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Indaial – 2021 Microbiologia e iMunologia aplicadas à odontologia Prof. Antonio Roberto Rodrigues Abatepaulo Profª. Marina Steinbach 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof. Antonio Roberto Rodrigues Abatepaulo Profª. Marina Steinbach Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: A119m Abatepaulo, Antonio Roberto Rodrigues Microbiologia e imunologia aplicadas à odontologia. / Antonio Roberto Rodrigues Abatepaulo; Marina Steinbach. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 268 p.; il. ISBN 978-65-5663-421-0 ISBN Digital 978-65-5663-417-3 1. Microbiologia. - Brasil. 2. Imunologia. – Brasil. I. Steinbach, Marina. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 617.6 apresentação Prezado acadêmico, seja bem-vindo ao Livro Didático de Microbiologia e Imunologia Aplicadas à Odontologia, que trata das interações entre os microrganismos existentes na cavidade oral de importância clínica e o sistema imunológico, ao longo do processo de desenvolvimento das principais patologias bucais. Na Unidade 1, serão discutidos temas relacionados ao mundo microbiano, como os principais estudos e pesquisas sobre sua descoberta, o reconhecimento das diferentes estruturas constituintes e a virulência de cada tipo de vida microbiológica. Serão estudadas as principais características de vírus, fungos e bactérias, e sua relação com os seres humanos na constituição da microbiota normal, além dos diversos tipos de agentes antimicrobianos e os mecanismos de ação que os tornam capazes de conter o crescimento microbiológico no decorrer das infecções, assim como os padrões de resistência às ações dos antimicrobianos de interesse odontológico. Na Unidade 2, serão apresentadas as principais descobertas históricas e a evolução dos constituintes e mecanismos de ação do sistema imunológico, frente aos processos infecciosos. Serão vistos os tipos de respostas imunológicas (inata e adquirida) e a importância da participação celular e humoral no combate aos agentes microbianos para a manutenção da integridade funcional de tecidos e órgãos. Vamos estudar a ineficiência ou exacerbação das respostas imunológicas de origem genética (primária/ permanente) ou adquirida (secundária/transitória) e suas consequências para o indivíduo. Na Unidade 3, aprenderemos sobre os micro-organismos de interesse clínico na Odontologia, a constituição da microbiota bucal e a importância do seu equilíbrio na prevenção das patologias bucais de origem microbiológica. Vamos conhecer os micro-organismos que atuam na formação da cárie dentária, da doença periodontal e das infecções endodônticas e os tipos de respostas imunológicas envolvidos na contenção dessas patologias. Por fim, estudaremos os diferentes métodos para desinfecção e esterilização de utensílios utilizados no dia a dia da prática odontológica. Prof. Antonio Roberto Rodrigues Abatepaulo Profª. Marina Steinbach Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE suMário UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA .............................................................................. 1 TÓPICO 1 — O MUNDO MICROBIANO ........................................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 ADENTRANDO AO MUNDO MICROBIANO ............................................................................ 3 2.1 DIVERSIDADE DE MICRO-ORGANISMOS ........................................................................... 15 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 18 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS MICRO-ORGANISMOS ..... 21 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21 2 CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS ....................................................................................... 21 2.1 MICROBIOTA NORMAL ............................................................................................................ 24 2.2 FUNGOS ........................................................................................................................................ 25 2.2.1 Citologia dos fungos ........................................................................................................... 28 2.3 VÍRUS ............................................................................................................................................. 30 2.3.1 Estrutura dos vírus .............................................................................................................. 34 2.3.2 Multiplicação viral ............................................................................................................... 38 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 41 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 42 TÓPICO 3 — BACTÉRIAS E ANTIMICROBIANOS DE INTERESSE CLÍNICO .................. 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45 2 ESTRUTURA BACTERIANA .......................................................................................................... 45 3 CITOLOGIA BACTERIANA ...........................................................................................................47 3.1 MEMBRANA CITOPLASMÁTICA ........................................................................................... 48 3.2 CITOPLASMA ............................................................................................................................... 50 3.3 PAREDE CELULAR BACTERIANA .......................................................................................... 53 3.4 GLICOCÁLICE .............................................................................................................................. 57 3.5 ANEXOS IMPORTANTES ........................................................................................................... 58 3.6 NUTRIÇÃO E CRESCIMENTO BACTERIANO ..................................................................... 58 4 ANTIMICROBIANOS ...................................................................................................................... 63 4.1 AGENTES ANTIBIÓTICOS ......................................................................................................... 64 4.2 AGENTES ANTIFÚNGICOS ...................................................................................................... 67 4.3 AGENTES ANTIVIRAIS .............................................................................................................. 69 5 RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS................................................................................ 70 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 71 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 76 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 78 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 80 UNIDADE 2 — BASES DA IMUNOLOGIA ................................................................................... 83 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À IMUNOLOGIA .......................................................................... 85 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 85 2 HISTÓRICO ........................................................................................................................................ 85 3 CONSTITUINTES DO SISTEMA IMUNOLÓGICO ................................................................. 91 3.1 CÉLULAS CONSTITUINTES DO SISTEMA IMUNOLÓGICO ............................................ 92 3.1.1 Neutrófilos ........................................................................................................................... 93 3.1.2 Eosinófilos ............................................................................................................................ 94 3.1.3 Basófilos ............................................................................................................................... 95 3.1.4 Monócitos ............................................................................................................................. 95 3.1.5 Macrófagos .......................................................................................................................... 96 3.1.6 Células dendríticas .............................................................................................................. 96 3.1.7 Mastócitos ............................................................................................................................ 97 3.1.8 Células natural killer – NK .................................................................................................. 98 3.1.9 Linfócitos ............................................................................................................................... 98 3.2 MOLÉCULAS CONSTITUINTES DO SISTEMA IMUNOLÓGICO ................................... 101 3.2.1 Anticorpos ........................................................................................................................... 101 3.2.2 Sistema complemento ....................................................................................................... 104 3.2.2.1 Por que essas proteínas não lisavam nossas próprias células? Como seria esse processo de lise bacteriana? ............................................................ 