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Indaial – 2020 Molecular Prof.ª Letícia da Silva Pereira Fernandes 1a Edição Biologia Elaboração: Prof.ª Letícia da Silva Pereira Fernandes Copyright © UNIASSELVI 2020 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: F363b Fernandes, Letícia da Silva Pereira Biologia molecular. / Letícia da Silva Pereira Fernandes. – Indaial: UNIASSELVI, 2020 180 p.; il. ISBN 978-65-5663-345-9 ISBN Digital 978-65-5663-346-6 1. Biologia molecular. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 575.173 Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Biologia Molecular! Este livro está dividido em três unidades, as quais apresentam o principal objetivo de apresentar conceitos básicos e um pouco da história por trás dos avanços nas técnicas de biologia molecular. Lembre-se que a biologia molecular é um campo que está constantemente inovando e em busca de soluções para os estudos que focam em DNA, RNA, proteínas e outras biomoléculas. A biologia molecular trata de componentes essenciais à vida e de muita importância para as áreas biológicas e da saúde, por isso a aplicação dessas técnicas está cada vez mais presente no dia a dia da medicina diagnóstica e da pesquisa básica, na busca por tratamento e cura para as mais diversas doenças e, portanto, no entendimento da complexidade da vida! Na primeira unidade, nosso foco será voltado à origem e explanação de técnicas básicas de biologia molecular, como o isolamento, clonagem e sequenciamento de DNA e a reação em cadeia da polimerase (PCR), as quais serão de extrema importância para o entendimento das demais técnicas abordadas ao longo do livro. Na Unidade 2, avançaremos para uma área mais complexa da Biologia Molecular e aprenderemos sobre as chamadas ciências “ômicas”. Nessa unidade, trataremos de um dos maiores avanços científicos dos últimos anos, o Projeto Genoma Humano (PGH), e veremos como esse projeto contribuiu para avanços que culminaram na era “ômica”, com o desenvolvimento de técnicas avançadas de estudo do genoma, do proteoma, do mataboloma e de outros “omas”. Por fim, com todo o conhecimento adquirido ao longo das duas primeiras unidades, na terceira unidade deste livro trataremos da aplicação prática das técnicas abordada. Você será apresentado a um dos campos de atuação do biomédico em que essas técnicas avançadas de biologia molecular podem ser aplicadas. Entre elas, estão os testes diagnósticos moleculares e a melhora da qualidade de vida de pacientes por meio das investigações voltadas ao desempenho esportivo e nutricional. De maneira geral, o conteúdo abordado neste livro é apresentado de maneira prática e direcionado para que você, futuro biomédico, esteja preparado para conhecer e atuar aplicando a biologia molecular ou desenvolvendo novas metodologias nesta fantástica área! Bons estudos! Prof.a Letícia da Silva Pereira Fernandes APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - O MATERIAL GENÉTICO E AS PRINCIPAIS TÉCNICAS DE ISOLAMENTO E SEQUENCIAMENTO ..................................................................................... 1 TÓPICO 1 - ISOLAMENTO E CLONAGEM ...............................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 ISOLAMENTO DE DNA OU RNA ...........................................................................................5 2.1 ELETROFORESE EM GEL ...................................................................................................................... 6 2.2 ENDONUCLEASES DE RESTRIÇÃO ...................................................................................................7 2.3 HIBRIDIZAÇÃO ....................................................................................................................................... 9 3 CLONAGEM DE DNA .......................................................................................................... 13 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 - REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR) ................................................. 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 19 2 PCR PASSO A PASSO ........................................................................................................21 3 TRANSCRIÇÃO REVERSA ................................................................................................ 23 4 PCR QUALITATIVO VS. PCR QUANTITATIVO .................................................................. 25 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 28 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 29 TÓPICO 3 - BIBLIOTECAS DE DNA E CDNA ........................................................................ 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 31 2 BIBLIOTECA DE DNA OU GENÔMICA .............................................................................. 32 3 BIBLIOTECA DE CDNA ..................................................................................................... 34 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 36 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................37 TÓPICO 4 - SEQUENCIAMENTO DE DNA ........................................................................... 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 39 2 MÉTODOS DE SANGER E SANGER AUTOMATIZADO ..................................................... 40 3 SEQUENCIAMENTO SHOTGUN ....................................................................................... 45 4 SEQUENCIAMENTO DE NOVA GERAÇÃO (NEXT GENERATION SEQUENCING - NGS) ...... 46 5 SEQUENCIAMENTO DE TERCEIRA GERAÇÃO ................................................................ 52 6 SEQUENCIAMENTO PORTÁTIL ........................................................................................ 53 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 54 RESUMO DO TÓPICO 4 .........................................................................................................57 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 58 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................59 UNIDADE 2 — GENÔMICA E AS DEMAIS “ÔMICAS” ............................................................ 61 TÓPICO 1 — GENÔMICA ....................................................................................................... 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 63 2 GENÔMICA ESTRUTURAL ............................................................................................... 64 3 MAPAS CROMOSSÔMICOS DE ALTA RESOLUÇÃO ..........................................................67 4 MAPAS CROMOSSÔMICOS FÍSICOS ................................................................................70 5 GENÔMICA FUNCIONAL ....................................................................................................72 6 POLIMORFISMO GENÉTICO ..............................................................................................81 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 86 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................87 TÓPICO 2 - PROJETO GENOMA HUMANO ......................................................................... 89 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 89 2 PGH ................................................................................................................................... 90 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................95 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................96 TÓPICO 3 - AS DEMAIS “ÔMICAS” ......................................................................................97 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................97 2 TRANSCRIPTÔMICA......................................................................................................... 98 3 PROTEÔMICA ..................................................................................................................103 4 METABOLÔMICA ............................................................................................................. 113 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 116 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................122 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................123 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................124 UNIDADE 3 — DIAGNÓSTICO E OUTRAS APLICAÇÕES DAS DIVERSAS TÉCNICAS DE BIOLOGIA MOLECULAR: POTENCIAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO BIOMÉDICO .................................................................................................125 TÓPICO 1 — TESTES PRÉ-NATAIS, NEONATAIS E EM PRODUTOS DA CONCEPÇÃO ........ 127 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 127 2 TRIAGEM PRÉ-NATAL NÃO INVASIVA (NIPT) ...............................................................128 3 TESTE DO PEZINHO (TRIAGEM NEONATAL) .................................................................129 3.1 DOENÇA DA URINA DE XAROPE DE BORDO OU LEUCINOSE (MSUD) .................................... 