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Ações interdisciplinares e promoção da saúde

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Indaial – 2020
Ações InterdIscIplInAres e 
promoção dA sAúde
Ana Célia Teixeira de Carvalho Schneider
Dalvan Antonio de Campos
João Batista de Oliveira Junior
Marina Steinbach
Virgínia de Menezes Portes
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Ana Célia Teixeira de Carvalho Schneider
Dalvan Antonio de Campos
João Batista de Oliveira Junior
Marina Steinbach
Virgínia de Menezes Portes
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
S358a
 Schneider, Ana Célia Teixeira de Carvalho
 Ações interdisciplinares e promoção da saúde. / Ana Célia Teixeira 
de Carvalho Schneider et.al. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
 226 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-101-1
1. Promoção da saúde. – Brasil. I. Schneider, Ana Célia Teixeira de 
Carvalho. II. Campos, Dalvan Antonio de. III. Junior, João Batista de Oliveira. 
IV. Steinbach, Marina. V. Portes, Virgínia de Menezes. VI. Centro Universitário 
Leonardo Da Vinci.
CDD 610
III
ApresentAção
Neste Livro Didático, são apresentados e aprofundados conceitos re-
levantes para a área da saúde, considerando sua multiplicidade e complexi-
dade. Na primeira unidade, os conteúdos acerca das concepções de saúde, 
medicalização, ética, biopoder, biopolítica e necropolítica são divididos em 
três tópicos, sendo eles: 1) refletindo sobre saúde; 2) entendendo a medicali-
zação e a ética; 3) compreendendo o biopoder, a biopolítica e a necropolítica.
A fim de garantir o processo de aprendizagem, a unidade procurou 
desenvolver os conceitos a partir das explicações do que são, seus processos 
de surgimento e como são aplicados, além de suas potencialidades e 
desafios no campo da saúde. Os resumos das unidades procuram sintetizar 
de maneira didática e resumida os tópicos desenvolvidos, assim como, as 
questões abordadas nas autoatividades objetivam auxiliar no processo de 
aprendizagem do aluno.
No primeiro tópico são apresentados os fatores que influenciaram 
para a conceituação diversificada da noção de saúde ao longo da história, 
salientando as diferenças e aproximações entre elas. Da mesma forma, como 
sua aplicação ocorre a partir de noções hegemônicas e contra-hegemônicas, 
sendo elas abordadas por meio do conceito biomédico e o ampliado de 
saúde, respectivamente. Procura-se, neste tópico, a apresentação dos fatores 
que estão relacionados com essas duas concepções, assim como, em quais 
estratégias de cuidado em saúde podemos identificá-los.
A Promoção da Saúde apresenta-se como uma estratégia importante 
para a saúde das populações, apresentada nesta unidade a partir da maneira 
como ocorre na vida prática das pessoas, considerando também suas 
múltiplas definições.
Neste sentido, buscou-se apresentar que o conceito de saúde e 
doença varia historicamente e são influenciados por aspectos econômicos, 
culturais, sociais e políticos que marcam desde a Antiguidade Clássica até a 
contemporaneidade. Demonstrando, a partir disso, a relevância dos olhares 
atentos e críticos na formação em saúde.
No Tópico 2 apresentamos os conceitos de medicalização e ética e 
o quanto estes são fundamentais na discussão contemporânea quando 
pensamos sobre o conceito de saúde ou doença dentro das perspectivas já 
apresentadas no Tópico 1. 
Para isso, iniciamos com a temática da medicalização a partir de um 
contexto histórico e social, no qual, a partir de determinado momento, se tem 
uma extrapolação dos domínios da medicina para o corpo social apresentado 
a concepção a partir de seus principais pensadores. A discussão de medica-
lização da vida, a partir de uma normatização da vida em todos os âmbitos, 
individualizando questões amplas que são influenciadas pelo contexto eco-
IV
nômico, político, cultural, histórico entre outros. Finalizamos essa discussão 
com a reflexão de algumas práticas medicalizadas e muito presentes nos dias 
atuais, como o TDHA e o sedentarismo.
 Em seguida, iniciamos uma discussão sobre o conceito de ética, ca-
racterizando-a de maneira geral como uma reflexão sobre a moral, valores 
e princípios e trazendo aspectos e marcos cruciais para o seu desenvolvi-
mento. Ainda, é apresentado o conceito de bioética enquanto uma área do 
conhecimento que se propõe responder os problemas éticos no campo das 
ciências biológicas. Por último, é apresentado o conceito de ética do cuida-
do, trazendo em pauta a temática do cuidado, autocuidado e cuidado de si. 
Finalizando o tópico, abordamos a temática da iatrogênia, a partir de uma 
proposta de mais um contexto atual, com foco na segurança do paciente e 
fatores de risco evitáveis e injustos. 
Já no Tópico 3, discutiremos três conceitos bastante contemporâneos 
e que se articulam, sendo ele, o Biopoder a Biopolítica — conceitos que têm 
como principal pensador o filósofo Michel Foucault — e a Necropolítica, se-
guiremos a mesma proposta dos tópicos anteriores, apresentando o contexto 
histórico e social desses conceitos e discutindo a partir de seus principais pen-
sadores, sempre dialogando com suas implicações no contexto da vida prática. 
O intuito é que esses conceitos auxiliem a reflexão sobre a realidade 
ao qual estamos inseridos, desde o biopoder, que se mostra como uma téc-
nica de controle e regulação dos corpos individuais — em uma perspectiva 
biológica — transformando as pessoas em corpos assujeitados e produtivos. 
Assim como o biopoder, a biopolítica trata de um controle que ultrapassa o 
campo individual e que se volta para a coletividade se preocupando com os 
variados âmbitos da vida que influenciarão na organização social e econômi-
ca da população (natalidade, mortalidade etc.). 
A partir da discussão desses dois conceitos, faremos uma reflexão 
sobre a necropolítica, que tem como principal pensador o filósofo Achille 
Mbembe, que mostra como novos arranjos do saber-poder, com foco maior 
nas desigualdades, impactam na vida e na morte das populações.
A Unidade 2 está dividida em três tópicos: 1) O ensino na área da 
saúde; 2) Modelos de saberes e práticas; e 3) Modelos assistenciais.
No tópico “Ensino na área da saúde”, foram apresentados marcos 
relevantes para a saúde no Brasil e no mundo, resultando em novas formas 
e modelos, como a Estratégia de Saúde da Família. A partir da apresentação 
do ensino na área da saúde, baseado nas clássicas escolas médicas, demons-
trou-se aspectos relevantes que influenciaram mudanças necessárias no cam-
po da formação em saúde. Assim, com o passar dos anos, o conceito amplo 
de saúde — não restringindo-se apenas à ausência de doenças — passa a 
compor a agenda da formação nesta área, baseada na concepção de que é ne-
cessário preparar os profissionais de saúde para responder as necessidades 
complexas da sociedade na atualidade.
V
No tópico “Modelos de saberes e práticas”, o desenvolvimento do 
conteúdo concentrou-se nos elementos que caracterizam os modelos tradi-
cionais de aprendizagem, até os modelos mais inovadores como a interdis-
ciplinaridade e multidisciplinaridade, os quais emergem a partir da necessi-
dade de incentivar a autonomia do aluno e formar um profissional crítico e 
reflexivo. Além disso, relata o processo de tensionamento, identificação dos 
desafios e tentativas práticas de respostas para a ocorrência das mudanças 
nos cursos de graduação das áreas da saúde.
O tópico “Modelos assistências” detém-se a apresentar os marcos 
históricos mundiais e brasileiros que contribuíram para que a Constituição 
Federal de 1988 garantisse a saúde como dever do Estado e direito de todos, 
assim como, o nascimento do Sistema Único de Saúde e seus princípios e 
diretrizes. O tópico aborda o conceito e diferencia sistemas integrados de 
sistemas fragmentados de atenção à saúde, além de abordar os principais 
aspectos que os caracterizam e suas funções. Explicita também como se or-
ganiza os níveis de atenção à saúde no Brasil,abordando seus objetivos e 
complexidades. Considerando que a finalidade dos Modelos de Atenção em 
Saúde é organizar o processo de trabalho em saúde, o capítulo apresenta 
antigos modelos de saúde, desde o Modelo Médico Assistencial Privatista 
(demanda espontânea) até o Modelo da Determinação Social da Saúde.
Por fim, na terceira unidade, serão abordados os determinantes so-
ciais da saúde, bem como seus principais modelos e aplicação para aborda-
gem de populações vulneráveis. A unidade está dividida em três tópicos, 
sendo eles: 1) Os determinantes sociais da saúde; 2) Modelos de determi-
nantes sociais da saúde; e 3) Determinantes sociais da saúde e as populações 
vulneráveis.