105 3.3 ÓRGÃOS CONSTITUINTES DO SISTEMA IMUNOLÓGICO............................................ 105 3.3.1 Órgãos linfoides centrais, primários ou principais ....................................................... 106 3.3.1.1 Medula óssea ................................................................................................................... 106 3.3.1.2 Timo .................................................................................................................................. 110 3.3.2 Órgãos linfoides periféricos ou secundários ................................................................. 114 3.3.2.1 Linfonodos ....................................................................................................................... 115 3.3.2.2 Baço ................................................................................................................................... 116 3.3.2.3 Tecido linfoide associado à mucosa (MALT) .............................................................. 117 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 120 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 121 TÓPICO 2 —RESPOSTAS IMUNES INATA E ADQUIRIDA ................................................... 123 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 123 2 FUNCIONALIDADES DO SISTEMA IMUNE INATO E ADQUIRIDO ............................. 124 2.1 ESPECIFICIDADE DE RESPOSTA ........................................................................................... 125 2.2 DIVERSIDADE CELULAR ........................................................................................................ 127 2.3 MEMÓRIA IMUNOLÓGICA ................................................................................................... 128 2.4 TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA ............................................................................................ 129 3 PROCESSO INFLAMATÓRIO E MECANISMOS ENVOLVIDOS NA RESPOSTA IMUNOLÓGICA .............................................................................................................................. 131 3.1 RESPOSTA AO PROCESSO INFECCIOSO............................................................................. 135 3.2 RESPOSTA IMUNE CONTRA BACTÉRIAS EXTRACELULARES .................................... 152 3.3 RESPOSTA IMUNE CONTRA BACTÉRIAS INTRACELULARES ..................................... 153 3.4 RESPOSTA IMUNE CONTRA VÍRUS ..................................................................................... 154 3.5 RESPOSTA IMUNE CONTRA HELMINTOS ........................................................................ 155 3.6 RESPOSTA IMUNE CONTRA FUNGOS ................................................................................ 155 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 156 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 157 TÓPICO 3 — DISTÚRBIOS IMUNOLÓGICOS: HIPERSENSIBILIDADE, AUTOIMUNIDADE E IMUNODEFICIÊNCIA................................................... 159 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 159 2 HIPERSENSIBILIDADE E AUTOIMUNIDADE ...................................................................... 159 2.1 HIPERSENSIBILIDADE TIPO I ............................................................................................... 161 2.2 HIPERSENSIBILIDADE TIPO II............................................................................................... 164 2.3 HIPERSENSIBILIDADE TIPO III ............................................................................................. 165 2.4 HIPERSENSIBILIDADE TIPO IV ............................................................................................. 165 3 IMUNODEFICIÊNCIA ................................................................................................................... 167 3.1 IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA ......................................................................................... 167 3.1.1 Imunodeficiência primária inata ..................................................................................... 167 3.1.1.1 Doença granulomatosa crônica ..................................................................................... 167 3.1.1.2 Síndrome de Chediak-Higashi ..................................................................................... 168 3.1.2 Imunodeficiência primária linfocitária ........................................................................... 168 3.1.2.1 Imunodeficiência combinada grave ............................................................................. 168 3.1.2.2 Agamaglobulinemia ligada ao X .................................................................................. 169 3.1.2.3 Síndrome de DiGeorge .................................................................................................. 169 3.2 IMUNODEFICIÊNCIA SECUNDÁRIA .................................................................................. 169 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 174 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 182 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 183 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 185 UNIDADE 3 — MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA ORAL ................................................. 191 TÓPICO 1 — O ECOSSISTEMA BUCAL E A MICROBIOLOGIA E A IMUNOLOGIA DA CÁRIE DENTÁRIA ............................................................................................ 193 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 193 2 ECOSSISTEMA E ECOLOGIA BUCAL ...................................................................................... 193 3 MICROBIOTA BUCAL ................................................................................................................... 195 4 MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA DA CÁRIE DENTÁRIA ........................................... 198 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 209 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 210 TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA DE PATOLOGIAS ODONTOLÓGICAS COMUNS ............................................................................. 211 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 211 2 MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA DAS DOENÇAS PERIODONTAIS ....................... 211 3 MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA DAS INFECÇÕES ENDODÔNTICAS .................. 225 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 236 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 238 TÓPICO 3 — AÇÕES PREVENTIVAS E PROFILÁTICAS EM ODONTOLOGIA ............... 239 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 239 2 PROCESSOS DE DESINFECÇÃO ............................................................................................... 239 2.1 ÁLCOOL ETÍLICO .................................................................................................................... 244 2.2 GLUTARALDEÍDO .................................................................................................................... 245 2.3 COMPOSTOS FENÓLICOS ...................................................................................................... 245 2.4 HIPOCLORITO DE SÓDIO ....................................................................................................... 246 2.5 PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO .............................................................................................. 246 2.6 ÁCIDO PERACÉTICO .............................................................................................................. 246 3 PROCESSOS DE ESTERILIZAÇÃO ........................................................................................... 247 3.1 ESTERILIZAÇÃO POR VAPOR SATURADO SOB PRESSÃO ........................................... 248 3.2 ESTERILIZAÇÃO POR CALOR A SECO .............................................................................. 251 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................................... 253 RESUMO DO TÓPICO 3.................................................................................................................. 259 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................................... 260 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 261 1 UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer a trajetória da descoberta e estudo dos micro-organismos; • distinguir os micro-organismos procariotos e eucariotos; • identificar as características específicas dos componentes dos Reinos; • diferenciar paredes celulares Gram-positivas e Gram-negativas; • descrever a estrutura bacteriana; • compreender os antimicrobianos e a resistência microbiana. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O MUNDO MICROBIANO TÓPICO 2 – CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS MICRO- ORGANISMOS TÓPICO 3 – BACTÉRIAS E ANTIMICROBIANOS DE INTERESSE CLÍNICO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 O MUNDO MICROBIANO 1 INTRODUÇÃO A cada semestre, você começa novas disciplinas e, com isso, aparecem pensamentos curiosos do tipo “o que será que vamos aprender agora?”