132 4 PERFIL METABÓLICO ASSOCIADO AOS ERROS INATOS DO METABOLISMO .............133 4.1 ÁCIDOS ORGÂNICOS URINÁRIOS .................................................................................................. 133 4.2 ACILCARNITINAS E AMINOÁCIDOS .............................................................................................. 134 5 SURDEZ GENÉTICA OU SURDEZ HEREDITÁRIA ...........................................................134 6 SEQUENCIAMENTO DE PRODUTO DE CONCEPÇÃO .....................................................135 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 137 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................138 TÓPICO 2 - TESTES ONCOLÓGICOS .................................................................................139 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................139 2 CÂNCER DE MAMA E DE OVÁRIO .................................................................................. 140 3 POLIPOSE ADENOMATOSA FAMILIAR ........................................................................... 141 4 CÂNCER COLORRETAL ...................................................................................................142 5 PESQUISA DE CÂNCER HEREDITÁRIO ..........................................................................142 6 BIÓPSIA LÍQUIDA ........................................................................................................... 144 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................145AUTOATIVIDADE ................................................................................................................146 TÓPICO 3 - DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS E OUTROS TESTES ......................................... 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 147 2 DOENÇAS MITOCONDRIAIS ........................................................................................... 147 3 PERFIL GENÉTICO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES ........................................148 4 ANÁLISE CROMOSSÔMICA POR MICROARRANJO .......................................................149 5 INTOLERÂNCIA À LACTOSE ...........................................................................................150 6 SEQUENCIAMENTO DO EXOMA ...................................................................................... 151 6.1 EXOMA DO RECÉM-NASCIDO ......................................................................................................... 153 7 TESTE DE DNA OU TESTE DE PATERNIDADE ................................................................153 8 SAÚDE ENDOMETRIAL – ENDOMETRITE CRÔNICA .....................................................156 8.1 ALICE – ANÁLISE DE ENDOMETRITE CRÔNICA INFECCIOSA ................................................. 157 8.2 EMMA – ANÁLISE METAGENÔMICA DO MICROBIOMA ENDOMETRIAL ................................158 9 PLANEJAMENTO DE GRAVIDEZ – ACONSELHAMENTO GENÉTICO ............................160 10 ANCESTRALIDADE JUDAICA ASHKENAZI ..................................................................162 11 TRIMETILAMINÚRIA – TMAU1 .......................................................................................163 12 HIV E HEPATITES ..........................................................................................................164 13 INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS .......................................................................................164 14 TROMBOFILIA ................................................................................................................166 15 INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (IST) .................................................166 15.1 PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) .................................................................................................167 16 FARMACOGENÉTICA ..................................................................................................... 167 17 AVALIAÇÃO DA MICROBIOTA INTESTINAL ..................................................................169 18 NUTRIGENÉTICA ...........................................................................................................170 19 PERFIL GENÉTICO DESEMPENHO ESPORTIVO ...........................................................170 20 SEQUENCIAMENTO COMPLETO DO GENOMA (WGS) ..................................................171 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 173 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 177 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................178 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 179 1 UNIDADE 1 - O MATERIAL GENÉTICO E AS PRINCIPAIS TÉCNICAS DE ISOLAMENTO E SEQUENCIAMENTO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • investigar a origem do desenvolvimento de diversas técnicas de biologia molecular; • identifi car técnicas de isolamento e clonagem de fragmentos de DNA; • ilustrar o funcionamento da técnica de PCR e suas principais aplicações; • apontar como são formadas as bibliotecas de DNA e cDNA e seus diferentes objetivos; • examinar as principais técnicas de sequenciamento de DNA. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ISOLAMENTO E CLONAGEM TÓPICO 2 – REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR) TÓPICO 3 – BIBLIOTECAS DE DNA E CDNA TÓPICO 4 – SEQUENCIAMENTO DE DNA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 ISOLAMENTO E CLONAGEM 1 INTRODUÇÃO Caros acadêmicos, antes de adentrarmos no universo das técnicas avançadas de biologia molecular, é preciso relembrar a origem e alguns conceitos básicos sobre a molécula de ácido desoxirribonucleico, o DNA, pois, a partir desses conhecimentos, que as técnicas conhecidas, atualmente, como técnicas de biologia molecular, foram desenvolvidas. Embora, atualmente, seja comum o conhecimento de que o DNA é a molécula que possui as informações genéticas, até meados do século XX, sabia-se apenas da importância dessas informações – já denominadas de genes – para a manutenção da vida. No entanto, não havia clareza de qual molécula biológica poderia ser responsável por tão importante e complexa função. Com a descoberta, na década de 1950, por James Watson, Francis Crick, Maurice Wilkins e Rosalind Franklin, da estrutura de dupla hélice complementar do DNA (Figura 1), foi possível entender como a complexidade das informações contidas nos genes poderia ser replicada ou transmitida para outras células. FIGURA 1 – ESTRUTURA EM DUPLA HÉLICE DO DNA - DR=DESOXIRRIBOSE; A=ADENINA; T=TIMINA; C=CITOSINA; G=GUANINA; P=FOSFATO FONTE: Junqueira e Carneiro (2012, p. 57). TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 Assim, após o conhecimento de que a estrutura de dupla hélice do DNA é formada por duas fitas lineares, compostas por uma sequência complementar formada por quatro nucleotídeos (adenina, citosina, guanina e timina ou A, C, G e T, respectivamente) (Figura 1), foi possível entender como a sequência de nucleotídeos de um determinado gene, presente no DNA, é responsável pela codificação da sequência complexa de aminoácidos que deverão ser sintetizados para formar uma determinada proteína. Por fim, embora fosse conhecido que os genes presentes no DNA codificassem para a síntese de proteínas, observou-se que a síntese ocorria essencialmente onde o DNA não estava presente: no citosol. Dessa forma, veio à tona a descoberta do RNA, uma molécula semelhante ao DNA que também é formada por nucleotídeos, porém em uma única fita, na qual, em vez de timina, é encontrado o nucleotídeo uracila (Figura 2). Essa é molécula capaz de carregar as informações contidas no DNA para fora do núcleo (transcrição), servindo de molde para a síntese de proteínas (tradução) (Figura 3). FIGURA 2 – ESTRUTURA DO RNA - C= CITOSINA; A= ADENINA; U=URACILA; G=GUANINA FONTE: Adaptado de Alberts et al. (2008). 5 FIGURA 3 – ESQUEMA DNA RNA PROTEÍNA FONTE: Adaptado de Alberts et al. (2008). Em posse do conhecimento sobre estas importantes macromoléculas: o DNA, o RNA e as proteínas, e da sua íntima relação umas com as outras, iniciaram-se os estudos relativos aos processos intracelulares de manutenção, reparo e síntese desses componentes e das demais moléculas envolvidas nestes processos. Esses estudos estão englobados em áreas conhecidas como genética molecular ou biologia molecular e incluem a aplicação de técnicas e modelos baseados no entendimento de como os processos intracelulares ocorrem. Tais técnicas incluem o isolamento de moléculas, como um gene, a clonagem, a amplificação e o sequenciamento de um fragmento de DNA, metodologias que serão abordadas com mais detalhes nesta unidade. 2 ISOLAMENTO DE DNA OU RNA Para que seja possível investigar uma molécula, um fragmento de DNA ou mesmo um gene específico, é preciso isolá-la dos demais componentes celulares e das demais moléculas deDNA ou dos demais genes, pois, mesmo que seja feita a extração do DNA de uma determinada amostra celular ou tecidual, todo o DNA presente na amostra será extraído em conjunto e, assim, será necessário que alguma técnica de isolamento seja aplicada para que apenas o fragmento de DNA de interesse seja isolado dos demais. 