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Poluição e Restauração de Ecossistemas


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POLUIÇÃO DOS 
ECOSSISTEMAS TERRESTRES, 
AQUÁTICOS E DA ATMOSFERA 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Kelly Dayane Aguiar 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta última aula, abordaremos processos naturais importantes para a 
manutenção da biodiversidade, como a sucessão ecológica, mecanismo 
utilizado para subsidiar a restauração de ecossistemas impactados. Também 
serão discutidas técnicas de controle e de remediação de poluentes, com 
destaque à gestão ambiental sustentável. 
TEMA 1 – PROCESSOS ECOLÓGICOS E A REGULAÇÃO DA BIODIVERSIDADE 
Os processos ecológicos, compreendidos como atributos dos 
ecossistemas, suportam a interação dinâmica entre os organismos e seus 
habitats (Townsend; Begon; Harper, 2006). As espécies geralmente são 
especializadas em determinados recursos, possuindo um nicho ecológico 
bastante específico, fator que possibilita o aumento da diversidade e a riqueza 
no ecossistema. 
Na aula sobre ecossistemas terrestres, analisamos os biomas e a relação 
intrínseca entre a paisagem e a manutenção da biodiversidade, influenciada por 
processos ecológicos que evoluíram ao longo do tempo em escala regional e 
continental. 
Um desses processos é a sucessão ecológica, apresentada na figura 1, 
que envolve uma sequência de eventos, relativamente sincronizada, de 
diversidade de espécies que colonizam ambientes inóspitos como rochas ou 
áreas vulcânicas ou ambientes impactados pelo desmatamento ou poluição 
(Townsend; Begon; Harper, 2006). Esses eventos em uma floresta estão 
descritos, sinteticamente, a seguir: 
1. Primeiro, as espécies mais rústicas, capazes de se desenvolver no 
ambiente aberto, colonizam o habitat alterado por dispersão ou 
reprodução rápida. 
2. Posteriormente, as espécies pioneiras estabelecem-se no local, 
substituindo as colonizadoras. 
3. Quando a cobertura vegetal possibilita maior sombreamento do solo e 
condições mais propícias para o desenvolvimento de espécies mais 
exigentes quanto aos recursos ambientais, há novamente uma 
substituição por espécies vegetais em estágio secundário, as quais 
apresentam altas taxas de crescimento e fotossíntese. 
 
 
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4. Em seguida, a substituição ocorre gradualmente por espécies 
sucessionais tardias, as quais apresentam melhor eficiência reprodutiva 
e energética, já que podem germinar na sombra, crescendo lentamente e 
com mais competitividade em relação às espécies anteriores. Nessa 
etapa sucessional, ocorre a maior diversidade de espécies. Ao final, no 
estágio clímax, há predomínio de espécies arborícolas. 
5. Em estágios mais avançados, as árvores mais eficientes no dossel 
adensado (que possuem uma única camada de folhas) dominam a 
paisagem, influenciam e são influenciadas pela interação com os demais 
seres vivos e por outros processos ecológicos, como a ciclagem de 
nutrientes. 
Figura 1 – Estágios da sucessão ecológica florestal 
 
Fonte: <http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo23_arquivos/image006.jpg>. 
 
Quando um poluente interfere nesse processo de equilíbrio dinâmico, por 
exemplo, o mercúrio, que se bioacumula nas cadeias alimentares, pode 
desestruturar toda a comunidade de um ecossistema. Nesse sentido, é 
fundamental a percepção crítica do avanço tecnológico e do supercrescimento 
populacional humano, ambos diretamente proporcionais ao aumento das taxas 
de extinção de espécies e à perda de habitats (Ricklefs, 2003). 
 
 
 
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TEMA 2 – ECOLOGIA DA RESTAURAÇÃO 
Como analisado nas demais aulas, as ações antrópicas são as principais 
responsáveis pelas altas taxas de degradação dos ecossistemas naturais. Dessa 
forma, para garantir o equilíbrio dinâmico e os serviços ecossistêmicos, é 
necessário planejar e executar ações que minimizem o impacto da poluição nos 
ambientes e nos seres vivos. Esse processo de manejo das comunidades é 
conhecido como restauração ecológica (Rodrigues, 2004; Townsend; Begon; 
Harper, 2006). 
A restauração ecológica considera a previsibilidade da trajetória das 
comunidades durante o processo de sucessão ecológica, o qual pode ser 
influenciado por distúrbios ou acidentes naturais, como o vulcanismo, os abalos 
sísmicos, as enchentes e o fogo. Assim, a restauração ecológica é uma opção 
para aproximar o ecossistema degradado da sua história natural, considerando 
sua trajetória de evolução e de transformação ao longo do tempo (Rodrigues, 
2004). 
Quando não há possibilidade de retorno às condições de integridade de 
um determinado ecossistema, pode ser realizado o manejo de comunidades que 
consigam sobreviver no ambiente poluído. Portanto, a restauração ecológica 
pode objetivar a recuperação de um ecossistema, de forma lenta e gradual, ou 
o estabelecimento de uma nova comunidade capaz de sobreviver no 
ambiente impactado. 
 