. Algumas ciências trazem no próprio nome dicas do que será estudado, como é o caso da microbiologia. Não é muito difícil imaginar que iremos estudar seres microscópicos, porém não se deixe enganar pelo seu tamanho, pois sua importância nada tema ver com o espaço que esses seres ocupam no universo. Neste tópico, vamos estudar alguns conceitos básicos da microbiologia, importantes para a compreensão dos próximos assuntos a serem abordados neste livro e em diversas outras disciplinas do curso de Graduação em Odontologia, principalmente aquelas que se referem ao uso de antibióticos e que tratam das especialidades odontológicas, retratando a biossegurança no dia a dia do cirurgião-dentista. A microbiologia está presente na maioria das disciplinas do curso, de forma direta ou indireta, por isso é importante que você assimile muito bem esses conceitos básicos, pois serão o alicerce da construção de muitos conhecimentos futuros. 2 ADENTRANDO AO MUNDO MICROBIANO A palavra microbiologia tem origem do idioma grego: mikros (pequeno), bios (vida) e logos (ciência). Essa ciência se preocupa em estudar espécimes microscópicos de vida e suas atividades, estando, entre eles, as bactérias, os fungos, os vírus, os protozoários e as algas microscópicas (JORGE, 2012). Os estudiosos da área deduzem que os micro-organismos são originários de um material orgânico complexo, originado dentro dos oceanos ou, até mesmo, de nuvens que pairavam sobre o nosso planeta há mais ou menos 4 bilhões de anos, sendo os primeiros sinais de vida na Terra e, portanto, considerados os ancestrais de todas as outras formas de vida (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Todos esses seres são unicelulares (exceto o vírus, que é acelular – como será visto adiante), logo, todos os processos vitais desses micro-organismos, desde a simples captação de substâncias para a obtenção de energia até as mutações que acontecem dentro de uma única célula. Eles se diferenciam dos organismos UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA 4 macroscópicos, como os animais e as plantas, em dois pontos principais: o fato de serem unicelulares, enquanto os outros são multicelulares, e não necessitarem de outras células para realizarem suas funções básicas de manutenção, enquanto os multicelulares não conseguem sobreviver na natureza sem a ajuda de outros (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004). Dessa maneira, os micro-organismos podem se reproduzir, ingerir ou absorver substâncias alimentares, excretar produtos tóxicos, reagir ou se adaptar às modificações do meio ambiente e realizar mutações, tudo a partir de uma única célula (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Esses micro-organismos não podem ser vistos a olho nu, por isso, somente no século XVII, a partir do desenvolvimento do microscópio, é que se teve notícias sobre esse tipo de vida. Apesar de ter sido muito contestada, a invenção do microscópio óptico foi atribuída a Galileu Galilei, que aperfeiçoou o instrumento montado pelos fabricantes de óculos Hans Janssen e Zacharias Janssen, considerados por muitos como os verdadeiros inventores do microscópio. No entanto, somente em 1674, com a construção do microscópio de lentes primitivas de vidro pelo holandês Antony van Leeuwenhoek (1632- 1723), que atingia um aumento de até 300 vezes, é que uma bactéria foi vista pela primeira vez (SÁNCHEZ; OLIVA, 2015). Ao contrário do que você deve imaginar, Antony van Leeuwenhoek não era um cientista estudioso da área biológica, mas, sim, um curioso nato. Na verdade, ele era zelador da prefeitura e possuía uma mercearia, além de ser provador oficial de vinhos na cidade de Delf, na Holanda. Antony gostava de polir e montar lentes de vidro entre placas de bronze ou prata, formando microscópios simples – era um hobby dele. Leeuwenhoek costumava utilizar esse protótipo de microscópio para observar fibras e tecelagem de roupas (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Ao utilizar seu microscópio para “bisbilhotar” águas de rio, saliva, fezes, amostra de sangue, entre outros, ele encontrou diversos organismos pequenos, móveis e imóveis, que foram descritos como “pequenos animáculos” (hoje, conhecidos como protozoários), pois ele acreditava que eram pequenos animais vivos. Leeuwenhoek relatou e desenhou tudo o que viu e, posteriormente, enviou cartas à Sociedade Real Inglesa com dizeres como: “Descobri, numa minúscula gota d’água, um incrível número de pequeníssimos animáculos, de formas e tamanhos diversos. Eles se moviam por meio de ondulações, nadando sempre com a cabeça para a frente, nunca ao contrário” (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). TÓPICO 1 — O MUNDO MICROBIANO 5 FIGURA 1 – ANTONY VAN LEEUWENHOEK E SEU MICROSCÓPIO EXTREMAMENTE SIMPLES, MAS QUE O PERMITIU VISUALIZAR GLÓBULOS VERMELHOS, ESPERMATOZOIDES, BACTÉRIAS, FUNGOS E PROTOZOÁRIOS HÁ MAIS DE 300 ANOS FONTE: <http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n2/v45n2a01.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2020. A primeira descrição realizada de uma bactéria estava em uma das mais de 300 cartas que Leeuwenhoek enviou para a Inglaterra, que, inclusive, foi observada a partir de uma substância removida de seus dentes, na qual ele observou a presença de bacilos, cocos, bactérias espiraladas. Observe, no tracejado da Figura 2 (entre as letras C e D), de autoria do próprio Leeuwenhoek, que, além de ter demostrado o formato que esses “animáculos” apresentavam, ele também indicou o tipo de movimento que eles realizavam durante suas observações pelo microscópio (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). FIGURA 2 – DESENHOS DOS “ANIMÁCULOS” DE LEEUWENHOEK FONTE: <https://www.madrimasd.org/blogs/microbiologia/wp-content/blogs.dir/110/fi- les/1431/o_Leeuwenhoek.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2020. UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA 6 Após revelar para o mundo a existência desses “animáculos”, a comunidade científica começou a questionar de onde vinham esses pequeninos seres. Por muito tempo, estudiosos e filósofos acreditavam que algumas formas de vida poderiam ter origem a partir da putrefação da matéria orgânica, denominando de geração espontânea. Pode parecer estranho, mas, não mais de 100 anos atrás, acreditava-se que alguns seres “nasciam” espontaneamente de algumas substâncias naturais, como as moscas do estrume, os sapos e os camundongos do solo úmido e as larvas de moscas de matérias em decomposição (SANCHES; SILVA; MALACARNE, 2017). Durante alguns anos, diversos cientistas tentaram provar tanto a veracidade da teoria da geração espontânea quanto a farsa que alguns acreditavam que ela representava. Contudo, somente em 1861, após de engenhosos experimentos, Louis Pasteur conseguiu comprovar que, na verdade, eram os micro-organismos que estavam presentes no ar contaminavam as substâncias estéreis e, a partir desse momento, passavam a se desenvolver, e não o ar ou a matéria orgânica seriam capazes de criá-los sozinhos (FRAZÃO, 2019). Pasteur colocou caldo de carne em vários frascos que tinham uma saída em formato de pescoço curto e ferveu o conteúdo. Alguns esfriaram abertos e outros ele vedou logo após a fervura. Em alguns dias, os frascos vedados continuavam sem micro-organismos, enquanto os que ficaram abertos estavam contaminados. Em um segundo experimento, Pasteur colocou um meio de cultura em frascos que ficaram conhecidos como “pescoço de cisne”, devido à saída em formato de pescoço longo, que ele curvou em formato de “S”. Posteriormente, os conteúdos dos frascos foram fervidos e, depois, resfriados. Mesmo após terem ficado abertos durante meses, os frascos não apresentaram sinais de contaminação em seu interior, pois, apesar desse modelo possibilitar a entrada de ar, o formato de pescoço curvado segurava todos os micro-organismos que poderiam contaminar o meio de cultura (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). A Figura 3 mostra um frasco dos vários outros utilizados por Louis Pasteur que estão expostos, até hoje, no museu Pasteur, em Paris, França. Eles foram lacrados, mas, mesmo após 150 anos do experimento, não apresentam sinais de contaminação. O museu é no apartamento onde Pasteur morava e preserva artefatos utilizados em experimentos, microscópios, autoclaves, móveis, fotos, entre outros artigos originais. Para saber mais sobre o museu, acesse: https://www.pasteurfoundation.org/about/pasteur-museum.INTERESSA NTE TÓPICO 1 — O MUNDO MICROBIANO 7 FIGURA 3 – FRASCO UTILIZADO NO EXPERIMENTO, EXPOSTO NO MUSEU PASTEUR FONTE: <https://www.pasteurfoundation.org/about/pasteur-museum>. Acesso em: 27 nov. 2020. As contribuições de Louis Pasteur para a microbiologia são diversas, como a comprovação de que a vida microbiana pode estar presente em matérias não vivas, como superfícies e no próprio ar. Ele também foi capaz de demonstrar que o calor pode matar os micro-organismos e que existem formas de impedir que os micro-organismos do ar entrem em contato com meios de cultura. Suas descobertas deram origem às técnicas de assepsia, que impedem a proliferação de micro-organismos indesejados, utilizadas diariamente em hospitais, clínicas e consultórios (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Todavia, nessa época, pouco se pensava sobre o que esses micro-organismos poderiam causar além de “contaminar” e se multiplicar em matérias orgânicas e inorgânicas. Somente após comerciantes solicitarem que Pasteur descobrisse o porquê de o vinho e a cerveja azedarem, para que pudessem