linhas e georreferenciada, com ou sem legenda, podendo conter informações planimétricas. ORTOFOTOMAPA É o conjunto de várias ortofotocartas adjacentes de uma determinada região. 30 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO FOTOÍNDICE Montagem por superposição das fotografias, geralmente em escala reduzida. É a primeira imagem cartográfica da região. É insumo necessário para controle de qualidade de aerolevantamentos utilizados na produção de cartas através do método fotogramétrico. Normalmente a escala do fotoíndice é reduzida de 3 a 4 vezes em relação à escala de voo. CARTA IMAGEM Imagem referenciada a partir de pontos identificáveis e com coordenadas conhecidas, superposta por reticulado da projeção, podendo conter simbologia e toponímia. FONTE: IBGE (1998, p. 20-21) Mas como colocar a Terra, que é esférica, no papel, que é plano? “Para solucionar esse problema, foram criadas as projeções cartográficas. Projeções cartográficas são operações matemáticas utilizadas para representar a superfície esférica da Terra em uma superfície plana” (ALMEIDA; GUERRERO; FIORI, 2007, p. 21). Apesar de todo o esforço dos cartógrafos, as projeções sempre apresentam alguma deformação da superfície terrestre. Tal deformação pode ser reduzida, mas nunca eliminada. Dependendo de como é feita a projeção, é possível conservar: a área, a forma, a distância ou a direção. (ALMEIDA, GUERRERO E FIORI, 2007, p.21). Mas o que significa cada informação no mapa? A representação gráfica (Simiologia Gráfica) é o que determina cada informação presente nos mapas (ROSA, 2004). Cada parte de uma informação é chamada de componente, a qual apresenta as seguintes características: a) comprimento - é o número de suas subdivisões (classes); b) extensão - é a relação entre o número maior e o menor da série quantitativa considerada; c) nível de organização - é a característica mais importante da componente, trata-se do significado, que pode ser: quantitativo (ex. no de alunos, no de dias de chuva etc.), ordenado (ex. dias da semana, meses do ano, hierarquias militares, tonalidades etc.), e qualitativo (ex. indústrias, culturas etc.). As informações transmitidas por uma componente podem se referir a uma localização precisa, a um limite ou percurso, a uma superfície, ou ainda a um volume. Essas quatro maneiras de colocar a informação no plano da folha de papel representam os quatro modos de implantação (ou elementos de representação do espaço), a saber: ponto, linha, área (zona) e volume. TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO 31 Elementos de representação do espaço – São as maneiras de colocar a informação em um mapa. ● Ponto - não tem dimensão, representa apenas a posição (localidade ou localização). Ex. localização precisa de uma indústria, cidade etc. ● Linha - é unidimensional, representa apenas direção. Ex. o percurso de um rio, o limite administrativo (fronteira), uma estrada etc. ● Área (zona) - é bidimensional, representa a largura e comprimento. Ex. densidade de população, florestas, cultivos, áreas urbanas, lagos etc. ● Volume - é tridimensional, representa largura, altura e comprimento. Ex. quantidade de precipitação, produção etc. As variáveis da retina – A linguagem gráfica é formada por variáveis da retina. Por ser a retina o órgão sensível do olho, todas as variações percebidas por ela são chamadas variáveis da retina, que são: a) Tamanho - é usado para representar dados quantitativos, traduzindo a proporção entre as classes dos diversos elementos cartográficos. Para a sua representação, usam-se as formas básicas (círculos, quadrados, retângulos, triângulos), conferindo-lhe tamanhos proporcionais ao valor dos dados. Varia do grande, médio, pequeno. Ex: total de população do Estado de Minas Gerais por município. b) Valor - é usado para representar dados ordenativos, através da variação de tonalidade do branco ao preto, passando pelos tons cinza ou vermelho, ou de verde, ou de azul. O branco representa ausência (0%) e o preto a totalidade (100%), e os outros níveis representam valores intermediários, indo do claro (percentagens menores) ao escuro (percentagens maiores). Ex. profundidades do mar, altitudes etc. c) Granulação - também usado para representar dados ordenativos, porém em substituição ao valor. Consiste na variação da repartição de preto no branco, onde a proporção de preto e branco permanece. d) Cor - é usada para representar dados qualitativos (seletivos). Consiste na variação das cores, tendo as cores a mesma intensidade. Por exemplo: Azul é usado para representar água, frio, úmido, valores numéricos positivos. Verde é usado para representar vegetação, terras baixas - planícies, florestas. Amarelo/Ocre é usado para representar seca, vegetação pobre, elevações intermediárias. 