Há possibilidade de realmente se recuperar um ecossistema ao estado 
natural, ou apenas é possível torná-lo habitável para outras espécies capazes 
de tolerar os impactos antrópicos? 
 
O plano de restauração de um ecossistema exige o consenso dos atores 
que participam dos múltiplos usos da paisagem e, principalmente, a 
compreensão dos processos ecológicos em estreita relação com as práticas 
culturais. Ambos são patrimônios da humanidade e devem ser preservados. Por 
isso, a cultura indígena é bastante valorizada em áreas com potencial para 
restauração. 
Para elaborar o plano de restauração ecológica, é necessário 
compreender o ecossistema em suas múltiplas dimensões, por meio da 
integração de fontes de conhecimentos científicos, culturais e históricos. O 
 
 
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diagnóstico requer a composição de um mosaico de informações acerca da 
região pré-degradada e contempla estrutura e funcionamento do ecossistema, 
diversidade de espécies, dados físicos, químicos, relações culturais e históricas 
com as populações humanas que ali habitavam (Rodrigues, 2004). 
TEMA 3 – REMEDIAÇÃO E BIORREMEDIAÇÃO DE AMBIENTES POLUÍDOS 
A remediação envolve um conjunto de técnicas que auxiliam na 
recuperação de uma área impactada, por meio do impedimento do contaminante 
chegar ao ambiente, na sua remoção ou diminuição de toxicidade (Kluczkovski, 
2015). 
A biorremediação, por sua vez, é uma das técnicas de remediação 
empregada em ambientes aquáticos e terrestres poluídos. Utiliza 
microrganismos, geralmente fungos e bactérias, para biodegradar poluentes ou 
transformá-los em substâncias pouco impactantes, conforme mostrado na figura 
2 (Andrade, et. al., 2010). 
Figura 2 – Esquema de biorremediação de compostos orgânicos 
 
FONTE: EPA, 2001. 
 
Essa biotecnologia é considerada mais adequada e mais eficaz para o 
tratamento de ambientes contaminados por moléculas orgânicas complexas – 
como o petróleo – e por metais pesados, desde que seja realizada por uma 
equipe com visão multidisciplinar, tendo em vista que o processo abrange áreas 
da química, da biologia molecular, da microbiologia, da bioquímica e da 
engenharia (Kluczkovski, 2015). 
Andrade et. al. (2010) realizaram um estudo a respeito da biorremediação 
de solos contaminados por petróleo e compararam os custos de diferentes tipos 
 
 
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de tratamento de solo, concluindo que a técnica que utiliza os microrganismos 
apresenta o custo mais baixo (figura 3). Entretanto, os autores ressaltam a 
importância de realizar um extenso levantamento de informações 
hidrogeológicas, geoquímicas e microbiológicas da área contaminada. 
Figura 3 – Comparação de custos entre diferentes técnicas de remediação de 
solo 
 
FONTE: Elaborado com base em Andrade; Augusto; Jardim, 2010. 
 
De fato, as ações de gestão ambiental necessitam de uma análise de risco 
do local, da verificação da taxa de dispersão do poluente e da condição do 
ecossistema impactado, a fim de tomar a decisão mais sustentável e responsável 
socioambientalmente. 
 
Saiba mais 
Aprofunde seus conhecimentos acerca das técnicas de remediação e de 
biorremediação nas páginas 199-219do seu livro-base (Kluczkovski, 2015). 
TEMA 4 – CONTROLE DA POLUIÇÃO 
Com o objetivo de garantir a qualidade socioambiental, é necessário, 
segundo Derísio (2012), definir métodos para medir os parâmetros selecionados 
que possam estabelecer o controle da poluição de determinado ecossistema. 
Resumidamente, para o tema quatro desta aula, realizamos um paralelo 
entre os estudos das aulas anteriores e as técnicas de controle evidenciadas por 
Derísio (2012). 
Em ecossistemas terrestres, para o efetivo controle da poluição do solo, 
é primordial a avaliação e a seleção criteriosa dos locais para cada atividade 
humana, considerando: a topografia, o tipo de solo, a vegetação, os processos 
de lixiviação, a erosão, o assoreamento, as características do subsolo e a 
 