desenvolver uma forma de transportá-los durante longas distâncias sem perder o produto, os cientistas começaram a associar os micro-organismos às doenças. Até então, acreditava-se que as enfermidades eram punições por pecados, crimes ou algo de errado que as pessoas pudessem ter feito, assim como também se pensava que o contato com o ar transformava o açúcar dessas bebidas em álcool. Entretanto, Pasteur descobriu que, na verdade, eram micro-organismos que faziam essa transformação e na ausência de ar (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). A saída que Pasteur encontrou para o problema foi aquecer o vinho e a cerveja até matar a maioria das bactérias que causava a deterioração das bebidas. Esse método ficou conhecido como pasteurização, devido ao sobrenome do seu inventor, e é largamente utilizado hoje em dia na indústria alimentícia, principalmente no leite e nas bebidas alcoólicas. A descoberta de que a presença de micróbios provocava mudanças físico-químicas na matéria orgânica, ou seja, estragava os alimentos, foi essencial para começar a pressupor que existia alguma relação entre os micro-organismos e as doenças (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA 8 As pesquisas de Louis Pasteur não se limitaram apenas a essa área das ciências biológicas. Na Unidade 2, iremos estudar outras grandes contribuições desse cientista francês para a Imunologia, então grave bem esse nome. ESTUDOS FU TUROS Como, hoje em dia, a influência dos micro-organismos no desenvolvimento de doenças já está comprovada cientificamente, pode parecer óbvio, aos nossos olhos, que eles sejam causadores de diversas enfermidades, mas, para quem vivia naquela época, era muito difícil acreditar que “seres invisíveis” poderiam “voar” e infectar animais, pessoas, plantas etc. Logo, por muito tempo, houve certa resistência a essas teorias, mas, com o passar dos anos, algumas pesquisas e experimentos foram realizados, com base em experiências e observações anteriores para desvendar todos esses mistérios. Um exemplo dessas observações foi realizado pelo médico húngaro Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865), que percebeu que havia uma grande diferença na taxa de morte por febre puerperal (um tipo de infecção que ocorre após o parto) entre duas clínicas de obstetrícia existentes no Hospital Geral de Viena, local onde trabalhava. A clínica, frequentada por estudantes de Medicina que aprendiam a realizar parto e autopsias, possuía uma taxa muito mais alta dessas mortes do que a frequentada por mulheres que estavam aprendendo a ser parteiras (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004). Analisando as diferenças, Semmelweis notou que, somente na sala dos estudantes de Medicina, eram realizadas autópsias e também que o ambiente não era tão limpo e bem cuidado quanto à sala dos aprendizes a parteiras. Contudo, o ponto crucial para concluir algo muito importante foi quando seu colega de trabalho, o médico e professor Kolletschka, acabou por se cortar com um bisturi e foi contaminado por partículas “cadavéricas”, como ele chamou à época, e faleceu pela mesma doença que as parturientes. A partir de então, Semmelweis começou a imaginar que a diferença entre a mortalidade das duas clínicas de obstetrícia estava exatamente nos bisturis e nas mãos dos estudantes de Medicina, que continham essas partículas, o que não acontecia no caso das parteiras que não realizavam autópsia (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004). Com base em suas observações, o médico húngaro sugeriu que, na sala onde eram realizados partos e autópsias, os profissionais lavassem as mãos com hipoclorito de cálcio, que já era utilizado para lavar os cadáveres, a fim de reduzir o seu odor forte. Desde então, as mortes por febre puerperal tiveram uma redução muito grande, comprovando que a ideia dele estava correta (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004). TÓPICO 1 — O MUNDO MICROBIANO 9 FIGURA 4 – PINTURA DE ROBERT THOM MOSTRANDO SEMMELWEIS ENSINANDO A LAVAR AS MÃOS COM HIPOCLORITO DE CÁLCIO FONTE: <https://tmedweb.tulane.edu/clubs/homs/2018/05/13/homs-perspective-basic-infec- tious-diseases-block/>. Acesso em: 27 nov. 2020. Essas descobertas foram muito importantes, visto que, até hoje, a lavagem de mãos é considerada a forma mais eficaz para se evitar a disseminação de infecções. Sem dúvida, as técnicas mais complexas de profilaxia e assepsia envolvendo substâncias químicas são imprescindíveis no dia a dia da clínica Odontológica, mas a lavagem de mãos é uma medida simples e barata que faz toda a diferença não só em ambientes hospitalares, mas também no nosso dia a dia. Mais ou menos 20 anos depois da descoberta de Semmelweis, considerando tanto as conclusões dele quanto as de Pasteur sobre a influência dos micro- organismos nas enfermidades, o cirurgião inglês Joseph Lister leu, em alguns trabalhos científicos, que o ácido carbórico (hoje chamado de fenol) era muito efetivo para evitar o apodrecimento de madeiras. Assim, ele resolveu utilizar essa substância para lavar os instrumentos e as vestimentas usadas em cirurgias, e passar nas feridas pós-cirúrgicas, a fim de diminuir as altas taxas de gangrena que sempre o inquietaram, e obteve sucesso muito grande nessa tentativa (CARROL; LEWIS, 2019). O livro Medicina dos Horrores, de Lindsey Fitzharris, retrata, em uma literatura muito fluida e fácil, como as cirurgias eram realizadas no século XIX e como Joseph Lister revolucionou a área médica com o microscópio que ele carregava para todos os lugares e que, por muito tempo, foi visto como uma afronta aos médicos. Era comum que as cirurgias ocorressem em anfiteatros abarrotados de profissionais e estudantes que tinham interesse em aprender determinados procedimentos e, até mesmo, como forma de entretenimento da época. A autora conta sobre a alta frequência das infecções pós-operatórias e outras DICAS UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA 10 concepções que se tinha na época em relação à saúde. Por exemplo, o fato de acreditarem que o “pus” que saía das infecções era apenas parte do processo de cura das feridas – não se pensava em evitar que a secreção purulenta ocorresse. Vale a pena a leitura! FIGURA 5 – ROBERT LISTON EM UMA DE SUAS AMPUTAÇÕES SEM LUVAS E QUALQUER CUIDADO DE HIGIENE – O CIRURGIÃO ESCOCÊS FICOU CONHECIDO POR REALIZAR AMPUTAÇÕES DE MEMBROS EM MENOS DE 3 MINUTOS FONTE: <https://www.livroseopiniao.com.br/2019/06/medicina-dos-horrores-livro-polemi- co.html>. Acesso em: 27 nov. 2020. No entanto, somente em 1876, o médico alemão Robert Koch comprovou que as bactérias poderiam, sim, ser a causa das enfermidades. Perceba que, quando Semmelweis sugeriu que fosse realizada a lavagem de mãos antes do contato com as puérperas, ele não fazia ideia do que estava causando as infecções e, consequentemente, as mortes das mães e até dos bebês. Ele apenas percebeu que, realizando tal ato, era possível retirar mecanicamente as “partículascadavéricas”, como ele mesmo chamou, e que isso reduziria a taxa de mortalidade, mas, ainda assim, não sabia o que causava as mortes. No entanto, Koch conseguiu cultivar uma bactéria que ele encontrou no sangue de um gado que havia morrido, por uma doença chamada antraz, e inoculou amostras dessa bactéria em animais saudáveis, observando que eles adoeceram e morreram da mesma forma que o gado do qual ele retirou a bactéria (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Para ter certeza de que realmente foi a presença da bactéria que causou a doença e as mortes dos gados “sadios”, Koch retirou amostras de sangue e comparou com a bactéria isolada, concluindo que se tratava da mesma bactéria. Depois disso, ele determinou uma série de passos que devem ser seguidos para que se possa afirmar que uma determinada doença realmente é causada por um micro-organismo específico. Essa sequência de passos ficou conhecida como postulados de Koch, que, apesar de algumas modificações, são utilizados até hoje para descobrir a etiologia de uma doença – com exceção de algumas que não é possível serem cultivadas em meios artificiais (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). TÓPICO 1 — O MUNDO MICROBIANO 11 O vídeo, a seguir, tem um pouco mais de 3 minutos e retrata, de forma bem resumida e interativa, as contribuições de Antony van Leeuwenhoek, Louis Pasteur e Robert Koch para a Microbiologia. Assista e depois volte para estudar mais sobre os micro- organismos – eles não são tão ruins quanto parecem. Então acesse: https://www.youtube. com/watch?v=l2DHyDj_tgI. DICAS Quando se fala em “micróbios”, é muito comum associar os micro- organismos às doenças e às infecções, até mesmo por conta da própria história de como eles foram descobertos (como acabamos de ver). Em geral, quando falamos em micróbios, pensamos em lugares sujos como corrimão, vaso sanitário, esponja de cozinha, água parada e, até mesmo, algumas partes do nosso corpo como a região anal e as próprias mãos que estão em contato com diversas superfícies o dia todo. Dificilmente, no primeiro momento, relacionamos os micro-organismos a coisas boas como alguns alimentos naturais e saudáveis – por exemplo, o iogurte, o pão, o vinho e até alguns tipos de queijos, como o gorgonzola e o roquefort, sendo que todos esses alimentos são fabricados exatamente a partir da proliferação de determinados micro-organismos. É mais difícil ainda pensar que esses micróbios podem ser a cura para