6 2.1 ELETROFORESE EM GEL A técnica mais simplificada de separação, aplicável a moléculas de DNA, RNA ou até mesmo a proteínas, é pelo tamanho da molécula e se dá por meio de uma eletroforese em gel, o qual pode ser composto por poliacrilamida ou agarose. Nessa técnica de isolamento, uma corrente elétrica é transmitida através do gel, o qual se encontra imerso em solução tampão, do polo negativo (cátodo) para o polo positivo (ânodo) e, por meio das cargas negativas presentes nas moléculas de DNA, elas são carreadas por afinidade para o polo positivo do gel (Figura 4). Esse carreamento acontece porque o gel utilizado na técnica possui a porosidade necessária para que as moléculas se movimentem por ele. Dessa forma, moléculas maiores tendem a apresentar maior dificuldade de migrar pelo gel, enquanto moléculas menores apresentam maior facilidade para essa movimentação. Assim, as moléculas são separadas em populações contendo moléculas de tamanho semelhante, o que posteriormente será visualizado em um formato que chamamos de bandas no gel, formando um gradiente, sendo as menores encontradas mais próximas ao polo positivo e as maiores permanecendo próximas ao polo negativo. FIGURA 4 – ELETROFORESE EM GEL - A – APARATO PARA ELETROFORESE VERTICAL; B – APARATO PARA ELETROFORESE HORIZONTAL FONTE: A – Adaptado de Alberts et al. (2008); B – Adaptado de Watson et al. (2015). Após a separação no gel, ele deve ser corado com corantes fluorescentes, que se ligam ao DNA, possibilitando a visualização das bandas formadas pelas populações da molécula. O corante fluorescente mais conhecido e aplicado em géis de eletroforese de DNA e RNA é o brometo de etídio, que, após a coloração, permite que as bandas sejam visualizadas sob luz ultravioleta (UV). 7 Um detalhe dessa técnica é a escolha de agarose ou poliacrilamida como matriz do gel. Embora ambas sejam aplicáveis para o isolamento de moléculas de acordo com seu tamanho, é importante ressaltar que a escolha depende do tamanho da molécula a ser isolada e do objetivo do isolamento. A poliacrilamida forma um gel de maior resolução, ou seja, fragmentos de DNA com até mesmo uma única base nitrogenada de diferença podem ser separados. No entanto, uma menor faixa de tamanho das moléculas pode se movimentar nesse tipo de matriz. A agarose, por sua vez, apresenta menor resolução, o que signifi ca que cada banda presente no gel representa um agrupamento de moléculas de tamanho semelhantes. No entanto, fragmentos maiores de DNA podem facilmente migrar por essa matriz. Ainda assim, vale lembrar que uma única molécula de DNA íntegra pode conter milhares de genes e, portanto, apresentar centenas de milhares de pares de bases nitrogenadas, o que inviabiliza seu carreamento adequado em uma eletroforese, mesmo em um gel de matriz de agarose. Além disso, o maior interesse nos estudos relacionados ao DNA se dá por fragmentos ou genes específi cos que possam ser facilmente manipulados e, por conta disso, ferramentas mais precisas, como as endonucleases de restrição, têm sido utilizadas com o objetivo de fragmentar e manipular o DNA e seus fragmentos para a aplicação em estudos específi cos. 2.2 ENDONUCLEASES DE RESTRIÇÃO Diversas bactérias produzem, naturalmente, endonucleases como mecanismo de proteção contra infecções virais, já que essas enzimas quebram o DNA viral, impedindo o vírus de agredir a bactéria. Foi a partir da observação e estudo desse mecanismo de defesa que as endonucleases foram descobertas e, desde então, essas enzimas passaram a ser isoladas e purifi cadas a partir de colônias de diferentes bactérias, sendo aplicadas como enzimas de restrição na manipulação do DNA. São diversas as endonucleases isoladas, pois cada bactéria apresenta uma específi ca. Assista a um esquema exemplifi cando uma eletroforese em gel de agarose em https://www.youtube.com/watch?v=B2KLuzD_suQ. Você também pode assistir a uma prática demonstrativa através do link https://www.youtube.com/ watch?v=08wqFHbFMtg. DICA 8 De maneira simplificada, a utilização de endonucleases de restrição permite a manipulação do DNA para que ele seja fragmentado em regiões específicas, viabilizando que um determinado fragmento seja isolado dos demais fragmentos do DNA. Essas enzimas clivam a molécula de DNA em regiões predeterminadas, compostas por uma sequência específica de 4 a 8 nucleotídeos, chamados de sequência de reconhecimento. Um exemplo desse caso é a enzima de restrição chamada EcoRI, a qual é amplamente utilizada e cuja sequência de reconhecimento é composta por apenas quatro nucleotídeos (5’-AATT-3’) (Figura 5). Cada endonuclease de restrição apresenta uma região de clivagem conhecida e específica, permitindo o controle dos sítios de clivagem e a previsão do tamanho dos fragmentos que serão originados. FIGURA 5 – EXEMPLO DE RESTRIÇÃO REALIZADO COM A ENDOCNUCLEASE DE RESTRIÇÃO ECORI E A SEPARAÇÃO, POR ELETROFORESE EM GEL, DOS FRAGMENTOS OBTIDOS FONTE: Watson et al. (2015, p. 150). Após o tratamento das amostras de DNA com uma ou mais endonucleases de restrição, é possível submeter a amostra a uma separação por eletroforese em gel, como previamente descrito, promovendo a identificação mais precisa pela quantidade de bases nitrogenadas, e o isolamento do fragmento de interesse a ser avaliado (Figura 5). 9 2.3 HIBRIDIZAÇÃO Antes de discutirmos sobre o que é a hibridização e como ela é aplicada no isolamento de fragmentos de DNA, é preciso que mais alguns conceitos básicos relativos a essa tão importante molécula sejam relembrados. Como já discutimos anteriormente, o DNA é composto por duas fitas que, quando ligadas, formam uma estrutura em dupla hélice. Cada uma dessas fitas é complementar a outra e é formada por uma sequência composta pelos quatro nucleotídeos (A, T, C e G). O que ainda não discutimos neste livro é que essas duas fitas, embora sejam complementares e ligadas, formando a dupla hélice, podem ter suas ligações entre os nucleotídeos, também chamados de pares de bases, rompidas quando em condições adequadas de salinidade, temperatura e pH, disponibilizando duas fitas simples. Esse processo é chamado de desnaturação. No entanto, as bases nitrogenadas, mesmo após a desnaturação, tendem a se ligar novamente com suas bases complementares, ou seja, A se liga com T, e C se liga com G, em um processo chamado de anelamento, o qual promove a renaturação do DNA, restaurando a dupla fita. Essa possibilidade de desnaturação e reanelamento dos pares de bases de um fragmento de DNA permitiu que algumas manipulações, em prol do isolamento e identificação desses fragmentos, fossem desenvolvidas. Assim, foi elaborada a técnica de hibridização, a qual se resume à promoção do anelamento entre duas fitas simples de origem distintas, sejam elas fitas de DNA ou RNA, inclusive podendo ser a hibridização entre uma fita de RNA com uma de DNA. Mas, você pode se perguntar: “como o processo de hibridização poderia promover o isolamento e identificação de algum fragmento específico?”. Pois bem, para esse propósito são utilizadas as chamadas sondas, que são fitas de DNA com uma sequência de nucleotídeos complementar ao gene ou fragmento de interesse, mas que carregam em sua estrutura um marcador que pode ser radioativo ou químico. Desta forma, em condições adequadas, a sonda é capaz de detectar a região da fita desnaturada do DNA da amostra, que é complementar à sua sequência e, então, anelar-se a ela, permitindo que por meio do marcador seja visualizada a presença do fragmento de interesse (Figura 6). As principais aplicações da técnica de hibridização são chamadas de hibridização insitu, Northern e Southern-blotting. 10 FIGURA 6 – ESQUEMA DO PROCESSO DE LIGAÇÃO DA SONDA DE HIBRIDIZAÇÃO COM UMA FITA SIMPLES DE DNA FONTE: Adaptado de Alberts et al. (2008) Na hibridização in situ, as sondas de ácidos nucleicos, quimicamente marcadas, são aplicadas, como o próprio nome diz, no local em que a molécula de interesse deve ser encontrada. Assim, é possível determinar a presença de uma determinada sequência de DNA ainda nos cromossomos ou verificar a existência de um RNA específico dentro de uma célula, sem que, para isso, a amostra seja homogeneizada e o material de interesse extraído, evitando, assim, a perda ou degradação das fitas de nucleotídeos durante esses processos (Figura 7). Nesse caso específico, a amostra é submetida a uma elevação de pH que permite a separação da fita dupla de DNA e, consequentemente, o pareamento da sonda de ácidos nucleicos que foi aplicada. A hibridização in situ pode, ainda, ser aplicada para determinar a localização de um RNA específico em um tecido, célula ou até mesmo em pequenos organismos, ou seja, os padrões de expressão diferencial do gene. Para esse objetivo, no entanto, o tecido de interesse deve ser fixado de uma forma específica, que envolve, por exemplo, o tratamento com proteinases e detergentes para a quebra de estruturas celulares que possam impedir a penetração das sondas de hibridização. 