 
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proximidade dos corpos hídricos. Posteriormente, devem ser realizadas as 
medidas preventivas, como canaletas de drenagem, alteração de declividade, 
curvas de nível, redução na geração e no volume de resíduos a serem dispostos, 
ampliando o tempo dos aterros sanitários, os quais também necessitam de 
sistemas de impermeabilização, de coleta e de tratamento do chorume. 
No caso dos ecossistemas aquáticos, o desenvolvimento de sensores de 
qualidade das águas, as técnicas para prever alterações futuras e as estratégias 
de avaliação do sistema fazem-se necessárias. As decisões de controle da 
poluição aquática são definidas por meio da gestão da bacia hidrográfica e, de 
maneira geral, incluem: padrão de qualidade para os diferentes usos, seleção de 
prioridade dos usos do recurso hídrico, controle preventivo, prazos para 
tratamento de áreas poluídas, coordenação integrada com a gestão pública 
participativa. 
Quanto à poluição da atmosfera, é possível realizar a mitigação dos riscos 
por meio de quatro etapas: produção, emissão, transporte e recepção de 
poluentes, utilizando alguns métodos relacionados ao planejamento e ao 
zoneamento territorial, a eliminação e a minimização de poluentes, a 
concentração de poluentes na fonte para tratamento prévio e a diluição de 
poluentes e de dispositivos de controle de poluentes. 
Com base nesses conceitos, é possível analisar que o controle da 
poluição depende de um conhecimento integrado dos problemas ambientais e 
sociais. Além disso, requer um planejamento que englobe todas as demandas 
da população e também a manutenção da integridade dos ecossistemas, com o 
intuito de manter os serviços ecossistêmicos e de garantir a justiça social. 
TEMA 5 – GESTÃO AMBIENTAL SUSTENTÁVEL 
Com base nos estudos acerca da dinâmica dos ecossistemas e da 
influência da poluição, é possível perceber a importância do papel da gestão 
ambiental para a mediação de conflitos de interesses. Por meio de conceitos 
como cidadania e a democracia, é possível ampliar o espaço de reflexão e a 
participação na defesa do bem-estar coletivo e na proteção dos ecossistemas 
(Layrargues, 2006). 
Portanto, o trabalho da gestão ambiental está comprometido com a 
sustentabilidade quando prioriza a redução do impacto da poluição, preocupa-
 
 
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se com o bem-estar social, a integridade dos ecossistemas, a saúde coletiva, a 
equidade e a justiça socioambiental. 
NA PRÁTICA 
Uma empresa de embalagens do tipo longa vida instalou-se em 
determinada região e está utilizando recursos como papel, plástico e alumínio 
para produção de produtos. Imagine que você atue em uma empresa de 
consultoria ambiental e que fora designado para analisar os possíveis impactos 
da produção. Em sua análise, você constatou que a empresa possui: 
1. Um programa de educação ambiental para funcionários e outro em 
parceria com a Secretaria Municipal da Educação da cidade destinado 
aos estudantes de escolas públicas; 
2. Uma área específica para controlar a qualidade e a segurança alimentícia 
em seus produtos e processos industriais; 
3. Uma forma de aquisição de matéria-prima a partir de fontes certificadas e 
sustentáveis; 
4. Uma gestão de resíduos que atende às legislações quanto ao controle de 
emissões atmosféricas, à reciclagem de todo resíduo gerado em todas as 
etapas produtivas, à otimização do processo industrial, ao incentivo à 
redução de desperdício e de consumo de recursos. 
Entretanto, você observou que o processo de tratamento de efluentes não 
era eficiente e gerava um poluente orgânico que poderia ser degradado 
utilizando técnicas biotecnológicas. Como gestor ambiental, qual a sua 
recomendação para a empresa de embalagens? 
FINALIZANDO 
Processos ecológicos, como os estágios sucessionais, são importantes 
para a manutenção da biodiversidade de um ecossistema e para a garantia de 
serviços ecossistêmicos essenciais para a qualidade socioambiental. 
Quando um ecossistema é impactado, a sucessão ecológica é vista como 
um processo que pode subsidiar a restauração ecológica, por meio da seleção, 
da análise das técnicas de controle e da remediação de poluentes mais 
adequadas para cada problema socioambiental. 
 
 
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Assim, o trabalho da gestão ambiental está comprometido com a 
sustentabilidade quando prioriza a redução do impacto da poluição, preocupa-
se com o bem-estar social, a integridade dos ecossistemas, a saúde coletiva, a 
equidade e a justiça socioambiental. 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
ANDRADE, J. A.; AUGUSTO, F.; JARDIM, I. C. S. F. Biorremediação de solos 
contaminados por petróleo e seus derivados. São Paulo, 2010. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/pdf/eq/v35n3/v35n3a02.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2017. 
DERÍSIO, J. C. Introdução ao controle de poluição ambiental. 4. ed. atual. 
São Paulo: Oficina de textos, 2012. 
EPA – ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. A. Citizen’s Guide to 
Bioremediation: Soil Waste and Emergency Response, EPA 542-F-01-001, 
2001. Disponível em: <http://www.epa.gov/>. Acesso em:31 jul. 2017. 
KLUCZKOVSKI, A. M. R. G. Introdução ao estudo da poluição dos 
ecossistemas. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2015. 
LAYRARGUES, P. P. Educação para a gestão ambiental: a cidadania no 
enfrentamento político dos conflitos socioambientais. In: LOUREIRO, C. F. B.; 
LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. de (Org.). Sociedade e meio ambiente: 
a Educação Ambiental em debate. São Paulo: Cortez, 2006. 
RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara 
Koogan, 2003. 
FUNDAMENTOS de restauração ecológica. Sociedade internacional para 
restauração ecológica. Tradução de Efraim Rodrigues. Grupo de Trabalho em 
Ciência e Política, 2004. Disponível em: 
<http://www.efraim.com.br/SER_Primer3_em_portugues.pdf> Acesso em: 28 jul. 
2017. 
TOWNSEND, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L. Fundamentos em ecologia. 
Porto Alegre: Artmed, 2006.

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