determinadas doenças, como a penicilina, que é um antibiótico produzido pelo Penicillium, um tipo de fungo responsável também pelas “partes mofadas” do queijo gorgonzola (COELHO, 2019). Nos últimos anos, a busca por uma alimentação mais saudável tem crescido muito em razão da quantidade de pesquisas divulgadas que demonstram o quanto alimentos industrializados podem fazer mal à saúde. Diante disso, o pão de fermentação natural e o kefir têm sido muito procurados, por exemplo. O fermento utilizado na fabricação do pão de fermentação natural formado por diversos micro-organismos, como bactérias lácticas e leveduras que se multiplicam liberando dióxido de carbono para fazer a massa crescer (APLEVICZ, 2014). O kefir é um leite fermentado a partir da ação de várias leveduras e bactérias, principalmente as do gênero Lactobacillus, que vivem em relação simbiótica produzindo uma bebida probiótica com sabor acidificado, que traz inúmeros benefícios à saúde (GARROTE; ABRAHAM; DE ANTONI, 2010). UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA 12 FIGURA 6 – KEFIR, PÃO DE FERMENTAÇÃO NATURAL E QUEIJO GORGONZOLA FONTE: <https://cozinhamedica.wordpress.com/tag/lactobacilos-vivos/>; <https://www. feednews.com.br/2017/08/receita-pao-de-fermentacao-natural.html>; <https://www.keepnpop. com/2018/03/tirolez-sugere-receitas-especiais-com.html>. Acesso em: 27 nov. 2020. A Figura 7 mostra os grãos de kefir a olho nu e com aumento gradativo das lentes do microscópio até ser possível enxergar os micro-organismos que o compõem. FIGURA 7 – (A) GRÃOS DE KEFIR; (B) SUPERFÍCIE DOS GRÃOS (AUMENTO DE 5.000X); (C, E) PORÇÃO INTERNA DOS GRÃOS (AUMENTO DE 15.000X); (G) PORÇÃO INTERNA DOS GRÃOS (AUMENTO DE 40.000X); (D, F) PORÇÃO EXTERNA DOS GRÃOS (AUMENTO DE 15.000X); (H) PORÇÃO EXTERNA DOS GRÃOS (AUMENTO DE 40.000X) INTERESSA NTE FONTE: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4216126/https://www.ncbi.nlm. nih.gov/pmc/articles/PMC4216126/>. Acesso em: 27 nov. 2020 Então, é importante deixar de lado a visão de que todos os micro- organismos são patógenos e somente são responsáveis por produzir doenças, até porque a grande maioria deles não é patogênica, mas, sim, benéfica ao ser humano, aos animais e até às plantas. As bactérias ajudam a reciclar componentes importantes do solo e da atmosfera, e, ainda, auxiliam no tratamento de esgoto após a remoção dos sólidos maiores. Elas também são utilizadas para limpar poluentes e resíduos tóxicos oriundos de diversos processos industriais, do controle de pragas na lavoura, entre outros (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). TÓPICO 1 — O MUNDO MICROBIANO 13 Você sabia que existem micro-organismos produzidos geneticamente? No passado, os diabéticos podiam contar apenas com a insulina bovina em seus tratamentos; a única forma de controlar a glicemia das pessoas que dependiam da insulina era retirá-la do pâncreas de bezerros. Entretanto, algumas pessoas não podiam utilizá-la e, com o desenvolvimento da biotecnologia, foi possível construir uma bactéria que consegue produzir quantidades ilimitadas de insulina humana (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). INTERESSA NTE Para saber mais sobre o uso dos micro-organismos geneticamente modificados (MGM), leia o texto Microrganismos geneticamente modificados e algumas implicações para a saúde ambiental, de Vera Lúcia Castro, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), disponível em: https://ambientes.ambientebrasil. com.br/biotecnologia/artigos_de_biotecnologia/micro-organismos_geneticamente_ modificados_e_algumas_implicacoes_para_a_saude_ambiental.html. DICAS As bactérias e os fungos são considerados os principais responsáveis pela manutenção da estabilidade geoquímica da biosfera. Além de serem encontrados em animais, plantas, seres humanos, detritos, água e solo (em abundância), participando dos ciclos biogeoquímicos, também são utilizados na fabricação de antibióticos, vitaminas e enzimas (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). Ademais, os seres humanos têm uma população microbiana normal, ou seja, nosso corpo possui inúmeros micróbios, que estão presentes tanto na superfície quanto nos órgãos internos, e são importantes para a nossa vida. Essa população é chamada de microbiota normal, e não nos faz mal nenhum, servindo de proteção contra outros micro-organismos que podem ser patogênicos. Nesse momento, nós temos mais ou menos 100 trilhões de micro-organismos espalhados por corpo, pele, cabelos, saliva e intestino – enfim, todas as partes do corpo. A cada grama de fezes, supõe-se que sejam excretados mais ou menos 10 bilhões de micro-organismos, que, logo, serão substituídos por outros (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). No Quadro 1, podemos ver os micro-organismos importantes encontrados no nosso corpo. Alguns estão marcados com o número 1 e correspondem aos que têm maior importância ou estão presentes em maior quantidade; os marcados com UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA 14 o número 2 são os que têm menos importância ou estão em menor quantidade; e os que aparecem com o número 3 não fazem parte da microbiota normal desse local, embora sejam colonizadores importantes (LEVINSON, 2016). QUADRO 1 – MEMBROS DA MICROBIOTA NORMAL DE IMPORTÂNCIA Localização Organismos importantes1 Organismos de menor importância2 Pele Staphylococcus epidermidis Staphylococcus aureus, Corynebacterium (difteroides), vários estreptococos, Pseudomonas aeruginosa, anaeróbios (p. ex., Propionibocterium), leveduras (p. ex., Candida albicans) Nariz Staphylococcus aureus3 S. epidermidis,Corynebacterium (difteroides), vários estreptococos Boca Estreptococos do grupo viridans Vários estreptococos, Eikenella corrodens Placa dental Streptococcus mutans Prevotella intermedia, Porphyromonas gingivalis Cavidades Vários anaeróbios (p. ex., Bacteroides, Fusobacterium, gengivais estreptococos, Actinomyces) Garganta Estreptococos do grupo viridans Vários estreptococos (incluindo Streptococcus pyogenes e Streptococcus pneumoniae), espécies de Neisseria, Haemophilus influenzae, S. epidermidis Colo Bacteroides fragilis, Escherichia coli Bifidobacterium, Eubacterium, Fusobacterium, Lactobacillus, vários bacilos aeróbios gram-negativos, Enterococcus faecalis e outros estreptococos, Clostridium Vagina Lactobacillus, E. coli 3, estreptococos do grupo B3 Vários estreptococos, vários bacilos gram-negativos. B. fragilis, Corynebacterium (difteroides), C. albicans Uretra S. epidermidis, Corynebacterium (difteroides), vários estreptococos, vários bacilos gram-negativos (p. ex., E. coli)3 FONTE: Levinson (2016, p. 26) TÓPICO 1 — O MUNDO MICROBIANO 15 O fato de nós, seres humanos, termos micro-organismos vivendo em perfeita harmonia no nosso corpo, habitando na nossa microbiota normal, não quer dizer que eles não possam nos fazer adoecer. Se, por acaso, essa microbiota migrar para outra parte do corpo que não seja o seu local específico ou se estivermos com algum desequilíbrio na nossa imunidade, podemos ter alguma doença – mas isso será visto com mais detalhes no Tópico 2. ESTUDOS FU TUROS Agora que já vimos o que são os micro-organismos, um pouco da história por trás do que sabemos sobre eles até hoje, e já conseguimos reconhecer a importância desses seres nas nossas vidas, vamos aprender um pouco mais sobre suas características específicas. CHAMADA 2.1 DIVERSIDADE DE MICRO-ORGANISMOS Até aqui, falamos sobre micro-organismos como se fossem todos iguais, mas eles não são. Com a evolução do microscópio, que inicialmente era apenas óptico, foi possível diferenciá-los e conhecer suas especificidades. Após a invenção do microscópio eletrônico, foi possível aumentar o tamanho das estruturas em até um milhão de vezes e, assim, observar que havia muita diversidade entre esses seres microscópicos (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Como já falamos no início do tópico, uma das principais características dos micro-organismos é sua unicelularidade (exceto o vírus). Uma diferença muito importante, que divide as células microbianas em duas categorias, é a forma como o material nuclear se apresenta dentro da célula. Você já estudou isso anteriormente em outras disciplinas, mas é importante relembrar, pois é uma característica básica na diferenciação dos micro-organismos. Nas células eucarióticas, o material genético está envolto por uma membrana chamada membrana celular e, portanto, fica separado do citoplasma. Já nas células procarióticas, o material genético está espalhado pelo citoplasma, sem membrana delimitando um núcleo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA 16 Além disso, os seres procariotos possuem uma estrutura menor e mais simples do que os eucariotos, sendo que suas organelas não são revestidas por uma membrana e o seu DNA (ácido desoxirribonucleico) é organizado em um cromossomo simples e circular. Nos eucariotos, o DNA é formado por cromossomos múltiplos e um núcleo é bem delimitado. Outra estrutura que diferencia esses dois tipos celulares é a presença da parede celular, que, nos seres procariotos, protege, dá forma e sustentação à célula, mas é uma característica que está ausente nas células eucarióticas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). FIGURA 8 – DIFERENÇA ENTRE CÉLULAS EUCARIOTAS (A) E PROCARIOTAS (B) FONTE: <https://descomplica.com.br/artigo/o-que-sao-tipos-celulares/4nL/>. Acesso em: 27 nov. 2020. TÓPICO 1 — O MUNDO MICROBIANO 17 Para ajudá-lo a relembrar as diferenças entre as células eucarióticas e procarióticas, assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=thufkt23AEc&list=PLMJ FNp1zwqUi0dFNi7Y9TbSxGC_vJICdr DICAS Entre o grupo de células procarióticas, estão as bactérias e as arquibactérias, que, apesar de serem muito diferentes entre si, com relação à constituição bioquímica e genética, são morfologicamente muito semelhantes – por ora, vamos nos concentrar somente nas características das bactérias, que já são muitas (LURIE-WEINBERGER; GOPHNA, 2015). Já fungos, protozoários e algas são os representantes eucariotos dos micro-organismos. Os únicos seres microscópicos que ficam de fora dessa classificação são os vírus, que são seres acelulares, mas que também vamos estudar ainda nesta unidade. Essa classificação é baseada unicamente na estrutura celular, mais resumidamente na existência ou não de membrana nuclear e organelas, embora exista outra classificação muito importante que veremos no tópico seguinte. 