11 FIGURA 7 – HIBRIDIZAÇÃO IN SITU REALIZADA EM UM CROMOSSOMO FONTE: Alberts et al. (2008, p. 537). Para a aplicação da técnica de hibridização northern-blotting, assim como para a southern-blotting, um fracionamento prévio por meio de eletroforese em gel deve ser aplicado para a separação, em bandas, dos RNAs - no caso da northern; ou dos fragmentos de DNA, para a aplicação da southern. Na northern-blotting, a população de RNA mensageiros (mRNAs) extraída da amostra de interesse é submetida à eletroforese em gel e, na sequência, as bandas formadas são transferidas para uma membrana, normalmente de nitrocelulose, permitindo que o padrão de bandas formado no gel gere uma impressão na membrana e disponibilizando as moléculas de mRNA para a ligação com as sondas de hibridização. Esse processo de “impressão” é chamado de blotting. Assim, após o blotting na membrana, ela é incubada com a sonda de DNA marcada, formada pela sequência molde do gene de interesse a ser avaliado, promovendo, assim, a hibridização. Nesse processo, após incubação, se a sequência complementar à sonda aplicada estiver presente na amostra, ela será marcada e sua presença será identificada por meios químicos ou de autorradiografia (dependendo da marcação presente na sonda utilizada) (Figura 8). Além disso, é possível determinar o tamanho da sequência, uma vez que, durante o processo, podem ser aplicadas no gel e transferidas para a membrana amostras que contenham RNAs de tamanhos conhecidos, os chamados padrões de RNA. Essa técnica normalmente é aplicada quando se busca comparar situações distintas, por exemplo, utilizando amostras controle que sirvam como padrão para a expressão do gene de interesse. Assim, após o processo de hibridização, pode ser avaliado, por exemplo, se o gene de interesse se encontra expresso em ambas as amostras, bem como se a quantidade e o tamanho das moléculas de mRNA são diferentes entre elas, elucidando, por vezes, a participação de tal gene em uma determinada condição patológica. 12 FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO DE UM FRAGMENTO DE DNA ALVO POR MEIO DE HIBRIDIZAÇÃO EM MEMBRANA (BLOTTING) FONTE: Watson et al. (2015, p. 152). Similarmente ao northern-blotting, o southern-blotting utiliza sondas de DNA molde, as quais são marcadas quimicamente ou com radiação. No entanto, nessa técnica são avaliados os padrões das sequências de nucleotídeos de genes no DNA, ou seja, ela identifica o tamanho do fragmento de um gene, e não o seu padrão de expressão, como no northern-blotting. Como dito anteriormente, o DNA é uma fita dupla, polinucleotídica e bastante extensa, que contém a informação dos genes. Assim, para que seja possível a sua movimentação em gel por meio da eletroforese, ela deve ser clivada em fragmentos menores, portanto, as endonucleases de restrição são as ferramentas mais adequadas a serem utilizadas. Após a clivagem, o DNA é submetido à eletroforese em gel e, assim, os fragmentos obtidos serão fracionados de acordo com seu tamanho. Antes do processo de transferência para a membrana ou blotting, os fragmentos de DNA presentes no gel devem ser submetidos ao processo de desnaturação, o qual se dá normalmente pela imersão do gel em solução alcalina. Dessa forma os fragmentos de DNA estarão prontos para a transferência para a membrana de nitrocelulose, onde serão incubados com as sondas de hibridização e posteriormente identificados quanto à sua presença e tamanho, como previamente descrito para o northern-blotting. Com a aplicação da técnica southern-blotting, é possível caracterizar a estrutura de um gene por meio da comparação dos fragmentos obtidos e marcados na amostra de interesse com mapas de restrição previamente determinados para o mesmo gene, ou seja, é possível identificar a ocorrência de alguns tipos de alterações na sequência do gene dos organismos que estão sendo testados, como, por exemplo, a inserção ou deleção de pequenas sequências de nucleotídeos, as quais podem estar associadas a condições deletérias ou doenças. 13 3 CLONAGEM DE DNA Como já observamos, as técnicas de biologia molecular permitem a manipulação e a investigação das moléculas de DNA, dos genes, da expressão desses genes, entre outras tantas aplicações. No entanto, o isolamento de fragmentos de DNA de interesse presentes em uma amostra fornece apenas pequenas quantidades – muitas vezes ínfimas, quando se trata de amostras raras – de material para as manipulações subsequentes. Nesse sentido, o desenvolvimento de técnicas de clonagem permitiu que, rapidamente, fossem obtidas cópias idênticas do fragmento de interesse, fornecendo a quantidade de material adequado para a aplicação em outras análises. Conceitualmente, a clonagem de DNA se refere à produção, dentro de uma célula, de diversas cópias de uma sequência específica de um fragmento de DNA. A clonagem de DNA depende da utilização de um vetor, do fragmento de DNA e, posteriormente, de um organismo hospedeiro. Para iniciar o processo de clonagem, o fragmento de DNA de interesse deve ser inserido em uma molécula de DNA genômico com capacidade de autorreplicação, ou seja, o DNA do vetor. A nova molécula de DNA, formada pela junção do fragmento de interesse com o DNA do vetor, é chamada de DNA recombinante. Para a formação do DNA recombinante, é necessária a atuação de enzimas de restrição e de enzimas de ligação. A partir da clivagem de uma molécula de DNA por uma enzima de restrição, cuja sequência de clivagem é conhecida, formam-se os fragmentos de DNA que podem ser selecionados e ligados ao DNA do vetor, em que, pela ação da enzima DNA ligase, ficarão inseridos e formarão o DNA recombinante. Os vetores mais comumente utilizados são os vetores plasmidiais, pequenas moléculas de DNA circular capazes de se autorreplicar que contêm sítios conhecidos de ligação a determinadas enzimas de restrição, o que permite manipulações específicas na fita de DNA. Esses pequenos DNA circulares, atualmente utilizados como vetores, foram desenvolvidos a partir de moléculas maiores de DNA circular, que podem estar naturalmente presentes em bactérias, inclusive conferindo a elas a resistência a antibióticos, além de apresentarem capacidade de replicação de forma independente da replicação da bactéria, estando muitas vezes presentes em várias cópias dentro de uma única bactéria. Outro tipo de vetor, por vezes também utilizado para a clonagem de DNA, são os fagos ou vírus bacterianos que, devido à sua capacidade de infectar bactérias, inserindo seu material genético nelas, foram manipulados, modificados e adaptadospara a aplicação na biologia molecular. Para a inserção do fragmento de interesse do DNA clivado por uma enzima de restrição em um vetor, o DNA circular do vetor deve ser clivado, com a mesma enzima de restrição, formando uma fita linear em que o fragmento de interesse possa se ligar às extremidades. Dessa forma, por meio da atividade da enzima DNA ligase, o DNA 14 vetorial e o fragmento inserido são ligados covalentemente, formando novamente uma molécula de DNA circular, mas, desta vez, recombinante. No entanto, como já falamos, a clonagem deve acontecer dentro de uma célula, ou seja, em um organismo hospedeiro. O processo de inserção do vetor no organismo hospedeiro é chamado de transformação e ocorre naturalmente em diversas bactérias que apresentam competência genética, ou seja, que apresentam a capacidade de incorporar fragmentos ou moléculas de DNA presentes no meio externo, chamadas de bactérias competentes. No entanto, o organismo hospedeiro mais comumente utilizado no processo de clonagem é a bactéria Escherichia coli, a qual, diferentemente da maioria das outras bactérias, não apresenta essa capacidade, ou seja, não é uma bactéria naturalmente competente. Porém, mesmo não apresentando naturalmente a habilidade de internalização de material genético externo, a E. coli pode ser manipulada para que o vetor plasmidial seja internalizado por ela. Após a transformação, devido à capacidade de autorreplicação do vetor, associada às elevadas taxas de replicação bacteriana, o fragmento de DNA inserido no vetor será rapidamente multiplicado durante o processo de crescimento bacteriano em meio de cultivo, produzindo, assim, os clones do fragmento de DNA (Figura 9). FIGURA 9 – PROCEDIMENTO PARA CLONAGEM DE UM FRAGMENTO DE DNA FONTE: Adaptado de Alberts et al. (2008) 15 Outros detalhes da técnica de clonagem podem ser encontrados em https://kasvi.com.br/clonagem-molecular-dna-recombinante/. DICA Embora a taxa de clonagem e multiplicação celular seja elevada, o processo de transformação, no entanto, não apresenta elevada efi ciência, portanto, apenas algumas das células bacterianas internalizarão o vetor plasmidial. Dessa forma, após a multiplicação celular inicial, é necessário que seja feito um processo de seleção das bactérias que contêm o vetor plasmidial. Para tanto, as bactérias são transferidas para um meio de cultivo na presença de antibiótico e, neste caso, aquelas que internalizaram o vetor apresentarão resistência ao antibiótico e permanecerão se multiplicando, enquanto aquelas que não internalizaram o vetor não se propagarão. Uma importante aplicação da clonagem de DNA é a formação das bibliotecas de DNA, as quais serão discutidas com mais detalhes ainda nesta unidade. Além das bibliotecas de DNA, a clonagem precede diversas análises de biologia molecular, pois, após a execução de todas as etapas descritas anteriormente, as moléculas de DNA recombinante podem ser extraídas. Esse processo fornece grande quantidade de material, do qual os clones do fragmento de DNA de interesse podem ser isolados e, na sequência, aplicados em outras análises, como, por exemplo, a caracterização do fragmento inserido por meio do sequenciamento dos nucleotídeos presentes nele. 16 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A partir dos estudos sobre a molécula de DNA, sua estrutura em dupla hélice e dos mecanismos celulares envolvidos nos processos de replicação do DNA e expressão gênica, as técnicas avançadas de biologia molecular começaram a ser desenvolvidas. • Para o estudo do DNA, devido à complexidade, diversas manipulações podem ser empregadas, como o isolamento, a clonagem e o sequenciamento. • O isolamento de fragmentos de DNA pode ser realizado por eletroforese em gel de agarose ou poliacrilamida. Ainda, podem ser usadas técnicas mais complexas, como a hibridização para a identificação de um fragmento ou gene específico. • A clonagem de DNA envolve a utilização de enzimas de restrição, vetores e um organismo hospedeiro, como a bactéria Escherichia coli. Através dessa técnica, rapidamente, podem ser obtidas muitas cópias ou clones de um mesmo fragmento de DNA. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 Quais são os princípios físicos que permitem que a eletroforese em gel seja aplicada no isolamento de fragmentos de DNA? a) ( ) Cargas negativas dos fragmentos de DNA, corrente elétrica e polaridade do gel. b) ( ) Cargas positivas dos fragmentos de DNA, corrente elétrica e porosidade da matriz do gel. c) ( ) Cargas negativas dos fragmentos de DNA, corrente elétrica e porosidade da matriz do gel. d) ( ) Cargas negativas do gel, elevação de temperatura e corrente elétrica. 2 Com relação à clonagem, explique como é formado o DNA recombinante e descreva as principais etapas do processo de formação dos clones. 3 Descreva, brevemente, as principais diferenças das técnicas de hibridização in situ, southern e northern-blotting. 4 Quais as principais características que um vetor e uma célula hospedeira devem conter para que possam ser utilizadas no processo de clonagem? AUTOATIVIDADE 18 19 REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR) 1 INTRODUÇÃO Para entendermos com clareza como a técnica de reação em cadeia da polimerase – a chamada PCR – acontece, é preciso antes relembrar como a fita de DNA se replica in vivo, pois foi a partir desse entendimento que enzimas e moléculas foram manipuladas permitindo que um processo bastante similar de replicação fosse realizado dentro de um tubo de ensaio (in vitro). O primeiro conceito a ser relembrado é que a replicação do DNA é semiconservativa, ou seja, cada nova cadeia dupla de DNA é formada por uma fita da cadeia original, a fita conservada, e uma fita nova, que foi sintetizada utilizando a fita conservada como molde (Figura 10). Esse processo é relativamente simples de entender, no entanto, existem diversas outras moléculas, além dos nucleotídeos, que são importantes e requisitados para que a replicação do DNA ocorra. FIGURA 10 – DUPLICAÇÃO SEMICONSERVATIVA DA FITA DUPLA DE DNA FONTE: Junqueira e Carneiro (2012, p. 182). UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 20 A principal molécula envolvida no processo de replicação do DNA é uma enzima chamada DNA polimerase, que, como o próprio nome indica, é responsável pela polimerização da nova fita de DNA, sendo a enzima que alinha os novos nucleotídeos de acordo com a sequência obtida a partir da fita molde, formando, assim, uma nova fita de DNA. Aqui, vale ressaltar que o sentido de síntese da fita de DNA se dá sempre de 5’ para 3’, ou seja, o novo nucleotídeo sempre será inserido na terminação 3’ da fita que está sendo moldada por meio da ligação covalente promovida por moléculas de fosfato entre o carbono 3’ da desoxirribose que já está na fita e o carbono 5’ da desoxirribose do próximo nucleotídeo a ser inserido na fita. Outra informação importante é que a DNA polimerase necessita de uma extremidade 3’ disponível para a inserção do novo nucleotídeo, o que nos leva ao conceito de primer, ou iniciador. No processo de replicação realizado in vivo, existem enzimas que são capazes de formar pequenas sequências de nucleotídeos, conhecidas como sequências iniciadoras, utilizando a fita molde de DNA sem a necessidade de uma extremidade 3’ para isso. Essas enzimas, denominadas primases, são de extrema importância no processo de replicação, pois são responsáveis por fornecer um sítio de ação para a DNA polimerase iniciar o processo de replicação do restante da fita. Entendido esse conceito, as técnicas de biologia molecular lançaram mão de primers artificialmente sintetizados, também chamados de oligonucleotídeos sintéticos, que podem ser facilmente sintetizados e utilizados como iniciadores no processo de amplificação in vitro. Além dos componentes citados (fita molde de DNA, desoxirribonucleotídeos, enzimas sintetizadoras de primers e DNA polimerase), o processo de replicação ainda depende de outras enzimas e cofatores,como, por exemplo, as enzimas que farão a abertura da cadeia dupla e o desenrolamento da dupla hélice, como a DNA helicase e a topoisomerase. Com o entendimento de que o processo de replicação do DNA acontecia naturalmente e o conhecimento da estrutura química da molécula de DNA, foi possível aplicar os mesmos conceitos utilizando, por exemplo, DNA polimerases isoladas de bactérias, primers sintetizados e manipulações de pH, salinidade e temperatura para promover a replicação do DNA em ciclos sucessivos, com uma ou poucas moléculas de DNA sendo utilizadas como molde, dando origem, assim, ao que hoje conhecemos como a técnica de PCR. PCR é uma sigla que vem do inglês Polymerase Chain Reaction, que significa reação em cadeia da polimerase. O termo se refere à técnica base para a rápida replicação, também chamada de amplificação, de um fragmento de DNA. Essa técnica permitiu que fragmentos específicos de uma molécula de DNA fossem amplificados com grande eficácia e rapidez dentro de um tubo de ensaio em poucas horas. Um processo similar apenas era possível com a utilização da técnica de clonagem, no entanto, embora a clonagem seja eficiente, ela requer no mínimo um vetor e um organismo hospedeiro para a replicação, além de alguns dias para que o crescimento do hospedeiro produza quantidade suficiente de material replicado. 21 Com a utilização da PCR, em apenas alguns minutos é possível multiplicar de maneira expressiva a quantidade do fragmento de DNA que se deseja estudar, tornando a amostra repleta desse fragmento e possibilitando uma série de análises subsequentes, como, por exemplo, a quantificação da expressão de um gene em diferentes indivíduos ou tecidos, o sequenciamento dos nucleotídeos que compõem a molécula de interesse ou a comparação entre a expressão de um determinado gene em amostras provenientes de diferentes condições. 2 PCR PASSO A PASSO Para que seja realizada uma PCR de um fragmento específico de DNA, por exemplo um gene, o primeiro passo é conhecer a sequência de nucleotídeos desse gene ou parte da sequência, pois, como dito anteriormente, para que o processo de replicação aconteça, é necessário que seja utilizado um primer ou oligonucleotídeo sintético. Esse primer deve ser uma sequência curta, com cerca de 18 a 22 nucleotídeos, que seja complementar ao gene de interesse. Para a aplicação em PCR, é utilizado um par de primers, cada um para uma das duas fitas de DNA, sempre em sentido 5’-3’. Obter um par de primers específico para o gene de interesse assegura que, nas etapas seguintes do processo, o material correto seja amplificado, promovendo uma purificação da amostra para a fragmento de interesse. Após a síntese dos primers e a extração do material genético da amostra de interesse, é iniciada a PCR em si. Nessa reação, são adicionados os primers, um coquetel contendo os quatro desoxinucleotídeos (dNTPs; A, T, G e C), a enzima DNA polimerase, cofatores enzimáticos (como o magnésio – Mg), e o material extraído, dando início ao processo de amplificação. Devido à afinidade entre os nucleotídeos A e T, e C e G, os primers tendem a se ligar à sua sequência complementar no fragmento de DNA. No entanto, para que isso ocorra, é necessário que haja a abertura da dupla fita, liberando os nucleotídeos de cada uma das fitas simples que serão originadas a se ligarem aos seus primers correspondentes. Para que esse processo ocorra, o DNA é desnaturado sendo submetido, por um curto período, a uma alta temperatura, o que permite a separação das fitas e a ligação dos primers em suas sequências complementares em cada uma das fitas, processo chamado de anelamento de primers. Após a ligação dos primers a cada uma das fitas simples de DNA, é formada uma pequena região de fita dupla composta pela fita molde do DNA desnaturado e do pequeno fragmento do primer. Assim, uma extremidade 3’ do primer fica disponível para que a DNA polimerase possa iniciar o processo de inserção dos dNTPs correspondentes à fita molde ou, como comumente chamado, o processo de extensão, formando uma nova fita dupla ao fim, composta pela fita molde e uma nova fita recém polimerizada e complementar ao molde. 