No primeiro tópico são apresentados os principais Determinantes 
Sociais da Saúde (DSS), com ênfase e exemplificação dos determinantes am-
bientais, econômicos e sociais. Serão também enfatizadas a importância dos 
DSS para abordagem das doenças crônicas, que apresentam grande preva-
lência no contexto contemporâneo. 
Além disso, são exploradas as contribuições dos DSS para explicação 
da relação entre as desigualdades sociais e as iniquidades em saúde, demons-
trando que diferentes condições sociais, econômicas e ambientais produzem 
efeitos em seus organismos e geram formas desiguais de adoecer e morrer.
No segundo tópico são apresentados e aprofundados os modelos de 
saúde, com ênfase nos dois principais modelos de determinantes sociais da saúde 
propostos por Dahlgren e Whitehead, e Solar e Irwin, adotados pela Organização 
Mundial da Saúde e pelas comissões nacional e internacional para DSS. 
A partir deles são demonstradas as formas de compreender aspectos 
da saúde que transcendem os determinantes biológicos, identificando 
as características nos indicadores saúde a depender do grupo que se está 
trabalhando em diferentes níveis de análise, aplicando os diferentes modelos 
de DSS. 
VI
No terceiro tópico são trabalhadas as articulações e interação dos 
DSS em três grupos sociais vulneráveis, a saber: a população privada de 
liberdade, a população em situação de rua e a população indígena. Para 
cada uma dessas populações são exploradas as formas como as iniquidades 
sociais fazem com que determinados grupos fiquem submetidos de forma 
mais vulnerável a condições que geram doenças e agravos em saúde. 
Além disso, são demonstradas como essas diferenças evitáveis podem 
ser transformadas por meio da atuação dos profissionais da saúde visando 
melhorar a saúde dos indivíduos que compõem esses grupos. 
Bons estudos!
Ana Célia Teixeira de Carvalho Schneider
Dalvan Antonio de Campos
João Batista de Oliveira Junior
Marina Steinbach
Virgínia de Menezes Portes
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
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Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VII
VIII
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
IX
UNIDADE 1 - SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER,
 BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA ...........................................................................1
TÓPICO 1 - REFLETINDO SOBRE SAÚDE ........................................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 O QUE É SAÚDE? ...................................................................................................................................3
2.1 CONCEITO BIOMÉDICO DE SAÚDE ...........................................................................................4
2.2 CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE ............................................................................................6
2.2.1 Promoção da Saúde .................................................................................................................8
3 CONSTRUÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL DO CONCEITO DE SAÚDE ....................................12
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................16
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................17
TÓPICO 2 - ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA ...................................................19
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................19
2 O QUE É MEDICALIZAÇÃO? ..........................................................................................................20
2.1 MEDICALIZAÇÃO DA VIDA.......................................................................................................21
2.2 PRÁTICAS MEDICALIZADAS .....................................................................................................23
2.2.1 Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH) .........................................................................23
2.2.2 Medicalização do sedentarismo/ práticas corporais .........................................................24
3 ÉTICA E BIOÉTICA ............................................................................................................................27
3.1 O QUE É ÉTICA? .............................................................................................................................27
3.2 O QUE É BIOÉTICA? ......................................................................................................................28
3.3 ÉTICA DO CUIDADO ....................................................................................................................32
3.4 CUIDADO, AUTOCUIDADO E CUIDADO DE SI ....................................................................33
3.5 IATROGENIA ...................................................................................................................................36
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................39
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................41TÓPICO 3 - COMPREENDENDO O BIOPODER, A BIOPOLÍTICA
 E A NECROPOLÍTICA ....................................................................................................43
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................43
2 O QUE É BIOPODER? .........................................................................................................................44
3 BIOPOLÍTICA ......................................................................................................................................47
4 NECROPOLÍTICA ...............................................................................................................................49
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................57
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................58
UNIDADE 2 - INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS
 HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS ........................................................................63
TÓPICO 1 - O ENSINO NA ÁREA DA SAÚDE ...............................................................................65
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................65
2 BREVE TRAJETÓRIA DA ATENÇÃO A SAÚDE ..........................................................................65
sumárIo
X
3 A FORMAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL E NO MUNDO ..........................................................69
4MUDANÇAS NO SETOR SAÚDE E O “NOVO” ENSINO NA SAÚDE NO BRASIL ...........77
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................85
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................86
TÓPICO 2 - MODELOS DE SABERES E PRÁTICAS
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................89
2 O MODELO TRADICIONAL ............................................................................................................89
3 OS TRÊS PARADIGMAS DO ENSINO-SERVIÇO DA ATUALIDADE ..................................92
4 O PROCESSO DE TRABALHO NA SAÚDE ................................................................................106
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................109
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................110
TÓPICO 3 - MODELOS ASSISTENCIAIS .......................................................................................111
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................111
2 OS SISTEMAS DE SAÚDE...............................................................................................................111
3 O QUE É O SISTEMA DE ATENÇÃO À SAÚDE? ......................................................................116
3.1 SISTEMAS FRAGMENTADOS HIERARQUIZADOS .............................................................117
3.2 REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE ...............................................................................................117
4 MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE ............................................................................................125
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................135
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................137
UNIDADE 3 - A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS
 PARA AÇÕES EM SAÚDE ........................................................................................139
TÓPICO 1 - OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE ........................................................141
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141
2 CONCEITO DE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE (DSS) .........................................141
2.1 HISTÓRICO ....................................................................................................................................143
3 DETERMINANTES DA SAÚDE .....................................................................................................148
3.1 DETERMINANTES AMBIENTAIS DE SAÚDE ........................................................................149
3.1.1 Exemplos de determinantes ambientais ............................................................................151
3.2 DETERMINANTES ECONÔMICOS .........................................................................................153
3.2.1 Exemplos de determinantes econômicos ..........................................................................154
3.3 DETERMINANTES SOCIAIS ......................................................................................................156
3.3.1 Exemplos de determinantes sociais ...................................................................................158
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................160
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................161
TÓPICO 2 - MODELOS DE DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE ...................................163
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................163
2 O QUE SÃO MODELOS CONCEITUAIS DE SAÚDE? .............................................................163
3 PRINCIPAIS MODELOS DE DSS ..................................................................................................164
3.1 MODELO DE DAHLGREN E WHITEHEAD ...........................................................................166
3.2 MODELO DE SOLAR E IRWIN ..................................................................................................169
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................173
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174
TÓPICO 3 - DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE E AS
 POPULAÇÕES VULNERÁVEIS ...................................................................................175
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................175
XI
2 SAÚDE E VULNERABILIDADE SOCIAL ....................................................................................175
2.1 ENTENDENDO OS CONCEITOS ..............................................................................................176
3 OS DSS E A SAÚDE DE POPULACÕES VULNERÁVEIS ........................................................177
3.1 POPULAÇÃO PRIVADA DE LIBERDADE ...............................................................................178
3.2 POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA ...................................................................................181
3.3 POPULAÇÃO INDÍGENA ...........................................................................................................184
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................192AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................193
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................194
XII
1
UNIDADE 1
SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, 
BIOPODER, BIOPOLÍTICA E 
NECROPOLÍTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer diferentes formas de pensar saúde, através dos modelos de de-
terminação social em contraponto ao modelo biomédico;
• saber como os modelos biomédicos influenciam na forma em que as pes-
soas e coletividades adoecem e percebem sua saúde; 
• compreender o processo de medicalização da vida nas práticas em saúde e 
da ética como um instrumento fundamental de análise de tais processos;
• analisar as relações sociais, principalmente no campo da saúde, através 
dos conceitos de biopoder, biopolítica e necropolítica.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
 
TÓPICO 1 – REFLETINDO SOBRE SAÚDE
TÓPICO 2 – ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
TÓPICO 3 – COMPREENDENDO O BIOPODER, A BIOPOLÍTICA E A 
NECROPOLÍTICA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
REFLETINDO SOBRE SAÚDE
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos as diversas formas de pensar o conceito saúde, 
suas diferentes definições ao longo do tempo, assim como alguns aspectos que 
impactam suas diferentes conceituações. Assumiremos como foco as perspecti-
vas voltadas ao modelo biomédico e ao conceito ampliado de saúde (modelo de 
determinação social do processo saúde e doença). 
No decorrer do tópico, você deverá refletir sobre as diferentes formas de 
pensar saúde e, consequentemente, do processo saúde-doença e de como essas 
diferentes maneiras influenciam o universo da saúde (formação e atuação profis-
sional, mercado, sistemas de saúde). Dentro desse percurso, levantaremos uma 
discussão breve sobre os determinantes sociais em saúde e a promoção da saúde, 
demonstrando os marcos importantes em seus surgimentos, assim como aspectos 
desafiadores e paradoxais.