18 Neste tópico, você aprendeu que: • A microbiologia estuda espécimes microscópicos de vida e suas atividades, como as bactérias, os fungos, os vírus, os protozoários e as algas microscópicas. • Todos os micro-organismos são microscópicos e unicelulares (exceto o vírus) e não necessitam de outras células para realizar suas funções básicas de manutenção, enquanto os multicelulares não conseguem sobreviver na natureza sem a ajuda de outros seres. • Não mais de 100 anos atrás, acreditava-se que os micro-organismos “nasciam” da matéria orgânica (teoria da geração espontânea), mas Louis Pasteur conseguiu provar que eles estão presentes no ar e, por isso, acabavam por contaminar as substâncias. • Robert Koch conseguiu isolar uma bactéria e, a partir disso, elaborou um postulado com alguns passos que devem ser seguidos para determinar a etiologia de uma doença infecciosa. • Apesar de os micro-organismos estarem fortemente relacionados às doenças, em sua maioria não são patogênicos e são muito utilizados na indústria alimentícia, agropecuária e, até mesmo, na fabricação de medicamentos, como o antibiótico penicilina. • Os seres humanos têm uma população microbiana normal composta por inúmeros micróbios, presentes tanto na superfície quanto nos órgãos internos, que são importantes para o equilíbrio das funções vitais do corpo. • Os micro-organismos possuem estrutura celular diferente, podendo ser procariontes ou eucariontes, de acordo com determinadas características, como presença de membrana nuclear e parede celular, entre outras. RESUMO DO TÓPICO 1 19 1 A palavra microbiologia tem origem do idioma grego e significa: mikros (pequeno), bios (vida) e logos (ciência). Essa ciência estuda espécimes microscópicos de vida e suas atividades, como as bactérias, os fungos, os vírus, os protozoários e as algas microscópicas. Com relação às descobertas relacionadas a micro-organismos e suas características gerais, assinale a afirmativa CORRETA: a) ( ) Antony van Leeuwenhoek, após remover uma substância que estava aderida aos seus dentes e colocá-la em seu protótipo de microscópio, conseguiu observar a presença de diversos micro-organismos, que ele denominou como “animáculos”, além de ter escrito cartas à Inglaterra contando o que havia visto, apesar de, entre os organismos descritos por ele, ainda não haver nenhuma bactéria. b) ( ) Robert Koch desenvolveu um conjunto de critérios denominados “postulados de Koch”, para conectar causa e efeito nas doenças infecciosas. Esses postulados determinavam uma série de passos a serem seguidos para afirmar que uma determinada doença realmente é causada por um micro-organismo específico; hoje em dia, porém, devido ao avanço da medicina, tais passos não são mais necessários. c) ( ) Os micro-organismos são organismos microscópicos unicelulares essenciais para o bem-estar e o funcionamento de outras formas de vida, bem como do planeta. Entretanto, a maioria dos micro- organismos é prejudicial aos seres humanos. d) ( ) Os micro-organismos podem ser tanto benéficos quanto prejudiciaispara os seres humanos, embora a quantidade de micro-organismos benéficos (ou até mesmo essenciais) seja bem maior aos dos prejudiciais. Agricultura, alimentação, energia e meio ambiente são todos impactados de diversas maneiras pelos micro-organismos. e) ( ) Os micro-organismos que normalmente vivem em uma pessoa, participando de sua microbiota normal, são comumente chamados de patógenos oportunistas. 2 Apesar de sua complexidade e variedade, todas as células vivas podem ser classificadas em dois grupos, com base em certas características funcionais e estruturais: procarióticas e eucarióticas. Analise as afirmativas a seguir: I- A parede celular das células eucarióticas é estrutura semipermeável que controla o transporte de materiais entre a célula e seu meio externo. II- Uma das principais diferenças entre as células eucarióticas e procarióticas é que a primeira possui um núcleo delimitado por uma membrana, protegendo seu material genético, enquanto, na segunda, o material genético se encontra solto no citoplasma. AUTOATIVIDADE 20 III- Os seres procariotos possuem uma estrutura menor e mais simples do que os eucariotos, sendo que suas organelas não são revestidas por uma membrana, e o seu DNA (ácido desoxirribonucleico) é organizado em um cromossomo simples e circular. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. b) ( ) As sentenças I e II estão corretas. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença II está correta. e) ( ) Somente a sentença I está correta. 3 A microbiota normal, que também recebe o nome de atóctone, residente ou indígena, é a população de micro-organismos que habita a pele e as membranas mucosas de indivíduos saudáveis. Explique qual é a importância da microbiota normal para os seres humanos. 21 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS MICRO-ORGANISMOS 1 INTRODUÇÃO Agora que já sabemos que os micro-organismos não são todos patógenos e não servem somente para causar doenças, podemos aprofundar um pouco mais suas peculiaridades e de que forma podemos diferenciá-los. Inicialmente, Ernst Haeckel propôs uma organização dos organismos vivos de acordo com o tipo de obtenção de nutrientes, ou seja, separando-os nos seguintes grupos: os que obtêm energia por meio da fotossíntese, os que realizam absorção e os que fazem ingestão de nutrientes. Posteriormente, em 1969, Robert H. Whittaker, partindo da organização sugerida por Haeckel, dividiu os organismos em cinco reinos, mas ainda com base na forma como os organismos realizam a sua nutrição (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). É importante relembrar que: • Fotossíntese: conversão da energia solar, dióxido de carbono e água em carboidratos que serão utilizados pelas células vegetais como fonte de energia para os processos vitais, e para compor outras moléculas importantes para ela. • Absorção: passagem de sustâncias (nutrientes) em meio líquido através de membranas. • Ingestão: entrada de alimentos em partículas não dissolvidas. NOTA 2 CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS Existem algumas classificações para categorizar os seres vivos e, apesar de haver muitas discussões sobre essas classificações no meio científico, a mais aceita é a que os divide em cinco reinos: Monera, Protista, Plantae, Animalia e Fungi. Outro tipo de classificação existente é a que se baseia nas semelhanças do RNA (ácido ribonucleico) dos ribossomos, chamada de sistema de três domínios – Bacteria, Archaea e Eukarya (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 22 UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA Os representantes do reino Monera são as bactérias e as cianobactérias, que são micro-organismos procariontes cuja maioria apresenta parede celular (formada de peptídeoglicanos). Dos cinco reinos, esse é o único que todos os seres que fazem parte são unicelulares – as bactérias podem tanto viver de forma isolada quanto em colônias e, mesmo vivendo dentro de uma colônia, cada uma é uma célula diferente, portanto um micro-organismo diferente. Além disso, podem ser autótrofos, produzindo seu próprio alimento por meio da fotossíntese ou quimiossíntese, ou heterótrofos (não produzem o próprio alimento), realizando sua nutrição pela absorção ou ingestão de nutrientes (LOPES; ROSSO, 2005). O reino Protista é representado por protozoários e algas, e todos os seres que compõem esse grupo são eucariontes. Eles podem ou não ter parede celular, a qual, quando presente, é formada por sílica. A maioria é unicelular, mas também podem ser multicelulares, como é o caso de algumas algas. Assim como os representantes do reino Monera, os Protistas podem viver solitários ou em colônias e serem autótrofos (fotossíntese) ou heterótrofos (absorção ou ingestão) (LOPES; ROSSO, 2005). FIGURA 9 – EXEMPLOS DE PROTOZOÁRIOS E AS DOENÇAS CAUSADAS POR ELES FONTE: <https://www.todamateria.com.br/doencas-causadas-por-protozoarios/>. Acesso em: 27 nov. 2020. Fungos, bolores e cogumelos compõem o reino Fungi e todos são formados por células eucarióticas, podendo ou não ter parede celular, que, quando presente, é formada por quitina. A maioria é multicelular, mas também podem ser unicelulares, como as leveduras (utilizadas na fabricação de pães e cervejas). Todos os representantes desse reino são heterótrofos (absorção; LOPES; ROSSO, 2005). O reino Plantae é formado pelas plantas, que