22 Esse simples processo de desnaturação, anelamento e extensão, em apenas alguns minutos, duplica a quantidade de DNA disponível na amostra, pois, de acordo com o princípio semiconservativo, cada uma das duas fitas formadoras da cadeia dupla do DNA, após o processo de replicação, dará origem a uma nova fita dupla, composta pela fita conservada e uma nova fita. Ou seja, a cada ciclo da PCR, a amplificação duplica o material disponibilizado pelo ciclo anterior, sendo normalmente necessário cerca de 20 a 40 ciclos de amplificação para a obtenção de uma grande quantidade de cópias provenientes de apenas um fragmento de DNA. Fazendo um simples cálculo, partindo de um único fragmento, ao final do primeiro ciclo de amplificação seriam obtidos dois fragmentos idênticos, após o segundo ciclo seriam obtidos quatro fragmentos, no terceiro ciclo estariam disponíveis oito fragmentos e assim sucessivamente (Figura 11). FIGURA 11 – ESQUEMA DA RÁPIDA AMPLIFICAÇÃO DE UMA FRAGMENTO DE DNA DURANTE A PCR FONTE: Watson et al. (2015, p. 159). 23 Um detalhe interessante é que, como falamos, o método de desnaturação do DNA se dá por meio da elevação da temperatura, chegando a cerca de 95 ºC. Por vezes, esse processo pode inviabilizar a ação de enzimas como a DNA polimerase, sendo necessária a utilização de uma DNA polimerase que seja termoestável e termoresistente. Nesse sentido, os avanços na biologia e biotecnologia proporcionaram, já nos anos 80, a obtenção da DNA polimerase presente na bactéria Thermus aquaticus, um organismo que vive em temperaturas elevadas e com sua DNA polimerase adaptada para resistir a essas temperaturas. A DNA polimerase obtida desse organismo é a chamada Taq polimerase e é uma das DNA polimerases mais utilizadas nas reações de PCR. Outra informação interessante é que, embora a PCR pareça um processo simples e rápido, em sua origem ela era executada por meio de mudanças de temperatura promovidas em banho-maria, sendo necessário que o pesquisador cronometrasse o tempo de elevação e retomada de temperatura em cada ciclo e mudasse os tubos de ensaio entre os banho-maria com as diferentes temperaturas necessárias, por volta de 95 ºC para desnaturação, 60-65 ºC para anelamento e 72 ºC para extensão. Porém, atualmente, todo esse processo foi automatizado e é realizado em um equipamento chamado termociclador, que, como o próprio nome indica, é um equipamento capaz de mudar rapidamente de temperatura, elevando ou diminuindo a temperatura em segundos, além de apresentar opções de programação para que os ciclos sejam repetidos pela quantidade de vezes necessária. Então, resumidamente, o conceito básico da técnica de PCR é baseado na desnaturação do fragmento de DNA, seguido do anelamento dos primers nas fitas desnaturadas e da extensão da nova fita pela DNA polimerase, sendo todo o processo realizado em ciclos repetidos (uma reação em cadeia) que proporcionam a amplificação da quantidade de fragmentos iguais ao fragmento de interesse para o estudo (Figura 11). Diante disso, você pode se perguntar: “como essa quantidade de material genético amplificado pode ser analisada?”, “em quais aplicações a técnica de PCR pode ser aplicada?”, “que tipo de informações a amplificação de um fragmento de DNA pode fornecer?”, entre outras tantas questões que tentaremos discutir ao longo deste tópico. 3 TRANSCRIÇÃO REVERSA Uma das técnicas de biologia molecular bastante utilizada na pesquisa de expressão diferencial de genes é uma adaptação da PCR chamada de RT-PCR, que, na verdade, é simplesmente uma reação de transcrição reversa seguida de uma PCR. Ainda não falamos sobre a transcrição reversa, mas não vai ser tão difícil entender como ela funciona se lembrarmos que, para que um gene seja expresso, ele deve ser transcrito emmRNA, o qual, por sua vez, carregará a informação contida no gene para que seja traduzida no citoplasma, proporcionado a síntese proteica. Esta é a chave da 24 questão: se desejamos avaliar a expressão diferencial de um gene, por exemplo, em diferentes tecidos de um mesmo organismo, é preciso que se avalie o mRNA contido nesse tecido (pois é ele que será traduzido em proteínas) – e não o DNA genômico, já que o DNA genômico carrega a informação de todos os genes de um organismo e em todas as suas células, não sendo representativo da expressão de algum gene específico. Para a avaliação da expressão diferencial, é preciso avaliar o mRNA. Pode-se pensar que basta proceder com a extração do mRNA de interesse e prosseguir com sua amplificação na PCR, mas precisamos entender e relembrar que a DNA polimerase utilizada na PCR não consegue atuar em uma molécula de fita simples, como a de um RNA, para executar a extensão. Sendo assim, para que ocorra a síntese de uma fita dupla que possa servir de molde para a DNA polimerase, deve ser executada a reação de transcrição reversa. Portanto, a transcrição reversa é um passo essencial quando se objetiva amplificar na PCR um fragmento de polinucleotídeos oriundo de uma fita simples de RNA. A transcrição reversa é uma reação que ocorre pela ação da enzima transcriptase reversa ou RT. Essa enzima é uma DNA polimerase dependente de RNA, ou seja, ela é capaz de sintetizar uma fita de DNA utilizando como molde a fita simples de RNA. Sua descoberta se deu a partir da observação de que, quando os retrovírus, cujo material genético é um RNA, infectam um hospedeiro, o RNA viral é convertido em DNA. A reação de transcrição reversa é bastante similar àquela descrita na PCR, sendo necessário, para tanto, a adição de oligonucleotídeos sintéticos, da enzima transcriptase reversa, do coquetel contendo os quatro dNTPs, da amostra de RNA e de cofatores enzimáticos. Para a reação de RT (Figura 12), todo o conteúdo de RNA deve ser extraído da amostra de interesse. Para que o gene de interesse seja estudado, todo o conteúdo de RNAs deve ser retrotranscrito em DNA, formando o chamado DNA complementar ou cDNA. Ou seja, toda a população de RNAs expressa naquela amostra, naquele momento, será convertida em cDNA. Para tanto, os oligonucleotídeos adicionados, ou primers, devem apresentar a capacidade de se anelar à maior parte das moléculas de RNA disponíveis na amostra, permitindo, assim, que a transcriptase reversa forme a dupla fita baseada no molde desses RNAs. Um exemplo desses oligonucleotídeos são os chamados oligodT, que são fitas polinucleotídicas curtas, formadas pelo nucleotídeo T, capazes de se anelar à cauda poli A presente na maioria dos mRNAs. A transcrição reversa, assim como a PCR, depende da submissão das amostras à temperatura ideal para o anelamento dos primers e extensão das fitas. No entanto, ela não é realizada em ciclos, pois é necessário que apenas uma fita de cDNA correspondente a cada mRNA seja polimerizada. Assim, a partir do momento em que o RNA está convertido em cDNA, ele já pode ser utilizado na PCR e, nessa etapa, com a utilização dos primers específicos para o gene de interesse, apenas o cDNA formado a partir do mRNA desse gene será amplificado. 25 FIGURA 12 – TRANSCRIÇÃO REVERSA FONTE: Adaptado de Alberts et al. (2008). 4 PCR QUALITATIVO VS. PCR QUANTITATIVO Agora que você já sabe que a técnica de PCR produz uma série de cópias de um determinado fragmento de DNA ou cDNA de uma maneira bastante rápida e eficiente, vamos discutir um pouco sobre como essa reação pode fornecer dados que serão avaliados em uma pesquisa. Nesse sentido, a primeira pergunta a se fazer é: qual o objetivo da pesquisa. Por exemplo, se você estiver estudando a expressão de um gene, é importante saber se ele apenas está sendo expresso em determinado tecido ou tipo celular, ou se é necessário que se obtenha a informação do quanto esse gene está expresso diferente nessas amostras? Respondendo a essa pergunta, é possível definir se a PCR que melhor se aplica ao seu objetivo é qualitativa ou quantitativa. Uma PCR qualitativa é aquela que vai indicar a presença de um fragmento específico de DNA ou cDNA em uma amostra, sem fornecer dados numéricos relativos ao quanto o gene estava expresso. Essa técnica é bastante simples e basicamente se resume à execução dos ciclos de desnaturação, anelamento e extensão, já descritos em maiores detalhes, e, posteriormente, a visualização do produto resultante da amplificação. Para a visualização das cópias obtidas, é necessário submeter as amostras a uma eletroforese em gel e corá-las para a visualização, por exemplo, utilizando o brometo de etídio. Dessa forma, é possível observar se as amostras em estudo apresentam o gene que se buscou amplificar. Ainda, de maneira indireta, é possível, de certa forma, comparar a expressão de um gene em diferentes condições ou amostras por meio da visualização das bandas no gel. Existem programas computacionais capazes de mensurar a área que cada uma 26 das amostras ocupa no gel e, assim, compará-las, indicando possíveis aumentos ou diminuições na expressão do gene. No entanto, para uma avaliação mais confiável da diferença nos níveis de expressão de um gene, utilizamos uma técnica mais eficiente e tão simples quanto a PCR qualitativa, a PCR quantitativa, também conhecida como PCR em tempo real, cuja