No que tange à construção histórico-social do conceito de saúde, procura-
mos apresentar a construção do conceito ao longo história, salientando os aspec-
tos sociais, culturais, políticos e econômicos que corroboraram para sua modifi-
cação. Para que possamos entender essa construção, aproximamos a discussão 
aos marcos históricos, assim, as diferentes concepções de saúde serão abordadas 
desde a Antiguidade Clássica até os recentes desafios da contemporaneidade. 
Você deverá refletir sobre o que é saúde a partir da lente que permite 
identificar as noções históricas, os motivos associados aos aparecimentos e desa-
parecimentos. Da mesma forma, deverá ser capaz de refletir acerca dos modelos 
e fatores influenciadores — que tendem a se tornar cada vez mais complexos 
— que corroboram para concepção individual e coletiva de saúde nas múltiplas 
formas de organização social em determinado tempo e lugar.
2 O QUE É SAÚDE?
O conceito de saúde não pode ser apresentado como algo estático, único e 
absoluto. Ao se deparar com a definição do que é saúde, se faz necessário refletir 
também sobre qual é o momento histórico que estamos analisando, a conjuntura 
social, econômica, política e social, pois saúde não tem um significado universal, 
ela depende de valores individuais, concepções científicas, religiosas, filosóficas, 
entre outras (SCLIAR, 2007).
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
4
Desse modo, é importante entender que existem diversos conceitos e 
formatos de compreender o que é e como promover saúde, e essas diferentes 
maneiras de pensar resultam em práticas e ações diferentes. 
Um bom exemplo das diversas formas de pensar saúde são as diversas 
definições existentes e que vão sofrendo modificações ao longo do tempo, 
quando saúde já foi considerada como “ausência de doença”. Já foi definida pela 
Organização Mundial da Saúde (OMS, 1946, s.p.) como “o estado do mais completo 
bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência da enfermidade” que 
amplia essa concepção, apesar de ainda ser um conceito abstrato. Temos ainda o 
conceito de saúde proposto pela Constituição Federal de 1988, por meio do artigo 
196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos 
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e 
recuperação” (BRASIL, 1988, s.p.).
Com base no exposto anterior, vamos conhecer dois modelos conceituais 
sobre a maneira de reconhecer o processo saúde-doença, o modelo biomédico e 
o modelo da determinação social da doença, logo após faremos uma discussão 
mais detalhada sobre a construção histórico-social do conceito de saúde. 
2.1 CONCEITO BIOMÉDICO DE SAÚDE
O modelo biomédico, considerado hegemônico na nossa sociedade, apre-
senta uma compreensão de saúde e doença pautada nas ciências da vida, tendo 
como foco principal a doença, partindo especificamente da biologia, anatomia e 
fisiologia. Nessa perspectiva, a doença é considerada uma desordem, uma falta 
de adaptação do organismo ao meio, sempre existindo um mecanismo etiopa-
togênico por trás das doenças (PUTTINI; PEREIRA JUNIOR; OLIVEIRA, 2010).
Na abordagem histórica, o modelo biomédico surge a partir da perspecti-
va científica do século XVII, a partir de uma visão mecanicista e reducionista do 
Homem e da Natureza que se dá através de alguns filósofos como Galileu, Des-
Para pensar como existem diferentes formas de ver as coisas, utilizaremos um 
exemplo retirado da Gestalt. Quando analisamos o elemento I3, nos deparamos com di-
ferentes perspectivas, em que algumas pessoas entenderão como letra bê e outras como 
o número 13, mas quando colocamos dentro de um contexto de letras: A, I3, C ou de um 
contexto numérico 12, I3, 14, direcionamos o olhar sobre aquele objeto e percebemos que 
o contexto em que está inserido modifica a forma de olhar e também o modo de intervir 
sobre tal aspecto.
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
5
cartes, Newton, Bacon, dentre outros que defendiam a realidade do mundo como 
uma máquina (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002). Assim, o modelo biomédico 
tradicional se traduz por uma visão cartesiana de ver o mundo, considerando a 
doença como um desarranjo temporário ou constante do funcionamento de um 
organismo. Por isso, podemos afirmar que curar uma doença se equivalia ao con-
serto de uma máquina (ENGEL, 1977; NOACK, 1987).
O modelo capitalista norte-americano, conhecido como flexneriano, é o 
grande responsável pela difusão do modelo biomédico, pois a partir de uma pes-
quisa realizada nos EUA, em 1919 (patrocinada pela Fundação Carnegie), Flexner 
defende o modelo (biomédico) da Rockefeller Foundation, afirmando que era o 
ideal para o ensino de medicina, assim foi amplamente propagado.
Esse modelo adota uma lógica unicausal, fragmentada e unidirecional, 
centrada na doença ao invés da promoção de saúde e da prevenção de doenças, 
no médico e na alta tecnologia, tem a verdade científica como absoluta, considera 
o corpo humano uma máquina, tem foco no indivíduo em detrimento do coletivo 
(VERDI; DA ROS; CUTOLO, 2010).
 
Apresentamos na sequência um quadro que aborda as principais caracte-
rísticas do modelo Flexneriano:
QUADRO 1 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO MODELO FLEXNERIANO
Positivismo Tem a verdade científica.
Fragmentação/ 
Especialização
Ensino com ênfase na anatomia, estudando segmentos do 
humano, dando origem às múltiplas especialidades médicas.
Mecanicismo Considera o corpo humano umamáquina.
Biologicismo As doenças são causadas sempre por um agente causal (biológico, físico, químico).
Tecnificação Centraliza os processos de diagnóstico e cura nos procedimentos e equipamentos tecnológicos.
Individualismo Focaliza o indivíduo, negando os grupos sociais e a comunidade. 
Curativismo Dá ênfase à cura das doenças, em detrimento da promoção da saúde e da prevenção das doenças.
Hospitalocêntrico 
O melhor ambiente para tratar as doenças é o hospital, 
porque tem todos os exames acessíveis e se administra 
medicamentos nas horas certas.
FONTE: Adaptado de Verdi, Da Ros e Cutolo (2010)
 
Quando nos referimos ao modelo biomédico como hegemônico, estamos 
reconhecendo que se trata de uma lógica que ainda serve de alicerce para a 
formação dos cursos da área da saúde refletindo diretamente na atuação dos 
profissionais, além disso, ao longo do tempo, esse modelo foi sendo assimilado pelo 
senso comum, que tende cada vez mais valorizar a doença e seus procedimentos 
diagnósticos que requerem alta tecnologia.
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
6
Pensar em uma atuação profissional pautada em uma lógica biologicista 
faz com que os profissionais desconsideram a subjetividade das pessoas/pacientes, 
tendo uma prática pautada no diagnóstico e na terapêutica, desconsiderando 
suas condições de vida, o acesso a determinados procedimentos e/ou condutas, 
muitas vezes culpabilizando os indivíduos por seu estado de saúde ou doença.
Tendo em vista uma visão coletiva ou epidemiológica pautada no modelo 
biomédico, a saúde da coletividade é marcada pela presença ou ausência de 
fatores de risco. Várias críticas são apontadas nesse modo de pensar, apontando 
como a organização política e social da sociedade se relaciona e influencia o modo 
de adoecer populacional (PUTTINI; PEREIRA JUNIOR; OLIVEIRA, 2010).
2.2 CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE 
Com o intuito de ampliação do modo de ver e conceber a saúde, outros 
modelos foram se estabelecendo. Partindo de um conceito ampliado, saúde está 
vinculada à conquista dos direitos humanos e não se restringe ao modelo bio-
médico e nem à acessibilidade aos serviços, depende também de outros fatores 
que são considerados determinantes e condicionantes sociais da saúde, tais como 
educação, habitação, trabalho, renda, transporte, alimentação, lazer, meio am-
biente, entre outros, que devem ser assegurados pelo Estado. Nosso foco será a 
discussão do modelo de determinação social da saúde e da doença, que surge 
como uma nova forma de ver esse processo. 
Sua origem se dá na Europa, no século XIX, através do Movimento de Medi-
cina Social. Tal movimento, encabeçado pelo médico Rudolf Ludwig Karl Virshow, 
defendia que o modo como as pessoas vivem e trabalham afetam diretamente a 
forma como elas adoecem, tendo uma determinação social, cultural e econômica. 
Virchow conseguiu, sem conhecer a bactéria, nem antibióticos, terminar com 
a epidemia de febre tifoide na região da Silésia (Polônia), com a mudança da carga horária 
de trabalho, de 16 para 10 horas diárias, melhores condições de saneamento nas fábricas 
(abriu janelas), proibição de trabalho para menores (de 4 para 12 anos), maior salário (mais 
dinheiro para comprar comida para os filhos), alimentação adequada e a construção de 
casas populares próximas às fábricas.