32 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO Marrom é usado para representar formas de relevos (montanhas, áreas elevadas), curvas de nível. Vermelho é usado para representar elementos quentes, itens importantes, estradas, cidades. e) Orientação - também usada para representar dados qualitativos (seletivos) em substituição à cor. Orientação são as variações de posição entre o vertical, o oblíquo e o horizontal. f) Forma - usada para representar dados qualitativos (associativos). Agrupa todas as variações geométricas ou não. Elas são múltiplas e diversas, podem ser geométricas (círculo, quadrado, triângulo etc.) ou pictóricas. As formas não devem ser muito variadas, se possível, devem ser limitadas a no máximo seis. Esses mapas são de fácil representação e leitura. A forma é um ponto, e, portanto, indica a localização. A informação subdividida em componentes é transcrita, e traduzida em linguagem visual por meio das variáveis da retina. Cada componente é traduzido por uma variável da retina. Nem todas as variáveis da retina admitem todos os níveis de organização (quantitativo, ordenativo, seletivo, associativo). Por exemplo, o tamanho indica proporção; o valor e a granulação mostram uma hierarquia, uma ordem entre as classes; a cor e a orientação diferenciam as classes, sem ordená-las. A forma é associativa e indica a localização. Eventualmente, pode-se usar a associação entre as variáveis da retina. Tipos de mapas Os mapas, de acordo com seus objetivos e finalidades, podem ser divididos em três tipos: mapas gerais, especiais e temáticos [...]: Mapa geral - objetiva alcançar um público bastante diversificado e grande. As informações contidasnesses mapas são muito genéricas, não permitindo aos especialistas, ao consultá-lo, obterem informações detalhadas. Normalmente são mapas que apresentam escalas reduzidas [...]. Os principais elementos representados nestes mapas são: divisão política, capitais e cidades de destaque, principais rodovias e ferrovias e algumas informações da parte física (rios, relevo, vegetação). Mapa especial - atende a um reduzido número de pessoas, em geral técnicos, como geógrafos, meteorologistas, biólogos, geólogos e outros profissionais que se utilizam de mapas. As informações contidas nestes mapas estão relacionadas a estudos específicos e técnicos, sendo de pouca valia às pessoas fora da especialidade a que se destina. Normalmente, este tipo de mapa é construído em escala grande [...]. TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO 33 Mapa temático - é construído a partir de um mapa base, normalmente com informações políticas e hidrográficas, no qual são cartografados os demais fenômenos geográficos. Dependendo da área, podem ser aspectos geológicos, demográficos, cobertura vegetal etc. Normalmente este tipo de mapas é construído em qualquer escala. FONTE: Rosa (2004, p. 48-50) “Entre os mapas temáticos básicos [...], podem-se citar os de uso e ocupação das terras, da infraestrutura disponível, das formas do relevo, dos elementos climáticos, entre outros” (OLIVEIRA, 2005, p. 35). É necessário conhecermos os tipos de mapas importantes para a atividade turística. Para Oliveira (2005, p. 35): Os mapas de uso e ocupação das terras representam as atividades econômicas já instaladas sobre determinado território, como a agricultura, a pecuária, as áreas urbanas, a malha viária e as áreas verdes remanescentes. O grau de detalhamento das classes escolhidas vai depender da escala do mapeamento e de sua relevância para o empreendimento turístico a ser instalado. Os mapas sobre a infraestrutura mostram a localização de elementos como a rede viária, as redes de energia elétrica, telefonia, água tratada, coleta de esgoto, TV a cabo etc., além da localização de serviços essenciais, como a presença de agências dos correios, postos de saúde ou hospitais, agências bancárias, postos policiais ou delegacias e postos de combustíveis. Segundo Oliveira (2005, p. 37): A primeira função de um mapa para turistas é localizar, com precisão e clareza, onde estão os atrativos turísticos num determinado lugar. Portanto, na escolha dos elementos que devem constar no mapa é preciso considerar a necessidade de filtrar informações desnecessárias, que tornariam o mapa carregado visualmente e dificultariam a localização dos atrativos [...] O mapa deve ser visto como forma de comunicação com o turista. Precisa, portanto, utilizar uma linguagem adequada ao tipo de turista que deverá manuseá-lo, sob pena de ser descartado ou virar uma peça meramente ilustrativa. Mapas sobre os elementos do clima são particularmente importantes para áreas com potencial para a instalação do turismo de lazer, como pousadas e hotéis ou outros tipos de empreendimentos em balneários ou em ambientes de