são sempre multicelulares, ou seja, não existe planta com uma única célula. Todas as células que as compõem são eucarióticas e autótrofas (fotossíntese). A parede celular está presente em todas as células das plantas, formada por uma estrutura muito conhecida, a celulose (LOPES; ROSSO, 2005). Giardia intestinalis (giardíase) Trichomonas vaginalis (tricomoníase) Trypanosoma brucei gambiense (doença do sono) Leishmania sp. (leishmaniose) TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS MICRO-ORGANISMOS 23 No reino Animalia, estão inclusos todos os animais, desde os poríferos (esponjas) até os mamíferos. Todos esses seres são multicelulares e formados por células eucarióticas, e nenhum deles possui parede celular. Além disso, realizam sua nutrição de forma heterótrofa, pela ingestão de alimentos (LOPES; ROSSO, 2005). FIGURA 10 – ESQUEMA RESUMIDO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DOS CINCO REINOS FONTE: <https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/manual-do-enem-test/d1b23e0ceb8747f1bfb9b- 844f78a24ec-Classifica%C3%A7%C3%A3o_dos_Seres_Vivos_4.PNG>. Acesso em: 27 nov. 2020. Agora, mesmo já tendo falado dos cinco reinos, é possível perceber que os vírus não estão incluídos em nenhum deles. Essa é uma grande discussão. Alguns cientistas nem sequer consideram os vírus como seres vivos, visto que eles não possuem células – e a célula é considerada a base da vida. Entretanto, alguns autores afirmam que eles são seres vivos porque possuem material genético e conseguem se multiplicar (mesmo que somente dentro de outra célula). A réplica para essa argumentação da parte oposta é que eles não possuem mecanismos para se dividirem e se multiplicarem sozinhos, ou seja, se não houver outra célula, para que eles possam fazer isso, eles não irão sobreviver por muito tempo. Todavia, logo, falaremos um pouco mais sobre os vírus. 24 UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA 2.1 MICROBIOTA NORMAL Como já vimos no início do tópico, todas as partes do nosso corpo são repletas de micro-organismos, que chamamos de microbiota normal – ou flora, como era denominada até algum tempo atrás. Cientistas estimam que, se contarmos todas as células do nosso corpo, aproximadamente metade delas não são humanas. Desse modo, temos tantos micro-organismos quanto células formando o nosso corpo. Flora: há algum tempo, era comum ouvirmos falar em fazer uso de algumas medicações e/ou probióticos para repor a flora bacteriana. Você já ouviu falar nisso? Essa nomenclatura era utilizada para se referir à microbiota normal, pois, antigamente, os fungos e as bactérias eram considerados plantas dentro da classificaçãomais aceita. NOTA Nos últimos anos, muito se tem estudado sobre a nossa relação com os micróbios, e a ideia de que devemos estar em guerra contra esses eles está se tornando cada vez mais obsoleta, visto sua importância para a manutenção da nossa saúde. São inúmeras as funções desses micro-organismos no nosso corpo, desde protegê-lo contra doenças, auxiliar na digestão, produzir vitaminas e, provavelmente, muitas outras que a ciência ainda não descobriu (GALLAGHER, 2018). Contudo, você já se perguntou por que esses micro-organismos não nos fazem mal, já que, muitas vezes, são os mesmos que causam doenças? A resposta para essa questão é: equilíbrio. Quando o nosso corpo está com o sistema imunológico (que você verá na próxima unidade) equilibrado, todas as suas funções funcionam da forma correta: a nossa microbiota está no local adequado e com a quantidade correta, e, portanto, não estará nos prejudicando – muito pelo contrário, será capaz de nos defender se acontecer algum ataque de micro- organismos que não pertencerem à microbiota residente. Os micro-organismos podem viver como células isoladas, que flutuam ou nadam em líquidos diversos, ou podem estar unidos, geralmente recobrindo uma superfície sólida na forma de biofilme. O lodo que recobre uma rocha ou o fundo do mar é um exemplo de biofilme, assim como os que se formam na pele e nos dentes de humanos ou animais. TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS MICRO-ORGANISMOS 25 FIGURA 11 – DIFERENTES TIPOS DE BACTÉRIAS ENCONTRADAS NA LÍNGUA HUMANA FONTE: Tortora; Funke; Case (2015, p. 15) Na área odontológica, é muito comum a ideia de que biofilme é algo ruim, devido à etiologia da doença cárie, que inicia com a formação de um biofilme dental, mas nem sempre os biofilmes são ruins. Em algumas partes das mucosas do nosso corpo, o biofilme protege contra o ataque de micro-organismos maléficos ao nosso organismo. IMPORTANT E Neste tópico, vamos conhecer um pouco mais sobre fungos e vírus, em razão da importância desses micro-organismos na etiologia de diversas doenças que afetam a cavidade oral e/ou doenças sistêmicas que possuem manifestações nela. No tópico seguinte, serão aprofundados os temas relacionados ao mundo das bactérias, aos antimicrobianos e a forma como ocorre a resistência microbiana. 2.2 FUNGOS Durante muitos anos, os fungos faziam parte do Reino Plantae (ou Vegetalia), apesar de não terem algumas características importantes dos participantes desse Reino, como possuir o pigmento clorofila e realizar fotossíntese, não ter celulose na composição da parede celular, realizar sua nutrição por absorção, entre outras. Em decorrência da ausência dessas características e da falta de outras que os encaixassem em algum outro Reino já existente, em 1969, foi criado o reino Fungi (TRABULSI; ALTERTHUM, 2015). 26 UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA Existem diversos tipos de fungos, uni ou multicelulares, com uma variedade grande de tipos morfológicos, mas, em geral, são classificados como: leveduras, bolores e cogumelos. Os bolores e leveduras são fungos microscópicos, mas que, quando em um meio favorável, crescem formando colônias visíveis, sendo possível, inclusive, reconhecer suas diferenças a olho nu. FIGURA 12 – BOLOR, LEVEDURA PARA FABRICAÇÃO DE CERVEJA E COGUMELOS FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolor>. Acesso em: 27 nov. 2020; Gentilmente cedida por Gustavo Pesca (2020); <https://d.emtempo.com.br/ciencia-e-tecnologia-meio-ambiente/166479/ video-conheca-a-riqueza-e-variedade-de-usos-dos-cogumelos-da-amazonia>. Acesso em: 27 nov. 2020. Os bolores são multicelulares, são chamados de fungos filamentosos ou miceliais e se aglutinam formando as hifas, que são filamentos que crescem principalmente a partir da extremidade. As hifas crescem em grupos e formam ramificações, que se entrelaçam gerando uma massa compacta chamada de micélio (TRABULSI; ALTERTHUM, 2015). Cada hifa é formada pela junção de muitas células, que podem ser contínuas (cenocíticas), ou seja, sem divisões – e, nesse caso, será longa e com muitos núcleos em seu citoplasma –, ou septada, a qual tem um septo dividindo os filamentos em células individuais, separando seus núcleos. No caso de ser septada, existe um poro entre as células que permite a movimentação dos núcleos (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). FIGURA 13 – DIFERENTES TIPOS DE HIFAS FONTE: <https://agro20.com.br/hifas/>. Acesso em: 27 nov. 2020. TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS MICRO-ORGANISMOS 27 O micélio também pode ser de duas formas: o vegetativo, aquele cujas hifas penetram no meio de cultura no qual o fungo se encontra, semelhante a uma raiz (inclusive possui função de nutrição); e o aéreo, que suas hifas estão acima do meio de cultura e podem originar células reprodutivas (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). Os bolores têm estruturas denominadas conídios, que são esporos assexuados, geralmente pigmentados, que proporcionam sua coloração ao micélio, podendo ser amarelo, preto, marrom, azul esverdeado e vermelho. Alguns bolores apresentam esporos sexuais decorrentes da união dos gametas unicelulares ou de hifas especializadas, que são responsáveis pela reprodução da espécie. Esses esporos são resistentes a desidratação, calor, congelamento e até alguns agentes químicos (SPOLIDORIO; DUQUE, 2013). As leveduras, também chamadas de ascomicetos, são unicelulares, suas células são esféricas, ovais ou cilíndricas, não filamentosas e se dividem através do brotamento. Assim como os bolores, as leveduras, quando crescem formando colônias, podem ser vistas a olho nu e, geralmente, apresentam-se nas cores branca ou creme, mas, dependendo da espécie, podem ser vistas também nas cores preta ou rosa (TRABULSI; ALTERTHUM, 2015). Existem também os fungos dimórficos, que podem se apresentar de duas formas, dependendo das condições do ambiente e da nutrição. Geralmente, quando estão em tecidos vivos ou são cultivados em meios de cultura líquidos (35 a 37 °C), ficam sob a forma de leveduras, porém, quando estão em temperatura ambiente (25 a 30 °C) e na superfície de meios de cultura sólidos, se apresentam sob a forma de micélios (JORGE, 2012). Um exemplo importante de fungo dimórfico para a Odontologia é a Cândida, que apesar de ser do tipo levedura também produz hifas que permitem sua penetração nos tecidos mais profundos, propiciando infecções orais, vaginais, pulmonares e até sistêmicas (SPOLIDORIO; DUQUE, 2013). Após um experimento com ratos, no qual foi realizada uma preparação histológica de infecção por Cândida no dorso da língua desses animais, foi possível observar a presença tanto de leveduras quanto de hifas no interior do epitélio (JORGE, 2012). FIGURA 14 – CORTE HISTOLÓGICO DE