INTERESSA
NTE
Desse modo, esse modelo surge como um campo de novos conhecimentos 
e saberes ampliando a forma de pensar saúde, na contramão do modelo biomédico. 
É importante salientar que o modelo ampliado não desconsidera ou nega a 
determinação biológica, pelo contrário, os profissionais de saúde necessitam 
dominar tais conhecimentos, porém é importante reconhecer que a forma como 
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
7
as pessoas adoecem vai muito além de questões individuais relacionadas ao 
corpo biológico, e que as condições sociais afetam diretamente o modo como as 
pessoas vivem e adoecem. 
O novo paradigma representa uma nova maneira de interpretar as 
necessidades e ações de saúde, não mais numa perspectiva unicamente 
biológica, mecanicista, individual, específi ca, mas numa perspectiva 
contextual, histórica, coletiva, ampla. Assim, de uma postura voltada 
para controlar os fatores de risco e comportamentos individuais, volta-
se para eleger metas para a ação política para a saúde, direcionadas ao 
coletivo (PEREIRA; PENTEADO; MARCELO, 2000, p. 41).
Como o modelo de determinação social se mostra como uma forma 
de pensar multifatorial, mais amplo e politizado, alguns autores levantam a 
discussão sobre os determinantes sociais em saúde como forma de aproximar 
essa discussão da vida prática, sendo defi nido pela Comissão Nacional dos 
Determinantes Sociais e Saúde (CNDSS) como fatores sociais, econômicos, 
culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que infl uenciam a 
ocorrência de problemas de saúde e dos seus fatores de risco.
Existe uma ampla discussão sobre os determinantes sociais em saúde e 
várias proposições para esse conceito em nível internacional. Um modelo adotado 
pela CNDSS foi proposto por Dahlgren e Whitehead, que coloca os DSS distribuídos 
em diferentes camadas, desde uma camada mais próxima dos determinantes 
individuais até uma camada mais distal com os macrodeterminantes (sociais, 
econômicos, culturais e ambientais) que infl uenciam todas as outras camadas. 
FIGURA 1 – DETERMINANTES SOCIAIS: MODELO DE DAHLGREN E WHITEHEAD
FONTE: <https://bit.ly/3eg8C0e>. Acesso em: 22 maio 2020.
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
8
De todo modo, se faz necessário refletir o quanto o modo de organização 
social, ou seja, como os homens e mulheres se apropriam e interagem com o 
ambiente, influenciam diretamente a produção de saúde e doença das pessoas. 
Dessa forma, ter uma concepção ampliada do processo saúde-doença é pensar 
nos determinantes sociais em saúde e o quanto o acesso ou não a eles causam 
iniquidades e desigualdades sociais em saúde que são evitáveis, injustas 
e desnecessárias. Com base nisso, é fundamental que as políticas públicas 
considerem esses aspectos a fim de serem mais equânimes e condizentes com a 
realidade da população.
2.2.1 Promoção da Saúde 
A Promoção da Saúde surge como um novo modo de olhar para as 
questões de saúde, entretanto, assim como o conceito de saúde, passa a ser vista 
de diversas maneiras e atravessada diretamente pelos modelos conceituais em 
saúde, especialmente o modelo biomédico e o modelo de determinação social, já 
trabalhados neste tópico (CZERESNIA, 2003). 
Em meados dos anos 1970, a promoção da saúde é discutida na Declaração 
de Alma-Ata que surgiu da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários 
de Saúde. Esse debate amplia o modo de ver saúde, indo para além de um 
“problema” individual e se tornando também um problema social e político.
Nesse momento surge a concepção de promoção da saúde oriunda do 
Canadá, que fica conhecida como uma nova concepção de saúde, voltada para a 
determinação social e econômica da saúde e um olhar ampliado não mais centrada 
apenas na doença. Carvalho (2004) aponta que esse novo modelo traz a afirmação 
do social, busca superar o modelo biomédico e considera a saúde um direito de 
cidadania. Outro ponto importante oriundo dessa conferência foi a centralidade 
na atenção primária, uma vez que foram considerados os determinantes sociais 
como importantes protagonistas no processo saúde e doença (PAIM, 2013).
Buss (2000, p. 23) define a Promoção de Saúde como:
Uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus 
determinantes, estando associada a um conjunto de valores que inclui: 
qualidade de vida, saúde, solidariedade, equidade, democracia, 
cidadania, desenvolvimento, participação, entre outros. Apresenta 
como elementos essenciais a articulação de saberes técnicos e 
populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários 
para o enfrentamento e resolução dos problemas de saúde.
O SistemaÚnico de Saúde que nasce em um contexto de lutas por 
democracia e por direitos de cidadania é pensado e criado com base na Promoção 
da Saúde em sua perspectiva da determinação social proveniente do Canadá, 
considerando saúde no seu sentido amplo, sendo assim defendido e registrado 
na 8ª Conferência Nacional de Saúde:
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
9
[...] saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, 
educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, 
liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde, é, assim, 
antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, 
as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.
[...] Por não ser um conceito abstrato, saúde] define-se no contexto 
histórico de determinada sociedade e num dado momento de seu 
desenvolvimento, devendo ser conquistada pela população em suas 
lutas cotidianas (BRASIL, 1986, p. 1).
Desse modo, fica claro que o SUS foi idealizado para superar o modelo 
biomédico, com caráter preventivista e assistencial, com uma proposta de 
reestruturação organizacional dos serviços e ações em saúde. O Programa de 
Saúde da Família (PSF), atual Estratégia de Saúde da Família (ESF), se mostra 
como uma das estratégias de reestruturação e superação do modelo biomédico a 
partir da proposta de atenção primária, porém o que ainda se observa é uma forte 
influência do modelo hegemônico.
É inegável as conquistas e avanços alcançados com o SUS desde sua 
implantação, como a ampliação do acesso, dos cuidados domiciliares, da atenção 
à saúde das mulheres, crianças e idosos, no tratamento das doenças crônicas, 
entre vários outros. Apesar disso, ainda nos deparamos com uma forte influência 
do modelo biomédico nas ações e condutas, o que se torna um grande obstáculo 
para a consolidação dos princípios do SUS e de um novo modo de ver a saúde. 
 
Como já apontado anteriormente, a promoção da saúde também vive com 
uma pluralidade de concepções, trazendo controvérsias e questionamentos tanto 
na sua forma conceitual quanto nas ações aplicadas. Além do modelo ampliado de 
saúde, ainda nos deparamos com um olhar sobre a promoção da saúde pautados 
no modelo biomédico, tendo um enfoque preventivo voltado à mudança de 
comportamento, nesse caso, as ações de promoção da saúde têm o objetivo de 
modificar os hábitos e o estilo de vida das pessoas com um olhar. Desse modo, as 
situações indesejadas são evitadas, principalmente nas populações consideradas 
de risco, criando um ambiente de autovigilância. 
A partir dessa perspectiva, temos a retirada da responsabilidade do 
Estado e uma responsabilização direta sobre os indivíduos, os culpabilizando, 
assim, por suas condições de saúde ou doença, que na maioria das vezes são de 
cunho social e estão fora de sua governabilidade. Nesse contexto, a promoção 
da saúde apresenta-se como uma ferramenta de controle do corpo (CASTIEL; 
DIAS, 2007). Entretanto, criou-se uma educação em saúde autoritária, em que 
os técnicos e profissionais transmitem seus saberes biomédicos e reducionistas 
por meio de uma imposição vertical sobre o que consideram saudável e verdade 
científica (CARVALHO, 2004; MOREIRA et al., 2009).
A seguir apresentamos um quadro explicativo que busca sintetizar 
os dois modelos conceituais e suas principais formas e características de 
operacionalização:
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
10
QUADRO 2 – MODELOS CONCEITUAIS
MODELO PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Modelo Biomédico
Compreensão dos fenômenos de saúde e doença com 
base nas ciências da vida, principalmente a partir da 
biologia, tendo uma lógica unicausal, fragmentada, 
unidirecional, considerado um modelo hegemônico. 
Modelo da determinação 
social da doença
Novo modo de olhar para o processo saúde-doença, 
entendendo que as condições de vida e trabalho das 
pessoas e coletividades estão diretamente relaciona-
dos a sua situação de saúde e o modo pelo qual elas 
adoecem, estando ainda ligadas a valores como de-
mocracia e cidadania.
FONTE: Adaptado de Verdi, Da Ros e Cutolo (2010).