sigla correta é qPCR. A qPCR é similar à PCR qualitativa. No entanto, ela fornece informações precisas relativas à quantidade de expressão da um gene, permitindo comparações entre amostras provenientes de diferentes condições, como, por exemplo, associadas a doenças, podendo até mesmo fornecer informações quanto ao número exato de cópias de um determinado fragmento de DNA ou cDNA que foram replicadas. No entanto, embora a reação da PCR seja igual àquela previamente descrita, o equipamento necessário para a qPCR é um termociclador associado a um detector capaz de quantificar a amplificação dos fragmentos de DNA ao final de cada ciclo, ou seja, em tempo real, justificando, assim, o motivo dessa técnica ser conhecida como PCR em tempo real. Para que o equipamento detecte o produto da amplificação, são adicionados corantes fluorescentes ou sondas específicas, capazes de emitir fluorescência quando se encontram ligados ou intercalados à fita de DNA no meio de reação da PCR. Dessa forma, a cada nova fita formada, a fluorescência emitida pela amostra é detectada, sendo proporcional à quantidade de material disponível para iniciar a amplificação. Assim, após a detecção ao longo de sucessivos ciclos, é possível visualizar, por meio das curvas de amplificação, e numericamente comparar a expressão do gene de interesse, por meio dos Cts (do inglês cycle threshold). Após a estabilização da reação, o equipamento é capaz de determinar em que momento a fluorescência detectada é apenas proveniente das amostras que estão sendo amplificadas (ignorando o ruído, chamado de background) e, assim, determinar a linha de corte ou threshold. Assim, quando (em qual ciclo de amplificação) a fluorescência emitida por uma amostra alcança a fluorescência determinada pela linha de corte, demonstrando o momento em que a fluorescência apresentada está livre de ruídos, sendo essencialmente a representação da amplificação da amostra teste, é determinado o Ct desta amostra. Dessa forma, observando as curvas de amplificação, é possível determinar em qual ciclo de amplificação cada uma das amostras atingiu o threshold. De maneira simplificada, quanto menor o Ct de uma amostra, maior a quantidade de material estava disponível para iniciar a amplificação do fragmento de interesse (Figura 13). Você sabia que um dos primeiros testes diagnósticos para a detecção do coronavírus (COVID-19) é uma PCR, mais especificamente uma RT-qPCR? Saiba mais consultando https://www.youtube.com/watch?v=8ki-tVdVO1E&t=16s e https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/03/17/saiba-como-funciona-o-pcr-o-exame-que-detecta-o-novo-coronavirus.htm. DICA 27 FIGURA 13 – CURVA DE AMPLIFICAÇÃO DA PCR QUANTITATIVA (QPCR) - CT = CYCLE THRESHOLD FONTE: A autora. Mais detalhes sobre as técnicas da PCR e qPCR podem ser facilmente encontrados em artigos científi cos, como: Bustin et al., 2009; Moreira, 2015; Pabinger et al., 2014; e Pfaffl , 2004. DICA 28 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O princípio que norteou o desenvolvimento da técnica da PCR foi a observação de como o processo de replicação ocorre in vivo, sendo considerado o princípio da replicação semiconservativa do DNA, e a ação de diversas enzimas, como a DNA polimerase. • Para que ocorra a PCR, é necessário que a fita dupla de DNA seja desnaturada, que os primers se anelem às fitas simples e que a DNA polimerase faça a extensão da nova fita por meio da inclusão dos dNTPs complementares à fita molde. • A transcrição reversa é uma reação de formação de uma fita dupla de DNA a partir do molde uma fita simples de RNA. o DNA formado é chamado de DNA complementar ou cDNA e a DNA polimerase responsável pela reação é a Transcriptase reversa. • Existem diferentes tipos de PCR, a qualitativa ou convencional e a quantitativa ou qPCR. Na qualitativa, o material amplificado pode ser observado apenas ao final da reação por meio de eletroforese em gel, enquanto na quantitativa, a amplificação é detectada em tempo real por meio de fluorescência e fornece dados numéricos relativos à quantidade de material que está sendo amplificado na reação. 29 1 Explique como ocorre cada uma das etapas da PCR e sua função para a reação como um todo. 2 Quais componentes são indispensáveis para a PCR? a) ( ) Fita molde de DNA, oligodT, Transcriptase reversa e dNTPs. b) ( ) Fita molde de RNA, oligodT, Transcriptase reversa e dNTPs. c) ( ) Fita molde de RNA, primers, DNA polimerase e dNTPs. d) ( ) Fita molde de DNA, primers, DNA polimerase e dNTPs. 3 Por que a reação de transcrição reversa é importante para estudos de expressão de um gene? 4 Explique como acontece a qPCR e qual sua principal diferença em relação à PCR qualitativa. AUTOATIVIDADE 30 31 TÓPICO 3 - BIBLIOTECAS DE DNA E CDNA 1 INTRODUÇÃO Como você deve se lembrar, discutimos no Tópico 1 sobre o isolamento de DNA. É relativamente simples isolar um determinado fragmento de DNA que contenha o gene de interesse, simplesmente utilizando algumas das ferramentas e técnicas já abordadas, como a clivagem do DNA genômico com enzimas de restrição e posteriormente isolando e purificando o fragmento de interesse dos demais fragmentos por meio de uma eletroforese em gel. Realmente, esse processo é simples quando se trata do isolamento de um gene pertencente a um organismo com o DNA genômico pequeno, composto por alguns milhares de nucleotídeos, pois, nesse caso, a aplicação de enzimas de restrição produziria poucos fragmentos facilmente separáveis. No entanto, quando se trata de organismos com o genoma mais complexo, compostos por centenas de milhares de nucleotídeos, com sequências codificantes para uma infinidade de diferentes genes, a fragmentação desses DNAs genômicos com enzimas de restrição produz uma quantidade tão grande de fragmentos que, mesmo em um gel bastante extenso, torna- se inviável o isolamento e a purificação de apenas um gene específico. Você já deve estar ciente de que, atualmente, diversos organismos, incluindo os seres humanos, têm seus genes estudados por diversos grupos de pesquisa, o que inclusive tem trazido avanços significativos, por exemplo, para as áreas da biologia e da medicina, elucidando mecanismos e causas de diversas síndromes e doenças. Nesse sentido, fica fácil imaginar que o problema da fragmentação e isolamento de genes provenientes de um DNA genômico complexo foi resolvido. Isso foi possível com o advento das chamadas bibliotecas de DNA, pois, com essa técnica, houve a simplificação do processo de isolamento e purificação de um gene presente em uma população de fragmentos de DNA. O termo biblioteca se aplica perfeitamente ao processo, pois, com essa técnica, é produzida uma coleção de fragmentos facilmente identificáveis, nos quais pode-se fazer uma busca por um gene específico e prosseguir com a amplificação e outros estudos com uma amostra purificada para tal gene. Assim, pode-se dizer que a construção de uma biblioteca de DNA pode ser o primeiro passo para o isolamento de um gene específico. UNIDADE 1 32 2 BIBLIOTECA DE DNA OU GENÔMICA Para a construção de uma biblioteca de DNA, são aplicadas as técnicas de clivagem com enzimas de restrição e clonagem em vetor, as quais já foram discutidas no Tópico 1, no entanto, com uma abordagem um pouco diferenciada, como iremos descobrir. O primeiro passo para formar uma biblioteca de DNA é extrair e isolar o DNA genômico de uma célula, tecido ou até mesmo de um organismo. Em seguida, o DNA extraído é clivado com uma enzima de restrição, formando centenas a milhares de fragmentos de DNA, os quais, por sua vez, são inseridos em vetores idênticos, que foram clivados com a mesma enzima, permitindo, assim, que as extremidades complementares dos fragmentos de DNA e dos vetores sejam unidas por meio da ação da enzima DNA ligase. Nessa etapa do processo, espera-se que cada fragmento formado pela clivagem se ligue a um vetor, formando uma grande população de vetores, cada um contendo um diferente fragmento originado do DNA genômico isolado. Após a ligação com o vetor, a biblioteca em si é formada por meio da transformação, ou seja, da inserção desses vetores em células hospedeiras, como em células da bactéria E. coli, procedendo com a clonagem dos diferentes fragmentos (Figura 14). FIGURA 14 – ESQUEMA DA FORMAÇÃO DE UMA BIBLIOTECA DE DNA FONTE: Adaptado de Alberts et al. (2008) 33 Sabe-se que, em geral, cada bactéria internaliza apenas um vetor. Assim, após a diluição das bactérias e sua aplicação em placas de cultivo, cada colônia formada terá apenas células contendo um dos fragmentos de DNA. Desse modo, por meio do rápido processo de multiplicação celular da E. coli, em poucas horas serão formados diversos clones dos fragmentos inseridos, sendo cada um encontrado em uma diferente colônia de crescimento. Com a formação das diversas colônias bacterianas, cada uma contendo um dos diferentes fragmentos de DNA, a biblioteca estará formada e nela poderão ser buscados fragmentos específicos de DNA, utilizando, por exemplo, a técnica de hibridização. A identificação de uma colônia de bactérias que contenha um fragmento específico de DNA por meio da hibridização, aqui chamada de hibridização em colônia, é bastante semelhante às técnicas previamente descritas do Southern e Northern- blot. Basicamente, após o crescimento das colônias bacterianas em placas de cultivo contendo meio sólido, uma membrana é utilizada para coletar uma pequena porção das células presentes em cada uma das colônias. Nessa etapa, a membrana é colocada em contato com as colônias na placa, sendo que algumas das células presentes em cada uma dessas colônias se aderem à membrana, formando uma espécie de impressão das colônias presentes na placa. Essas células aderidas à membrana sofrem um processo de lise celular para que o DNA seja liberado, porém permaneça ainda aderido à membrana em posição relativa àquela da sua colônia de origem na placa. Após a exposição do DNA, a membrana é incubada com sondas de hibridização marcadas, complementares à uma porção do gene de interesse, as quais permitirão a visualização da posição dos clones que contenham o fragmento de interesse na membrana e, consequentemente, a posição da colônia que contenha esse gene na biblioteca de DNA (Figura 15). FIGURA 15 – HIBRIDIZAÇÃO EM COLÔNIA FONTE: Adaptado de Watson et al. (2015). 