CANDIDOSE EXPERIMENTAL EM DORSO DE LÍNGUA DE CAMUNDONGOS FONTE: Jorge (2012, p. 31) 28 UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA 2.2.1 Citologia dos fungos As células fúngicas são muito parecidas com as células das plantas superiores e dos animais, pois são eucarióticas e possuem vários cromossomos, podendo se originar de uma única célula ou de filamento de hifas (JORGE, 2012). A parede celular dos fungos diferencia-se da parede celular bacteriana pela ausência de peptídeoglicano e é formada por duas ou mais camadas de material fibrilar. É a estrutura de contato da célula com o meio externo e nela estão presentes fatores responsáveis pela aglutinação, pelo crescimento e pelas interações enzimáticas associadas à digestão de substratos nutritivos complexos (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). A parede celular é rígida, protege e mantém o formato da célula, evitando choques osmóticos. Em sua maioria, é composta por glucanas e mananas, e, em menor parte, por quitina, proteínas e lipídios. Alguns tipos de fungos possuem o pigmento melanina na parede celular e, por isso, são resistentes aos raios ultravioleta e a enzimas de lise celular produzidas por outros micro-organismos (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). A membrana plasmática dos fungosé a mesma que já estudamos anteriormente. A composição clássica do mosaico fluido, sendo as proteínas responsáveis pelas funções enzimáticas e os lipídios por fornecer estrutura à membrana. Apesar da semelhança com a membrana plasmática das bactérias, os fungos não possuem enzimas metabolizadoras de energia em sua membrana. Os lipídios pertencentes à membrana podem se associar a moléculas de carboidrato, formando glicolipídios que aumentam a aderência da célula fúngica às células do hospedeiro (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). Outra diferença entre a membrana de bactérias e de fungos é que estes contêm esteróis em sua composição, principalmente o ergosterol. A função dessas moléculas é fornecer resistência à membrana plasmática dos fungos, portanto, eles se entrelaçam na bicamada lipídica. A importância disso é que muitos antifúngicos utilizados em terapêutica medicamentosa atuam diretamente no ergosterol, desarranjando a estrutura da membrana (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). Diferentemente do “núcleo” das bactérias, os fungos, como são seres eucariontes, possuem uma membrana nuclear envolvendo seu núcleo, que pode ser esférico ou oval e carrega seu material genético: uma dupla fita de DNA organizada em formato de hélice. A membrana nuclear é de natureza lipídica e assemelha-se a duas membranas citoplasmáticas juntas, porém é cheia de poros, que permitem a passagem de várias moléculas entre o núcleo e o citoplasma, sempre de forma controlada. Dentro do núcleo, é possível encontrar também o nucléolo, no qual são encontrados DNA, RNA e proteínas e onde é produzido o RNA ribossômico (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS MICRO-ORGANISMOS 29 O citoplasma é o que confere volume à célula e é composto por uma parte líquida denominada citosol, compostos químicos e organelas celulares. As organelas encontradas nos fungos são: mitocôndrias, retículo endoplasmático liso e rugoso, complexo de Golgi, vacúolos, ribossomos e núcleo, todas envolvidas por membranas semelhantes à membrana plasmática e pelo citoesqueleto (MADIGAN et al., 2016). No citoplasma dos fungos, são encontradas as seguintes organelas: retículo endoplasmático, complexo de Golgi, mitocôndrias, lisossomo, ribossomos e vacúolos digestivos e de armazenamento, os quais estocam glicogênio, o tipo de reserva energética utilizada por eles. A nutrição da maioria dos fungos ocorre por absorção realizada pela hidrólise de macromoléculas, sendo que alguns são capazes de hidrolisar matérias orgânicas resistentes, como quitina, couro e ossos (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). O crescimento dos fungos é mais lento do que o das bactérias, mas além de aumentarem por extensão e por ramificação também possuem ciclos de reprodução sexuada e assexuada dependendo do fungo. Na reprodução assexuada, são geradas células filhas idênticas as que as originaram, podendo ser pela produção de conídios (blastoconídios, clamidoconídios e artroconídios), de estruturas especializadas em reprodução, por esporos assexuados (esporangiosporos ou conidiósporos) ou por cissiparidade, como ocorre nas bactérias (JORGE, 2012). A reprodução sexuada dos fungos acontece por plasmogamia, que inicia com a união do citoplasma de duas células férteis e especializadas em reprodução, posteriormente, a junção dos núcleos e, por fim, a meiose com separação dos núcleos, originando duas células com núcleos haploides (JORGE, 2012). FIGURA 15 – REPRODUÇÃO ASSEXUADA POR CONÍDIOS FONTE: Tortora; Funke; Case (2017, p. 324) 30 UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA FIGURA 16 – SACCHAROMYCES CEREVISIAE (LEVEDURA DE CERVEJA) EM DIVERSOS ESTÁ- GIOS DE BROTAMENTO; REPRODUÇÃO ASSEXUADA POR CISSIPARIDADE FONTE: Tortora; Funke; Case (2017, p. 323); <https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Reinos/ Cissiparidade.php>. Acesso em: 27 nov. 2020. 2.3 VÍRUS Devido ao fato de os vírus serem muito pequenos para serem observados em microscópio óptico, só foi possível estudar sobre eles no século XX. Até 1930, os cientistas não sabiam da existência desses seres submicroscópicos, então, chamavam os vírus de contagium vivum fluidum, termo em latim que significa fluido contagioso. Somente a partir desse ano começaram a usar a palavra vírus, que, em latim, significa veneno, mas ainda sem conhecê-lo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). A descoberta dos vírus iniciou em 1876, quando o químico alemão Adolf Meyer descobriu que a doença que deixa manchas nas folhas de tabaco, chamada mosaico do tabaco, era transmissível. Ele injetou a seiva de plantas doentes em plantas saudáveis e observou que estas também passaram a apresentar as mesmas manchas, porém não conseguiu cultivar o agente infeccioso que as ocasionava (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). Anos depois, em 1935, o químico alemão Wendell Stanley conseguiu isolar o vírus que causava a doença do mosaico do tabaco pela primeira vez. A partir disso, foi possível conhecer melhor a natureza dos vírus por meio do estudo de seus componentes estruturais e químicos em um microscópio eletrônico, que foi inventado na mesma época (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS MICRO-ORGANISMOS 31 Você lembra que, no início do tópico, estudamos sobre os postulados de Koch? Até hoje, eles ainda são utilizados para determinar a etiologia das doenças. No final do século XIX, os postulados de Koch passaram a ser um padrão e delimitaram a metodologia experimental, que deveria ser utilizada em todas as situações. Então, para um micro-organismo ser considerado causador de determinada doença, deve obedecer aos seguintes critérios (postulados): • o micro-organismo deve ser encontrado usualmente nas lesões da doença; • deve ser retirado de um hospedeiro doente e cultivado em uma cultura pura; • a inoculação do micro-organismo em outros hospedeiros deve produzir a mesma doença que causava no hospedeiro do qual foi retirado; • o mesmo micro-organismo deve ser removido do segundo hospedeiro e, após ser isolado novamente, reproduzir as mesmas características observadas no segundo postulado. IMPORTANT E Entretanto, quando se trata de vírus, não é possível obedecer aos postulados, em virtude de suas características. Então, assim ficou determinado: quando uma doença não se enquadrava nos postulados de Koch, ela era considerada viral (MACHADO; APOLÔNIO, 2018). Existe uma discussão importante no meio científico com relação aos vírus serem ou não considerados seres vivos, em decorrência de suas peculiaridades. O consenso para determinar se se trata de um organismo vivo é que ele deve possuir uma célula organizada, ter metabolismo próprio, ser capaz de se reproduzir e possuir material genético. Entretanto, os vírus não têm célula, não têm seu próprio metabolismo e não conseguem se reproduzir sozinhos. Quando um vírus invade uma célula hospedeira, o ácido nucleico torna- se ativo e, com isso, é possível a sua reprodução. Além disso, eles são capazes de causar infecções e doenças, assim como bactérias, fungos e protozoários. Existem muitas discussões acerca desse assunto, pois diversos micro-organismos necessitam de outros para sobreviver (por exemplo, bactérias riquétsias), isso inclui até mesmo nós humanos, pois necessitamos do contato social para nosso crescimento e desenvolvimento. Assim, dependendo do ponto de vista, os vírus podem ser considerados um conjunto complexo de elementos químicos ou micro- organismos vivos bastante simples (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). As características que diferenciam os vírus de outros micro-organismos estão ligadas a sua estrutura, que é relativamente simples, e a sua forma de multiplicação, que depende de outras células. Eles possuem apenas um ácido nucleico, que pode ser um DNA ou um RNA, e este é revestido por uma estrutura proteica (que, por vezes, pode ser revestida por um envelope de lipídios, carboidratos e proteínas). Além disso, eles se multiplicam dentro de células vivas, 32 UNIDADE 1 — BASES DA MICROBIOLOGIA utilizando
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