Tendo como foco a perspectiva ampliada de saúde, quando pensamos na 
promoção da saúde, estamos mobilizando uma série de fatores relacionados à vida 
das pessoas e comunidades, sendo necessário um trabalho dinâmico, composto 
por um planejamento intersetorial, multiprofissional, e que leve em consideração 
as reais necessidades dos indivíduos envolvidos no processo – profissionais de 
saúde, lideranças, mulheres e homens da comunidade, conselheiros, profissionais 
de outros setores, entre outros –, requisitando ações que ampliem a consciência 
sanitária através de práticas que considerem direitos e deveres, educação para a 
saúde etc. 
 
Ainda, se fazem necessárias mudanças reais nos padrões econômicos no 
tocante dessas sociedades, além de se pensar políticas públicas que garantam 
uma maior possibilidade de acesso e recursos de maneira mais igualitária — 
água potável, ar puro, ambientes saudáveis, alimentação adequada, educação, 
informação, transporte etc. — atuando sobre as grandes desigualdades sociais 
vivenciadas. 
 
Os valores relacionados à cultura é outro aspecto fundamental quando 
se pensa em uma concepção ampliada de saúde, pois não se deve colocar suas 
crenças e conhecimentos como verdade absoluta e universal, pois diferentes 
culturas possuem diferentes maneiras de lidar, explicar e de curar as doenças. 
Portanto, conhecer as práticas culturais do território em que está inserido é 
imprescindível para planejar as ações de saúde daquele povo, sejam elas de 
promoção, prevenção ou reabilitação (BRASIL, 2016).
 
Nesse sentido, a participação social é outro eixo fundamental quando 
se pensa em promoção da saúde, pois as pessoas devem participar tanto da 
construção das práticas e políticas públicas como na identificação dos problemas 
e necessidades de saúde, sendo protagonistas no que tange às ações relacionadas 
a sua vida e sua comunidade, entendo protagonismo como:
[...] o processo de protagonizar, de ser o protagonista, o figurante 
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
11
principal de uma apresentação. Do latim “protos” — principal, 
primeiro — e de “agonistes” — lutador, competidor. Protagonismo é 
um termo muito usado no teatro, no cinema, na novela, para se referir 
ao personagem principal da encenação. Neste caso, dizemos que as 
pessoas da comunidade, vocês, toda a equipe e outras pessoas de 
outras instituições devem ser protagonistas, devem ser atores, devem 
participar dos planos e das ações (BRASIL, 2016, p. 54).
Em suma, a promoção da saúde em seu modo amplo se traduz por um 
trabalho que envolve diferentes setores e atores sociais, relacionando diretamente 
às condições de vida e saúde das pessoas (acesso à terra, ao trabalho, à alimen-
tação, à moradia etc.). Além disso, leva em consideração as particularidades de 
cada comunidade, sua cultura, valores, crenças, práticas, entre outros. Portanto, 
trabalhar a promoção da saúde envolve pensar os fatores que impactam o modo 
de viver e de adoecer das pessoas e coletividades, necessitando também da parti-
cipação popular para entender as necessidades e formular as possíveis soluções.
Uma equipe de saúde da família de uma determinada comunidade recebe 
vários casos reincidentes de diarreia aguda no último mês, onde a maioria dessas pessoas 
foi ‘tratadas’ através dos protocolos clínicos para tratamento da diarreia aguda.
Antes de prosseguirmos, podemos pensar: quais fatores podem estar associados a estes 
casos? 
Continuando...
A partir de uma reunião de equipe, os profissionais de saúde decidiram fazer uma visita 
no território, para pensar quais fatores poderiam estar influenciando esta situação, pois a 
maioria dos pacientes diagnosticados morava na mesma região.
Após uma visita junto à equipe de vigilância sanitária no território e reunião com algumas 
lideranças do centro comunitário, os profissionais encontraram os seguintesproblemas:
• A maioria das famílias possuía um sistema precário de abastecimento de água e 
tratamento de esgoto.
• A maioria das casas da região observada não trata a água para consumo.
Desse modo, algumas estratégias foram adotadas pela equipe:
1. Realizar reunião com outros setores com o intuito de solucionar os problemas 
relacionados ao abastecimento de água e tratamento de esgoto.
2. Realizar um planejamento envolvendo vários atores sociais (lideranças da comunidade, 
profissionais de outros setores (educação, meio ambiente) bem como com algumas 
pessoas que moravam na região afetada). A partir desse planejamento foram realizadas 
diversas ações de educação em saúde, incluindo ações na unidade básica de saúde e nas 
escolas, trabalhando assuntos como: tratamento de água antes do consumo, preparo de 
alimentos e higiene pessoal, rodas de conversas entre os moradores e integração com o 
conselho de saúde local.
NOTA
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
12
3 CONSTRUÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL DO CONCEITO DE 
SAÚDE 
Neste subtópico, abordaremos o processo de construção do conceito de 
saúde e, portanto, de doença ao longo da história. Como já afirmamos anterior-
mente, esses conceitos se modificam de acordo com aspectos sociais, culturais, 
políticos e econômicos, isso significa que possuem relevantes variações porque 
estão diretamente ligados a um tempo e lugar, submetidos, dessa forma, aos va-
lores, princípios e regras específicas de uma determinada sociedade. 
Como exemplo, podemos citar as diferentes concepções de saúde entre a 
cultura ocidental e oriental na contemporaneidade. Enquanto a medicina orien-
tal entende as doenças como resultante do desequilíbrio do organismo humano 
(causas naturalizadas), a medicina moderna ocidental atua diante do corpo na 
busca de um estado biológico normal, exigindo, desse modo, alta tecnologia e 
custos elevados, apesar de apresentar diferentes realidades econômicas e sociais. 
Por isso, a evolução conceitual de saúde e doença, assim como o de sociedade, 
não responde necessariamente a uma qualificação, no sentido de afirmarmos que 
melhorou ao longo do tempo, mas corresponde a uma defesa de verdades, dis-
cursos e valores sociais e culturais que vigoram naquele tempo e lugar.
Na Antiguidade Clássica, a crença era de que as doenças eram causadas 
por elementos naturais ou sobrenaturais, compreendendo, assim, a saúde e do-
ença por meio da filosofia religiosa. Dessa forma, o ambiente físico, os astros, o 
clima, os insetos e os animais eram reconhecidos como os possíveis causadores 
de doenças, uma vez que, para os gregos, eram os fatores externos que as pro-
duziam. Assim, na contramão da doença e para alcançar a harmonia perfeita do 
corpo humano — podemos considerar para alcançar a saúde — as estações do 
ano, as características do vento e da água, assim como demais fatores externos 
deveriam ser considerados. É ainda nesse período que se inicia a ideia empírica 
do contágio (BARATA, 1985).
Já na Idade Média, a religiosidade assume a centralidade causal das do-
enças. Entretanto, com as crescentes epidemias, no final desse período retoma-se 
Nas reuniões seguintes, a equipe percebeu a diminuição progressiva dos casos de diarreia 
aguda, destacando que ainda não havia sido modificado nenhum aspecto físico daquele 
ambiente relacionado ao tratamento de água e esgoto.
AGORA REFLITA:
• Quais fatores influenciaram para a diminuição dos casos?
• Quais conceitos estudados até aqui se relacionam com este caso?
• Qual perspectiva da promoção da saúde esteve envolvida nesta situação? E por quê?
• Agora que já conversamos sobre o conceito ampliado de saúde e a promoção da 
saúde, você se lembra de outros exemplos como esse?
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
13
a ideia de contágio entre a população, mas agora com caráter religioso. Assim, as 
causas estão ligadas à conjugação dos astros, ao envenenamento das águas pelos 
leprosos, judeus ou até mesmo por bruxarias. Sob forte influência do cristianis-
mo, a doença assume um sentido místico religioso — vista como castigo — e a 
cura é buscada em poderes milagrosos (amuletos, água benta, exorcismo). Ainda 
nesse período, os estudos empíricos são responsáveis pela formação das ciências 
básicas, surgindo assim a necessidade de descobrir a origem das matérias que 
causavam os contágios, dando origem à Teoria Miasmática, cuja explicação da 
doença estava nas partículas que não podiam ser vistas, os miasmas.
O século XIX foi marcado pela capacidade da medicina social de criar as 
condições de salubridade adequadas à nova sociedade, a partir disso, abrindo es-
paço para que gradativamente a prática médica individual ocupasse lugar central 
nas práticas de saúde das populações. Surgem também explicações sobre a doen-
ça a partir das condições de vida e de trabalho. É nesse período que ocorre o nas-
cimento da bacteriologia e com ela a concepção de que para cada doença há um 
agente etiológico, capaz de ser combatido com intervenções químicas e vacinais. 
Assim, o século XIX fica conhecido pelo fortalecimento da biologia cientí-
fica, não apresentando influência relevante da filosofia. Nesse período, identifica-
-se o fortalecimento da patologia celular, da fisiologia, da bacteriologia, resultan-
do o significativo desenvolvimento de pesquisas científicas nessa área. Por isso, 
afirma-se que nessa época há uma transição da medicina como ciência empírica 
para ciência experimental, assumindo centralidade numa ciência que pode ser 
testada, aplicada e comprovada (BARATA, 1985).