altitudes mais elevadas. Enfim, qualquer atividade em que sejam relevantes as informações sobre a distribuição anual das chuvas, dias com insolação, direção e intensidade dos ventos ou a variação anual das temperaturas (OLIVEIRA, 2005, p. 35-36). A relação dos atrativos com os aspectos naturais é muito importante, conforme alerta Oliveira (2005, p. 36): 34 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA DO TURISMO A partir dos mapas básicos ou sobre eles pode-se localizar e destacar os possíveis atrativos turísticos e relacioná-los com as características naturais ou socioeconômicas do lugar, para avaliar o grau de sua potencialidade e detectar prováveis problemas a serem superados em sua efetivação como atrativos. A cartografia serve como instrumento de promoção turística dos destinos – e teve um papel decisivo nas Ilhas Baleares (Espanha) no século XIX e no início do século XX, quando somente a elite europeia conseguia entender os mapas. O acesso era difícil e as informações disponíveis nos mapas ajudaram os aventureiros a chegar às ilhas (MUJICA, 2007). Num exemplo simples, um mapa com a topografia de uma área, expressando as altitudes em curvas de nível e pontos cotados, quando cruzado com a rede de drenagens, pode dar indicativos da presença de quedas d’água, cachoeiras e corredeiras, que são atrativos naturais em potencial. Para maior detalhamento, pode-se associar também o uso de imagens orbitais ou fotografias aéreas [...]. A partir daí, o cruzamento com as informações sobre a infraestrutura disponível nas proximidades do local (rede viária, hotéis, postos de combustíveis, entre outros) e sobre os tipos de uso e ocupação das terras na região pode determinar a viabilidade ou não do local e sua potencialidade (OLIVEIRA, 2005, p. 36). 3 GEOPROCESSAMENTO A recente popularização das técnicas de geoprocessamento tem feito surgir algumas confusões na atribuição dos termos Geoprocessamento e Sistemas de Informações Geográficas (SIG) [...]. O Geoprocessamento é um termo amplo, que engloba diversas tecnologias de tratamento e manipulação de dados geográficos, através de programas computacionais. Dentre essas tecnologias, se destacam: a cartografia digital, o processamento digital de imagens, os sistemas de posicionamento global e os sistemas de informação geográfica. Ou seja, o SIG é uma das técnicas de geoprocessamento, a mais ampla delas, uma vez que pode englobar todas as demais, mas nem todo o geoprocessamento é um SIG. A tecnologia de SIG integra operações convencionais de bases de dados, com possibilidades de seleção e busca de informações e análise estatística, conjuntamente com possibilidades de visualização e análise geográfica oferecida pelos mapas. Esta capacidade distingue os SIG dos demais sistemas de informação e torna-os úteis para organizações no processo de entendimento da ocorrência de eventos, predição e simulação de situações, e planejamento de estratégias. Os SIG permitem a realização de análises espaciais complexas, através da rápida formação e alteração de cenários que propiciem aos planejadores e administradores em geral, subsídios para a tomada de decisões. FONTE: Rosa (2004, p. 71) TÓPICO 3 | CARTOGRAFIA APLICADA AO TURISMO 35 Não podemos abrir mão das tecnologias para um processo de planejamento mais eficiente. 3.1 O GPS Segundo Rocha (2003), GPS é a abreviatura de NAVSTAR GPS (NAVigation System with Time And Ranging Global Positioning System). É um sistema de radionavegação baseado em satélites criado e monitorado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos que permite a qualquer usuário saber a sua localização, velocidade e tempo, 24 horas por dia, sob quaisquer condições atmosféricas e em qualquer ponto do globo terrestre. FONTE: Adaptado de: <http://www.duke.edu/~mmv3/geomatica/documents/Aula%201%20 Teorica%20Intro%20GPS.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2012. Para Martoni e Varajão (2008, p. 6): o sistema de navegação por satélites pode ser dividido em três segmentos: o segmento espacial, composto pela constelação de satélites; o segmento de controle, composto por quatro estações de controle terrestres e uma estação mestra – a Consolidated Space Operations Center, localizada na Schriver Air Force Base no Colorado, EUA – que possuem o objetivo principal de monitorar e garantir o funcionamento de todo o sistema; e o segmento de utilização civil, que compreende o conjunto de usuários do sistema receptores dos sinais. Segundo Bender (2012), há dois tipos de mapas para GPS: 1- Mapa simples, que serve apenas como referência. 2- Mapa roteável, que possui dados complementares como endereços, sentido de direção etc. Com um GPS que explora todas as informações de um mapa roteável,
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