34 Com o uso da biblioteca de DNA, fragmentos de um mesmo DNA genômico podem ser mantidos por tempo indefinido, clonados, identificados e isolados paradiversas aplicações, como, por exemplo, o sequenciamento de todo o genoma. No entanto, quando o objetivo do estudo é a avaliação das sequências codificantes de um DNA, ou seja, dos genes, uma biblioteca de DNA pode apenas ser adequada para estudos em organismos cujo DNA apresente pequenas porções de DNA não codificante, pois, caso contrário, muitos dos fragmentos contidos na biblioteca não conterão sequências codificantes. Isso acontece, pois, com a clivagem do DNA genômico, são formados fragmentos de forma aleatória e, portanto, muitos deles apenas serão formados por sequências não codificantes, dificultando a identificação do gene de interesse. Assim, para que se obtenha uma biblioteca rica em fragmentos codificantes, ela deverá ser formada por cDNAs. 3 BIBLIOTECA DE CDNA A principal vantagem da utilização de bibliotecas de cDNA é justamente o fato de ela ser uma grande coleção de clones formados por genes, ou seja, todas as colônias de bactérias apresentam vetores com fragmentos codificantes. FIGURA 16 – PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE UMA BIBLIOTECA DE DNA E UMA BIBLIOTECA DE CDNA FONTE: Adaptado de Alberts et al. (2008). 35 A montagem de uma biblioteca de cDNA é bastante semelhante à montagem da biblioteca de DNA. No entanto, em vez de iniciar o processo com o DNA genômico, neste caso, o material a ser clonado é o mRNA. Assim, o primeiro passo para a formação da biblioteca de cDNA é a extração dos mRNAs, sendo expressos em determinado tipo celular, tecido ou organismo. Posteriormente, essa população de mRNAs deve ser retrotranscrita em cDNA, como já vimos no item 3 do Tópico 2. Após a formação do cDNA, a amostra está pronta para seguir com o processo de inserção no vetor com a posterior transformação em bactéria E. coli, formando os clones de cDNA. Novamente, assim como nas bibliotecas de DNA, cada bactéria formará uma colônia de clones de um determinado cDNA, os quais podem ser também identificados e isolados. Uma grande diferença da biblioteca de cDNA em relação à de DNA é que a biblioteca de DNA é formada por fragmentos aleatórios do DNA de um organismo, tecido ou célula, sendo que, via de regra, independentemente da célula ou tecido de um organismo, o DNA a ser fragmentado será idêntico. Por outro lado, como a biblioteca de cDNA é formada por mRNAs, cada tecido ou célula pode formar uma biblioteca diferente, pois cada um pode expressar diferentes genes de acordo com sua função. Assim, bibliotecas de cDNA originadas de células especializadas na produção de uma determinada proteína possivelmente apresentarão muitas colônias formadas pelo gene que codifica para ela. Por exemplo, uma biblioteca de cDNA produzida a partir de eritrócitos humanos será composta por muitas colônias de E. coli contendo vetores com o gene da hemoglobina. Essa abundância de determinado gene em uma biblioteca de cDNA, inclusive, torna-se uma vantagem no processo de identificação da colônia que contenha o cDNA que codifica para o gene de interesse. Outra característica importante das bibliotecas de cDNA é que, como já mencionado, os clones formados por ela apenas contêm regiões codificantes do DNA, ou seja, apenas são formados pelas sequências nucleotídicas dos éxons dos genes que estão sendo expressos (Figura 16). Essa característica é bastante explorada e utilizada para estudos que buscam a dedução das sequências de aminoácidos das proteínas codificadas por esses genes. Além disso, os clones formados em uma biblioteca de cDNA podem fornecer material para a síntese de grandes quantidades de uma determinada proteína por meio da manipulação de bactérias ou leveduras com a capacidade de expressar o gene de interesse. 36 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Bibliotecas de DNA ou cDNA são grandes coleções de material genético mantidas em colônias de bactérias, nas quais um fragmento específico de DNA ou um gene podem ser procurados. • Uma biblioteca de DNA é formada por fragmentos originados a partir de um DNA genômico. • Uma biblioteca de cDNA é formada por sequências codificantes dos genes que estavam expressos na forma de mRNA em uma determinada amostra. • A formação das bibliotecas de DNA e cDNA permite que fragmentos clonados sejam mantidos e replicados por tempo indeterminado. 37 1 Explique como o termo biblioteca se adéqua às técnicas de biblioteca de DNA e de cDNA. 2 Qual a principal diferença entre as bibliotecas de DNA e de cDNA? 3 Assim como no processo de clonagem descrito no Tópico 1, quais componentes são essenciais para a formação das bibliotecas de DNA? a) ( ) DNA, enzimas de restrição, DNA ligase, vetores e células hospedeiras. b) ( ) mRNA, enzimas de restrição, transcriptase reversa, termocicladores e células hospedeiras. c) ( ) DNA, enzimas de restrição, DNA polimerase, vetores e primers. d) ( ) mRNA, enzimas de restrição, DNA polimerase, vetores e células hospedeiras. 4 Como as técnicas de clonagem e de bibliotecas de DNA ou cDNA podem ser diferenciadas? Você consegue imaginar alguma diferença entre elas e entre suas aplicações? AUTOATIVIDADE 38 39 TÓPICO 4 - SEQUENCIAMENTO DE DNA 1 INTRODUÇÃO A definição de sequenciamento de DNA está bastante explicita no próprio nome, ou seja, esse é o processo em que é determinado qual nucleotídeo ocupa cada posição na fita de uma molécula ou de um fragmento de DNA. De maneira mais simples, é o método que determina a sequência dos nucleotídeos presentes em uma fita de DNA. As primeiras técnicas de sequenciamento de DNA começaram a ser aplicadas ainda na década de 70, com o advento da técnica proposta por Sanger, atualmente conhecida como método de Sanger. Com o passar dos anos, esse método foi aprimorado e automatizado, sendo chamado de método de Sanger automatizado. Assim, os métodos de Sanger são atualmente chamados de técnicas de sequenciamento de primeira geração. Com base nos princípios desse método pioneiro, na década seguinte foram desenvolvidos outros métodos de sequenciamento, como o método Shotgun, ainda considerados de primeira geração. De maneira geral, eles aumentaram a eficiência e agilidade do processo para que fragmentos maiores de DNA pudessem ser sequenciados, especialmente com os objetivos de otimizar e acelerar o projeto genoma. Já nos anos 2000, os métodos de sequenciamento alcançaram um novo nível de avanço, com o surgimento dos chamados métodos de sequenciamento de próxima geração (do inglês Next Generation Sequencing – NGS) ou métodos de segunda geração, os quais já não são mais baseados na técnica proposta por Sanger. Atualmente, já existem também os métodos conhecidos como sequenciamento de terceira geração, os quais são inovadores, pois são capazes de realizar o sequenciamento de apenas uma molécula de DNA sem que seja necessário amplificar a molécula a ser analisada. Por fim, pode-se considerar que também estamos diante das tecnologias de sequenciamento de quarta geração, a qual compreende o desenvolvimento de equipamentos portáteis e de menor custo, tornando a tecnologia do sequenciamento mais acessível para diversas áreas de atuação nas ciências biológicas e da saúde, inclusive em campo. UNIDADE 1 40 Embora as técnicas de sequenciamento tenham rapidamente avançado nas últimas décadas, é importante ressaltar que todas as técnicas supracitadas são amplamente utilizadas, inclusive nas áreas de pesquisa e diagnóstico, pois cada uma delas apresenta distintos benefícios e aplicações. Ainda, os avanços nas técnicas e estratégias de sequenciamento permitiram que, além do estudo dos genomas, sua utilização também fosse expandida ao campo das proteínas. Dessa forma, como facilmente tornou-se possível obter a sequência de nucleotídeos de um determinado gene, pode-se, de maneira indireta, determinar a sequência de aminoácidos (aa) da proteína codificada por esse gene. No entanto, é importante relembrar que, no DNA dos eucariotos, a sequência de nucleotídeos que codifica
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