A Teoria Multicausal rouba a cena no século XX, reconhecida como a des-
coberta científica que impacta a produção de saúde e doença da população. A in-
suficiência da teoria unicausal da doença de caráter biologicista e histórico, e com 
uma concepção reducionista do social, exige explicações multicausais. Já se sabia 
então que os fatores causadores das doenças eram relacionados ao agente etioló-
gico, ao hospedeiro e ao meio ambiente, formando a triangulação bastante conhe-
cida. Entretanto, identificou-se que as causas agiam separadamente, possuindo 
assim relações diretas e indiretas entre si. Nesse período, mesmo que de maneira 
muito incipiente, se começa a considerar os fatores psíquicos como causadores 
de doenças e limitadores do estado de saúde da população, tanto na perspectiva 
individual quanto coletiva. Assim, surgem outras formas de enxergar a existência 
humana, ampliando o escopo de fatores influenciadores na saúde e na doença, o 
que podemos reconhecer como o início da concepção biopsicossocial. 
Se até aqui saúde significava não ter doenças, a contemporaneidade rompe 
com essa concepção. Até esse momento não havia uma definição universal do que 
era saúde e para isso seria necessário um consenso entre as nações, sendo possível 
obtê-la somente por meio de um organismo internacional. Influenciada pelas gran-
des manifestações e conflitos políticos, econômicos e sociais mundiais, em 1948 a 
Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu saúde não apenas como a ausência 
de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. A 
nova definição implicou o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do 
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
14
Estado na promoção e proteção da saúde. Essa concepção de saúde refletia a luta 
dos movimentos sociais do pós-guerra pela ascensão do socialismo, questões que 
marcavam o cenário político, econômico e social da época (SCLIAR, 2007). 
Assim, saúde não significava mais a ausência de doenças, mas deveria ser 
capaz de expressar o direito a uma vida sem privações, entendo que o trabalho, a 
moradia, o convívio social, o acesso a serviços e bens de consumo, o saneamento 
básico, a dimensão psicológica, dentre outros, eram aspectos relevantes na defi-
nição de saúde e doença de uma população.
Apesar de avançada para a época em que foi realizada, essa definição pas-
saa exigir atualmente outras concepções diante da complexidade da saúde dos 
indivíduos. Diante da definição do que é saúde e de seus parâmetros de nor-
malidade, é preciso lançarmos um olhar detalhado para outros fatores. O que 
é normal? Como é mensurada a normalidade de um fenômeno? Comumente, o 
normal é pensado como sendo o estado mais comum — como deveria ser — de 
um determinado fenômeno, a partir disso, determina-se o mais saudável, haven-
do uma padronização. Entretanto, pelo fato de a saúde e a doença envolverem 
dimensões subjetivas, sociais, econômicas, políticas e não apenas biologicamente 
científicas, a normatividade que define o normal e o patológico varia de uma so-
ciedade para outra nos diferentes tempos e lugares (CANGUILHEM, 1995).
Além disso, podemos dizer que, para além das definições de normal e 
patológico, as sociedades contemporâneas têm considerado as questões estéticas 
como componentes importantes na concepção de ter ou não saúde. Dessa forma, 
se identifica novos elementos capazes de definir saúde e doença. Em contrapo-
sição, os determinantes sociais em saúde nos chamam atenção para os múltiplos 
fatores que influenciam o nível de saúde e qualidade de vida das populações, 
salientando-os em uma associação direta com a classe social, relações étnicas e 
de gênero, condições de trabalho e sanitárias, acesso aos serviços de saúde e bens 
de consumo, dentre tantas outras. Cenários estes que revelam mundos comple-
tamente opostos — atravessados pela dimensão econômica e social — em uma 
mesma cidade, por vezes, em um mesmo bairro. Desafios que se relacionam di-
retamente ao fazer saúde e produzir cuidado no cotidiano dos serviços de saúde 
em seus diferentes níveis de atenção. 
Para concluirmos, pensar saúde na contemporaneidade é muito mais do 
que uma aplicação técnica e normativa a partir de perspectivas teóricas redu-
toras do conhecimento biológico, psíquico e social. A partir das concepções de 
promoção da saúde é possível identificarmos a potencialização da capacidade in-
dividual e coletiva das pessoas para conduzirem suas vidas frente aos múltiplos 
determinantes e condicionantes da saúde. Isso significa que é preciso estar atento 
aos acontecimentos das diversificadas realidades, os quais nos exigem e inspiram 
múltiplos olhares.
É necessário deslocarmos as nossas lentes, enquanto estudantes e profis-
sionais da saúde, para novos saberes e compartilhamentos. O que estamos salien-
tando aqui é que as noções de saúde e doença variam historicamente e tendem 
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
15
a se tornar cada vez mais complexas, uma vez que as modificações econômicas, 
culturais, sociais e políticas vão alterando a vida das pessoas, impactando, assim, 
a forma de viver, de se ver nesse mundo, e sentir-se saudável ou doente. É fun-
damental considerar que o aparecimento e desaparecimento de fenômenos de 
saúde e doença, o aumento ou a diminuição de sua frequência, a menor ou maior 
importância que adquirem estão diretamente associados às múltiplas formas de 
organização social em determinado tempo e lugar.
Sugestões de leituras:
• ALMEIDA FILHO, N. O que é saúde? Editora Fiocruz, 2011.
• MALTA, D. C et al. Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS): capítulos de uma 
caminhada ainda em construção. Ciência & Saúde Coletiva, Manguinhos, v. 21, n. 6, p. 
1683-1694, 2016.
• RIOS, D. R. S.; SOUSA, D. A. B.; CAPUTO, M. C. Diálogos interprofissionais e 
interdisciplinares na prática extensionista: o caminho para a inserção do conceito 
ampliado de saúde na formação acadêmica. Interface, Botucatu, v. 23, 20p., ago. 2019.
DICAS
16
Neste tópico, você aprendeu que:
● A saúde possui diferentes significados, assim como os fatores que corroboraram 
ao longo da história para suas múltiplas conceituações. 
● Há dois modelos que possuem grande relevância para pensar saúde, sendo eles: 
o conceito biomédico, o qual é considerado hegemônico na nossa sociedade 
e apresenta uma compreensão pautada nas ciências da vida, centralizado 
na doença, partindo especificamente da biologia, anatomia e fisiologia; e o 
conceito ampliado de saúde, que considera saúde uma conquista dos direitos 
humanos e não se restringe à acessibilidade aos serviços, depende também de 
outros fatores que são considerados determinantes e condicionantes sociais da 
saúde, assim, indo além do ao modelo biomédico.
● Sobre a Promoção da Saúde, o que é e de que maneira ela acontece na vida prá-
tica das pessoas, e de que maneira é vista como um novo modo de olhar para as 
questões de saúde, possuindo também múltiplas definições. Destacamos sua di-
mensão prática, a qual é atravessada diretamente pelos modelos conceituais em 
saúde, especialmente o modelo biomédico e o modelo de determinação social. 
● Na construção histórica social do conceito de saúde vimos sua evolução 
desde os fatores externos, fortemente presentes na Antiguidade Clássica até a 
influência dos determinantes e condicionantes em saúde, concepções do que é 
normal e patológico que marcam a contemporaneidade. 
● O conceito de saúde e doença varia historicamente e tende a se tornar cada vez 
mais complexo, uma vez que as modificações econômicas, culturais, sociais e 
políticas vão impactando a maneira de se senti saudável ou doente. 
● Devido a sua capacidade de modificação, vimos a importância de deslocarmos 
as nossas lentes, enquanto estudantes e profissionais da saúde, para novos 
saberes e compartilhamentos da produção do cuidado na atualidade. 
RESUMO DO TÓPICO 1
17
1 Leia a seguinte contextualização acerca do cuidado às pessoas que vivem 
com alguma doença crônica:
AUTOATIVIDADE
Colocando um pouco em prática toda essa discussão teórica que 
vimos até aqui, podemos analisar uma situação muito comum nos servi-
ços de saúde, vivenciada diariamente pelos profissionais. O cuidado às 
pessoas que vivem com alguma doença crônica.
No geral, a ideia que temos — e comumente a forma que é traba-
lhada nos serviços de saúde — é que a partir de um diagnóstico formado, 
considerado um desvio ou falha, é necessário agir para buscar a normali-
dade — ou chegar o mais próximo dela. Desse modo, algumas condutas 
são tomadas, como a prescrição de alguma medicação, algumas técnicas 
e métodos persuasivos com o intuito de corrigir algumas condutas. 
Pensando que para a maioria das doenças crônicas (hipertensão, 
diabetes etc.) as pessoas necessitam realizar algumas mudanças de há-
bitos (alimentação, exercícios físicos, evitar a ingestão de álcool e outras 
drogas), esta passa a ser uma recomendação universal para controle de 
determinadas morbidades. Esse exemplo é recorrente no cotidiano dos 
profissionais de saúde, e a forma de olhar e pensar o processo saúde e do-
ença impactará diretamente a maneira como esses profissionais atuam. 
Assim, a prática em saúde, geralmente, baseia-se em ações pau-
tadas em concepções biomédicas, delegando cada vez mais a responsa-
bilidade sobre o seu estado de saúde — e doença — aos indivíduos e aos 
grupos sociais envolvidos, supondo falta de conhecimento ou de inte-
resse destes. Esse modelo reforça ainda mais uma atuação pautada em 
normas e atitudes autoritárias e hierarquizadas, desconsiderando, ainda, 
a complexidade de lidar com a vida e a saúde dessas pessoas. Temos que 
refletir para além, que tal responsabilização sobre os sujeitos tira a res-
ponsabilidade do Estado em prover as condições adequadas, e somente 
com tais condições acessíveis a todos poderia se pensar em um processo 
de tomada de decisão ou ‘escolha’, o que se torna impossível de ser pen-
sado com tanta desigualdade.
Faz-se necessário entender qual a condição de vida de cada pes-
soa, sua situação econômica e social, pois tais fatores influenciarão dire-
tamente o seu acesso a determinados meios que não são disponibilizados 
para todas as pessoas. Partindo de uma concepção ampliada do processo 
de saúde doença, o profissional não deve desconsiderar a importância da 
melhoria nos parâmetros biológicos daquela pessoa,mas pensar com ela 
18
quais são as possibilidades existentes ou não de realizar tais mudanças, 
e quais são as formas para que essas condições ocorram, através de um 
exercício de direitos e de cidadania, para que de fato as pessoas tenham 
autonomia e consigam tomar decisões a respeito do seu processo de saú-
de e doença.
Agora, reflita e responda aos seguintes questionamentos:
 
a) Qual é a concepção de saúde que está posta diante da atuação da equipe, 
comumente ocorrida, conforme afirmação do texto?
b) Podemos identificar práticas mais próximas do modelo biomédico ou do 
conceito ampliado de saúde? Por quê?
c) Quais elementos e/ou estratégias a promoção de saúde nos oferta para 
pensar em planos terapêuticos mais exclusivos e de acordo com as diferentes 
realidades?
d) Como a construção histórica e social do conceito de saúde nos auxilia para 
problematizar e refletir sobre o que é ter saúde atualmente? 
19
TÓPICO 2
ENTENDENDO A 
MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos o conceito de medicalização e de ética, seus 
processos históricos e sociais de construção, assim como suas interfaces com as 
diversas disciplinas e sua aplicação prática. Por isso, você deverá refletir sobre os 
temas mencionados, os quais estão subdivididos em dois grandes grupos com o 
objetivo de apresentar detalhadamente cada conceito, facilitando a aprendizagem.
A partir disso, apresentaremos como a medicalização, enquanto um 
processo de extrapolação dos limites da medicina, passou a ser considerada 
uma expressão de extenso alcance social. Da mesma maneira, as formas pelas 
quais a medicalização da vida se configurou como uma prática da medicina que 
interfere a forma de viver, por meio da moral, das normas, dos comportamentos 
e dos costumes. Valores e princípios que moldarão e sustentarão as práticas 
medicalizadas com base na lente reducionista de ver a saúde e a doença, 
sobretudo de enxergar os modos de viver em uma sociedade adoecida e marcada 
pela valorização de um ideal humano inalcançável.
Apresentaremos aspectos e marcos fundamentais para o surgimento da 
ética, enquanto temática desenvolvida pela filosofia e responsável por refletir 
sobre a moral, seus valores e princípios, assim como o nascimento da bioética 
como tentativa de responder aos problemas éticos oriundos das descobertas e das 
aplicações das ciências biológicas, sobretudo procurando refletir a partir de suas 
contribuições para o contemporâneo e complexo contexto da saúde e das práticas 
profissionais.
Em seguida, a ética do cuidado será abordada a partir de um conjunto 
de noções que implicam distintas definições de narrativas, experiências e 
sentimentos, apresentando elementos fundamentais para a reflexão de estudantes 
e profissionais de saúde. O convite à reflexão se estende para os temas do cuidado, 
autocuidado e cuidado de si, quando procuramos apresentar suas diferentes 
definições, evitando o equívoco comum de serem utilizados como sinônimos.
Por fim, abordaremos o conceito de iatrogenia, tendo como base sua 
relevância na contemporaneidade, sobretudo pela emergência de temas como a 
segurança do paciente e a redução dos fatores de risco no cuidado em saúde, com 
base nos danos evitáveis causados aos pacientes. 
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
20
2 O QUE É MEDICALIZAÇÃO? 
A medicalização é o processo de extrapolação dos limites da medicina e 
de fenômenos que faziam parte de outros campos, como a educação, as leis, a reli-
gião entre outros, e que passam a ser objetos de preocupação médica, mostrando-se 
como uma expressão de extenso alcance social. A partir disso, ocorreu a incorpo-
ração de normas biomédicas para a vida comum, fazendo com que as experiências 
singulares das pessoas se tornassem objetivo de controle e intervenção médica, nor-
matizando o cotidiano, o corpo e o comportamento, tentando intervir em todos os 
modos de expressão da vida humana (CONRAD, 2007; TESSER, 2010). 
A medicalização é considerada um fenômeno mundial, entretanto, surge 
da medicina moderna entre o final do século XVIII e o início do século XIX, mo-
mento em que se vivia o processo de industrialização e reorganização da maneira 
de viver nas cidades, à época da constituição de alguns estados europeus. O con-
ceito de medicalização ganha relevância principalmente a partir das concepções e 
críticas de alguns autores, com destaque para Ivan Illich e Irving Zola, a respeito 
das condutas da medicina na sociedade, tendo as obras A expropriação da saúde: 
nêmesis da medicina, de Illich (1975) e Medicine as an Institution of Social Control, de 
Zola (1972), servido como forte base passa essa discussão (CONRAD, 2007).
Outra contribuição importante nessa temática é a obra de Michael Fou-
cault (1984), que utilizou do conceito de biopolítica para compreender as raízes 
da medicalização, ou seja, a ideia de uma estratégia que incluiu o biológico como 
componente das preocupações de gestão da sociedade pelo Estado moderno a 
partir do século XVIII. Na obra O nascimento da medicina social, Foucault abor-
da elementos para uma primeira definição de medicalização, apontando como 
as ações médicas interferiram a existência humana de diversas formas. Foucault 
ainda aponta três contextos históricos importantes que caracterizam a interferên-
cia médica na sociedade, momentos estes que se constituem como três etapas da 
formação da medicina social, sendo o cenário da Alemanha, França e Inglaterra 
(ZORZANELLI; CRUZ, 2018). 
Na Alemanha, no século XVIII, a medicalização tem como objeto de in-
tervenção o Estado, com o intuito de regular as situações relacionadas à saúde, 
resultando em uma normatização da formação médica e uma inserção de tais 
profissionais dentro do aparelho de Estado, incorporando assim o saber médico 
para a sociedade. 
Outro contexto utilizado por Foucault se dá na segunda metade do século 
XVIII, na França, quando a medicina passa a se preocupar com as cidades por 
conta de um processo de urbanização descontrolado, com grande propensão ao 
risco de doenças por falta de uma estrutura sanitária inadequada, criando assim 
um projeto de saneamento das cidades.
Finalmente, o terceiro momento se dá na Inglaterra, no século XIX, onde a 
medicina passa a ter como objeto de intervenção a força de trabalho e a pobreza. 
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
21
Criando a lei dos pobres, por conta de uma epidemia de cólera em 1832, portanto, 
a lei tinha o intuito de controlar os pobres (através de medidas autoritárias, como 
obrigatoriedade de vacinação), fazendo com que as pessoas ficassem mais ap-
tas ao trabalho e oferecessem menores riscos às classes mais ricas (FOUCAULT, 
1984b; ZORZANELLI; CRUZ, 2018).
Em meio a tantos pressupostos e olhares para a medicalização, se faz ne-
cessário refletir sobre como esse fenômeno impacta diretamente os dias atuais, 
seja na formação profissional, na construção da subjetividade das pessoas, na re-
lação profissional paciente, e nos mais distintos âmbitos da vida. Assim, os pró-
ximos tópicos ajudarão a pensar como esse fenômeno está presente nas nossas 
vidas e por que devemos olhar de forma crítica para esse processo. 
A crítica é centrada na capacidade que o modelo biomédico possui de 
reduzir e descontextualizar os problemas sociais, dessa forma, os problemas de 
saúde são individualizados e colocados diretamente sobre controle e interven-
ção do poder médico, tirando de questão situações que poderiam ser de origens 
sociais e coletivas. Portanto, todas as questões, como o desempenho no traba-
lho, na vida social, o crescimento, adoecimento e o envelhecimento, por exemplo, 
acabam sendo justificadas como problemas ‘fisiológicos’, ocorrendo um reducio-
nismo biológico sobre problemas sociais, culpabilizando os indivíduos por sua 
situação de saúde e normatizando diagnósticos que tomam o lugar do controle 
sobre a vida (CONRAD, 2007).
2.1 MEDICALIZAÇÃO DA VIDA
Como vimos anteriormente,o processo da medicalização é um fenômeno 
que vem crescendo demasiadamente. Camargo Jr. (2013) aponta para a existência 
de diversos entendimentos sobre o conceito da medicalização, o qual está ligado 
ao modo de olhar a saúde e sua relação com a sociedade (como já discutido no tó-
pico anterior), pois dependendo do momento histórico e da concepção de saúde 
hegemônica, diferentes formas de intervenção medicalizadas serão empregadas.
 
Desse modo, a medicalização da vida faz parte desse grande processo de 
medicalização social, nesse caso, retratado pela apropriação da medicina por situ-
ações normais da vida das pessoas, interferindo diretamente a moral, as normas, 
os comportamentos, costumes, dentre outros. Eventos como nascimento, morte, 
adolescência, menopausa, envelhecimento, sentimentos, sexualidade e hábitos 
de vida passam a ser explicados, normatizados e alvos de intervenção a partir 
de parâmetros biomédicos (GAUDENZI; ORTEGA, 2012; CAPONI, 2009). Dessa 
forma, diferentes situações da vida, bem como sensações físicas e psicológicas 
normais (como insônia e tristeza) são transformados em transtornos, doenças e 
distúrbios psiquiátricos (como distúrbios do sono e depressão), ocultando gran-
des problemas sociais, políticos, culturais, econômicos e emocionais que afetam 
a vida das pessoas. 
 
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
22
Quando se fala em medicalização é comum a associação, principalmente 
para fora dos muros acadêmicos/científicos, com a medicamentalização — que 
seria o uso excessivo e abusivo dos medicamentos, extrapolados para problemas 
não médicos — que também faz parte desse processo, mas que não se limita a 
isso. Oliveira, Harayama e Viégas (2016) apontam que o processo da medicaliza-
ção é amplo e não se limita ao produto medicamento, possuindo uma lógica com-
plexa que envolve o controle da vida das pessoas e das coletividades; enquanto 
medicamentalização descreve o uso de medicamentos em casos que a priori não 
faziam parte das atribuições médicas, portanto, não existia medicamentos para 
tal. Então, a medicamentalização se mostra como uma das consequências do pro-
cesso de medicalização social. 
Contudo, a medicamentalização é ponto crucial quando pensamos na me-
dicalização da vida. É importante salientar que essa utilização indiscriminada 
dos medicamentos não traz efeitos apenas no corpo individual, ainda, integra um 
movimento de patologização social que mobiliza toda uma economia política, 
pois atua desde a produção até o consumo desses produtos, sendo a indústria 
farmacêutica um dos mercados que mais cresce e mais movimenta a economia no 
mundo todo (TESSER; POLI NETO, 2010). 
Ao abordarmos o contexto de medicalização da vida é importante enten-
der que não existem vilões ou mocinhos, mas que as relações sociais que vão 
sendo construídas e consolidadas em determinado lugar e em determinado mo-
mento histórico, produzem um novo modo de relacionamento na sociedade. Illi-
ch (1975) aponta que a partir desse fenômeno criou-se uma sociedade adoecida 
que exige medicalização universal a partir de uma instituição médica que ateste 
morbidade universal.
Desse modo, os avanços tecnológicos permitem a produção de novos equi-
pamentos e testes, ampliando cada vez mais as possibilidades diagnósticas, assim, 
cada vez mais categorias sociais vão sendo criadas, fazendo com que se torne im-
possível encontrar pessoas que não se adéquam a nenhuma das classes terapêuti-
cas, e tendo como consequência a transformação de grandes grupos de pessoas em 
pacientes potenciais (ILLICH, 1975). Um exemplo disso são as reduções dos pontos 
de corte, criando novas normas e novos rótulos, tais como os pré-diabéticos, pré-hi-
pertensos ou algumas condições que vão se expandindo e criando novas doenças 
a partir de vivências e sofrimentos que antes não eram de interesse do setor biomé-
dico. Para cada nova categoria criada, a indústria farmacêutica produz inúmeras 
drogas, prometendo alívio e eficácia (NORMAN; TESSER, 2009).
Em meio a tantas soluções rápidas e direcionadas, a partir de diversas 
maneiras (inclusive pelas práticas profissionais na saúde), as pessoas vão dei-
xando sua capacidade de enfrentar seus problemas, adoecimentos e problemas 
emocionais cotidianos, perdendo sua autonomia, gerando uma dependência ex-
cessiva e uma alienação, e o medicamento passa a ser utilizado como solução de 
problemas. 
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
23
A mídia se mostra como um dos grandes responsáveis pela dissemina-
ção desses valores, através de suas propagandas de medicamentos nos diversos 
meios de comunicação, ressaltando que as indústrias farmacêuticas investem 
mais em propagandas do que em pesquisa e desenvolvimento (BRASIL, 2019).
Esse modelo tem implicações diretas na atuação dos profissionais de saú-
de, pois as práticas de saúde passam a reproduzir esse discurso medicalizante que 
tende a patologizar a vida através das normatizações das diferenças e buscando 
individualizar questões que são influenciadas pela história, política, economia, 
cultura, dentre outros fatores, e que não podem ser pensadas sem esses aspectos. 
 
Os profissionais precisam estar dispostos a pensar para além dos diagnós-
ticos e do reducionismo implicado nessa maneira medicalizada de pensar e agir, 
respeitando as singularidades, as diversidades, as condições de vida das pessoas, 
pautando sua atuação em um cuidado integral e humanizado. 
2.2 PRÁTICAS MEDICALIZADAS
Pensar em uma sociedade medicalizada é pensar em uma atuação 
profissional que produz e reproduz práticas medicalizadas. Em uma sociedade 
adoecida, marcada pelo consumismo, por uma valorização de um ideal humano 
inalcançável, os profissionais acabam por atuar com base em um reducionismo. 
Esse tópico se propõe a refletir sobre diferentes práticas de saúde que reproduzem 
o modelo hegemônico, se tornando medicalizadas. O objetivo é que tanto os 
futuros profissionais de saúde, quanto os demais leitores, consigam analisar 
criticamente as diversas formas de relação de poder, concepções e demais fatores 
presentes nas intervenções e práticas nos serviços de saúde.
2.2.1 Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH)
Foucault (1979), ao discutir biopoder, relata sobre instituições disciplinares 
que se apresentam como um espaço de formação de corpos dóceis e disciplinados, 
criando subjetividades obedientes. Nesse sentido, a escola se mostra como um es-
paço que produz e reproduz normas, e vai além, tem a função de corrigir e enqua-
drar comportamentos e atitudes que desviem das normas sociais ‘desejáveis’. 
Assim, a infância se torna lócus privilegiado de intervenção sobre os cor-
pos, tendo a psiquiatria papel fundamental nesse quesito, se apropriando da in-
fância e da escola para levantar diagnósticos sobre comportamentos considera-
dos indesejáveis, classificando assim como distúrbios de cunho biológico.
Nesse sentido, um dos diagnósticos mais presente no contexto escolar é 
o Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH), que é definido como um transtor-
no neurobiológico de causas genéticas que aparece na infância e frequentemente 
acompanha a pessoa por toda a vida. Está relacionada normalmente à dificul-
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
24
dade de aprendizagem e problemas relacionados ao comportamento, e tendo o 
Metilfenidato — conhecido comercial e popularmente como Ritalina — como o 
medicamento mais prescrito para o tratamento desse transtorno e que atua como 
um estimulante do sistema nervoso central (BIANCH; FARAONE, 2015; ITABO-
RAHY; ORTEGA, 2013). 
Por tratar-se de um tema bastante polêmico, tem sido foco de várias pes-
quisas atualmente e, de maneira geral, é apresentada de maneira bem simplifica-
da. Os diagnósticos sobre o TDAH são bastante complexos, pautados a partir de 
categorias descritivas criadas pela psiquiatria, entretanto, mesmo com protocolos 
existentes, as queixas levantadas se tratam de

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